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UNIDADE 3 DA DISCIPLINA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO (APOSTILA)

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História da Educação - Unidade Nº 3 - Do Império à República: as mudanças na educação 
 
 
 
 
História da Educação 
 
 
Unidade Nº 3 - Do Império à República: as 
mudanças na educação 
 
 
 
 
Eliane de Siqueira 
 
 
História da Educação - Unidade Nº 3 - Do Império à República: as mudanças na educação 
 
Introdução 
Na unidade anterior, falamos do desenvolvimento do Brasil enquanto colônia 
de Portugal e da tentativas de desenvolver um processo educativo baseado nas 
missões dos jesuítas. A catequese desenvolvida inicialmente com os índios é 
considerada uma das primeiras formas de educação que se desenvolveu no Brasil. 
Não podemos esquecer que todo processo tinha como real intenção favorecer 
o processo de colonização que mais tarde colocaria o Brasil como colônia de Portugal, 
ficando todas as riquezas do país a disposição das leis, regimentos e outras medidas 
exploratórias impostas por Portugal e isso perdurou durante muito tempo. 
Em 1822, quando o Brasil tornou-se independente de Portugal, um novo 
período inicia-se e com ele muitas mudanças que também incluem a esfera 
educacional. Essa fase, chamada de Império, dura até 1889, ano em que ocorreu a 
Proclamação da República e um novo regime se estabeleceu. 
É sobre estas mudanças que falaremos nesta unidade, buscando contextualizar 
o período e refletir sobre o cenário educativo que se constituiu. 
 Bons estudos! 
1. Educação no Brasil Imperial 
A Independência do Brasil ocorreu no dia 07 de setembro de 1822. Após um 
longo período de exploração, insatisfeitos com algumas medidas impostas por 
Portugal, um movimento liderado por Dom Pedro proclamou o Brasil como país 
independente. Neste dia, Dom Pedro realizou o que historicamente conhecemos com 
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o nome de “Grito da Independência” (Figura 1) e o Brasil deixa de ser colônia de 
Portugal. 
Figura 1- Pintura representativa do Grito da Independência. Fonte: Wikipedia, 2019 
Mas o que mobilizou essa insatisfação? 
O processo de independência teve início com a Revolução Liberal de Porto. A 
queda dos lucros dos comerciantes portugueses, crise econômica, insatisfação dos 
militares e a ausência temporária da corte em Portugal fez com que a burguesia 
exigisse que D. João VI voltasse para Portugal e que a liberdade econômica que vinha 
sendo adquirida pelo Brasil fosse contida. 
Isso gerou grande insatisfação nos brasileiros, e fortaleceu o movimento de 
independências que já tinha sido iniciado. 
Nesse período, o Brasil era governado por um regime monárquico liderado por 
D.Pedro. Tivemos um período marcado por vários golpes, campanhas abolicionistas e 
guerras que culminaram com o enfraquecimento da monarquia e crise econômica no 
país subdivididos em: 
- 1º Reinado: corresponde à fase inicial do período dominado pela monarquia 
no Brasil. Para se firmar no governo o então imperador promulgou a primeira 
constituição do país como forma de fortalecer seu poder e ao mesmo tempo coibir 
movimentos revolucionários que pudessem surgir e enfraquecer a liderança 
monárquica que se estabelecia. 
- Período Regencial: sendo um período intermediário entre o primeiro e o 
segundo reinado. Durou cerca de 10 anos e assim como em outros momentos foi um 
período marcado por rebeliões como a Cabanagem, Balaiada, Sabinada e Farroupilha. 
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- 2º Reinado: D. Pedro II é coroado imperador do Brasil. Esse período dura de 
1840 à 1889 quando ocorre a Proclamação da República. Partidos políticos se 
estabeleceram e economicamente o comércio do café movimentava o país. 
E a educação? Como ficou nesse período? 
Em 1824 com a promulgação da primeira Constituição brasileira onde se 
estabelecia a garantia da educação primária gratuita a todos. Como método de ensino 
usavam o chamado “Método do Ensino Mútuo”. Nessa proposta, eles treinavam um 
aluno que ficaria responsável por um grupo composto por outros 10 alunos. Esse aluno 
considerado apto, juntamente com seu grupo, ficariam sob a fiscalização de um 
professor-inspetor. 
 
