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Análise Jurisprudencial - Falsas memórias

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Aluno: João Viktor Furtado Silveira
Fase: 10º
Período: Noturno
Professor: Juliano Keller do Vale
Pesquisa jurisprudencial sobre julgados acerca do tema “Falsas Memórias”.
1) Primeiro julgado – réu absolvido.
APELAÇÃO CRIMINAL. ESTUPROS DE VULNERÁVEL (ART. 217-A, CAPUT, POR 5 (CINCO) VEZES E ART. 217-A, CAPUT, C/C O ART. 14, INCISO II, NA FORMA DO ART. 71, TODOS DO CÓDIGO PENAL). SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. PRETENSA REFORMA DO DECISUM PARA CONDENAR O APELADO. IMPOSSIBILIDADE. PROVAS DOS AUTOS INSUFICIENTES PARA DEMONSTRAR A MATERIALIDADE E AUTORIA DELITIVAS. VÍTIMA QUE SE RETRATA EM JUÍZO E REVELA TER INVENTADO OS FATOS PORQUE ALMEJAVA UM RELACIONAMENTO AMOROSO COM O ACUSADO. DEPOIMENTOS DOS FAMILIARES DANDO CONTA QUE O MENOR MENTIA E SE INSINUAVA PARA AS PESSOAS. AUSÊNCIA DE RELATÓRIO PSICOLÓGICO E LAUDO PERICIAL QUE NÃO ATESTOU LESÕES, TAMPOUCO A PRESENÇA DE SÊMEN NA VÍTIMA. MÁXIMA DO IN DUBIO PRO REO IMPERIOSA. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. Como se sabe, nos crimes de estupro de vulnerável, que via de regra ocorrem na clandestinidade, o depoimento da vítima é muito relevante. Porém, deve estar atrelado aos demais elementos de prova para merecer a credibilidade necessária. Isso porque há casos em que a criança pode fantasiar determinadas situações e reportar violência não vivenciada. São fatos criados através de seus pensamentos, que também podem ser sugeridos ou influenciados por algum adulto, denominados pela doutrina como "falsas memórias". In casu, os elementos coligidos nos autos não são suficientes para condenar o apelado, mas ao contrário, sugerem que, em tese, as práticas delitivas foram inventadas pelo ofendido, porquanto este criou expectativa de manter relação amorosa com o acusado. (TJSC, Apelação Criminal n. 0000880-16.2011.8.24.0049, de Pinhalzinho, rel. Des. Luiz Neri Oliveira de Souza, Quinta Câmara Criminal, j. 17-05-2018).
Comentários:
Neste caso, conforme se extrai do julgado, os magistrados entenderam por absolver o réu, ante a ausência de provas suficientes de autoria e materialidade capazes de condená-lo como incurso nas sanções do art. 217-A, caput, por 5 (cinco) vezes e art. 217-A, caput, c/c o art. 14, inciso II, na forma do art. 71, todos do Código Penal, resumida em constranger a vítima M. A. P., de apenas 12 (doze) anos de idade à época dos fatos, a com ele praticar ato libidinoso diverso da conjunção carnal.
Isto ocorre porque, conforme se extrai, in verbis, do teor do voto: “[...] há casos em que a criança pode fantasiar determinadas situações e reportar violência não vivenciada. São fatos criados através de seus pensamentos/ideias, que também podem ser sugeridos ou influenciados por algum adulto, denominados pela doutrina como "falsas memórias".”
Além disso, a retratação da vítima junto com os relatos de que costumava mentir e se insinuar para determinados indivíduos prejudicaram a verossimilhança do depoimento. Não obstante, pontuaram os magistrados que “a narrativa apresentada perante a autoridade policial era rica em detalhes, bastante minuciosa, situação não muito típica quando se trata de assunto com teor sexual, em que geralmente há constrangimento por parte da vítima em relatar os abusos, cuja descrição é mais sucinta, sem pormenores, porquanto a criança tende a não querer relembrar os fatos traumáticos.”
Por fim, tendo em vista o princípio do livre convencimento motivado e as dúvidas acerca da materialidade e autoria delitivas, manteve-se incólume a absolvição do apelado, nos termos do art. 386, VII, do Código de Processo Penal.
Voto no sentido de conhecer do recurso e negar-lhe provimento.
2) Segundo julgado – réu condenado.
APELAÇÃO CRIMINAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. CÓDIGO PENAL, ART. 217-A, CAPUT, COM A CAUSA ESPECIAL DE AUMENTO DE PENA DO ART. 226, II. CONDENAÇÃO. RECURSO DEFENSIVO. ABSOLVIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. LAUDO PERICIAL INCONCLUSIVO. DEPOIMENTOS DA VÍTIMA E DAS TESTEMUNHAS. FALSAS MEMÓRIAS. NÃO OCORRÊNCIA. VERSÃO APRESENTADA PELO RÉU QUE NÃO AFASTA A SUA RESPONSABILIDADE PENAL. ELEMENTOS SUFICIENTES À CONDENAÇÃO. O fato de o laudo pericial consignar não haver vestígios de ato libidinoso e, tampouco, de violência contra a vítima, por si só, não tem o condão de afastar a materialidade do delito, pois, como cediço, o crime de estupro de vulnerável, na maioria das vezes, não deixa vestígios, restando comprovado, então, pela prova testemunhal, principalmente na palavra da vítima, quando firme e coerente. Nos delitos contra a liberdade sexual, normalmente praticados às escondidas, as palavras da vítima, desde que harmônicas com as demais provas, são suficientes para embasar decreto condenatório, principalmente quando a versão apresentada pelo réu não é suficiente para afastar sua responsabilidade penal. Se não se perceber que a vítima - com apenas 4 anos de idade à época - tenha sido induzida ou sugestionada para relatar o abuso sexual que sofreu por parte do réu, demonstrando em seu depoimento haver coerência e firmeza quanto ao fato praticado, fica demonstrado não ter sido acometida da mencionada "falsa memória". RECURSO NÃO PROVIDO. (TJSC, Apelação Criminal n. 0000638-76.2017.8.24.0007, de Biguaçu, rel. Des. Roberto Lucas Pacheco, Quarta Câmara Criminal, j. 16-11-2017).
Comentários:
Neste caso, ao contrário do primeiro julgado, levou-se em conta o depoimento da vítima, o qual foi lastreado de convicção e coerência, negando-se provimento ao recurso e mantendo a condenação fixada pelo juiz a quo, na qual condenou o réu ao cumprimento da pena de 12 anos de reclusão, em regime inicial fechado, por infração ao artigo 217- A, caput, c/c artigo 226, II, ambos do Código Penal.
Assim, extrai-se do voto que “[...] é sabido que em crimes desse jaez, por serem, em regra, praticados na clandestinidade, a palavra da vítima adquire especial relevância, mormente nesse caso, em que a mesma narrou o episódio de forma firme e coerente nas duas vezes em que instada a se manifestar.”
Por fim, no âmbito da alegada “falsa memória” acometida pelo menor, os Desembargadores relataram que, segundo estudiosos, a hipótese ocorre quando há indução ou sugestionabilidade da vítima ao responder, sobre o fato que vivenciou, aos questionamentos de outrem. No caso, os magistrados entenderam que a vítima, com apenas 4 anos de idade à época, não foi induzida ou sugestionada por parentes ou qualquer outro meio, tendo em vista a coerência e firmeza no seu depoimento, estando demonstradas a materialidade e a autoria.
Voto no sentido de negar provimento ao recurso.

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