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Unidade 2 - Gerenciamento de Bacias Hidrográficas

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GERENCIAMENTO DE BACIAS 
HIDROGRÁFICAS
CAPÍTULO 2 – COMO É O PROCESSO DE 
FORMAÇÃO DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS E 
SEUS COMPONENTES?
Cibelle Machado Carvalho
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Introdução
Uma tomada de decisão na gestão de recursos hídricos deve ser baseada na estrutura e processos nos quais a
bacia hidrográfica foi constituída. Deve ser estabelecida e fundada nos aspectos qualitativos e quantitativos dos
recursos hídricos, para que os representantes da sociedade, os usuários das águas, e organizações civis,
democraticamente e pautados nas leis ambientais, nas culturas, na economia, na unidade territorial, com equipes
multidisciplinares, estudem o melhor destino e equilíbrio das águas da bacia hidrográfica em questão.
A Política Nacional dos Recursos Hídricos institui o uso prioritário do consumo das águas para os seres humanos
e a dessedentação dos animais em situação de escassez. Sabe por quê? A água é um fator limitante, dotado de
valor econômico, um bem público e essencial para a vida na Terra. Por isso, essa política é norteadora para
assegurar à geração atual e às futuras uma disponibilidade de água adequada.
Ao longo do tempo, a sociedade, habitando as margens dos rios, construiu impérios, portos, pontes, plantou,
pescou, bebeu e lançou dejetos em suas águas. Com as mudanças no pensamento dos grupos sociais que ali
estavam, surgiram novos valores e conceitos, modificando a própria bacia hidrográfica. No decorrer desse
processo, a história do próprio rio e seus afluentes, acrescida da história geológica, sofreu alterações e, com isso,
o destino das bacias hidrográficas condicionou-se ao fluxo civilizatório.
Você já imaginou a sociedade como um todo discutindo, defendendo e propondo medidas em favor dos recursos
hídricos? Sabe por que isso ainda não acontece no Brasil? Porque 12% da água doce do planeta é nossa. Apesar
de termos problemas espaciais, ainda temos água em quantidades significativas. De tal maneira, o
gerenciamento de bacias hidrográficas é essencial para não ocorrer o progressivo esgotamento.
Diante disso, neste capítulo, você irá compreender como as características físicas, a cobertura vegetal
(importante para os processos do ciclo hidrológico) e a hierarquia dos efluentes das bacias hidrográficas são
essenciais para o gerenciamento hídrico. Por fim, reconhecerá como esses processos interferem no
comportamento hidrológico e ajudam na construção da gestão do município.
Bons estudos!
2.1 Bacias hidrográficas na prática
A Política Nacional dos Recursos Hídricos é um documento-base norteador para o gerenciamento das bacias
hidrográficas no Brasil. Essa lei estabelece a promoção e a integração da gestão de recursos hídricos à gestão
ambiental, tendo como diretrizes gerais a adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas,
bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais da bacia hidrográfica com articulações ao uso do solo, sem
dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade da água, e sempre proporcionando o uso múltiplo das águas
(BRASIL, 1997).
Utilizar as águas em múltiplas atividades é um processo democrático e sustentável (SOARES, 2015). Do ponto de
vista técnico, a gestão integrada dos recursos hídricos incorporou as reivindicações de cunho ambientalista,
tendo como objetivo geral norteador a preservação e a conservação das condições adequadas das águas para os
diversos usos. É também um processo democrático, pois insere membros dos poderes executivo e legislativo e
também a sociedade civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas, contribuindo para que todos os setores da
sociedade com interesse nas águas possam participar (ANA, 2018).
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As modificações feitas nas bacias e os conflitos envolvendo as águas são recorrentes em toda a história da
humanidade, o que se altera é a forma como a sociedade se organiza para enfrentá-los (CARVALHO, 2015).
Frente a isso, a Lei 9.433 (BRASIL, 1997) atribui aos Comitês de Bacia Hidrográfica mecanismos para que
possam decidir coletivamente de que forma podem ser atendidos os diversos interesses sobre o uso dos
recursos hídricos. Eles devem ser discutidos e negociados democraticamente, em ambiente público, com
transparência nas tomadas de decisões, dirimindo assim os conflitos.
Dessa forma, as políticas urbanas de desenvolvimento, executadas pelo poder público, têm como diretrizes
gerais desenvolver as funções sociais da cidade para a garantia do bem-estar da população (MOTA, 2008). Há
diversas ferramentas para a organização das bacias hidrográficas e urbanas, como o Plano Municipal de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos, decretado pela Lei 12.305 (BRASIL, 2010).
Clique nos itens a seguir para conhecer mais sobre esse tema.
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Plano municipal de resíduos
O plano municipal de resíduos traz como inovação o planejamento ambientalmente adequado do
descarte da ampla variedade de resíduos sólidos produzidos atualmente nas diversas esferas
sociais, como: limpeza urbana, estabelecimentos comerciais, prestação de serviços, indústrias,
transportes, mineração, agrossilvopastoris, abrangendo todo o ciclo de vida do produto, da
geração à disposição final (MMA, 2018). Além disso, responsabiliza os setores públicos e privados,
os consumidores e as concessionárias a encontrarem soluções que diminuam os impactos
ambientais sobre os resíduos que produzem (BRASIL, 2010).
