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Unidade I PENSAMENTO POLÍTICO MODERNO Profa. Neusa Meirelles A constituição dos estados nacionais e o poder da monarquia: capitalismo mercantil, religião e o pensamento burguês Elementos em comum nas trajetórias de constituição de estados nacionais sob o absolutismo monárquico em Portugal, Espanha, França e Inglaterra, apesar da diferenciação histórica e cultural: modernização institucional subjacente à organização do poder real, centralizado e autoritário, sobre territórios conquistados por invasores ou acertados nos casamentos dinásticos; ordenamento centralizado na figura do rei, que se faz assessorar por um conselho. Os estados nacionais e a Igreja A Igreja Católica tentou deter a onda de nacionalismos e assegurar sua supremacia sobre os Estados nacionais, variando, em cada realidade nacional, com certo sucesso, na Espanha e em Portugal e com relativo sucesso na França. Profunda crise política e perda de poder na Inglaterra; A Reforma Luterana, o Calvinismo, a Igreja Anglicana, o Puritanismo inglês e outros movimentos religiosos do século XVI não constituíram oposições aos estados nacionais absolutistas e sim divisões internas, de caráter religioso, nesses estados, às quais os reis tiveram de respeitar sob a pena de causar a instabilidade dos governos. Estados nacionais, monarquias, mercantilismo e religião: Portugal Um estado nacional português independente se deu para além das lutas de Afonso Henriques pela retomada de territórios aos mouros ou pela defesa de interesses portugueses perante Castela. Coube a Afonso II buscar apoio político e servil nas camadas populares, criar comunas, estimular os conselhos que davam renda e suporte militar ao estado e assegurar uma administração impessoal. João I imprimiu organização ao estado (Ordenações Afonsinas, 1446), resgatando, do direito romano, as linhas básicas do pensamento jurídico na direção do absolutismo monárquico, compatível com a definição comercial da economia, aproximando o rei dos comerciantes e banqueiros. Estados nacionais, monarquias, mercantilismo e religião: Espanha O casamento de Isabel (de Castela e Leão) com Fernando (de Aragão) permitiu a unificação das Espanhas, a incorporação de Navarra e vencer os mouros em Granada, em 1492. Para consolidar a unificação dos reinos, a Coroa Espanhola deu início à construção de uma identidade cristã nacional, usando a antiga instituição medieval católica: a Inquisição. O Papa Sisto IV, por insistência de Isabel, autorizou o Tribunal do Santo Ofício em Sevilha, sob a direção do dominicano Tomás de Torquemada, confessor da rainha. Os Autos de Fé, cerimônias públicas de aplicação das sentenças de morte e tortura, visavam protestantes e judeus denunciados por não seguirem a “verdadeira fé” (catolicismo romano). Inglaterra Em 1066, o Duque Guilherme, da Normandia (uma região da França), conquistou a Inglaterra aos reis saxões que a ocupavam, por isso, passou à história como Guilherme, o Conquistador. Essa dinastia normanda foi importante do ponto de vista cultural, mas o perfil da monarquia inglesa adquiriu traços nacionais decisivos com a ascensão de Henrique II (Henrique d’Anjou) ao trono, dando início à dinastia dos Plantagenetas (1154-1399). Henrique II e Leonor, duquesa de Aquitânia, foram os pais de Ricardo Coração de Leão e de João Sem Terra, dois reis irmãos, grandes rivais e fundadores da monarquia inglesa. Inglaterra: Henrique II e seu filho, João I Henrique II convocou jurisconsultos, introduziu mudanças na lei e trâmites da justiça (juízes itinerantes), integrando novas normas ao direito consuetudinário inglês (Common Law); cobrança de impostos sobre a renda e as propriedades (fortalecer tesouro e enfraquecer senhores feudais); Criação do júri de instrução (Grand Jury); Outorga das Constituições de Clarendon, separação entre poder eclesiástico e político (contra Thomas Beckett). João I, Rei da Inglaterra (1199 a 1216), ou João Sem Terra, pressionado por 26 barões, membros do alto clero e outros “servidores fiéis” do rei, firmou a Magna Carta em 1215. A magna carta, o rei e os barões Um documento de 63 parágrafos que estabelece regras básicas e normas na condução das práticas governativas em relação ao poder feudal, afirma a liberdade da Igreja, direitos e liberdades dos homens, as normas reais para concessões de terras e cobrança de impostos, liberdade para os mercadores se