Saiba mais: Esse método de ensino mútuo pode ser comparado com as monitorias, 
amplamente utilizadas no ensino superior atualmente. 
 
 Em 1826 uma outra Lei, determina a organização da educação em pedagogias, 
ginásios, liceus e academias. 
 De acordo com Piletti (2012, p.100) tínhamos como contexto nesta época: 
- no plano político: a burguesia assumindo o poder do Estado; 
- no plano econômico: a revolução industrial e o avanço do capitalismo; 
- no plano social: ocorre o crescimento das grandes cidades em torno das 
indústrias e surge a classe dos proletariados; 
- desenvolvimento da ciências humanas, para tentar explicar esse novo contexto 
de transformações. 
 Foi nesse cenário que a Reforma Pombalina aconteceu. Esse movimento tinha 
como principal objetivo criar a escola útil para os fins do Estado. Segundo o mesmo 
autor, seria necessário formar no Brasil a elite dirigente do país. Para isso, D. João criou 
diversos cursos como anatomia, cirurgia, agricultura, química, etc e em 1808 cria a 
imprensa régia que passa a circular a Gazeta do Rio de Janeiro. Em 1814 cria nossa 
primeira biblioteca com cerca de 60 mil exemplares de livros doados por ele mesmo. 
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 Piletti (2012) traz ainda considerações sobre cada uma das divisões do ensino 
no período imperial. Veja a Tabela 1: 
Tabela 1- Divisões do ensino no período imperial 
Modalidade Principais características 
Ensino Primário - estava a cargo das províncias; 
- pouco difundido (por causa dos orçamentos 
provinciais e pela grande quantidade de 
escravos que eram proibidos de frequentar a 
escola); 
- a frequência no ensino primário não era pré 
requisito para ingresso no ensino secundário. 
Técnico-profissional-normal - ensino muito marginalizado durante o 
império (pelo Poder público e pelo público que 
frequentava as escolas); 
- provimentos de professores e mestres eram 
vitalícios e a instrução, quando necessária, 
deveria ser feita com seu próprio ordenado; 
- seleção de professores com base na 
moralidade, capacidade e maioridade. 
Ensino secundário e o superior - o ensino secundário herdou aulas avulsas do 
período colonial; 
- a função era preparar os estudantes para o 
ingresso no ensino superior; 
- D. João cria a primeira faculdade de Direito do 
Brasil; 
- Ato adicional de 1834 determina que a 
atuação do poder público limita-se ao ensino 
superior e ensino primário e secundário; 
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- O mesmo ato cria dois sistemas paralelos de 
ensino: o sistema regular seriado e o sistema 
irregular orgânico; 
- Províncias começam a criar os Liceus. 
Elaborada pela autora com base em Piletti (2012, p.102-106) 
Saiba mais: De acordo com Piletti (2012, p. 105), o sistema regular seriado era 
oferecido pelo Colégio de Pedro II e eventualmente pelos Liceus provinciais e alguns 
estabelecimentos particulares. Já o sistema irregular inorgânico, formado pelos cursos 
preparatórios e exames parcelados de ingresso no ensino superior, era mantido pelos 
estabelecimentos provinciais particulares. 
 
