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RepResentação temática- classificação Prof.a Miriam de Cassia do Carmo Mascarenhas Mattos Indaial – 2019 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Prof.a Miriam de Cassia do Carmo Mascarenhas Mattos Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: M444r Mattos, Miriam de Cassia do Carmo Mascarenhas Representação temática - classificação. / Miriam de Cassia do Carmo Mascarenhas Mattos. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 182 p.; il. ISBN 978-85-515-0328-7 1. Classificação - Livros. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 025.43 III apResentação A representação temática, também conhecida como classificação, juntamente com a representação descritiva, ou catalogação, fazem parte das disciplinas técnicas da área de biblioteconomia, do campo da organização da informação e do conhecimento. Estas, somadas ao processo de indexação, formam as linguagens documentárias, ou seja, linguagens construídas artificialmente que possibilitam a recuperação da informação e o acesso do acervo por parte dos usuários. Recuperação da informação catalogação indexaçãoclassificação FIGURA 1 – LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS FONTE: A autora Para Guimarães e Sales (2010, p. 3), a análise documentária é uma “operação de decomposição (análise) e representação do conteúdo informacional dos documentos. Pressupõe um conjunto sistemático e sequencial de procedimentos que podem ser explicitados”, sendo, portanto, crucial em relação à questão da explicitação dos procedimentos e para a contribuição interdisciplinar de áreas como a Linguística e a Lógica, “necessitando, para tal, de um conjunto de ferramentas, denominadas linguagens documentais”. O objetivo principal da análise documentária é “expressar o conteúdo de documentos sob formas destinadas a facilitar a recuperação da informação através de uma operação semântica. A análise, embora não obedeça a nenhuma regra precisa, varia em função de cada organismo e do analista” — pessoa que executa a operação (DIAS; NAVES, 2007, p. 6). Nesse processo são importantes algumas considerações apontadas por Guinchat e Menou (1994, p. 121), como: IV • conhecer o conteúdo para informar os usuários; • operar escolhas para eliminar ou conservar um documento; • armazenar os documentos; • armazenar para recuperar facilmente os documentos. Os entendimentos dos conceitos acerca das análises documentárias divergem um pouco de acordo com a corrente teórica. Vejamos algumas de suas diferenças: • Corrente francesa: a análise documentária é um macrouniverso no qual a indexação está inserida. A indexação é, então, o resultado da fase de representação, fase final da análise documentária, em que se utilizam as linguagens documentárias para a geração de produtos documentários. • Corrente espanhola: a análise documentária comporta dois níveis de divisão: ᵒ o da forma: análise descritiva ou bibliográfica — o tratamento físico da informação ligado com o suporte; ᵒ o do conteúdo: tratamento temático da informação, e destina-se à representação condensada do assunto intrínseco ou extrínseco tratado em um determinado documento. • Corrente inglesa: a análise documentária e a indexação compreendem processos idênticos, incluindo a análise de assuntos como etapa inicial da indexação. Indexação, entendendo-a como um processo. Segundo os estudos de Guimarães e Sales (2010), as correntes teóricas demonstram ter mais influências, no contexto brasileiro, em configurações enquanto: geração de produtos (corrente norte-americana), na concepção instrumental (corrente inglesa) e no processo propriamente dito (corrente francesa). Dadas as explicações iniciais necessárias para o entendimento do conteúdo e dinâmica da disciplina, observamos que nosso foco neste livro didático será a representação temática, ou seja, a classificação. Na primeira unidade, veremos os aspectos históricos da classificação do conhecimento, perpassando a longa jornada até a utilização dos processos de classificação atuais. Nesta etapa apresentaremos alguns conceitos do conteúdo, bem como abordagens iniciais da representação temática. Nas segunda e terceira unidades, apresentaremos as duas principais formas de classificação mais utilizadas em todo o mundo, a Classificação Decimal de Dewey (CDD) e a Classificação Decimal Universal (CDU). Estas serão aprofundadas para que você consiga diferenciá-las, bem como utilizar suas ferramentas de forma completa. Prova Questão 2 V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! É importante observar que é somente com a prática que você realmente aprenderá os recursos dos instrumentos de classificação. Para isso é recomendado que além dos exercícios propostos ao longo da disciplina, seu primeiro estágio obrigatório tenha como foco aspectos técnicos dos processos de linguagens documentárias. Seja nos sistemas de classificação e catalogação da informação. Isso mostrará a realidade profissional bem como sua importância para a recuperação da informação. Bons estudos! Prof.ª Miriam Mattos NOTA VI VII UNIDADE 1 – HISTÓRIA DA CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO ............................... 1 TÓPICO 1 – REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA NO CONTEXTO DA BIBLIOTECONOMIA ....... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 CONCEITOS DE CLASSIFICAÇÃO ................................................................................................ 5 2.1 CLASSIFICAÇÃO BIBLIOGRAFICA ........................................................................................... 7 2.2 NOTAÇÃO ....................................................................................................................................... 8 2.3 ALGUMAS DICAS DE CLASSIFICAÇÃO ................................................................................. 9 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 11 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................12 TÓPICO 2 – HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES: FILOSÓFICAS ............................................. 13 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 13 2 DA ORALIDADE À ESCRITA ......................................................................................................... 13 2.1 OS SUPORTES DA ESCRITA ......................................................................................................... 15 3 CLASSIFICAÇÃO NA ANTIGUIDADE ......................................................................................... 17 3.1 CLASSIFICAÇÃO DE ARISTÓTELES .......................................................................................... 21 3.2 CLASSIFICAÇÃO SÉCULO IV ...................................................................................................... 22 3.3 CLASSIFICAÇÃO DE CASSIDORO ............................................................................................. 23 3.4 CLASSIFICAÇÃO NA ERA MEDIEVAL ..................................................................................... 23 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 25 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 26 TÓPICO 3 – HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES: BIBLIOGRÁFICAS ..................................... 27 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 27 2 KONRAD VON GESNER ................................................................................................................... 28 3 GABRIEL NAUDÉ ................................................................................................................................ 29 4 MANUEL DE LIBRAIRE ET DE L´AMATEURDESLIVRES ....................................................... 30 5 FRANCIS BACON E AUGUSTO COMTE ...................................................................................... 31 6 AUGUSTO COMTE ............................................................................................................................. 31 7 MÉTODOS DE CLASSIFICAÇÃO MODERNOS ......................................................................... 32 7.1 LCC – LIBRARY OF CONGRESS – 1897 ..................................................................................... 32 7.2 CLASSIFICAÇÃO DE BROWN – SUBJECT CLASSIFICATION – 1906 .................................. 34 7.3 A CONTRIBUIÇÃO DE BLISS PARA A CLASSIFICAÇÃO .................................................... 35 7.4 CLASSIFICAÇÃO DE RANGANATHAN .................................................................................. 36 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 39 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 43 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 45 UNIDADE 2 – CLASSIFICAÇÃO DECIMAL DE DEWEY ............................................................. 47 TÓPICO 1 – CONTEXTO HISTÓRICO DA CDD; ESTRUTURA E CARACTERISTICAS........ 49 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 49 2 HISTÓRICO ........................................................................................................................................... 49 sumáRio VIII 3 CRONOLOGIA DAS EDIÇÕES ........................................................................................................ 