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APOSTILA DPC 1 - 2018

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APOSTILA DE 
DIREITO 
PROCESSUAL CIVIL I
 
Profa. Évelyn Cintra Araújo
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PUC GOIÁS 
 
201
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1 INTRODUÇÃO 
 
Se pudéssemos conceituar Direito diríamos que é “o conjunto das normas gerais e 
positivas que regulam a vida social”. 
Portanto, o principal objetivo do Direito é harmonizar as relações sociais intersubjetivas; é 
tornar possível a vida em sociedade, conferindo-lhe ordem (ubi jus ibi societas – não há direito sem sociedade) através de regras de conduta dotadas de coercibilidade. 
Estabelecido o direito objetivo, faz nascer, por outro lado, a prerrogativa ou a faculdade 
individual de exigir o cumprimento dos preceitos que lhe diga respeito. Portanto, se a norma diz que “todos são iguais”, surge para cada um o direito de ser tratado sem discriminação. Fala-se, então, em direito subjetivo. 
A facultas e a norma são os dois lados de um mesmo fenômeno: um é o aspecto individual, o 
outro o aspecto social. Qualquer direito pode ser apreciado pelo lado do indivíduo, que dele extrai uma segurança jurídica ou uma função, como pelo lado do agrupamento social, que institui uma regra de conduta. 
O direito subjetivo manifesta-se através de uma relação jurídica, a qual pressupõe um 
sujeito, que é o ser a quem a ordem jurídica assegura um poder ou um dever de agir; um objeto, que é o bem ou a vantagem sobre a qual o sujeito exerce tal poder ou dever; e um vínculo, que é o liame que une ambos os sujeitos ou partes entre si e estes com o objeto, formando a relação jurídica. 
A vida em sociedade produz uma série de relações, que, quando protegidas pela ordem 
jurídica, transformam-se em relações jurídicas, como o casamento, o emprego, o aluguel de um imóvel etc. Todas elas são motivadas pelo desejo de satisfazer um direito subjetivo, ou seja, uma necessidade, um interesse (formar uma família, ganhar dinheiro, ter um lugar para morar etc). Quando isso ocorre fala-se em relação jurídica material. [1: Para Ihering, direito subjetivo é o “o interesse juridicamente protegido”. ]
Mas pode acontecer que, numa relação jurídica material entre A e B, os interesses sejam 
opostos; por exemplo, A quer manter o casamento, mas B não. Surge, então, um conflito de interesses, ou seja, um “choque de duas ou mais vontades sobre o mesmo objeto”. 
Nesse momento, se A insiste em manter a sua posição, exigindo que B subordine ao seu 
interesse, surge o que chamamos de pretensão. Pretensão, portanto, é “a exigência de subordinação de um interesse alheio ao próprio.” 
Se B ceder, o conflito é resolvido pela satisfação da pretensão de A. 
Porém, se B resiste, nasce uma lide, que, no conceito brilhante de Carnellutti, nada mais é 
que “um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida”. 
Nesse momento ENCERRA O PLANO DE DIREITO MATERIAL... [2: As leis classificam-se, quanto à sua natureza, em materiais ou substanciais (as que regulam o direito em si) e formais ou processuais (modo de realização da lei material - atos processuais). ]
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Acontece que, quando o Estado se estruturou e passou a dotar-se de maior poder, trouxe 
para si a responsabilidade de ditar a solução para os conflitos de interesses, proibindo qualquer espécie de justiça privada (atualmente, excepcionalmente, admite-se a autotutela, como o desforço imediato, a legítima defesa e a greve). 
O Estado assume, assim, o monopólio da JURISDIÇÃO (que significa dizer o direito no 
caso concreto), exercido precipuamente por um de seus poderes – o Poder Judiciário. 
Como consequência da previsão desse direito objetivo à jurisdição (aliás, consagrado a 
nível constitucional – art. 5º, inciso XXXV – “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”), ofertou-se ao indivíduo, que não podia mais realizar o seu interesse através da própria força, o poder, a prerrogativa, a faculdade, o direito subjetivo de bater às portas do Judiciário para exigir a solução do litígio que porventura pudesse estar envolvido. 
Tal direito subjetivo de provocar a jurisdição denominou-se direito de AÇÃO. Mas, como ele 
é exercido? 
O direito de ação é exercido através de um ato processual chamado demanda. Portanto, 
demanda é o ato processual pelo qual o autor exercita o direito de ação. Este ato materializa-se através de um instrumento denominado petição inicial. 
Mas, assim como se assegura ao autor o direito à tutela jurisdicional, o qual é exercido por 
meio do direito de ação, ao réu é garantido direito correlato, dando-lhe a chance de receber a prestação jurisdicional (direito à análise do mérito; de preferência, no sentido de improcedência do pedido do autor – tutela jurisdicional negativa). A este direito dá-se o nome de direito à defesa, previsto constitucionalmente no art. 5º, LV. 
O direito de defesa é exercido através de alguns atos, quais sejam, a contestação e a 
reconvenção, os quais se materializam também através de uma petição, que, por não mais ser inicial, é chamada genericamente de petição interlocutória. 
Oportunizado ao réu o direito de defesa, independentemente se ele o tenha exercido ou 
não através de quaisquer daqueles atos, tem-se por formado o PROCESSO completamente. 
Assim, o processo poder ser entendido como sendo a relação jurídica de direito público (processual) que une autor, juiz e réu, e que se exterioriza e se desenvolve pela seqüência ordenada de atos com vistas a um fim, qual seja, a sentença. 
 O processo será civil (ou de natureza cível, como queira) se a lide posta em juízo se instaurou em virtude de qualquer ramo do direito que não seja trabalhista ou penal (que possuem processos próprios correlatos, a saber, processo do trabalho e processo penal), ou seja, em virtude de um direito pertencente ao Direito Civil, Empresarial, do Consumidor, Tributário etc. 
 Para regular o processo, o Estado criou um conjunto de normas jurídicas que formam o chamado Direito Processual, também denominado de formal ou instrumental, por servir de forma ou instrumento de atuação da vontade concreta das leis de direito material ou substancial, que solucionarão as lides colocadas pelas partes em juízo. 
 
1.1 Conceito de Direito Processual Civil 
 
 A bem da verdade, Direito Processual é um só. A divisão em sub-ramos (Processo Civil, Processo Penal, Processo do Trabalho etc) e suas respectivas legislações são de ordem prática e didática, conforme a natureza da lide posta em juízo. 
 Todavia, se pudéssemos individuar e conceituar, diríamos, com auxílio da doutrina mais robusta nessa matéria, que Direito Processual Civil é “o complexo de normas e princípios que regem o exercício conjunto da jurisdição pelo Estado, da ação pelo demandante e da defesa pelo demandado” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO). 
 Ou, ainda: “é o ramo da ciência jurídica que trata do complexo das normas reguladoras do exercício da jurisdição civil”. (AMARAL SANTOS; THEODORO JÚNIOR). 
 Por fim, uma das melhores conceituações é a trazida pelo processualista italiano Chiovenda, para quem o Direito Processual Civil é “o ramo da ciência jurídica que trata do complexo das normas reguladoras do exercício da jurisdição civil” (CHIOVENDA). 
 É, portanto, ramo do direito público, não se confundindo com o direito material que instrumentaliza (este normalmente pertencente ao direito privado, p. ex., D. Civil), devendo, portanto, sempre ser afastada a denominação direito adjetivo, por aludir a uma relação de dependência do direito processual para com o direito material, o que, na verdade, não existe. 
 Enquanto o direito material cuida de estabelecer as normas que regulam as relações jurídicas entre os particulares, o direito processual visa regular uma das funções soberanas do Estado (função jurisdicional). Dessa forma, ainda que a lide seja eminentemente de interesse privado, há no processo sempre um interesse público, qualseja, a pacificação social e a manutenção da ordem jurídica. 
 
 
 
1.2 Evolução Histórica do Direito Processual Civil 
 
 A história do Direito Processual Civil processo se desenvolveu em 3 fases: imanentista, científica e instrumentalista. 
 
1.2.1 IMANENTISTA (do Direito Romano até 1868) 
 
Também conhecida por fase civilista ou privatista, a fase imanentista surgiu no Direito Romano, tendo como principais expoentes Celso, Ulpiano e Savigny, e durou até meados de 1868. 
Durante toda a sua longa existência, o imanentismo foi “evoluindo”, razão pela qual pode 
ser melhor compreendido em sub-fases, quais sejam: 
primitiva ou das legis actiones (das ações da lei) => havia 5 ações da lei, as quais deviam ser manejadas pelas partes com muito rigor e formalismo, sob pena de perder a demanda caso se equivocasse em uma palavra ou gesto (não havia advogados). 
período formulário => com a expansão do Império Romano, o manejo das 5 ações da lei ficou limitado. O magistrado, agora, examinava a pretensão do autor e a defesa do réu, e concedia uma fórmula de ação capaz de compor especificamente o conflito (ele fixava o objeto do conflito, cabendo ao árbitro, escolhido entre os cidadãos, o julgamento da causa – semelhante ao instituto do Júri Popular). Já havia advogados e princípios do livre convencimento do juiz e do contraditório. 
fase da cognitio extraordinária => desaparecem os árbitros, surgindo a figura do juiz como o único investido do poder jurisdicional. O procedimento passa a ser eminentemente ESCRITO, compreendendo desde o pedido do autor até a sentença e sua execução. 
 Porém, com a queda do Império, o processo civil sofreu um retrocesso ao ser influenciado pelo direito do povo bárbaro-germânico, caracterizado pelo formalismo exacerbado, fanatismo religioso e misticismos. Foi nesse contexto que surgiram os chamados “juízos de Deus”, “duelos judiciais” e “ordálias”. 
 O processo era FORMAL, e as provas produzidas deviam ser interpretadas segundo regras legais, não possibilitando qualquer participação do juiz. Este só reconhecia o cumprimento/realização da “prova” e fixava a sentença segundo as regras do direito positivo. Não se buscava a verdade real, mas a formal, pois se acreditava na INTERFERENCIA DIVINA nos julgamentos (autênticos jogos de azar ou rituais de bruxaria). 
 Entretanto, com o fim de preservar o direito romano, surge o Direito Canônico e o direito desenvolvido pelos glosadores nas Universidades, que, em conjunto com o direito germânico, formaram o chamado PROCESSO COMUM, que vigorou desde os séculos XI até XVI. 
O processo comum era escrito, lento e extremamente complicado. Mas, dele se extraíram 
as características que, aperfeiçoadas, inspiraram o processo moderno. Foram abolidas as ordálias e juízo de deus, mas a tortura continuou até o século passado, como meio de obtenção da verdade. Somente após a Revolução Francesa retomou-se o conceito de livre convencimento do juiz, relativamente às provas, eliminando a tarifa legal, primeiramente no processo penal, depois no civil. 
Conclui-se que, na fase imanentista, o direito processual era totalmente confundido com o 
direito civil (privado e material). Portanto, havia uma grande confusão metodológica entre ambos, negando-se a existência autônoma do processo, o qual se encontrava imanente, ou seja, dependente do direito material. Para os imanentistas, só havia ação se houvesse direito material e vice-versa. 
Obviamente que tal teoria não prosperou, pois não conseguiram explicar, por exemplo, a 
possibilidade de o autor lançar mão da ação e do processo para buscar justamente a declaração de inexistência de um direito (ação declaratória negativa). Esqueceram-se também de que, ainda que ação fosse declaratória positiva, o juiz poderia julgar improcedente o pedido, negando a existência do direito; ou, por fim, poderia o magistrado simplesmente decretar a prescrição (perda da pretensão) mesmo tendo havido o exercício da ação e a instauração do processo. 
 
1.2.2 CIENTÍFICA (de 1868 a 1950) 
 
Com o fracasso do imanentismo, as doutrinas alemã (expoentes: Oskar Von Bulow, Windscheid) e italiana (Calamandrei, Chiovenda, Carnelutti, Liebman), desenvolveram a teoria do processo como ciência autônoma, uma vez que fora finalmente reconhecida a sua total independência em relação ao direito material. 
Enquanto este sempre teve uma configuração linear (sujeitos ativo/passivo; objeto – bem 
da vida; e vínculo de direito material), o processo revela-se como uma relação jurídica triangular, com elementos próprios e distintos (sujeitos ativo/passivo e o Estado-juiz; objeto – pedido; e vínculo de direito processual). Assim, haveria duas relações jurídicas autônomas: a material e a processual, as quais não se confundiam. 
 Consequentemente, o direito processual passou a ser compreendido como ramo autônomo e público, com institutos e princípios próprios. As provas deixaram de ser tarifadas e passaram a ser valoradas pelo juiz segundo critérios próprios (deixando de atuar como expectador da vitória do mais hábil), tendo amplos poderes, inclusive, na sua produção; etc. 
Todavia, o processo passou a ser intensamente estudado como objeto autônomo, deixando 
de servir ao direito material, o que criou excessos formalistas. Dessa forma, tal processo era permeado por ideais iluministas e liberalistas, onde a propriedade individual, a autonomia da vontade e a titularidade do direito de agir exclusiva ao titular do direito privado eram “a pedra de toque”. 
 
1.2.3 INSTRUMENTISTA (de 1950 aos dias atuais) 
 
Por forte influência das doutrinas de Garth (EUA) e Cappelletti (ITA), os intrumentistas 
ou instrumentalistas vão além dos autonomistas e veem o processo como instrumento não só de realização dos interesses particulares, como também de pacificação social e realização da lei, portanto, mais efetivo, realizador da justiça, em tempo hábil e com o menor dispêndio possível. 
O processo deixa, então, de ser um fim em si mesmo, e passa ser considerado um meio, um 
veículo para se atingir um fim, qual seja, a solução do litígio por meio de uma tutela jurisdicional efetiva. Dessa forma, reaproxima-se o direito material do processual, sem, contudo, perder a autonomia do processo. 
 
1.3 História do Direito Processual Civil Brasileiro 
 
Até a independência, vigorou no Brasil a legislação portuguesa, consistente nas chamadas Ordenações do Reino (Ordenações Afonsinas, de D. Afonso V, de 1446; as Ordenações Manuelinas, de D. Manuel, de 1521; e as Ordenações Filipinas, de Filipe II, de 1603). Tinham por principais características: 
forma escrita, o juiz só podia apreciar o que estava nos autos (verdade formal); 
as partes não participavam da inquirição de testemunhas; 
princípio do dispositivo: autor e réu eram os donos do processo, cuja movimentação era privilégio das partes. 
 Em 1850, o Brasil editou o Regulamento n. 737, o primeiro Código Processual nacional, que visava regular apenas as causas comerciais. Já no período republicano, o referido regulamento alcançou também as causas cíveis, por força da alteração dada pelo Regulamento n. 763, de 1890. 
 Logo após, em 1891, a Constituição estabeleceu a divisão da Justiça Federal e Estadual, e, consequentemente, o poder de legislar sobre processo para cada esfera da federação, dando surgimento a um Código Federal e a vários Códigos estaduais, que acabaram por ser repetições do primeiro. 
 Todavia, a Constituição de 1934 pôs fim aos códigos estaduais, atribuindo exclusivamente à União a competência para legislar sobre processo. Desta feita, uma comissão foi formada para a elaboração de um código unitário, o que redundou no surgimento de nosso primeiro CPC (Código de Processo Civil) em 1939. 
 Como bem nos ensina Sérgio Bermudes (apud THEODORO JR, 2007, p. 17), havia no CPC de 39 “uma parte geral moderna, fortemente inspirada nas legislações alemã, austríaca, portuguesa e nos trabalhos de revisão legislativa da Itália, e uma parte especial anacrônica, ora demasiadamentefiel ao velho processo lusitano, ora totalmente assistemática”. 
 Após 33 anos em vigor, o CPC foi totalmente reformado, com base no Anteprojeto do Ministro Alfredo Buzaid, discípulo direto do processualista italiano Enrico Tullio Liebman (radicado no Brasil no período da 2ª Guerra Mundial, vindo aqui falecer). Daí surgiu o CPC de 1973, o qual sofreu, ao longo de sua vigência, várias alterações e reformas, todas na tentativa de se alcançar, conforme pregam os instrumentalistas, um processo mais efetivo possível. O propósito era abandonar a preocupação exclusiva com conceitos e formas, tão nos bem ensinado pela tradição romana e lusitana, para dedicar-se à busca de um processo de resultados. 
 Todavia, mesmo tendo sofrido diversas alterações, tal código já não atendia os clamores sociais da celeridade processual, bem como ignorava o amadurecimento do sistema de precedentes jurisprudenciais, uma vez que os tribunais passaram a desenvolver cada vez mais mecanismos e procedimentos com vistas a entrega de uma tutela jurisdicional efetiva. 
 Dentro desse contexto, surgiu no Senado Federal o PL n. 166/10, com o fim de elaborar um novo CPC. De autoria de uma comissão de juristas presidida pelo então Min. do STF, Luiz Fux, e subscritado pelo então presidente do Senado, José Sarney, teve por principal objetivo combater a morosidade da Justiça, incorporando ao Direito brasileiro mecanismos consagrados em outros países, como o incidente de resolução de demandas repetitivas, existente no Direito alemão. 
 Outro objetivo foi simplificar o processo civil, eliminando os recursos, como o agravo retido e os embargos infringentes, bem como muitos procedimentos especiais, que muitas vezes retardavam a aplicação da Justiça. Também teve por alvo fortalecer a conciliação extrajudicial, além de processar o réu que deixar de comparecer injustificadamente à fase de conciliação à condenação a ato atentatório à dignidade da Justiça, etc. 
 Assim, depois de mais de 4 anos de tramitação no Senado e na Câmara de Deputados, com intensos debates no Parlamento, em audiências públicas e na comunidade jurídica, finalmente o NCPC foi sancionado, com alguns vetos, em 16 de março de 2015 e publicado no dia seguinte, entrando em vigor no dia 18 de março de 2016. O NCPC é dividido em 2 partes: uma Parte Geral, composta de 6 Livros; e uma Parte Especial, com 3 Livros, totalizando 1.072 artigos, incluindo aí as Disposições Finais e Transitórias. 
 
1.4 Fontes 
 
 	O termo "fontes" provêm de fontos, expressão latina que significa "lugar de onde perenemente nasceu", "nascente de água". Em sentido figurado, fonte é a origem de algo, causa, motivação. 	Fonte do Direito seria, portanto, a origem do Direito, o seu nascedouro. Trata-se dos fatores reais que condicionaram o aparecimento da norma jurídica, seja elas quais forem (princípios morais, políticos, pareceres, teorias etc), desde que influenciem na criação e aplicação do direito. 
 Fontes do Direito Processual são os lugares de onde provém este ramo do Direito, dentre os quais podemos destacar: 
 
Constituição Federal => nela se encontram as normas fundamentais aplicáveis ao processo, especialmente no rol do art. 5º, como, por exemplo, os princípios do devido processo legal (inc. LIV), do contraditório e da ampla defesa (LV), da acessibilidade ao Judiciário (XXXV), da proibição de obtenção de provas ilícitas (LVI), da celeridade ou da duração razoável do processo (LXXVIII), além de regras acerca da organização e competência de julgar processos, em única ou última instância, pelos juízes e tribunais (arts. 102 e ss). 
 Vale lembrar, nesse contexto, das emendas constitucionais. À guisa de exemplo, podemos citar a EC 62/2009, que trata do novo regime dos precatórios, e a EC 66/2010, que instituiu o divórcio direto, independentemente do prazo de separação. 
 Em virtude de vários preceitos processuais estarem consagrados constitucionalmente é que se tem falado numa ‘constitucionalização do Direito Processual’, dando origem a uma subdivisão do estudo deste ramo do direito em: Direito Constitucional Processual (consistente num conjunto de normas de índole constitucional que visam garantir o processo, assegurando que este seja mais justo) e Direito Processual Constitucional (consistente num conjunto de normas de índole processual que se encontram na Lei Maior, objetivando garantir a sua aplicação e a sua supremacia. 
Ex: previsão do mandado de segurança, mandado de injunção, recurso extraordinário). 
 
Leis Federais => de acordo com o art. 22, I, CF, compete privativamente à União legislar sobre direito processual. Sendo assim, a maioria das leis processuais são federais, sendo a mais importante a Lei n. 13.105/15, ou seja, o CPC. Mas há outras também relevantes como a Lei 6.515/77 (lei do divórcio), Lei n. 6.830/80 (execução fiscal); Lei n. 8.245/91 (lei da locação/despejo); Lei 12.016/09 (mandado de segurança) etc. 
 
Leis Estaduais => as leis estaduais relativas ao processo são suplementares às federais, que são gerais, pois a competência para legislar sobre Direito Processual é de exclusividade da União. Sendo assim, cabem aos Estados legislar apenas sobre procedimentos administrativos de apoio ao processo, como, por exemplo, regras acerca da publicação dos atos processuais na imprensa oficial local. 
 Todavia, calha lembrar que, no que se refere aos Juizados Especiais (art. 24, X, CF), têm os Estados e o DF competência concorrente com a União para legislar sobre processo, desde que não sejam contrárias às normas gerais (instituídas na Lei 9.099), e, nessa hipótese, não há como se negar à lei estadual o caráter de fonte do Direito Processual. 
 
Regimentos Internos dos tribunais => são conjuntos de normas que regem o funcionamento interno dos tribunais. Tais atos normativos podem conter normas atinentes ao procedimento. Ex:. incidentes de competência dos tribunais, como os incidentes de assunção de competência e de resolução de demandas repetitivas, cujo procedimento é o estabelecido nos RI’s dos tribunais. 
 
Princípios Gerais do Direito => são regras não escritas que se encontram presentes em todo o sistema, informando-o. Exs:. ‘O Direito não socorre os que dormem’ – primado geral presente em institutos como os da prescrição, decadência, preclusão; ‘O que não está nos autos não existe no mundo jurídico’ ou ‘Alegado e não provado é como não alegado’ – deles derivando regras como a do ônus da prova (art. 373), a do livre convencimento motivado (art. 371) etc. 
 
Costumes => conduta socialmente aceita e que é realizada para criar uma sensação de obrigatoriedade. Ex:. por força do disposto nos arts. 319, inc. VI e art. 336, do NCPC, autor e demandado devem anunciar, de maneira específica, na petição inicial e na contestação, respectivamente, as provas que pretendem produzir. Há, porém, um hábito de muitos advogados de descumprir esse comando, anunciando apenas que pretendem produzir ‘todos os meios de prova admissíveis no direito’. Por conta dessa práxis (costume), os magistrados, após o encerramento da fase postulatória, tem determinado às partes que especifiquem as provas que pretendem produzir. 
 
Doutrina => conjunto de lições ou obras dos jurisconsultos acerca do Direito Processual Civil. Ex:. Theodoro Jr.; Nelson Nery Jr; Alexandre Câmara; Amaral Santos; Fidélis dos Santos; Dinamarco; Ada Pelegrini Grinover; Arruda Alvim; Sérgio Scarpinella Bueno; Athos Gusmão Carneiro; Frederico Marques; Ovídio Baptista; Marinoni, Talamini; Elpídio Donizete; Wambier; Didier Júnior; Luiz Guilherme Marinoni; Eduardo Talamini; Elpídio Donizetti; Daniel Amorim Assumpção Neves etc. 
 
Jurisprudência => decisões reiteradas dos pretórios nacionais sobre idêntica matéria. É inegável a força das súmulas e da jurisprudência dominante dos tribunais (força dos precendentes), principalmente dos superiores, que, no nosso atual sistema, são capazes de fazer recursos fracassarem precocemente ou terem seus méritos julgados procedentes (providos) monocraticamente pelo relator (art. 932,NCPC); ou, ainda, de considerar uma causa com repercussão geral, para fins de conhecimento de recurso extraordinário (art. 1.035, §3º) etc. 
 
1.5 Normas fundamentais e aplicação das normas processuais 
 
1.5.1 Normas fundamentais 
 
Os artigos 1º a 12 do CPC consagram princípios e regras aplicável ao processo cível, senão vejamos: 
 
art. 1º => de acordo com este artigo, hoje não é possível compreender o processo civil sem examinar a CF. Isso é reflexo da força normativa da constituição, devendo as normas do CPC estar em conformidade com a CF. 
 
art. 2º => consagra os princípios do dispositivo (da ação ou da demanda) e inquisitivo (ou impulso oficial). Para assegurar a imparcialidade do juiz, a iniciativa do processo e da maioria da prática dos atos processuais cumpre às partes, à sua disposição, sob pena de contumácia. Do princípio do dispositivo derivam-se outros como o princípio da congruência ou da adstrição da sentença ao pedido (arts. 141 e 492). 
 As exceções estão consagradas nos arts. 139, IV, e 297 (poder geral de efetivação e de cautela); art. 370 (produção de provas de ofício = interesse público/busca da verdade real/juiz de mero expectador à posição ativa), do que se conclui que o princípio do dispositivo restringe-se à propositura da ação e aos limites objetivos da lide, mas não à efetivação e à instrução do processo. Obs: a abertura de processo de inventário de ofício não se afigura mais uma exceção no NCPC ao princípio do dispositivo. 
 Convive o princípio do dispositivo harmonicamente com o do inquisitivo, principalmente porque cabe ao juiz, provocada a jurisdição, promover o andamento do feito (art. 2º, 2ª parte), pois é interesse do Estado a rápida solução das causas, não podendo ficar à mercê das partes. 
 
art. 3º => princípio da inafastabilidade da jurisdição, o qual decorre do art. 5º, XXXV, CF. Garante a todos o acesso ao Poder Judiciário, que não pode deixar de atender a quem venha a juízo deduzir uma pretensão, pois a jurisdição é monopólio do Estado. A partir do momento que o Estado trouxe para si a responsabilidade, o poder de tão-somente ele dizer o direito ao caso concreto, na mesma medida atraiu para si o dever de assim o faze-lo, não podendo se eximir de julgar em qualquer situação. 
 Essa é a inteligência dos arts. 4º, LINDB, e art. 140, NCPC, os quais consagram um princípio derivado, denominado de princípio do non liquet. 
 A consequência da garantia da inafastabilidade é outra garantia: a do acesso à jurisdição a todos quantos a invoquem, sem restrição. Havendo lesão ou ameaça de lesão a direito, nasce para o seu titular a pretensão de vê-lo tutelado pelo Judiciário. 
 EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO (§§1º, 2º e 3º): os meios alternativos de solução de conflitos, como a mediação, a conciliação e arbitragem. 
A mediação e a conciliação, que podem ocorrer dentro ou fora do processo judicial, é uma forma de solução de conflitos dada pelas próprias partes (autocomposição), embora seja auxiliada e estimulada por um terceiro, o mediador ou o conciliador. A diferença entre elas está na existência ou não de vínculo anterior entre as partes (art. 165, §§ 2º e 3º). De acordo com o novo CPC, a conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por todos os operadores do direito (juízes, advogados, defensores públicos e membros do MP), inclusive no curso do processo judicial (art. 3º, § 3º). 
Já, na arbitragem, a solução é dada por um terceiro escolhido pelas partes, conhecido como árbitro, proferindo uma decisão a que as partes deverão se sujeitar. A arbitragem foi adotada no Brasil pela Lei n. 9.307/96, e é constituída pela chamada convenção de arbitragem, onde as partes pactuam, por força da previsão em contrato da cláusula compromissória (pré-lide), a arbitragem como meio de solução de conflitos que porventura sobrevierem sobre o negócio jurídico ali avençado, abrindo mão da jurisdição estatal (há quem defenda a inconstitucionalidade desta lei por ferir os princípios do acesso ao Judiciário e do juiz natural – art. 5º, incisos XXXIV e LIII, CF/88). Caso o conflito de fato ocorra, tais partes firmarão o compromisso arbitral (pós-lide), o que na prática ocorre normalmente ao final da audiência de conciliação na Corte. 
Segundo a Lei 9.307/96, a decisão do árbitro é uma sentença (título executivo judicial), contra a qual não cabe qualquer recurso (salvo ação anulatória, num prazo de até 90 dias após sua publicação, caso tenha sido dada com vício), e nem pode ser rediscutida no Judiciário, a quem cabe tão somente executá-la, já que ao árbitro carece apenas o poder jurisdicional de execução de suas próprias decisões. 
Por fim, convém lembrar também que o árbitro deverá ser pessoa física, capaz e de confiança das partes; e que a arbitragem só se dá entre pessoas capazes que estejam litigando direitos patrimoniais disponíveis. 
 
art. 4º => este artigo contempla 3 princípios diferentes: o princípio da duração razoável do processo; o da primazia da decisão de mérito; e o da efetividade. 
 
princípio da duração razoável do processo (antes conhecido como princípio da celeridade) é o mais recente princípio processual constitucional, inserido no art. 5º, inciso LXXVIII por meio da EC 45/04. Com este princípio visa-se assegurar um processo, cuja duração seja o estritamente necessário para que se possa alcançar os resultados justos visados. Duração esta que não significa que será mínima, pois nem sempre conduzirá a um resultado justo, mas uma duração razoável para se alcançar o melhor, o mais adequado, o mais efetivo, enfim, o mais justo resultado possível ao processo. 
 Já o princípio da primazia da decisão de mérito remete a ideia de que a solução de mérito é prioritária em relação à solução que não o enfrenta, devendo o juiz evitar, sempre que possível, de extinguir o feito em razão de nulidades processuais, deixando de analisar as questões principais. Um exemplo disso é a previsão do art. 139, IX, do CPC, que diz ser dever do juiz determinar o suprimento de pressupostos e o saneamento de outros vícios processuais. Outra disposição aplicável é a do art. 321, que diz que, quando a petição inicial contiver defeitos corrigíveis, não deverá o juiz indeferí-la sem antes dar oportunidade ao autor de corrigí-la em 15 dias. 
 Por fim, de acordo com o princípio da efetividade do processo, as partes têm o direito à satisfação da decisão. Garante-se o direito fundamental à tutela executiva, ou seja, à satisfação de um direito já reconhecido. Afinal, não basta “ganhar”; para o processo ser devido, é preciso também “levar”. Dessa forma, este princípio está muito relacionado à fase executória do processo de conhecimento e ao processo de execução. 
 
art. 5º => princípio da boa fé processual, que está previsto no art. 5º, NCPC. Tal princípio impõe a todo aquele, que de qualquer forma participa do processo, o dever de comportar-se de acordo com a boa-fé. Portanto, trata-se, na verdade, de uma regra de conduta que se aplica não apenas às partes, mas aos seus advogados, e até ao juiz e aos auxiliares da justiça. 
 Apesar de não ter previsão constitucional, a maioria dos autores, com apoio do STF, vê no princípio do devido processo legal o seu fundamento constitucional, vez que esta cláusula geral exige um processo leal, ético e pautado na boa-fé (criou-se, inclusive, a expressão: devido processo leal). 
desrespeito ao princípio traduz-se em ilícito processual, combatido severamente pelo legislador com sanções do tipo condenação em litigância de má-fé (arts. 79 a 81); responsabilidade civil do juiz (art. 143, I), do escrivão e do oficial de justiça (art. 155), do intérprete (art. 164); do advogado (art. 32 do Estatuto da OAB); a condenação em ato atentatório à dignidade da justiça (ao devedor que pratica quaisquer atos previstos no art. 774; e às partes que não comparecem injustificadamente na audiência de conciliação ou mediação, cf. §4º do art. 334); a tutela de evidência quando o réu abusar do direito de defesa (art. 311,I); etc. 
art. 6º => princípio da cooperação. Embora já tenhamos visto os princípios do dispositivo e do inquisitivo separadamente, certo é que estes estão diretamente relacionados com o que o Novo Código de Processo Civil chama de princípio da cooperação. 
 Isso porque sempre convivemos, no mundo ocidental, com dois tipos de modelos de processo: o modelo dispositivo, intimamente ligado à atribuição de poderes às partes; e o modelo inquisitivo, o qual confere poderes ao juiz. 
 Todavia, tem sido cada vez mais difícil identificar, principalmente no Brasil, qual dos dois modelos é adotado, uma vez que ora a lei confere poderes às partes, como, por exemplo, de instaurar o processo e fixar o seu objeto, ora ao juiz, ao investi-lo de poderes instrutórios. 
 Em razão disso, tem-se falado que o direito processual brasileiro adota o modelo cooperativo, segundo o qual se espera que todos os sujeitos do processo, tanto as partes quanto o juiz, devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. Estas são as palavras descritas no art. 6º, do NCPC. 
 Percebe-se que não há uma condução do processo só a cargo das partes, tampouco só do juiz, que, tendo o contraditório, a boa fé e o devido processo legal como bases, comparticipam de todos os atos praticados do processo. 
 Vê-se que o Estado-juiz adota dupla posição no processo: paritária, com diálogo e equilíbrio na condução e cognição do processo (modelo dispositivo); e assimétrico e imparcial no momento da decisão do processo (modelo inquisitivo). 
 O princípio aplica-se às partes no que se refere aos seus deveres de esclarecimento (os demandantes devem redigir suas demandas com clareza e coerência, sob pena de inépcia), de lealdade e de proteção (não pode a parte causar danos à outra). Já quanto ao juiz o princípio se revela, por exemplo, no dever também de ser claro e preciso ao fundamentar suas decisões, ou, antes de indeferir um ato, tirar dúvidas ou buscar esclarecimentos junto à parte; agir com lealdade e boafé; e até o dever de consulta, de informar as partes antes de decidir (art. 10); e de prevenção, apontando deficiências nas postulações às partes, para que possam ser supridas (ex: arts. 76; 321; 932, par. único; 1.017, §3º; 1.029, §3º). 
 
art. 7º => princípio da igualdade processual, também conhecido como paridade de armas, compreende dois aspectos: 
Formal – todos devem ser tratados com igualdade, dando-se as mesmas oportunidades às partes. Ex:. art. 5º, CF, e art. 139, I, NCPC. 
Substancial – respeita-se as diversidades entre as partes para que a garantia da igualdade seja mais do que formal, mas seja real ou substancial. Para isso, lança-se mão de uma igualdade proporcional. Ex: prerrogativas da Fazenda Pública (art. 183 – prazo dobrado; art. 58, §3º - honorários proporcionais; art. 496 – remessa necessária) e do Ministério Público (art. 180); prioridade às causas de pessoas maiores de 60 anos (Lei 10.173). 
O NCPC trouxe duas novidades importantes que visam garantir maior efetividade ao princípio da isonomia: a ordem cronológica de conclusão para que os juízes e tribunais profiram sentenças ou acórdãos (art. 12); e a observância aos precedentes judiciais, impedindo que pessoas que estejam em situações iguais tenham soluções diferentes. 
 
art. 8º => de acordo com este artigo, o juiz deve atender aos fins sociais e às exigências do bem comum (art. 5º LINDB); deve resguardar e promover a dignidade da pessoa humana e observar a proporcionalidade, a razoabilidade (atualidades da CF), a legalidade, a publicidade e a eficiência (art. 37 CF). 
 
art. 9º => consagra o princípio do contraditório (art. 5º, LV, CF). 
 	O contraditório também deve ser estudado sob dois enfoques ou aspectos: 
Jurídico – garantir o contraditório implica em dar à parte oportunidade de participar do processo em igualdade de condições. Dessa forma, por exemplo, se a uma parte foi dado o direito de juntar um documento no processo, à outra deve ser garantido o direito de sobre ele manifestar-se. Ou, então, se à autora deu-se o direito de acionar o Estado-juiz formulando suas pretensões, ao respectivo requerido deve ser dada oportunidade de responder aos termos da ação. 
Político – assim como se garante o direito de participação no exercício das outras funções estatais (p. ex., no Legislativo, por meio do plebiscito e do referendo; no Executivo, por meio do orçamento parcipativo etc), garante-se pelo contraditório o direito do jurisdicionado de participar no processo com o fim de legitimar o provimento jurisdicional (isso decorre do Estado Democrático de Direito). 
A exceção é a liminar (in limine – no início do processo, antes da citação do réu), onde o requerido só tem a chance de participar depois que o provimento judicial é proferido. Nesse caso, fala-se, na verdade, da existência de um contraditório postergado ou diferido, já que ele só será estabelecido num momento posterior do procedimento. É o que está estabelecido no parágrafo único do art. 9º, cujo rol não é exaustivo (ex.: liminar possessória, liminar em despejo, etc.) 
Já a Ampla Defesa consagra, junto com o contraditório, o binômio ‘ciência+participação’, na medida em que a participação oportunizada se materializará pela prática de atos de defesas. Portanto, não basta à parte ser ouvida, é preciso que se lhe garanta o direito de provar a sua tese (antítese, na verdade) por todos os meios e recursos de defesa. Por isso é que é ampla! 
 
art. 10 => Regra da proibição de decisão surpresa, que é, na verdade, verdadeiro desdobramento ou concretizado do princípio do contraditório, já que deve o juiz, sempre antes de decidir, ainda que relativamente à questões conhecíveis de ofício (inconstitucionalidade de lei, decadência, incompetência absoluta, etc), consultar às partes para evitar decisões surpresas. Tal regra se aplica em todas as instâncias, sob pena de nulidade da decisão. 
 
art. 11 => princípios da publicidade e da motivação/fundamentação (art. 93, IX, CF). 
 Previsto também no art. 189 do CPC, o princípio da publicidade consiste na garantia fundamental de tornar públicos todos os atos judiciais. É, portanto, um instrumento de proteção das partes contra juízos arbitrários e secretos, bem como de fiscalização popular aos atos judiciais, tendo, assim, 2 dimensões: uma interna – publicidade para as partes; e outra externa – publicidade para terceiros, salvo quando a defesa da intimidade ou o interesse social exigir a restrição da publicidade apenas à interna. 
 Tais exceções estão mais bem descritas nos incisos I a IV do art. 189 do NCPC, exigindo, portanto, que o processo corra em segredo de justiça nas seguintes situações: 
processos que exigir interesse público ou social; 
processos que dizem respeito a casamento, separação de corpos, divórcio, separação (acabou com a EC66/10), união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes; 
processos em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade; 
processos que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo. 
 Em tais casos, restringe-se às partes e seus procuradores o direito de consultar os autos e de pedir certidões (§1º), podendo o terceiro juridicamente interessado obter certidão do dispositivo da sentença mediante requerimento (§2º). 
 Já o princípio da motivação ou da fundamentação das decisões judiciais exige que o juiz ou tribunal, ao decidir, exponha os motivos, as razões que formaram o seu convencimento, sob pena de nulidade. O art. 489, §1º trouxe um elenco de situações nas quais não se considera a decisão judicial fundamentada, passível, portanto, de decretação de nulidade, que, nesse caso, se faz por meio da oposição do recurso de embargos de declaração (art. 1.022, parágrafo único, II, CPC). 
 
art. 12 => Regra do respeito à ordem cronológica de conclusão. Os juízes e os tribunais atenderão, preferencialmente, à ordemcronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão (redação dada pela Lei n. 13.256/16, que alterou o CPC/15). Tal regra prestigia a igualdade e a duração razoável do processo; e somente se aplica às decisões finais (sentenças e acórdãos). Exceções (§ 2º). 
 
1.5.2 Aplicação da norma processual no tempo e no espaço. 
 
 Quanto à aplicação da norma processual no espaço, aplica-se o princípio da territorialidade (lex fori), ou seja, o exercício da jurisdição em território nacional rege-se pelas normas processuais brasileiras, ressalvados os tratados internacionais (art. 13). 
 Já quanto ao tempo, a norma processual nova não retroage, aplicando-se imediatamente aos processos em curso, com a preservação apenas dos atos processuais já praticados (tempus regit actum). Aplica-se, portanto, o princípio do isolamento dos atos processuais. 
 Por fim, registra-se o caráter subsidiário (há norma, mas é incompleta) e supletivo (quando há lacuna total de norma) do CPC em relação os demais processos, como o eleitoral e trabalhista, administrativo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 JURISDIÇÃO 
 
 
Sabe-se que o Estado, com o fim da monarquia absolutista, em pleno Iluminismo, se estruturou e se modernizou, consagrando a já aristotélica tripartição dos poderes, por meio dos quais o Estado exerce as funções legislativa (responsável pela estruturação da ordem jurídica pela elaboração das leis), administrativa (cujo papel é o de aplicar a lei na busca do bem comum/coletivo) e jurisdicional (a qual faz atuar a vontade da lei no caso concreto, solucionando as lides). 
A função jurisdicional difere da legislativa, na medida em que esta é anterior ao caso concreto, sendo exercida para prever casos ou situações gerais e abstratas; também difere da função administrativa em que pese esta última não ser substitutiva à vontade das partes, mas sim de iniciativa do próprio Estado na tutela do bem estar social mediante a aplicação de programas e ações de governo. 
Jurisdição, etimologicamente, significa dizer o direito. É, portanto, “a função pela qual o direito é aplicável ao caso concreto”. Não obstante tal conceituação, há quem também a identifique à atividade ou ao próprio poder estatal de decidir os litígios (Poder Judiciário). Neste último aspecto, a jurisdição, por ser um monopólio estatal, equivale também a um dever, já que o Estado não pode se eximir de solucionar ou de compor as lides que porventura os indivíduos da sociedade, os quais estão proibidos de exercer a autotutela ou a justiça privada, possam estar envolvidos. 
A jurisdição caracteriza-se pela: 
substitutividade => o Estado substitui as partes e soluciona o conflito, por conta do monopólio da atividade jurisdicional. Ou seja, o Estado cumpre a lei no lugar das partes, que não a observaram espontaneamente. 
definitividade ou imutabilidade => em nome da segurança jurídica, as decisões judiciais tendem, em regra, a se tornarem imutáveis, passíveis apenas de ação rescisória. Já as decisões administrativas, em regra, são modificáveis, podendo ser revistas pelo Judiciário, exceto aquelas fundadas em juízo de conveniência e oportunidade (mérito administrativo). 
inércia => a atividade jurisdicional deve ser provocada pela parte, pois se trata de uma atividade desinteressada, imparcial e eqüidistante dos interesses das partes. 
instrumentalidade => através da atividade jurisdicional é possível impor os comandos legais violados, ou seja, é um instrumento da sanção. 
presença da lide => a existência de uma lide pressupõe a existência da jurisdição, pois que seu objetivo é justamente por fim aos conflitos de interesses surgidos entre as partes. Hélio Tornaghi e Alexandre Câmara entendem que a lide não é elemento essencial à jurisdição, mas sim a pretensão, a pois que há casos em que o Estado é chamado a atuar sem que tenha havido litígio. 
Exemplo clássico é a ação de divórcio consensual, feito no Judiciário, quando há filhos menores. 
A jurisdição é também informada por alguns princípios, dentre os quais se destacam: 
investidura => a jurisdição só pode ser exercida por quem o Estado investiu de poder para tanto (os juízes concursados). 
aderência ao território ou territorialidade => o juiz deve exercer a função jurisdicional dentro de certo território definido pela lei (tem a ver com competência, ou seja, com limites da jurisdição, que estudaremos mais adiante). 
indelegabilidade => as atribuições jurisdicionais só podem ser exercidas pelos órgãos judiciais, não podendo ser delegadas a outrem. 
IMPORTANTE: a carta de ordem (ato de comunicação de uma parte, que esteja fora dos limites da jurisdição onde se processa o feito, dirigida a um juiz ou tribunal subordinado àquele de que ela emanar) ou a carta precatória (endereçada a outro órgão judiciário do país, entre os quais não há relação hierárquica) não contraria este princípio, pois que não se trata de delegação de jurisdição, mas, sim, de competência. 
 
Grande parte da doutrina entende que a arbitragem configura delegação da jurisdição estatal a particulares (árbitros). No entanto, há entendimento no sentido de que, como veremos, a arbitragem se enquadra no que Carnelutti chamou de equivalentes jurisdicionais (expressão utilizada na doutrina pátria por Câmara, Dinamarco etc), pois, apesar de ser proferida uma 
sentença, compondo o litígio entre as partes, o árbitro não tem o poder de executá-la , tarefa esta exclusiva do Estado. 
inevitabilidade => independentemente da vontade das partes, a jurisdição deve alcançar o seu fim, qual seja, o de compor o litígio, sujeitando-as à decisão. A autoridade das decisões se impõe, independentemente da aceitação dos seus destinatários, pois se trata de um ato emitido por um poder soberano do Estado. 
indeclinabilidade => com o monopólio estatal da jurisdição, os órgãos judiciais têm a obrigação de prestar a tutela jurisdicional quando invocada, não lhe sendo mera faculdade. O juiz não pode deixar de julgar alegando omissão na lei (art. 5º, XXXV, CF e art. 3º do NCPC – princípio da inafastabilidade da jurisdição; e art. 140, NCPC - princípio do non liquet). Para tanto, ele dispõe dos meios integrativos (costumes, analogia e princípios gerais do direito – art. 4º, LINDB). 
improrrogabilidade => a função jurisdicional, delimitada segundo a organização judiciária brasileira, não pode ser alterada pelo legislador ordinário. 
 
São poderes da jurisdição: 
conhecimento (notio, cognitio) => implica no poder de conhecer, investigar, instruir. Ou seja compreende o poder atribuído aos órgãos jurisdicionais de conhecer dos litígios, de prover a regularidade do processo, de investigar a presença de pressupostos de existência e de validade da relação processual, das condições da ação e de recolher o material probatório. 
chamamento (vocatio) => consiste no poder de convocar, de fazer comparecer em juízo todos aqueles cuja presença seja necessária ao regular desenvolvimento do processo. Faz-se mediante os atos de comunicação (citação, intimação etc). 
coerção (coertio, coercitio) => também conhecido como poder de polícia, abrange o poder de utilização de medidas coercitivas a fim de que se observe o regular desenvolvimento do processo. Ex: aplicação de multas (astreintes) por atraso no cumprimento da decisão; retirar alguém da sala de audiência etc. 
julgamento (juditio) => engloba o poder de julgar, o poder de concretizar a vontade da lei diante de um conflito de interesse ou de definir o direito a partir de uma situação de controvérsia. Ao decidir, o juiz deve observar as seguintes regras: 
o juiz é obrigado a decidir – arts. 3º e 140 (princípios da inafastabilidade da jurisdição e do non liquet); 
excepcionalmente, o juiz julgará com equidade – art. 140; 
 
o juiz decidirá o mérito nos limites do propostos pelas partes (a sentença tem que ser congruente, adstrita ao pedido) – arts. 142 e 492; 
o juiz pode decidir prejudicando as partes quando estas agem com fraude – art. 142; d.5) o juiz decide de acordo com o seu livre convencimento,mas deve motivá-lo - art. 371. 
execução (executio) => consiste no poder de cumprir o definido em decisão judicial e realizar/concretizar no mundo dos fatos o comando judicial. [3: A melhor e mais moderna doutrina tem lembrado também do chamado poder geral de efetivação do juiz, que poderá, de ofício, determinar medidas coercitivas (astreintes, por exemplo) em nome do princípio da efetividade processual. ]
poder geral de cautela (nem sempre lembrado pela doutrina) => poder de adotar medidas de cautela sobre o bem, objeto da demanda, quando houver fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação pela demora do processo (art. 297). 
 
Por fim, calha lembrar que a jurisdição pode ser voluntária, cujo procedimento está previsto nos arts. 719 a 770, NCPC; ou contenciosa, que pode ser de rito comum (art. 318 a 512, NCPC) ou especial (arts. 539 a 718, NCPC). 
A jurisdição voluntária, também conhecida como jurisdição graciosa ou administrativa, é aquela exercida inter volentes, isto é, entre pessoas que não estão litigando, mas que têm interesses comuns. 
Segundo a doutrina minoritária, que se filia à teoria clássica ou administrativista, a jurisdição voluntária não é jurisdição, mas apenas uma administração judicial de interesses privados, já que a autoridade judicial intervém não para compor um litígio, pois que este nem sequer existe, mas, sim, para dar validade, chancelar, homologar um ato ou negócio jurídico firmado pelas partes. 
Já a jurisdição contenciosa, ou jurisdição propriamente dita, pressupõe um litígio (contenda) a ser resolvido pelo Estado. 
Todavia, convém notar que, atualmente, grande parcela da doutrina filia-se a teoria revisionista, segundo a qual será considerada jurisdição sempre que o juiz aprecia um caso concreto, decidindo-o (aplicando a lei) ou simplesmente homologando-o. 
Apesar das divergências, pode-se resumir as diferenças entre jurisdição contenciosa e jurisdição voluntária através do seguinte paralelo: 
 
 
	CONTENCIOSA 
	VOLUNTÁRIA 
	Lide 
	Interesses comuns 
	Ação 
	Requerimento 
	Partes 
	Interessados 
	Contraditório 
	Sem contraditório 
	Processo 
	Procedimento 
	Sentença 
	Decisão homologatória 
	Coisa julgada 
	Sem Coisa julgada 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 AÇÃO 
 
 
3.1 Conceito e Natureza jurídica 
 
 
A AÇÃO é o direito pelo qual a jurisdição é provocada, pois que ela é inerte. Mas qual é a 
natureza jurídica da ação? É um direito: 
subjetivo, pois quando o direito objetivo previu o Judiciário como sendo o único dotado de poder para solucionar os conflitos, em contrapartida, deu ao indivíduo a prerrogativa de chamar o Estado para tal responsabilidade toda vez em que estivesse envolvido em algum litígio. 
público, exatamente porque provoca um dos poderes do Estado – o Judiciário. 
autônomo e abstrato – vale destacar que as características da autonomia e da abstração surgiram ao longo dos anos, numa crescente evolução do direito de ação desde o Direito Romano até a fase científica dos processualistas italianos e, principalmente, alemães, tendo surgido várias correntes teóricas, as quais podem ser assim resumidas: 
 
teoria civilista ou imanentista (Celso, Ulpiano, Savigny) => não havia autonomia. Para eles, a ação estava atrelada, imanente ao direito material, só havendo ação se houvesse direito (art. 75, CC/16). Sabemos que tal teoria não vingou, embora ainda hoje, na prática, muitos profissionais insistem em nomear a ação de acordo com o bem ou direito material pretendido (v.g. ação de despejo, de cobrança, de indenização etc). 
 
teoria do direito de ação autônomo (Windscheid e Müther) => a ação é o direito à solução do conflito pelo Estado, independentemente se ao autor assiste ou não razão. Como bem ensinou os alemães, é “direito à tutela jurisdicional”, que pode ser o reconhecimento, a certificação de um direito (ação de conhecimento); ou a satisfação, a concreção, a realização de um direito já reconhecido ou certificado num título (ação de execução). Por isso mesmo que a ação é dirigida CONTRA o Estado, pois só ele pode oferecer tais tutelas, e não o sujeito passivo da relação jurídica material, que virá a ser o réu do processo. Todavia, os autonomistas se subdividiram em outras 3 subcorrentes: [4: Vale lembrar que se o interesse do autor for a mera salvaguarda ou a conservação de um bem ou de uma pessoa, a fim de garantir o resultado da demanda que se encontra em risco (periculum in mora + fumus boni iuris), a parte poderá pleitear tutela provisória de urgência de natureza cautelar nos mesmos autos do processo de conhecimento ou de execução, e não mais em ação e processos próprios. Isso porque o NCPC revogou o Livro III do código anterior, que previa a ação e o processo cautelares nos casos de urgência. ]
 
teoria do direito autônomo e concreto (Oskar Von Bulow e Adolf Wach) => reconheciam a distinção entre o plano material e o processual, porém condicionaram a EXISTÊNCIA do direito de ação ao preenchimento de certos requisitos de direito material. Exemplo: a “ação de cobrança” tinha que ser dirigida em face de quem, concretamente, devia, sob pena de o autor não ter direito à ação. Nota-se que, apesar de propugnarem pela autonomia do direito de ação, acabaram por condicioná- lo ou limita-lo à uma sentença favorável ao autor, novamente associando-o ao direito material. 
 
teoria do direito autônomo e abstrato (Degenkolb e Plósz) => o direito de ação existe independentemente da efetiva ou concreta existência do direito alegado, ou seja, ele é exercido em abstração do direito material litigioso, aludindo o autor a ele hipoteticamente. Assim, para os abstrativistas, o direito de ação é absoluto, semelhante ao direito cívico de petição. Basta ingressar no Judiciário contra quem quer fosse, alegando qualquer direito, ainda que inexistente qualquer vínculo material, para que existente a ação. 
 
teoria eclética (Enrico Tullio Liebman) => em posição intermediária aos concretistas e abstrativistas, defende a ideia de que o direito de ação existe em abstração do direito material, mas não é absoluto e incondicionado. Na verdade, Liebman tentou achar um meio-termo entre as teorias concreta e abstrata, não concordando que o direito de ação seria identificável com o direito à uma sentença favorável, tampouco, concordando com a ideia de que poderia ser mero direito cívico de petição, consistente na faculdade de que dispõe todo cidadão de reclamar providências frente ao Estado, em caráter absoluto e incondicionado. 
Para ele, necessário se faz que o autor atenda algumas condições, as chamadas de condições 
da ação, quais sejam, a possibilidade jurídica do pedido, o interesse de agir e a legitimidade das partes. Ou seja, seria necessário ao autor aludir a um interesse, previsto no ordenamento jurídico, em face de alguém que hipoteticamente fosse o sujeito passivo da relação material para que o Estado prestasse a tutela jurisdicional. 
Críticas não faltaram à teoria eclética de Liebman, sob o argumento de que, apesar de a 
referida teoria considerar o direito de ação abstrato, estabelece o prévio atendimento às condições da ação que, na verdade, estão intimamente conexas a uma pretensão de direito material, a uma concreta situação de fato, o que seria um retrocesso. 
A crítica procede no sentido de que, para aferir a existência das mesmas, é necessária a 
comprovação mediante exame de provas, e não apenas a afirmativa feita pelo autor na petição inicial. Assim, nesse caso, condições da ação e mérito da causa seriam a mesma coisa, de forma que, se presentes aquelas, o juiz estaria pronunciando a respeito da própria lide, julgando não a ação, como queria Liebman, mas o pedido procedente. 
Todavia, é bom lembrar que o próprio Liebman, em conferência pronunciada em 1949, 
teria reconhecido o problema de que padece a sua teoria, admitindo, para efeito de aferição das condições da ação, a MERA análise hipotética dos fatos afirmados pelo autor, realizando o juiz umacognição superficial, perfunctória, sem incorrer no erro de adentrar na situação fática posta em juízo, ou seja, no mérito da causa (vertente da teoria eclética, conhecida como teoria da asserção, adotada pelo STJ). A única condição da ação que o jurista italiano reconheceu ser realmente questão de mérito foi a possibilidade jurídica do pedido. 
Não obstante tudo isso, a teoria eclética da ação, em sua versão original, foi a adotada pelo 
nosso diploma processual de 1973 (art. 3º e 295, parágrafo único). 
Entretanto, o NCPC não fala mais em condições da ação. Dessa forma, parte da 
doutrina entende que o legislador de 2015, em aparente adoção à teoria da abstração, não mais limita o exercício do direito de ação à observância de qualquer situação, ora enquadrando o interesse de agir e a legitimidade das partes na categoria dos pressupostos processuais, ora no mérito, a depender da profundidade da cognição feita pelo juiz sobre eles. 
Todavia, nos parece que o NCPC continua a abraçar a teoria eclética, porém com as 
reformulações feitas por Liebman, já que no art. 17 exige a observância do interesse e da legitimidade para se postular em juízo; e no art. 485, VI, estabelece que tal inobservância fará com que o juiz não resolva o mérito; e, em todos os casos, não se menciona mais o pedido juridicamente impossível, o que denota a ideia segundo o qual o mesmo passou a ser tratado como uma questão de mérito. 
 
3.2 Legitimidade e interesse 
 
 
a) Legitimidade para a causa (ad causam) ou das partes (ativa e passiva) – arts. 17 e 18, NCPC. 
Legitimidade é diferente de capacidade. Nem toda pessoa capaz pode estar legitimada 
para a prática de determinado ato jurídico. A legitimação traduz numa capacidade específica para determinados atos da vida civil. O tutor, por exemplo, embora maior e capaz, não poderá adquirir bens móveis ou imóveis do tutelado, sendo ilegítimo para tanto. Dois irmãos, da mesma forma, maiores e capazes, não poderão se casar entre si. Falta-lhes legitimidade ou capacidade específica para o ato. 
A mesma avaliação pode ser feita com relação às partes de um processo. Só serão capazes especificamente para travarem uma relação jurídica processual aqueles que hipoteticamente figuraram também na relação jurídica material. É, nos dizeres de Carnelutti, “a pertinência subjetiva da ação”, ou seja, a pertinência entre as partes processuais e as da lide. 
Portanto, numa ação de despejo, serão autor e réu o locador e o locatário, 
respectivamente. Aquele que tiver fora da relação de locação, como, por exemplo, o sublocatário, será considerado terceiro interessado, e não parte legítima. 
Quando coincidirem as partes do processo com as da lide, diz-se que a legitimidade 
é ordinária. 
Entretanto, existem casos em que o ordenamento jurídico autoriza outrem, que não 
titular do direito ou interesse material, a pleiteá-lo em juízo em seu lugar. Assim, se não houver correspondência entre os sujeitos do processo e da lide, de modo que quem figura na relação processual não é o mesmo da relação material, ocorre o que denominamos de legitimidade extraordinária ou substituição processual, prevista indiretamente no art. 18, NCPC, que diz: 
“ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico” (para Arruda Alvim, Barbosa Moreira, Didier Jr, e a maioria esmagadora da doutrina, não há necessidade de expressa previsão na lei, basta que tal autorização decorra do sistema). 
Exemplos: 1) o Ministério Público na defesa os interesses sociais e individuais 
indisponíveis (ação civil pública, ação de improbidade administrativa etc) – art. 177, NCPC c/c art. 127, CF; 
2) o sindicato, na defesa dos interesses da categoria – art. 8º, III, CF/88; 3) o condomínio, na defesa dos interesses comuns – art. 1.348, III, CC. 
A legitimidade extraordinária, portanto, só é admitida excepcionalmente, quando houver 
previsão legal, o que faz dela a exceção e não a regra. 
 
b) Interesse de agir (ou processual, ou das partes) 
Consiste na utilidade de obter um proveito, um resultado mediante o provimento 
jurisdicional, bem como na necessidade de se recorrer ao Judiciário para obter este proveito. Está previsto no art. 17, NCPC. 
Ex: 1) ação de cobrança => expor o crédito, não documentado, e a impossibilidade de obtê- lo diante da recusa de cumprimento espontâneo do devedor. 
2) ação monitória => expor o crédito, porém baseado em prova escrita sem eficácia de título executivo, e a impossibilidade de obtê-lo diante do inadimplemento do devedor. 3) ação de execução => expor o crédito, consubstanciado em um título executivo extrajudicial, e a impossibilidade de obtê-lo diante do inadimplemento do devedor. 
 
 
 
3.3 Elementos (identificadores) da ação 
 
 
A ação se identifica e se difere de outra pela existência e configuração de três elementos: 
partes, causa de pedir e pedido. 
Quando duas ou mais ações tiverem os mesmos elementos (mesmas partes, mesma causa 
de pedir e mesmo pedido) diz-se que ocorreu litispendência (pendência de duas lides ou causas idênticas), o que autorizará o juiz a extinguir o segundo processo (art. 485, V), já que o sistema não admite a coexistência de duas ou mais ações idênticas (isso pode gerar a coexistência de decisões conflitantes sobre a mesma causa, conflitantes, e, por consequência, trazer insegurança jurídica). 
A litispendência está conceituada no art. 337, §§1º, 2º e 3º, NCPC. 
 
 
a) Partes 
Quando se fala em partes, fala-se nas pessoas que estão envolvidas no litígio. E só se 
envolvem em conflitos, em litígios, pessoas, ou seja, aqueles que são dotados de personalidade jurídica. Nesse sentido, fala-se em capacidade de ser parte, que corresponde exatamente à personalidade civil (arts. 1º e 2º do Código Civil). Portanto, podem ser partes autora e ré: 
a pessoa natural: seja criança, doente mental ou adulto normal etc; 
a pessoa jurídica: de direito privado (empresa, associações, fundações, sociedades de economia mista e empresas públicas) ou de direito público (União, Estados, DF, Municípios, Territórios, e suas respectivas autarquias e fundações públicas). 
Na prática, muitos profissionais incorrem no erro de figurar como parte órgãos governamentais ou departamentos, como Secretarias da Saúde, da Educação, Polícia Militar etc, que, na verdade, não são dotados de personalidade jurídica. Nesse caso, a parte deverá ser a pessoa jurídica a qual o respectivo órgão se vincula, ou seja, o Município, o Estado etc. Por se tratar de uma ficção, ou seja, de uma abstração, deverá ser representada legalmente (art. 75). 
os entes derpersonalizados: como a massa falida, a herança jacente ou vacante, o espólio e o condomínio, que a própria lei (art. 75, V, VI, VII, XI, NCPC, respectivamente) excetuou, permitindo que figurem como partes. 
Mas, não basta a capacidade de ser parte. É necessário ter a capacidade de estar em juízo ou processual, o que não é privilégio para todos que se envolvem em litígios. A capacidade de estar em juízo corresponde à capacidade civil, prevista no art. 5º do CC/02. Portanto, apenas aqueles que são habilitados à prática de todos os atos da vida civil é que podem estar em juízo (art. 70, NCPC), Do contrário, é preciso que a parte esteja representada, quando se tratar de absolutamente incapaz; ou assistida, quando relativamente incapaz (art. 71, NCPC). 
É por isso que se lê, por exemplo, nas petições de ação de conhecimento com pedido de investigação de paternidade, ou de alimentos, o seguinte: “FULANINHO DE TAL, neste ato representado por sua genitora, FULANA DE TAL....”. 
Esse assunto voltará a ser tratado no contexto do estudo do Processo, especificamente 
quando falarmos em pressupostos processuais subjetivos. 
 
b) Causa de Pedir 
Tratam-se das razões fáticas e jurídicas que justificam o pedido. 
Segundo a doutrina, a causa de pedir pode ser de duas espécies: remota ou próxima. 
A remota diz respeito aos fatos, que podem ser constitutivos (que dão vidaà vontade da 
lei, ou seja, fazem nascer o direito a que se alega – ex: empréstimo, ato ilícito); extintivos (fazem cessar uma vontade da lei, extinguindo um direito – ex: pagamento, remissão de dívida); modificativos (tendem a alterar a constituição de um direito – ex: alegação de parcelamento de dívida); ou impeditivos (circunstância que impede a constituição de um direito – ex: incapacidade, simulação, erro etc.). 
É importante a diferenciação dos fatos, pois que, segundo o art. 373 do CPC, o autor tem o 
ônus de provar apenas os fatos constitutivos, e o réu os demais, mesmo porque, obviamente, só a ele interessa alegar extinção, modificação ou impedimento à direito. Normalmente, o autor justifica a declaração, a constituição ou a condenação à prestação de um direito seu, através dos fatos que o constituem. 
Já a causa de pedir próxima diz respeito aos fundamentos jurídicos que embasam o pedido. Não se quer dizer aqui o fundamento legal, o dispositivo da lei, pois não há necessidade de indicar ao juiz a norma violada. Segundo a velha máxima romana, “juria novit cúria”, o juiz conhece o direito. 
Por conseguinte, os fundamentos jurídicos são as consequências jurídicas que extraem dos fatos. Por exemplo, se o locatário não paga o aluguel, a consequência jurídica é o seu despejo. 
No processo civil, adota-se a teoria da substanciação, que exige do autor, na petição inicial, a 
indicação dos fatos (causa remota) e dos fundamentos jurídicos (causa próxima), conforme o inciso III do art. 319. Opõe-se a esta a teoria da individuação, segundo a qual basta ao autor indicar apenas os fatos OU apenas os fundamentos jurídicos. 
 
c) Pedido 
O pedido pode ser dividido em duas espécies: o imediato e o mediato. 
O pedido imediato é o tipo de providência jurisdicional pretendida, que pode ser de 
conhecimento ou de execução. Especificamente considerando os efeitos produzidos pela sentença de conhecimento, o pedido pode consistir em um(a): 
=> declaração de existência ou inexistência de uma relação jurídica (ação declaratória, positiva ou negativa – art. 19, I, NCPC); 
=> constituição ou desconstituição de uma relação jurídica (ação constitutiva ou desconstitutiva); 
=> condenação do réu a prestar uma obrigação dar quantia (ação condenatória); 
=> condenação do réu a prestar uma obrigação de fazer, não fazer ou dar coisa (diferente de dinheiro), ordenando-o (coerção indireta) a prestá-la, sob pena de sofrer alguma medida de efetivação indireta (como as multas – astreintes) e até crime de desobediência (ação mandamental); => a condenação do réu a prestar uma obrigação de fazer, não fazer ou dar coisa (diferente de dinheiro), determinando a adoção de medidas de sub-rogação, mediante coerção direta (como busca e apreensão remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva; etc), caso o réu não cumpra espontaneamente o direito reconhecido nesta mesma decisão 
(executiva lato sensu). 
Estas duas últimas ações (mandamental e executiva lato sensu) não passam de condenações atreladas com medidas de efetivação, razão pela qual são conhecidas como ações ou processos sincréticos (pois há conhecimento + execução na mesma decisão). São também conhecidas como tutela específica das obrigações de fazer, não fazer e de entrega de coisa, respectivamente previstas nos arts. 497 e 498 c/c art. 536, §1º, NCPC, em contraponto a chamada tutela genérica (art. 499 do NCPC), hoje uma grande exceção no processo civil moderno. 
 
Por outro lado, o pedido mediato é o bem jurídico de direito material que se pretende seja 
tutelado pela sentença (o despejo, o pagamento, a nulidade do contrato etc). 
Diferem-se na medida em que o pedido imediato tem conteúdo processual, dirigido 
contra o Estado (pois só ele pode entregar a tutela jurisdicional), e o mediato tem conteúdo material, dirigido contra o réu (quem pode entregar o bem de direito pleiteado). 
Vê-se, portanto, que a AÇÃO é classificada tomando por base o pedido imediato, já que 
ela é o direito à tutela jurisdicional, não levando em conta o pedido mediato, que a ele não se vincula (autonomia e abstração da ação). 
 
 
 
4 PROCESSO 
 
O processo completa a trilogia processual, pois, provocada a jurisdição pela ação, a vontade da lei se concretizará mediante o processo, que atua como um instrumento da jurisdição. 
 
4.1 Natureza Jurídica e Conceito 
 	 
Diversas teorias se desenvolveram ao longo da história do Processo Civil para explicar a natureza jurídica do processo. 
 
contrato => os romanos concebiam o processo como um contrato, pois as partes travavam entre si uma espécie de acordo para se submeterem à jurisdição (parecido com a convenção de arbitragem para se sujeitarem à arbitragem). Com maior poder que o Estado passou a dotar, atraindo para si o monopólio da jurisdição, ficou ultrapassada essa concepção privatista do processo. 
 
quase- contrato => para seus defensores, embora reconheciam não se tratar o processo de um contrato, sustentavam se tratar de um quase-contrato, em virtude de as partes possuírem obrigações no processo. Entretanto, esse entendimento também não prosperou, pois que, no contrato, as obrigações são recíprocas entre os contratantes, o que não ocorre entre as partes no processo. Além do mais, as partes não podem dispor, regular entre si quanto aos efeitos do processo, devendo apenas a ele se sujeitarem. 
 
situação jurídica => o processo seria uma situação jurídica que, a depender do empenho das partes em exercer suas faculdades e de se sujeitarem aos ônus etc, poderia ser alterada ao final com o provimento jurisdicional, colocando a parte numa situação de vantagem ou de desvantagem. Enfim, instaurado o processo, surgem essas duas possibilidades de resultado, essas duas situações, definindo o Estado por uma delas se restar convencido ou não do direito alegado. 
 
relação jurídica => o processo surge como instrumento de que dispõe o Estado-juiz para a realização direito subjetivo material violado no caso concreto. Como a jurisdição é inerte, posto que se trata de uma função que se mantém na sua imparcialidade, cumpre ao pretenso detentor desse direito provocá-la, impulsioná-la mediante a ação. Como a ação é também um direito subjetivo (de natureza processual), este se manifestará a através de uma relação jurídica, agora de natureza processual, que se instaurará. A esta relação jurídica denominamos de processo. 
 Portanto, PROCESSO é a relação jurídica processual, por isso de direito público, que une autor, juiz e réu, e que se exterioriza e se desenvolve pela sequência ordenada de atos, com vistas a um fim, qual seja, a entrega da tutela jurisdicional justa e efetiva. 
Convém esclarecer que não prosperou o entendimento segundo o qual a relação jurídica processual seria estabelecida somente entre as partes, figurando o juiz como um estranho a ela, conforma a teoria linear. Muito menos que todas as obrigações, ônus e atividades das partes convergiriam para o juiz, formando uma relação meramente angular. 
Esta relação jurídica é, na verdade, de natureza triangular, pois ao mesmo tempo em que há vínculo entre as partes e o juiz, há também pontos de contato direto entre as partes (v.g., quando entram em acordo para suspender o processo; ou quando se conciliam etc). 
 
4.2 Procedimento 
 
 Vimos até agora que o processo é uma relação jurídica entre autor, juiz e réu, que se exterioriza e se desenvolve pela seqüência ordenada de atos com vistas à sentença. 
 	Portanto, o processo apresenta 2 aspectos: 
interior ou intrínseco => o processo é a relação jurídica que se instaura e se desenvolve entre autor, juiz e réu. 
exterior ou extrínseco => o processo se revela num conjunto de atos concatenados visando a sentença, a que denominamos de procedimento. 
 À título de ilustração, podemos afirmar que enquanto o processo é o instrumento, o VEÍCULO conduzido pelas partes e pelo juiz rumo à sentença; o procedimento é o CAMINHO, o CURSO, o ITINERÁRIO pelo qual o processo passa parachegar a esse destino. 
 Vários são os caminhos ou itinerários, ou seja, procedimentos, estabelecidos pela lei, para se chegar à solução final da lide, dentre os quais podemos classificar: comum e especial. 
 	O procedimento comum é aquele adotado quando não há para a causa previsão de 
procedimento especial, seja no próprio código ou na lei especial (art. 318, NCPC). O rito comum é, portanto, a regra geral, sendo aplicado subsidiariamente aos demais procedimentos especiais e ao processo de execução. 
 O Código prevê também os procedimentos especiais, seja de jurisdição contenciosa (consignação em pagamento, exigir contas, monitória, possessórias, inventário e partilha etc, que, normalmente, após algumas providências próprias específicas, caem no procedimento ordinário), seja de jurisdição voluntária (divórcio e separação consensuais, herança jacente; arrecadação dos bens do ausente; interdição etc) – arts. 539 a 718 e 719 a 770, respectivamente. 
Leis especiais também regulam procedimentos especiais, como o do mandado de segurança (Lei n. 12.016/09), o das causas de competência dos Juizados Especiais (Leis n. 9.099/95; 10.259/01; 
12.153/09) etc. 
 
4.3 Pressupostos processuais 
 	 
São os requisitos necessários de existência e de validade do processo, sem os quais o processo não se desenvolverá regularmente, podendo ser anulado, ou sequer existirá. É a primeira categoria onde repousará a cognição do juiz, para que, então, possa analisar o mérito da causa. 
 
4.3.1 classificação dos pressupostos processuais 
 
pressupostos processuais de existência: necessários para o processo existir. Se subdividem em: 
subjetivos => estão ligados ao juiz (jurisdição – pois não existe processo perante oficial de justiça, professor etc) e às partes (capacidade de ser parte – só quem é dotado de personalidade jurídica, como pessoas físicas, jurídicas e, excepcionalmente, entes despersonalizados). 
objetivo => demanda. Só há processo se houver provocação/exercício do direito de ação, o qual se dá por meio de um ato processual denominado demanda. Este ato, por sua vez, materializa-se através de um instrumento denominado petição inicial. 
 
EM SUMA: Só haverá processo se alguém, com capacidade de ser parte, 
 demandar perante um órgão jurisdicional!!! 
 
✓ pressupostos processuais de validade: dizem respeito ao desenvolvimento regular do processo, que já existe. Também se subdividem em: a) subjetivos: também estão ligados: 
a.1) ao juiz: competência - se o juízo for incompetente, o processo estará viciado. Entretanto, tal vício é corrigível, podendo os autos ser deslocados para o juízo competente. Se tal fato ocorrer nos Juizados, o processo é extinto; e imparcialidade, pois se o juiz conduzir o processo quebrando sua imparcialidade ou isenção, maculado estará o processo. O juiz pode se declarar suspeito ou a parte poderá alegar a suspeição ou o impedimento do juiz dentro do prazo legal (defesa), sendo ele substituído por outro magistrado na condução do feito. 
a.2) às partes: capacidade processual ou de estar em juízo (corresponde à capacidade civil, prevista no art. 5º do CC/02). Se a incapacidade surgir no curso do processo (alguém sofre um processo de interdição), será ela suprida pela curadoria; e capacidade postulatória (para praticar os atos processuais, que requerem técnica específica, deverá a parte estar representada por um advogado , devidamente inscrito nos quadros da OAB, mediante um contrato de mandato, o qual se instrumentaliza pela procuração. Só se pode postular sem procuração em casos urgentes, previstos no art. 104, in fine, NCPC, mas deve ser ratificado no prazo, sob pena de ineficácia do ato – parágrafo único do mesmo artigo. Vide Súmula 115, STJ). [5: Também será representado pelo curador, a ser nomeado pelo juiz no processo, se tratar de: menor incapaz, que não tenha representante, ou os interesses daquele estejam com os destes conflitando; réu preso; ou revel citado fictamente (edital ou com hora certa) – art. 72, NCPC. Se a parte for casada (salvo se tratar de regime de separação absoluta de bens) e estiver litigando em ações que versam sobre direitos reais imobiliários, ela dependerá da outorga uxória ou marital do outro cônjuge - art. 73, NCPC. