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18 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 4, p. 18-37, jul./dez. 2016 OS GESTORES E OS CONFLITOS ORGANIZACIONAIS: UM ESTUDO EM LOJAS DE ELETRO ELETRÔNICO SITUADAS NA CIDADE DE PEREIRA BARRETO-SP Renata de Sampaio VALADÃO 1 Luan Henrique Bueno da SILVA 2 Patricia Teshima dos Santos IIDA 3 RESUMO O conflito é algo que faz parte da história humana e acontece porque os indivíduos e/ou seus grupos possuem ideias, objetivos e interesses diferentes uns dos outros. No ambiente organizacional não é diferente, os conflitos existem, sempre existirão e, de certa maneira, são eles os grandes responsáveis por fazer com que os profissionais saiam da “zona de conforto” e busquem resultados mais eficientes por meio das atividades que realizam. Mas é necessário que os conflitos sejam monitorados e administrados pelos gestores, para que eles não interfiram no clima organizacional e, consequentemente, na produtividade dos colaboradores, assim como no atendimento aos clientes. Desse modo, compreendendo a relevância do assunto para as organizações, gestores e colaboradores, este artigo teve como objetivo identificar como os gestores que atuam em lojas de eletro eletrônico que estão localizadas na cidade de Pereira Barreto, interior do estado de São Paulo, visualizam o conflito dentro da organização que gerenciam e quais ações que promovem para a administração de tais conflitos. Para a estruturação desta pesquisa foi utilizado como procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica e a pesquisa qualitativa. O resultado desta investigação destaca que os gestores participantes desta pesquisa compreendem a relevância dos conflitos e essa compreensão vem ao encontro das ideias dos autores citados, pois consideram que no ambiente organizacional contemporâneo o conflito é imprescindível, assim é necessário que o gestor saiba lidar com ele, utilizando-o a favor de um clima de trabalho mais harmonioso e produtivo, fomentando-o como fonte geradora de mudanças. Administrar os conflitos organizacionais não significa eliminá-los, mas sim desenvolver ações capazes de tratá-los da melhor maneira possível para que o resultado gere benefícios, tanto para as empresas quanto para seus colaboradores, fornecedores e clientes. Palavras-chave: Recursos Humanos. Gestão de Pessoas. Administração de conflitos. MANAGERS AND ORGANIZATIONAL CONFLICTS: A STUDY IN ELETRO ELETRÔNICO STORES IN PEREIRA BARRETO CITY-SP ABSTRACT Conflict is part of human being's history and it happens because individuals and/or their groups have different ideas, objectives and interests. This is not different in the organizational environment. Conflicts exist, will always exist and, in a certain way, they are largely responsible for making professionals leave the “comfort zone” and look for more efficient results through the activities that they carry out. It is necessary though that the conflicts be 1 Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). Professora Universitária das Faculdades Integradas Urubupungá (FIU). prof.renatavaladao@gmail.com 2 Acadêmico do Curso de Administração, Faculdades Integradas Urubupungá (FIU). hnriquebueno@hotmail.com 3 Acadêmico do Curso de Administração, Faculdades Integradas Urubupungá (FIU). patty_teshima@hotmail.com 19 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 4, p. 18-37, jul./dez. 2016 monitored and managed by the managers, so they do not intervene with the organizational climate and therefore with the employee's productivity, as well as with the customers service. Thus, to better understand the relevance of the subject for the organizations, managers and employees, this article's objective is to identify how the managers who work in electric- electronic stores in the city of Pereira Barreto, countryside of the State of São Paulo, visualize the conflict in the organization that they manage and which actions they promote to manage such conflicts. We applied bibliographic and qualitative research as methodological procedure in order to compose this study. The result of this investigation highlights that the managers who participated in this research understand the relevance of these conflicts. This understanding meet the ideas of the authors mentioned, because they consider that the conflict in the organizational environment is essential, thus it is necessary that the manager knows how to deal with it by using it in favor of a more harmonious and productive work climate, promoting it as a source for generating changes. Hence, to manage the organizational conflicts does not mean to eliminate them, but to develop actions capable to deal with them the best possible way so that the result generates benefits, as much for the companies as for their employees, suppliers and customers. Keywords Human Resources. People Management. Management conflicts. 1 INTRODUÇÃO Desde a pré-história os relatos destacam que os conflitos entre os seres humanos sempre existiram. Os motivos à época eram diversos: disputa por comida, por território, por um companheiro (a), pela liderança de um grupo ou tribo, pelos atributos relativos à beleza humana, entre outros. Atualmente, devido às mudanças aceleradas que estão ocorrendo no mundo, ao acesso fácil e irrestrito às informações, às tecnologias, às novas necessidades de subsistência dos indivíduos que possuem objetivos individuais e grupais diferentes, os conflitos aumentaram e, muitas vezes, são causadores de grandes problemas que afetam o relacionamento interpessoal. Acredita-se que a tendência é que os motivos geradores de conflitos continuem se diversificando em cada época e estejam cada vez mais atrelados às necessidades fisiológicas, de segurança, de relacionamento, estima e de realização pessoal de cada indivíduo. Sendo assim, a maneira de interpretá-los e resolvê-los também precisa ser alterada ao longo das décadas. Quando se fala de conflito, é necessário compreender que