Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Redação 1 Caro professor, este material foi confeccionado a fim de proporcionar suporte teórico às aulas de Produção Textual. Contudo, sugerimos que os temas trabalhados sejam atualizados ano a ano. TEXTO 1 A REGREÇÃO DA REDASSÃO Semana passada, recebi um telefonema de uma senhora que me deixou surpreso. Pedia encarecidamente que ensinasse seu filho a escrever. - Mas, minha senhora - desculpei-me -, eu não sou professor. - Eu sei. Por isso mesmo. Os professores não têm conseguido muito. - A culpa não é deles. A falha é do ensino. - Pode ser, mas gostaria que o senhor ensinasse o menino. O senhor escreve muito bem. - Obrigado - agradeci -, mas não acredite muito nisso. Não coloco vírgulas e nunca sei onde botar os acentos. A senhora precisa ver o trabalho que dou ao revisor. - Não faz mal - insistiu -, o senhor vem e traz um revisor. - Não dá, minha senhora - tornei a me desculpar -, eu não tenho o menor jeito com crianças. - E quem falou em crianças? Meu filho tem 17 anos. Comentei o fato com um professor, meu amigo, que me respondeu: "Você não deve se assustar, o estudante brasileiro não sabe escrever". No dia seguinte, ouvi de outro educador: "O estudante brasileiro não sabe escrever". Depois li no jornal as declarações de um diretor da faculdade: "O estudante brasileiro escreve muito mal". Impressionado, saí à procura de outros educadores. Todos me disseram: acredite, o estudante brasileiro não sabe escrever. Passei a observar e notei que já não se escreve mais como antigamente. Ninguém mais faz diário, ninguém escreve em portas de banheiros, em muros, em paredes. Não tenho visto nem aquelas inscrições, geralmente acompanhadas de um coração, feitas em casca de árvore. Bem, é verdade que não tenho visto nem árvore. - Quer dizer - disse a um amigo enquanto íamos pela rua - que o estudante brasileiro não sabe escrever? Isto é ótimo para mim. Pelo menos diminui a concorrência e me garante emprego por mais dez anos. - Engano seu - disse ele. - A continuar assim, dentro de cinco anos você terá que mudar de profissão. - Por quê? - espantei-me. - Quanto menos gente sabendo escrever, mais chance eu tenho de sobreviver. - E você sabe por que essa geração não sabe escrever? - Sei lá - dei com os ombros -, vai ver que é porque não pega direito no lápis. - Não senhor. Não sabe escrever porque está perdendo o hábito da leitura. E quando o perder completamente, você vai escrever para quem? Taí um dado novo que eu não havia considerado. Imediatamente pensei quais as utilidades que teria um jornal no futuro: embrulhar carne? Então vou trabalhar num açougue. Serviria para fazer barquinhos, para fazer fogueira nas arquibancadas do Maracanã, para forrar sapato furado ou para quebrar um galho em banheiro de estrada? Imaginei-me com uns textos na mão, correndo pelas ruas para oferecer às pessoas, assim como quem oferece hoje bilhete de loteria: - Por favor, amigo, leia - disse, puxando um cidadão pelo paletó. - Não, obrigado. Não estou interessado. Nos últimos cinco anos a única coisa que leio é a bula de remédio. - E a senhorita não quer ler? - perguntei, acompanhando os passos de uma universitária. – A senhorita vai gostar. É um texto muito curioso. - O senhor só tem escrito? Então não quero. Por que o senhor não grava o texto? Fica mais fácil ouvi-lo no meu gravador. - E o senhor, não está interessado nuns textos? - É sobre o quê? Ensina como ganhar dinheiro? - E o senhor, vai? Leva três e paga um. - Deixa eu ver o tamanho - pediu ele. Assustou-se com o tamanho do texto: - O quê? Tudo isso? O senhor está pensando que sou vagabundo? Que tenho tempo para ler tudo isso? Não dá para resumir tudo em cinco linhas? A seguir assim, logo o verbo escrever mudará sua grafia para “ex-crever”. (Carlos Eduardo Novaes, 1976 – Texto Adaptado) Considerando o texto acima, responda as questões a seguir, prezando sempre pela clareza, pela coerência, pela coesão e pelo respeito às normas gramaticais. Tarefa Mínima 1. Explique a relação existente entre o título e o conteúdo do texto lido. 2. Qual foi a reação inicial do narrador ao se conscientizar de que os alunos não escrevem como o esperado? 