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Monografia Estevão Corrêa da Rosa - versão final

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA 
ESTEVÃO CORRÊA DA ROSA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
USO DO CANABIDIOL EM TRATAMENTOS MÉDICOS: 
À LUZ DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A 
POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO GRATUITA DO ESTADO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tubarão 
2015 
 
ESTEVÃO CORRÊA DA ROSA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
USO DO CANABIDIOL EM TRATAMENTOS MÉDICOS: 
À LUZ DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A 
POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO GRATUITA DO ESTADO 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de 
Direito da Universidade do Sul de Santa 
Catarina como requisito parcial à obtenção 
do título de Bacharel em Direito. 
 
Linha de pesquisa: Justiça e Sociedade. 
 
 
Orientador: Prof. Keila Comelli Alberton, Esp. 
 
 
Tubarão 
2015 
 
ESTEVÃO CORRÊA DA ROSA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
USO DO CANABIDIOL EM TRATAMENTOS MÉDICOS: 
À LUZ DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A 
POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO GRATUITA DO ESTADO 
 
 
 
Esta Monografia foi julgada adequada à 
obtenção do título de Bacharel em Direito 
e aprovada em sua forma final pelo Curso 
de Direito da Universidade do Sul de Santa 
Catarina. 
 
 
 
Tubarão, 19 de novembro de 2015. 
 
______________________________________________________ 
Professora e orientadora Keila Comelli Alberton, Esp. 
Universidade do Sul de Santa Catarina 
 
______________________________________________________ 
Prof. Claudio Zoch de Moura Esp. 
Universidade do Sul de Santa Catarina 
 
______________________________________________________ 
Prof. Agenor de Lima Bento Esp. 
Universidade do Sul de Santa Catarina 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho aos meus pais, 
pessoas que eu amo muito e, que são as 
mais importantes do mundo. 
 
AGRADECIMENTOS 
Primeiramente agradeço a Deus, por esta grande oportunidade. 
À minha mãe Hitla, pelo amor incondicional e pela paciência, sempre me 
apoiando nas horas mais difíceis da minha vida, e principalmente nesta longa jornada 
acadêmica. 
Ao meu pai Roberto, pelo amor incondicional, por nunca ter desistido de 
mim, e por ter me proporcionado a realização de um sonho. 
Aos meus avós, que têm o sonho de ter o neto como futuro advogado. 
A toda minha família que sempre ajudou em todos os momentos. 
Aos professores, que proporcionaram a mim e aos demais colegas, tudo o 
que deveríamos saber sobre o mundo do Direito. 
Em especial, à minha orientadora Prof. Esp. Keila Comelli Alberton, por sua 
grande orientação, paciência e confiança, com todo o seu conhecimento teórico e 
prático proporcionado a mim na realização deste trabalho. 
Aos meus colegas de faculdade, que conjuntamente passaram por todos 
os desafios e obstáculos encontrados na vida acadêmica. 
Aos meus amigos pela parceria, e principalmente pela paciência, pelos 
diversos convites de festas recusados, para que este trabalho pudesse ser feito. 
A todas as pessoas aqui, mencionadas ou não, que de forma direta ou 
indireta contribuíram, para que este trabalho se concretizasse, meu muitíssimo 
obrigado! 
 
 
RESUMO 
A presente monografia tem como tema central o uso do canabidiol em tratamentos 
médicos à luz do princípio da dignidade da pessoa humana e a possibilidade de 
concessão gratuita do Estado. Para tal, como método de abordagem utilizou-se o 
dedutivo, partindo da ideia geral, ou seja, a análise do uso do canabidiol em 
tratamentos médicos, bem como a possibilidade de concessão gratuita pelo Estado. 
Já como método de procedimento, usou-se o monográfico e o modelo de investigação 
foi o bibliográfico e documental; quanto ao nível do tipo de pesquisa, empregou-se o 
nível exploratório, tendo em vista o caráter exploratório da pesquisa, a abordagem foi 
qualitativa. Por meio deste trabalho, buscou-se mostrar as evoluções das dimensões 
dos direitos fundamentais, bem como desmistificar o canabidiol, e ainda fazer a 
análise do uso à luz do princípio da dignidade da pessoa humana e a possibilidade de 
concessão gratuita pelo Estado. Portanto, nota-se que a reclassificação do canabidiol 
é um grande avanço na esfera científica e jurídica. Conclui-se ainda, que o canabidiol 
é importante para a sociedade, tendo em vista ser eficaz no tratamento de doenças, 
além de se evidenciar a possibilidade de o Estado conceder este medicamento de 
forma gratuita para todos aqueles que necessitem de seu uso. 
 
Palavras-chave: Direito constitucional. Direitos fundamentais. Dignidade. Maconha. 
 
ABSTRACT 
This monograph has the main title topic the use of canabidiol in medical treatments 
and how government can provide it for people in order to solve some medical troubles. 
The approach was by the deduction method, where we created a general analysis 
about it's use in medical treatments, as well as the proposition to the government to 
give it to people who need this type of treatment. Also, as procedure we adopted the 
monograph, while the research model chosen was bibliographic and documental 
research. Moreover, the drilldown level type used was the exploratory, and due to the 
exploratory research, the approach used is qualitative. Through this monograph, we 
have tried to show the evolution of the fundamental rights, as well as demystify the 
canabidiol, also creating an analysis of it's usage through the viewpoint of dignity of 
humans, and the possibility of State's concession of the canabidiol. In conclusion, we 
can consider that canabidiol's reclassification is a breakthrough scientifically and 
juridically. Furthermore, we concluded canabidiol is important for society for it's 
effectiveness in disease's treatments, besides verifying the possibility of the State to 
provide the medicinal canabidiol for free to every person who needs to use it. 
 
Keywords: Constitutional law. Fundamental rights. Dignity. Marijuana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária 
CBD – Canabidiol 
CBN – Canabinol 
CRFB – Constituição da República Federativa do Brasil 
DOU – Diário Oficial da União 
Portaria MF – Portaria do Ministério da Fazenda 
RDC – Resolução Colegiada da Anvisa 
STF – Supremo Tribunal Federal 
STJ – Superior Tribunal de Justiça 
THC – TetrahidroCanabinol 
TJMS – Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul 
TRF 4ª R – Tribunal Regional Federal da 4ª Região 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 10 
1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ................... 10 
1.2 JUSTIFICATIVA................................................................................................. 12 
1.3 OBJETIVOS ...................................................................................................... 12 
1.3.1 Geral ............................................................................................................... 12 
1.3.2 Específicos .................................................................................................... 12 
1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................... 13 
1.5 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO E ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS .... 13 
2 DIREITOS FUNDAMENTAIS ...............................................................................15 
2.1 DIREITOS FUNDAMENTAIS DE PRIMEIRA DIMENSÃO ................................ 15 
2.2 DIREITOS FUNDAMENTAIS DE SEGUNDA DIMENSÃO ................................ 16 
2.3 DIREITOS FUNDAMENTAIS DE TERCEIRA DIMENSÃO ............................... 17 
2.4 DIREITOS FUNDAMENTAIS DE QUARTA DIMENSÃO ................................... 18 
2.5 DIREITOS FUNDAMENTAIS DE QUINTA DIMENSÃO .................................... 19 
2.6 NOÇÕES GERAIS SOBRE DIREITOS FUNDAMENTAIS ................................ 20 
2.6.1 Classificação dos direitos fundamentais .................................................... 20 
2.6.2 Diferença entre direitos individuais e direitos sociais ............................... 21 
2.7 DEVERES SOCIAIS CONSTITUCIONALMENTE PREVISTOS........................ 22 
2.7.1 Direito social a assistência aos desamparados ......................................... 22 
2.7.2 Direito social a proteção à maternidade e à infância ................................. 23 
2.7.3 Direito social à saúde ................................................................................... 24 
2.7.4 Outros deveres sociais constitucionalmente previstos ............................ 25 
3 DESMISTIFICAÇÃO DO CANABIDIOL (CBD) ................................................... 30 
3.1 MEDICAMENTO OU DROGA? ......................................................................... 30 
3.1.1 Conceito legal de medicamento................................................................... 30 
3.1.2 Conceito legal de droga ................................................................................ 31 
3.2 CANABIDIOL ..................................................................................................... 32 
3.2.1 Diferenciação entre o Canabidiol (CBD) e o TetrahidroCanabinol (THC) . 33 
3.2.2 Diferenciação entre o Canabidiol (CBD) e o Canabinol (CBN) .................. 34 
3.3 AGÊNCIA REGULADORA ................................................................................ 35 
3.3.1 Anvisa ............................................................................................................ 35 
3.3.1.1 Competência ................................................................................................. 36 
 