eles também estão ativos dentro das organizações, tendo em vista que essas organizações são formadas por pessoas e o trabalho desenvolvido por elas tem como foco principal satisfazer as necessidades de pessoas com objetivos e interesses também diferenciados. Chiavenato (2004a) destaca que o conflito ocorre pela diferença de objetivos e interesses pessoais, e é parte inevitável da natureza humana; constitui o lado oposto da 20 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 4, p. 18-37, jul./dez. 2016 cooperação e da colaboração. A palavra conflito está ligada a desacordo, discórdia, etc. e para que existam os conflitos, além da diferença de objetivos e interesses, deve ocorrer também uma interferência deliberada de uma das partes envolvidas, ou seja, quando uma das partes, seja indivíduo ou grupo, tenta alcançar seus próprios objetivos interligados com alguma outra parte, a qual interfere na sua busca de atingir tais objetivos. Portanto, é necessário compreender que a busca por atingir aos objetivos pessoais faz parte do instinto humano e que nem sempre os resultados dessa busca resultam no que foi previsto, gerando assim o conflito. Se o conflito é intrínseco a natureza humana, como os indivíduos devem lidar com ele dentro do ambiente organizacional? De que maneira o conflito afeta as organizações: ele é positivo ou negativo? Como o gestor deve atuar para gerenciar os conflitos diários no ambiente de trabalho? Será que a administração de conflitos está ligada ao autocontrole de cada indivíduo? Essas indagações são necessárias e pertinentes para a proposta desta pesquisa que é identificar como os gestores que atuamem lojas de eletro eletrônico, localizadas na cidade de Pereira Barreto, interior do estado de São Paulo, visualizam o conflito dentro da organização que gerenciam e quais ações que promovem para a administração de tais conflitos. Para o delineamento desta investigação foi utilizado como procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica e um estudo de caso com abordagem qualitativa. Segundo Cervo, Bervian e Silva (2007), a pesquisa bibliográfica se constitui como um procedimento básico para a estruturação de estudos monográficos, pelos quais se busca o domínio do estado da arte sobre determinado tema. Por sua vez, Alvarenga e Rosa (2001, p. 30), destacam que a “[...] pesquisa bibliográfica é o estudo comparativo de toda a teoria e prática de determinado assunto que necessita ser aperfeiçoado, aprimorado ou atualizado”. Por sua vez, Vianna (2001) pontua que o estudo de caso tem como objetivo fazer um estudo detalhado, profundo e exaustivo de um objeto ou situação, contexto ou indivíduo, uma única fonte de documentos, acontecimentos ou outras situações, onde o pesquisador busca o entendimento da sua totalidade. Já a pesquisa qualitativa será utilizada para a abordagem dos resultados obtidos e pertinentes ao objetivo desta investigação. Vianna (2001) destaca que esse tipo de pesquisa se configura quando o pesquisador analisa cada situação a partir de dados descritivos, com a intenção de identificar a relação, causas, efeitos, consequências, e significados, para a compreensão do estudo que pretende realizar. Para a coleta de dados foi utilizado como procedimento técnico a aplicação de um questionário devidamente estruturado, para os gerentes que atuam em lojas que 21 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 4, p. 18-37, jul./dez. 2016 comercializam produtos eletroeletrônicos, situadas na cidade de Pereira Barreto, interior do estado de São Paulo, e que aceitaram participar desta investigação. 2 A ORGANIZAÇÃO E SEUS OBJETIVOS Uma organização é constituída por pessoas que interagem entre si para alcançar objetivos específicos. Neste sentido, a palavra organização denota qualquer empreendimento humano moldado intencionalmente para atingir determinados objetivos (CHIAVENATO, 1993a). Toda organização atua em determinado meio ambiente e sua existência e sobrevivência dependem da maneira como ela se relaciona com esse meio. Desse modo, ela deve ser estruturada e dinamizada em função das condições e circunstâncias que caracterizam o lugar em que ela opera (CHIAVENATO, 1993a). Drucker (1998) destaca que, tanto as empresas privadas quanto as públicas, são prestadoras de serviço, ou seja, são órgãos da sociedade. As empresas não existem para si mesmas, e sim para atender a uma finalidade da sociedade, da comunidade ou de um indivíduo. Elas não constituem fins em si mesmos, apenas meios. Segundo Chiavenato (2004b), a formação de uma organização se dá devido às limitações individuais de cada ser humano, por esta razão se torna necessário a cooperação de uns com os outros, formando assim as organizações para alcançar objetivos que ações individuais não conseguiriam alcançar. Desse modo, considera-se que o único motivo de existência de uma organização é porque as pessoas que a compõem têm objetivos que somente podem ser atingidos mediante as atividades organizadas. Assim, toda organização tem o papel social de contribuir com os objetivos individuais e coletivos de seus acionistas, colaboradores, fornecedores, clientes e da comunidade onde está inserida. Chiavenato (2004b) pontua ainda que, quase todos os processos produtivos existentes na sociedade, passam pelas organizações, e que o trabalhador moderno depende destes processos para viver, trabalhar, ganhar seu salário, curar suas doenças, ou seja, sobreviver. Toda organização deve possuir uma finalidade. Ela precisa ter noção de pelo menos o porquê de sua existência e o que precisa realizar para alcançar seus objetivos. Por esta razão se faz necessário que os gestores definam a sua missão, direção, seus objetivos específicos, coletivos, e o ambiente interno que deseja criar para que consigam atender também aos objetivos internos de seus colaboradores e dos responsáveis diretos da concepção dos fins da organização (CHIAVENATO, 2004a). 