1.1. A educação das mulheres no Império 
A educação para as mulheres sempre foi negligenciada e a exclusão era 
evidente, permanecendo assim durante muitos e muitos anos. 
Durante todo período colonial, as mulheres eram incluídas em um grupo que, 
juntamente com as criançase as pessoas com problemas mentais, era chamado de 
imbecillus sexus. Até mesmo Charles Darwin e outros estudiosos da biologia afirmavam 
que as mulheres eram menos desenvolvidas intelectualmente em relação aos homens. 
Alguns registros históricos afirmam que os indígenas pediram aos jesuítas que 
ensinassem suas mulheres a ler e escrever pois elas eram suas companheiras e também 
deveriam ter esse direito. O pedido foi negado por Portugal mas o nome de Catarina 
Paraguassu também conhecida como Madalena Caramuru aparece como sendo a 
primeira indígena que, burlando as regras impostas por Portugal, teria aprendido a ler 
e a escrever. 
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 Essa exclusão permaneceu até que, em meados do século XVII, foram criados 
os primeiros conventos com as escolas para moças, onde aprendiam trabalhos 
manuais com agulhas, rezas e boas maneiras. 
 Com a reforma pombalina temos a primeira tentativa de inclusão das mulheres 
nas escolas. Mesmo assim, separadas das escolas onde estavam os homens. 
 Durante o império, as mulheres passam a ter acesso às escolas de primeiras 
letras e alguns estabelecimentos, ofertando o ensino para meninos e meninas, 
começam a ser anunciados. 
Você sabia? A lei que marcou a criação das escolas de primeiras letras em 1827 
chama-se Lei Geral. Essas escolas correspondem ao que hoje seria o ensino 
fundamental e a data da sua publicação foi escolhida para comemorar o dia dos 
professores, 15 de outubro. 
 
 As primeiras escolas mistas surgem a partir de movimentos religiosos ocorrido 
em 1854. Esses movimentos, porém, só ganharam força no final do século XIX, onde 
foi necessário a formação de mais mão de obra para suprir as necessidades do 
mercado produtivo. Com isso, as mulheres entram de vez e com muita força na carreira 
do magistério. 
2. Educação no Brasil República- A educação na 1ª 
República (1889-1930) 
A Primeira República, também chamada de República Velha, iniciou-se com a 
Proclamação da República, ocorrida em 15 de novembro de 1889. Grupos paulistas se 
organizaram com o propósito de derrubar a monarquia. Esses grupos foram 
representados principalmente por militares e membros da sociedade civil insatisfeitos 
com o período anterior. 
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A liderança do movimento ficou a cargo de Marechal Deodoro da Fonseca 
(Figura 2) e dividiu-se em três fases esse período: consolidação, institucionalização e 
crise que culminou com o fim dessa primeira fase em 1930 com a “Revolução de 30”. 
Figura 2- Marechal Deodoro da Fonseca. Fonte: Wikimedia.commons, 2019 
A educação nesse período acompanhava o federalismo estabelecido, onde o 
poder passa a ser descentralizado e assumido pelo presidente e seus respectivos 
governos nos diferentes estados, que passam a administrar a educação básica no país. 
Durante a Primeira República, mesmo com muitas influências externas, houve 
uma busca intensa por popularizar a educação. Durante os governos de Marechal 
Deodoro e Floriano Peixoto, a educação era vista como forma de desenvolvimento do 
país. 
Em 1981, destacava-se a importância de ter um ensino destinado às pessoas do 
campo e aos trabalhadores. 
Liderados por grupos que buscavam a modernização, a educação em 1912 
ganha a Universidade de Manaus (Figura 3), em 1915 a Universidade do Paraná e em 
1920 a Universidade do Rio de Janeiro. 
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Figura 3- Universidade de Manaus, 1912. Fonte: pt.wikipedia, 2019. 
Mesmo com esses avanços, a escola tinha como objetivo preparar o operário 
para trabalhar nas fábricas. 
Para Piletti (2012, p.115): 
“Os ideiais republicanos alimentaram intensamente os projetos de um novo Brasil: 
uma federação democrática que favorecesse a convivência social de todos os 
brasileiros, promovesse o progresso econômico e a independência cultural” (Piletti 
2012, p.115). 
2.1. A Era Vargas (1930-1945): 
Getúlio Vargas (Figura 2) governou o país durante 15 anos. Esse período ficou 
então conhecido como “Era Vargas” e dividiu-se em 3 fases: 
- Governo provisório 
- Governo constitucional 
- Governo Novo 
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Figura 4- Getúlio Vargas. Fonte: Wikipedia, 2019 
Foi no ano de 1930 que o Ministério da Educação foi criado juntamente com a 
Saúde Pública e tinha como objetivo cuidar dos assuntos destas duas vertentes: 
educação e saúde. 
Neste período, alguns movimentos como a Reforma Francisco Campos, 
Manifesto dos Pioneiros, Escola Nova, etc ocorreram e serão aprofundados 
posteriormente. 
A constituição de 1937 promulgada por Vargas, determinava que o ensino 
deveria ser ministrado em instituições públicas ou particulares. Cria-se nessa fase o 
ensino profissionalizante e a estrutura da educação passa a ser composta por: 
- ensino primário: duração de 5 anos; 
- ensino ginasial: duração de 4 anos; 
- ensino colegial (clássico ou científico) com duração de 3 anos. 
2.2. A República Populista 
Também chamada de 4ª República, ou ainda República de 46, esse período foi 
de 1946 à 1964. 
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Esse período é marcado pela democracia pós ditadura militar, e teve como 
alguns governantes nomes marcantes como João Goulart, Juscelino Kubitschek, Jânio 
Quadros, Getúlio Vargas entre outros. 
Segundo Pasinato (p.1) logo após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) teve 
início a chamada República Populista que se estendeu desde a deposição de Getúlio 
Vargas até o golpe militar em 1964. Esse movimento surgiu a partir do período entre 
guerras, com a emergência das classes populares urbanas, resultantes da 
industrialização, quando o modelo agrário-exportador foi sendo substituído pelo 
nacional-desenvolvimentista que representava uma política de expansão da indústria 
brasileira. 
A educação continua sendo defendida como um direito de todos e em 1948 
apresenta-se o anteprojeto de lei que posteriormente culminaria com a promulgação 
da primeira LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) e contou com a participação 
de escolanovistas e católicos que se mantinham ativos nas discussões sobre o assunto. 
 