53 4 ESTRUTURA DA CDD IMPRESSA ................................................................................................. 54 5 CARACTERÍSTICAS E ESTRUTURA DA VERSÃO ONLINE ................................................. 56 6 HIERARQUIA E NOTAÇÃO ............................................................................................................. 57 7 SÍNTESES ............................................................................................................................................... 61 8 ORDEM DE CITAÇÃO E PREFERÊNCIA ....................................................................................... 64 9 INDICE RELATIVO ............................................................................................................................ 65 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 68 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 69 TÓPICO 2 – TABELAS AUXILIARES .................................................................................................. 73 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 73 2 TABELA 1: SUBDIVISÕES PADRÃO/COMUM ............................................................................ 74 3 TABELA 2: SUBDIVISÃO DE TRATAMENTO GEOGRÁFICO, PERÍODOS HISTÓRICOS E BIOGRAFIAS ......................................................................................................... 77 4 TABELAS 3A, 3B E 3C – SUBDIVISÃO DE ARTES E LITERATURAS ESPECÍFICAS ........ 78 4.1 TABELA 3-A (AUTORES INDIVIDUAIS) ................................................................................... 79 4.2 TABELAS 3-B: OBRAS DE/SOBRE MAIS DE UM AUTOR ...................................................... 80 4.2.1 Miscelânea ............................................................................................................................... 81 4.3 TABELAS 3-C DETALHES DA TABELA 3-B E DO 808/809 ...................................................... 81 5 TABELA 4 – SUBDIVISÃO DE LÍNGUAS E FAMÍLIAS LINGUÍSTICAS ............................. 82 6 TABELA 5 – SUBDIVISÃO DE ETNIAS E GRUPOS ÉTNICOS .............................................. 83 7 TABELA 6 – LÍNGUAS ...................................................................................................................... 84 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 86 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 87 TÓPICO 3 – TABELAS PRINCIPAIS E ESQUEMAS ....................................................................... 89 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 89 2 PONTUAÇÃO NOS ESQUEMAS ..................................................................................................... 90 2.1 INDICAÇÃO DE NOTAS NOS ESQUEMAS ............................................................................. 90 2.2 PRINCÍPIOS PARA A ESCOLHA NOTACIONAL: REGRAS BÁSICAS ................................ 90 3 CLASSE 000 – GENERALIDADES .................................................................................................... 94 3.1 SUMÁRIO DA CLASSE 000 (VERSÃO IMPRESSA) ................................................................. 94 4 CLASSES 100 – 200 – 300 ..................................................................................................................... 97 5 CLASSE 400 – LÍNGUAS ...................................................................................................................98 5.1 DICIONÁRIOS ................................................................................................................................. 98 5.1.1 Dicionários bilíngues ............................................................................................................. 99 6 CLASSE 500 – 600 – 700 ........................................................................................................................ 99 7 CLASSE 800 – LITERATURA (BELAS ARTES) E RETÓRICA .................................................... 102 8 CLASSE 900 – GEOGRAFIA, HISTÓRIA E DISCIPLINAS AUXILIARES .............................. 105 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 107 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 114 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 116 UNIDADE 3 – CLASSIFICAÇÃO DECIMAL UNIVERSAL .......................................................... 117 TÓPICO 1 – HISTÓRICO, PRINCÍPIOS E ESTRUTURA .............................................................. 119 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 119 2 HISTÓRICO .......................................................................................................................................... 119 3 INSTRUMENTOS DE CONTROLE BIBLIOGRÁFICO ............................................................... 121 4 EDIÇÕES DA CDU .............................................................................................................................. 123 5 CDU NO BRASIL ................................................................................................................................. 124 IX 6 EDIÇÃO ONLINE EM PORTUGUÊS .............................................................................................. 126 7 PRINCÍPIOS DA CDU ........................................................................................................................ 128 8 ESTRUTURA DA CDU........................................................................................................................ 131 8.1 INDICE .............................................................................................................................................. 132 8.2 TABELAS SISTEMATICAS ........................................................................................................... 133 8.3 FUNÇÃO DO PONTO DECIMAL ............................................................................................... 134 8.4 REDUÇÃO OU USO SIMPLIFICADO DA NOTAÇÃO ............................................................ 134 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 135 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 136 TÓPICO 2 – TABELAS AUXILIARES .................................................................................................. 137 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 137 2 TABELAS AUXILIARES ..................................................................................................................... 137 2.1 SINAIS E FUNÇOES ...................................................................................................................... 138 3 SUBDIVISOES AUXILIARES ............................................................................................................ 139 3.1 AUXILIARES COMUNS DE LÍNGUA – TABELA 1C ............................................................... 140 3.1.1 Ordem de citação .................................................................................................................... 141 3.1.2 Documentos multilíngues ..................................................................................................... 141 3.2 (0...) AUXILIARES COMUNS DE FORMA – TABELA 1D ....................................................... 142 3.2.1 Forma interna e forma externa ............................................................................................. 142 3.3 ORDEM DE CITAÇÃO ................................................................................................................... 142 3.4 (1/9) AUXILIARES COMUNS DE LUGAR – TABELA 1E ......................................................... 143 3.4.1 Ordem de citação .................................................................................................................... 143 3.4.2 Mais subdivisões ..................................................................................................................... 144 3.5 (=...) AUXILIARES COMUNS DE GRUPOS HUMANOS, ETNIAS E NACIONALIDADE – TABELA 1F ........................................................................................................................................ 144 3.5.1 Nota de aplicação .................................................................................................................... 145 3.5.2 Ordem de citação .................................................................................................................... 145 3.6 “...” AUXILIARES COMUNS DE TEMPO. TABELA 1G ........................................................... 145 3.6.1 Notação ................................................................................................................................... 146 3.6.2 Ordem de citação ................................................................................................................... 146 3.6.3 Datas ......................................................................................................................................... 146 3.6.4 Era cristã ou era comum e era pré-cristã ............................................................................ 