22 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 4, p. 18-37, jul./dez. 2016 O ambiente externo das organizações é tudo aquilo que existe ao redor dela. Esse ambiente geralmente é formado por diversos fatores como, por exemplo: econômico, tecnológico, sociais, políticos, legais, culturais, e demográficos, e estes fatores formam existência de inúmeras forças, que se interagem, se chocam, se cruzam, se multiplicam e provocam ações e reações que influenciam poderosamente todas as organizações, algumas em maior ou menor impacto e condições mais ou menos favoráveis (CHIAVENATO, 2004a). Desse modo, Chiavenato (2003) destaca que é importante que a organização tenha um bom relacionamento com seu ambiente externo, pois ela depende de outras organizações para seguir seus objetivos. O autor considera ainda que a palavra organização pode assumir vários significados como, por exemplo: organização como entidade social, porque ela é constituída por pessoa; organização formal quando é organizada com base em uma divisão de trabalho racional que especializa órgãos e pessoas em determinadas atividades, é aquela formalizada oficialmente; e organização informal são aquelas que surgem naturalmente e informalmente dentro das organizações formais, geralmente são criadas a partir dos relacionamentos humanos, relações de amizade, e aquelas que não aparecem nos documentos formais, mas exercem sua liderança informal dentro da organização. Com base nas afirmações de Chiavenato (1993a, 1993b, 2003, 2004a, 2204b) e Drucker (1998), pode-se considerar que todas as organizações sejam elas, públicas ou privadas, possuem finalidades específicas que envolvem os acionistas, colaboradores, fornecedores, clientes e a comunidade em geral. Desse modo é de extrema importância que os gestores compreendam qual é a finalidade das organizações que gerenciam e o que precisa ser realizado para o alcance dos objetivos pretendidos, que são fundamentais para a promoção, desenvolvimento e permanência dela no mercado. 2.1 Gestão de Pessoas: evolução e conceitos Chiavenato (1999) destaca que a partir do surgimento de novas concepções acerca do papel dos indivíduos nas organizações, em especial na década de 1990, começou-se o questionamento sobre a maneira como era desenvolvido o setor de recursos humanos nas organizações, uma vez que este departamento era algo mecânico, relacionado muitas vezes a contratação, demissão, ou seja, relacionado ao sistema operacional tradicional de uma empresa. O indivíduo nas organizações começa a ser visto não mais como números relacionados à produção, mas sim por sua capacidade intelectual, seus conhecimentos e suas 23 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 4, p. 18-37, jul./dez. 2016 habilidades, criando assim a necessidade de ser gerenciado não somente ligado a questões de remuneração, mas sim como parceiro indispensável para a sobrevivência da organização (CHIAVENATO, 1999). Ao longo do tempo as empresas observaram que os funcionários formam o seu principal ativo, assim consideraram que para manter-se bem sucedidas, crescer e prosperar, as pessoas devem ser tratadas como elemento básico para a eficácia organizacional (CHIAVENATO, 2008). Desse modo, a área de Gestão de Pessoas é muito sensível ao conjunto de hábitos intelectuais e psíquicos dos indivíduos e dos grupos que compõem uma organização. Para obter resultados favoráveis, essa área depende devários aspectos, como: cultura organizacional; estrutura física e gerencial; tecnologia; processos internos; estilo de gestão; contexto ambiental; negócio da organização; e de uma infinidade de outras variáveis importantes para o desenvolvimento de uma empresa (CHIAVENATO, 2008). Segundo Gil (2001), a Gestão de Pessoas deve ser compreendida como função gerencial que visa promover a cooperação dos indivíduos que atuam nas organizações para o alcance dos objetivos organizacionais, assim como os objetivos individuais. Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2006, p. 12) enfatizam que “[...] a gestão com pessoas tem como objetivo fundamental tornar a relação entre o capital e o trabalho, no âmbito das organizações, a mais produtiva e menos conflituosa possível”. Gil (2001) enfatiza que a Gestão de Pessoas abrange amplo leque de atividades, como recrutamento de pessoal, descrição de cargos, treinamento e desenvolvimento, avaliação de desempenho, entre outros. Portanto, com base nos autores citados, o setor que é identificado hoje como Gestão de Pessoas, teve que se adequar a nova realidade mercadológica para atender as necessidades de seu público alvo, assim como dos acionistas, colaboradores, fornecedores e da comunidade onde a empresa está inserida. Hoje o foco é gerenciar pessoas para que o clima organizacional seja o mais amistoso e produtivo possível, e gerenciar pessoas é dar condições para que ela se desenvolva, seja criativa, comprometida e tenha como foco o atendimento das metas estabelecidas pela empresa. 2.2 Clima e Cultura Organizacional O Clima Organizacional é todo produto de sentimento gerado individual ou grupal, partilhado uns com os outros em relação a conceitos da organização que pode afetar, 24 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 4, p. 18-37, jul./dez. 2016 positivamente ou negativamente, o ambiente de trabalho como também a satisfação e motivação do trabalhador (MAXIMIANO, 1995a). Chiavenato (2004b) pontua que o clima organizacional é todo ambiente e condições internas ligado aos seus membros, está relacionado com o grau de motivação dos mesmos. Quando o clima motivacional está elevado, isto gera relações de satisfação, colaboração e animação. Todavia quando o clima motivacional está abaixo do necessário, causado geralmente por frustrações ou barreiras criadas que vão de encontro à satisfação das necessidades humanas, individual ou grupais, pode ocasionar um estado de desânimo, apatia, insatisfação e até mesmo tumulto. Segundo o autor, para que exista um clima organizacional favorável aos objetivos da organização e individuais