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Plano de Saneamento Básico
VOCÊ O CONHECE?
O pesquisador da Embrapa, Lineu Neiva Rodrigues (2018), desenvolveu uma plataforma de
manejo de irrigação e recursos hídricos em bacias hidrográficas. A estratégia visa organizar o
uso da água para um grupo de agricultores que solicita a outorga (direito de uso) da água. A
plataforma busca contribuir para a otimização dos recursos hídricos. Vale a pena conferir!
Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/32706192/artigo---
>.plataforma-tecnologica-para-o-gerenciamento-compartilhado-de-agua
VOCÊ QUER LER?
O Plano Nacional dos Resíduos Sólidos do Brasil (2012) foi elaborado para um amplo processo
de mobilização e participação social. O documento aborda as problemáticas do país e as
alternativas de gestão. Vale a pena conferir! Disponível em:
<http://sinir.gov.br/images/sinir/Arquivos_diversos_do_portal
>./PNRS_Revisao_Decreto_280812.pdf
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Plano de Saneamento Básico
Outra ferramenta é o Plano de Saneamento Básico (Lei 11.445/2007), que estabelece o
abastecimento de água potável, a drenagem e o manejo de águas pluviais e esgotamento sanitário.
Finkler (2016) salienta que um plano de saneamento não é apenas um documento técnico-
científico, mas também um processo de integração social, político e econômico para que seus
objetivos e metas possam, de fato, ser concretizados. Note que esta lei inova quando retrata o
saneamento básico como direito de todos os cidadãos brasileiros, não apenas de quem a usufrui
atualmente.
Por fim, temos como ferramentas fundamentais para os municípios, em nível de controle e regra, os planos
diretores municipais, que serão abordados na sequência.
2.1.1 Planos diretores municipais
A concentração urbana e a espacialidade dos recursos hídricos são um problema que precisa ser gerenciado no
Brasil. Martine e Camargo (1984) relatam que a distribuição espacial da população, a partir de 1960, foi movida
por forças de migrações inter-regionais e rural-urbanas em direção às grandes cidades do sudeste e regiões
metropolitanas de São Paulo, realidade ainda encontrada pelo IBGE em 2015 (veja a figura adiante).
As cidades deveriam se desenvolver paralelamente ao crescimento urbano e às migrações. No entanto, o
crescimento populacional ocorre com total descontrole. Em decorrência, áreas indevidas são ocupadas, não
havendo avaliação da capacidade de suporte dos recursos naturais e/ou zoneamento ambiental adequado.
Finkler (2016) afirma que o processo de metropolização gera um déficit no crescimento dos serviços públicos,pois a degradação da qualidade de vida e os custos ecológicos se desenvolveram de acordo com o crescimento
populacional. A autora salienta que os custos são relativos a infraestrutura física, e também de ordem legal e
institucional.
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VOCÊ SABIA?
Quão antigo é o problema de falta de água no Nordeste? A ideia da transposição das águas do
rio São Francisco para o sertão não é nova. A primeira proposta foi lançada em 1818 e
pretendia levar as águas deste ao rio Jaguaribe, no Ceará. O imperador Pedro II foi o monarca
que mais se empenhou diretamente no processo (FERREIRA, 2017). O rio São Francisco nasce
em Minas Gerais, mais precisamente na serra da Canastra. Esta bacia ocupa 8% do território
brasileiro. Disponível em: <http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/29548/1/ANPPAS%
>.20Transposi%C3%A7%C3%A3o%20.pdf
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Figura 1 - Distribuição espacial de áreas urbanizadas acima de 100 mil habitantes.
Fonte: IBGE, DGC/Coordenação de Geografia; IBGE, DGC/Coordenação de Cartografia, 2017.
Dessa maneira, para sanar os problemas da atualidade e elaborar políticas, planos e diretrizes para minimizar e
desenvolver ações corretivas nos espaços urbanos foi instituído o plano diretor norteador da expansão urbana.
Clique nas setas abaixo para conhecer mais o tema.
Segundo Mota (2010), plano diretor é um instrumento de desenvolvimento e expansão urbana com diretrizes
sustentáveis. É um documento com propostas que direcionam o desenvolvimento dos municípios, incorporando
dimensões ambientais, políticas, sociais, econômicas, culturais e territoriais. A seguir serão apresentadas as
etapas do plano diretor municipal (veja a figura adiante).
Note que o plano diretor é um processo com planejamento maior que mandatos governamentais. Dessa maneira,
as propostas e diretrizes não devem ter envolvimento com os planos governamentais, para que, assim, possam
ser garantidas a eficácia e a eficiência do planejamento.
O plano diretor é um instrumento estratégico. Ele visa fundamentar a Política Nacional dos Recursos Hídricos
nas Bacias Hidrográficas. Além disso, os planos diretores municipais servem como processos decisórios na
criação dos Planos de Bacias Hidrográficas, e também nas tomadas de decisão nos Comitês de Bacias. Observe
que todo esse processo é realizado por audiências públicas com a participação da sociedade.
