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Economai Industrial - Barreiras Estruturais à Entrada

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Barreiras Estruturais à Entrada (Capítulo 5: David Kupfer e Lia Hasenclever)
QUADRO I
O PARADIGMA ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO
ESQUEMA ANALÍTICO
ESTRUTURA
Número de produtores e compradores, diferenciação de produtos,
barreiras à entrada, estruturas de custos, integração vertical,
diversificação
1
CONDUTA
Políticas de preços, estratégias de produto e vendas, pesquisa e
desenvolvimento, investimentos em capacidade produtiva
1
DESEMPENHO
Alocação eficiente dos recursos, atendimento das demandas dos
consumidores, progresso técnico, contribuição para a viabilização do
pleno emprego dos recursos, contribuição para uma distribuição
equitativa da renda, grau de restrição monopolística da produção e
margens de lucro
Os modelos tradicionais de análise microeconômica dizem que indústrias com alto grau de concentração seriam as mais lucrativas. Inversamente, estruturas industriais mais atomizadas seriam as menos lucrativas. O monopólio seria o limite superior de lucratividade e a concorrência perfeita seria o limite inferior, pois nesta última, o preço é igual ao custo marginal.
 
Estudos empíricos revelam que raramente grau de concentração e economias de escala são suficientes para explicar a estrutura industrial. O tamanho mínimo econômico (ou EME – escala mínima eficiente) quase nunca supera a casa dos 10% do tamanho do mercado assim como o crescimento dos custos médios de produção de fábricas com escalas subótimas geralmente é de pequena monta. 
Por que, então, a maioria das indústrias é concentrada? 
Nas décadas de 1940 e 1950 ganha destaque a ideia de que o principal fator na determinação dos preços e da lucratividade de uma indústria está relacionada à facilidade ou dificuldade que as empresas estabelecidas encontram para impedir a entrada de novas empresas, isto é, a existência ou não de barreiras à entrada na indústria.
Basicamente, considera-se que, em um mercado no qual as empresas têm o poder de decidir o preço a ser cobrado pelos produtos vendidos, estes e as margens de lucro serão tanto maiores quanto mais:
(i) as condutas das firmas já existentes no mercado apresentem um grau elevado de coordenação, seja através de acordos tácitos, liderança de preços ou cartelização;
(ii) elevada for a exposição destas empresas à concorrência potencial, ou seja, à ameaça de entrada de novos concorrentes, atraídos pelas margens de lucro praticadas no mercado.
Concorrência Real ou Potencial 
Concorrência real: concorrência limitada a cada mercado, isto é, a concorrência em função do número e do tamanho relativo das diversas empresas que formam a indústria. 
Concorrência potencial: relaciona-se à competição por lucros entre empresas já estabelecidas em uma determinada indústria e novas empresas interessadas em iniciar operação nessa mesma indústria – as empresas entrantes (ou potenciais).
A concorrência potencial é típica do pensamento econômico clássico. Para essa corrente, se uma indústria apresenta lucros extraordinários, espera-se que novas empresas venham a se estabelecer nessa indústria buscando compartilhar esses lucros extraordinários. Simetricamente, se uma indústria apresenta desempenho deficitário, algumas empresas desejarão encerrar as atividades e transferir-se para as indústrias mais atraentes. 
 
