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Livro 14

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2019 - 06 - 21 
Contratos Cíveis
CAPÍTULO 14 CONTRATO DE TRANSPORTE
Capítulo 14: Contrato de transporte
Doutrina Aplicada
14.1. Conceito e relação com outros contratos
Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar
para outro, pessoas ou coisas (art. 730, CC).
Se a relação de transporte estiver atrelada a outro contrato, como o de compra e venda,
figurando como acessório deste último (por exemplo, o vendedor se obriga a entregar a coisa no
domicílio do comprador), não haverá aplicação das normas do contrato de transporte, mas sim da
própria compra e venda, de maneira que o vendedor não se torna transportador.
Cumpre ressaltar que não se confunde o contrato de transporte com o fretamento de veículo.
Neste, há a cessão de veículo que transportará pessoa ou coisa de acordo com o destino que der o
outorgado. No transporte, quem dirige e se responsabiliza pelo deslocamento das pessoas ou coisas
é o transportador.
14.2. Regime jurídico: complexo de normas
Com relação ao regramento jurídico acerca do contrato de transporte, o Código Civil se
preocupou em preservar a vasta legislação especial que cuida do assunto, sobretudo tratados
internacionais (como a Convenção de Varsóvia) e outros Diplomas específicos (como o CDC, o
Código Brasileiro de Aeronáutica etc.).
Determina o art. 732 do Código Civil que aos contratos de transporte são aplicáveis, quando
couberem e desde que não contrariem as disposições do Código Civil, os preceitos constantes da
legislação especial. Correto dizer, então, que o Código Civil é a base do sistema, integrado, no que
for pertinente, pela legislação extravagante.
14.3. Classificação
Em face de suas características, o contrato de transporte:
I. Gera obrigação de resultado: a obrigação do transportador é levar pessoa ou coisa incólume
ao seu destino. Qualquer outra ocorrência, que não esta, representará inadimplemento.
II. É bilateral (ou sinalagmático): gera obrigações para ambas as partes.
III. É consensual: aperfeiçoando-se com a manifestação de vontade das partes. Essa
manifestação pode ser tácita, como ocorre, por exemplo, com o passageiro que ingressa no táxi ou
ônibus coletivo mediante aceno de mão.
IV. É comutativo: não há álea no contrato. As partes contraentes sabem desde a celebração do
contrato os ônus e benefícios que dele decorrerão.
V. É informal: independe de forma prescrita em lei, podendo ser celebrado, inclusive, de
maneira verbal. Veja-se que até de forma gestual o contrato pode ser celebrado. Na prática, aliás, é
até comum (imagine-se pessoa que sinaliza a parada de certo ônibus de linha municipal).
VI. É de adesão: em regra, o viajante adere ao regulamento da empresa de transporte, que
elabora todas as suas cláusulas.
14.4. Espécies
14.4.1. Regramento dado pelo Código Civil
O Código Civil regulamenta o contrato de transporte em três seções: “Disposições Gerais”;
“Transporte de Pessoas” e “Transporte de Coisas” (arts. 730 a 756, CC).
Quanto ao que se transporta, o contrato pode ser, pois, de pessoas ou de coisas. Importante
alertar que o transporte de bagagens, que se poderia confundir com o transporte de coisas, é
acessório do contrato de transporte de pessoas. Responsabiliza-se o transportador, nesse caso,
pelas pessoas e suas bagagens, nos termos do que preceitua o art. 734 do Código Civil.
Quanto ao meio utilizado, o transporte pode ser terrestre, aéreo ou marítimo. A distinção aqui
se dá, portanto, de acordo com a forma de deslocamento da origem ao destino.
14.4.2. Transporte de pessoas
A pessoa que acena para um ônibus, sinalizando sua intenção de embarcar, já manifestou seu
interesse em contratar, dando início à relação contratual, uma vez que tais veículos se encontram
em situação de oferta permanente.
A responsabilidade do transportador, entretanto, somente começa a partir do ingresso do
passageiro em sua esfera de direção. Normalmente é um ato do próprio passageiro que o coloca
sob essa responsabilidade: galgar os degraus do ônibus, atravessar a catraca e entrar no trem etc.