147 3.6.5 Séculos, décadas ..................................................................................................................... 147 3.6.6 Períodos .................................................................................................................................... 147 3.6.7 Divisões de tempo menores .................................................................................................. 148 3.7 ESPECIFICAÇÃO DE ASSUNTO ATRAVÉS DE NOTAÇÕES QUE NÃO PERTENCEM A CDU .................................................................................................................................................... 148 3.7.1 * Asterisco ................................................................................................................................ 148 3.7.2 (A/Z) Especificação alfabética – Tabela 1h .......................................................................... 148 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 151 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 153 TÓPICO 3 – TABELAS PRINCIPAIS ................................................................................................... 155 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 155 2 TABELAS PRINCIPAIS .......................................................................................................................155 3 CLASSE 0 – GENERALIDADES ........................................................................................................ 157 4 CLASSE 1 – FILOSOFIA & CLASSE 2 – RELIGIÃO ..................................................................... 157 5 CLASSE 3 – CIÊNCIAS SOCIAIS ..................................................................................................... 158 6 CLASSE 5 E 6 – MATEMÁTICAS E CIÊNCIAS NATURAIS E CIÊNCIAS APLICADAS, MEDICINA, TECNOLOGIA .............................................................................................................. 160 7 CLASSE 7 – ARTES, RECREAÇÃO, DIVERSÕES, ESPORTES .................................................. 161 X 8 CLASSE 8 – LÍNGUA. LINGUÍSTICA. LITERATURA ................................................................ 162 9 CLASSE 9 – GEOGRAFIA, BIOGRAFIA E HISTÓRIA................................................................ 163 10 ORDEM DE CITAÇÃO ..................................................................................................................... 164 10.1 INTERCALAÇÃO ......................................................................................................................... 165 11 ORDEM DE ARQUIVAMENTO .................................................................................................... 165 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 167 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 176 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 178 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 179 1 UNIDADE 1 HISTÓRIA DA CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer os conceitos iniciais e contextos da classificação bibliográfica; • compreender o contexto histórico da classificação bibliográfica; • diferenciar os tipos de classificação; • utilizar os sistemas de classificação no âmbito profissional Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA NO CONTEXTO DA BIBLIOTECONOMIA TÓPICO 2 – HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES: FILOSÓFICAS TÓPICO 3 – HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES: BIBLIOGRÁFICAS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA NO CONTEXTO DA BIBLIOTECONOMIA 1 INTRODUÇÃO Ao chegarmos em uma biblioteca, vemos, nas lombadas dos livros e outros tipos de acervo, uma etiqueta com uma série de números e letras e outros símbolos, resultado de um processo de classifi cação. FIGURA 2 – LIVROS CLASSIFICADOS E CATÁLOGOS FONTE: <https://bibliotecabauru.fi les.wordpress.com/2013/06/lombada.jpg>. Acesso em: 31 maio 2019. São estes dados que informam a que classe do conhecimento este acervo pertence, ou seja, sua representação temática, bem como a forma de organização desses materiais nas estantes das unidades de informação. UNIDADE 1 | HISTÓRIA DA CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO 4 IMPORTANT E Quando falamos de acervo, logo pensamos em livros e textos escritos como revistas, artigos, entre outros, que, de fato, são a maioria entre os materiais utilizados em unidades de informação. Porém, quando falamos de acervo, temos que lembrar da existência de outros materiais, como: mapas, jogos, DVDs, partituras, discos e objetos em geral. Somente através dos sistemas de classificação, somados a outras técnicas da biblioteconomia, que podemos de fato recuperar a informação presente em acervos. IMPORTANT E Materiais “organizados” nem sempre podem ser recuperados! Os materiais podem até estar aparentemente “organizados” em estantes, por exemplo, por tamanho, por cor, por tipo de material etc., mas, somente será possível recuperar seus conteúdos se esta organização estiver relacionada à classificação e à catalogação, pois não classificamos o objeto em si, classificamos sua informação, seu conteúdo. Já pensou ter vários materiais de formato igual, mas com conteúdo diferentes? Contudo, antes de aprofundar o assunto, vejamos algumas considerações de Piedade (1983, p. 8) sobre classificação: • O ser humano é, naturalmente, um classificador, executando esse processo de maneira inconsciente. • Classificação é um processo mental, habitual ao homem, pois vivemos automaticamente classificando coisas e ideias, a fim de compreendê-las e conhecê-las. • Com o desenvolvimento da oralidade e da escrita, esse ser adquiriu o poder de representar através de sons e símbolos, coisas, ideias e sentimentos. Assim, podemos afirmar que os sistemas de classificação envolvem: TÓPICO 1 | REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA NO CONTEXTO DA BIBLIOTECONOMIA 5 Estrutura Ordem Método FIGURA 3 – CRITÉRIOS PARA A CLASSIFICAÇÃO FONTE: A autora Durante muitos séculos a arrumação dos livros de uma biblioteca foi feita apenas com intituito de preservá-los para posteridade. Segundo Barbosa (1969), o conceito moderno de biblioteca como um organismo vivo veio do século XIX, com a disseminação das universidades, e, consequentemente, com o surgimento das bibliotecas universitárias públicas. Até então as coleções tinham sido arrumadas por sistemas ou filosóficos ou por práticas, mas, com a adoção do sistema de livre acesso, os bibliotecários sentiram cada vez mais a necessidade de uma arrumação sistemática, algo que reunisse os livros pelos assuntos que encerram, a fim de melhor interesses dos usuários. Ainda, assim, surgiram os grandes sistemas de classificação, como a CDD e CDU, assuntos que serão aprofundados nas Unidades 2 e 3 deste livro didático. IMPORTANT E Podemos considerar que a classificação é a tarefa mais importante de uma biblioteca, pois constitui o meio pelo qual o acervo poderá ser recuperado e utilizado, fazendo surgir novos conhecimentos. 2 CONCEITOS DE CLASSIFICAÇÃO Classificar é a ação de reunir em classe. É um instrumento para organizar um conjunto de elementos. Organizar itens de uma Unidade de Informação pela semelhança, tamanho, cor, ordem alfabética, assunto etc. A palavra classificar tem sua origem do latim, classis, que se designavam os grupos dos povos romanos que eram divididos e classificados hierarquicamente aplicando suas diferenças, sejam elas sociais, culturais ou quaisquer outras. Ou seja, a classificação nada mais é que separar e agrupar as coisas (documentos) por grupos diferentes, mantendo certa ordem (SILVA; HERCULANO, 2012, p. 2). O livro é um conjunto de ideias, teorias, experimentos acerca de um dado assunto/disciplina. É este assunto que classificamos, e não o suporte físico. Serve como base para organização sistemática dos registros produzidos/publicados pelo homem em catálogos e bibliografias. Por exemplo, um bom sistema de classificação deve permitir: Prova Questão 4 UNIDADE 1 | HISTÓRIA DA CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO 6 • Localizá-los dentro da coleção. • Retirá-los para consulta, com rapidez. • Devolvê-los à coleção, sem dificuldade. • Inserir novos livros aos já existentes, na coleção, sem que percam suas ordens lógicas. • Inserir novos livros, de novos assuntos, sem quebrar a sequência do grupo. O propósito da classificação em unidades de informação é organizar o conhecimento contido em qualquer tipo de documento. Na prática: reunir na estante (fisicamente) os itens bibliográficos de um mesmo assunto. Por isso, o assunto é a principal característica da atividade de classificaçãoe, para classificar, precisamos de um instrumento que nos ajude a separar os itens por assunto, ou melhor, que nos ajude a representar de forma padronizada os assuntos contidos nestes itens. Em uma biblioteca, o leitor pode procurar um livro pelo autor, título, série, tradutor ou editor, entretanto, na maioria das vezes, é pelo assunto que ele procura. Para acessar, ele tem três opções: • Procurar num catalogo, que pode ser em fichas, ou digital. • Pedir ajuda ao bibliotecário ou auxiliar de Biblioteconomia. • Ir diretamente às estantes. Qualquer que seja a forma que utilize, ele precisa encontrá-los reunidos, não só pelos assuntos semelhantes, como também pelos