3.4 LEGALIZAÇÃO DO CANABIDIOL ..................................................................... 38 
3.4.1 Do processo de importação do Canabidiol ................................................ 39 
3.4.1.1 Problema enfrentado devido aos altos custos de importação....................... 40 
3.4.1.2 Simplificação do processo importação do Canabidiol ................................... 41 
4 USO DO CANABIDIOL À LUZ DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA 
HUMANA E A POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO GRATUITA DO ESTADO ....... 44 
4.1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ....................................... 44 
4.2 ANÁLISE DO USO DO CANABIDIOL À LUZ DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE 
DA PESSOA HUMANA ............................................................................................. 46 
4.3 POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO GRATUITA DO CANABIDIOL.................. 47 
4.4 AÇÕES POSSÍVEIS .......................................................................................... 51 
5 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 55 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 57 
ANEXOS ................................................................................................................... 61 
ANEXO A – RESOLUÇÃO CFM Nº 2.113/2014 ....................................................... 62 
ANEXO B – RESOLUÇÃO - RDC Nº 17, DE 6 DE MAIO DE 2015 ......................... 64 
ANEXO C – PORTARIA MF Nº 156, DE 24 DE JUNHO DE 1999 ........................... 70 
ANEXO D – PORTARIA MF Nº 454, DE 08 DE JULHO DE 2015 ........................... 73 
10 
1 INTRODUÇÃO 
O presente trabalho monográfico, o qual é requisito para conclusão do 
Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, bem como a 
obtenção do título de Bacharel em Direito, tem por objetivo analisar o uso do canabidiol 
à luz do princípio da dignidade da pessoa humana e possibilidade da concessão 
gratuita pelo Estado. 
Abordam-se os aspectos constitucionais e legais acerca do uso do 
canabidiol nos tratamentos médicos. 
O assunto a ser tratado, possui certa polêmica quanto à legalidade do uso 
do canabidiol, pois muitos questionam se a referida substância é considerada uma 
droga ou medicamento. 
Além disso, analisa-se o uso canabidiol à luz do princípio da dignidade da 
pessoa humana, bem como se verifica a possibilidade de concessão gratuita pelo 
Estado. 
1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA 
O uso do canabidiol em tratamentos médicos se revelou uma maneira 
alternativa de combater os efeitos das mais diversas doenças que acometem a 
população em geral, principalmente em crianças, nas quais a ação destas doenças 
são mais perceptíveis e consequentemente mais intensas do que nos adultos. 
Quando se fala acerca deste fitocanabinoide, muitos consideram como um 
tema extremamente polêmico e controverso, principalmente no âmbito do direito 
brasileiro, pois ele é alvo de preconceito sobre sua legalidade, e principalmente em 
sua forma de uso. 
Segundo Crippa; Zuardi; Hallak (2010) a Cannabis sativa vem sendo 
utilizada para fins medicinais há milhares de anos pelos mais diversos povos e 
culturas. 
No início do século XX extratos de cannabis eram muitas vezes 
comercializados para o tratamento de transtornos mentais, usados principalmente 
como sedativos e hipnóticos. 
11 
Houve um declínio no uso da droga a partir de 1930 para fins médicos, pois 
os princípios ativos da cannabis ainda não haviam sido isolados, trazendo dúvidas e 
inconsistências aos efeitos gerados. 
Na década de 1960, a cannabis foi objeto de estudo, com seus 
componentes devidamente isolados, tendo assim, um maior conhecimento sobre os 
componentes químicos encontrados na cannabis, tais como: Δ9-tetrahidroCanabinol 
(Δ9-THC) e o canabidiol -CBD (CRIPPA; ZUARDI; HALLAK, 2010). 
A partir dos estudos realizados, e dos mais variados testes efetuados, é 
que se teve um conhecimento mais aprofundado quanto à substância canabidiol, 
sendo que então, surgiram as discussões pertinentes ao seu uso nos mais variados 
tipos de tratamentos médicos. 
Discussões à parte, é preciso lembrar que a Constituição da República 
Federativa do Brasil garante como direito social a toda nação brasileira, o direito à 
saúde, dentre outros requisitos básicos essenciais a uma vida digna. 
O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, princípio-mor da Carta 
Magna é um dos pilares que sustentam o ordenamento jurídico brasileiro, 
assegurando e garantindo os direitos intrínsecos ao ser humano. 
Em outras palavras, o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana é o 
alicerce da República Federativa brasileira e do Estado Democrático de Direito, 
ressaltando seu valor supremo, que é atribuído no ordenamento jurídico-político deste 
país, e se mostra um princípio fundante não tão somente num princípio de ordem 
jurídica, mas também, de ordem política, social e econômica (MARTINS, 2008). 
A Constituição Federal garante o direito à saúde, de forma simétrica em 
relação ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Por sua vez, o Estado 
garantindo e assegurando este direito a toda população, se revela, de maneira 
cristalina, obrigado a cumprir suas obrigações perante a sociedade, de acordo com a 
Constituição da República Federativa do Brasil. 
Diante o exposto, apresenta-se a seguinte pergunta de pesquisa: AConstituição brasileira assegura e garante o direito à saúde, de forma harmoniosa 
com o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, por que o Estado se recusaria a 
conceder o canabidiol para quem necessite deste tratamento? 
12 
1.2 JUSTIFICATIVA 
A motivação para estudar o referido assunto, se inicia a partir da 
necessidade de elucidar o tabu imposto pela sociedade, relacionado ao preconceito e 
à ignorância quando o assunto é o canabidiol. 
Além disso, o tema abordado, qual seja, o uso do canabidiol, é um tema 
muito escasso no âmbito jurídico, não existindo ainda pesquisa nesta seara, devido à 
atualidade do tema, visto que a regulamentação do uso do canabidiol ocorreu somente 
no início do ano de 2015. 
A generalização feita acerca do tema, contendo conceitos inverossímeis, 
credencia este pesquisador a explorar este tema, e na medida de possível, revelar o 
quão importante é para a sociedade. 
Além do dever de esclarecimento acerca da diferenciação dos conceitos, 
também é considerável mostrar que o canabidiol é um medicamento extremamente 
caro – mesmo para aqueles que têm condições financeiras de arcar com o preço – o 
tubo de 10g (dez gramas) custa em torno de U$$ 450.00 (quatrocentos e cinquenta 
dólares) para, geralmente, uma única ingestão. 
Ou seja, é imprescindível que se tenha uma discussão com respeito à 
obrigação do Estado em conceder o medicamento para quem necessite do 
tratamento, tendo em vista, o que está explícito na Lei-mor brasileira. Destarte, 
coadunando-se com o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. 
1.3 OBJETIVOS 
1.3.1 Geral 
Analisar o uso do canabidiol nos tratamentos médicos à luz do Princípio da 
Dignidade da Pessoa Humana. 
1.3.2 Específicos 
Diferenciar o fitocanabinoide canabidiol, dos demais fitocanabinoides 
existentes que são encontrados na planta cannabis sativa. 
Descrever a importância do uso do canabidiol para a sociedade. 
13 
Verificar a possibilidade de o Estado conceder de forma gratuita o 
canabidiol, com a finalidade de uso nos tratamentos médicos. 
1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 
No presente trabalho utilizou-se o método dedutivo como método de 
abordagem, no qual se tem como ponto de partida uma proposição universal, para se 
chegar a uma conclusão específica. 
O método de abordagem está vinculado ao plano geral de trabalho, ou seja, 
é um raciocínio que serve como uma espécie de fio condutor na investigação do 
problema de pesquisa (MOTTA; LEONEL, 2007). 
O procedimento adotado na coleta de dados foi a pesquisa bibliográfica e 
documental, realizando-se leituras e análises em livros, artigos, texto de lei, periódicos 
e artigos on-line. 
Em relação ao procedimento, a pesquisa bibliográfica permite “ao 
investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela 
que poderia pesquisar diretamente” (GIL, 2002, p. 45). Ainda será utilizada a pesquisa 
documental através da análise de julgados, bem como textos de lei, para a 
fundamentação legal do tema. 
Quanto ao nível do tipo de pesquisa, utilizou-se o nível exploratório. Neste 
viés conceitua Gil (2002, p. 41): “essas pesquisas têm como objetivo proporcionar 
maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir 
hipóteses”. 
Tendo em vista o caráter exploratório da pesquisa, a abordagem foi 
qualitativa, pois para Motta e Leonel (2007, p. 111) o acadêmico “apresenta as 
questões de pesquisa, procura estabelecer estratégias, [...], para poder sistematizar 
as ideias e, assim, construir suas categorias de análise”. 
1.5 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO E ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS 
O presente trabalho está estruturado em três capítulos. 
No primeiro, abordam-se os direitos fundamentais em todas as suas 
dimensões, noções gerais sobre os direitos fundamentais e suas classificações, bem 
como os deveres sociais constitucionalmente previstos. 
14 
No segundo, desmistifica-se o canabidiol, com os conceitos de 
medicamento e droga, bem como sua atual classificação. Um breve histórico sobre o 
canabidiol e seus afins, a conceituação da Anvisa e sua competência na 
proibição/legalização de substâncias. 
Já o terceiro capítulo, traz a análise do uso do canabidiol à luz do princípio 
da dignidade da pessoa humana, bem como a conceituação do referido princípio, a 
possibilidade de concessão gratuita do canabidiol pelo Estado, além das possíveis 
ações cabíveis. 
E por fim, apresenta a conclusão do trabalho monográfico. 
15 
2 DIREITOS FUNDAMENTAIS 
Neste capítulo abordam-se as cinco dimensões dos direitos fundamentais, 
os direitos sociais constitucionalmente previstos, bem como noções gerais dos direitos 
fundamentais. 
No tocante às dimensões dos direitos fundamentais, trata-se a respeito da 
evolução histórica dessas diferentes gerações que se contemplam e se perpetuam ao 
longo da evolução da Carta Magna brasileira. 
Quanto aos direitos sociais constitucionalmente previstos, discutem-se 
aqueles que estão expressamente previstos no artigo 6º1, caput, da Constituição 
Federal, bem como alguns destes direitos que estão legitimados na Constituição 
Federal, além de estarem em outros documentos importantes como, por exemplo: a 
Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
Finalizando este capítulo têm-se as noções gerais dos direitos 
fundamentais, com suas respectivas classificações e a diferenciação entre os direitos 
individuais e os direitos sociais. 
2.1 DIREITOS FUNDAMENTAIS DE PRIMEIRA DIMENSÃO 
A primeira dimensão dos direitos fundamentais é geralmente a mais citada 
pela doutrina, tendo em vista a importância das grandes mudanças realizadas no que 
tange à liberdade individual do homem, ou seja, tais transformações são a chave 
mestra para se entender a evolução histórico-social dos direitos individuais e políticos. 
Os direitos fundamentais de primeira dimensão marcam a passagem de um 
Estado autoritário para um Estado de Direito. O reconhecimento e o respeito às 
liberdades individuais, caracterizadas pelo pensamento liberal-burguês, surgiram a 
partir das primeiras constituições escritas, por volta do século XVIII (LENZA, 2011). 
Estes direitos fundamentais, chamados de primeira geração, são os direitos 
de defesa individuais, que são apresentados como direitos de cunho negativo, vez 
que se mostram direitos de oposição ao Estado (SARLET et al, 2012). 
 