deslocarem, entrarem e saírem da Inglaterra e instala um sistema de justiça. A Carta foi confirmada pelo rei Eduardo I em 1297, demonstrando a persistência dos confrontos entre rei e súditos (as duas Guerras dos Barões). O documento é considerado um primeiro passo na institucionalização das relações entre rei e súditos, estabelece princípios que foram reafirmados e ampliados no século XVII, após a Revolução Gloriosa, com a assinatura do Bill of Rights. Guerra dos 100 anos: França e Inglaterra As relações entre França e Inglaterra compreendiam uma rede de vínculos dinásticos, senhoriais de vassalagem, territoriais, econômicos e comerciais, dando origem a conflitos de várias modalidades, inclusive os que desencadearam a Guerra dos 100 anos (que durou 116 anos e não foi contínua): Eduardo III, Rei da Inglaterra, se candidatou para suceder Carlos IV, filho de Felipe IV, o Belo, no trono da França porque, como Duque de Aquitânia e um dos Pares da França, era vassalo do rei francês, mas um tribunal constituído por Pares da França deu preferência a Felipe de Valois, depois Felipe VI. Este foi um motivo para o início das hostilidades, mas não o fundamental: Ao término da guerra, em 1453 A sucessão de Eduardo III, o primeiro rei falando inglês, deu origem à Guerra das Rosas, uma guerra civil entre duas famílias descendentes de Eduardo III, ambas com pretensões ao trono: York, Rosa Branca e Lancaster, Rosa Vermelha. O final da guerra deu início à dinastia Tudor com Henrique VII, cujo filho mais velho, Arthur, foi prometido para Catarina de Aragão, filha dos reis de Espanha, então o país mais rico e poderoso da Europa. Todavia, Arthur faleceu, coube, dessa forma, a Henrique VIII (1509-1553) casar-se com a viúva do irmão. Desse casamento nasceu uma filha, Mary, que se casou, mais tarde, com Felipe II, o filho de Carlos V, da Espanha. Os Tudors: Henrique VIII Henrique VIII rompeu com a Igreja Católica e fundou a Igreja Anglicana, com profundas consequências políticas e econômicas para a Inglaterra. Henrique VIII confiscou terras e propriedades da Igreja Católica na Inglaterra e em Gales, provocando mudanças fundamentais na economia e na sociedade inglesas: o rei destinou parte do confisco à nobreza que o apoiara, parte ofereceu aos burgueses ricos, mas a preços módicos, outra parte às Universidades de Oxford e Cambridge, que passaram a apoiá-lo. A terra, transformada em bem de produção, inclusive produção de lã, comercializada com Flandres, ficou submetida à alta de preços, assim como os produtos. Elizabeth I Elizabeth I foi hábil na condução da política econômica, estimulou a expansão dos mercados, o ataque aos navios espanhóis procedentes da América, carregados de ouro e prata, criou a Companhia das Índias Orientais, ou “Company of Merchants of London Trading to the East Indies”, que existiu durante 250 anos com frota e exército próprios e uma receita bruta superior à do governo, apoiou o desenvolvimento das manufaturas; venceu a Espanha, lutou contra a Irlanda, apoiou a ciência, a educação e a cultura. Quanto à religião, foi tolerante, mantevea posição anglicana e se opunha aos chamados Puritanos, menos por questões teológicas do que políticas e enfrentou, também por questões políticas, o catolicismo extremado da Irlanda. Interatividade Qual das proposições abaixo não corresponde à verdade dos fatos? a) O Rei Henrique VIII, da dinastia Tudor, ratificou o documento conhecido por Magna Carta. b) Elizabeth I soube controlar a oposição do Parlamento e estimular a economia. c) Mary I desenvolveu intensa perseguição religiosa aos protestantes. d) A negociação das terras da Igreja provocou mudanças significativas na estrutura de classes na Inglaterra. e) Henrique VIII enfrentou o Papa e instaurou a Igreja Anglicana. Resposta Qual das proposições abaixo não corresponde à verdade dos fatos? a) O Rei Henrique VIII, da dinastia Tudor, ratificou o documento conhecido por Magna Carta. b) Elizabeth I soube controlar a oposição do Parlamento e estimular a economia. c) Mary I desenvolveu intensa perseguição religiosa aos protestantes. d) A negociação das terras da Igreja provocou mudanças significativas na estrutura de classes na Inglaterra. e) Henrique VIII enfrentou o Papa e instaurou a Igreja Anglicana. Os primeiros Stuarts Sucederam à Elizabeth dois reis da casa de Stuart: James I e Charles I. O Rei James I estimulou a colonização (dos EUA) por companhias tipicamente capitalistas, as chamadas Joint Stock Company, (Virginia Company of Plymouth e Virginia Company of London), sociedades por ações, diminuindo o risco de investimento entre os muitos interessados. James I fortaleceu a Igreja Anglicana, combateu católicos, calvinistas e puritanos na Inglaterra, Escócia e Irlanda, mas sua política absolutista desagradou e provocou atritos com o Parlamento, que se agravaram após sua morte, em 1625, com a ascensão de Carlos I ao trono e que pretendeu governar sem o Parlamento. 