assuntos correlatos. É comum o usuário chegar à biblioteca sem mesmo saber definir exatamente o assunto que procura. Orientado para as estantes, fica admirado de encontrar outros livros de assuntos bem mais específicos à necessidade. Daí a necessidade de classificar os livros partindo de grandes áreas de conhecimento para áreas especializadas. Só a classificação sistemática permite a correlação de assunto. Ao longo do Tópico 2 veremos a história da classificação. Contudo, já podemos adiantar que existem dois tipos de classificação • Classificações filosóficas: criadas por filósofos, com o intuito de dar ordem às ciências ou às coisas — classificação dos seres. • Classificações bibliográficas: desenvolvidas para estabelecer relações entre os documentos de uma coleção, em bibliotecas e centros de informação ou documentação, facilitando a localização — classificação dos saberes. No quadro a seguir podemos verificar os principais autores das classificações filosóficas e bibliográficas: em que há ligação ou relação entre uma coisa e outra Prova Questão 9 prova questão 3 Prova Questão 9 TÓPICO 1 | REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA NO CONTEXTO DA BIBLIOTECONOMIA 7 FILOSOFICAS Aristóteles (364-322 a.C.) Porfírio (Sec. IV) Cassidoro (468-575) Bacon (1561-1626) Comte (1798 – 1857) BIBLIOGRÁFICAS Calimacus (Pinaks (260 a 2040 a. C) Gesner (1545) G. Naudé, Brunet, Diderot e D’Alembert (fim do Sec. XVIII) Melvin Dewey (1816-1914) Bliss (1870-1955) Ranganathan (1933) CRG (1952) QUADRO 1 – AUTORES E SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÕES FONTE: A autora 2.1 CLASSIFICAÇÃO BIBLIOGRAFICA Podemos definir como classificação bibliográfica aquela aplicada aos livros e a outros tipos de acervo, como processo de reuni-los em grupos, segundo os assuntos que abrangem, enquadrá-los num sistema estabelecido, dando, ao mesmo tempo, um lugar certo na coleção, ou seja, uma localização relativa. Dadas essas informações iniciais, antes de aprofundarmos sobre os sistemas de classificação atuais, vamos resgatar o processo histórico das classificações. A classificação de livros é, nada mais nada menos, que a classificação dos conhecimentos humanos, adaptada à forma material do livro. De acordo com Barbosa (1969), o livro, por sua forma física, só pode estar num lugar na coleção. Então, quando ele tratar de vários assuntos, se escolherá um deles de acordo com a especialidade da biblioteca, ficando ao catálogo a função de relacionar. Contudo, o que significa um lugar certo na coleção ou uma localização relativa? Justamente aquela que permite: • Que novos livros com novos assuntos sejam acrescentados, sem mudar a ordem lógica. • Que novos livros sejam anexados a outros materiais que contenham mesmos assuntos. • Que os livros troquem de prateleira, estantes ou salas sem perderem suas posições na coleção. A localização relativa só é conseguida através de uma arrumação ordinal, seja usando letras ou números. UNIDADE 1 | HISTÓRIA DA CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO 8 IMPORTANT E Deve-se a Melvil Dewey o uso dos números, na ordem decimal, para arrumação dos livros de uma coleção. Antes, os números, mesmo usados decimalmente, eram empregados apenas para localização fixa. Seu índice relativo foi idealizado com esse sentido: daí o nome de relativo, isto é, feito de tal modo que os usuários de uma biblioteca soubessem os diversos aspectos de um assunto e onde encontrá-los na coleção, recorrendo às estantes, aos catálogos ou a outras fontes bibliográficas (BARBOSA, 1969). 2.2 NOTAÇÃO Como podemos observar, o processo de classificação de livros implica em agrupar os assuntos, trocando o nome ou termo por sinais ou símbolos correspondentes. Daí diz-se que a classificação é uma linguagem artificial. A esses símbolos dá-se o nome de notação da classificação. Para que vários livros com o mesmo símbolo sejam diferenciados, há a necessidade de acrescentar à notação da classificação a notação do autor. Para isso, existem tabelas especiais, sendo a mais usada a tabela de cuttes-sanborn. Ao conjunto das duas notações se dá o nome de número de chamada. Número de chamada é, assim, o símbolo que individualiza o livro dentro de uma coleção, pois numa biblioteca não pode haver dois livros com o mesmo número de chamada. A notação de uma classificação é fator importante para aceitação do sistema, já que precisa ser simples, facilmente memorizável, de modo a permitir expansões de novos assuntos. Podem existir: • simples ou pura: quando há somente letras ou números; • mista: quando existem ambos simultaneamente. A notação é imprescindível a qualquer sistema por ser representação simbólica dos assuntos. Quanto mais simples e mais memorizável, mais facial a aceitação do sistema. Segundo Barbosa (1969, p. 33), “ao ter a feliz ideia de usar números decimais como símbolos de classificação, Dewey conseguiu, com tão simples dispositivo, uma vantagem tão grande sobre os processos até então em uso. Então, projetou seu sistema internacionalmente”. Prova Questão 7 Prova Questão 5 Prova Questão 5 Prova Questão 9 TÓPICO 1 | REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA NO CONTEXTO DA BIBLIOTECONOMIA 9 IMPORTANT E A notação CDD é a única considerada essencialmente pura, pois só emprega números, tem a grande vantagem de ser altamente memorizável e não apresenta problemas linguísticos. Para conservar o caráter flexível, isto é, permitir a inserção de novos assuntos, todos os sistemas deixam vazios para futuras expansões e, quando essa medida não se torna suficiente, alguns adotam o recurso do uso dos números na ordem decimal. Podemos afirmar que, apesar de tais cuidados, os sistemas nem sempre são 100% eficientes, pois todos têm suas limitações. A ciência e a tecnologia progridem aceleradamente, criando técnicas e novos produtos; as ciências se desdobram e nova terminologia aparece, fazendo com que a maior parte dos sistemas, por mais que se atualizem, e novas edições ou suplementos não cheguem nunca a satisfazer plenamente as exigências dos usuários. Segundo Barbosa (1969, p. 34), “somente os sistemas chamados analíticos sintéticos, como a CDU e a Classificação dos dois pontos, são capazes de atender a essas necessidades, embora, em muitos casos, as notações se tornem demasiadamente longas”. 2.3 ALGUMAS DICAS DE CLASSIFICAÇÃO O importante a ser considerado no processo de classificação é o perfeito entendimento, por parte de quem está classificando, do sentido que o autor quis dar ao seu trabalho. Para isso é recomendado a leitura técnica do livro. Há livros de assuntos gerais, fáceis de classificar, mas há outros de difícil interpretação, cujo texto exigirá mais do classificador. NOTA Nem sempre o título corresponde ao assunto. Prova Questão 1 Prova Questão 1 UNIDADE 1 | HISTÓRIA DA CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO 10 Segundo (MERRILL, 1958 apud BARBOSA, 1969, p. 18-19), no livro intitulado Código para classificadores, aconselha-se: a) O livro deve ser classificado onde é mais procurado. b) Classificar o livro primeiro pelo assunto e depois pela forma de apresentação ou local, exceto em literatura,caso em que a forma tem preferência. c) Classificar pelo assunto principal, segundo a finalidade do livro e a intenção do autor ao escrevê-lo. d) Quando o livro tratar de vários assuntos ou das relações entre dois ou mais, deve ser determinada a relação entre eles e classificar obedecendo às seguintes regras: • quando, em dois assuntos, um deve exercer influência; • no caso de dois ou mais assuntos que forem subdivisões de assunto maior, classificar pelo assunto maior; • quando ocorrerem dois assuntos distintos ligados por conjunção, classifica pelo primeiro deles, a não ser que o outro seja de maior interesse para a biblioteca; • para dois assuntos em que um seja a causa ou agente de outro classificar pelo assunto resultante ou derivado. e) Quando um livro tratar da história de um assunto deve ser classificado no assunto, mesmo que esse não comporte subdivisão para história. f) Quando um livro tratar dos métodos de investigação, deve ser classificado com o assunto investigado, e não com o método empregado para a pesquisa. g) Se o livro tratar de assunto referente a um país ou a uma pessoa, classificar com o assunto tratado mais especificamente. h) Se o livro tratar das origens de costumes, instituições ou crenças, classificar sob os costumes, instituições etc., e não sob aquelas origens. 