Essa situação de garantia é o que se chama de “cláusula de incolumidade”.
No transporte rodoviário, exige-se o efetivo ingresso do passageiro no veículo visto que a
estação não pertence ao transportador, de modo que os acidentes ali ocorridos não são de sua
responsabilidade. Porém, frise-se, acidentes ocorridos no embarque ou desembarque esses, sim, são
de responsabilidade do transportador.
Em determinados contratos de transporte, as etapas de celebração e execução do contrato ficam
bem demarcadas, como costuma acontecer com viagens aéreas. Nesses casos, a responsabilidade
do transportador pela incolumidade do passageiro somente começa a partir da execução do
contrato.
Qualquer acidente que cause dano ao passageiro obriga o transportador a indenizá-lo. Isso
significa dizer que, se o passageiro cair ao subir em um trem, a ferrovia deverá ressarci-lo, da
mesma forma que faria se ele fosse empurrado por alguém.
Em regra, o fato de terceiro representa excludente de responsabilidade. Em matéria de
transporte de pessoas, entretanto, a jurisprudência tem sido rigorosa, não a admitindo. O Código
Civil absorveu essa orientação (art. 735), que, a seu turno, reproduziu o teor da Súmula 187 do STF.
Se o acidente se deu em decorrência de manobra realizada por outro veículo, deverá o
transportador ressarcir o passageiro e, depois, buscar reparação perante o terceiro culpado.
Entende a doutrina, entretanto, que o fato de terceiro, completamente estranho ao transporte –
isto é, que não sirva de concausa, porque ele sozinho produz o efeito danoso –, rompe o nexo de
causalidade. É o que aconteceria, por exemplo, com um passageiro que durante o trajeto é atingido
por uma bala perdida.
Também não haverá dever de indenizar nos casos de culpa exclusiva do passageiro.
Questão interessante é a de se saber se o passageiro clandestino – aquele que se encontra no
veículo de maneira irregular – faz jus à indenização em caso de dano. Adequado o entendimento
no sentido de que se o transportado está em situação de irregularidade (porque, por exemplo, com
o intuito de não pagar sua passagem, se escondeu no interior do veículo, em meio aos outros
passageiros, sem o conhecimento do transportador), não haverá responsabilidade do
transportador. Se assim atua o passageiro, não há para ele qualquer garantia.
O contrato de transporte é, por definição, aquele em que alguém se obriga, mediante
retribuição, a transportar outrem (ou coisa) de um lugar para outro (art. 730, CC). Assim,
determina o art. 736 do Código Civil que não se subordina às normas do contrato de transporte o
feito gratuitamente, por amizade ou cortesia.
Nesses casos, valem as regras da responsabilidade aquiliana (extracontratual, a exigir
demonstração da culpa do causador do dano). De outro jeito, o parágrafo único do mesmo art. 736
do Código Civil diz que não é gratuito o transporte quando o transportador, embora em
remuneração, de certa forma recebe vantagens indiretas por isso. Nesses casos em que há, assim,
vantagens indiretas recebidas (como o motorista que dá carona para colega de trabalho que, em
troca, costuma fazer as suas marmitas), o transportador terá responsabilidade contratual.
Importante lembrar que, em regra, o transportador não pode recusar passageiros, salvo nos
casos previstos por regulamentos ou se as condições de higiene ou saúde do interessado o
justificarem (art. 739, CC).
Quanto ao direito de retenção por parte do transportador, tem-se que, uma vez realizado o
transporte, tem o transportador direito de reter a bagagem do passageiro e outros objetos pessoais
dele, para garantir o pagamento do valor da passagem que não tiver sido feito no início ou no
decorrer do percurso (art. 742, CC).
14.4.3. Transporte de coisas
Em se tratando de transporte de coisas, a recusa pode ser facultativa. Dessa forma,o
transportador poderá recusar o transporte de coisa cuja embalagem seja inadequada para o
deslocamento, bem como se a coisa puder colocar em risco a saúde de pessoas, ou danificar o
veículo e outros bens (art. 746, CC).
A recusa será obrigatória, entretanto, quando o transporte ou o comércio da coisa sejam
proibidos, ou quando, ainda que permitidos, venha ela desacompanhada dos documentos exigidos
(art. 747, CC).