1645: a República na Inglaterra A Câmara dos Comuns, constituída por burgueses notáveis e a pequena burguesia rural (roundheads), majoritariamente puritana, assumiu a liderança da oposição com Oliver Cromwell, dando início a uma guerra civil que promoveu uma série de mudanças políticas no Estado. Cromwell assumiu a chefia do governo como Lorde Protetor, cargo vitalício e hereditário, eliminou a Casa dos Lordes, implantou uma República Ditatorial, expandiu os interesses coloniais da Inglaterra, dando forma e força ao mercantilismo inglês com medidas protecionistas. Nessa época, os Niveladores (Levellers) aparecem na cena política como grupo independente, eles eram defensores da tolerância religiosa e do liberalismo dos séculos XVIII e XIX. Foi nesse período que Hobbes escreveu sua mais famosa obra: “O Leviatã”. A Revolução Gloriosa O Parlamento, então, declarou vago o trono e indicou Mary (filha de Jaime II, protestante) casada com William de Orange (holandês e calvinista) para ocupar o trono da Inglaterra, como Mary II. Este movimento de 1688 foi denominado Revolução Gloriosa, mas, na verdade, foi um golpe de Estado. Mary II permaneceu no trono até sua morte, em 1689, por varíola. Seu marido foi quem, na verdade, governou, embora não fosse bem aceito na Inglaterra. Dele partiram decisões importantes, como a criação do Banco da Inglaterra (1694) e saneamento das finanças, impulsionando o capitalismo inglês. A Declaração de Direitos Os reis tiveram que firmar a Declaração de Direitos, aprovada depois pelo Parlamento, reconhecendo os direitos do povo inglês e aceitando a supremacia do Parlamento sobre as decisões da Coroa. Da Revolução Gloriosa, de 1688, a Inglaterra saiu como um Estado liberal-burguês, instalando o regime monárquico- parlamentar, representando um acordo entre burguesia, nobreza e realeza, do qual ficava excluído o povo, constituído pelos trabalhadores do campo e das cidades. Em 1700, o Parlamento elaborou novo documento, Ato de Estabilização, para limitar poderes da Coroa e assegurar direitos e liberdades dos súditos, o Ato foi ratificado posteriormente. França: Felipe IV, o Belo (1285 a 1314) Ele submeteu o Conde de Flandres a uma série de obrigações políticas e econômicas de indenização de guerra; adotou medidas monetárias, manipulou o valor da moeda, obrigou os cambistas a operar nos escritórios reais; reestruturou a política fiscal, taxando pesadamente os súditos não nobres (burgueses); expulsou os banqueiros lombardos, aplicou impostos ao alto clero e exigiu que bispos e abades lhe devessem obediência (essas duas medidas provocaram a crise entre Igreja e Coroa); determinou a conversão obrigatória dos judeus (mediante pagamento) ou sua expulsão do reino. Felipe IV e a estruturação da monarquia Dois órgãos ou instâncias de governo estavam centrados na pessoa do rei: Um organismo de consulta, o conselho, no qual os legistas constituíam uma parcela, não sua totalidade, utilizado na elaboração da política de governo e na sua execução administrativa; Um organismo de consentimento, a assembleia, por vezes utilizado como força de suporte para sua política. O rei podia convocar a assembleia quando quisesse e a constituía ao seu gosto. Por princípio ou premissa era admitido o acordo tácito, implícito na convocação. Essas assembleias deram origem aos Estados Gerais. Felipe IV teve como preceptor Gilles de Rome. Tendências centrais na trajetória do absolutismo monárquico francês Ênfase na construção do Estado territorial, os reis vão centralizando poder na medida em que saem vitoriosos; Conflitos na superação das instituições feudais, porque impostos e taxas passam a ser devidos ao rei; Cuidado na elaboração jurídico-institucional das mudanças, daí a importância dos “legistas”, do judiciário e das normas processuais; Atrasos na elaboração de política econômica, remodelação das atividades produtivas, adequando-as ao mercantilismo e às exigências do