Moreira (2008) afirma que os planos diretores têm por objetivo: i. definir o zoneamento do município (áreas de
desenvolvimento, ocupação, comércio, proteção dos recursos naturais e hídricos, parques, praças etc.) em
concordância com o plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, o plano de saneamento básico e o
plano ambiental do município; ii. delimitar áreas urbanas (áreas de edificação urbanas e rurais, infraestrutura e
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plano ambiental do município; ii. delimitar áreas urbanas (áreas de edificação urbanas e rurais, infraestrutura e
demandas) de acordo com a Lei Federal 10.257/ 2001.
Figura 2 - Etapas do modelo a seguir a ser criado para um plano diretor.
Fonte: Elaborada pela autora, adaptada de MOTA, 2010.
Mota (2010) salienta que para se construir um plano diretor é necessário que se planejem ações, investimentos,
programas e projetos visando investimentos locais, com garantia da função social das cidades e propriedade, em
concordância com o Estatuto da Cidade, considerando a Política de Desenvolvimento Regional Estadual e Local,
previsto nos três âmbitos governamentais (federal, estadual e municipal).
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Note que o plano diretor serve como ferramenta de controle do município, podendo ou não restringir atividades
que não estejam de acordo com as diretrizes ou zonas de finalidade. Esse processo deve estar de acordo com os
licenciamentos ambientais e a vigilância sanitária. Por fim, é necessária a integração dos municípios que
contenham o mesmo ecossistema (bacia hidrográfica) para medidas mitigatórias e corretivas. Esse processo visa
a resolução dos conflitos sobre as águas em comum, para que a decisão seja democrática e descentralizada, com
usos múltiplos e disponibilidade hídrica de qualidade e quantidade significativas para a sociedade em questão.
2.2 Caracterização física de bacias hidrográficas
A bacia hidrográfica é uma unidade de planejamento. É fundamental que se conheça o comportamento
hidrológico dela ao longo do tempo, considerando-se, para isso, dois fatores primordiais: a ordem natural –
predisposição de degradação natural e ordem antrópica – e a interferência humana, que pode ocorrer direta e
indiretamente na bacia hidrográfica (FINKLER, 2016; POLETO, 2014). Para conhecer mais sobre a bacia
hidrográfica, clique nos itens abaixo.
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Comportamento hidrológico das bacias hidrográficas
Conhecer o comportamento hidrológico das bacias hidrográficas, sobretudo, é conhecer sua
disponibilidade hídrica (COLLISCHONN, 2001). No entanto, há diversos complicadores nos
estudos relacionados ao uso e à modificação do solo, porque os modelos hidrológicos ainda não
possuem condições de simular com exatidão o uso do solo (TUCCI, 1998), já que há demasiadas
ações antrópicas. Além disso, trata-se de um parâmetro hidrológico não estacionário, ou seja, a
variabilidade de tempo e espaço (comportamento que se justifica) não existe, pelos diferentes
usos humanos. Isso acarreta a modificação da bacia hidrográfica e, principalmente, impacta o
comportamento hidrológico (COLLISCHONN, 2014).
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Características físicas
Como se conhece o comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica? Para isso, basta
conhecer suas características físicas ao longo do tempo (teoricamente se utiliza séries hidrológicas
de 30 anos), visto que esse processo é dependente das variações temporais, como precipitação e
uso do solo. Por conseguinte, as características e parâmetros se estabelecem por meio de
processos e parâmetros estatísticos básicos (LATUF, 2007; NAGHETTINI; PINTO, 2007).
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Regimes de vazão
Com esses processos se conhece os regimes de vazão dos rios e suas relações com os processos
VOCÊ QUER LER?
Conheça o plano diretor estratégico da cidade mais populosa do Brasil: São Paulo. Com 12, 11
milhões de pessoas, a cidade construiu seu plano em meados de 2014 (SMUL, 2014). Vale a
pena conferir! Disponível em: <https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/marco-regulatorio
>./plano-diretor/
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Com esses processos se conhece os regimes de vazão dos rios e suas relações com os processos
econômicos, sociais, ambientais e culturais, que contribuem ao longo do tempo com a bacia
hidrográfica.
A seguir, serão apresentados os parâmetros para a análise do comportamento hidrológico de bacias
hidrográficas e o manejo dos recursos hídricos.
2.2.1 Principais indicadores
Um dos principais fatores que afetam o comportamento hidrológico é a , maismudança do uso do solo
precisamente o desmatamento e/ou a retirara de áreas verdes. Note que é nessas áreas que a cobertura vegetal
absorve mais radiação solar, devido às suas complexidades e variedades. Além do mais, a interceptação (um dos
processos do ciclo hidrológico) nas florestas é maior, com isso a interceptação direta da água tende a ser maior
(TUCCI; CLARKE, 1997).
Collischonn (2001), em sua tese, destaca que as floretas retiram do solo muita umidade, mais que as pastagens e
/ou o solo nu. Hodnett et al. (1996) citados por Collischonn (2001), mostraram, em experimentos na Amazônia,
que as florestas retiraram mais de 3,6 metros de água do solo, sendo a variação anual da umidade do solo sob as
florestas superior à variação observada de pastagens ou solo nu.
O cuidado com as matas ciliares e as florestas naturais é demasiadamente importante, pois a sua retirada leva à
diminuição da umidade no solo, da infiltração, da interceptação e da evapotranspiração. Em consequência, a
vazão média e o escoamento superficial da bacia hidrográfica aumentam, acarretando desastres e impactos
ambientais.
Seos processos de uso, de ocupação do solo e de desmatamento forem realizados com mecanização, haverá um
aumento da compactação do solo e a consequente diminuição da infiltração das precipitações. Atualmente,
muitas consequências de uso e mudança do solo já podem ser mais bem avaliadas, sendo que um dos grandes
avanços é a disponibilidade de métodos de balanço de energia.
Outro processo importante é o tempo de concentração (TC), ou seja, o tempo do percurso da água precipitada,
desde o ponto mais afastado da bacia hidrográfica até o exutório. Este indicador é importante para a
compreensão do escoamento produzido na bacia hidrográfica. Além disso, são necessários esses dados para
planejar os sistemas de drenagem, armazenamento e controle (LIMA et al., 2007). O tempo de concentração
varia com a intensidade de precipitação e o teor de umidade inicial do solo, ou seja, o tempo de concentração é
tanto menor quanto maior a intensidade da chuva e o teor de umidade do solo.
O tempo de concentração (veja a próxima figura) é o tempo que a água precipitada no ponto mais distante da
bacia leva para escoar até o ponto de controle (exutório). Ele depende do comprimento, da forma e da
declividade da bacia, além das alterações antrópicas.
VOCÊ SABIA?
O Brasil é um dos países que mais recebe radiação solar do mundo. Segundo o “Atlas brasileiro
de energia solar” (PEREIRA, 2014), nosso país recebe mais de três mil horas de brilho do sol!
Quer saber mais? Disponível em: <http://ftp.cptec.inpe.br/labren/publ/livros
>./brazil_solar_atlas_R1.pdf
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Figura 3 - Tempo de concentração de uma determinada bacia.
Fonte: Elaborada pela autora, 2018.
Clique nas setas abaixo para ampliar seus conhecimentos sobre as bacias hidrográficas.
Para os projetos hidrológicos, utiliza-se o tempo de concentração para se estimar as vazões máximas da bacia
hidrográfica, com fórmulas empíricas e analíticas. O conhecimento do comportamento da bacia hidrográfica
auxilia na prevenção e na minimização das consequências dos desastres naturais e da poluição (ALMEIDA et al.,
2013). Atualmente, para a descoberta desses processos, se utilizam programas computacionais com dados das
redes hidrometeorológicas brasileiras.
Outro aspecto relevante é que o tempo de concentração muda em consequência do crescimento urbano. Na
próxima figura será demonstrada a porcentagem de infiltração e de escoamento superficial em áreas urbanas.
Observe que, em área florestal, o escoamento superficial é menor e a infiltração maior; em área urbana, o
escoamento superficial é maior e a infiltração menor. As bacias rurais geram pouco escoamento (se comparadas
a bacias urbanas), pois possuem terrenos com maior capacidade de infiltração e o escoamento sofre retardo por
causa da cobertura vegetal.
Uma maneira de diminuir esses impactos é por meio da interceptação da precipitação pela cobertura vegetal,
pois irá reduzir a quantidade do escoamento superficial – por isso a importância dos planos diretores municipais
nas diretrizes de zoneamento urbano para coberturas vegetais nas cidades.
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Figura 4 - Alteração do comportamento hidrológico com os diversos impactos sobre o escoamento superficial e a 
infiltração do solo sobre o crescimento urbano.
Fonte: ARSH, 1983 apud LIMA et al., 2007.
A é outro comportamento hidrológico importante. Tucci e Bertoni (2003) afirmam que a precipitação
precipitação é toda água proveniente do meio atmosférico que atinge a superfície terrestre, seja por neblina,
chuva, granizo, orvalho, saraiva ou geada (a diferença está no estado da água).
Já sabemos que a chuva é a precipitação mais importante para o planejamento dos recursos hídricos, pois ela
serve para quantificar a disponibilidade hídrica, pois a determinação da intensidade da precipitação é necessária
para o controle da erosão do solo, da inundação, das enchentes, além da capacidade de produzir escoamento.
A velocidade da precipitação pode ocasionar diversos impactos ambientais, de acordo com a mudança do uso do
solo. Com mais quantidade de chuva efetiva (quantidade de água da chuva que se transforma em escoamento
superficial), ou seja, água que não infiltra ou evapora, consequências desastrosas, como rompimento de
barragens, perdas dos cultivos e plantações, alagamentos, perdas de safras, entre outras, podem ocorrer.