11 Neste tópico, você aprendeu que: • Podemos considerar que a classificação é a tarefa mais importante de uma biblioteca, pois constitui o meio pelo qual o acervo poderá ser recuperado e utilizado, fazendo surgir novos conhecimentos. • Classificar é a ação de reunir em classe. É um instrumento para organizar um conjunto de elementos. Organizar itens de uma Unidade de Informação pela semelhança, tamanho, cor, ordem alfabética, assunto etc. • Um bom sistema de classificação de livros deve permitir: localizar elementos dentro da coleção; retirá-los para consulta, com rapidez; devolvê-los à coleção, sem dificuldade e inserir novos objetos aos já existentes na coleção, sem que percam suas ordens lógicas. Por fim, inserir novos elementos, de novos assuntos, sem quebrar a sequência do grupo. • O propósito da classificação em unidades de informação é organizar o conhecimento contido em qualquer tipo de documento. Na prática: reunir na estante (fisicamente) os itens bibliográficos de um mesmo assunto. • O assunto é a principal característica da atividade de classificação e, para classificar, precisamos de um instrumento que nos ajude a separar os itens por assunto, ou melhor, que nos ajude a representar de forma padronizada os assuntos contidos nestes itens. • Existem dois tipos de classificação: as filosóficas — criadas por filósofos, com o intuito de dar ordem às ciências ou às coisas — classificação dos seres. E as classificações bibliográficas — desenvolvidas para estabelecer relações entre os documentos de uma coleção, em bibliotecas e centros de informação ou documentação, facilitando a localização— classificação dos saberes. • Para que vários livros com o mesmo símbolo sejam diferenciados, há necessidade de acrescentar-se à notação da classificação a notação do autor. RESUMO DO TÓPICO 1 12 1 Qual o propósito da classificação em unidades de informação? 2 O que um bom sistema de classificação deve permitir? AUTOATIVIDADE Localizar elementos dentro da coleção; retirá-los para consulta, com rapidez; devolvê-los à coleção, sem dificuldade e inserir novos objetos aos já existentes na coleção, sem que percam suas ordens lógicas. Por fim, inserir novos elementos, de novos assuntos, sem quebrar a sequência do grupo. Organizar o conhecimento contido em qualquer tipo de documento na prática: reunir na estante (fisicamente) os itens bibliográficos de um mesmo assunto. 13 TÓPICO 2 HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES: FILOSÓFICAS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A arte de classifi car constitui-se em algo inerente para a existência humana, assim sendo, é possível afi rmar que classifi car é uma atividade muito antiga; porém a aquisição de base teórica se deu recentemente. Essa foi a força propulsora para a condição de ciência (BEZERRA et al., 2013, p. 3). Para falar da história das classifi cações é importante retomarmos alguns marcos que dão base para esse processo. Estamos falando das origens da escrita, bem como das suas formas. Temas que abordaremos brevemente agora. 2 DA ORALIDADE À ESCRITA Durante muito tempo, a oralidade foi a única forma de comunicação e transmissão de conhecimento. O ser humano descobriu que não bastava a memória para armazenar e passar sua cultura para seus descendentes, pois na oralidade fatos podem ser alterados. “Desde a pré-história, o homem de neandertal aprendeu a pintar nas paredes das grutas, passou pelas artes e a escrita foi se aperfeiçoando até o nosso alfabeto contemporâneo” (NASCIMENTO; PINTO; VALE, 2013, p. 1). É importante ponderar que, cada um desses momentos, traduziram, e traduzem, um momento histórico e sociocultural de uma nação. FIGURA 4 – DESENHOS EM CAVERNAS FONTE: <https://blogdamaricalegari.com.br/2016/08/11/a-arte-no-periodo-paleolitico- superior/>. Acesso em: 31 maio 2019. UNIDADE 1 | HISTÓRIA DA CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO 14 IMPORTANT E A habilidade para o desenho surgiu no período de 30.000 a 25.000 a.C. Os homens na idade da pedra usavam argila úmida e com os dedos retratavam, nas cavernas, acontecimentos do dia a dia como a caça, animais correndo, saltando e enfrentando caçadores. Graças a essas pinturas o homem contemporâneo pôde conhecer a sua origem. A invenção da escrita marca o fi m da pré-história. Ela nasce da necessidade de organização social. As primeiras tentativas de criação de sistemas de escrita aconteceram por volta de 4000 a.C. Os sistemas mais rudimentares apareceram muito antes que os primeiros alfabetos ganhassem forma. FIGURA 5 – EVOLUÇÃO DA ESCRITA FONTE: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/origem-escrita.htm>. Acesso em: 31 maio 2019. Não podemos atribuir o surgimento da escrita a uma única sociedade. Em épocas bastante próximas, civilizações americanas, os egípcios, chineses e mesopotâmicos começaram a desenvolver seus sistemas de representação gráfi ca. Após escrever nas paredes das cavernas, a humanidade passa para as tábuas de argila com a escrita cuneiforme: “A escrita cuneiforme tira o seu nome [...] do aspecto exterior dos sinais em formas de cunhas [...]. A página era [...] cozida no forno, como uma telha comum” (MARTINS, 1998 apud NASCIMENTO; PINTO; VALE, 2013, p. 2). TÓPICO 2 | HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES: FILOSÓFICAS 15 FIGURA 6 – ESCRITA CUNEIFORME FONTE: <http://expurgacao.art.br/pictogramas-vs-escrita-cuneiforme/>. Acesso em: 31 maio 2019. A escrita cuneiforme surgiu na Babilônia, em meados do quarto milênio a.C. Criada pelos sumérios, era produzida com o auxílio de objetos em formato de cunha. A escrita cuneiforme é uma das mais antigas do mundo, apareceu mais ou menos na mesma época dos hieróglifos, foi criada por volta de 3.500 a.C. 2.1 OS SUPORTES DA ESCRITA Como vimos no tópico anterior, com o passar dos tempos, a escrita precisou mudar, bem como seus suportes. Eram necessários materiais que pudessem ser melhor armazenados e transportados. Mesmo nesses suportes antigos, já existiam indícios de formas de classifi cação, como veremos adiante. Destacamos aqui, de forma breve, os três principais suportes históricos da escrita. O papiro tem sua origem na África por volta de 3700 a.C. Era produzido de uma planta nativa das margens do Rio Nilo, a Arundinária. FONTE: <http://letraslivroseafi ns.blogspot.com/2007/04/papiro-origem-o-papiro-um-produto- de.html>. Acesso em: 31 maio 2019. FIGURA 7 – PAPIRO UNIDADE 1 | HISTÓRIA DA CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO 16 O pergaminho foi o principalsuporte da escrita durante a Idade Média. Desenvolvido a partir do couro de animais jovens reaproveitados. Da palavra pergaminho surge o papel. FONTE: <https://noosfero.ufba.br/artes-visuais-2012/curiosidades/diferenca-entre-papiro-e- pergaminho>. Acesso em: 31 maio 2019. FONTE: <http://tipografos.net/tecnologias/papel.html>. Acesso em: 31 maio 2019. FIGURA 8 – PERGAMINHO FIGURA 9 - TIPÓGRAFO CHINÊS O papel, inventado pelos chineses — 105 d.C. — de cânhamo de algodão, depois de bambu e amoreira. Chegou à Espanha em 1150, onde se instalou um moinho de papel trazido pelos árabes. Assim, surge o papel de fibras vegetais. Nos dias atuais, a fabricação do papel tem como base a celulose como sua principal substância. Sua composição de fibras vegetais, carboidratos, amido e lignina utiliza de processos químicos que reduzem o teor de lignina, melhorando a qualidade. TÓPICO 2 | HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES: FILOSÓFICAS 17 3 CLASSIFICAÇÃO NA ANTIGUIDADE Segundo Piedade (1983), no que se refere à classificação na antiguidade, existem registros históricos de pseudoclassificações do século VI a.C. na Assíria, onde, na Biblioteca de Assurbanipal, quando a informação ainda era gravada em tabletes de argila, havia uma divisão bem simples entre aqueles destinados às ciências da terra e os das ciências do céu. Em 1975 foi encontrada uma das primeiras bibliotecas da Antiguidade, a biblioteca de Ebla, na Síria. Datada do terceiro milênio a.C., continha 15 mil tabuletas de argila, algumas com 30 cm de comprimento, que traziam textos administrativos extremamente precisos, tratados históricos, comunicados oficiais, listas de cidades conquistadas, disposições legais, além de textos literários e científicos organizados de acordo com o tema nas estantes de madeira. Os primeiros dicionários bilíngues (sumério- eblaense) surgem em Ebla como resultado dos estudos filológicos ali realizados por volta de 2500 a.C. (PIEDADE, 1983, p. 65). As escavações ainda revelaram uma sala adjacente onde eram feitos os documentos, bem como eram organizados, como podemos observar na ilustração a seguir: FIGURA 10 – BIBLIOTECA DE EBLA, NA SÍRIA FONTE: <https://frontispicio.wordpress.com/2016/03/07/as-bibliotecas-da-antiguidade/>. Acesso em: 31 maio 2019. Datam de 1.300 a.C. os tabletes com as primeiras informações bibliográficas de descrição física, encontrados em escavações hitita. Esses tabletes identificavam o número do tablete em uma série, o título e, muitas vezes, o escriba. As informações são encontradas outra vez nas escavações da biblioteca do rei assírio, Assurbanipal, em Nínive, datando de 650 a.C. Encontraram-se cerca de 20 mil tabletes, que registravam o título, o número do tablete ou volume, as primeiras palavras do tablete seguinte, o nome do possuidor original, o nome do escriba e um selo, indicando tratar-se de propriedade real. Presume-se UNIDADE 1 | HISTÓRIA DA CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO 18 haver, nesta época, um embrião de catálogo. Existiu, certamente, um catálogo, inscrito nas paredes de um templo no Egito, mas datado dos séculos III e II a.C. (MEY, 1995, p. 12). No mesmo período, a civilização grega desenvolveu as bibliotecas mais famosas da Antiguidade: Alexandria e Pérgamo. Calímacus, um dos sábios de Alexandria, elaborou seus pínakes [tabulas], cerca de 250 a.C., onde registrava o número de linhas de cada obra e suas palavras iniciais, assim como dados bibliográficos sobre os autores. Vejamos como alguns assuntos eram classificação no modelo de Pínakes: • Poetas: épicos, cômicos, trágicos, ditirambos. • Legisladores. • Filósofos, Geométricos, Matemáticos. • Historiadores. • Oradores. • Escritores de tópicos diversos. IMPORTANT E BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA A Biblioteca de Alexandria, no Egito, foi uma das maiores bibliotecas do mundo antigo. Era o maior centro de conhecimento do planeta, guardando um saber sem igual. Foi fundada no início do século III a.C. Estima-se que a Biblioteca tenha armazenado mais de 400.000 rolos de papiro, podendo ter chegado a 1.000.000 nos seus 700 anos de existência. Vinham sábios de todo o mundo para Alexandria para debate e estudo dos mais variados temas. Este clima de tolerância para com as outras culturas não voltaria a ser visto durante mais de 1500 anos. FIGURA – UMA DAS PROJEÇÕES DA BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA FONTE: <https://frontispicio.wordpress.com/2016/03/07/as-bibliotecas-da-antiguidade/>. Acesso em: 31 maio 2019. TÓPICO 2 | HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES: FILOSÓFICAS 19 Em 391 d.C., a Biblioteca foi completamente destruída por um bispo cristão. Com a destruição deste grande centro de conhecimento a humanidade entrou em um período de enclausuramento e entesouramento do saber pela igreja e seus sacerdotes. Período que se estendeu pelos 1.000 anos seguintes. FONTE: <http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,ERT343729-17770,00.html>. Acesso em: 31 maio 2019. FONTE: <https://www.archsearchapp.com.br/single-post/2014/10/30/Arch-Hoje-Arch- Curiosidades-Biblioteca-de-Alexandria>. Acesso em: 31 maio 2019. FONTE: <https://liberdade-cultural.blogspot.com/2010/07/biblioteca-de-alexandria.html>. Acesso em: 31 maio 2019. FIGURA – DESTRUIÇÃO DA BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA FIGURA – NOVA ALEXANDRIA FIGURA – NOVA ALEXANDRIA 2 Em 2012 a biblioteca de Alexandria foi reinaugurada com uma estrutura incomum. A construção principal da Biblioteca Alexandrina, como agora é ofi cialmente chamada, parece um gigantesco cilindro inclinado. O telhado de vidro e alumínio tem quase o tamanho de dois campos de futebol. Ele é provido de claraboias, voltadas para o norte, que iluminam a sala de leitura principal. UNIDADE 1 | HISTÓRIA DA CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO 20 Os espaços públicos principais fi cam no enorme cilindro com o topo truncado, cuja parte inferior desce abaixo do nível do mar. A superfície inclinada e brilhante do telhado começa no subsolo e chega a 30 metros de altura. Olhando, quando a luz do Sol refl ete na superfície metálica, a construção parece o Sol quando nasce no horizonte (RESENDE, 2017). A ampla fachada do cilindro central, de granito cinza, tem letras de alfabetos antigos e modernos. Dispostas em fi leiras, as letras representam apropriadamente as bases fundamentais do conhecimento. A maior parte do interior do cilindro é ocupada por uma sala de leitura aberta, com o piso em vários níveis. No subsolo há espaço sufi ciente para oiyo milhões de volumes. Há também espaços reservados para exposições, salas de conferências, biblioteca para cegos e um planetário — uma estrutura esférica, à parte, que lembra um satélite. Esse prédio moderníssimo inclui ainda sistemas sofi sticados de computadores e de combate a incêndios (RESENDE, 2017). BIBLIOTECA DE PÉRGAMO A Biblioteca de Pérgamo foi fundada por Atalo I (241-197 a.C.), rei de da cidade de Pérgamo (no Noroeste da atual Turquia), como resposta ao enorme sucesso da Biblioteca de Alexandria. A rivalidade entre as duas leva o Egito a cortar o fornecimento de Papiro. Tal fato ocasionou a procura de alternativas, sendo apreciadas as peles de animais, que eram mais resistentes e duráveis. Mas eram um recurso caro e escasso, o que levou ao desenvolvimento de tecnologias para a sua otimização e reutilização, dando origem a um novo suporte, o pergamena, ou pergaminho. FONTE: <http://magisterandre.blogspot.com/2012/04/biblioteca-de-pergamo.html>. Acesso em: 31 maio 2019. FIGURA – RUINAS BIBLIOTECA DE PÉRGAMO Em 30 a.C., Marco Aurélio ofereceu o espólio da biblioteca de Pérgamo à Cleópatra do Egito, contribuindo para enriquecer ainda mais a sua rival. Fisicamente, a biblioteca compreendia uma grande sala de leitura, com cerca de 180 m2, muito bem ventilada, com prateleiras em todos os lados e uma estátua de Atena no centro. Calcula-seque uma sala desse tamanho abrigaria, no máximo, cerca de 17.000 rolos. Os textos, escritos em papiro e em pergaminho — a palavra "pergaminho", aliás, deriva de "Pérgamo" — a partir do século II, fi cavam enrolados nas prateleiras. TÓPICO 2 | HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES: FILOSÓFICAS 21 3.1 CLASSIFICAÇÃO DE ARISTÓTELES A primeira tentativa de classifi cação do conhecimento de que se tem notícia foi desenvolvida por Aristóteles, que vigorou por, aproximadamente, 2000 anos (entre 300 a.C. e 1600 d.C.). Teria, o grande estagirita, mantido organizada por assunto, de acordo com sua própria divisão do conhecimento, uma biblioteca (termo aqui assumido em seu sentido metonímico e histórico de quase-sinônimo de coleção de documentos) constituída de exemplares de suas próprias obras, de seus mestres, de seus contemporâneos, e de escritores do passado a cujos textos tivera acesso (SILVA, 2010). FIGURA 11 – ARISTÓTELES FONTE: <https://www.todamateria.com.br/aristoteles/>. Acesso em: 31 maio 2019. Essa classifi cação dividia a ciência em três partes: • Teórica: objetivando o conhecimento de si (matemática, física e metafísica). • Prática: buscando o conhecimento como um guia de conduta, cujo propósito é a ação (ética, política, economia e retórica). • Produtiva: tendo como propósito a criação de um produto (poesia e artes). Presume-se que o objetivo de Aristóteles, nessa obra, foi de classifi car e analisar dez tipos de predicados ou gêneros do ser, ou seja, quais são as dez categorias que todos objetos no mundo poderiam ser classifi cados. Suas categorias são: • Substância. • Quantidade. • Qualidade. • Lugar. • Tempo. • Estado. • Hábito. • Ação. • Paixão. Prova Questão 2 UNIDADE 1 | HISTÓRIA DA CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO 22 Algumas vezes, as categorias são também chamadas de classes. Para Aristóteles as palavras sem combinação, umas com as outras, signifi cam por si mesmas uma das seguintes coisas: o que (substância), o quanto (quantidade), o como (qualidade), com o que se relaciona (relação), onde está (lugar), quando (tempo), como está (estado), em que circunstância (hábito), atividade (ação) e passividade (paixão). Dizendo de modo elementar, são exemplos de substância, homem, cavalo; de quantidade, de dois côvados de largura, ou de três côvados de largura; de qualidade, branco, gramatical; de relação, dobro, metade, maior; de lugar, no Liceu, no Mercado; de tempo, ontem, o ano passado; de estado, deitado, sentado; de hábito, calçado, armado; de ação, corta, queima; de paixão, é cortado, é queimado. 3.2 CLASSIFICAÇÃO SÉCULO IV Foi no século IV que o fi lósofo grego Porfírio desenvolveu uma classifi cação do conhecimento baseada no princípio da oposição, a classifi cação dicotômica. Para cada ramo do conhecimento havia outro de oposição. FIGURA 12 - ARVORE DE PORFÍRIO FONTE: <https://educacao.uol.com.br/biografi as/porfi rio.htm>. Acesso em: 31 maio 2019. Prova Questão 2 TÓPICO 2 | HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES: FILOSÓFICAS 23 3.3 CLASSIFICAÇÃO DE CASSIDORO Segundo Barbosa (1969), a árvore de porfírio é uma tênue demonstração da técnica da classifi cação, partindo de assuntos gerais para específi cos. Contudo, fi cou na história como a demonstração desse princípio. Martius Capella (439 D. C), na sua obra Satyricon, dividiu as artes liberais em sete grupos: gramática, dialética, retórica, geometria, astronomia, música e aritmética. Um século mais tarde, Cassiodoro usou a mesma divisão para artes liberais, reunindo-as em dois grandes grupos que fi caram conhecidos como Trivium e Quatrivium (chamadas as sete artes liberais). 