capitalismo manufatureiro; Ênfase na articulação entre órgãos de governo, instaurando a burocracia administrativa do Estado. Dois séculos depois de Felipe IV Francisco I (1515) mantém o centralismo como estratégia política, mas a estrutura de poder se torna cada vez mais pessoal, com membros do conselho e clérigos do palácio substituídos por senhores de fortuna. Uma “nobreza de emergentes”, formada no comércio, foi ocupando cargos no Estado e se apropriando dos privilégios da antiga nobreza; as contradições de interesses vão explodir mais tarde, nos movimentos das Frondas; A França se tornara um Estado quase moderno, centralizado, com fronteiras asseguradas. Nobreza e burguesia colaboram com o rei e mantêm as classes populares submissas. O rei se associa ao Papa para impedir a Reforma de romper esse arranjo. Luís XIII (1601-1643) e seu ministro, o Cardeal Richelieu: os tempos de “Os três mosqueteiros” Uma política inspirada em parte em Maquiavel e Hobbes, mas principalmente em autores franceses: Guez de Balzac, Cardin Le Bret e Philippe de Béthume. O absolutismo figura como “razão de Estado”, argumentação de Luís XIII e de Richelieu. Maquiavel escreveu “O Príncipe” (1532). Situa a prática política dos reis acima da lei moral, uma postura pragmática à qual se pode adicionar uma ética finalista, visando o Estado. Cardin Le Bret, um jurista, escreveu, em 1632, sobre a Soberania do Rei, que, segundo ele, goza de independência absoluta. Philippe de Béthume publica, em 1633, O Conselheiro de Estado, anotações sobre a política moderna do servidor, revelando afinidades com o curso da política francesa. Luís XIV, o Grande Rei ouo Rei Sol e Mazarin: o absolutismo francês em sua expressão máxima O Cardeal era italiano, não aceito pelos franceses, o que provocou movimentos (Fronda) de revoltas de parlamentares, de segmentos da nobreza e do povo de Paris (barricadas), a família real teve de fugir. Luís XIV era católico, não contestava a autoridade do Papa, revogou o Edito de Nantes, reiniciou a perseguição aos judeus, retomou a perseguição aos protestantes e jansenistas (católicos que contestavam o poder absoluto), provocando revoltas e reflexos desastrosos na economia. Impôs ao clero uma declaração de quatro princípios, proclamando a autonomia da Igreja da França perante o Papa e sob a direção do rei. Luís XIII e Luís XIV: faces do absolutismo francês Luís XIV manteve-se afastado do povo, exercendo poder absoluto. Quando faleceu, a monarquia estava consolidada, mas os cofres vazios. Os parlamentares esperavam, sem muita ilusão, retomar o poder. Para o Rei, o Estado e sua pessoa estavam ligados para sempre: a glória de um seria a de outro. Enquanto Luís XIII exerceu o poder absoluto visando ao Estado, Luís XIV o exerceu centrado em sua pessoa, em sua religião e em sua glória, desse plano pessoal ele imaginava contaminar o Estado com glória e poder. Os dois Cardeais e o poder absoluto na França: Richelieu e Mazarin Richelieu trata da arquitetura política do Estado francês e de sua condução em suas obras, assim, ele se distingue de Hobbes, que pretende construir uma ciência da política e se aproxima de Maquiavel, apesar de descrever seu legado de experiência de um lugar muito próximo ao do rei. Para ele, o pragmatismo e considerações morais estão estritamente ligados, então, o Cardeal ensaia “conciliar a ética cristã com o interesse do Estado, para cobrir, com a razão de Estado, a da moral”. Mazarin é afeito às intrigas palacianas, apto a percebê-las, a se situar no nível mais concreto das articulações de poder, o das relações pessoais. Seu livro surpreende pela análise calculista e individualista dessas relações, visando o poder. O padre teólogo professor do absolutismo: Jacques-Bénigne Bossuet (1627-1704) Para o rei, essa posição de “paternidade” entre o rei e seu povo, levava à fidelidade e à obediência: cabia ao rei o exercício do poder e ao súdito o exercício da obediência. A síntese do absolutismo monárquico em Bossuet (um rei, uma lei, uma fé) aponta para o catolicismo da França (gálico), era crítico e intolerante com todas as demais tendências religiosas, inclusive católicas. Bossuet era contra: as ideias políticas de Maquiavel e Hobbes, por terem base racional; a partilha institucional do poder com ministros fortes (Richelieu e Mazarin), ou com um Parlamento (monarquia parlamentar). Todos esses modelos, para ele, seriam convites à anarquia, ao sofrimento