Recebe o nome de “documento de conhecimento e responsabilidade” aquele emitido pelo
transportador, assim que receber a coisa, em que se individualiza a coisa indicando, ainda, o seu
valor (art. 743 e 744, CC). Sua responsabilidade limita-se a esse valor, e começa no momento em
que recebe a coisa, somente terminando quando a entrega no destino ou a deposita em juízo se o
destinatário não for encontrado (art. 750, CC).
Veja-se que, a princípio, a responsabilidade do transportador de coisa – quanto ao seu início e
término – é maior do que a do transportador de pessoas. Se a coisa, já em poder do transportador
(em seus armazéns, por exemplo, ou guarda-móvel), sofrer avaria, mesmo que ocorrido antes
mesmo de qualquer deslocamento, deverá ele ressarcir o remetente, porque sua responsabilidade
já se iniciara.
Se o dano causado à coisa transportada, ou sua perda parcial, não for perceptível à primeira
vista, o destinatário preserva sua ação contra o transportador, desde que aponte o dano em dez
dias a contar da entrega (art. 754, parágrafo único, CC).
Até a entrega da coisa, poderá o remetente desistir do transporte, pedindo-a de volta, ou mesmo
determinar que seja entregue a outro destinatário. Em ambos os casos, suportará os acréscimos de
despesa decorrentes da contraordem mais as perdas e danos, se existentes.
Dossiê Legislativo
Código Civil
Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002
Disposições gerais
Art. 730. Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de
um lugar para outro, pessoas ou coisas.
Art. 731. O transporte exercido em virtude de autorização, permissão ou concessão, rege-se
pelas normas regulamentares e pelo que for estabelecido naqueles atos, sem prejuízo do disposto
neste Código.
Art. 732. Aos contratos de transporte, em geral, são aplicáveis, quando couber, desde que não
contrariem as disposições deste Código, os preceitos constantes da legislação especial e de tratados
e convenções internacionais.
Art. 733. Nos contratos de transporte cumulativo, cada transportador se obriga a cumprir o
contrato relativamente ao respectivo percurso, respondendo pelos danos nele causados a pessoas e
coisas.
§ 1º O dano, resultante do atraso ou da interrupção da viagem, será determinado em razão da
totalidade do percurso.
§ 2º Se houver substituição de algum dos transportadores no decorrer do percurso, a
responsabilidade solidária estender-se-á ao substituto.
Do Transporte de Pessoas
Art. 734. O transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas
bagagens, salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da
responsabilidade.
Parágrafo único. É lícito ao transportador exigir a declaração do valor da bagagem a fim de
fixar o limite da indenização.
Art. 735. A responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro não é
elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva.
Art. 736. Não se subordina às normas do contrato de transporte o feito gratuitamente, por
amizade ou cortesia.
Parágrafo único. Não se considera gratuito o transporte quando, embora feito sem
remuneração, o transportador auferir vantagens indiretas.
Art. 737. O transportador está sujeito aos horários e itinerários previstos, sob pena de
responder por perdas e danos, salvo motivo de força maior.
Art. 738. A pessoa transportada deve sujeitar-se às normas estabelecidas pelo transportador,
constantes no bilhete ou afixadas à vista dos usuários, abstendo-se de quaisquer atos que causem
incômodo ou prejuízo aos passageiros, danifiquem o veículo, ou dificultem ou impeçam a
execução normal do serviço.
Parágrafo único. Se o prejuízo sofrido pela pessoa transportada for atribuível à transgressão de
normas e instruções regulamentares, o juiz reduzirá equitativamente a indenização, na medida
em que a vítima houver concorrido para a ocorrência do dano.
Art. 739. O transportador não pode recusar passageiros, salvo os casos previstos nos
regulamentos, ou se as condições de higiene ou de saúde do interessado o justificarem.
Art. 740. O passageiro tem direito a rescindir o contrato de transporte antes de iniciada a
viagem, sendo-lhe devida a restituição do valor da passagem, desde que feita a comunicação ao
transportador em tempo de ser renegociada.