3.4 CLASSIFICAÇÃO NA ERA MEDIEVAL Foi no século VI que São Bento ensinou seus monges, em Monte Cassino, a copiarem manuscritos. Por alguns séculos, os mosteiros passaram a ser os únicos preservadores, copistas e classifi cadores e catalogadores de livros, embora seu objetivo não era de estudo. O livro neste período era um símbolo de poder. FIGURA 13 – MONGE COPISTA FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/William_Blades>. Acesso em: 31 maio 2019. As classifi cações nesse período eram feitas dividindo pelo suporte dos materiais, tamanho e ordem alfabética. Segundo Piedade (1983), o processo de ordenação dos livros torna-se mais diversifi cado, ordenando-os por tamanho, ordem alfabética dos autores e em ordem cronológica. Prova Questão 2 Prova Questão 2 UNIDADE 1 | HISTÓRIA DA CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO 24 DICAS Para ilustrar esse período, sugerimos a leitura do livro e/ou assistir ao fi lme O nome da Rosa. Nele podemos observar a prioridade na conservação dos materiais e não a difusão do saber e do conhecimento. Os acervos eram fechados e privativos. Seus espaços físicos eram de uma construção hermética para difi cultar o acesso aos que lá não trabalhavam, aqueles curiosos. Constituía- se em um depósito de documentos que eram retirados quando necessários para consulta dos mantenedores da ordem. Era preciso servir ao domínio do conhecimento pelo alto clero ou realeza. FIGURA – FILME O NOME DA ROSA FONTE: <http://www.adorocinema.com/fi lmes/fi lme-2402/>. Acesso em: 31 maio 2019. A classifi cação, como prática consciente, nasce da necessidade de organizar um conjunto de coisas, de acordo com critérios, sejam eles simples como cores, tamanhos, formatos ou mais elaborados como o conteúdo. Foi também no século VIII o surgimento das primeiras listas de obras de bibliotecas medievais, provavelmente um inventário do acervo, contendo apenas título e, por vezes, nome do autor, mas sem ordem visível (talvez ordem das obras nas estantes). Observamos que, neste período, possuir um livro era um privilégio de poucos. Sua circulação e seu preparo eram envoltos em obstáculos que difi cultavam o acesso. Um dos fatores que contribuíram para essa inacessibilidade era o fator econômico. O livro custava caro. Outro era o tipo de material usado no preparo, bem como a difi culdade em fazer cópias. Por esses e por outros motivos, nesse período eram predominantes as bibliotecas particulares. Os reis, os príncipes de sangue, os grandes senhores, os homens do saber eram praticamente os únicos que possuíam bibliotecas com importância signifi cativa. Esses donos de bibliotecas as consideravam verdadeiros tesouros e toda biblioteca possuía um alto valor de mercado que chegava a representar não só um capital intelectual, como também um capital fi nanceiro, que serviria de herança posteriormente. Segundo Piedade (1983), nesse período, o processo de ordenação dos livros torna-se mais diversifi cado, ordenando-os por tamanho, ordem alfabética dos autores e em ordem cronológica. 25 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A história da classificação perpassa a história dos registros humanos desde os primeiros desenhos nas cavernas, a escrita cuneiforme até à invenção da escrita, que marca o fim da pré-história. • Entre os principais suportes da escrita, além dos tabletes de argila, usou-se o Papiro, que teve sua origem na África por volta de 3700 a.C. Era produzido de uma planta nativa das margens do Rio Nilo, a Arundinária. O pergaminho foi o principal suporte da escrita durante a idade média para, enfim, surgir o papel — inventado pelos chineses — em 105 d.C. • Na antiguidade, existem registros históricos de pseudoclassificações do século VI a.C. na Assíria, onde, na Biblioteca de Assurbanipal, quando a informação ainda era gravada em tabletes de argila, havia uma divisão bem simples entre aqueles destinados às ciências da terra e os das ciências do céu. • Também na antiguidade, a civilização grega desenvolveu as bibliotecas importantes como Alexandria e Pérgamo. • A primeira tentativa de classificação do conhecimento de que se tem notícia foi desenvolvida por Aristóteles, que vigoroupor, aproximadamente, 2000 anos (entre 300 a.C. e 1600 d.C.). Ele organizava suas obras por assunto. • Foi no século IV que o filósofo grego Porfírio desenvolveu uma classificação do conhecimento baseada no princípio da oposição, chamada de classificação dicotômica onde, para cada ramo do conhecimento, havia outro de oposição. • Foi no século VI que São Bento ensinou seus monges, em Monte Cassino, a copiarem manuscritos. Por alguns séculos, os mosteiros passaram a ser os únicos preservadores, copistas e classificadores e catalogadores de livros, embora seu objetivo não era de estudo. As classificações nesse período eram feitas dividindo pelo suporte dos materiais e tamanho, ordem alfabética. 26 1 Em relação à história da classificação na antiguidade, quem foi e qual a contribuição de Calímacus? 2 Como Aristóteles classificava e dividia a ciência? AUTOATIVIDADE Era um dos sábios de Alexandria, elaborou seus Pínakes [tabulas], cerca de 250 a.C. Registrava o número de linhas de cada obra e suas palavras iniciais, assim como dados bibliográficos sobre os autores. Teórica: objetivando o conhecimento de si (matemática, física e metafísica). Prática: buscando o conhecimento como um guia de conduta, cujo propósito é a ação (ética, política, economia e retórica). Produtiva: tendo como propósito a criação de um produto (poesia e artes). 27 TÓPICO 3 HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES: BIBLIOGRÁFICAS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Antes de falarmos diretamente das classifi cações bibliográfi cas, lembramos da invenção que, de fato, infl uenciou a necessidade dos processos classifi catórios. Falamos da invenção da imprensa, pois quanto mais livros mais classifi cações. Foi no Séc. XV que Gutemberg criou uma das maiores contribuições para o mundo moderno, que permitiu que os textos, antes manuscritos, fossem impressos a partir da elaboração dos tipos, letras móveis produzidas em cobre e alocadas em uma base de chumbo onde recebiam a tinta e eram prensadas no papel. FIGURA 14 – PRENSA MÓVEL FONTE: <http://www.riodejaneiroaqui.com/portugues/museu-imprensa.html>. Acesso em: 31 maio 2019. A invenção da imprensa na Alemanha, por volta de 1450, até a publicação da primeira Enciclopédia, de 1750 em diante, são marcos do início do período moderno, facilitando a interação entre diferentes conhecimentos e padronizando o conhecimento, permitindo que pessoas em diferentes lugares lessem os mesmos textos. 28 UNIDADE 1 | HISTÓRIA DA CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO Conforme Burke (2003), nesse momento da história, a classifi cação do conhecimento esteve apoiada no tripé intelectual: currículos, bibliotecas e enciclopédias. Para o autor, cada um desses elementos é um subsistema que faz parte de um sistema maior, que envolve a classifi cação do conhecimento, como algo que pode ser acumulado, melhorado e aperfeiçoado. A ideia de classifi cação do conhecimento, a partir da “árvore do conhecimento”, cede lugar aos subsistemas (currículos, bibliotecas e enciclopédias), porém, sempre visando, de alguma forma, representar a informação, para que a sociedade reconheça e utilize de maneira efi caz. 2 KONRAD VON GESNER Em 1545 Konrad Von Gesner publica a obra Bibliotheca Universalis, considerada a primeira classifi cação bibliográfi ca. Baseando-se no Trivium e Quadrivium, considerava a fi losofi a como sendo a totalidade do conhecimento, apresentando 21 subdivisões (PIEDADE, 1983). FIGURA 15 – KONRAD VON GESNER FONTE: <https://www.nndb.com/people/643/000050493/>. Acesso em: 31 maio 2019. Gessner foi um botânico e bibliófi lo, deu uma grande contribuição à história da classifi cação. Baseando-se também no Trivium e Quatrivium de Cassidoro, organizou um catálogo que chamou de Bibliotheca Universalis (Zurique, 1545), em que registrou livros escritos em latim, grego e hebraico. Em um suplemento intitulado Pandectarium sive partitionum universalis, classifi cou os livros da Bibliotetheca por assuntos. Por ter sido a primeira tentativa de arrumação etódica dos livros. O sistema usado por Gessner é o considerado com o primeiro esquema de classifi cação bibliográfi ca. Convém lembrar que, na realidade, não era uma arrumação de assuntos para livros de uma coleção, mas sim para uma bibliografi a impressa, pois os séculos XVI e XVII foram pródigos em livreiros e bibliografi as (BARBOSA, 1969, p. 45). Prova Questão 6 Prova Questão 6 Prova Questão 6 TÓPICO 3 | HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES: BIBLIOGRÁFICAS 29 3 GABRIEL NAUDÉ Em 1643 Gabriel Naudé publicou um catálogo bibliográfi co chamado Advispour Dresser Une Bibliothèque. Classifi cava as obras em 12 classes principais. Segundo Araújo (2018), para Naudé, a ordem regula a realidade natural e os objetos e as coisas deveriam ser organizados de modo a serem discernidos e separados a qualquer instante. Ou seja: A classifi cação mais efetiva é aquela que é imediatamente compreendida pelo fato de refl etir o compartilhamento de conhecimento correspondente aos ensinamentos das faculdades da universidade. As principais classes seriam, para Naudé, portanto: Teologia, Medicina, Direito, História, Filosofi a, Matemática, Humanidades, que seriam subdivididas em subclasses (ARAÚJO, 2018, p. 14). Cabe àquele que estiver incumbido da biblioteca, de acordo com Naudé, conhecer bem as disciplinas supracitadas. FIGURA 16 – GABRIEL NAUDÉ FONTE: <https://www.biblogtecarios.es/lauranovelle/gabriel-naude-cuando-ser-bibliotecario-se- convirtio-en-profesion/>. Acesso em: 31 maio 2019. Naudé recomenda a seguinte cautela ao proceder com a classifi cação em cada campo do conhecimento: • A primeira, que os autores mais universais e mais antigos tenham sempre precedência. • A segunda, que os intérpretes e comentadores sejam colocados à parte e organizados segundo a ordem dos livros que explicam. • A terceira, que os tratados especiais acompanhem a ordem e o arranjo de seu conteúdo e assuntos nas artes e nas ciências. • A quarta, que todos os livros de temática e assuntos semelhantes sejam ordenados e colocados exatamente no lugar destinado porque, assim agindo, a memória fi ca tão aliviada que será fácil encontrar, num átimo e numa biblioteca maior do que a de Ptolomeu, qualquer livro que se queira escolher ou desejar (NAUDÉ, 2016 apud ARAÚJO, 2018, p. 14). Prova questão 6 Prova Questão 6 Prova Questão 8 Prova Questão 9 30 UNIDADE 1 | HISTÓRIA DA CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO Segundo Santos e Rodrigues (2013), alguns princípios da Biblioteconomia moderna foram escritos por Gabriel Naudé (1600-1653), que conceituou biblioteca tal como a conhecemos hoje, e trabalhou com a ideia da ordem bibliográfi ca, a qual permitiria o acesso e o compartilhamento do saber. Para isso, “[...] introduziu o empréstimo domiciliar, a encadernação para preservar, a estruturação dos catálogos de bibliotecas e o arranjo lógico de livros nas estantes” (MUKHERJEE, 1966 apud SANTOS; RODRIGUES, 2013, p. 119). Introduziu também a ideia de que o bibliotecário é o especialista responsável pela organização do conhecimento e em fornecer informações bibliográfi cas, facilitando seu acesso e uso (SANTOS; RODRIGUES, 2013). 