do povo e à humilhação do príncipe. Interatividade Abaixo, algumas observações sobre figuras do absolutismo monárquico francês. Qual delas está errada? a) Bossuet era padre, teólogo, retirou da Bíblia exemplos do exercício de poder real para ensinar seu pupilo, o Delfim da França. b) Mazarin, Cardeal, desenvolveu teorização do absolutismo real comparável à de Maquiavel e Hobbes em importância. c) Richelieu concentrou sua análise na arquitetura política do Estado. d) Felipe II, o Augusto, é considerado fundador do estado nacional francês. e) Henrique IV definiu uma política para o absolutismo real que, a partir dele, assume contornos nítidos e institucionais. Resposta Abaixo, algumas observações sobre figuras do absolutismo monárquico francês. Qual delas está errada? a) Bossuet era padre, teólogo, retirou da Bíblia exemplos do exercício de poder real para ensinar seu pupilo, o Delfim da França. b) Mazarin, Cardeal, desenvolveu teorização do absolutismo real comparável à de Maquiavel e Hobbes em importância. c) Richelieu concentrou sua análise na arquitetura política do Estado. d) Felipe II, o Augusto, é considerado fundador do estado nacional francês. e) Henrique IV definiu uma política para o absolutismo real que, a partir dele, assume contornos nítidos e institucionais. O Crepúsculo do absolutismo monárquico na França: Luís XV (1710-1774) e Luís XVI (1754-1793) Luís XV não foi um bom rei, embora contasse com o apoio dos franceses no início de seu governo, mas foi perdendo esse apoio na medida em que se distanciava dos negócios do governo e tomava medidas autoritárias em um ambiente político delicado e tenso. Viveu em Versailles, afastado das condições de vida da população, sob a influência das tendências da corte, principalmente de suas amantes. Luís XVI (1754-1793) Os franceses tinham esperança nesse rei jovem, sério, culto, que não era dado às aventuras românticas, mas esse Luís ocupava seu tempo mais com caçadas do que com a política, e não foi capaz de enfrentar a crítica ao absolutismo monárquico nem fazer frente à pressão do alto clero e da nobreza e nem assinar a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão. A Revolução Francesa em curso Luís XVI convocou os Estados Gerais e tentando contornar a oposição dos parlamentares, ampliou o Terceiro Estado. Na organização dessa Assembleia, a distribuição de seus integrantes no espaço é, até hoje, uma referência para tendências políticas: o terceiro estado, constituído pela burguesia francesa e setores da classe média, se sentava à esquerda do salão, enquanto o segundo estado – o clero, a nobreza – se sentava à direita. O rei se recusa a ratificar a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e dissolve a Assembleia; mas o Terceiro Estado jura dotar a França de uma Constituição. Revolução Francesa : conclusão Luís XVI foi preso, condenado por um tribunal revolucionário, e guilhotinado em 21 de janeiro de 1793. O mesmo destino teve sua esposa, Maria Antonieta e, na sequência, mais de 2000 nobres e agregados do “Ancien Régime”. Instala-se, na França, um Regime de Terror que só será contido com a constituição de um Consulado (Ditadura), com Napoleão Bonaparte. Quais as bases legitimadoras do poder do soberano e quais as bases de sua limitação? Conceitos centrais à Ciência Política: legitimidade e legalidade, e entre os dois, um terceiro: reconhecimento. Legitimidade do poder diz respeito à adesão voluntária às decisões que, emanadas do poder político, afetam a todos em uma comunidade, porque expressam legalidade, mas legitimidade deve ser ancorada em algo que transcenda o indivíduo, tanto aquele que exerce a decisão, quanto o outro sobre quem ela será exercida, portanto, é o reconhecimento público, da coletividade, que empresta legitimidade ao exercício do poder político. A legitimidade do poder político e a crença na racionalidade A legitimidade do poder político apoiada na crença da racionalidade permitiu a ordenação e a reformulação do Estado segundo um dado entendimento racional do mundo, sobretudo ancorado em discursos que instauraram estatutos jurídicos formais, obras da razão humana. Nesse caso, o Estado pode ser visto como uma construção racional e jurídica, da qual decorrem princípios normativos (leis) que podem ser ou não eficazes, no sentido de atingirem aos fins propostos. Consequentemente, esses princípios normativos podem ser alterados sem afetar a legitimidade de toda