Definições: 
Joe Bain: qualquer condição estrutural que permita que empresas já estabelecidas em uma indústria possam praticar preços superiores ao competitivo sem atrair novos capitais. Ex: 
Stigler: existem barreiras à entrada em uma indústria se há custos incorridos pelas empresas entrantes que não foram desembolsados pelas empresas estabelecidas quando iniciaram as operações. 
Gilbert: somente há barreiras à entrada quando há um diferencial econômico entre empresas estabelecidas e entrantes simplesmente porque as primeiras já existem (prêmio pela existência).
Weizsacher: Além da existência de diferenciais de custos entre entrantes e estabelecidas, é necessário, também, distorções na alocação dos recursos. 
Modelo Conceitual do Preço Limite
Considere uma indústria em que as empresas atuam em conjunto para prevenir entradas. Elas podem produzir bens homogêneos ou diferenciados; apresentam os custos médios de longo prazo em forma de L; o longo prazo é uma seqüência de dois curtos prazos. O primeiro é o período pré-entrada e o segundo é o período pós-entrada; supõe-se que a empresa entrante avalia que haja incentivos à entrada somente se for possível à obtenção de lucro econômico positivo imediatamente após a entrada. 
Se as empresas estabelecidas têm alguma vantagem em relação à empresa entrante, existe uma faixa de preço tal que é possível a elas obterem lucro positivo ao mesmo tempo em que nenhuma entrada seja incentivada. 
O valor superior dessa faixa é conhecido como preço limite. Quando o preço limite será escolhido pelas empresas existentes? 
Condição de entrada: uma margem sobre os custos médios de longo prazo que as empresas estabelecidas podem incluir no preço sem atrair entradas. 
E = (PL – PC)/PC 
PL = PC(1+E)
E = Condição de entrada
PL = Preço limite
PC = Preço competitivo = CMe mínimo de longo prazo.
Em relação à condição de entrada, E, podem prevalecer quatro situações distintas: 
1 – entrada fácil: as empresas estabelecidas não têm vantagens de custos em relação à empresa entrante e não podem sustentar lucros extraordinários. 
2 – entrada ineficazmente impedida: as empresas estabelecidas tem pouca vantagem competitiva, obterão os lucros mais altos possíveis apenas no primeiro período, pois ocorrerão entradas até que o preço retorne ao nível competitivo no segundo período. 
3 – entrada eficazmente impedida: as empresas estabelecidas tem vantagem competitiva em relação à empresa entrante, praticam o preço limite e barram à entrada. 
4 – Entrada bloqueada – é a situação na qual as vantagens competitivas das empresas estabelecidas são tão grandes que mesmo o preço de maximização dos lucros no primeiro período é inferior ao preço limite. 
Barreiras estruturais à entrada
1 – Existência de vantagens absolutas de custos a favor das empresas estabelecidas.
2 – Existência de preferências dos consumidores pelos produtos das empresas estabelecidas.
3 – Existência de estruturas de custos com significativas economias de escala.
4 – Existência de elevados requerimentos de capital inicial. 
Vantagens Absolutas de Custos
Quando o CMeLP das empresas entrantes é superior ao das empresas estabelecidas em qualquer nível de produção de um bem homogêneo. 
As vantagens de custos para as empresas estabelecidas surgem como reflexo de: 
1 – melhores condições de acesso a fatores de produção.
2 – acumulação de economias de aprendizado.
3 – imperfeições no mercado de fatores.
4 – existência de elevados requerimentos de capital inicial.
A tecnologia (patente) é uma das principais fontes de diferenciais absolutos de custos. As vantagens de custos podem ser modificados por estratégias especificas de empresas (integração vertical). Exemplo de indústria com vantagens absolutas: metalúrgica, agroindústrias. 
Existência de Economias de Escala
As condições requeridas para a existência de barreiras de escala são: 
1 – escala mínima eficiente (EME) não negligenciáveis em relação ao tamanho da demanda de mercado.
2 – custos médios de produção em escalas sobótimas superiores aos custos médios mínimos de longo prazo. 
Existem duas hipóteses possíveis
1 – a decisão de entrar em escala mínima eficiente provocará um considerável incremento da oferta da indústria, que implica redução no preço de mercado, a empresa entrante opta por uma entrada em pequena escala (escala subótima). As empresas estabelecidas, que operam em escala eficiente, poderão praticar um preço limite que lhes favoreçam. 
2 – A empresa potencial decide entrar com a escala mínima eficiente,podendo ou não haver excesso de capacidade produtiva, depende da reação das empresas estabelecidas. 
Reação provável: não-resposta em quantidade ou postulado de Sylos. As empresas existentes mantém à quantidade produzida implicando, no segundo período, em excesso de oferta na indústria, levando a uma queda de preço pós-entrada. 
Haverá um nível de preço pré-entrada capaz de proporcionar lucratividade positiva na fase pré-entrada para as empresas estabelecidas, mas que se reduzirá para um nível pós-entrada, incompatível com a obtenção de lucros pela empresa entrante. 
Outra opção comportamental: não resposta em preço. As empresas optam por reduzir o nível de produção de modo a manter a oferta total nos níveis pré-entrada, promovendo a acomodação da capacidade adicional pela empresa entrante no mercado. 
Diferenciação de Produto
Na competição real a diferenciação implica a existência de algum controle de preços, pois as curvas de demanda não são infinitamente elásticas, tornando possível elevar os preços acima do CMg. 
Na competição potencial: diferenciação pode implicar existência de barreiras à entrada. Se há lealdade dos consumidores as empresas, as entrantes devem vender a preços mais baixos obrigatoriamente ou incorrer em gastos maiores em propaganda. 
Haverá vantagens de custos para as empresas estabelecidas que farão com que os custos médios de longo prazo das empresas entrantes sejam superiores em todos os níveis de produção. 
A mensuração do grau de barreiras à entrada devido à diferenciação dependerá: das características do produto, a dimensão do esforço de venda imposto pelas firmas existentes e da natureza dos métodos de distribuição – exclusividade comercial, montagem de rede de distribuição própria ou de terceiros, etc.
Requerimentos iniciais de capital
As barreiras de capital surgem como conseqüência da existência de elevadas escalas mínimas eficientes.
Elas são reflexo da dificuldade em financiar os grandes volumes de capital requeridos quando o investimento inicial é muito elevado. 
Barreiras à Saída: os modelos de contestabilidade
Barreiras à saída decorrem da existência de custos que as empresas necessitam arcar para encerrar a produção. 
Esses custos podem ser desembolsos efetivos como: custos de rescisão dos contratos em vigor, custos de oportunidade referentes a investimentos realizados e ainda não totalmente amortizados, e que não tenham valor de revenda (custos irrecuperáveis). 
Teoria da Contestabilidade
Nas teorias dos mercados contestáveis o importante é que a concorrência é definida pela existência ou não de custos irrecuperáveis significativos para a empresa entrante. 
Segundo essa teoria, uma configuração industrial é sustentável quando além de factível, não há plano possível para empresa entrante que lhe forneça lucros com os preços e quantidades que vigoram no mercado. 
Peye – C(ye) < E(ye)
Pe = preços; ye = quantidade; C(ye) custos totais de produção; E(ye) = custos de entrada. 
O mercado é perfeitamente contestável quando a entrada na indústria é livre e irreversível seu custo. 
Os requisitos para a existência de um mercado perfeitamente contestável:
1 – Ausência de Barreiras à Entrada: as empresas entrantes e estabelecidas têm acesso aos mesmos fatores de produção e a mesma habilidade de servir mercados (qualidade, marcas, etc.).
2 – Ausência de barreiras à saída: os custos irrecuperáveis são nulos.
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