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14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f03… 1/25 Teoria e história das cidades Aula 9 - O pensamento do urbanismo contemporâneo INTRODUÇÃO 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f03… 2/25 Nas aulas anteriores, vimos que os modelos de cidade dos séculos XIX e XX partiam do princípio de que uma cidade inteiramente nova deveria surgir a partir das novas funções e necessidades do mundo moderno. Mas as experiências reais com cidades planejadas foram contraditórias, pois trouxeram mais segregação e fragmentação, quando, na verdade, a promessa era criar uma cidade mais igualitária e coesa. A estrita divisão funcional teve custos sociais, econômicos e ambientais. Para os novos autores do urbanismo, a prioridade deixou de ser a funcionalidade: a cidade deve ser o espaço da diversidade. Veremos que, entre a teoria e a prática, existe, além de um distanciamento no tempo, um conjunto de interesses e forças econômicas que, nos últimos anos, têm transformado nosso mundo em uma sociedade globalizada. A evolução dos meios de telecomunicação e da Tecnologia da Informação aproximou pessoas e culturas distantes, gerando novos modelos de cidade de acordo com algumas características inéditas. Iremos analisar os principais autores que tentaram identi�car os diferentes aspectos da cidade global, genérica e transnacional. As cidades do século XXI se expandem tanto virtualmente quanto �sicamente. O alto crescimento demográ�co observado desde o �m da Segunda Guerra Mundial fez surgirem as megacidades. Analisaremos como elas são e como estão espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Boa viagem! OBJETIVOS Reconhecer os autores do pensamento urbanístico pós-moderno; Identi�car os diversos modelos da cidade contemporânea; Reconhecer as novas dimensões da cidade no século XXI. 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f03… 3/25 AUTORES DO PENSAMENTO URBANÍSTICO PÓS-MODERNO O pensamento urbanístico pós-moderno surgiu como uma crítica às realizações do urbanismo moderno, como Brasília e Chandigarh, que vimos em aulas anteriores, assim como em projetos de habitação popular construídos no mundo inteiro, como Pruitt-Igoe, nos Estados Unidos, que foi demolido em virtude dos índices de violência ali registrados. O rígido zoneamento preconizado na Carta de Atenas terminou por dividir as cidades em setores monofuncionais. As cidades e os bairros que seguiam a cartilha dos CIAM tornaram-se exemplos de segregação social e fragmentação espacial. Vista aérea do complexo de Pruitt-Igoe, Saint Louis, nos Estados Unidos, que se tornou símbolo do fracasso do planejamento urbano moderno, quando foi implodido em 1972. Tampouco o “conceito cartesiano de cidade ordenada, onde tudo é estabelecido com lógica, precisão e rigidez” atraía os pensadores do urbanismo contemporâneo. (COSTA, 1962, p. 347) A própria ideia de planejar uma cidade inteiramente nova perdeu interesse para boa parte da geração do pós-guerra, como descreveu, em 1965, Christopher Alexander, professor emérito da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e fundador do Center for Environmental Structure (ALEXANDER, 1965): 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f03… 4/25 Quatro etapas da construção do pensamento em Arquitetura e Urbanismo, com destaque para a crítica como etapa de renovação da teoria. O processo de construção do pensamento em Arquitetura e Urbanismo invariavelmente cumpre um ciclo, no qual a teoria fundamenta o projeto. O projeto, por sua vez, estabelece as diretrizes para a construção da obra. Após a ocupação desta obra, os usos e as consequências práticas daquele espaço irão gerar um pensamento crítico-re�exivo. Isto vale tanto para o caso de uma edi�cação, quanto para a análise de um projeto urbano. A partir desta re�exão crítica, uma nova teoria será desenvolvida, em um processo contínuo de aperfeiçoamento da Arquitetura e do Urbanismo. A construção de imóveis destinados a diferentes classes sociais, em um mesmo bairro, passou a ser estimulada e virou instrumento de política urbana, em especial na França. Diferentes tipos de edi�cações com funções diversas e complementares em uma mesma área também se tornaram bem-vindas, porquanto induzem à diversidade de usos e à ocupação diuturna dos espaços públicos. 