4 MANUEL DE LIBRAIRE ET DE L´AMATEURDESLIVRES Também nesse período os livreiros de Paris elaboraram um sistema de classifi cação, e Jacques Charles Brunet aproveitou o sistema para preparar um outro, chamado Manuel de Libraire et de L´Amateurdes Livres, que classifi cava em cinco grandes áreas: teologia, jurisprudência, história, fi losofi a e literatura. FIGURA 17 – MANUEL DE LIBRAIRE ET DE L´AMATEURDESLIVRES FONTE: <https://fr.shopping.rakuten.com/off er/buy/1965425260/manuel-du-libraire-et-de-l- amateur-des-livres-tome-iv-naas-rzac.html>. Acesso em: 31 maio 2019. “O sistema de Brunet foi amplamenteusado na Europa, por mais de um século, principalmente no arranjo de bibliografi as, listas de livreiros e coleções particulares. Suas classes são representadas por números romanos, arábicos e por letras, tinha, portanto, notação mista” (BARBOSA, 1969, p. 49). Prova Questão 6 Prova Questão 6 TÓPICO 3 | HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES: BIBLIOGRÁFICAS 31 5 FRANCIS BACON E AUGUSTO COMTE Segundo Barbosa (1969) deve-se a Francis Bacon, na Chart of learning (1905), a maior contribuição ao estudo dos modernos sistemas de classifi cação. Em sua obra Advancement of learning, baseada, também, no Trivium e Quatrivium, de Cassidodoro, Bacon classifi cou as ciências segundo as faculdades intelectuais: da memória, imaginação, razão, originando, respectivamente, a história, poesia e fi losofi a. FIGURA 18 – FRANCIS BACON FONTE: <https://www.todamateria.com.br/francis-bacon/>. Acesso em: 31 maio 2019. 6 AUGUSTO COMTE Mas o estabelecimento do conceito moderno de hierarquia das ciências e o princípio da fi liação vêm de Augusto Comte, que adotou a ordem dos conhecimentos humanos como sendo uma ordem de generalidade decrescente e complexidade crescente. Suas séries começam com matemática, decrescendo para a astronomia, física, química, biologia e sociologia (BARBOSA, 1969, p. 47). FIGURA 19 – AUGUSTO COMTE FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/186/auguste-comte-pensador-frances-pai- positivismo>. Acesso em: 31 maio 2019. Prova Questão 6 Prova Questão 6 32 UNIDADE 1 | HISTÓRIA DA CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO 7 MÉTODOS DE CLASSIFICAÇÃO MODERNOS Para que se possa entender os métodos de classificação modernos, que serão apresentados a seguir, fez-se necessário um levantamento dos métodos apresentados no subtópico anterior (antiguidade), métodos estes que serviram de base para muitas das classificações modernas. Os sistemas de classificação apresentados a seguir referem-se à modernidade. 7.1 LCC – LIBRARY OF CONGRESS – 1897 Criada em fins do século XIX, mais exatamente em 24 de abril de 1800, a Library of Congress, ou Biblioteca do Congresso (Estados Unidos - EUA), foi inaugurada com uma coleção de 3.000 volumes. Os livros, que antes eram ordenados por tamanho, em 1892 já estavam divididos em 18 classes, baseadas nas classificações de Francis Bacon, com adaptação de Diderot e d’Alembert (PEREIRA et al., 2009). Em 1815 fora adquirida a coleção de Thomas Jefferson, constituindo, assim, a nova biblioteca. Após a mudança de prédio, em 1897, os bibliotecários sentiram a necessidade de criar um sistema de classificação, que comportasse o crescente acervo. John Russel Young, então diretor da entidade, James Hanson e Charles Martel tomaram por guia a Classificação Expansiva de Cutter, “introduzindo grandes modificações, especialmente quanto à notação” (PIEDADE, 1977 apud PEREIRA et al., 2009, p. 7). Segundo Pereira et al. (2009, p. 6), cada classe foi entregue a diversos especialistas, derivando daí as pequenas diferenças que ocorrem de uma classe para outra. As classes são publicadas independentemente umas das outras, e cada uma tem seu próprio índice, sofrendo revisões e acréscimos, conforme a expansão do acervo, publicadas quadrimestralmente no L.C. Classification: Addition and changes. Em sua estrutura a ordem alfabética é frequentemente utilizada. Na notação, a classificação é mista, contendo letras maiúsculas e algarismos arábicos, de 1 a 9.999, precedidos por um ponto, os números-de-Cutter. Havia semelhança com as conhecidas Author marks, projetadas por Cutter. Prova Questão 8 Prova Questão 8 Prova Questão 9 Prova Questão 8 Prova Questão 8 TÓPICO 3 | HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES: BIBLIOGRÁFICAS 33 FIGURA 20 – LIBRARY OF CONGRESS FONTE: <https://jamesvachowski.com/2018/12/08/the-library-of-congress/>. Acesso em: 31 maio 2019. A Classificação da Library of Congress baseou-se em 21 classes principais, representadas de A-Z, exceto pelas letras I, O, N, X e Y, deixadas para futuras expansões, sendo igualmente adotada por diversas bibliotecas dos EUA e no mundo. O sistema da Biblioteca do Congresso tem a flexibilidade para classificar qualquer tipo de material, é muito detalhado, bastante enumerativo, porém recorrente à síntese, quando há aplicação das suas inúmeras tabelas auxiliares. É um esquema prático para aqueles que acreditam em soluções simples (PEREIRA et al., 2009, p. 7). QUADRO 2 – CLASSIFICAÇÃO LIBRARY OF CONGRESS FONTE: Valente (2003 apud SILVA; HERCULANO, 2012, p. 6) 34 UNIDADE 1 | HISTÓRIA DA CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO 7.2 CLASSIFICAÇÃO DE BROWN – SUBJECT CLASSIFICATION – 1906 Criado por James Duff Brown, bibliotecário, um dos primeiros a escrever livros de Biblioteconomia e criar o único sistema de classificação geral da Inglaterra. Esse sistema de classificação é como se cada assunto tivesse uma localização específica, seguindo a ordem de surgimento no Universo. Segundo Deus (2008 apud SILVA; HERCULANO, 2012, p. 7), “assim, primeiro surgiram a Matéria e a Força, que geraram a Vida, esta produziu a Razão, que deu origem ao Registro dos fatos”. É o modo de divisão que Brown utilizava em sua classificação. Atualmente é uma classificação em desuso. FIGURA 21 – MÉTODO DE CLASSIFICAÇÃO DE BROWN FONTE: Deus (2008 apud SILVA; HERCULANO, 2012, p. 7) Segundo Pereira et al. (2009), James Duff Brown nasceu em Edimburgo, trabalhou para vários editores e livrarias de bibliotecas, logo começou a trabalhar como assistente na Biblioteca Mitchaell Glasgow. Depois se mudou para Londres para trabalhar na Biblioteca Pública Clerkernwell. Ele criou dois sistemas de classificação que não serviam para grandes coleções, por serem muito rígidos: Quinn-Brown Classification e Adjustable Classification. Posteriormente, idealizou um sistema de classificação intitulado de Subject Classification que teve sua primeira publicação em 1906, considerado, na época, um bom sistema de classificação, sendo usado em muitas bibliotecas inglesas por vários anos, introduzindo o livre acesso às estantes (BARBOSA, 1969). TÓPICO 3 | HISTÓRIA DAS CLASSIFICAÇÕES: BIBLIOGRÁFICAS 35 FIGURA 22 – JAMES DUFF BROWN FONTE: <http://www.sonsofdewittcolony.org/brownjnoduff.htm>. Acesso em: 31 maio 2019. Na época, o bibliotecário Brown chegou a ser reconhecido como Dewey da Inglaterra, pois tinha energia surpreendente, mostrava- se comprometido e interessado em todos os aspectos da biblioteca e da biblioteconomia, foi um dos primeiros a escrever livros sobre biblioteconomia e o criador do único sistema de classificação do país. A partir desta posição, foi reconhecido e prestigiado no mundo das bibliotecas e da biblioteconomia, pois no final do século XIX e no início do XX na Inglaterra deu contribuição muito importante para a área da biblioteconomia (PEREIRA et al., 2009, p. 3). De acordo com o Pereira et al. (2009), James Duff Brown se destacou por ter elaborado o sistema de classificação Subject Classification (Classificação de Assunto). Trouxe o desenvolvimento na biblioteconomia dando subsídio para a evolução de outros sistemas. 7.3 A CONTRIBUIÇÃO DE BLISS PARA A CLASSIFICAÇÃO Conhecida também como Classificação Bibliográfica, a classificação de Bliss teve como criador o bibliotecário do College of City of New York, Henry Evelyn Bliss. Antes de publicar o seu sistema de classificação, Bliss havia publicado outras obras: • Organization of knowledge, 1927. • Organization of knowledge in libraries and the subject approach to books, 1933, 2. ed., em 1939. • A system of bibliographic classification, 1935, 2. ed., em 1936 (BARBOSA, 1969 apud PEREIRA et al., 2009, p. 4). 36 UNIDADE 1 | HISTÓRIA DA CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO FIGURA 23 – HENRY EVELYN BLISS FONTE: <http://www.pensapedia.com/wiki/Charles_Henry_Bliss>.
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