dos componentes que a constituem é necessário uma qualidade no ambiente organizacional. Já a cultura organizacional abrange crenças, valores, preconceitos, normas informais de conduta, hábitos e outros comportamentos, que são formadas pelos indivíduos que a constituem. A cultura envolve tanto o ambiente interno quanto o ambiente externo, que de certa maneira deve ser incorporada de maneira positiva no dia a dia da empresa, para que aconteça o relacionamento interpessoal, tornando o clima organizacional mais harmonioso para todos os envolvidos. Maximiano (1995b) afirma que a cultura organizacional abrange as normas informais de conduta, os hábitos, crenças, valores e preconceitos, cerimônias e rituais, símbolos e outros comportamentos. Segundo Chiavenato (2003) a cultura organizacional está extremamente ligada ao seu clima, pois salienta que cada organização cria seus próprios usos e costumes, e que geralmente a cultura aplicada reflete nos valores dos sistemas formais e os sistemas informais existentes dentro das empresas. Desse modo, com base nos autores citados, pode-se afirmar que o clima organizacional é formado pelo sentimento gerado pelos indivíduos ou pelos grupos que eles fazem parte, e está relacionado a conceitos incorporados na organização, ou seja, está relacionado com o grau de motivação dos membros de uma organização na realização diária de suas atividades para atingir as metas pré-estabelecidas pelos gestores. Esses sentimentos estão, na maioria das vezes, atrelados ao ambiente externo e, consequentemente, afetam o ambiente interno, de maneira positiva ou negativa. Assim é necessário que a empresa promova ações capazes de equilibrar o clima, tornando o ambiente mais criativo e produtivo. 25 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 4, p. 18-37, jul./dez. 2016 2.3 Conflitos Organizacionais: conceitos A palavra conflito vem do latim conflictus, originário do verbo conflictare, que significa choque entre duas coisas, embate de pessoas, ou grupos opostos, que lutam entre si. É uma resistência entre duas forças contrárias (BERG, 2012). Ratificando a afirmação anterior, Ferreira (2004) enfatiza que a palavra conflito significa embate dos que lutam, é uma discussão acompanhada, na maioria das vezes, de injúrias e ameaças, ou seja, se trata de um combate que ocorre entre os seres humanos. Segundo Berg (2012), o conflito na realidade é um estado antagônico de ideias, pessoas ou interesses e não passa, basicamente, da existência de opiniões e de situações divergentes ou incompatíveis. Chiavenato (1993b) pontua que o conflito significa a existência de ideias, sentimentos, atitudes ou interesses antagônicos e colidentes que podem se chocar. Sempre que se fala em acordo, aprovação, coordenação, resolução, unidade, consentimento, consistência, harmonia, é necessário compreender que essas palavras pressupõem a existência ou a iminência de seus opostos, como desacordo, desaprovação, dissensão, desentendimento, incongruência, discordância, inconsistência, oposição, gerando o conflito. Assim, conforme destaca Lemos (2015), só existirá um conflito quando houver dois ou mais indivíduos interligados em uma situação ou fato. O conflito ocorre muitas vezes porque as pessoas nunca possuem objetivos e interesses idênticos, em geral a maior parte dos conflitos organizacionais são gerados por conflitos pessoais (CHIAVENATO, 2004a). Segundo Montana e Charnov (2006), o conflito no ambiente organizacional é definido como a divergência que ocorre entre duas ou mais pessoas, ou entre duas ou mais posições, sobre como melhor alcançar as metas pré-estabelecidas pela organização. Lemos (2015) afirma que os conflitos nas organizações nem sempre se tornam negativos, eles podem ser considerados positivos muitas vezes quando a situação ou o evento proporciona um crescimento profissional para todos os envolvidos no processo. O autor enfatiza ainda que o gestor deve estar sempre atento as situações de conflito e rapidamente identificar qual é a origem, se tal conflito pode ser considerado como positivo ou negativo para o desenvolvimento da organização, e imediatamente deve estabelecer uma estratégia para solucioná-lo, se for necessário. Na realidade o papel do gestor é mediar a situação conflituosa, e estar sempre disposto a resolver da melhor maneira possível. 26 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 4, p. 18-37, jul./dez. 2016 Burbridge e Burbridge (2012) pontuam que o importante é identificar o quanto antes a origem do problema, pois se for algo prejudicial à organização, o gestor deverá solucionar imediatamente, considerando que quanto mais tempo se perde tratando de sintomas em vez da causa principal, mais dinheiro a organização deixará de lucrar. Para isso o gestor deve possuir uma visão ampla e sistêmica do problema e possuir habilidade para dialogar e negociar com todos os indivíduos envolvidos. Ao considerar que o principal objetivo de uma empresa é a obtenção de lucro, é necessário que exista uma equipe extremamente produtiva; desse modo, um conflito mal resolvidopode ocasionar situações que prejudicam o clima organizacional e, consequentemente, o desenvolvimento da empresa. Chiavenato (2004a) ressalta que o conflito organizacional não é nem casual nem acidental, mas é inerente a vida organizacional, e que a ausência do conflito causa acomodação e apatia, pois segundo o autor e como já destacado anteriormente, os conflitos existem porque pontos de vistas e interesses são diferentes, dessa maneira normalmente acontecerá o choque. Para Chiavenato (2003), os conflitos são geradores das mudanças e da inovação na organização, embora nem todos sejam desejáveis. Segundo Burbridge e Burbridge (2012), Chiavenato (1993b, 2003, 2004a), Montana e Charnov (2006), e Lemos (2015), pode-se afirmar que em geral a maioria dos conflitos organizacionais são gerados por questões pessoais, porque os indivíduos que compõem a empresa nunca possuirão ideias e interesses idênticos. Portanto, é necessário que o gestor identifique e analise todo e qualquer tipo de conflito, proponha soluções e promova ações capazes de resolvê-los, principalmente quando o conflito detectado possua potencial negativo, cause interferência no clima organizacional e, consequentemente, na produtividade dos colaboradores e na rentabilidade da empresa. 