3. Em determinada passagem do texto, foi explicado ao narrador-personagem que não lhe era vantajoso os alunos escreverem mal. Explique que prejuízo essa deficiência dos estudantes traria ao dito personagem. 4. O que Carlos Eduardo Neves quis sugerir com o termo “ex-crever”? 5. O texto que você acaba de ler levanta uma problemática da atualidade. Produza um parágrafo (entre 10 e 15 linhas), discutindo-a. DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO Uma palavra é tomada no sentido denotativo quando é entendida no seu sentido literal, na sua significação básica, sem que se leve em conta o contexto em que está inserida. Toma-se o sentido conotativo quando se faz uma análise contextual da palavra, admitindo-se a associação valorativa a outros conceitos possíveis. FIGURAS DE LINGUAGEM Podem ser classificadas em quatro tipos: figuras de som, figuras de palavra, figuras de construção e figuras Redação 2 de pensamento. A seguir, veremos as principais figuras de cada um dos tipos: ALITERAÇÃO – é a repetição ordenada de consoantes de mesmo som, podendo sugerir, além do próprio jogo de som, a ideia de movimento. Ex.: “A brisa do Brasil beija e balança” (Castro Alves, “O Navio Negreiro”). ONOMATOPEIA – é a imitação de determinado som a partir da criação de uma palavra. Ex.: “Um forró de pé-de-serra Fogueira, milho e balão, Um tum-tum-tum de pilão, Um cabritinho que berra(...)” (Jessier Quirino, “Paisagem de Interior”) METÁFORA – Consiste na utilização de uma palavra para designar outra, com base em traços de similaridade entre os seus conceitos. É a realização de uma comparação implícita, sem o emprego de um termo comparativo. Ex.: “O amor é pedra no abismo, a meio passo entre o mal e o bem” (Zeca Baleiro, “Cigarro”) CATACRESE – É o emprego de palavras com um sentido diferente do real, mas cujo uso reiterado torna imperceptível o sentido figurado. Ex.: “O pé da mesa”, “A perna da calça”, “Embarcar no avião”, etc. METONÍMIA – Assim como na metáfora, emprega- se um termo para designar outro, cujo conceito guarda uma relação lógica com o termo empregado. Substitui- se, por exemplo, o autor pela obra, a parte pelo todo, a marca pelo produto, etc. Ex.: “Devolva o Neruda que você me tomou, e nunca leu (...)” (Chico Buarque, “Trocando em Miúdos”) Aqui, refere-se ao autor Pablo Neruda em lugar da obra. ANTONOMÁSIA ou PERÍFRASE - É a utilização de uma expressão caracterizadora para designar um nome próprio. Ex.: “O poeta dos escravos”, referindo-se a Castro Alves; “A cidade maravilhosa”, em lugar de Rio de Janeiro. SINESTESIA - É uma derivação da metáfora e ocorre quando numa mesma expressão misturam-se sensações percebidas por diferentes órgãos de sentidos. Ex.: “Você tem uma voz macia.” (a voz é percebida pela audição e a maciez, pelo tato) “Sinto o cheiro doce da paixão.” (o cheiro é olfativo, enquanto o doce é percebido pelo paladar) ELIPSE – ocorre quando da omissão proposital de um termo facilmente identificável através do contexto ou de elementos presentes na própria oração. Ex.: “No jardim, flores secas e cores mortas” (há omissão de havia) EUFEMISMO – é a