a construção racional (Estado) da qual decorreram tais princípios. O Governo, a lei, o rei e os súditos: Jean Bodin (1530-1596) Jean Bodin conviveu com intolerância religiosa, misticismo, perseguição e morte aos huguenotes, noite de São Bartolomeu,casamento de Henrique IV com Margot de Valois. Ele era um intelectual, jurista, membro do Parlamento de Blois e professor de Direito, legítimo representante desses tempos: um dos teóricos da construção do Estado a partir do conceito de soberania, Escreveu “Os seis livros sobre a República”. Era ferrenho monarquista, por isso, República tem aqui o sentido original de res publica e Método da História. Ele também escreveu um livro sobre demônios e feiticeiras, “De la démonomanie des sorciers” em 1580. Aspectos do pensamento de Bodin: tolerância religiosa Fez parte de movimentos do extremismo católico, mas apoiou Henrique IV que, como ele, também oscilava entre o calvinismo e o catolicismo. Com relação às divisões e guerras religiosas dentro da França, Bodin adota uma posição que hoje seria considerada “tolerante”, porque, sem deixar de reconhecer a presença das várias tendências religiosas irreconciliáveis, ele propõe situar o Estado acima disso e desloca a lealdade de todos os súditos para a pessoa do rei. Nas condições políticas de seu tempo, essa posição estratégica se afinava com uma tendência denominada “políticos”, que também propunha a tolerância religiosa e a figura do rei como representação da unidade do Estado francês, um argumento do absolutismo monárquico para favorecer a formação de uma identidade nacional francesa. Soberania A relação básica que define o Estado é a que se dá entre soberano e súdito, todas as outras relações, de caráter religioso, ético e social ficariam fora da teoria política. Essa sujeição é que torna o súdito cidadão. Entre os súditos pode haver os de religião distinta, os de língua distinta; entre os cidadãos pode haver os de costumes diferentes e os que se organizam em grupos de profissões diferentes, mas essas organizações não formam um estado, embora possam formar cites (nações) distintas, as “nações” não formam um estado, a menos que os cidadãos estejam submetidos a um soberano em comum. Importante notar que a soberania tem caráter absoluto e perpetuidade. Soberania: o poder soberano O poder soberano deve estar acima das leis, a soberania abrange todas as atribuições do soberano como chefe jurídico do Estado, o que implica autoridade do soberano sobre o direito consuetudinário, que ele sanciona ao permitir sua existência. O poder soberano não se submete às leis e nem cria para si leis especiais; esse é o traço distintivo do Estado e condição para preservar sua ordenação. Logo, esse poder deverá ser indivisível e perpétuo para expressar a soberania. Assim, para Bodin, as distintas formas de governo variam segundo a fonte desse poder. Aqui há uma distinção importante entre formas de Estado e de Governo. Soberania é indivisível A soberania se caracteriza pelo poder de dar leis aos cidadãos sem que, para isso, seja necessário o consentimento de qualquer instância. Na França e na Inglaterra, os Estados Gerais teriam uma função de assessoria, os conselheiros do rei devem ser consultados, mas o rei não deve submeter-se a eles, ou melhor, os conselhos não devem ser imperativos. Em suma, não existe poder soberano dividido, ele pode ser o rei, a assembleia ou o povo. Portanto, as formas de governo são constituídas pelo “aparato intermediário” pelo qual esse poder é exercido. Fonte e limitações à soberania Em uma monarquia, a fonte de soberania é o rei, as demais instâncias de poder, como ministros, cumprem função de assessoria. Mas se o rei está submetido a um parlamento ou assembleia, então o governo que existe é uma aristocracia e, finalmente, se o poder final de decisão ou de revisão reside em um órgão popular, então o governo é democrático. É importante notar que: o rei pode delegar poder à assembleia, ou parlamento, assegurando um governo democrático ou, inversamente, a assembleia ou parlamento pode concentrar o poder em um governo despótico. Interatividade As proposições abaixo são fragmentos extraídos do pensamento de Jean Bodin. Qual delas está correta? a) Bodin adotou postura intolerante com relação às divisões e guerras religiosas. b) Para Bodin, a lei não podia modificar o costume nem o costume modificar a lei. c) O conjunto de leis relativas à propriedade privada