 
1 Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, 
o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos 
desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL, 1988). 
16 
Dentre esses direitos elencam-se os seguintes direitos individuais: o direito 
à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei, que logo depois 
complementados por liberdades de expressão coletiva (liberdade de expressão, 
imprensa, manifestação, reunião, associação). Ainda se encaixam nesses direitos, 
algumas garantias processuais (devido processo legal, habeas corpus, direito de 
petição), condições conquistadas pelo passar dos anos e que foram incorporadas ao 
Estado Democrático de Direito (SARLET et al, 2012). 
Segundo Lenza (2011, p. 860, grifo do autor), alguns documentos foram 
marcantes ao longo da história, e contribuíram à evolução dos direitos humanos de 
primeira geração, os quais se destacam: 
 
Magna Carta de 1215, assinada pelo rei "João Sem Terra"; 
Paz de Westfália (1648); 
Habeas Corpus Act (1679); 
Bill of rights (1688); 
Declarações, seja a americana (1776), seja a francesa (1789). 
 
Portanto, sabe-se que os direitos de primeira dimensão, surgiram de 
revoluções ede documentos oficiais, principalmente o direito individual e político do 
homem, no qual se tem como exemplo a Constituição Federal de 1824. 
2.2 DIREITOS FUNDAMENTAIS DE SEGUNDA DIMENSÃO 
Os direitos fundamentais de segunda dimensão também são muito 
comentados pela doutrina, e também se mostram muito importantes, pois é nesta 
dimensão que são tratados os direitos econômicos, sociais, e culturais. 
Os direitos fundamentais de segunda dimensão surgiram na Revolução 
Industrial europeia, a partir do século XIX (LENZA, 2011). 
A industrialização e os diversos problemas sociais e econômicos, e 
principalmente as péssimas condições de trabalho, é que acarretaram em inúmeros 
movimentos sociais reivindicatórios em defesa da proteção social (SARLET et al, 
2012). 
“O início do século XX é marcado pela Primeira Grande Guerra e pela 
fixação de direitos sociais” (LENZA, 2011, p. 861). 
Os direitos fundamentais que já haviam sido contemplados nas 
Constituições Francesas de 1793 e 1848, e na Constituição Federal brasileira de 
17 
1824, sendo que estas se caracterizam por assegurarem à população, direitos a 
prestações sociais pelo Estado, como prestações de assistência social, saúde, 
educação, trabalho, entre outros (SARLET et al, 2012). 
Segundo Lenza (2011, p. 861) marcaram alguns documentos importantes, 
tais como: 
 
Constituição do México, de 1917; 
Constituição de Weimar, de 1919, na Alemanha, conhecida como a 
Constituição da Primeira República Alemã; 
Tratado de Versalhes, 1919 (OIT); 
no Brasil, a Constituição de 1934 (lembrando que nos textos anteriores 
também havia alguma previsão). (grifos do autor). 
 
Nesta dimensão se percebem principalmente os direitos sociais, culturais, 
econômicos, bem como os direitos coletivos. 
2.3 DIREITOS FUNDAMENTAIS DE TERCEIRA DIMENSÃO 
Assim como os direitos fundamentais de primeira e segunda dimensão, os 
direitos fundamentais de terceira geração também são estudados pela doutrina, sendo 
que esta dimensão trata dos interesses humanos transindividuais. 
Os direitos fundamentais de terceira dimensão são marcados pelas 
grandes mudanças na comunidade internacional, com o crescente desenvolvimento 
tecnológico e científico, o que acarretou em diversas alterações nas relações 
econômico-sociais (LENZA, 2011). 
Tais direitos são denominados direitos de fraternidade ou solidariedade, e 
se diferenciam da primeira e segunda dimensão de direitos, nas quais as políticas 
sociais eram voltadas ao homem-indivíduo, tendo em vista de que a terceira dimensão 
dos direitos fundamentais privilegia a proteção de grupos humanos (seja povo ou 
nação), ou seja, a titularidade destes direitos é transindividual, que significa ser 
indefinida e indeterminável (SARLET et al, 2012). 
Segundo Bonavides (apud LENZA, 2011, p. 862, grifo do autor), 
compreendem-se num rol exemplificativo os direitos de fundamentais de terceira 
dimensão: 
 
direito ao desenvolvimento; 
direito à paz (lembrando que Bonavides classifica, atualmente, o direito à paz 
como da 5ª dimensão); 
18 
direito ao meio ambiente; 
direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade; 
direito de comunicação; 
 
Na chamada terceira dimensão dos direitos fundamentais, além de 
contemplar os direitos fundamentais de primeira e segunda dimensão, os da terceira 
passam a proteger não tão somente os direitos individuais e sociais, mas também os 
direitos transindividuais como, por exemplo, a defesa do consumidor e a manutenção 
do meio ambiente. 
2.4 DIREITOS FUNDAMENTAIS DE QUARTA DIMENSÃO 
Nos direitos fundamentais de quarta geração, poucos doutrinadores 
aceitam e lecionam sobre a existência destes direitos como Bonavides, sendo que 
Lenza e Sarlet et al mencionam esta dimensão, além disso, poucos juristas expõem 
esta dimensão. 
Segundo Bobbio (apud LENZA, 2011), os direitos fundamentais de quarta 
dimensão são decorrentes dos grandes avanços no campo da engenharia genética, 
pois acabam colocando em risco a própria existência humana com a manipulação 
genética. 
Bonavides (2012, p. 590-591), leciona: 
 
[...] a asserção de que os direitos da segunda, da terceira, e da quarta 
gerações não se interpretam, concretizam-se. É na esteira dessa 
concretização que reside o futuro da globalização política, o seu princípio de 
legitimidade, a força incorporadora de seus valores de libertação [...]. 
 
Segundo Bonavides (apud LENZA, 2011), os direitos fundamentais de 
quarta dimensão, se concretizam através da globalização dos direitos fundamentais, 
o que importa em sua universalização no campo institucional. 
Nas palavras de Bonavides (2012, p. 589): “A globalização política na 
esfera da normatividade jurídica introduz os direitos da quarta geração, que, aliás, 
correspondem à derradeira fase de institucionalização do Estado social”. 
Ainda segundo o doutrinador Bonavides (2012, p. 590): 
 