§ 1º Ao passageiro é facultado desistir do transporte, mesmo depois de iniciada a viagem,
sendo-lhe devida a restituição do valor correspondente ao trecho não utilizado, desde que provado
que outra pessoa haja sido transportada em seu lugar.
§ 2º Não terá direito ao reembolso do valor da passagem o usuário que deixar de embarcar,
salvo se provado que outra pessoa foi transportada em seu lugar, caso em que lhe será restituído o
valor do bilhete não utilizado.
§ 3º Nas hipóteses previstas neste artigo, o transportador terá direito de reter até 5% (cinco por
cento) da importância a ser restituída ao passageiro, a título de multa compensatória.
Art. 741. Interrompendo-se a viagem por qualquer motivo alheio à vontade do transportador,
ainda que em conseqüência de evento imprevisível, fica ele obrigado a concluir o transporte
contratado em outro veículo da mesma categoria, ou, com a anuência do passageiro, por
modalidade diferente, à sua custa, correndo também por sua conta as despesas de estada e
alimentação do usuário, durante a espera de novo transporte.
Art. 742. O transportador, uma vez executado o transporte, tem direito de retenção sobre a
bagagem de passageiro e outros objetos pessoais deste, para garantir-se do pagamento do valor da
passagem que não tiver sido feito no início ou durante o percurso.
Do Transporte de Coisas
Art. 743. A coisa, entregue ao transportador, deve estar caracterizada pela sua natureza, valor,
peso e quantidade, e o mais que for necessário para que não se confunda com outras, devendo o
destinatário ser indicado ao menos pelo nome e endereço.
Art. 744. Ao receber a coisa, o transportador emitirá conhecimento com a menção dos dados
que a identifiquem, obedecido o disposto em lei especial.
Parágrafo único. O transportador poderá exigir que o remetente lhe entregue, devidamente
assinada, a relação discriminada das coisas a serem transportadas, em duas vias, uma das quais,
por ele devidamente autenticada, ficará fazendo parte integrante do conhecimento.
Art. 745. Em caso de informação inexata ou falsa descrição no documento a que se refere o
artigo antecedente, será o transportador indenizado pelo prejuízo que sofrer, devendo a ação
respectiva ser ajuizada no prazo de 120 (cento e vinte) dias, a contar daquele ato, sob pena de
decadência.
Art. 746. Poderá o transportador recusar a coisa cuja embalagem seja inadequada, bem como a
que possa pôr em risco a saúde das pessoas, ou danificar o veículo e outros bens.
Art. 747. O transportador deverá obrigatoriamente recusar a coisa cujo transporte ou
comercialização não sejam permitidos, ou que venha desacompanhada dos documentos exigidos
por lei ou regulamento.
Art. 748. Até a entrega da coisa, pode o remetente desistir do transporte e pedi-la de volta, ou
ordenar seja entregue a outro destinatário, pagando, em ambos os casos, os acréscimos de despesa
decorrentes da contraordem, mais as perdas e danos que houver.
Art. 749. O transportador conduzirá a coisa ao seu destino, tomando todas as cautelas
necessárias para mantê-la em bom estado e entregá-la no prazo ajustado ou previsto.
Art. 750. A responsabilidade do transportador,limitada ao valor constante do conhecimento,
começa no momento em que ele, ou seus prepostos, recebem a coisa; termina quando é entregue
ao destinatário, ou depositada em juízo, se aquele não for encontrado.
Art. 751. A coisa, depositada ou guardada nos armazéns do transportador, em virtude de
contrato de transporte, rege-se, no que couber, pelas disposições relativas a depósito.
Art. 752. Desembarcadas as mercadorias, o transportador não é obrigado a dar aviso ao
destinatário, se assim não foi convencionado, dependendo também de ajuste a entrega a domicílio,
e devem constar do conhecimento de embarque as cláusulas de aviso ou de entrega a domicílio.
Art. 753. Se o transporte não puder ser feito ou sofrer longa interrupção, o transportador
solicitará, incontinenti, instruções ao remetente, e zelará pela coisa, por cujo perecimento ou
deterioração responderá, salvo força maior.