não constituía limitação para o poder do soberano. d) O poder do rei era absoluto, mas algumas leis só poderiam ser modificadas com aprovação do Parlamento. e) Para Bodin, era mais fácil para os súditos serem leais aos princípios jurídicos do que à pessoa física de um rei. Resposta As proposições abaixo são fragmentos extraídos do pensamento de Jean Bodin. Qual delas está correta? a) Bodin adotou postura intolerante com relação às divisões e guerras religiosas. b) Para Bodin, a lei não podia modificar o costume nem o costume modificar a lei. c) O conjunto de leis relativas à propriedade privada não constituía limitação para o poder do soberano. d) O poder do rei era absoluto, mas algumas leis só poderiam ser modificadas com aprovação do Parlamento. e) Para Bodin, era mais fácil para os súditos serem leais aos princípios jurídicos do que à pessoa física de um rei. O medo e a insegurança, a ideia de pacto entre o soberano e os súditos: Thomaz Hobbes (1588-1679) e a ciência Como assegurar o interesse comum em uma sociedade que, sob o efeito do capitalismo, diversificara classes, respectivos interesses, e religiões? Como assegurar base de sustentação para o governo, quando a sociedade já não se apresentava como uma comunidade? A resposta encontrada por Hobbes seria resultante de uma busca por fundamentos racionais do interesse privado, orientada pela razão. A sociedade política deveria criar uma forma de associação racional para governar os homens. Essa era uma exigência na Inglaterra de Hobbes e a concepção de “estado de natureza” pareceu ser uma nova possibilidade para pensar a política, sem recorrer à teologia, ou filosofia, mas à ciência. O estado de natureza É uma criação artificial, racional, na qual os indivíduos são construídos nas suas diferenças de classes, interesses, posses, mas na semelhança de desejos, o que instaura conflito e concorrência entre eles, portanto, a insegurança e o medo. No estado de concorrência, “o homem é o lobo do homem”; mesmo em tempos de paz, todos estão contra todos, dando origem à guerra, que impede as atividades de toda sorte, econômicas, intelectuais e artísticas, fazendo desaparecer o sentido privado de propriedade, na medida em que, o que pertence a um é desejado por outro. “O Leviatã”, o poderoso gigante protetor Na obra “O Leviatã” ou “Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil”, Hobbes discute o estado como um homem artificial, mais forte e poderoso do que cada um dos indivíduos, necessário para protegê-los na medida em que todos têm em comum os mesmos desejos de riqueza, as mesmas noções de recompensa e de castigo. Esse estado é representado como uma metáfora da coletividade, na imagem de um gigante (Leviatã), que empunha espada e cajado episcopal e pela articulação entre poderes distintos: militar, religioso e político. Um pacto entre todos dá origem ao Estado, evita a luta e o medo, fundamenta o poder do rei ou da assembleia Se o pacto é voluntário, sua preservação depende da ameaça e castigo. Não são apenas as palavras que o sustentam, logo, confere ao rei o poder de castigo e armas para imposição. A sociedade política, em Hobbes, é instaurada por uma escolha racional, derivada do medo da guerra, mas se dirige à esperança de paz no Estado: todos se encontramrepresentados na instância de poder constituída, todos se comprometem, entre si, com a obediência ao senhor que escolheram, mas o senhor ou soberano não se compromete. Ele não fez o pacto, foi escolhido por todos para representá- los, não houve delegação de poder, mas a radical alienação do poder de cada um para o Leviatã, que os representa coletivamente, exercendo uma vontade absoluta. O Estado pode assumir forma diversa, desde que o poder soberano seja indivisível Aos homens que, no estado natural, gozavam de direitos individuais em meio aos conflitos de interesses, restou a total submissão ao poder soberano instalado: eles têm deveres e não mais direitos individuais, sendo esse o traço fundamental na constituição da “cidadania”. Ao firmarem o pacto, os homens abriram mão da liberdade em nome de um governo autoritário, aceitaram a dominação em nome da proteção, seus interesses são então representados pelo poder soberano, exatamente por isso, a forma de Estado mais vantajosa para todos seria a Monarquia, no entender de Hobbes, visto que, se todos os súditos acumulam riquezas, o poder do Monarca será ampliado. Portanto, é do interesse do