São direitos da quarta geração o direito à democracia, o direito à informação 
e o direito ao pluralismo. Deles depende a concretização da sociedade aberta 
do futuro, em sua dimensão de máxima universalidade, para a qual parece o 
mundo inclinar-se no plano de todas as relações de convivência. 
19 
Sendo assim, têm-se os direitos fundamentais de quarta dimensão, os 
quais emergem diante da evolução dos estudos científicos, bem como da 
institucionalização de outros direitos ao Estado social. 
2.5 DIREITOS FUNDAMENTAIS DE QUINTA DIMENSÃO 
A quinta dimensão dos direitos fundamentais, assim como a quarta 
dimensão, é lecionada por Bonavides, e bem pouco mencionada entre os demais 
juristas, sendo esta dimensão lembrada por Lenza e Sarlet et al, devido à escassez 
de estudos ligados ao referido assunto. 
Bonavides (apud LENZA, 2011, p. 863, grifo nosso) acredita que o direito à 
paz deva ser tratado numa dimensão independente, quando afirma que a paz é 
axioma da democracia participativa, ou ainda, um supremo direito da 
humanidade. 
Bonavides (2012) afirma que Karel Vasak, o grande precursor que colocou 
a paz no rol dos direitos da fraternidade – direitos fundamentais da terceira dimensão 
–, o fez de forma incompleta. 
Ao tratar de forma mais profunda sobre o assunto Bonavides (2012) 
salienta que Karel Vasak: “[...] Não desenvolveu as razões que a elevam à categoria. 
Sobretudo aquelas lhe conferem relevância pela necessidade de caracterizar e 
encabeçar e polarizar toda uma nova geração de direitos fundamentais, como era 
mister fazer, e ele não o fez. [...]”. 
Na mesma sequência ensina: “O direito à paz caiu em esquecimento injusto 
por obra, talvez, da menção ligeira, superficial, um tanto vaga, perdida entre os direitos 
da terceira dimensão” (BONAVIDES, 2012, p. 598). 
Nesse contexto, frisa-se que os direitos fundamentais de primeira dimensão 
surgiram com o advento do Estado liberal, com os direitos individuais; já os direitos 
fundamentais de segunda dimensão, despontaram com os direitos sociais. Os da 
terceira dimensão emergiram da preocupação com a coletividade e com o meio 
ambiente. Ainda os direitos de quarta e quinta dimensões, apesar de serem menos 
estudados, procuram resguardar os direitos de manutenção genética, e pela paz, 
nessa ordem. 
20 
2.6 NOÇÕES GERAIS SOBRE DIREITOS FUNDAMENTAIS 
Neste tópico versa-se sobre os aspectos gerais dos direitos fundamentais, 
a classificação de direitos fundamentais individuais e coletivos, bem como a 
diferenciação dos direitos individuais e sociais. 
2.6.1 Classificação dos direitos fundamentais 
A Constituição Federal de 1988 enumera os direitos fundamentais em seu 
Título II, em cinco capítulos distintos, os quais se classificam em: direitos individuais 
e coletivos, direitos sociais, direitos denacionalidade, direitos políticos, e direitos 
relacionados à existência, organização e participação em partidos políticos. 
Os direitos fundamentais são classificados conforme a sua natureza, de 
acordo com o bem protegido e com o objeto de tutela. 
Direitos individuais e coletivos: estão expressos no artigo 5º da 
Constituição Federal e dizem respeito aos direitos que dão autonomia a todos os 
indivíduos. 
Paulo e Alexandrino (2008) conceituam de forma categórica: “Os direitos 
individuais correspondem aos direitos diretamente ligados ao conceito de pessoa 
humana e de sua própria personalidade, como, por exemplo, o direito à vida, à 
dignidade, à liberdade”. 
Ainda lecionam, que os direitos fundamentais coletivos expressos no artigo 
5º, previstos nos incisos XVI, (direito de reunião), LXX, (mandado de segurança 
coletivo) são os exemplos de direitos fundamentais coletivos (PAULO; 
ALEXANDRINO, 2008). 
Direitos sociais: estes dispostos no artigo 6º e outros a partir do 193 da 
Carta Magna, bem como dispositivos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, 
que objetivam igualdade social. 
Nas palavras de Paulo e Alexandrino (2008) os direitos sociais estabelecem 
as liberdades positivas, de forma harmônica com um Estado Social de Direito, as quais 
objetivam à melhoria de condições de vida dos hipossuficientes. 
Direito à nacionalidade: previsto no artigo 12 da CRFB, e traz em seu 
conteúdo a definição da nacionalidade. 
21 
Os direitos de nacionalidade conforme Paulo e Alexandrino (2008) cuidam 
do vínculo jurídico-político, os quais ligam um indivíduo a um determinado Estado. 
Direitos políticos: elencados a partir do artigo 14 da Constituição Federal, 
os quais são denominados de direitos democráticos. 
Segundo Paulo e Alexandrino (2008) os direitos políticos zelam um 
conjunto de regras as quais disciplinam as formas de atuação da soberania popular. 
Direitos à existência, organização e participação em partidos 
políticos: consagrados no artigo 3º e 225 da CRFB, que são aqueles relativos ao 
gênero humano. 
Paulo e Alexandrino (2008) afirmam que estes direitos são instrumentos 
necessários à preservação do Estado Democrático de Direito. 
2.6.2 Diferença entre direitos individuais e direitos sociais 
Analisando a Constituição Federal de 1988, verifica-se que existe uma forte 
ligação entre os direitos fundamentais do homem com os direitos sociais. Porém, para 
que haja uma maior compreensão a respeito do assunto, é preciso diferenciar ambos 
os conceitos. 
Os direitos individuais estão diretamente ligados ao conceito de pessoa 
humana e de sua própria personalidade (PAULO; ALEXANDRINO, 2008). 
Ainda de acordo com Paulo e Alexandrino (2008), os direitos individuais 
são aqueles que reconhecem autonomia aos particulares, garantindo independência 
aos demais indivíduos da sociedade. 
Já os direitos sociais são de observação obrigatória com o Estado 
Democrático de Direito, e se constituem liberdades positivas com intuito de 
proporcionar melhores condições de vida à população (PAULO; ALEXANDRINO, 
2008). 
Martínez (apud FILETI, 2009, p. 62) anuncia que os direitos sociais são: 
“[...] direitos para os carentes. Atuam como uma liberdade, isto é, protegem o titular 
frente às interferências de terceiros, é um direito protetor ou de não-interferência que 
cria um âmbito para o titular no qual ninguém, ao menos prima facie, pode entrar [...]”. 
Nos ensinamentos de Luño (apud FILETI, 2009, p. 62) consta que “o 
principal objetivo dos direitos sociais é assegurar a participação na vida política”. 
22 
Nos pressupostos apresentados demonstraram-se as diferenças entre os 
direitos individuais e os direitos sociais; daqui em diante se estudarão esses deveres 
sociais constitucionalmente previstos. 
2.7 DEVERES SOCIAIS CONSTITUCIONALMENTE PREVISTOS 
Ao longo de toda a Constituição da República Federativa do Brasil, 
observam-se artigos que dispõem sobre os direitos sociais que são 
constitucionalmente previstos, entre os quais se citam: direito social à educação, à 
alimentação, ao trabalho, à moradia, ao lazer, à segurança, à previdência social, a 
assistência aos desamparados, à proteção, à maternidade e à infância, à saúde. 
Sendo que o presente trabalho dá maior ênfase a estes três últimos direitos 
sociais, tendo em vista, principalmente, a forte ligação do tema central com a saúde, 
a assistência aos desamparados e a proteção à maternidade e à infância. 
2.7.1 Direito social a assistência aos desamparados 
O direito social de assistência aos desamparados está constitucionalmente 
previsto no artigo 6º da Constituição da República Federativa do Brasil, e tem por 
objetivo assistir e proteger os necessitados, in verbis: “Art. 6º São direitos sociais a 
educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a 
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos 
desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL, 1988). 
O direito social de assistência aos desamparados está também disposto no 
artigo 203 da Carta Magna, in verbis: “Art. 203. A assistência social será prestada a 
quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem 
por objetivos: [...]” (BRASIL, 1988). 
Segundo Lenza (2011), deverá ser prestada a assistência social 
independentemente de contribuição à seguridade social. E o autor acrescenta: “Além 
disso, nos termos do art. 204, as ações governamentais na área da assistência social 
serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 
195, além de outras fontes” (LENZA, 2011, p. 979). 
Para Sarlet et al (2012), o direito de assistência social aos desamparados 
configura-se como expressão máxima do princípio da solidariedade e do princípio da 
23 
dignidade da pessoa humana, pois desempenha uma proteção político-jurídica 
especialmente destinada a indivíduos e grupos sociais vulneráveis e necessitados. 
Nesse âmbito, observa-se que além de estarem previstos 
constitucionalmente no artigo 6º, o direito social de assistência aos desamparados 
assim como os demais direitos sociais, todos também estão previstos ao longo do 
texto da Carta Magna brasileira. 
2.7.2 Direito social a proteção à maternidade e à infância 
Direito social fundamental que está disposto no artigo 6º, 201, II e 203, I, 
ambos da Constituição Federal, além de estarem dispostos na Carta Magna, este 
como outros direitos, estão elencados na Declaração Universal dos Direitos Humanos 
e do cidadão de 1948. 
Especificamente, o artigo XXV da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, trata sobre a proteção à maternidade e à infância, o que revela uma 
preocupação com este tipo de assistência social, in verbis: 
Artigo XXV 
 
1. [...]. 
 
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. 
Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma 
proteção social (ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948). 
 
Na Constituição da República Federativa do Brasil, em seu artigo 201, II, 
está prevista a proteção à maternidade e à infância, conforme segue: 
 
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, 
de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que 
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: 
[...] 
II – proteção à maternidade, especialmente à gestante; (BRASIL, 1988). 
 
De acordo com Sarlet et al (2012), a caracterização deste direito 
compreende-se do período da concepção, gestação, nascimento até aos primeiros 
anos de vida da criança, com intuito de assegurar a proteção de todos os direitos 
fundamentais que estão interligadosna relação mãe-filho. 
24 
Nas palavras de Sarlet et al (2012, grifo do autor): “São titulares do direito 
à proteção à maternidade e à infância tanto a mulher, gestante e mãe, quanto o 
nascituro e a criança [...]”. 
Segundo Lenza (2012), a proteção à maternidade tem natureza de direito 
previdenciário, bem como de direito assistencial, sendo este um dos objetivos da 
assistência social. 
O direito a proteção à maternidade e à infância estão expressamente 
previstos na Carta Magna e na Declaração Universal dos Direitos Humanos, o que 
significa dizer que estes direitos são inerente a toda população. 
Ademais, este direito social será objeto de estudo nos capítulos 
subsequentes deste trabalho monográfico. 
2.7.3 Direito social à saúde 
O direito à saúde é um direito social de extrema importância devido a sua 
transindividualidade. O direito à saúde é um direito social, que além de estar disposto 
no artigo 6º, está também contemplado no artigo 196 da Constituição Federal. 
 
