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FRAUDE CONTRA CREDORES E FRAUDE DE EXECUÇÃO

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FRAUDE CONTRA CREDORES E FRAUDE À EXECUÇÃO
Princípio da responsabilidade patrimonial
No processo de execução vigora, em regra, o princípio da responsabilidade patrimonial, segundo o qual o débito será quitado com o patrimônio do devedor.
Assim, com exceção da prestação alimentícia, o devedor não responde com seu corpo ou sua liberdade pelas dívidas que tenha. Esses débitos são adimplidos com o patrimônio que o devedor possua ou venha a possuir. Se não tiver patrimônio, o débito não é pago.
	Alienações fraudulentas feitas pelo devedor para fugir da responsabilidade patrimonial
Se o débito somente pode ser quitado com o patrimônio do devedor, podemos imaginar que, em alguns casos, a pessoa se desfaça de seus bens (verdadeiramente ou de maneira simulada) apenas para não pagar a dívida.
Alienando seu patrimônio, o devedor torna-se insolvente e não terá mais como os credores obterem a satisfação do crédito. Obs: devedor insolvente é aquele cujo patrimônio passivo (dívidas) é maior que o ativo (bens).
	Trataremos de duas formas de alienação fraudulenta: Fraude contra credores e fraude de execução.
É necessário, para um melhor entendimento, diferenciar as duas figuras de alienação fraudulenta: fraude à execução e fraude contra credores.
Ambas compreendem atos de disposição de bens ou direitos com o propósito de prejudicar o credor, desfalcando o patrimônio que lhe serviria de garantia.
	Tanto a fraude contra credores quanto a fraude à execução compreendem atos de disposição de bens ou direitos em prejuízo de credores, mas a diferença básica é a seguinte:
a fraude contra credores: consiste em ato de disposição de bens orientados pela vontade e consciência de prejudicar credores, na medida em que provoca a insolvência dos disponente, diminuindo seu patrimônio de forma a impedir a satisfação do crédito. Ocorre antes que os credores tenham ingressado em juízo para cobrar seus créditos; é causa de anulação do ato de disposição praticado pelo devedor, nos moldes do CC, art. 158 a 165; depende de sentença em ação própria; 
a fraude à execução ocorre no curso de ação judicial contra o alienante; é causa de ineficácia da alienação, nos termos do NCPC (791, I a V); opera independentemente de ação anulatória ou declaratória.
A fraude à execução, por sua vez, só pode ocorrer quando a alienação se dá no curso da ação judicial contra o alienante, e não é necessário que o devedor seja insolvente. 
Observa-se ainda, que a fraude contra credores destina-se apenas a atingir os interesses dos credores em particular, ao passo que a fraude à execução é mais grave: além de prejudicar os credores, viola o próprio desenvolvimento da atividade jurisdicional do Estado. Por ser de interesse público, esta última é tratada de forma mais enérgica pelo ordenamento jurídico.
Com relação aos seus efeitos, ressalta-se a diferença básica entre as duas espécies de alienação fraudulenta: enquanto a fraude contra credores gera anulação do ato tido como prejudicial ao credor, assegurando-lhe a ação revocatória (ação pauliana), os atos praticados pelo devedor em fraude à execução não dependem de nenhuma ação para sua anulação. São considerados ineficazes contra o credor, ou seja, a execução segue normalmente, como se a alienação ou oneração não tivessem ocorrido. Não se fala em nulidade ou anulabilidade, mas sim em ineficácia em relação ao credor prejudicado, sendo que o ato continua válido e eficaz perante terceiros.
Ainda, em virtude de ser ato atentatório à dignidade da justiça (art. 774, I do NCPC), em caso de fraude de execução o devedor está sujeito à aplicação de multa prevista no parágrafo único do art. 774 do NCPC.
FRAUDE CONTRA CREDORES
	Ocorre quando o devedor insolvente ou próximo da insolvência aliena (gratuita ou onerosamente) seus bens, com o objetivo de impedir que seu patrimônio seja utilizado pelos credores para saldar as dívidas. É classificado como sendo um “vício social”. Ocorre antes de ajuizada ação judicial contra o alienante.
Exemplo:
Bruno contraiu um empréstimo e não mais conseguiu pagar as parcelas. Antes que o mutuante buscasse judicialmente o cumprimento da obrigação, ele transferiu o seu carro (único bem que possuía em seu nome) ao irmão, que sabia de toda a situação.