As precipitações são um importante elemento dentro do comportamento hidrológico, pois, em projetos de obras
hidráulicas, é necessário estimar os riscos. Isso é feito por meio de observações estatísticas dos dados
hidrometeorológicos dos últimos 30, 50 ou 100 anos. Além disso, essa estimativa é feita pela frequência das
precipitações e sua magnitude, ou seja, associa-se o evento chuva com a frequência de ocorrência da precipitação
(NAGHETTINI; PINTO, 2007). Esses elementos são observados em função da segurança no dimensionamento de
estruturas hidráulicas.
Por fim, conhecer e se apropriar do comportamento da bacia hidrológica é de fundamental importância para o
seu gerenciamento. As tomadas de decisões, as licenças, os projetos, as outorgas, o plano de saneamento e os
planos diretores ocorrem em função das características básicas da unidade de gestão: a bacia hidrográfica.
As características físicas de uma bacia são elementos importantes para o comportamento hidrológico. Em
VOCÊ QUER VER?
O documentário (LUCAS, 2016) mostra o lado humano do impactoTragédia em Mariana
ambiental. A barragem do Fundão, localizada no estado de Minas Gerais, no dia 5 de novembro
de 2015, rompeu-se com 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração, poluindo
toda uma bacia hidrográfica. Esse é considerado o maior impacto ambiental da história
brasileira. Disponível em: < >.https://www.youtube.com/watch?v=DvprawvqQgs
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As características físicas de uma bacia são elementos importantes para o comportamento hidrológico. Em
decorrência disso, iremos estreitar nosso conhecimento sobre tais elementos e estabelecer as relações e as
comparações (TUCCI, 2002).
2.2.2 Área de drenagem
É uma área plana (projeção horizontal), na qual são incluídos os divisores de água. Além disso, é uma área em
que a precipitação escorre para o rio principal e seus afluentes devido ao relevo (SILVEIRA, 2002; VILLELA;
MATTOS, 1975).
2.2.3 Forma da bacia
Conhecer a forma da bacia é importante para o estabelecimento do tempo de concentração (TC). Além disso, a
forma da bacia influencia no escoamento superficial. Geralmente as bacias hidrográficas grandes se apresentam
em forma de pera ou leque. As bacias hidrográficas pequenas diferem pelo relevo e geologia (VILLELA; MATTOS,
1975).
Pela forma da bacia se estabelece sua área, dada pela relação entre a largura média e o comprimento da bacia.
Esse procedimento é importante para se constituir o indicativo de tendência ou não de enchentes.
2.2.4 Sistema de drenagem
Tucci (2007) salienta que a bacia hidrográfica é um conjunto de redes de drenagem formado por cursos de águas
que confluem até resultar em um rio principal. Estudar as ramificações das bacias é importante, pois isso indica a
maior ou a menor velocidade com que a água deixa a bacia (VILLELA; MATTOS, 1975).
Clique nas abas a seguir, para dar continuidade aos seus estudos sobre o sistema de drenagem.
Fluxos d’água
Nos sistemas de drenagem, há uma ordem dos fluxos d’água. Esse ordenamento consiste em classificar o grau de
ramificação dos efluentes na bacia (quer sejam perenes, intermitentes ou efêmeros).
Critério Strahler
O critério Strahler (veja a próxima figura) considera como de primeira ordem as correntes formadoras
(pequenos canais – nascentes). Quando dois canais de primeira ordem se juntam, eles formam o segmento de
segunda ordem; quando dois efluentes de segunda ordem se juntam, formam o de terceira ordem; e assim
sucessivamente (VILLELA; MATTOS, 1975; TUCCI, 2002). Observe que dois rios de ordem N dão lugar a um rio
de ordem N+1.
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Figura 5 -(a) Classificação dos rios – Strahler; (b) Classificação dos rios – Shreve.
Fonte: Elaborada pela autora, adaptada de VILLELA; MATTOS, 1975, p. 15.
Outro método utilizado é o Shreve, pelo qual as magnitudes são somadas todas as vezes que há uma junção de
duas linhas de drenagem. Quando duas linhas de segunda magnitude se unem, a jusante, recebe a designação da
quarta magnitude (letra (b) da figura).
O próximo tópico de estudo é sobre a delimitação de bacias hidrográficas, fique atento e confira!
2.3 Delimitação de bacias hidrográficas
A bacia hidrográfica é uma divisão natural do solo, e isso tem grande influência na armazenagem, na
movimentação e no destino dos recursos hídricos pela superfície terrestre, que atua como receptor. A bacia
hidrográfica é uma captação natural da precipitação, por causa do ciclo hidrológico. Dessa maneira, o
escoamento produzido tende a ir para o ponto de saída, denominado exutório. Clique nas abas e conheça outros
aspectos acerca da delimitação das bacias hidrográficas.
Manejo
Para manejar as bacias hidrográficas, precisamos conhecer não apenas o seu ciclo
hidrológico, o que acontece com a chuva, como se dá a formação dos canais de água, como
elas se classificam, mas também como delimitá-las.
Delimitação
Para delimitar uma bacia hidrográfica é necessário ter um mapa das curvas de nível e
delimitar o exutório, que está situado na parte mais baixa do trecho do curso d’água
principal. Atualmente se utiliza dados do Sistema de Informações Geográficas, obtidos por
meio de softwares especializados.