Saiba mais: Escolanovistas estão ligados ao movimento da Escola Nova. Os adeptos 
a essa proposta acreditam a educação como ferramenta para a construção de uma 
sociedade mais democrática, que respeite a diversidade, a individualidade e a 
capacidade de reflexão. 
 
 Com muitas discussões, essa primeira LDB só foi aprovada em 1961 com uma 
clara divisão entre o grupo que defendia a escola privada e os defensores da escola 
pública que mobilizou a ocorrência do Manifesto dos Pioneiros. 
3. A educação e o contexto social brasileiro- 
Parte I (1930-1964) 
Como apresentado anteriormente, muitas transformações políticas e 
econômicas aconteceram e foi este o cenário em que a educação esteve imersa. 
Grupos com opiniões contrárias lideraram movimentos, discutiram legislações 
e conduziram as ações em prol de garantir o direito constitucional de todos à 
educação. 
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Vejamos então alguns destes movimentos que marcaram o período entre 1930 
e 1964. 
3.1. Reforma Francisco Campos 
No ano de 1931, o ministro da educação do Brasil era Francisco Campos. Ele foi 
o responsável pela primeira reforma ocorrida a nível nacional e que levou seu nome. 
Nesse período tínhamos as imposições de um governoautoritário e o 
desenvolvimento de um projeto para criação de um “Estado Novo” como cenário para 
essas mudanças. 
Entre as propostas apresentadas temos: 
- desenvolvimento de um currículo seriado; 
- frequência à escola obrigatória; 
- ensino desenvolvido em dois ciclos (fundamental de 5 anos e um 
complementar com 2 anos de duração); 
- só ingressaria no ensino superior quem estivesse apto no ensino 
fundamental e no ensino complementar. 
Além disso, Francisco Campos previa a criação de um Conselho Nacional de 
Educação e um ensino secundário com fins comerciais para atender a formação do 
cidadão atuante e produtivo em todos os setores sociais. 
 