§ 1º Perdurando o impedimento, sem motivo imputável ao transportador e sem manifestação
do remetente, poderá aquele depositar a coisa em juízo, ou vendê-la, obedecidos os preceitos legais
e regulamentares, ou os usos locais, depositando o valor.
§ 2º Se o impedimento for responsabilidade do transportador, este poderá depositar a coisa, por
sua conta e risco, mas só poderá vendê-la se perecível.
§ 3º Em ambos os casos, o transportador deve informar o remetente da efetivação do depósito
ou da venda.
§ 4º Se o transportador mantiver a coisa depositada em seus próprios armazéns, continuará a
responder pela sua guarda e conservação, sendo-lhe devida, porém, uma remuneração pela
custódia, a qual poderá ser contratualmente ajustada ou se conformará aos usos adotados em cada
sistema de transporte.
Art. 754. As mercadorias devem ser entregues ao destinatário, ou a quem apresentar o
conhecimento endossado, devendo aquele que as receber conferi-las e apresentar as reclamações
que tiver, sob pena de decadência dos direitos.
Parágrafo único. No caso de perda parcial ou de avaria não perceptível à primeira vista, o
destinatário conserva a sua ação contra o transportador, desde que denuncie o dano em 10 (dez)
dias a contar da entrega.
Art. 755. Havendo dúvida acerca de quem seja o destinatário, o transportador deve depositar a
mercadoria em juízo, se não lhe for possível obter instruções do remetente; se a demora puder
ocasionar a deterioração da coisa, o transportador deverá vendê-la, depositando o saldo em juízo.
Art. 756. No caso de transporte cumulativo, todos os transportadores respondem
solidariamente pelo dano causado perante o remetente, ressalvada a apuração final da
responsabilidade entre eles, de modo que o ressarcimento recaia, por inteiro, ou
proporcionalmente, naquele ou naqueles em cujo percurso houver ocorrido o dano.
– Súmula 161, STF: Em contrato de transporte, é inoperante a cláusula de não indenizar.
– Súmula 187, STF: A responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com o
passageiro, não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva.
– Súmula 109, STJ: O reconhecimento do direito a indenização, por falta de mercadoria
transportada via marítima, independe de vistoria.
Estratégia Contratual
1. Quando o transporte estiver atrelado a uma compra e venda (como acontece quando
vendedor se obriga a entregar a coisa para o comprador), a disciplina jurídica será a deste último
pacto.
2. O contrato de transporte não se confunde com o frete de veículo. No fretamento haverá
cessão do veículo que levará as pessoas ou coisas, sem responsabilidade pela direção e pelo
deslocamento. No transporte, quem dirige e se responsabiliza pelo deslocamento das pessoas ou
coisas é o transportador. O que vai determinar qual o contrato formulado são suas cláusulas
contendo os deveres e direitos. É preciso que, em tais casos, haja muito cuidado com esses termos
para que se evitem futuras responsabilizações.
3. Transporte das bagagens não é transporte de coisas. Trata-se, nesse caso, de relação acessória
ao transporte de pessoas. O transportador, nessa situação, responsabiliza-se pelas pessoas e seus
pertences, tal como preceitua o art. 734 do Código Civil.
4. Modalidades do contrato de transporte marítimo internacional de mercadoria (Contract of
Affreightment – COA) quanto à entrega do bem:
a) House to House (H/H): a mercadoria é retirada no estabelecimento do exportador e entregue
no estabelecimento do importador.
b) Pier to Pier (P/P): a mercadoria é retirada no porto de partida e entregue no porto de
chegada.
c) House to Pier (H/P): a mercadoria é retirada no estabelecimento do exportador e entregue no
porto de chegada.
d) Pier to House (P/H): a mercadoria é retirada no porto de partida e entregue no
estabelecimento do importador.
5. Cláusulas do contrato de transporte marítimo internacional de mercadoria (Contract of
Affreightment – COA) quanto ao pagamento das despesas:
a) FO – Free out: despesas com o carregamento por conta do armador.
b) FI – Free in: despesas com a descarga por conta do armador.
c) LIFO – Liner in free out: carregamento por conta do armador e descarga por conta do
afretador.
d) FIO – Free in and out: despesas com carregamento por conta do afretador.
e) FIOS – Free in out stowed: despesas com carregamento, estivagem e descarga por conta de
terceiros.
f) FIOT – Free, out and trimmed: o armador fica livre de despesas com carregamento, rechego e
descarga.
g) FIS – Free in and stowed: o armador fica livre de despesas com o carregamento e com a
estivagem.
h) FIST – Free in, stowed and trimmed: o armador fica livre das despesas com carregamento,
estivagem e rechego.
i) FILO – Free in, liner out: o armador fica livre das despesas com o carregamento, mas as da
descarga correm por sua conta.
j) FISLO – Free in and stowed, liner out: o armador fica livre das despesas com o carregamento e
a estivagem, ficando a descarga por sua conta.
Jurisprudência Aplicada
– Necessidade de concessão ou permissão do Poder Público para exploração da atividade de
transporte coletivo remunerado (RT 812/310 e 798/363).
– Prerrogativa de o Poder Público regulamentar o transporte alternativo (RT 807/351).
– Prevalência do Código de Defesa do Consumidor sobre a Convenção de Varsóvia nos casos de
responsabilidade do transportador aéreo internacional (RSTJ 153/223 e 152/400).
– Prevalência sobre o Código Brasileiro de Aeronáutica (RSTJ 158/310 e RT 790/219).
– Aplicação da tarifa indenizatória da Convenção de Varsóvia apenas quando não determinável
o valor do dano experimentado pelo extravio de bagagem (RT 799/257).
– Hipóteses de indenização da lei especial (TJSP, Ap. Cível 7.052.735-8, 15ª Câm., rel. Des. Souza
José, j. 28.03.2006).
– “O primeiro transportador se responsabiliza por todo o percurso, ainda que trechos
subsequentes estivessem a cargo de outra companhia” (RT 793/250).
– Responsabilidade solidária das transportadoras (TJRJ, Ap. Cível 2007.001.23169, 11ª Câm., rel.
Des. Cláudio Tavares, j. 29.08.2007).
– Adoção da teoria do risco criado por atividade perigosa (RSTJ 150/262).
– Responsabilidade da empresa de ônibus pela queda de passageiro (TJSP, Ap. Cível
7.353.483.900, 14ª Câm., rel. Des. Tarciso Beraldo, j. 24.06.2009).
– Diferença entre o fortuito interno e externo (STJ, REsp 469.867/SP, 3ª T., Rel. Min. Carlos
Alberto Menezes Direito, j. 27.09.2005).
– Possibilidade de dano moral pelo extravio de bagagem do passageiro (RT 803/177 e 799/257).
– Afastando a configuração de defeitos do veículo como fortuito externo, de modo a eximir o
transportador de responsabilidade (RT 727/200).
– Estouro de pneu do veículo (RT 792/272).
– Pelas condições de ocorrência repetida, na mesma região, o roubo deixa de ser fortuito
externo (RT 814/227).
– Não é fortuito externo o disparo de arma de fogo na plataforma de embarque ferroviário,
também pela reiteração do evento, que se disse evitável e previsível (RT 795/228).– Responsabilidade da empresa ferroviária (STJ, REsp 431.091/SP, 3ª T., Rel. Min. Carlos Alberto
Menezes Direito, j. 17.06.2003, DJU 25.08.2003).
– Empresa de ônibus responde até por incêndio derivado de combustão de material explosivo
carregado por passageiro (RT 784/197).
– Exclui-se a responsabilidade da via férrea por sinistro envolvendo passageiro que viajava no
teto da composição – culpa exclusiva da vítima (RT 758/239).
– Responsabilidade da ferrovia no caso de atropelamento de pedestre que atravessa a via em
abertura clandestina (RSTJ 170/314).
– Responsabilidade do transportador de valores por atropelamento provocado em virtude de
disparo de projétil que atingiu o motorista (STJ, REsp 185.659/SP, 3ª T., Rel. Min. Carlos Alberto
Menezes Direito, rel. p/ acórdão Min. Nilson Naves, j. 26.06.2000).
– Cláusula de isenção de responsabilidade pelo dano à bagagem transportada na parte interna
do ônibus (TJRS, Ap. Cível 70.018.034.843, 12ª Câm., rel. Des. Jorge Canto, j. 28.06.2007).
– Aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos casos de arbitramento de indenização em
virtude de extravio de bagagem (STJ, AgRg no Ag 878.886/SP, 4ª T., rel. Min. Luis Felipe Salomão, j.
21.10.2008, DJ 17.11.2008).
– Equiparável ao fortuito externo o fato de terceiro quando imprevisível (RT 799/246).
– Isenção de pagamento de passagem pelo idoso não tipifica transporte por mera cortesia,
induzindo responsabilidade contratual (RT 805/262).
Transporte por cortesia (TJRJ, Ap. Cível 2007.001.31996, 2ª Câm., rel. Des. Heleno Nunes, j.
04.07.2007).
– Responsabilidade da transportadora, independentemente de culpa, pelo atraso de voo, e sem
limitação do valor ressarcitório (RT 815/272).
– Afasta a indenização moral por considerar pequeno transtorno, no caso concreto, a mudança
de escala e horário de voo (RT 711/107).
– Indenização por overbooking (RT 793/250 e 789/393).
– Relevância da extensão do atraso para haver dano moral (TJRS, Ap. Cível 70.014.775.555, 9ª
Câm., rel. Des. Marilene Berbardi, j. 31.05.2006).
– Condições climáticas como causa excludente da responsabilidade pelo atraso (TJRS, Ap. Cível
70.015.224.736, 9ª Câm., rel. Des. Tasso Delabary, j. 07.06.2006).
– Concorrência de culpa da vítima que invade local proibido para atravessar via férrea (RT
773/182).
– Isenção do transportador rodoviário de responsabilidade quando o passageiro, em parada de
ônibus, deixa de voltar no horário determinado (TJSP, Ap. Cível 7.344.442.900, 17ª Câm., rel. Des.
Maia da Rocha, j. 03.06.2009).
– Transporte de menor acompanhado de pessoa sem vínculo consanguíneo, mas companheiro
da avó (RT 733/201).
– Não se prejudica a consumação do contrato de transporte e respectiva responsabilidade do
transportador pela ausência de emissão de conhecimento de frete (RT 811/313).
– Inversão do ônus da prova caso se afirme alteração do conteúdo da mercadoria (RT 718/238).
– Responsabilidade do transportador pela acomodação da carga no veículo (RT 785/259).
– Container é equipamento do veículo transportador (RT 699/90).
– Responsabilidade do transportador que não recusa a carga (TJSP, Ap. Cível 7.347.193.300, 18ª
Câm., rel. Des. Carlos Lopes, j. 21.07.2009).
– Responsabilidade do transportador por furto da carga durante transporte noturno (RT
793/255).
– Exclusão da responsabilidade em caso de roubo da carga (STJ, REsp 433.738/SP, 4ª T., rel. Min.
Aldir Passarinho Junior, j. 12.11.2002; AgRg no Ag 686.845/MG, 3ª T., rel. Min. Humberto Gomes de
Barros, j. 03.10.2006, DJ 23.10.2006; AgRg nos EDcl. no REsp 772.620/MG, 3ª T., rel. Min. Nancy
Andrighi, j. 06.12.2005, DJ 19.12.2005; AgRg no REsp 703.866/SC, rel. Min. Cesar Asfor Rocha, j.
13.09.2005, DJ 13.02.2006).
– Prazo razoável para entrega das mercadorias (RT 813/267).
– Responsabilidade pelo extravio da carga (TJRJ, Ap. Cível 2006.001.70301, 4ª Câm., rel. Des.
Fernando Fernandes, j. 11.01.2007).
– Roubo de carga (TJSP, Ap. Cível 7.130.846- 4, 11ª Câm., rel. Des. Gilberto dos Santos, j.
03.05.2007).
– Responsabilidade do transportador aéreo, desde o recebimento até a entrega da mercadoria
em seu destino, o manuseio, a operação de carga e descarga da “res” transportada, e não apenas
seu deslocamento físico (RT 808/257).
– Responsabilidade do transportador, mesmo quando não havido preenchimento do
conhecimento de transporte.
TJRS, Ap. Cível 70.014.520.829, 11ª Câm., rel. Des. Antônio Maria Iserhard, j. 12.07.2006
– Responsabilidade Civil – Transporte terrestre de mercadorias – Roubo – Alegação de que
contrato foi concluído quando os bens chegaram ao destino – Impossibilidade – Materiais que não
foram descarregados – Responsabilidade da transportadora que deve ser reconhecida,
prevalecendo até a efetiva entrega – Art. 750, do Código Civil – Apólice que também estabelece esse
o momento do fim da responsabilidade – Exame da prova e dos elementos objetivos deste caso,
autorizando a confirmação da condenação – Necessidade da efetiva entrega com a conferência –
Valor atualizado que deve prevalecer, para refletir corretamente a Inflação - Juros de mora que
devem incidir da citação – Responsabilidade contratual – Art. 219 do CPC – Recurso parcialmente
provido, prejudicado o agravo retido.
TJSP, Ap. Cível 1.057.564.300, 15ª Câm., rel. Des. Antônio Ribeiro, j. 15.09.2009
– Responsabilidade do transportador aéreo, quando ajustada a entrega a domicílio, por sinistro
ocorrido durante o deslocamento terrestre da mercadoria (RT 747/394).
– Indenização ao transportador por despesas havidas em virtude de impossibilidade de entrega
da coisa (RT 812/365).
– Decadência – Prazo – Transporte – Produtos perecíveis (mamões papaya) – Ausência de
comunicação à transportadora das condições das mercadorias quando aportaram no exterior –
Art. 754, parágrafo único, CC – Prazo decadência! de dez dias não cumprido – Alegação de regras
diferentes no exterior quanto ao protesto – Regras internacionais não demonstradas – Irrelevância
dos argumentos quanto às condições do transporte, reconhecida a decadência – Recurso não
provido.
TJSP, Ap. Cível 7.315.422.200, 14ª Câm., rel. Des. Melo Colombi, j. 18.02.2009
– Apelação cível. Contrato de transporte rodoviário. Ação de depósito judicial. Recusa de
recebimento da carga pelo destinatário e contratante do transporte. Agravo retido não conhecido.
Preliminares. Nos termos do art. 524, II do Código de Processo Civil, deve a agravante trazer os
motivos de seu inconformismo, contrapondo-se, especificamente, aos fundamentos da decisão
interlocutória impugnada. No caso dos autos, a mesma limitou-se a declinar matéria ampla de
defesa sem, no entanto, atacar a decisão que deferiu o pedido liminar de depósito da mercadoria
transportada pela autora, tornando impositivo o não conhecimento do recurso por ausência de
requisito de formal. O contrato de transporte perfectibiliza-se com a emissão do conhecimento de
frete, logo, tal documento é hábil à comprovação da avença. As disposições legais invocadas para
demonstrar a impossibilidade jurídica do pedido, arts. 750 e 755 do Código Civil, não se aplicam ao
caso dos autos, porquanto o destinatário da carga transportada é conhecido e foi localizado,
somente tendo havido a recusa do recebimento. Tendo a contratação do transporte sido efetuada
pela recorrente e encontrando-se a obrigação do transportador atendida, deve ser mantida a
sentença de procedência do pedido, cabendo exclusivamente às rés solver a questão do contrato de
compra e venda, porquanto estranha ao caso dos autos. Não conhecido o agravo retido e negado
provimento ao apelo.
© desta edição [2018]
TJRS, Ap. Cível 70.020.833.141, 12ª Câm., rel. Des. Cláudio Baldino Maciel, j. 30.08.2007
– Agravo de instrumento cabimento do recurso. Admitido embargos de declaração de decisão
interlocutória omissa, obscura ou contraditória. Tempestividade. A oposição de embargos de
declaração interrompe o prazo parainterposição de qualquer outro recurso. Denunciação à lide.
Contrato ainda que verbal não impossibilita a denunciação à lide pretendida pela agravante.
Transporte cumulativo. Doutrina. Art. 756 do novo Código Civil. Agravo provido.
TJRS, AI 70.004.738.977, 2ª Câm. Esp., rel. Des. Assis Brasil, j. 27.02.2003

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