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante 
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de 
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para 
sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988). 
 
Para Sarlet et al (2012), o direito à saúde encontrou no artigo 196 sua 
concretização num nível normativo-constitucional, o que abrange uma 
regulamentação normativa numa esfera infraconstitucional, na qual se destacam leis 
que dispõem sobre a organização e benefícios do Sistema Único de Saúde e o 
fornecimento de medicamentos. 
Segundo Lenza (2012), a saúde é direito de todos e dever do Estado, o que 
deverá ser garantido através de políticas sociais e econômicas que objetivem a 
redução dos riscos de doenças, além de outros agravos, sendo que estas ações 
deverão oferecer acesso universal e igualitário. 
Nas palavras de Paulo e Alexandrino (2008): 
 
A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. Ademais, as instituições 
privadas poderão participar de forma complementar ao sistema único de 
25 
saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou 
convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas. 
 
Percebe-se a relevância do assunto supra, no que tange à previsão do 
legislador, ao deixar o direito à saúde na Seção II, do Capítulo I do Título VIII, da 
Constituição da República Federativa do Brasil. 
Isso esclarece sobre a importância do assunto, principalmente na forma em 
que se demonstra este direito social: com característica transindividual que abrange 
toda a população. 
2.7.4 Outros deveres sociais constitucionalmente previstos 
Além da assistência social aos desamparados, a proteção à maternidade e 
à infância, e à saúde, têm-se outros deveres sociais constitucionalmente previstos, os 
quais foram elencados anteriormente no artigo 6º da Constituição da República 
Federativa. 
O direito social à alimentação foi incorporado ao caput do artigo 6º da 
Constituição Federal, através da Emenda Constitucional nº 64, de 04.02.2010. 
Segundo Sarlet et al (2012), essa recente inovação constitucional 
solidificou o reconhecimento do direito à alimentação como um direito fundamental 
social integrante do sistema constitucional brasileiro. 
Conforme Lenza (2012), o direito à moradia foi positivado expressamente 
com a Emenda Constitucional nº. 26 de 14.02.2000. 
Extrai-se da obra supra referida de Lenza: 
 
Antes mesmo da EC n. 64/2010, que introduziu o direito à alimentação como 
direito social, a Lei n. 11.346/2006, regulamentada pelo Dec. n. 7.272/2010, 
já havia criado o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional — 
SISAN com vistas a assegurar o direito humano à alimentação adequada 
(LENZA, 2012, grifos do autor). 
 
Ainda nas palavras de Lenza (2012), o artigo 2º da lei supracitada, define 
a alimentação, sendo ela direito fundamental do ser humano, intrínseco à dignidade 
da pessoa humana e certamente indispensável à concretização dos direitos 
legitimados na Constituição Federal. 
O direito social à moradia assim como o direito social à alimentação foram 
incorporados ao texto original da Carta Magna brasileira. 
26 
Segundo Sarlet et al (2012) apesar de ter sido uma incorporação tardia, o 
direito de moradia já estava amparado nos termos do artigo 23, IX, da Constituição 
Federal, o que segue in verbis: 
 
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e 
dos Municípios: 
[...] 
IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das 
condições habitacionais e de saneamento básico; (BRASIL, 1988). 
 
Desta forma, verifica-se que o direito à moradia é um dever de todo o Poder 
Público, o qual deverá ser proporcionado à população em geral. 
O direito à educação está previsto também no artigo 6º da Carta Magna, o 
qual é o primeiro no rol dos direitos sociais. Além no artigo 6º, está expresso também 
no artigo 205 da Constituição da República Federativa do Brasil. 
 
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será 
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno 
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua 
qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988). 
 
Conforme Paulo e Alexandrino (2008) comentam, o ensino deverá ser 
ministrado seguindo os princípios do artigo 206 da Constituição Federal. 
 
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: 
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; 
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte 
e o saber; 
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de 
instituições públicas e privadas de ensino; 
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; 
V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma 
da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público 
de provas e títulos, aos das redes públicas; 
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; 
VII - garantia de padrão de qualidade. 
VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação 
escolar pública, nos termos de lei federal. 
Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores 
considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo 
para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da 
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (BRASIL, 1988). 
 
Sabe-se então que a União, simultaneamente, com os outros entes, tem o 
dever de fornecer a toda população uma educação de qualidade. 
O direito social ao trabalho está disposto também no artigo 6º da CRFB. 
27 
Segundo Sarlet et al (2012), o direito social ao trabalho soma-se a um rol 
significativo de disposições constitucionais, as quais versam sobre aspectos 
específicos de proteção ao trabalhador e dos direitos dos trabalhadores. 
De acordo com Lenza (2012), o artigo 170, caput da Constituição Federal, 
é um importante instrumento para implementar e assegurar uma existência digna a 
todos. 
Além do direito social ao trabalho estar previsto na Constituição Federal, 
está previsto também na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). 
Neste sentido, contemplando extrai-se da doutrina de Sarlet et al: 
“Declaração Universal é precisa ao reconhecer a favor do trabalhador o ‘direito a uma 
remuneração justa e satisfatória’, que lhe assegure, assim como à sua família, uma 
existência compatível com a dignidade humana [...]” (2012, p. 602). 
Ou seja, deve ser garantido trabalho à população, trabalho ao trabalhador; 
um trabalhoque lhe ofereça uma condição digna com remuneração compatível que 
atenda suas necessidades básicas. 
O direito ao lazer, assim como os outros direitos supramencionados 
também está previsto no artigo 6º da Carta Magna. 
Nos ensinamentos de Silva (apud LENZA, 2012, p. 1079), lazer e recreação 
são funções urbanísticas, sendo que sua natureza social advém do fato de 
constituírem prestações estatais, as quais interferem diretamente nas condições de 
trabalho e principalmente com a qualidade de vida. 
Em seus ensinamentos Sarlet et al (2012) destaca que a garantia do lazer 
é dever do Poder Público ao assegurar estas condições, as quais são necessárias à 
concretização de uma fruição do mínimo de lazer. 
Além de estar expresso no artigo 6º, o artigo 217 da CRFB dispõe sobre o 
dever do Estado de incentivar o lazer: “Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas 
desportivas formais e não-formais, como direito de cada um, observados: [...] § 3º - O 
Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção social” (BRASIL, 1988). 
Neste viés, o direito ao lazer se mostra como mais um direito social de toda 
população, bem como um dever do Poder Público. 
O direito social à segurança está disposto não tão somente no artigo 6º, 
mas também nos artigos 5º, caput, e 144 da Constituição Federal (LENZA, 2012). 
 
28 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no 
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança 
e à propriedade, nos termos seguintes: [...] (BRASIL, 1988, grifos nosso). 
 
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de 
todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade 
das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: 
I - polícia federal; 
II - polícia rodoviária federal; 
III - polícia ferroviária federal; 
IV - polícias civis; 
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares [...] (BRASIL 1988). 
 
Sendo que o direito à segurança está amplamente previsto na CRFB, 
percebe-se que tal dever é de todo o Poder Público, seja na esfera Federal, estadual 
ou municipal. 
E por último tem-se o direito social à previdência social, que amplamente 
está previsto na Carta Magna, no artigo 6º, artigo 24, XII, 201 e 203. 
 
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar 
concorrentemente sobre: 
[...] 
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; [...] (BRASIL, 1988). 
 
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, 
de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que 
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: 
[...] (BRASIL, 1988). 
 
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, 
independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: 
[...] (BRASIL, 1988). 
 
Segundo Silva (apud LENZA, 2012) previdência social: 
 
[...] é um conjunto de direitos relativos à seguridade social. Como 
manifestação desta, a previdência tende a ultrapassar a mera concepção de 
instituição do Estado-providência (Welfare State), sem, no entanto, assumir 
características socializantes - até porque estas dependem mais do regime 
econômico do que do social. 
 
Infere-se uma grande preocupação do legislador no que se refere ao direito 
social à previdência social, direito este contemplado em vários dispositivos 
espalhados pela Constituição Federal. Portanto, observa-se que é dever de todos os 
entes federados, garantir um acesso de qualidade à previdência social. 
Diante do exposto, verifica-se a relevância do estudo acerca dos direitos 
sociais constitucionalmente previstos, pois além de serem imprescindíveis ao estudo 
29 
da Constituição Federal, estes direitos, estão intimamente ligados ao objeto central de 
estudo deste trabalho monográfico. 
No próximo capítulo explana-se o estudo do canabidiol e suas 
diferenciações das demais substâncias presentes na cannabis sativa, o poder de 
proibição e legalização de substâncias, bem como o papel da Agência Nacional de 
Vigilância Sanitária – Anvisa, no processo de legalização desta substância, passando 
pelo processo de importação, bem como a sua desjudicialização. 
 
30 
3 DESMISTIFICAÇÃO DO CANABIDIOL (CBD) 
Neste segundo capítulo analisam-se os conceitos legais de medicamento 
e de droga, a conceituação e definição do canabidiol, conceito de agência reguladora 
e os poderes da Anvisa, bem como a legalização do canabidiol. 
Além da conceituação e definição do canabidiol, efetua-se a distinção do 
canabidiol do tetrahidrocanabidiol, também a diferenciação do canabidiol do 
canabinol, bem como a análise se o canabidiol é droga ou não. 
Neste capítulo ainda se trata de um tópico sobre agência reguladora, mais 
especificamente sobre a Anvisa, bem como sua competência, e seu poder de 
proibição/legalização de substâncias em todo território nacional. 
E por fim aborda-se sobre a legalização do canabidiol, sobre seu processo 
de importação, a desjudicialização do processo de importação, além de todos os 
problemas enfrentados entre eles, os altos custos desta substância. 
3.1 MEDICAMENTO OU DROGA? 
Aqui se expõe a conceituação doutrinária e jurídica construída acerca dos 
medicamentos e das drogas. 
3.1.1 Conceito legal de medicamento 
No Brasil as palavras “fármaco” e “medicamentos”, são distintas no mundo 
acadêmico. A seguir evidencia-se uma conceituação mais precisa destes dois 
vocábulos, pois o estudo destes elementos é imprescindível para se entender o 
canabidiol. 
Segue o conceito de fármaco: 
 
Fármaco – substância química, estruturalmente definida, utilizada para o 
fornecimento de elementos essenciais ao organismo, na prevenção e no 
tratamento de doenças, infecções ou de situações de desconforto e na 
correção de funções orgânicas desajustadas (LARINI, 2008). 
 
Ainda nas palavras de Larini (2008, p. 16), medicamento: “é o mesmo que 
fármaco, especialmente quando este se encontra em uma formulação farmacêutica”. 
31 
O conceito legal de medicamento é: “produto farmacêutico, tecnicamente 
obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de 
diagnóstico” (BRASIL, 1973). 
Com a conceituação precisa dos termos, observa-se que, no caso do 
canabidiol, não existe esta “diferença”, ou seja, analisando os termos técnicos, pode-
se dizer que o canabidiol pode ser considerado fármaco e medicamento, devido a seu 
grande potencial medicinal, sendo que muitos estudos o apontam como uma 
substância paliativa eficaz, além desta não causar dependência. 
Agora se investiga se o canabidiol poderá ser considerado também como 
uma droga. 
3.1.2 Conceito legal de droga 
Como fora destacado no subtítulo anterior, o canabidiol deve ser 
considerado medicamento devido às suas grandes propriedades terapêuticas, e, 
principalmente, por não causar dependência. 
Apresentam-se, a seguir, alguns conceitos sobre as drogas. 
Primeiramente analisa-se o conceito trazido pela Anvisa: “Droga – 
substância ou matéria-prima que tenha a finalidade medicamentosa ou sanitária” 
(BRASIL, 1973). 
Verifica-se neste caso, um conceito muito genérico sobre as drogas, tendo 
em vista, principalmente, o tempo em que fora escrito o referido texto legal – década 
de 1970 –, pouco tempo depois de começaram os grandes estudos acerca da 
cannabis sativa, planta de origem do canabidiol. 
Nas palavras de Pratta e Santos (2006) tem-se um conceito mais temporal 
sobre as drogas. 
 
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), droga corresponde a 
qualquer entidade química ou mistura deentidades que podem alterar a 
função biológica e, possivelmente, sua estrutura (GALDURÓZ; NOTO; 
CARLINI apud PRATTA; SANTOS, 2006, grifos nosso). 
 
Com um conceito temporal sobre as drogas é possível verificar que, para 
uma substância ser considerada droga, ela tem que alterar uma função biológica, 
como por exemplo, o efeito psicoativo, ou seja, uma alteração psíquica decorrente do 
uso da substância. 
32 
Já na Lei 11.343/2006 – a Lei de Drogas, mais especificamente em seu 
artigo 1º, parágrafo único, observa-se o conceito legal no âmbito do direito brasileiro 
sobre as drogas. 
 
Art. 1º [...] 
Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as 
substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim 
especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente 
pelo Poder Executivo da União (BRASIL, 2006, grifo nosso). 
 
O conceito legal sobre as drogas é atual e preciso, ao afirmar que são 
consideradas drogas todas aquelas substâncias que causam, ou são capazes de 
causar dependência, ou seja, como estudos apontam que o canabidiol não é capaz 
de produzir efeitos psicoativos, bem como causar dependência, logo não poderá ser 
considerado droga. 
No próximo subtítulo descortinam-se os estudos acerca do canabidiol, a 
sua diferenciação de outras substâncias encontradas na cannabis sativa, bem como 
a sua grande propriedade terapêutica. 
3.2 CANABIDIOL 
Primeiramente, um breve histórico a respeito da planta cannabis sativa, da 
qual se deriva o canabidiol, somente assim se pode vislumbrar o canabidiol. Sabe-se 
que a cannabis é uma planta originária da região da Ásia Central, e seu uso pode 
gerar efeitos psicoativos e até mesmo causar dependência. 
Segundo Rehfeldt (2006), “o primeiro registro concreto do convívio entre o 
homem e a cannabis, são cordas feitas do cânhamo (fibra da planta cannabis) usadas 
em um vaso datado de pelo menos 7.000 (sete mil) anos”. 
Com relação ao uso medicinal existem indícios de que a planta foi utilizada 
há pelo menos 6.000 anos. Os antigos chineses já sabiam do potencial curativo da 
planta, comprovada na primeira farmacopeia conhecida do mundo, o Pen Ts’ao Ching, 
obra escrita por volta de 2737 a.C. Nesta época utilizava-se a planta para tratamentos 
de reumatismo, malária, dores menstruais dentre outras doenças (BURGIERMAN, 
2003). 
No início do século XX extratos de cannabis eram muitas vezes 
comercializados para o tratamento de transtornos mentais, usados principalmente 
33 
como sedativos e hipnóticos. Houve um declínio no uso da droga a partir de 1930 para 
fins médicos, pois os princípios ativos da cannabis ainda não haviam sido isolados, 
trazendo dúvidas e inconsistências aos efeitos gerados (ZUARDI, 2008). 
A partir da década de 1960 a planta cannabis sativa foi alvo de estudo de 
cientistas, mas foi Raphael Mechoulam que por fim conseguiu isolar os principais 
componentes ativos da planta, obtendo desta forma, um conhecimento maior sobre 
os seus componentes químicos (PEDRAZZI et al, 2014). 
Conta Mechoulam: “Parecia estranho que, mesmo que a morfina tivesse 
sido extraída do ópio em 1805 e a cocaína das folhas da coca em 1855, os cientistas 
não soubessem qual era o ingrediente psicoativo da maconha” (SIDES, 2015). 
Ou seja, da curiosidade do jovem cientista à época – Raphael Mechoulam, 
abriu-se uma grande porta de entrada para as pesquisas cientificas relacionadas ao 
uso da cannabis. 
Dentre os componentes isolados da cannabis, se encontram os 
fitocanabinoides mais conhecidos, que são: delta-9-tetrahydroCannabinol (Δ9-
tetrahidroCanabinol – THC), Cannabinol (Canabinol – CBN), Cannabichromene 
(Canabicromeno – CBC), Cannabigerol (Canabigerol – CBG), Tetrahydrocannabivarin 
(tetrahidrocanabivarim – THCV), Cannabidiol (Canabidiol – CBD) este último 
componente que será alvo de um maior estudo (RUSSO, 2011). 
Adiante diferenciam-se as três substâncias encontradas com maior 
abundância, dentre os componentes presentes na cannabis sativa, os quais são: o 
THC, CBD, CBN. 
3.2.1 Diferenciação entre o Canabidiol (CBD) e o TetrahidroCanabinol (THC) 
Aqui se contempla a grande diferença que existe entre o THC e o CBD, e 
quão importante é a diferenciação de ambas as substâncias, tanto para fins 
científicos/didáticos, quanto para fins legais. 
O THC é o fitocanabinoide mais comum da cannabis, é conhecido pela 
sensação que dá nas pessoas que fumam/ingerem a planta, também alivia dores e 
inflamações e é um anti-espásmico e relaxante muscular, também é muito conhecido 
por suas propriedades psicoativas (RUSSO, 2011). 
Nas palavras de Schier et al. (2012): “O canabidiol (CBD) é outro composto 
abundante na cannabis sativa, constituindo cerca de 40% das substâncias ativas da 
34 
planta. Os efeitos farmacológicos do CBD são diferentes e muitas vezes opostos aos 
do Δ9-THC”. 
O CBD é o segundo fitocanabinoide mais abundante na cannabis sativa. 
Este, segundo especialistas, não produz efeitos psicoativos, nem efeitos de 
dependência. O CBD ainda se mostra benéfico e versátil, em relação ao THC, na 
forma de lidar com diversas doenças, como: o diabetes, artrite reumatoide, câncer, 
epilepsia, síndrome de Rett, infecções resistentes a antibióticos, alcoolismo, stress 
pós-traumático e problemas neurológicos (RUSSO, 2011). 
Além destas doenças, o canabidiol se mostra eficaz também no tratamento 
de distúrbios como glaucoma, doença de Crohn, perda de apetite, síndrome de 
Tourette e asma (SIDES, 2015). 
A grande diferença entre o THC e o CBD é que o THC produz efeitos 
psicoativos e efeitos que causam a dependência, já o CBD, não produz efeitos 
psicoativos nem a dependência da substância, ou seja, o CBD, apenas produz os 
mesmos efeitos paliativos do THC, porém não gerando os efeitos psicoativos, bem 
como os sintomas de dependência da substância. 
Portanto o uso do canabidiol não deve ser confundido com o uso in natura 
da cannabis sativa, ou seja, não se pode confundir o uso medicinal deste 
medicamento – o qual passa por rigorosos procedimentos industriais, testes, e 
controle de qualidade, até chegar ao enfermo necessitado –, com o uso recreativo da 
cannabis, que ao contrário, não passa por nenhum tipo de procedimento industrial ou 
teste. 
Por isso, na Resolução 2.113/142, o Conselho Federal de Medicina – CFM 
veda o uso in natura da cannabis sativa na prescrição para tratamento de doenças, 
por se tratar de substância que ocasiona efeitos psicoativos, e também por não 
oferecer segurança alguma à pessoa que necessita. 
3.2.2 Diferenciação entre o Canabidiol (CBD) e o Canabinol (CBN) 
Existe diferença entre estas duas substâncias CBD e CBN, que comumente 
são confundidas – principalmente pela escrita dos nomes, mas que são de certa 
forma, parecidas nos efeitos causados a quem usa. 
 