3.2. Reforma Capanema 
Em 1942 o ministro da educação era Gustavo Capanema. Ele defendia o “Estado 
Novo” e na educação as maiores mudanças ocorreram com relação ao ensino 
secundário. 
Para Capanema, a educação deveria atender à divisão social e econômica do 
trabalho, ou seja, formar para a execução de papéis, funções, habilidades específicas e 
condizentes às classes sociais. 
Em sua proposta tínhamos: 
- educação primária; 
- educação secundária; 
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- educação superior; 
- educação profissional; 
- educação feminina. 
 Esses níveis estariam ainda subdivididos para atender a elite da elite, a elite 
urbana, uma específica para jovens e uma separada para as mulheres. 
 Objetiva ainda, em consonância com as propostas de um “Estado Novo” criar 
um identidade brasileira e fortalecer essa postura nacionalmente. Entre os órgãos 
criados nesse período temos o INEP (Instituto Nacional de Serviços Pedagógicos). 
3.3. A escola nova e seus expoentes 
Como o próprio nome já sugere, o movimento da Escola Nova, também 
chamado de Escolanovismo, buscava a renovação do ensino. 
PARA SABER MAIS: Além de John Dewey outros nomes merecem destaque nesse 
movimento escolanovista tais como: William Heard Kilpatrick, Ovide Decroly, Maria 
Montessori e Jean Piaget. No Brasil, os educadores que participaram da escrita do 
Manifesto dos Pioneiros também seguiam essa mesma tendência e buscavam a 
renovação do ensino no Brasil. 
Sua premissa, defendida especialmente por John Dewey, era da educação ser 
entendida como uma necessidade social. Seguia uma tendência pedagógica chamada 
de liberal progressista que era contrária ao ensino tradicional. Para ele mais importante 
que a instrução era a ação no processo de ensino e aprendizagem. 
Dewey defendia a aprendizagem a partir de problemas reais e/ou situações que 
efetivamente desenvolvessem a reflexão e novas construções cognitivas. Seus estudos 
falam muito em aprendizagem significativa, situações problematizadoras, 
levantamento de hipóteses e uma nova postura do professor diante de tudo isso. O 
pensar no problema segundo ele estaria pautado em: 
- uma necessidade; 
- a análise do problema; 
- a busca por alternativas; 
- a experimentação; 
- a ação que buscaria uma solução efetiva para o problema inicialmente 
diagnosticado. 
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Consegue imaginar o que isso representava diante do ensino tradicional? 
O movimento da Escola Nova propunha a vivência, permitindo que o aluno não 
aprendesse para a vida, mas aprendesse sua própria vida e nela reconstruísse 
significados. 
No Brasil o nome de Rui Barbosa aparece associado à sua implantação seguido 
depois pelos educadores que participaram do Manifesto dos Pioneiros. 
Considerar as expressões dos alunos e garantir aprendizagens significativas aos 
estudantes foi uma postura amplamente criticada, principalmente pelos defensores do 
tradicionalismo. Acreditava-se que isso banalizaria o ensino e que os conteúdos seriam 
deixados de lado. 
Compreender que os conteúdos poderiam ser ensinados de diferentes formas 
e não mais ficarem restritos à postura transmissiva dos professores era uma grande 
dificuldade. 
De acordo com Mesquita (2010, p.64) a Escola Nova era vista como uma 
reviravolta e completa inversão dos princípios educacionais que até então era 
desenvolvidos. Para a autora: 
“Uma de suas características mais marcantes é a importância dada à atividade dos 
alunos. Se antes, para a pedagogia tradicional o processo pedagógico era centrado 
no professor, na transmissão de certos conteúdos definidos em currículo, para a 
nova tendência, a atividade dos alunos assumia protagonismo inconteste” 
(Mesquita, 2010 p.64). 
ATENÇÃO: Até os dias atuais, ainda temos resistência em alguns espaços escolares 
para inovar com relação às propostas de ensino. Temos muitas concepções 
pedagógicas que norteiam as ações da escola não apenas na forma de ensinar mas 
também na escolha de estratégias, materiais didáticos, etc. 
3.4. O Manifesto dos Pioneiros 
Apoiados nas ideias que surgiram com o movimento da Escola Nova liderados 
por Dewey e outros nomes importantes como Durkhein, esse Manifesto foi conduzido 
por 26 educadores e constava na redação de um documento que objetivava a 
renovação da sistema educacional existente no Brasil. 
A proposta central era organizar um documento onde o sistema educacional 
fosse capaz de atender a todos de forma gratuita e obrigatória até os 18 anos. A ideia 
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de uma Educação Nova deveria garantir, em primeiro lugar, os interesses do indivíduo 
e consequentemente seu contexto social. 
Os aspectos democráticos ficaram evidentes no documento e a educação posta 
como uma caminho nesta construção, por isso a defesa de uma escola única, pública 
e sem privilégios ou exclusões. 
4. A educação e o contexto social brasileiro entre 
1930 e 1964: As reformas no ensino profissional 
(SENAI E SENAC) 
Com urbanização das cidades e das vilas, a ampliação das vias de comunicação 
das estradas de ferro, a navegação a vapor, instalação de cabos telegráficos e a 
iluminação pública, surgiu também a demanda por formação técnica. 
Em 197, uma reforma torna o ensino profissional obrigatório. A justificativa 
dada pelo então governo de Emílio Medici era o crescimento industrial e a necessidade 
de mão de obra especializada para este fim. 
Nesse cenário, duas instituições surgem e permanecem até hoje em destaque 
no cenário da educação profissional: SENAI e SENAC. 
Em 1942, após grandes mudanças no cenário educacional e a partir da Reforma 
de Campanema que apresentamos anteriormente, o Decreto 4048/42 cria o SENAI. - 
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. 
Segundo Müller (2010), ensinar a trabalhar e produzir bens necessários ao 
conforto e sobrevivência humana permeia as diversas sociedades e isso também 
aparece na justificativa para criação do ensino profissionalizante como desenhado 
neste momento. 
Sua institucionalização foi um longo processo de organização e também de 
resistência pois, de acordo com o mesmo autor (p.199), temia-se a possibilidade de 
desemprego aos que não participassem do curso ou ainda pela proximidade que 
estava da burguesia industrial tornando os trabalhadores refratários ao processo. 
 E o SENAC? 
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Seguindo a mesma premissa, em 1946 cria-se o Serviço Nacional de 
Aprendizagem com o objetivo de oferecer a formação profissionalizante que 
atendesse as necessidades do mercado produtivo que continuava em ascensão. 
Sua criação foi feita a partir do Decreto-Lei nº 8621 e desde então funciona com 
contribuição das empresas e dos comércios sendo administrado pela Confederação 
Nacional do Comércio. 
O artigo1º deste decreto Lei estabelecia que: 
Art. 1º Fica atribuído à Confederação Nacional do Comércio o encargo de organizar 
e administrar, no território nacional, escolas de aprendizagem comercial. 
Parágrafo único. As escolas de aprendizagem comercial manterão também cursos 
de continuação ou práticos e de especialização para os empregados adultos do 
comércio, não sujeitos à aprendizagem. Disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1937-1946/Del8621.htm 
Além disso, outras responsabilidades ficaram atribuídas: 
Art. 3º O SENAC deverá também colaborar na obra de difusão e aperfeiçoamento 
do ensino comercial de formação e do ensino imediato que com êle se relacionar 
diretamente, para o que promoverá os acôrdos necessários, especialmente com 
estabelecimentos de ensino comercial reconhecidos pelo Governo Federal, exigindo 
sempre, em troca do auxílio financeiro que der, melhoria do aparelhamento escolar 
e determinado número de matrículas gratuitas para comerciários, seus filhos, ou 
estudantes a que provadamente faltarem os recursos necessários. 
§ 1o As escolas do Senac poderão ofertar vagas aos usuários do Sistema Nacional 
de Atendimento Socioeducativo (Sinase) nas condições a serem dispostas em 
instrumentos de cooperação celebrados entre os operadores do Senac e os gestores 
dos Sistemas de Atendimento Socioeducativo locais. 
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Figura 5: Oficina de Mecânica - SENAI - PR (Centro de Memória do Sistema FIESP). 
Você quer ler? Formar e assistir: imagens da escola do Senai em Curitiba nas décadas 
de 1940 e 1950. Leia aqui. 
 
3.5. A LDB 4024/1961 
Considerada a primeira lei que estabelece as diretrizes e bases da educação 
no Brasil, essa legislação passou por muitas discussões até sua publicação final, em 
1961. 
 Vale lembrar que o contexto em que ela foi homologada refletia uma busca 
por controle e disciplina orquestrados pelo governo militar. 
 Saviani (1991) afirma que essa lei foi uma consequência das contradições da 
velha ordem política em conflito com a formação da nova classe dominante, surgida 
com o processo de industrialização. 
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 Entre os princípios e fins da educação estava o desenvolvimento integral da 
personalidade humana e sua participação na obra do bem comum. Além disso, 
objetivava também o preparo do indivíduo e da sociedade para o domínio dos 
recursos científicos e tecnológicos que lhes permitam utilizar as possibilidades de 
vencer as dificuldades do meio. 
 A educação é estabelecida como direito de todos no artigo 2º e poderia ser 
ofertada no lar e na escola, cabendo às famílias escolher o gênero de educação que 
seria dado aos seus filhos. 
 A organização dos sistemas de ensino estariam a cargo da União, Estados e 
Distrito Federal. 
Nesta LDB o ensino estaria organizado conforme Tabela 2: 
Tabela 2- Organização do ensino segundo LDB 4024/61 
Título V 
Educação Pré-Primária 
- destinada aos menores de 7 anos 
- ministrada as escolas maternais ou jardins da 
infância 
 