suavização de uma expressão por meio da sua substituição por outra maispolida e sutil. Ex.: “João bateu as botas.” (em vez de : João morreu.) “Ela é uma dama da noite.” (em vez de: Ela é uma prostituta.) HIPÉRBOLE – é o exagero enfático de uma ideia. Ex.: “Estou morrendo de sede.” “Ele ganha rios de dinheiro.” PROSOPOPEIA ou PERSONIFICAÇÃO – é a atribuição de predicados próprios dos seres vivos a seres inanimados. Ex.: “A noite chora a sua ausência.” “Esta cama me convida ao sono.” ANTÍTESE – é a oposição de frases, orações ou palavras de sentido contrário. Ex.: “Onde queres prazer sou o que dói (...)” (Caetano Veloso, “Quereres”) “És velho na idade e jovem na alma.” IRONIA - é o uso de um termo com a finalidade de expressar o oposto do que este significa, dando um efeito humorístico ou crítico à mensagem. Ex.: “Moça linda,, bem tratada, três séculos de família, burra como uma porta: um amor” (Mário de Andrade) GRADAÇÃO – é a apresentação de ideias numa sequência ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax). Ex.: “Um coração chagado de desejos Latejando, batendo, restrugindo.” (Vicente de Carvalho). Exercícios de Sala 1. A prosopopeia, figura que se observa no verso "Sinto o canto da noite na boca do vento", ocorre em: a) "A vida é uma ópera e uma grande ópera." b) "Ao cabo tão bem chamado, por Camões, de Tormentório, os portugueses apelidaram-no de Boa Esperança." c) "Uma talhada de melancia, com seus alegres caroços." d) "Oh! eu quero viver, beber perfumes. Na flor silvestre, que embalsama os ares." e) "A felicidade é como a pluma..." 2. Assinalar a alternativa que contém as figuras de linguagem correspondentes aos períodos a seguir: I. "Está provado, quem espera nunca alcança". II. "Onde queres o lobo sou o irmão". III. Ele foi discriminado por sofrer de uma doença contagiosa muito falada atualmente. IV. Ela quase morreu de tanto estudar para o vestibular. a) ironia - antítese - eufemismo - hipérbole b) eufemismo - ironia - hipérbole - antítese c) antítese - hipérbole - ironia - eufemismo d) hipérbole - eufemismo - antítese - ironia e) ironia - hipérbole - eufemismo – antítese Redação 3 3. Assinale a alternativa na qual a CONOTAÇÃO esteja presente. a) Diante da explosão da aniversariante, todos engoliram o sorriso. b) A mesa estava imunda e as mães enervadas com o barulho que os filhos faziam. c) O vendedor insistira muito e ela, sempre tão tímida quando a constrangiam, acabou por comprar as rosas. d) Quando recolheu do chão o caderno aberto, viu a letra redonda e graúda que era a sua. e) Todas eram vaidosas e de pernas finas, com aqueles colares falsificados e com as orelhas cheias de brincos. DEFEITOS E QUALIDADES DE UM TEXTO Para que um texto seja considerado bem-sucedido, é necessário prezar por: clareza; coerência; coesão; correção gramatical; elegância. Assim, sabe-se que os ditos “defeitos” de um texto devem ser evitados! Os mais comuns são: A. Ambiguidade Uma frase ambígua é aquela que apresenta mais de um sentido. Veja: “Em época de pleito* é comum ouvirmos candidatos dizendo ao povo que se preocupam com o seu bem-estar”. *Ortografia/Semântica: pleito = eleição; preito = homenagem. Analisando: “bem-estar” de quem? Do próprio candidato? Do povo? Percebe-se que o pronome possessivo (seu) não foi bem-empregado. B. Obscuridade A obscuridade é ainda pior que a ambiguidade, pois, quando se é ambíguo, pode-se dar margem a duas interpretações, ao passo que na obscuridade, muitas vezes, não podemos nem mesmo imaginar do que se trata. É uma falta total de clareza. Normalmente a obscuridade é causada por frases longas, má pontuação, desrespeito às normas gramaticais e linguagem