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f03… 5/25 Neste caso, a palavra de ordem do urbanismo passou a ser diversidade: funcional, social e tipológica. O zoneamento perdeu espaço para as áreas de uso misto, em que se pudesse morar, trabalhar e se divertir com pouco deslocamento. A AGENDA DO URBANISMO PÓS-MODERNO Os fundamentos do urbanismo moderno passaram a ser questionados com grande oposição e foram confrontados por novos temas: 01 A diversidade induzia ao tratamento individual e personalizado em detrimento da abordagem coletiva e padronizada do modernismo. 02 A centralidade de um ser humano supostamente universal, a quem corresponderia um estilo internacional, foi substituída por uma abordagem mais local e mais adequada a uma sociedade multicultural. 03 A ideia de que a tecnologia e a racionalidade trariam a solução para todos os problemas foi deslocada para o estudo dos fenômenos sociais. Assim como na Arquitetura, os projetos de comunidades perderam certo caráter abstrato em nome de uma representação mais humana dos espaços de uso comum. 04 O automóvel deixou de ser o protagonista em nome do pedestre e da escala humana. 05 A busca incessante da originalidade das cidades planejadas perdeu destaque para as estratégias de requali�cação de bairros existentes. 06 O isolamento da obra arquitetônica passou a ser menos valorizado do que sua contextualização. 07 Os processos históricos passaram a ser mais respeitados do que a pura inovação. 08 A construção coletiva e colaborativa do pensamento, inclusive no que se refere à teoria e à doutrina urbanísticas, tornou-se mais valorizada do que o gênio artístico do arquiteto e urbanista individualmente. 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f03… 6/25 Tabela de conceitos do planejamento urbano moderno em comparação às teorias mais recentes do urbanismo. 09 Os pequenos relatos cotidianos ganharam relevância em detrimento das grandes narrativas totalitárias. 10 O estudo da cidade real prevaleceu sobre a busca incessante pela cidade ideal. 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f03… 7/25 Esta praça, no centro da cidade holandesa de Haia, é um belo exemplar da aplicação de vários princípios do urbanismo pós-moderno: a escala humana é respeitada, pois as torres estão recuadas em relação à praça; os edifícios mais recentes fazem referência ao contexto histórico, tanto na forma quanto no material utilizado; há uma colagem entre o antigo e o novo, o simples e o monumental; o pedestre é valorizado; os pontos de referência são destacados e o conjunto de edi�cações geram um espaço urbano quali�cado e cheio de apontadores culturais. Podemos destacar outras concepções urbanísticas do mesmo período: Contextualização Adequação (simples ou complexa) às condiçõesexistentes. Cidade colagem (legibilidade) Modo de conferir integridade a uma mescla assimétrica entre ordem/desordem, simples/complexo, privado/público, inovação/tradição, singelo/monumental. Este conceito foi criado por Collin Rowe, professor e historiador, no livro Collage City, que foi publicado originalmente em 1978 (ROWE, 1978); Cidade como texto Caminhos, limites, nódulos, bairros e pontos de referência na paisagem. Foram ideias expressas por Kevin Lynch, em 1960, na primeira edição de seu conhecido livro: A imagem da cidade (LYNCH, 1997); 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f03… 8/25 Historicismo Uma atitude de interesse pelas tradições anteriores, muito baseada nos escritos do arquiteto britânico Alan Colquhoun (COLQUHOUN, 1989); Neorracionalismo europeu Valorizava a tipologia arquitetônica e a experiência espacial urbana como representação de valores e signi�cados, em que a cidade é um artefato artístico e cultural. Um dos textos fundadores deste movimento foi o livro A arquitetura da cidade, do arquiteto italiano Aldo Rossi, publicado pela primeira vez em 1966 (ROSSI, 1988); Regionalismo crítico O crítico norte-americano Kenneth Frampton propõe que, assim como a arquitetura vernácula é uma resposta arquitetônica ao lugar especí�co, ao clima local e ao material disponível, projetos climaticamente de�nidos obterão bons resultados estéticos e ecológicos e serão capazes de resistir às pressões homogeneizadoras do capitalismo moderno (FRAMPTON, 1997). A Capela Otaniemi (1957), dos arquitetos Heikki e Kaija Siren (esquerda) e a Capela do Silêncio (2012) de K2S Architects demonstram como os �nlandeses conseguiram trabalhar a modernidade com uma boa dose de regionalismo, em especial, pelo uso do material característico da Finlândia: a madeira. Fotos: acervo pessoal. Enquanto os arquitetos e urbanistas modernos privilegiavam o Zeitgeist, que podia ser traduzido literalmente da língua alemã como espírito do tempo, os pós-modernos procuravam valorizar o genius loci, que, interpretado do latim, seria o espírito do lugar especí�co. Como de�niu o arquiteto austríaco Raimund Abraham: 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f03… 9/25 Fonte: enjoy your life / Shutterstock Projetar é reconciliar as consequências da intervenção na paisagem (NESBITT, 2006) O LEGADO DE JANE JACOBS O livro Morte e vida das grandes cidades foi escrito em 1961 por Jane Jacobs. A obra sintetizou a agenda do urbanismo pós-moderno, que analisamos anteriormente. A crítica principal da autora ao urbanismo moderno foi desenvolvida a partir de uma análise muito simples. De acordo com Jacobs, o grande equívoco dos urbanistas modernos foi propor soluções de simplicidade elementar para as questões complexas da cidade contemporânea. Por outro lado, ela alertava que o extremo oposto tampouco era válido: imaginar a cidade como um fenômeno irracional e desordenado levaria à imobilidade e à sensação de impotência. Entre estes dois extremos, a autora apontava para uma nova direção metodológica: a cidade é um problema de complexidade organizada. A melhor maneira de intervir no espaço urbano seria, antes de tudo, ater-se ao mundo real, prestar atenção à vida cotidiana dos habitantes do lugar e só então propor qualquer ação. Ao invés de partir de um modelo universal preestabelecido, melhor seria analisar as situações concretas. Para Jacobs, o principal elemento da cidade era a calçada, que comparava a um espetáculo diário: 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 10/25 Após analisar exemplos de diferentes bairros, nas cidades norte-americanas de Los Angeles, Boston, Chicago e Nova York, Jane Jacobs apontou algumas necessidades básicas para o bom funcionamento dos espaços urbanos: galeria/aula9/img/11b.jpg Uso misto A necessidade do uso misto: os bairros devem ter mais de uma função, a �m de atrair pessoas com distintos propósitos em horas diferentes do dia e da noite. galeria/aula9/img/11c.jpg Pequenos quarteirões A necessidade de pequenos quarteirões: quadras devem ser curtas, com interseções movimentadas que permitam criar oportunidades para a interação entre os pedestres (conectividade). galeria/aula9/img/11d.jpg Edifícios antigos A necessidade de edifícios antigos: bairros devem mesclar construções antigas e edifícios novos, com diversas formas e que abriguem classes sociais diferentes. galeria/aula9/img/11e.jpg Densidade A necessidade da densidade: bom bairro é aquele que tem alta concentração de pessoas e edifícios. 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 11/25 Jacobs morava na cidade de Nova York na época do rodoviarismo de Robert Moses. Ele foi o mentor intelectual do sistema de autoestradas (highways) e estradas-parque (parkways) que recortaram todo o estado de Nova York. Este modelo de urbanismo, que se baseava no automóvel particular como símbolo de autonomia e liberdade individual, teve repercussões em diversos países, inclusive o Brasil. Apesar disto, a grande batalha entre os dois foi vencida pela escritora, que conseguiu impedir que uma via expressa projetada por Moses rasgasse o tecido urbano do sul da ilha de Manhattan, no bairro que �cou mundialmente conhecido como Soho. O livro de Jacobs, associado