Título VI 
Ensino Primário 
- ministrado no mínimo em 4 séries anuais 
- obrigatório a partir dos 7 anos 
 
Título VII 
Ensino Médio 
- destinado a formação do adolescente 
- ministrado em dois ciclos (ginasial e colegial) com 
cursos técnicos secundários e de formação de 
professores para atuarem no pré primário 
 
Título VIII 
Orientação educativa e 
- formação deveria ocorrer em cursos especiais 
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inspeção 
Título IX 
Ensino Superior 
- objetiva a pesquisa e o desenvolvimento das 
ciências, letras e artes 
Quadro 4 - Elaborada pela autora com base na LDB 4024/61 
Essa organização perdurou até 1971 onde entra em vigor a LDB 5692. 
 
Você quer ler? Para conhecer na íntegra a primeira LDB e todas as suas 
regulamentações, acesse o link aqui. 
 
Síntese 
 A movimentação e transformação da educação acompanhou o 
desenvolvimento econômico e político do Brasil ao longo do período imperial e Brasil 
república. Muitos movimentos e documentos entraram em discussão como tentativa 
de regulamentar e nortear ações que cresciam de forma acelerada. 
 O avanço do mercado produtivo fez com que novas necessidades surgissem e, 
junto com elas, a formação de mão de obra para atender a demanda. A expansão da 
educação atinge também o mercado profissionalizante em busca dessa qualificação. 
 Saímos de um modelo exclusivamente tradicional para propostas mais 
modernas advindas dos seguidores da Escola Nova e que culminam com o manifesto 
dos pioneiros. A preocupação com a educação torna-se explícita e a primeira 
legislação para tratar exclusivamente desta área é finalmente promulgada em 1961. 
Sendo assim, aprendemos que: 
- Durante o período imperial o Brasil buscou sua independência em 
relação a Portugal e foi governado por um sistema monárquico; 
- Muitas revoluções, reformas e mudanças mais uma vez marcam a 
história do Brasil e a Educação acompanha essas mudanças; 
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- Entre as mudanças temos a Reforma Francisco Campos, Reforma 
Campanema, Movimento pela Escola Nova e Manifesto dos Pioneiros; 
- Repensar a educação tornando-a um processo mais significativo foi um 
dos grande marcos que podem ser citados; 
- A primeira LDB nº 4024, após grandes discussões e um longo período 
de ajustes é finalmente promulgada em 1971. 
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Bibliografia 
JELVEZ, J.A.Q. História da Educação. Curitiba: Intersaberes. 2012. 
MÜLLER, M.T. O SENAI e a educação profissionalizante no Brasil. Revista 
HISTEDBR On-line. Campinas, n.40, p. 189-211, dez.2010. Disponível em 
http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/edicoes/40/art12_40.pdf Data de 
acesso 08 de julho de 2019. 
MESQUITA, A. M. Os conceitos de atividade e necessidade para a Escola Nova 
e suas implicações para a formação de professores. São Paulo: Cultura 
Acadêmica. 2010. Disponível em http://books.scielo.org/id/ysnm8/pdf/martins-
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