rebuscada. Analise um trecho retirado da Folha de São Paulo já há algum tempo: “As videolocadoras de São Carlos estão escondendo suas fitas de sexo explícito. A decisão atende a uma portaria de Dezembro de 2001, do Juizado de Menores, que proíbe que as casas de vídeo aluguem, exponham e vendam fitas pornográficas a menores de dezoito anos. A portaria proíbe ainda os menores de dezoito anos de irem a motéis e rodeios sem a companhia ou autorização dos pais.” Fica a pergunta: então, se estiverem acompanhados dos pais, os menores poderão ir a motéis? C. Pleonasmo É uma espécie de redundância. No Ensino Médio estudamos que Pleonasmo faz parte dos Vícios de Linguagem e nos são passados exemplos de expressões que devemos evitar, tais como “subir para cima”, “descer para baixo”, “entrar para dentro” e “sair para fora”. Contudo, não são apenas esses os pleonasmos existentes. Veja outros casos: matinal da manhã, noturno à noite, hemorragia de sangue, dois irmãos gêmeos, ganhou de graça, recinto fechado, certeza absoluta, grande maioria e outros casos. Atenção: quando usado de maneira poética, o pleonasmo não constitui um erro. Exemplos: “E rir meu riso e derramar meu pranto.” (Vinícius de Moraes) “Os sonhos mais lindos, sonhei...” (F. D. Marchetti e M. de Feraudy, veersão de Armando Louzada). Há casos de Pleonasmo mais comuns do que se imagina! “Acesso restrito somente a funcionários do setor.” “Há cinco anos atrás (...).” “Este produto é de boa qualidade.” “Isso é um pequeno detalhe.” “Estas são propriedades próprias do sódio.” “Que surpresa inesperada!” D. Cacofonia É um som desagradável (às vezes obsceno), resultante da proximidade de determinadas sílabas. Por exemplo: lá tinha; da vez passada; mande-me já; Ô, dor horrível! E. Eco É a repetição de terminações (mesmo som). Observe: A decisão causou comoção na população. Corrigindo: A decisão fez com que o povo se comovesse. F. Prolixidade A prolixidade é o oposto da concisão. Consiste, portanto, em utilizarmos mais palavras do que o necessário, tornando a leitura cansativa e de difícil compreensão. O uso de cacoetes linguísticos (expressões que não acrescentam nada ao texto, as quais só falamos porque estamos acostumados a ouvir) deve ser evitado. Por exemplo, não devemos introduzir um texto com expressões do tipo “antes de mais nada” ou “inicialmente”, pois, se estamos iniciando, é óbvio que é “inicialmente”. Outros casos: pelo contrário, por outro lado, por sua vez. Na prolixidade (lembre: ser prolixo é “enrolar”; é não ser objetivo), também encontramos o uso dos chavões. Os chavões são frases ou expressões “feitas” que só empobrecem o texto. Veja alguns exemplos: inflação galopante, caloroso abraço, caixinha de surpresas, vitória esmagadora e outros. Redação 4 G. Incoerência Ser incoerente é se contradizer. Por isso, tome muito cuidado e releia mais de uma vez seu texto, analisando- o, principalmente para que a conclusão não destoe do restante do texto. O desrespeito às regras gramaticais pode causar incoerência. Portanto, tenha muita atenção com as regras de concordância, de regência, de acentuação e até mesmo com a ortografia. Veja: RETIFICAR = corrigir. RATIFICAR = confirmar. IR DE ENCONTRO = chocar-se; ideias contrárias. IR AO ENCONTRO = lado a lado; ideias afins, semelhantes. Tarefa Mínima 1. Leia com atenção o texto a seguir e identifique os problemas existentes nas passagens numeradas: “A exploração do trabalho infantil, ela é algo (1) alarmante e intrigante (2). Seu índice tem diminuído (3) nos últimos anos, talvez pelas medidas tomadas pelo governo. E isso (4) é de responsabilidade do governofederal e não do estadual. Na época de nossos avós, isso não acontecia (4), pois viviam na tranquilidade do interior. Lá tinha (5) tudo que precisavam (6). Os governantes valorizavam o povo e mantinham seu conforto (7).” 