 
2 Vide Anexo A 
35 
O CBD é o segundo composto mais abundante encontrado de forma natural 
na cannabis sativa, já o CBN é derivado do THC. 
O CBN para existir, depende de uma série de transformações no THC, 
como exposição prolongada ao ar, bem como a exposição prolongada ao calor e a 
raios UV (DORM, 2013). 
Assim como o CBD, o CBN também oferece uma série de benefícios a 
quem necessite de seu uso, e a principal característica desta substância é o seu efeito 
sedativo, mas também o CBN se mostra eficaz em uso tópico, em tratamentos de 
psoríase e de queimaduras (DORM, 2013). 
Embora tenha se mostrado eficiente nos tratamentos supracitados, o CBN 
ainda não foi alvo de grandes pesquisas científicas por ser superveniente à 
degradação do THC, fato que põe em risco a segurança desta substância, em relação 
à possibilidadede gerar efeitos psicoativos a quem use. 
No próximo título, destaca-se o órgão responsável pelo controle dessas 
substâncias, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, que também é 
responsável pelo processo de importação do canabidiol. 
3.3 AGÊNCIA REGULADORA 
Neste tópico será abordado o conceito da agência reguladora, a Agência 
Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, a sua competência bem como suas 
atribuições em todo o território nacional. 
3.3.1 Anvisa 
Observa-se neste título, a competência em proibir ou legalizar substâncias 
e medicamentos, bem como sua a importância na fiscalização destes. 
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é uma pessoa jurídica 
de direito público interno, especificamente é uma autarquia especial dotada de 
autonomia, ou seja, é uma agência reguladora (MAZZA, 2012). 
As agências reguladoras foram criadas para fiscalizar a prestação de 
serviços públicos praticados pela iniciativa privada. Além de controlar a qualidade na 
prestação do serviço, estabelecem regras para o setor. Atualmente, existem dez 
36 
agências reguladoras, implantadas entre dezembro de 1996 e setembro de 2001, mas 
nem todas realizam atividades de fiscalização (BRASIL, 2009). 
A Anvisa foi criada em 1999, tem independência administrativa e autonomia 
financeira e é vinculada ao Ministério da Saúde. A agência protege a saúde da 
população ao realizar o controle sanitário da produção e da comercialização de 
produtos e serviços que devem passar por vigilância sanitária, fiscalizando, inclusive, 
os ambientes, os processos, os insumos e as tecnologias relacionados a esses 
produtos e serviços. A Anvisa também controla portos, aeroportos e fronteiras e trata 
de assuntos internacionais a respeito da vigilância sanitária (BRASIL, 2015a). 
Na sequência trata-se da competência da Anvisa, bem como os poderes 
nela instituídos. 
3.3.1.1 Competência 
A Lei nº 5.991/1973 que dispõe sobre o controle sanitário de drogas e 
medicamentos, define o conceito de órgão competente, em seu artigo 4º, inciso V: 
 
Art. 4º - Para efeitos desta Lei, são adotados os seguintes conceitos: 
V – Órgão sanitário competente - órgão de fiscalização do Ministério da 
Saúde, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios 
(BRASIL, 1973); 
 
Sabe-se que a Anvisa tem poder de regulação, neste liame, extrai-se: 
 
As agências, ao exercerem o poder regulatório, atuam administrativamente 
dentro dos limites impostos pelas leis criadoras, não atingindo competências 
dos Poderes Executivo ou Legislativo. Essa atuação deve estar limitada 
também aos princípios e preceitos existentes na Constituição Federal. 
Portanto, os atos normativos emitidos pelas entidades reguladoras devem 
estar em conformidade com as leis (BATISTA JÚNIOR, 2014). 
 
Dentre as atribuições estabelecidas no Regulamento da Anvisa, destacam-
se as seguintes: 
 
a) coordenar o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária; 
b) conceder registros de produtos, segundo as normas de sua área de 
atuação; 
c) proibir a fabricação, a importação, o armazenamento, a distribuição e 
a comercialização de produtos e insumos, em caso de violação da legislação 
pertinente ou de risco iminente à saúde; 
d) promover a revisão e atualização periódica da farmacopeia; 
37 
e) medicamentos de uso humano, suas substâncias ativas e demais 
insumos, processos e tecnologias (BRASIL, 2015a). 
 
A competência da Anvisa definida pela Lei 9.782/99, é tratada em seu artigo 
7º, incisos II a VII, in verbis: 
 
Art. 7º Compete à Agência proceder à implementação e à execução do 
disposto nos incisos II a VII do art. 2º desta Lei, devendo: 
[...] 
II - fomentar e realizar estudos e pesquisas no âmbito de suas atribuições; 
III - estabelecer normas, propor, acompanhar e executar as políticas, as 
diretrizes e as ações de vigilância sanitária; 
IV - estabelecer normas e padrões sobre limites de contaminantes, resíduos 
tóxicos, desinfetantes, metais pesados e outros que envolvam risco à saúde; 
V - intervir, temporariamente, na administração de entidades produtoras, que 
sejam financiadas, subsidiadas ou mantidas com recursos públicos, assim 
como nos prestadores de serviços e ou produtores exclusivos ou estratégicos 
para o abastecimento do mercado nacional, obedecido o disposto no art. 5º 
da Lei nº 6.437, de 20 de agosto de 1977, com a redação que lhe foi dada 
pelo art. 2º da Lei nº 9.695, de 20 de agosto de 1998; 
VI - administrar e arrecadar a taxa de fiscalização de vigilância sanitária, 
instituída pelo art. 23 desta Lei; 
VII - autorizar o funcionamento de empresas de fabricação, distribuição e 
importação dos produtos mencionados no art. 8º desta Lei e de 
comercialização de medicamentos (BRASIL, 1999). 
 
Observando as atribuições bem como a competência da Anvisa, percebe-
se a importância desta agência reguladora, no que se refere a conceder os registros 
de medicamentos e substâncias, a atualização de sua farmacopeia, bem como a 
reclassificação de substâncias, como no caso do canabidiol. 
Dentre as competências que a Anvisa tem como agência reguladora, o 
poder de proibir ou legalizar uma substância, será alvo de maior estudo, pois é 
necessário para uma melhor compreensão na dificuldade em que foi a legalização do 
canabidiol no Brasil. 
Novamente na Lei nº 9.782/99 nos artigos 7º, inciso XV e artigo 8º, §1º, 
inciso I, divisa-se o poder atribuído à Anvisa de proibir qualquer substância que 
ocasione risco à saúde da população. 
 