2.3.1 Conflito: efeitos positivos e negativos Conforme já pontuando, os conflitos são inevitáveis em uma organização, e por essa razão Lemos (2015) destaca que, ao invés dos gestores perderem tempo buscando meios para eliminá-los, o segredo é aprender a obter resultados positivos, administrando-os de maneira correta e estar sempre preparado para lidar com eles no dia a dia. Lemos (2015) destaca ainda que no ambiente organizacional podem surgir dois tipos de conflitos: os malignos e os benignos, e a forma de identificá-los é observar o pós-conflito, ou seja, se ele resultou no aumento de problemas que muitas vezes podem trazer 27 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 4, p. 18-37, jul./dez. 2016 desmotivação e desequilíbrio para as partes envolvidas, assim como para toda a equipe, ele é considerado maligno, e quando proporcionam melhorias e resultados positivos, ele é benigno. Sejam eles bons ou não, os conflitos podem ser considerados úteis pelo papel que desempenham nas vidas das pessoas, pois são fatores que proporcionam mudanças e isso deve ser considerado como positivo para as organizações que desejam permanecer no mercado e obter resultados satisfatórios. Quando os conflitos são compreendidos, solucionados e resolvidos, eles conduzem a mudanças organizacionais que predispõem a criatividade e a inovação. Por outro lado quando esses conflitos são apenas resolvidos parcialmente, ou muitas vezes resolvidos inadequadamente, poderá afetar negativamente nos resultados da organização (CHIAVENATO, 2004a). O autor considera ainda que, quando o conflito se torna algo positivo e quando é bem resolvido, poderá proporcionar o despertar de sentimentos e estimular a criatividade dos indivíduos, geralmente o conflito leva as pessoas a ficarem mais atentas e esforçadas. Além do que, quando o grupo ou indivíduo ganha um conflito, ele fortalece seu sentimento de identidade, despertando muitas vezes a atenção para os problemas causadores de tais conflitos. Chiavenato (2004a) destaca que o conflito pode se transformar em algo destrutivo para organização, pode desencadear sentimento de frustração, hostilidade, ansiedade, e assim afetar o bem-estar das pessoas envolvidas. O conflito quando não controlado pode se auto- alimentar e prejudicar o relacionamento interpessoal. Se o conflito pode trazer resultados positivos ou negativos para as pessoas e grupos, sobretudo para a organização como um todo, a questão primordial é como administrar o conflito de maneira a aumentar os efeitos positivos (construtivos) e a minimizar os negativos (destrutivos). (CHIAVENATO, 2006, p. 212). Portanto, considerando que o conflito pode despertar ações positivas ou negativas dentro da empresa, o gestor precisa aprender a administrá-los, para otimizar o relacionamento entre as pessoas e os diversos setores da organização. 2.3.2 Fontes causadoras de conflitos Os conflitos existem, pois os indivíduos possuem ideias e objetivos diferentes, assim as fontes causadoras podem ser variadas de pessoa para pessoa. 28 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 4, p. 18-37, jul./dez. 2016 Segundo Lemos (2015), os conflitos, sejam eles relacionados a questões pessoais ou profissionais, ocorrem quando: a) existe frustração de uma das partes ou das duas que estão envolvidas no conflito; b) existe diferença de personalidades; c) as partes envolvidas possuem diferentes metas; d) existem diferentes percepções de ver as situações; e) o indivíduo é incapaz de realizar ou satisfazer seus desejos, muitas vezes causada por algum tipo de limitação pessoal ou profissional; f) existe luta pelo poder; g) existe o desejo de êxito econômico; h) as expectativas de cada indivíduo não são atendidas. Para Berg (2012) as principais causas de conflitos organizacionais são as mudanças que ocorrem principalmente por pressão do mercado; pela escassez de recursos, fruto de enxugamento promovido pelas organizações para tornarem-se mais competitivas; impasse entre um departamento e outro ou uma diretoria e outra, em função de metas e objetivos que se chocam, por falta de sintonia e comunicação entre as áreas, etc. Lemos (2015) destaca que, nas organizações, normalmente os conflitos são de ordem interpessoal, e muitas vezes são conflitos hierárquicos que poderão prejudicar as relações entre a autoridade existente; ou pessoais, quando ocorre entre indivíduos, e poderão atrapalhar a eficiência das relações. Assim, as fontes causadoras de conflito são diversas e mudam de indivíduo para indivíduo. Essas fontes englobam diferentes pensamentos, expectativas e ações dos profissionais que compõem as organizações. 2.3.3 O papel do gestor diante dos conflitos O papel do gestor nas organizações é buscar melhores resultados e por essa razão, quando surge um conflito, ele deve identificar e agir como um mediador, ou seja, deve ser uma pessoa que auxilie as partes envolvidas a solucionar o conflito existente. Mas o gestor não deve “entrar” no conflito e muito menos tomar partido, ele deve impor respeito, confiança e deixar claro para as partes envolvidas o que é melhor para organização e, consequentemente, para a equipe de trabalho. Para isso é necessário que o gestor pratique a empatia, demonstre imparcialidade entre seus colaboradores, seja um bom ouvinte, comunicativo, flexível e tenha equilíbrio em suas ações (LEMOS, 2015). 