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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE ESTADO DE RONDONÓPOLIS - MT. Autos n° XXXXXXXXXXXXXXXXXXX GABRIEL DE MATOS, já devidamente qualificado nos autos da ação penal em epígrafe, que lhe move o Douto Ministério Público estadual, via conduto sua defensora nomeada, a Dra. XXXXXXXX legalmente inscrito na OAB/XX sob o n° XXXXX, com endereço profissional à XXXXXXXXXXXX, no Município de XXXXXXXXX onde recebe intimações e notificações de praxe, vem a mui honrosa presença de Vossa Excelência interpor a sua I – DEFESA PRÉVIA Aos termos das imputações que ora lhes são feitas, pelo que passa a expor e ao final requerer: II – DA ACUSAÇÃO Excelência ocorre que o Ministério Público Estadual ofertou denúncia em face do acusado imputando-lhe a conduta de ter sido o autor do delito de crime de ameaça contra a senhora Maria, que, segundo narrativa da própria inicial acusatória, é sua esposa. Consta na citada peça inicial acusatória que: “No dia 03 de março de 2018, por volta das 20h00min, no bar Mendes, situado na Avenida Amazonas n.º 310, nesta Comarca, o denunciado ameaçou causar mal injusto e grave contra Maria, sua esposa e companheira há 12 (doze) anos. Isso porque, conforme consta dos autos de investigação em anexo, na data e local dos fatos, o denunciado teria encontrado sua esposa acompanhada de um sujeito desconhecido. Questionada sobre sua identidade, a vítima revelou ao denunciado que seria Marcos, sujeito com o qual mantinha um relacionamento extraconjungal há 8 (oito) meses. Ainda, a vítima também revelou ao acusado que desejava se separar. Surpreendido com tais revelações, o denunciado disse em alto e bom tom que “jamais aceitaria a separação”, causando à vítima fundado temor de mal injusto e grave, afinal, segundo informações repassadas pela própria vítima aos policiais, o denunciado estaria bastante irritado com toda aquela situação (termos de depoimentos de fls. 07/09). Após a ameaça, o acusado evadiu o local. Entretanto, por volta das 23h00min do mesmo dia, a vítima, acompanhada por Policiais Militares, encontraram o acusado quando ele se encontrava em sua residência. E, neste momento, foi imediatamente autuado em flagrante. Deste modo, constatada a presença de mal injusto e grave à vítima, não restam dúvidas de que o denunciado praticou o crime de ameaça...” Assim, Senhor Juiz, é com essa pequena narrativa que o Órgão de Acusação Estatal imputado ao acusado a prática o delito de crime de ameaça, nos termos do artigo 147 do Código Penal. Consoante se pode observar, não há, na narrativa da peça acusatória, uma descrição firme e pormenorizada que possa servir de sustentação há uma denúncia. Como dito, o órgão ministerial denunciou o acusado pela prática de de ameaça motivo fútil e ainda por meio que tornou impossível a defesa da vítima. Aliás, pelo pouco o que foi narrado, não há quase nada a se saber, e não poderia ser de outra, pois não existe nada que pese em desfavor do acusado. III – DAS PROVAS QUE ARRIMAM A DENÚNCIA Senhor Julgador, analisando as provas que dão sustentação à denúncia, ou seja, analisando o manancial probatório que deveria dá JUSTA CAUSA à acusação, vemos, sem maiores problemas, que não há nada que pese em desfavor do acusado, como dito logo acima. Ou seja, analisando as provas que foram colhidas, é de ver-se, claramente, que nada há que sirva de esteio da pretensão punitiva em desfavor do acusado, de forma que a petição inicial acusatória encontra-se sem um mínimo probatório que lhe sirva de sustentáculo, o que, como dito acima, faz com que a ação seja carente, por lhe falta da condição da ação chamada de JUSTA CAUSA. A limine, gize-se que a denúncia tem por arrimo apenas provas testemunhais que são pessoas que estavam envolvidas, e os policias que fizeram a prisão do acusado, que, além de não terem presenciado o fato delituoso fizeram a prisão em “flagrante”. Assim, Digno Magistrado, resta evidente o seguinte: (a) as duas testemunhas, Maria que é a suposta vítima e o seu amante que são os envolvidos na confusão; (b) os policiais que o conduziu a delegacia. IV – DA CARÊNCIA DA AÇÃO PENAL POR FALTA DE JUSTA CAUSA Como Vossa Excelência sabe melhor do que todos, uma das condições para o exercício do direito de ação penal é o que a doutrina, a jurisprudência, e também a Lei, chamam de JUSTA