à sua ação política, foi uma arma poderosa contra o modelo rodoviarista e seus efeitos para o pensamento urbanístico podem ser sentidos até hoje. Camila Bortoluzzi, em artigo para ArchDaily de outubro de 2012, assim de�niu o legado de Jane Jacobs: Provavelmente a maior colaboração de Jane Jacobs às cidades é ter transformado o modo como são analisadas. Sua crítica e ideias reverteram as tendências mais tecnocratas da plani�cação para dar mais atenção ao valor das comunidades em construir seu próprio projeto social no território (BERTOLUZZI, 2012). Cena típica de um dia comum em Greenwich Village, bairro onde Jane Jacobs morava quando escreveu Morte e vida das grandes cidades e que inspirou notadamente a autora em suas propostas. Foto: A shot in Greenwich Village, de Seth Werkheiser. O NOVO URBANISMO NORTE-AMERICANO 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 12/25 O legado de Jane Jacobs pode ser sentido atualmente na abordagem dos problemas de planejamento urbano, que tem tido um caráter mais local e mais humano, na revitalização dos centros históricos, em diversas cidades do mundo e até na revalorização do patrimônio histórico. Nos Estados Unidos, alguns autores e movimentos seguiram direções bastante diferentes a partir das diretrizes de�nidas por Jacobs. Robert Venturi, que seis anos antes havia provocado uma revolução na teoria da Arquitetura, ao iniciar um livro com a expressão Less is a bore!, aventurou-se pelo urbanismo com o trabalho intitulado Aprendendo com Las Vegas, de 1972, fruto de uma pesquisa acadêmica realizada juntamente com os arquitetos e pesquisadores norte-americanos Denise Scott Brown, sua esposa, e Steven Izenour (VENTURI, 1972). Venturi, Brown e Izenour analisaram o fenômeno da urbanização dispersa (que veremos a seguir) a partir de Las Vegas, um “exemplo exagerado de onde se podem tirar lições sobre o típico”. Mas, veja como a premissa básica para o trabalho poderia ter sido escrita pela própria Jacobs: “uma maneira de o arquiteto ser revolucionário” é “aprender com a paisagemexistente”. Os herdeiros mais diretos de Jane Jacobs, porém, foram os arquitetos e urbanistas que formaram o movimento conhecido como New Urbanism ou novo urbanismo norte-americano (Peter Calthorpe, Michael Corbett, Andrés Duany, Elizabeth Moule, Elizabeth Plater-Zyberk, Stefanos Polyzoides e Daniel Solomon). Eles estabeleceram um decálogo que listava os princípios que deveriam reger um bom master plan (Fonte: Portal do New Urbanism): 10 Princípios do New Urbanism 1 Habilidade para caminhar (walkability): caminhadas de 10 minutos, com ruas de pedestres e para pedestres; 2 Variedade de conexões (connectivity): uso da quadrícula (grelha ou grid), além da indução de pedestres para os espaços públicos. 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 13/25 3 Uso misto e diversidade: na escala do bairro, da quadra e até no mesmo edifício com o convívio de pessoas de diferentes idades, classes sociais, culturas, etnias etc.; 4 Diferentes tipologias residenciais: com tipos, tamanhos e preços diversos; 5 Qualidade de projeto na arquitetura e no desenho urbano: que leve em conta a escala humana, os usos cívicos e coletivos, além da preocupação com o conforto, a estética e o sentido de lugar; 6 Estrutura tradicional de bairro/comunidade: com uma distinção clara entre o centro e a borda, distantes entre si por uma caminhada de dez minutos. No centro, estaria o grande espaço público e cívico, visível para o restante do bairro ou cidade; 7 Densidade crescente: a proximidade gera e�ciência; 8 Transporte e�ciente: sobre trilhos (entre bairros e cidades: V.L.T./Veículo leve sobre trilhos, bonde, trem e metrô) e pessoal (dentro do bairro: bicicletas, patins, scooters/vespas/motocicletas); 9 Sustentabilidade: com impacto mínimo obtido pela utilização de tecnologia limpa aliada à e�ciência energética. A ideia seria minimizar o uso de combustíveis não renováveis e maximizar a produção local: caminhar mais e dirigir menos; 10 Qualidade de vida: “elevar o espírito humano”. 