29 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 4, p. 18-37, jul./dez. 2016 Chiavenato (2004b) destaca que é de extrema importância que os gerentes e supervisores passem por treinamentos para desenvolverem habilidades em administrar conflitos e habilidade para negociação, pois segundo Lemos (2015), o conflito deve ser solucionado pelas partes envolvidas e se faz necessário compreender sua natureza e rapidamente negociá-lo estabelecendo assim uma estratégia de solução, de maneira que não fique nenhum efeito ruim no ambiente de trabalho. Desse modo, o gestor precisa ter habilidades para auxiliar nesse processo e atuar junto a seus colaboradores de maneira mais eficiente. Solucionar conflitos significa, na maioria das vezes, tentar entender as causas e conduzir ações para que se chegue a um ponto de equilíbrio aceito pelas partes envolvidas, minimizando o máximo das possíveis perdas para cada individuo (LEMOS, 2015). Prazeres (2010) destaca que o bom administrador de conflitos deve seguirdoze princípios, sendo eles: procurar soluções e não culpados; analisar a situação; manter um clima de respeito; aperfeiçoar a habilidade de ouvir e falar; ser construtivo ao fazer uma critica; procurar a solução “ganha-ganha”; apresentar um exemplo de sucesso; evitar preconceitos; manter a calma; conservar o objeto da discórdia exclusivamente entre os envolvidos; quando estiver errado reconhecer o erro; e não “varrer” os problemas para debaixo do tapete, ou seja, é necessário enfrentá-los para que a solução aconteça. 3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Neste tópico serão apresentados os resultados da pesquisa com base nos questionários aplicados aos gestores das lojas que comercializam produtos eletroeletrônicos, situadas na cidade de Pereira Barreto, interior do estado de São Paulo. Dentre as seis lojas de eletroeletrônicos atuantes na cidade de Pereira Barreto, foram selecionados quatro gestores, mas somente dois gestores efetivamente participaram da pesquisa ao entregarem o questionário devidamente preenchido no prazo estabelecido pelos pesquisadores. As questões relativas ao perfil dos respondentes serão apresentadas em formato de gráficos e as demais respostas relativas às questões propostas serão apresentadas em formato de texto, conforme segue. É importante destacar que, por questões de sigilo, os pesquisadores optaram por não citar o nome dos gerentes, assim eles serão identificados como Gestor 1 e Gestor 2. Também não será identificado o nome das empresas; desse modo, para a 30 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 4, p. 18-37, jul./dez. 2016 apresentação dos resultados, serão utilizados os nomes fictícios: Empresa Alfa e Empresa Beta. 3.1 Perfil dos Respondentes Gráfico 1 – Idade. Fonte: Elaborado pelos pesquisadores, 2016. Conforme apresentado no gráfico 1, um dos respondentes está na faixa etária entre 31 a 35 anos; e o outro acima de 35 anos. Gráfico 2 – Sexo. Fonte: Elaborado pelos pesquisadores, 2016. Com relação ao sexo dos respondentes, conforme apresentado no gráfico 2, um é o sexo feminino e o outro do sexo masculino. Gráfico 3 – Estado Civil. 50% 50% Masculino Feminino 100% Estado Civil Casado Solteiro Outros 31 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 4, p. 18-37, jul./dez. 2016 Fonte: Elaborado pelos pesquisadores, 2016. Conforme destacado no gráfico 3, ambos os respondentes são casados. Gráfico 4 – Formação Acadêmica. Fonte: Elaborado pelos pesquisadores, 2016. Com relação à formação acadêmica, conforme apresentado no gráfico 4, o Gestor 1 concluiu o ensino médio e o Gestor 2 afirmou ter concluído o ensino superior. No que diz respeito às informações profissionais, o Gestor 1 afirmou que atua como gerente na Empresa Alfa há dez anos, onde a sua função inicial foi de vendedor. Atualmente ele lidera uma equipe composta por dezessete colaboradores. O Gestor 2 destacou que ingressou na Empresa Beta há quatro anos como Consultor de Clientes, e atualmente atua como gerente, liderando um grupo com dez colaboradores. Com relação à atuação como gerente foi perguntado aos respondentes quais as situações de conflito que observam entre os vendedores da empresa onde atuam. O Gestor 1 afirmou que, na maioria das vezes, os conflitos acontecem pela falta de educação, respeito e coletividade dos colaboradores; e o Gestor 2 afirmou que os conflitos que acontecem dentro da empresa estão relacionados às vendas, pois os vendedores recebem por produtividade. Ao serem questionados sobre as causas dos conflitos que acontece com o grupo que lideram, o Gestor 1 destacou ser devido ao individualismo, afirmando que esse sentimento limita o colaborador a entender a necessidade e a dificuldade de cada membro da equipe. Já o Gestor 2 afirmou que os motivos estão relacionados às metas que cada um precisa atingir mensalmente. Conforme apresentado no referencial teórico o conflito ocorre quando acontece a divergência de ideias e objetivos, tanto no aspecto pessoal quanto profissional, assim sendo os conflitos destacados pelos gestores estão relacionadas ao que foi apresentado por Berg (2012) 50% 50% Formação Acadêmica Superior Completo Superior Incompleto Ensino Técnico Ensino Médio Completo Ensino Médio Incompleto Ensino Fundamental 32 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 4, p. 18-37, jul./dez. 2016 e Ferreira (2004), quando eles afirmam que os mesmos existem por opiniões e situações divergentes, que é o caso relatado pelo Gestor 2. Foi perguntado aos gestores sobre as consequências que os conflitos apontados por eles provocam ou podem provocar para a empresa, o Gestor 1 afirmou ser prejudicial, pois causa um ambiente de estresse e de baixa produtividade. Já o Gestor 2, afirmou que tais conflitos não provocam nenhuma consequência negativa para a equipe, pois eles são tidos como saudáveis por proporcionar resultados positivos para empresa. Os conflitos são inevitáveis em uma organização. Como citou Lemos (2015), os gestores não podem perder tempo buscando eliminar os conflitos. O segredo da gestão do conflito está relacionado à obtenção de resultados positivos, pois quando eles são compreendidos, solucionados e resolvidos, conduzem a mudanças organizacionais que