CAUSA. A doutrina foi quem primeiro tratou do tema JUSTA CAUSA, como uma das condições para o exercício da ação penal. Assim, um dos primeiros doutrinadores a tratar do tema “justa causa”, foi o brilhante processualista penal Afrânio Silva Jardim, vaticinando da seguinte forma: “Julgamos que a justa causa funciona como uma verdadeira condição para o exercício da ação penal condenatória. Na verdade, levando em linha de conta que a simples instauração do processo penal já atinge o chamado status dignitatis do réu, o legislador exige do autor o preenchimento de mais uma condição para se invocar legitimamente a tutela jurisdicional. Assim, impõe-se que a denúncia ou a queixa venha acompanhada do inquérito policial ou das peças de informação, conforme se depreende dos arts. 39, §5º, e 46, §1°, todos do Código de Processo Penal”. (Editora Forense, p. 97). E conclui o renomado doutrinador: “Desta forma, torna-se necessário ao regular exercício da ação penal a demonstração, prima facie, de que a acusação não é temerária ou leviana, por isso que lastreada em um mínimo de prova” (Editora Forense, p. 97). Os doutrinadores Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar, no mesmo diapasão dos doutrinadores acima citados, entendem da seguinte forma: “Justa causa: a ação penal só pode ser validamente exercida se a parte autora lastrear a inicial com um mínimo probatório que indique os indícios de autoria, da materialidade delitiva, e da constatação da ocorrência da infração penal em tese” (Editora Juspodivm, p. 162). Destarte, a doutrina, que como sabido é fonte do direito, não destoa sobre o tratamento do tema “justa causa”, sendo uníssona acerca da necessidade de que a ação penal, seja ele pública ou privada, exige um lastro probatório mínimo para ser intentada. No caso em espeque, todo o manancial probatório existente acerca da autoria do delito, resume-se a depoimento testemunhal, sendo que as duas testemunhas são as envolvidas no caso, e as outras duas sequer presenciou o fato. Neste diapasão, o CÓDIGO DE PROCESSO PENAL é enfático ao determinar que: Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008). I - for manifestamente inepta; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). Por todos os argumentos acima esposados, resta evidente que a presente ação penal é carente, pois lhe falta a condição da ação chamada de justa causa. O que, nos termos do inciso III do artigo 395 do CPP, leva a rejeição da denúncia. Se os órgãos de investigação e acusação não conseguiram colher um manancial probatório mínimo, não há como se entender que seja cabível que uma denúncia seja ofertada em face de qualquer pessoa. No caso em espeque, sem um mínimo de esteio probatório, como dito e provado acima, a denúncia deve ser rejeitada, uma vez que o prosseguimento da presente ação penal será debalde, pois provas não há contra o acusado. Já é chegado o tempo, Digno Magistrado, que o processo penal deve servisto com outros olhos. A arcaica visão de que todo e qualquer processo de competência do Egrégio Tribunal do Júri será sempre e sempre levado às barras deste, deve ser superada. O processo penal não mais admite a existência de acusações sem provas inicial mínimas. V – DOS PEDIDOS Diante do exposto, Requer desde já a REJEIÇÃO TARDIA da denúncia, por faltar justa causa para o exercício da ação penal, conforme manda o artigo 395, inciso III do Código de Processo Penal. Não sendo caso de rejeição tardia, requer a ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA do denunciado GABRIEL DE MATOS e a TOTAL IMPROCEDÊNCIA da denúncia, com fundamento no artigo 397, inciso III, do Código de Processo Penal, visto que o crime imputado padece de dolo, portanto não constituindo crime. Caso não seja este o entendimento deste Douto Juiz, a absolvição ainda é medida que se impõe conforme o artigo 386, inciso VI, do Código de Processo Penal e assim aplicado o princípio do “in dubio pro reo” Por último, requer também, caso não defira os pedidos acima, a oitiva das testemunhas abaixo arroladas para testemunharem em audiência de instrução e julgamento, bem como protesta provar a inocência do acusado por todos os meios em direito admitidos, nos termos do art. 396 – A do CPP. Termos em que, Pede deferimento. XXXXXX, 12 de abril de XXXXX. Advogado OAB/XX XXXXXX
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