Manualmente, inicia-se no exutório, conectando-o aos pontos mais altos, tendo como base as curvas de nível. As
curvas de nível representam um relevo (sistema altimétrico), devendo ser uma representação fiel do terreno,
cujas curvas nunca se cruzam. Além disso, a representação do relevo é formada por diversas curvas de nível em
que a menor altitude envolve por completo a maior altitude (veja a letra (a) da próxima figura) (CARVALHO;
ARAÚJO, 2007).
Outro fator importante é reconhecer a diferença entre os divisores de águas dos talvegues (depressões). Os
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Outro fator importante é reconhecer a diferença entre os divisores de águas dos talvegues (depressões). Os
talvegues (letra (b) da próxima figura) são linhas que representam a interseção de duas ladeiras opostas e têm
por característica escorrer as águas que descem por elas. Teoricamente, os talvegues têm uma linha divisória
chamada divisor de águas (chuvas que caem no talvegue), ou seja, são representados por curvas de nível com
uma curvatura contrária ao sentido da inclinação do terreno (FINKLER, 2016). Ele indica a concentração do
escoamento. Os divisores das águas são as curvaturas das curvas de nível ao contrário (sentido na inclinação do
terreno), sobre as quais as águas escoam.
Figura 6 - (a) Representação de uma curva de nível de uma determinada bacia hidrográfica; (b) Representação 
de linhas de talvegue ou divisor de águas.
Fonte: Elaborada pela autora, 2018.
Para limitar uma bacia hidrográfica, inicia-se pelo exutório e delineia-se pelas curvas de nível de pontos mais
altos (veja a figura a seguir).
Figura 7 - Delimitação manual das bacias hidrográficas.
Fonte: SPERLING, 2007.
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Observe que podemos encontrar pontos dentro da bacia com cotas mais altas que as dos divisores de águas, mas
a linha em vermelho acompanha os pontos com maior altitude. Essa delimitação demonstra a unidade territorial
e as caraterísticas físicas da bacia.
2.3.1 Avaliação dos recursos hídricos: análise morfométrica-morfológica
Lorandi e Cançado (2008) afirmam que, das múltiplas funções da água, um papel que se destaca é o agente
modelador e transformador do relevo da superfície terrestre, que tange o controle e o comportamento mecânico
das camadas de solo e rocha. Estudar a geomorfologia é fundamental para compreender os processos de
transformação do relevo, pois o solo apresenta-se como um fator influente no gerenciamento de bacias
hidrográficas.
A geomorfologia tende a estudar as extensões de água que modificam a superfície terrestre. Este processo
morfogenético atua como esculturas da paisagem terrestre (SCHIAVETTI; CAMARGO, 2008). Há diversas
variáveis geomorfológicas que podem ser estudadas. Iremos destacar a morfometria neste item.
Morfometria
Segundo Lima (1986), o comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica tem características
geomorfológicas próprias (forma, solo, drenagem, relevo, entre outras). Essas características físicas da bacia são
relevantes para o ciclo hidrológico porque influenciam na quantidade e na qualidade da água, além dos níveis de
infiltração, evapotranspiração, escoamento superficial, percolação etc. Villela e Mattos (1975) salientam que a
bacia hidrográfica é um sistema geomorfológico aberto, mesmo sendo de forma totalmente natural e não
perturbada, pois a contínua flutuação das águas é um estado dinâmico.
Ainda segundo os autores, as características físicas de uma bacia são elementos importantes para o
comportamento hidrológico, pois estabelecem relações com os dados hidrológicos (determinam indiretamente
os valores hidrológicos).
Perante o exposto, conclui-se que a morfometria tem por objetivo encontrar ligações entre os parâmetros
tradicionalmente descritos na bacia e seus possíveis acondicionamentos (LORANDI; CANÇADO, 2008).
Christofoletti (1979) sintetiza as seguintes variáveis da morfometria; clique nos e confira.cards
Na bacia
Forma, área, perímetro, altimetria, comprimento, totalidade de efluentes, densidade dos rios, relação de
bifurcação e índice de rugosidade.
Na vertente
Altura, comprimento, ângulo da declividade, largura, área ocupada, área ocupada por matas ou tipo de uso do
solo, altura média da vegetação, umidade e porosidade do solo, granulometria, rugosidade, conteúdo orgânico do
solo.
O planejamento e a avaliação dos recursos hídricos mostram-se grandemente influenciados pelos fatores citados,
sendo fundamental um gerenciamento das atividades antrópicas, para que esses processos não influenciem na
morfometria da bacia hidrográfica e assim modifiquem a disponibilidade qualitativa e quantitativa dos recursos
hídricos.
2.4 Cobertura vegetal em bacias hidrográficas
Preservar a cobertura vegetal nas bacias hidrográficas é fundamental para o equilíbrio ecossistêmico e a
manutenção da diversidade. As florestas exercem a função de controle da erosão, da qualidade da água e do
sequestro do carbono atmosférico, além de serem um elemento primordial para o ciclo da água (evaporação,
evapotranspiração, infiltração, entre outros).
Clique nas abas a seguir e conheça mais sobre o tema.
A vegetação tem um papel importante no balanço da energia da bacia hidrográfica, ou seja,
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A vegetação
A vegetação tem um papel importante no balanço da energia da bacia hidrográfica, ou seja,
no fluxo dos volumes de água, pois uma fração considerável da precipitação fica retida nas
folhas e nas copas das árvores. Esse processo muda de acordo com as diferentes coberturas
vegetais. Diante disso, frente ao desmatamento, essa retenção diminui ou fica inexistente,
modificando assim a qualidade e a quantidade da água.
Conservação da
bacia
Rizzi (1985) afirma que a floresta desempenha papel primordial na conservação da bacia, na
medida em que serve como filtro de impurezas, além de controlar a erosão dos rios, ou seja,
diminui a turbidez das águas. Modificar a ocupação do solo e retirar a cobertura vegetal
altera a superfície da bacia hidrográfica e gera impactos significativos no escoamento.
Partindo desse princípio, a Lei 12.651, de 2012, conhecida como Código Florestal, estabelece
normas gerais sobre a vegetação nativa, as áreas de preservação permanente, as áreas de
reserva legal; a exploração florestal, o suprimento de matéria-prima florestal, o controle da
origem dos produtos florestais e o controle e a prevenção dos incêndios florestais, e prevêinstrumentos econômicos e financeiros para o alcance de seus objetivos (BRASIL, 2012).
Código Florestal
O Código Florestal dispõe regras no território brasileiro e estabelece como as áreas de
vegetação nativa podem ser exploradas, além das regiões que são legalmente autorizadas
para receber os tipos de produção rural.
B i o m a s
brasileiros
No Brasil, há seis biomas: Amazônia, Cerrado, Pampa, Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga. A
Amazônia se destaca por ter a maior biodiversidade do mundo. Com isso, o Código Florestal
determina que a reserva legal naquela área é de 80%. Pela magnitude e importância das
coberturas vegetais nas bacias hidrográficas brasileiras, da qualidade do ar, do solo e da
sociedade como um todo, o Ministério do Meio Ambiente desenvolveu mapas da cobertura
vegetal do Brasil, com as tipologias vegetais e a ocupação antrópica de cada bioma, com as
porcentagens da vegetação nativa florestal, das áreas antrópicas, da vegetação secundária, da
água e da vegetação nativa não florestal.
Conhecer a cobertura vegetal das bacias hidrográficas é fundamental para assegurar condições de melhorias na
qualidade de vida, bem como para explorar seus usos múltiplos de forma sustentável, protegendo assim as
diversidades biológicas, sociais e culturais. É importante que se consiga fazer uma análise das estruturas e
organismos que vivem na bacia hidrográfica, para que se entenda como se comportam nas alternâncias do ciclo
hidrológico.
2.4.1 Matas ciliares
As matas ciliares são uma vegetação nativa que acompanha os cursos d’agua. Essa vegetação atua como “cílios”
na bacia hidrográfica, ou seja, protege a bacia contra o assoreamento, a diminuição da profundidade dos rios e
evita a sua contaminação, pois absorve diversos nutrientes (muitos oriundos do esgoto sanitário). Desempenha
VOCÊ QUER VER?
O documentário (2017), um curta-metragem sobre o povo Waurá, relata asFogo na floresta
problemáticas de queimadas na Amazônia. Assista ao vídeo disponível em: <https://www.
>.youtube.com/watch?v=Jv8nkw8hy-c
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evita a sua contaminação, pois absorve diversos nutrientes (muitos oriundos do esgoto sanitário). Desempenha
funções de regularização dos ciclos hidrológicos, estabilidade dos solos, conservação da biodiversidade e
qualidade das águas, além de ser uma barreira natural contra pragas e doenças advindas da agricultura.
Apesar de protegerem a bacia, as matas ciliares são vistas a partir de pontos de interesse diversos. Clique nos
itens e conheça quais são esses pontos de interesses.
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Agropecuarista
Para o agropecuarista, elas representam um obstáculo ao acesso à água pelo gado.
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Monoculturas
Para as monoculturas são terras férteis improdutivas.
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Ambientalistas
Para os ambientalistas são áreas que permitem aos animais se deslocarem (geralmente para a
busca de alimento e o acasalamento).
Assista ao vídeo a seguir e entenda melhor a importância das matas ciliares nas bacias hidrográficas e
compreenda que, sem as matas ciliares e a cobertura vegetal, pode ocorrer o escoamento superficial e o
carregamento de materiais sólidos para as calhas dos rios, além de aumentar a turbidez dos rios! Confira!
https://cdnapisec.kaltura.com/p/1972831/sp/197283100/embedIframeJs/uiconf_id/30443981/partner_id
/1972831?iframeembed=true&playerId=kaltura_player_1547284161&entry_id=1_a6jjan6l
Perante tal problema, o Código Florestal considera as matas ciliares como áreas de preservação permanentes,
que têm por objetivo preservar locais frágeis. O decreto 6.514/2008 (regulamenta a lei de crimes ambientais)
prevê áreas mínimas de preservação de matas ciliares, e esse processo está de acordo com a largura dos rios. Por
exemplo, rios entre 10 a 50 metros de largura devem ter uma mata ciliar preservada de 50 metros. Isso se deve à
importância de se preservar as águas brasileiras.
2.4.2 Áreas de preservação permanente
Segundo o Código Florestal, área de preservação permanente (APP) é uma área protegida, coberta ou não por
vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica
e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das
populações humanas (BRASIL, 2012).
O Ministério do Meio Ambiente (2011) destaca que as áreas de preservação não têm apenas a função de
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VOCÊ QUER LER?
Conheça o mapa da cobertura vegetal da Amazônia. Ela é o maior bioma do Brasil e abrange
uma área de 4.196.943 km2 do país (MMA, [s. d.]). Disponível em: <http://www.mma.gov.br
>./biomas/amaz%C3%B4nia/mapa-de-cobertura-vegetal.html
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O Ministério do Meio Ambiente (2011) destaca que as áreas de preservação não têm apenas a função de
preservar a vegetação, mas de proteger o bem-estar da sociedade. A Lei 12.651 (BRASIL, 2012) prevê faixas de
parâmetro para cada tipologia de APP, visto que as faixas mínimas dependem das margens e da largura, além da
tipologia (rios, nascentes, lagos etc.).
A Lei 12.651 (BRASIL, 2012) prevê a intervenção ou supressão da vegetação nativa (APP) apenas em utilidades
públicas de interesse social. A lei, em seu art. 4º, considera área de preservação permanente:
I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os
efêmeros, desde a borda da calha do leito regular [...].
II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de: a) 30 (trinta)
metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura; b) 50 (cinquenta) metros,
para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; c) 100 (cem)
metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura; d)
200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos)
metros de largura; e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a
600 (seiscentos) metros;
III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de barramento ou
represamento de cursos d’água naturais, na faixa definida na licença ambiental do empreendimento.
Além disso salienta que área de preservação permanente devem ser:
IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação
topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros;
V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100% (cem por cento)
na linha de maior declive;
VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;
VII - os manguezais, em toda a sua extensão;
VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior
a 100 (cem) metros em projeções horizontais;
IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem) metros e
inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3
(dois terços) da altura mínima da elevação sempre em relação à base, sendo esta definida pelo plano
horizontal determinado por planície ou espelho d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela
cota do ponto de sela mais próximo da elevação;
X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação
(BRASIL, 2012).
Por fim, as áreas de preservação permanente devem ser rigorosamente fiscalizadas e preservadas. Por mais que
CASO
Pinto e colaboradores (2005) realizaram um estudo na bacia hidrográfica do Ribeirão Santa
Cruz, no município de Lavras/MG. Eles desenvolveram uma caracterização física da bacia e
analisaram o cumprimento da legislação ambiental nas áreas de preservação permanente dos
córregos, nascentes e encostas. Foi constatado que 11,04% de usos são conflitantes e 11,76%
da área necessitam de reflorestamento. Quer saber mais? Acesse o conteúdo disponível em:
<http://www.redalyc.org/html/744/74411106/>.- -18
Por fim, as áreas de preservação permanente devem ser rigorosamente fiscalizadas e preservadas. Por mais que
o Código Florestal seja incisivo, medidas complementares de proteção são relevantes para que as áreas não
fiquem sujeitas a riscos de enchentes, erosão ou desmoronamento, deslizamento e rolamento de rochas (MMA,
2011).
Síntese
Neste capítulo, apresentamos as características físicas da bacia hidrográfica e como elas interferem no ciclo
hidrológico. Além disso, vimos a importância de analisar os dados analíticos e sua interferência no
comportamento hidrológico e como definimos a hierarquização dos cursos d’água que formam a bacia
hidrográfica. Com esse conhecimento, esperamos que você esteja apto a compreender como se inicia o processo
de gerenciamento de bacias hidrográficas.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
• conhecer os processos dos planos diretores municipais para o gerenciamento de bacias hidrográficas;
• conhecer a gestão de bacias e dos municípios;
• discutir os dados que interferem no comportamento hidrológico;
• delimitar uma bacia hidrográfica;
• analisar a importância da cobertura vegetal, das áreas de preservação permanente e das matas ciliares;
• discutir os mecanismos legais.
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WEIS, B. . Direção: Tadeu Jungle. Produção: André Villas Boas, Bruno Weis, Paulo Junqueira eFogo na floresta
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Socioambiental (ISA), 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Jv8nkw8hy-c>. Acesso em: 18
/11/2018.
	Introdução
	2.1 Bacias hidrográficas na prática
	2.1.1 Planos diretores municipais
	2.2 Caracterização física de bacias hidrográficas
	2.2.1 Principais indicadores
	2.2.2 Área de drenagem
	2.2.3 Forma da bacia
	2.2.4 Sistema de drenagem
	2.3 Delimitação de bacias hidrográficas
	2.3.1 Avaliação dos recursos hídricos: análise morfométrica-morfológica
	2.4 Cobertura vegetal em bacias hidrográficas
	2.4.1 Matas ciliares
	2.4.2 Áreas de preservação permanente
	Síntese
	Bibliografia

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