Art. 7º [...] 
XV - proibir a fabricação, a importação, o armazenamento, a distribuição e 
a comercialização de produtos e insumos, em caso de violação da 
legislação pertinente ou de risco iminente à saúde; 
 
Art. 8º Incumbe à Agência, respeitada a legislação em vigor, regulamentar, 
controlar e fiscalizar os produtos e serviços que envolvam risco à saúde 
pública. 
38 
§ 1º Consideram-se bens e produtos submetidos ao controle e fiscalização 
sanitária pela Agência: 
I - medicamentos de uso humano, suas substâncias ativas e demais 
insumos, processos e tecnologias (BRASIL, 1999, grifo nosso); 
 
Com esses poderes incumbidos à Anvisa, verifica-se o rigor imposto pela 
lei, tanto para que uma substância até então desconhecida seja liberada à população, 
ou a proibição de uma substância já à disposição de toda a sociedade, que por algum 
motivo ou teste, ficou comprovado o risco iminente à saúde pública. 
Neste caso distingue-se a importância da Anvisa, pois é ela que efetua os 
mais variados testes de segurança com as substâncias, e avalia as possibilidades de 
proibir ou de liberar uma substância. 
Com o canabidiol não foi diferente, o rigor e a burocracia atrasaram o 
processo de legalização deste medicamento no Brasil, e as pessoas que 
necessitavam demoraram a ter acesso ao medicamento, vez que com a legalização 
muitas pessoas se beneficiaram disso. 
Porém, nessa situação específica enfrentaram-se diversos 
questionamentos, entre eles, científicos (a efetividade e a segurança do 
medicamento), legais (canabidiol é derivado da cannabis, cannabis = droga, 
canabidiol é droga?), morais (é imoral utilizar-se de um medicamento derivado de uma 
droga?), religiosos (é ilegal, imoral, e principalmente pecado, usar um remédio 
derivado da maconha). 
A seguir mostra-se como se deu a legalização do canabidiol no Brasil. 
3.4 LEGALIZAÇÃO DO CANABIDIOL 
Conforme dito anteriormente, muitas barreiras, tabus, e paradigmas foram 
quebrados, a partir do momento em que a Anvisa decidiu liberar o uso do canabidiol 
em tratamentos médicos. Foi uma longa espera para muitas famílias, que aguardavam 
ansiosamente pela liberação deste medicamento. 
Após uma grande batalha de aproximadamente um ano, no período entre2014 a 2015, especificamente no dia 14 de janeiro de 2015, a Anvisa reclassificou o 
canabidiol passando-o de substância proibida para uma substância controlada, 
enquadrada na lista C1 da Portaria nº 344/98. 
Extrai-se trecho da notícia veiculada no próprio site da Anvisa, que mostra 
o entendimento dos diretores da agência: 
39 
 
A decisão foi tomada em reunião pública da Diretoria Colegiada da Anvisa 
por unanimidade. O entendimento dos diretores foi fundamentado nas 
indicações técnicas de que a substância, isoladamente, não está 
associada a evidências de dependência, ao mesmo tempo em que 
diversos estudos científicos recentes têm apontado para possibilidade 
de uso terapêutico do CBD. Com isso, a Diretoria entendeu não haver 
motivos para que o CBD permaneça proibido, conforme apontou o 
relatório das áreas técnicas que participaram da avaliação e o voto dos quatro 
diretores da Anvisa (BRASIL, 2015a, grifo nosso). 
 
Contempla-se que a decisão colegiada da direção da Anvisa, foi 
absolutamente técnica, levando em consideração as pesquisas científicas realizadas, 
embasadas nos resultados positivos apresentados pelo canabidiol, bem como a 
confirmação científica de que este não causa dependência nem gera efeitos 
psicoativos, além da grande possibilidade de uso terapêutico. 
A referida decisão que reclassifica o canabidiol em substância controlada, 
foi publicada no Diário Oficial da União, na data de 21 de janeiro de 2015, e acarretou 
outros dois grandes problemas, o processo de importação do canabidiol, bem como 
seus elevados custos de importação. 
A seguir examina-se como se dá o processo de importação do canabidiol, 
bem como o problema enfrentado pela população que necessita do medicamento, os 
altos custos da importação, além da recente novidade: a simplificação no processo de 
importação do canabidiol. 
3.4.1 Do processo de importação do Canabidiol 
Aqui se averigua como se dá o processo de importação do canabidiol, 
assim como as dificuldades enfrentadas, e por fim, a simplificação no processo de 
importação. 
O processo de importação se dá através de várias etapas, as quais o 
paciente ou o responsável deverá cumpri-las, para que possa ter acesso ao 
medicamento. 
O primeiro passo é o cadastramento do paciente na Anvisa, que poderá ser 
feito eletronicamente no site, via e-mail, ou através de carta. Observando-se os 
40 
requisitos necessários3. Com a aprovação do cadastro, a importação poderá ser feita 
por registro do Licenciamento de Importação – LI no Sistema Integrado de Comércio 
Exterior – SISCOMEX IMPORTAÇÃO, e será feita a remessa, para que possa 
acontecer o último passo: o desembaraço aduaneiro, que é a apresentação da 
documentação necessária para a retirada do canabidiol, a qual poderá ser feita 
diretamente nos postos da Anvisa nos aeroportos (BRASIL, 2015c). 
Como se percebe, o processo de importação do canabidiol é complexo, 
burocrático, geralmente demorado, e se mostra muito caro à população, e muitas 
vezes se torna inviável para algumas famílias. 
Verifica-se, a seguir, este grande empecilho, o qual é enfrentado pelas 
pessoas que necessitam deste medicamento. 
3.4.1.1 Problema enfrentado devido aos altos custos de importação 
As famílias que necessitam do canabidiol esbarram, frequentemente, nos 
altos custos de importação do medicamento, o que impossibilita as pessoas menos 
favorecidas economicamente em terem acesso ao medicamento, sendo que o direito 
à saúde é um direito fundamental social garantido constitucionalmente e 
anteriormente estudado. Na prática, os altos custos dessa importação privam as 
pessoas de receberem um medicamento que lhes forneça uma maior e melhor 
qualidade de vida. 
Atenta-se aos custos dos dois medicamentos mais indicados para os 
tratamentos médicos. 
Em consulta on-line ao site HempsMedsBrasil, constatou-se os preços de 
duas versões permitidas à importação no Brasil, a primeira Hemp Oil [RSHO] Blue 
Label, uma versão mais simples do canabidiol, custa U$ 199.00 dólares a unidade (1 
(um) tubo contendo 10 (dez) gramas). A segunda versão, Hemp Oil [RSHO] Gold 
Label, uma versão melhorada por ser filtrada, custa U$ 249.00 dólares a unidade (1 
(um) tubo contendo 10 (dez) gramas), adicionando os custos e taxas de envio de U$ 
 
 
3 Requisitos: I – preenchimento do formulário para importação e uso do canabidiol; II – laudo médico 
contendo o CID, bem como o histórico dos tratamentos anteriores; III – prescrição do canabidiol – 
feito por médico –, contendo posologia, quantidade necessária, tempo do tratamento; IV – Declaração 
de Responsabilidade e Esclarecimento. 
41 
51.29 dólares, cada tubo dessas versões não saem por menos de U$ 250.00 dólares4 
(HEMPSMEDBRASIL, 2015). 
Também em consulta on-line ao site do portal de notícias do Uol – na data 
de 18 de outubro de 2015 –, observou-se a cotação de U$ 1.00 dólar, o qual convertido 
em real custa R$ 3,87 (três reais e oitenta e sete centavos) (UOL... 2015). 
Considerando a situação hipotética de uma criança necessitar de 50 
(cinquenta) gramas mensais de canabidiol em seu tratamento, ou seja, 5 (cinco) tubos 
custando o equivalente a U$ 250.00 dólares5. 
Convertendo diretamente os U$ 250.00 dólares em reais, cada tubo sairia 
por R$ 968,38 (novecentos e sessenta e oito reais e trinta e oito centavos), sendo o 
valor mensal do tratamento de R$ 4.841,90 (quatro mil oitocentos e quarenta e um 
reais e noventa centavos) – sem levar em consideração impostos e taxas. 
Ou seja, é muito dificultoso à população ter acesso a este medicamento, 
pois além do processo burocrático de importação, as famílias se deparam com os altos 
custos do canabidiol, e, na maioria das vezes, não conseguem manter o tratamento 
por não terem condições financeiras de arcar com a importação. 
Mas existe uma luz no fim do túnel, a Anvisa, em meados de julho, alterou 
o processo de importação do canabidiol, fazendo com que fique mais simples a 
importação do mesmo, é o que se analisa a seguir. 
3.4.1.2 Simplificação do processo importação do Canabidiol 
O Brasil teve mais um avanço com a publicação no Diário Oficial da União 
– DOU da Resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa – RDC nº 17/2015, a qual 
simplifica o processo de importação do canabidiol. 
A Anvisa simplificou o procedimento de importação de produtos à base de 
canabidiol, em associação com outros canabinoides, dentre eles o 
tetrahidroCanabinol (THC), por pessoa física, para uso próprio, mediante prescrição 
de profissional legalmente habilitado, para tratamento de saúde conforme RDC nº 
17/2015 (BRASIL, 2015d). 
 
 
4 Sem levar em consideração as taxas e impostos devidos a importação. 
5 Sem levar em consideração as taxas e impostos devidos a importação. 
42 
Uma das grandes novidades na simplificação da importação é a validade 
do pedido que agora será de um ano, ao contrário de como era antes da RDC nº 
17/2015. 
A autorização excepcional concedida pela Anvisa possui validade de um 
ano e, a partir da publicação da RDC nº 17/2015, durante o período de validade desta 
autorização, para a importação dos quantitativos necessários, os pacientes ou 
responsáveis legais deverão apresentar somente a prescrição médica com o 
quantitativo previsto para o tratamento, diretamente nos postos da Anvisa localizados 
nos aeroportos, para a internalização do produto no país (BRASIL, 2015d). 
Destaca-se que, antes da vigência da RDC nº 17/2015, cada pedido era 
analisado de forma individual, bem como a prescrição do CBD era feita de acordo com 
àquela receita. O que não acontece nesta RDC nº 17/2015, pois agora cada prescrição

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