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 14/25 A comunidade de Celebration, na Flórida, tentou reunir diversos arquitetos historicistas em uma cidade nova construída a partir dos princípios do New Urbanism: a sede dos correios foi projetada por Michael Graves, o centro de acolhimento foi concebido por Philip Johnson, o posto de saúde por Robert A. M. Stern. Há, ainda, obras de Charles Moore (centro de previsão), Cesar Pelli (cinema) e Robert Venturi e Denise Scott Brown (agência bancária). Os diversos modelos da cidade contemporânea Enquanto os autores citados, na primeira parte desta aula (como Alan Colquhoun, Christopher Alexander, Collin Rowe, Kenneth Frampton e Kevin Lynch, todos professores), buscavam um caminho alternativo e um novo pensamento para o urbanismo do século XX, a cidade real, movida pela lógica do capital, espraiava-se pelo território em categorias que �caram conhecidas como: urbanização dispersa, cidade global, cidade genérica, entre outras. URBANIZAÇÃO DISPERSA O termo urbanização dispersa tem sido a tradução utilizada com mais frequência para o fenômeno conhecido originalmente pelo termo em inglês urban sprawl. Entre o �m da Segunda Guerra Mundial e o início dos anos 1970, o aumento do preço dos terrenos, nas áreas centrais das grandes cidades norte- americanas, impulsionou uma procura por áreas mais distantes, com espaços mais generosos e preços mais acessíveis. A grande atração seriam os loteamentos com residências unifamiliares bastante amplas e confortáveis. O poder público estimulou este processo com a construção de autoestradas. Os empresários do comércio viram aí uma grande oportunidade para expandir as cadeias de lojas de departamento, enquanto a indústria automobilística iria se bene�ciar com o aumento das vendas de automóveis particulares. Demorou pouco para alguém tentar reunir lazer e comércio, com fácil acesso por automóvel, em uma nova tipologia de centro comercial: os shopping centers. Fonte: Commons.wikimedia.org / Bobak Ha'Eri 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 15/25 Os subúrbios norte-americanos foram assim formados pela combinação de autoestradas, loteamentos e shopping centers. Segundo alguns, essa nova modalidade de metropolização descontínua, formada por múltiplos centros urbanos, foi promovida por razões de defesa militar: espalhar a população a �m de dispersar os alvos de uma eventual guerra nuclear. De acordo com outros, o verdadeiro objetivo era o desenvolvimento da indústria automobilística, com o aproveitamento das plantas industriais dedicadas, até aquele momento, à produção de veículos para as forças armadas. Vista aérea de uma comunidade característica da urbanização dispersa, em Colorado Springs, subúrbio norte- americano. Foto: David Shankbone. Em qualquer hipótese, o fenômeno foi impulsionado fortemente pela valorização do preço do solo nos grandes centros urbanos e a consequente busca de terrenos mais baratos, em áreas semirrurais que passariam a ser alimentadas por autoestradas (highways) e por �liais das grandes redes de varejo norte-americanas, reunidas em centros comerciais climatizados e com vasta oferta de estacionamento (shopping malls ou shopping centers). A forma residencial característica desse modo de vida seriam os grandes condomínios fechados de residências unifamiliares com garagens e jardins próprios, além de alguns serviços compartilhados voltados ao lazer e à segurança. (NUNES-FERREIRA, 2014, p. 18 e 19) O fenômeno da dispersão urbana não �cou restrito aos Estados Unidos. Muito ao contrário, o modelo foi reproduzido em diversas áreas de expansão de cidades mundo afora, inclusive no Brasil. Como o poder de investimento da inciativa privada mostrou-se muito superior ao planejamento público, os subúrbios a�uentes brasileiros transformaram-se em manchas de um tecido urbano descontínuo e fragmentado. 