predispõem à criatividade e à inovação; essa postura vem ao encontro da afirmação dada pelo Gestor 2, quando afirma que o conflito na organização que gerencia não reflete situação negativa e é saudável por proporcionar resultados positivos para a empresa e, consequentemente, para a equipe de trabalho. Por outro lado, conforme pontua Chiavenato (2004a), quando os conflitos são resolvidos parcialmente, ou muitas vezes resolvidos inadequadamente, afetará negativamente os resultados da organização por gerar um ambiente de estresse e improdutividade, que foi o caso relado pelo Gestor 1. Com relação à atuação de cada um diante dos conflitos existentes com a equipe, o Gestor 1 afirmou que procura orientar individualmente cada membro para que reflitam sobre as atitudes que estão tendo e sobre as atitudes do colega, para que sejam propostas soluções. Em algumas situações, o Gestor 1 afirmou que essa ação ocorre com os envolvidos juntos. O Gestor 2 afirmou que primeiro deixa que os envolvidos se entendam, mas caso não ocorra entendimento ou algo que possa afetar diretamente o cliente, ele propõe um diálogo, e em alguns casos aplica medidas disciplinares que são direcionadas pela própria empresa. No papel de gerentes, foi perguntado aos respondentes como eles têm se posicionado com relação aos conflitos na equipe que lideram. O Gestor 1 afirmou que, nos casos onde os conflitos podem causar algum dano para a equipe, ele procura agir rapidamente em busca de soluções; o Gestor 2 afirmou que se posiciona objetivamente e de maneira justa para mostrar a cada colaborador até onde poderão chegar, ou seja, qual a responsabilidade de cada um e o que acontecerá caso a situação não seja sanada. Conforme destacado no referencial teórico por Lemos (2015), o papel dos gestores nas organizações é buscar melhores resultados; por esta razão, quando surge um conflito, eles devem agir imediatamente como mediadores, propor diálogos, auxiliar os envolvidos para a 33 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 4, p. 18-37, jul./dez. 2016 resolução e sem tomar partido. O gestor deve impor respeito, confiança e deixar claro para as partes envolvidas o que é melhor para a empresa e, consequentemente, para a equipe de trabalho. Caso a situação não seja resolvida e se for prejudicial ao processo organizacional, aplicar medidas disciplinares será necessário. Ao analisar as considerações e a posturados gestores pesquisados, percebe-se que elas vão ao encontro dos conceitos apresentados por Lemos (2015). Foi perguntado aos respondentes se quando o conflito apresentado não parece causar prejuízo para a empresa por ser um conflito interpessoal, ou seja, entre os vendedores, eles interferem e qual o motivo que os leva a essa inferência. O gestor 1 afirmou que interfere, pois qualquer tipo de conflito, por menor que seja, poderá causar prejuízos para a organização se não for solucionado no princípio. Já o Gestor 2 afirmou que não interfere por considerar um processo normal em uma equipe de venda. Como já pontuado anteriormente, os conflitos são inevitáveis para qualquer tipo de organização, pois elas são administradas por pessoas e suas atividades também são executadas por pessoas, assim tais conflitos podem ser tornar fontes causadoras de mudanças para todos os envolvidos quando não representam danos para a equipe ou para a empresa. Desse modo, o gestor deve acompanhar o “desenrolar” do conflito, e se perceber que o mesmo irá prejudicar a organização deverá agir e procurar solução satisfatória, que é a postura destacada pelo Gestor 1 e Gestor 2. Ao serem questionados se na atuação diante dos conflitos eles encontram algum tipo de dificuldade e quais seriam, o Gestor 1 afirmou que a maior dificuldade encontrada é que os envolvidos geralmente pensam somente nos próprios interesses, não compreendem que trabalham em equipe e que todos precisam caminhar juntos. O Gestor 2 afirmou que não encontra nenhum tipo de dificuldade. Assim, com base nos relatos dos gestores pesquisados e nos conceitos apresentados no referencial teórico, os maiores e, muitas vezes, os “piores” conflitos são os que vêm do interior de cada indivíduo, pois estão relacionados a interesses pessoais, sentimentos e objetivos individuais; dessa forma, nem todas as pessoas conseguem perceber que para resolver as inquietações pessoais, quando se trata de uma equipe, é necessário que exista respeito, compreensão, cooperação e a pratica eficiente do relacionamento interpessoal. Com relação à autonomia para tratar os conflitos da equipe que lideram ou se precisam recorrer para supervisão geral da organização, ambos afirmaram que possuem total autonomia e o Gestor 2 pontuou que inclusive tem autonomia para desligamento do funcionário caso a situação de conflito não seja resolvida. 34 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 4, p. 18-37, jul./dez. 2016 A autonomia destacada pelos gestores é um fator fundamental para a resolução dos conflitos organizacionais. Desse modo, como pontuado no referencial teórico, os gestores devem manter o controle, serem equilibrados em suas decisões e possuir autonomia para a aplicação de medidas disciplinares quando for necessário. Ao serem indagados sobre o que eles podem fazer junto a equipe que mesmo involuntariamente pode provocar conflitos entre os membros, o Gestor 1afirmou que talvez não delegue as tarefas de igual maneira para todos e isso pode ser um fator gerado de conflito. Já o Gestor 2 informou que orienta a equipe para que não aconteçam os conflitos, procura treiná-los com os recursos que a empresa oferece para que sejam mais eficientes nas atividades diárias e no relacionamento com os colegas de trabalho. Com relação às vantagens e desvantagens que os conflitos podem provocar, o Gestor 1 afirmou que as desvantagens ocorrerão se não forem propostas soluções que leve a um comum acordo entre as partes envolvidas; e as vantagens existem, desde que cada indivíduo entenda o seu papel no grupo que atua. O Gestor 2 pontuou que a vantagem é que trabalha com funcionários que possuem força de vontade e são produtivos “[...] eles têm atitudes, vontade de vencer [...]”, assim são ótimos profissionais; e a desvantagem acontece quando o clima organizacional fica ruim devido ao conflito estabelecido. Conforme apontado no referencial teórico desta investigação e nas afirmações dos Gestores 1 e 2, existem os conflitos malignos e benignos, e a única maneira de identificá-los é observar os resultados obtidos após a resolução. Caso o resultado seja a maximização de problemas, este se torna maligno e pode proporcionar inúmeros fatores de desmotivação e desequilíbrio para os envolvidos. Assim, é necessário que cada colaborador compreenda o seu papel no grupo e o papel dos demais companheiros de trabalho e a compreensão desse processo deve partir da atuação do próprio gestor. Foi perguntado aos respondentes se o fato da empresa onde atuam existir regras bem definidas com relação às funções de cada profissional dentro do ambiente de trabalho, reduz ou aumenta as situações de conflito. Ambos afirmaram que essa situação reduz os conflitos, e o Gestor 2 pontuou ainda que esse procedimento acontece desde que o funcionário faça de maneira eficiente os treinamentos que a empresa disponibiliza. Com relação aos sinais que os gestores percebem que ajuda a prever o acontecimento de conflito, o Gestor 1 afirmou que na maioria das vezes os conflitos que ocorrem são interpessoais, portanto, são inesperados. Já o segundo afirmou que é o clima estabelecido pela equipe e o comportamento de alguns colaboradores. 35 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 4, p. 18-37, jul./dez. 2016 Analisando as considerações apresentadas no referencial teórico e as afirmações do Gestor 1 e Gestor 2, os conflitos na maioria das vezes não podem ser previstos, mas cabe ao gestor estar preparado ou buscar este preparo no dia a dia, para que possua habilidades necessárias e que sejam capazes de gerenciar toda situação de conflito, identificando-a e administrando-a, juntamente com a sua equipe de trabalho. Esse preparo deve acontecer por meio de treinamentos que devem ser direcionados para toda a equipe; definição de regras claras e objetivas para cada função e para cada colaborador; comunicação eficiente na organização; delegação de tarefas e responsabilidades; respeito às diferenças; entre outros. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme discorrido neste texto, o conflito faz parte do processo histórico da humanidade. Ele sempre existiu e sempre existirá, pois os indivíduos possuem ideias e interesses diferentes uns dos outros, e no ambiente organizacional não é diferente. O conflito organizacional tende a ser mais complexo devido aos fatores internos e externos que, de certa maneira, afetam direta ou indiretamente o desenvolvimento da empresa, e, consequentemente, os profissionais que atuam dentro dela. Dessa maneira, é imprescindível que o gestor saiba lidar e administrar os conflitos que surgem, muitas vezes de maneira repentina, e que estão, em sua grande maioria, atrelados às questões que o indivíduo traz do ambiente externo e são disseminados no ambiente de trabalho. É necessário que, ao promover ações para administrar os conflitos existentes, o gestor, como é o caso dos gestores participantes desta pesquisa, compreendam que as situações de conflitos são essenciais para a empresa e para as pessoas, pois são fontes geradoras de mudanças, ou seja, geralmente é a partir das situações adversas vivenciadas no ambiente organizacional, causadora muitas vezes de tensão, que surgem ideias criativas e novas oportunidades para o crescimento e desenvolvimento de todos os envolvidos no processo produtivo. Administrar conflitos dentro do ambiente de trabalho não significa promover ações para eliminá-los, mas sim desenvolver procedimentos para que todos saibam conviver com eles e consigam extrair benefícios para toda a equipe, assim como para a organização. Ao analisar os conceitos apresentados pelos autores citados nesta pesquisa, considerando, por exemplo, que o conflito acontecepela divergência de ideias e objetivos - que é intrínseco a vida humana, que está relacionado a motivações pessoais, que pode ser considerado como maligno e benigno, que é resultante de transformação e fator de 36 Org. Soc., Iturama (MG), v. 5, n. 4, p. 18-37, jul./dez. 2016 crescimento para os envolvidos, que é o principio de criatividade e inovação - e comparar com as respostas dadas pelos gestores que participaram desta investigação, percebe-se que tais gestores compreendem a relevância dos conflitos para as organizações onde atuam, pois consideram que no ambiente organizacional contemporâneo o conflito é imprescindível, sendo necessário saber lidar com eles, utilizando-os em favor de um clima de trabalho mais harmonioso e produtivo, fomentando-os como fonte geradora de mudanças dentro da empresa. Tanto o Gestor 1 quanto o Gestor 2 buscam, por meio de diálogos e treinamentos, dissipar os conflitos que, de alguma maneira, afetariam negativamente o clima organizacional e procuram elevar os conflitos que poderão gerar produtividade e comprometimento para o atendimento das metas estabelecidas. Assim, administrar os conflitos organizacionais não significa eliminá-los, mas sim desenvolver ações capazes de tratá-los da melhor maneira possível para que o resultado gere benefícios, tanto para a empresa quanto para seus colaboradores, fornecedores e clientes. Saber administrar os conflitos, que é o caso dos gestores entrevistados, está intimamente ligado ao autocontrole desse gestor e de todos os envolvidos. REFERÊNCIAS ALVARENGA, Maria Amalia de Figueiredo Pereira; ROSA, Maria Virginia de Figueiredo Pereira do Couto. Apontamentos de Metodologia para Ciência e Técnicas de Redações Científicas. 2. ed. Porto Alegre: Sergio Antonio Tabris, 2001. BERG, Ernesto Artur. 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