2. Há uma ambiguidade no trecho: a) “Esse tipo de crime vem sendo praticado no mundo inteiro.” b) “Há quem se sirva até mesmo de violência na guerra por bens materiais.” c) “Há filhos matando pais para tomarem o que lhes pertence.” d) “Basta andarmos uns minutos observando as atitudes do ser humano e perceberemos do que ele é capaz.” e) “Por quererem mostrar que podem mais que os outros, acabaram conquistando a antipatia alheia.” 3. A expressão “má qualidade” constitui: a) pleonasmo. b) ambiguidade. c) incoerência. d) obscuridade. e) cacofonia. 4. Certo dia houve, na Inglaterra, um jogo entre Brasil e Argentina. Pouco antes do início da partida, um comentarista esportivo da Rede Globo afirmou: “O estádio é um espetáculo! Mas o gramado é um tapete: a bola rola com a maior perfeição.” a) Para fazer alusão à qualidade do gramado, usou-se uma metáfora. Sublinhe-a. b) Explique o sentido dessa metáfora. c) Após responder às questões “a” e “b”, percebemos que o comentarista não formulou bem seu comentário. Explique a incoerência cometida. 5. Agora analise um trecho de uma fala de um apresentador de telejornal, feita logo após um comentário sobre a fauna brasileira: “(...) a caça e a extração ilegais de palmito (...).” a) Tal passagem apresenta uma incoerência. Qual? b) Reescreva a fala do jornalista, de modo a torná-la coerente. 6. Todas as frases listadas a seguir apresentam ambiguidade. Indique quais são as interpretações possíveis em cada caso: a) O juiz declarou ter julgado o réu errado. b) O piloto enjoado levantou voo. c) Comprou um carro rápido. d) Deixou a sala vazia. e) Confessou os erros que cometeu com franqueza. f) O jornal criticou a peça exibida com falta de talento. g) Trata-se de um estudo a respeito de Machado de Assis cuja leitura recomendo. h) A professora deixou a turma entusiasmada. “Durante a sua carreira de goleiro, iniciada no Comercial de Ribeirão Preto, na sua terra natal, Leão, de 51 anos, sempre impôs seu estilo ao mesmo tempo arredio e disciplinado. Por outro lado, costumava ficar horas aprimorando seus defeitos após os treinos. Ao chegar à seleção brasileira em 1970, quando fez parte do grupo que conquistou o tricampeonato mundial, Leão não dava um passo em falso. Cada atitude e cada declaração eram pensadas com um racionalismo típico de sua família, já que seus outros dois irmãos, Edmílson, 53 anos, e Édson, 58, são médicos.” Correio Popular, edição de 20/Out./2000. 7. O que aconteceria com Leão se ele, efetivamente, ficasse “aprimorando seus defeitos”? 8. A expressão “Por outro lado” contribui para tornar o trecho incoerente. Por quê? 9. A charge a seguir apresenta coerência incontestável. O que tornou coerente a fala de Hagar? 10. Analise, agora, a segunda tira de Chris Browne: o que torna o terceiro quadrinho incoerente em relação ao primeiro? Redação 5 Coesão textual Quando conspiravam para derrubar a Monarquia, os líderes republicanos já sabiam como seria a bandeira da República. Ela já estava desenhada, inspirada pelo exterior, especificamente pela França. Seguia o pensamento de Auguste Comte (1798-1857), que defendia que cada sociedade deveria ter por divisa “o amor por princípio, a ordem por base e o progresso como objetivo.” As bandeiras nacionais deveriam ter a inscrição: Amor, Ordem e Progresso. Na nossa bandeira, não coube a palavra “Amor”. Ficaram apenas “Ordem e Progresso”. Mas muitas outras palavras ficaram ausentes. No texto acima, os pronomes: “ela” e “que” retomam