Previsão:
A fraude contra credores é um instituto de direito material e encontra-se previsto nos arts. 158 a 165 do CC.
Fraude contra credores consiste, portanto, em ato de disposição de bens orientado pela vontade e consciência de prejudicar credores, na medida em que provoca a insolvência do disponente, diminuindo seu patrimônio de forma a impedir a satisfação do crédito.
	Em outro conceito, a fraude contra credores consiste, basicamente, na diminuição patrimonial do devedor até o ponto de reduzi-lo à insolvência. Tal diminuição patrimonial deve ter como consequência, para que fique configurada a fraude, uma situação econômica de insolvência, ou seja, é preciso que o devedor não mais tenha em seu patrimônio bens suficientes para garantir o cumprimento da obrigação (o passivo tenha se tornado maior que o ativo). 
	Assim, são dois os requisitos configuradores da fraude contra credores:
Eventus damni (dano): é o prejuízo provocado ao credor. Deverá ser demonstrado que a alienação acarretou prejuízo ao credor porque esta disposição dos bens levou o devedor à insolvência ou agravou ainda mais esse estado. É classificado como pressuposto objetivo. Assim, consiste na diminuição patrimonial até a redução à insolvência e costuma ser designado por “dano” – eventus dammi. Caracteriza-se por qualquer ato de disposição patrimonial praticado pelo devedor já insolvente, ou que por esse ato foi levado à insolvência.
b) Consilium fraudis: é o conluio fraudulento entre o alienante e o adquirente. Para que haja a anulação, o adquirente precisa estar de má-fé. É o pressuposto subjetivo. A intenção fraudulenta, a fraude bilateral (tanto do disponente devedor quanto do adquirente). Trata-se do elemento subjetivo, volitivo. É a “fraude” (consilium fraudi), consistente na intenção do devedor de causar o ‘dano”. Em outras palavras, é preciso, para que se considere um ato como fraude pauliana, que o devedor o tenha praticado com a intenção de provocar a redução patrimonial até o estado de insolvência.
O art. 159 do CC presume a má-fé do adquirente (presume o consilium fraudis) em duas hipóteses:
• Quando a insolvência do devedor/alienante for notória. Ex: Varig.
• Quando houver motivo para que a insolvência do devedor/alienante seja conhecida do outro contratante. Ex: se o negócio jurídico for celebrado entre dois irmãos ou entre sogro e genro.
Não é necessário provar o consilium fraudis caso a alienação tenha sido gratuita ou caso o devedor tenha perdoado a dívida de alguém (remissão).
c) Anterioridade do crédito: Além do eventus damni e do consilium fraudis, para reste configurada a fraude contra credores exige-se que o crédito seja anterior à alienação (art. 158, § 2º).
Assim, em regra, somente quem já era credor no momento da alienação fraudulenta é que poderá pedir a anulação do negócio jurídico.
Como é reconhecida a fraude contra credores?
Para que seja reconhecida a fraude, é necessária a prolação de sentença em uma ação proposta pelo credor, chamada de “ação pauliana” (ou “ação revocatória”).
Curiosidade: a ação pauliana (pauliana actio) é assim denominada por ter sido idealizada no direito romano, pelo conhecido “Pretor Paulo”.
	Assim, o instrumento a ser utilizado pelos prejudicados, a fim de combater os efeitos dessa fraude, é a ação pauliana (CC, 158 a 165, especialmente o art. 161), processado pelo rito comum do processo de conhecimento e com natureza constitutiva: sua eficácia desconstitui a eficácia do ato fraudulento. O efeito principal da ação pauliana é o de permitir que a execução recaia sobre bens fraudulentamente alienados, apesar de estes se encontrarem no patrimônio do terceiro adquirente. 
Legitimidadepara a ação:
Polo ativo:
Em regra, a ação deverá ser proposta pelo credor quirografário.
O credor que possua uma garantia contra o devedor/alienante, em tese, não teria interesse de ajuizar a ação, mas poderá fazê-lo caso demonstre que a sua garantia se tornou insuficiente em razão da alienação promovida pelo devedor.
Polo passivo:
Em regra, a ação é proposta contra o devedor insolvente e contra a pessoa que com ele celebrou o negócio fraudulento (há um litisconsórcio passivo necessário).
Se a pessoa que celebrou o negócio fraudulento já repassou o bem para uma terceira pessoa, a ação será intentada contra o devedor insolvente, contra a pessoa que celebrou o negócio com o devedor e contra o terceiro adquirente (deverá ser provado que o terceiro agiu de má-fé) art. 161 CC
	
FRAUDE À EXECUÇÃO 
A fraude de execução consiste em ato de ainda maior gravidade, pois é cometida no curso do processo de conhecimento ou de execução. Além de ser mais evidente o intuito de lesar o credor, em tal situação a alienação dos bens do devedor vem constituir verdadeiro atentado contra o eficaz desenvolvimento da função jurisdicional já em curso, porque lhe subtrai o objeto sobre o qual a execução deverá recair. A fraude frustra, então a atuação da Justiça e, por isso, é repelida mais energicamente. A fraude de execução está inclusive tipificada como crime (CP, art. 179).
Não há necessidade de nenhuma ação para anular ou desconstituir o ato de disposição fraudulenta. A fraude à execução pode ser reconhecida incidentalmente, no curso da execução, sem necessidade de ação própria. Além disso, por se tratar de questão de ordem pública pode ser declarada de ofício.
O NCPC relaciona as hipóteses de atos do executado que são considerados como fraude à execução nos incisos I a V do art. 792. 
	Observa-se que, em regra, a ocorrência da fraude depende de prévio registro do próprio processo ou da constrição que recai sobre o bem alienado indevidamente.	
	O § 1º dispõe que a alienação em fraude à execução é ineficaz em relação ao exequente, ou seja, não produz efeitos.
	O § 2º do art. 792 é novidade digna de nota no NCPC, já que se ocupa de situações em que a fraude se relaciona com bem que independe de registro. Nessas hipóteses, é ônus do adquirente (terceiro em relação ao processo) demonstrar que agiu com a cautela devida na aquisição do bem, mediante a exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem. 
O § 3º fixa a citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar, isto é, do réu originário do processo, para marcar o momento em que a fraude à execução é configurada.
O § 4º, por sua vez, impõe o dever de intimação do adquirente para, querendo, apresentar embargos de terceiros, viabilizando, com a iniciativa, o devido contraditório, antes do reconhecimento de eventual fraude. Trata-se de regra que especifica, para casos relativos à fraude à execução, o disposto no parágrafo único do art. 675. O prazo para os embargos de terceiros neste caso é de 15 dias, que deve prevalecer sobre a regra genérica do art. 675, caput. 
CONCLUSÃO
	Diante do exposto, conclui-se que a fraude de execução é uma das figuras de alienação fraudulenta que mais causa prejuízos à boa fé e à segurança dos negócios jurídicos.
	Exige a alienação ou oneração de um bem na pendência de um processo condenatório ou executório para a sua configuração. Ressalte-se que é indispensável a citação do réu antes de considerar uma ação pendente.
	Ainda, ao contrário da fraude contra credores, que necessita da ação pauliana, a fraude de execução dispensa ação para desconstituir ou anular o ato de disposição fraudulenta, pois este não é nulo ou anulável, mas simplesmente ineficaz perante o credor prejudicado. Comprovou-se que ambas são modalidades de disposição fraudulenta, mas distintas uma da outra.
	Com relação ao registro da pendência de ação, conclui-se que não é obrigatório. Porém, na inexistência deste, cabe ao terceiro adquirente comprovar que não agiu de má-fé.
	É mais grave do que a fraude contra credores, pois se dá no curso de um processo judicial, não agredindo somente o credor, mas a própria atividade jurisdicional do Estado. Nesse contexto, é atentatória à dignidade da justiça.
	Verifica-se que, o objetivo do instituto da fraude de execução é dar maior segurança às relações jurídicas. Mais especificamente, não permite que, no curso de um processo, o devedor aliene bens, frustrando a execução e impedindo a satisfação do credor mediante a expropriação de bens, que é a finalidade principal do processo de execução.
	Por fim, a existência de uma escalada de situações, quanto ao nível de gravidade, entre as diversas modalidades de fraude. Da menos grave - fraude contra credores -, passando pela fraude de execução, até chegar à modalidade mais grave – alienação de bem penhorado. 
QUESTÕES
Relacione duas distinções fundamentais entre fraude contra credores e fraude à execução.
Quais os requisitos configuradores da fraude contra credores?
Quais as sanções previstas para quem frauda à execução?
Qual o ônus para o adquirente de bem, objeto de ação fundada em direito real e que não está sujeito a registro?
No caso anterior, como o terceiro adquirente pode se defender e em qual prazo?

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