rei a riqueza, a glória e a segurança dos súditos. Aspectos gerais da concepção de Hobbes A concepção de Hobbes é racional, fria, se aproxima daquela de Maquiavel e para alguns dos seus intérpretes, é individualista e materialista. Estão ausentes de seu pensamento quaisquer referências à justificativa religiosa do poder civil dos reis e finalidades outras que não sejam a proteção de cada um, de suas riquezas e interesses em face dos interesses da ambição dos demais. Consequentemente, o poder de legislar fica concentrado no soberano, mas a lei é um artifício decorrente da instituição do Estado: fora dele não há direito e nele todo direito decorre da lei, que, por definição, não pode ser injusta. As leis decorrem da vontade do soberano, logo, ele está submetido a elas enquanto não as revogar. Todavia, o direito de promulgar leis e de revogá-las é dele. Quais seriam os deveres do soberano com relação aos súditos? O soberano deve garantir aos súditos segurança para realização das satisfações, cabendo ao Estado as medidas que permitam trabalho, educação, encaminhando os súditos para o sucesso. Cabe aos súditos a inocente liberdade permitida pela lei e as leis devem ser explicadas ou justificadas para serem racionalmente obedecidas. O indivíduo-cidadão, em Hobbes, se constrói no Estado, por um processo político, na relação com o poder, mas não se trata de um indivíduo temeroso, de um sujeito da sujeição, mas daquele considerado curioso e sábio. Hobbes submete a Igreja ao Estado ou à soberania. Ela, a soberania, não é o poder de fazer não importa o quê. Qual o papel do Estado com relação à economia e à propriedade privada no século XVII? Nas Províncias Unidas da Holanda, que se destacavam na economia mercantilista, no ambiente político de tolerância religiosa, o consentimento ao pacto explica a sociedade e o Estado como autoridade pública, soberana do próprio grupo. Esse é o fundamento da teoria de soberania de Althusius. Em contrapartida, as relações econômicas entre estados, questão central ao capitalismo mercantilista em expansão, aparece em Grocio, cuja reflexão política é marcada pela importância reguladora do direito positivo. Em Hobbes, ao modelo de estado absolutista, corresponderia um governo liberal, não intervencionista, conservador, enfim, um governo que mantivesse as lutas políticas sob controle, mas ampliando as oportunidades de negócios. Bodin (século XVI, na França) e Hobbes (século XVII, na Inglaterra) Ambos refletem sobre o Estado, sua constituição no marco do absolutismo monárquico na França, de influência católica na Inglaterra anglicana e calvinista. Ambos os pensadores enfrentaram a espinhosa questão dos limites ao poder absoluto em face das normas jurídicas, da convenção e dos presumíveis direitos dos cidadãos. Todavia, os amantes do autoritarismo sempre evocam Hobbes para justificar a paz de um “governo forte”. O argumento, além de impreciso, porque ignora as modulações do pensamento do autor, tem sido utilizado pelos temerosos de perder privilégios e riquezas, servindo a distintas ditaduras, inclusive na elaboração teórica de Golbery do Couto e Silva para a ditadura. O “direito” instituído nessas condições apenas expressa e aplaca aquele medo. Interatividade Qual dessas proposições está correta? a) Portugal e Espanha se organizaram como estados nacionais após a descoberta do Novo Mundo. b) Na Inglaterra, a luta entre nobres e Coroa se estendeu por largo período, envolveu a consolidação do Parlamento em duas casas. c) A França não enfrentou guerras para consolidação do estado nacional. d) A nobreza francesa foi a grande articuladora do estado nacional francês, juntamente com o clero. e) A instalação do Tribunal do Santo Ofício, em Lisboa, tinha por objetivo reforçar a identidade nacional cristã portuguesa. Resposta Qual dessas proposições está correta? a) Portugal e Espanha se organizaram como estados nacionais após a descoberta do Novo Mundo. b) Na Inglaterra, a luta entre nobres e Coroa se estendeu por largo período, envolveu a consolidação do Parlamento em duas casas. c) A França não enfrentou guerras para consolidação do estado nacional. d) A nobreza francesa foi a grande articuladora do estado nacional francês, juntamente com o clero. e) A instalação do Tribunal do Santo Ofício, em Lisboa, tinha por objetivo reforçar a identidade nacional cristã portuguesa. ATÉ A PRÓXIMA!
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