expressões ditas anteriormente, são elementos anafóricos, responsáveis, portanto, pela coesão textual, ou seja, por uma melhor organização do texto. Observe o próximo parágrafo: O resultado de tudo isso é que a população brasileira ficou mais velha. No entanto, não houve mudanças significativas na qualidade de vida, na distribuição da riqueza e, principalmente, das terras, que no Brasil sempre foram o privilégio histórico da minoria. A população ficou mais velha e mais pobre também. A distância entre ricos e pobres só fez aumentar nestas décadas e, até hoje, esse processo não foi revertido. Aqui se cruzam a luta pela cidadania e a terceira idade. As palavras destacadas acima são anafóricos, pois retomam algo que foi dito antes. Entre elas, que e no entanto são conjunções; principalmente, sempre, também e aqui são advérbios. Atenção! Esse ou este? 1) Para localização de seres no espaço usamos: - “esta”, “isto” se nos referimos a algo próximo de quem está falando. Como em: Pedro, esta minha saia é nova. - “essa”, “isso” se nos referimos a algo próximo da pessoa com quem se está falando. Como em: Pedro, você vai à festa com essa gravata? 2) Para localização no tempo usamos: - “este”, “esta”, “isto” em relação a um espaço de tempo presente. Como em: Este ano quero paz/ No meu coração/ Quem quiser ter um amigo/Que me dê a mão... - “esse” em relação a um espaço de tempo passado. Como em: No ano passado, tive muitos contratempos, foi um ano difícil; não gosto de me lembrar desse ano. 3) Nas cartas: - “este”, “esta” referem-se ao local em que se encontra o redator. - “esse”, “essa” referem-se ao local em que se encontra o destinatário. Exemplo: Esta capital, Rio de Janeiro, sediará os Jogos Olímpicos; sentir-se-á honrada em contar com os atletas dessa cidade. 4) Nos textos técnicos (dissertativos): - “isto” é um catafórico, refere-se a algo que será dito. Como em: Não esqueça isto: disciplina é importante. - “esse” é um anafórico, refere-se a algo que já foi dito. Como em: Disciplina é importante; isso não devemos esquecer. Exercícios de Sala 1. Leia, com atenção, a proposta de redação da UNICAMP de 2006, o exemplo de redação abaixo da média e a análise da banca corretora. PROPOSTA DE REDAÇÃO Com o auxílio de elementos presentes na coletânea, trabalhe sua dissertação a partir do seguinte recorte temático: Diferentes são os meios de transporte, assim como as políticas adotadas pelo Estado para viabilizá-los. O Estado pode atuar de forma mais direta, por meio de financiamentos, concessões, isenções e privilégios fiscais, ou apenas exercer um papel regulador dos diversos setores envolvidos. Instruções 1) Discuta que meio(s) de transporte deve(m) ser priorizado(s) para atender às necessidades da realidade brasileira atual. 2) Trabalhe seus argumentos no sentido de explicitar como esse(s) meio(s) pode(m) ser viabilizado(s) e qual poderia ser o papel do Estado nesse processo. 3) Explore tais argumentos de modo a justificar seu ponto de vista. Tipos redacionais: - Dissertação; - Descrição; - Narração; - Carta argumentativa; TEXTO DESCRITIVO A descrição é um retrato verbal. Então para que esse tipo de texto seja bem-sucedido, deve ser capaz de fazer com que o leitor visualize o que ou em está sendo descrito. Analise: Iracema saiu do banho: o alfajor d’água ainda a roreja, como à doce magaba que corou em manhã de chuva. Redação 6 Produzir um texto exclusivamente descritivo pode não ser uma boa opção, pois a leitura corre o risco de tornar-se cansativa.Contudo, é excelente servir-se da descrição para enriquecer outros textos: dar veracidade ao exposto, mas sempre tomando muito cuidado a fim de evitar