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 16/25 A cidade do século XXI tem recebido diversas denominações, que variam de acordo com as características especí�cas que cada autor decidiu enfatizar: O conceito da cidade global foi cunhado por Saskia Sassen, professora de sociologia da Universidade de Chicago, a partir das considerações expostas na citação acima reproduzida; Já Rem Koolhaas, famoso arquiteto holandês, analisou diversos centros urbanos da atualidade, em especial as megacidades que surgiram na virada do século nos países em desenvolvimento (entre eles os BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — South Africa, no original em inglês), e destacou sua semelhança aparente, a despeito das diferenças culturais originais. Por isso, ele escolheu o termo cidade genérica para designar esta interpretação crítica sobre bairros mais recentes, áreas de expansão e projetos de cidades novas encontrados, particularmente, no sudeste asiático e em países da América do Sul, como o Brasil. ATENÇÃO! Cidade global, cidade genérica e a cidade da sociedade em rede 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 17/25 , A cidade genérica é estruturada a partir de pistas de alta velocidade que conectam diferentes empreendimentos privados fechados, tais como condomínios residenciais, comercias ou corporativos., , Os espaços de convívioe lazer também são privatizados em shopping centers, arenas de esporte e aeroportos, onde “tudo é consumo”. As tipologias residenciais são predominantemente verticais. A cidade genérica é policêntrica, com núcleos de serviços ao longo de uma rede espraiada pelo território. Consequentemente, seus moradores guardam pouca relação de identidade com os centros históricos das cidades tradicionais. Como de�niu o próprio Koolhaas: A cidade contemporânea, global e genérica, como descrita e interpretada por Sassen e Koolhaas respectivamente, seria uma manifestação de diferentes forças atuantes na sociedade pós-industrial, cujo principal meio de produção são os �uxos de informação e a oferta de serviços. O cientista social espanhol Manuel Castells (2002) descreveu as cidades atuais como “pontos nodais de conexão às redes globais”, distanciadas de aspectos locais em favor de uma grande sociedade em rede mundial. URBANISMO HÍBRIDO As diferentes visões sobre o que é uma cidade, que vimos até o momento, parecem evidenciar que cidades são sistemas complexos e variáveis, que estão em permanente transformação. 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 18/25 Você já deve ter notado que alguns conceitos apresentados aqui não são necessariamente excludentes. Podemos encontrar, por exemplo, fragmentos da cidade moderna, da cidade informal e da cidade genérica reunidos em diversas regiões metropolitanas do Brasil. Por isso, o termo urbanismo híbrido tem sido utilizado com frequência cada vez maior. CURIOSIDADE , A expressão cidade híbrida foi utilizada por George Katodrytis, professor da American University de Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos, para se referir a cidades como Dubai, onde os edifícios e os espaços urbanos reúnem símbolos heterogêneos de diversas culturas (KATODRYTIS, 2004). Na verdade, esta de�nição aplica-se a diversas cidades contemporâneas, que re�etem a superposição de camadas da cultura atual: erudita e popular, local e global. Fonte: Commons.wikimedia.org / Tim.Reckmann. Dubai é um exemplo de cidade contemporânea, onde há referências a diferentes culturas. O arquiteto argentino Juan Carlos Pérgolis, que hoje é diretor do Centro de Pesquisa da Faculdade de Arquitetura, da Universidade Católica da Colômbia, dividiu os modelos ocidentais de urbanismo em três momentos: Í 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 19/25 CIDADE CONTÍNUA Cidade tradicional pré-industrial; CIDADE DESCONTÍNUA Modelo de urbanismo moderno do século XX (CIAM); CIDADE FRAGMENTADA Produto de uma nova sociedade, mais individualista, em que “a fragmentação se apresenta como um traço dominante em todos os campos da cultura”. Este terceiro momento aproxima-se de temas que já analisamos anteriormente como a dispersão urbana, a cidade global, a cidade genérica e a sociedade em rede. A cidade fragmentada, segundo Pérgolis, tem uma dimensão difícil de assimilar porque é resultado da conurbação, ou seja, da união territorial e da interdependência de mais de uma cidade. Há diversas referências de centralidade, normalmente em espaços de uso coletivo com controle privado de acesso, como os grandes shopping centers. As relações sociais terminam por acontecer tanto ou mais pelas interconexões globais, como as redes sociais e a internet, do que em âmbito local, pela interação dos vizinhos de uma mesma comunidade (PÉRGOLIS, 2005). Novas dimensões da cidade no século XXI Fonte: DSS Research: Looking Beyond The Expected. Crescimento da população mundial entre os anos de 1050 e 2050. O início do século XX marcou um ponto de in�exão do crescimento demográ�co mundial que podemos sentir até hoje. Em 1900, apenas 10% da população mundial viviam em cidades; Em 2007, a população urbana superou a população rural; Em 2050, 75% das pessoas viverão em cidades; A Terra atingiu a marca de 7 bilhões de pessoas em 2011; A previsão é chegar a 10 bilhões de habitantes em 2050; Em 1950, havia menos de 100 cidades com 1 milhão de habitantes; Em 2016, há mais de 500 cidades com esta população. Atualmente, consideramos que metrópole é a reunião de mais de uma cidade que estabelecem entre si alguma interdependência funcional ou simbólica. Acima das metrópoles, teremos as megacidades e as megalópoles. 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 20/25 As megacidades contemporâneas são aglomerações urbanas com mais de dez milhões de habitantes. Elas podem estar em países desenvolvidos, como Estados Unidos e França, ou em nações emergentes como Brasil e México. Mas, com certeza, a megacidade é um fenômeno predominantemente asiático: entre as dez maiores cidades do mundo, oito estão em diferentes países da Ásia (Japão, Indonésia, Índia, Coreia do Sul, Filipinas, Paquistão e China). E se levarmos em consideração as atuais conurbações entre megacidades, há sistemas espaciais urbanos, na China, que podem atingir a marca dos 50 milhões de habitantes, como o delta do Rio das Pérolas, que inclui, entre outras, as cidades de Hong Kong, Macau, Cantão e Shenzhen. Lista das megacidades mundiais. Fonte: Demographia 2016. 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 21/25 Fonte: Demographia 2016. 10 maiores cidades do mundo por população, com destaque para as 8 maiores, localizadas no continente asiático. São Paulo, onde moram 12.038.175 de pessoas, é o único município no Brasil com população superior a dez milhões de habitantes (Fonte: IBGE, estimativa para 2016). Entretanto, se considerarmos que as regiões metropolitanas brasileiras são conurbações com grande coesão urbana, poderíamos considerar o Grande Rio de Janeiro, com seus 21 municípios, como a segunda megacidade brasileira. Fonte: A tabela traz as regiões metropolitanas do Brasil acima de 1 milhão de habitantes listadas por população conforme a estimativa para 2016. Por último, há autores que consideram a interdependência entre Rio e São Paulo (incluindo os municípios do Vale do Paraíba, da Grande Campinas e da Baixada Santista) tão signi�cativa que mereceria uma referência como uma megalópole de 40 milhões de habitantes, também conhecida por Região Metropolitana Ampliada Rio-São Paulo (RMARSP) (DAVIS, 2006, p.16). 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 22/25 Imagem de satélite da megalópole Rio de Janeiro — São Paulo à noite. Foto: NASA Earth Observatory, 2014 QUESTÃO 1 O pensamento urbano do pós-moderno se contrapôs a diversos princípios do urbanismo moderno, propondo uma nova agenda para a cidade contemporânea. Assinale as a�rmações que correspondem a esta nova agenda e indique abaixo a opção correta: I. O automóvel voltou a ser valorizado, porque permite que as cidades se espalhem de maneira a serem menos densas e, assim, propiciem mais qualidade de vida aos seus habitantes. II. Embora os pensadores do urbanismo contemporâneo preconizem os condomínios residenciais como padrão ideal de habitação, o mercado imobiliário resistiu fortemente a esta nova tipologia. III. A valorização do contexto urbano, em detrimento da obra isolada, em Arquitetura, terminou por gerar uma revalorização dos centros históricos. IV. A diversidade de usos e tipologias em uma mesma área passou a ser considerada desejável, pois a cidade organizada por meio de zoneamento tornou-se excessivamente segregada e fragmentada.V. As megaestruturas passaram a ser vistas como a única alternativa para os graves problemas das cidades contemporâneas. As a�rmações corretas são apenas: I e IV II e V I e V III e IV I, IV e V Justi�cativa QUESTÃO 2 Analise as duas a�rmativas abaixo reproduzidas: 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 23/25 Em seu livro Morte e vida das grandes cidades, Jane Jacobs defendeu a necessidade de pequenos quarteirões, com interseções movimentadas criando mais conectividade entre os moradores de um bairro ou cidade. PORQUE O tráfego de veículos particulares precisava de alternativas ao congestionamento das vias expressas, que já prejudicava o desenvolvimento do modelo rodoviarista que a autora defendia como consequência natural da popularização do automóvel. Sobre essas duas a�rmativas, é correto a�rmar que: As duas a�rmativas são falsas. As duas são verdadeiras, mas não estabelecem relação entre si. A primeira é uma a�rmativa falsa; e a segunda, verdadeira. A primeira é uma a�rmativa verdadeira; e a segunda, falsa. As duas são verdadeiras, e a segunda é uma justi�cativa correta da primeira. Justi�cativa QUESTÃO 3 Em relação às diferentes visões sobre as cidades contemporâneas estudadas, nesta aula, é possível a�rmar que: I. O fenômeno da urbanização dispersa está ligado ao aumento do preço dos terrenos nas áreas centrais das grandes cidades norte-americanas e à popularização do automóvel particular após o �m da Segunda Guerra Mundial. II. Enquanto diversos autores preconizavam a necessidade de um retorno a uma escala mais humana e menos dependente do automóvel, diversas áreas de expansão das cidades, em diferentes países, continuaram a ser construídas com base na combinação de autoestradas, condomínios fechados e shopping centers. III. O modelo da dispersão urbana foi associado ao modelo de vida norte-americano e, por isso, não teve grande repercussão nos países em desenvolvimento, cujas cidades não cresceram por falta de recursos governamentais. IV. De acordo com alguns autores estudados, embora as cidades tenham crescido aceleradamente nas últimas décadas, a cidade contemporânea tem uma estruturação mais fragmentada do que as cidades tradicionais do século XIX. I e II I e III II e III III e IV I, II e IV Justi�cativa QUESTÃO 4 A partir das semelhanças e diferenças entre os modelos de cidade apresentados nesta aula, analise a a�rmativa que NÃO corresponde ao conteúdo estudado: 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 24/25 A urbanização dispersa, assim como a cidade do CIAM, tem um custo ambiental muito alto. A cidade genérica, assim como as áreas de urbanização dispersa, é estruturada a partir de autoestradas. Os pensadores do urbanismo pós-moderno celebravam a urbanização dispersa, assim como a cidade global. A cidade fragmentada de Pérgolis pode ser considerada uma releitura da cidade genérica de Koolhaas. Podem ser encontrados fragmentos dos diferentes modelos urbanos estudados em uma mesma cidade. Justi�cativa QUESTÃO 5 A América-Latina é uma região altamente urbanizada, estimando-se em 80% a sua taxa de urbanização. Em relação às grandes cidades dessa região, é correto a�rmar que as megacidades latino-americanas são: Buenos Aires, Cidade do México, Lima, Rio de Janeiro e São Paulo. Brasília, Buenos Aires, Cidade do México, Rio de Janeiro e São Paulo. Belo Horizonte, Buenos Aires, Cidade do México, Rio de Janeiro e São Paulo. Bogotá, Buenos Aires, Cidade do México, Lima e São Paulo. Buenos Aires, Cidade do México, Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo. Justi�cativa QUESTÃO 6 De�na megacidade e cite dois exemplos, sendo que um deles deve estar localizado em um país desenvolvido e outro deverá estar, necessariamente, em um país em desenvolvimento: Resposta Correta 14/10/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=1580711&classId=981738&topicId=2424617&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 25/25 Glossário
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