a prolixidade. DESCRIÇÃO OBJETIVA E DESCRIÇÃO SUBJETIVA Compare: a) A casa é pequena. Nela, há somente um dormitório, um banheiro, sala, cozinha e uma área de serviço. O jardim, embora também seja pequeno, é bonito e repleto de flores. b) A casa é pequena. Nela, há somente meu aconchegante cantinho de dormir, um banheiro, sala para acolher meus amigos quando me presenteiam com sua visita. Há também o meu terror: a cozinha. É nela que fica o fantasma das colorias – a geladeira! A área de serviço é o beco do trabalho! O jardim é um encanto. Lindo e colorido! I - Descrição Objetiva É aquela em que o observador apresenta o tema-núcleo de maneira impessoal, empregando a representação fiel ao aspecto exterior. I - Descrição Subjetiva É aquela em que o observador apresenta o tema-núcleo de maneira pessoal, empregando a imaginação e externando suas impressões pessoais. Observação: Para que um texto descritivo tenha êxito, uma boa dica é explorar a base sensorial. a) Visão “A dona era uma idosa franzina, de cabelos mais negros que a asa da graúna. Vestia um pijama desbotado, de seda japonesa. Tinha as unhas bem curtas, recobertas por uma crosta de esmalte vermelho escuro, descascado nas pontas.” (Lygia Fagundes Telles, “As formigas”) b) Audição “De uma mesa distante, a única ocupada ainda, vinha o ruído de vozes de homens. Uma gargalhada sonora em meio de vozes exaltadas. E a palavra cabrito saltou dentre outras que se arrastavam pastosas. Num rádio da vizinhança, ligado ao volume máximo, havia uma canção que contava a história de uma jovem a qual vendia violetas na porta do teatro. A voz da cantora era plana e um pouco fanhosa.” (Lygia Fagundes Teles, “A ceia”) c) Olfato “Lá, os armazéns tresandavam* a lixo e peixe podre, a latas vazias de óleo como cheiro de homens esfarrapados.” (Autran Dourado, “A barca dos homens”) *tresandar = 1. fazer andar para trás; 2. exalar (mau cheiro); 3. cheirar mal. d) Tato “O pai comprou o sapado dois números maiores (...). Enfiou o sapato branco, um rígido como só o couro pode ser, no pé frio e trêmulo do garoto. Ao pentear o loiro e sedoso cabelo do caçula, a cabeça ainda em fogo.” (Dalton Trevisan, “Pedrinho”) e) Paladar “Deitado, ele beliscou dois ou três gomos. Chupou o sumo azedo, deixou cair a casca no prato. Apanhou outro bago, desta vez mais doce.” TEXTO NARRATIVO O texto narrativo tem sua base em fatos, ações as quais fazem com que o enredo se desenvolva. Para que a narrativa tenha sucesso, é imprescindível que haja o conhecimento do tema e se defina o enredo, para só então escolher os personagens. Por quê? Porque a escolha prévia dos personagens é “um convite” à prolixidade, pois acabamos preocupando-nos com a participação de cada um deles e nos esquecemos de enriquecer nosso desenvolvimento. ELEMENTOS DA NARRATIVA I – Discurso II – Narrador III – Personagem IV – Tempo PRODUÇÃO TEXTUAL PROPOSTA 1 Na obra Inocência, temos um narrador de 3ª pessoa. Mas como ficaria esse enredo sendo contado por um dos personagens ou até mesmo pela protagonista? Assim, produza um texto narrativo, sintetizando a dita obra de Visconde Taunay, e fazendo com que algum desses seja o narrador. Mas sem esquecer: cada um tem seu ponto de vista, seu modo de perceber os acontecimentos e de relatá-los. TEXTO DISSERTATIVO RELAÇÃO DE SENTIDOS - O encadeamento de ideias - Uma boa forma de se buscar um encadeamento de ideias capaz de deixar seu texto claro é trabalhar com premissas. Veja: PREMISSA Um dos meios mais simples de argumentar é a premissa: a apresentação de duas frases, uma das quais é conclusão da outra. INFERÊNCIAS Quando observamos um fato, tiramos algumas “conclusões” (inferências). Imaginemos, por exemplo, que leiamos a seguinte manchete em um jornal: “Brasil importa automóveis da França”. Poderíamos, então, tirar como possíveis conclusões: 1 – o Brasil não está produzindo automóveis em número suficiente; 2 – a economia brasileira está cada vez mais dependente da estrangeira; Redação 7 3 – os automóveis importados são os preferidos dos brasileiros. Contudo, nem sempre as inferências são verdadeiras. Por isso é necessário analisar uma a uma das levantadas antes de integrá-las à argumentação. Para praticar: 1. Indique uma inferência de caráter positivo e outra de negativo para cada uma das afirmações manchetes a seguir: a) Florianópolis não “acolherá” a próxima Copa. b) Aulas de Ensino Religioso voltarão a ser obrigatórias no Ensino Fundamental. c) O Carnaval se aproxima. d) As questões discursivas são cobradas em muitos vestibulares. A favor ou contra? 1. Em cada item há uma afirmação. Indique dois argumentos capazes de defendê-la e outros dois que se oponham a ela: a) As provas de múltipla escolha devem ser proibidas. b) Mulheres já têm tantos cargos de chefia quanto os homens. c) Maiores de 15 anos já deveriam receber penas semelhantes às destinadas a adultos. d) Hoje está mais fácil comprar um carro. e) Ministério da Saúde levanta a hipótese de alguns medicamentos, hoje só vendidos com receita, passarem a não necessitar de prescrição médica. CARTA ARGUMENTATIVA Como o próprio nome já diz, é a correspondência em que se apresenta uma argumentação. Nela, não podem faltar os itens: Local e data; Saudação; Despedida; Assinatura (no caso de vestibular, falsa, a fim de que não haja identificação do candidato). OLHA A TAL CARTA AÍ, GENTE! PROPOSTA 3 (UFSC 2007) A partir da leitura dos trechos de poemas transcritos abaixo, o que você escreveria ao presidente da Organização das Nações Unidas (ONU)? POEMA A: “[...] Mas oh não se esqueçam Da rosa da rosa Da rosa de Hiroxima A rosa hereditária A rosa radioativa Estúpida e inválida A rosa com cirrose A anti-rosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada.” (MORAES, Vinícius de. A Rosa de Hiroxima. In: Nova Antologia Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2004). POEMA B: “Nós merecemos a morte, porque somos humanos, e a guerra é feita pelas nossas mãos, pela nossa cabeça embrulhada em séculos de sombra, por nosso sangue estranho e instável, pelas ordens que trazemos por dentro, e ficam sem explicação.” (MEIRELLES, Cecília. Lamento do Oficial por seu Cavalo Morto. In: Obra Poética. 1 ed. Rio de Janeiro: Aguilar, 1958 ). POEMA C: “Este é tempo de partido, tempo de homens partidos. [...] O poeta declina de toda responsabilidade na marcha do mundo capitalista e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas promete ajudar a destruí-lo como uma pedreira, uma floresta, um verme.” (DRUMMOND DE ANDRADE, C. Nosso Tempo. In: A Rosa do Povo. Rio de Janeiro: Record, 2004). (UFSC 2009.1) Observe o quadro Cena de família, do pintor paulista Almeida Júnior (1850-1899). (UFSC 2009.2) A partir de sua compreensão do poema transcrito abaixo, escreva uma carta a um amigo sobre seus sentimentos, hoje, a respeito do país em que você nasceu. Assine “Fulano de Tal”. UMA CANÇÃO Minha terra não tem palmeiras... E em vez de um mero sabiá, Cantam aves invisíveis Nas palmeiras que não há. Minha terratem relógios, Cada qual com sua hora Nos mais diversos instantes... Mas onde o instante de agora? Mas onde a palavra “onde”? Terra ingrata, ingrato filho, Sob os céus da minha terra Eu canto a Canção do Exílio! QUINTANA, Mário. Poesias. Porto Alegre: Globo/SERS. 1962. Proposição 3: Redija uma carta
Compartilhar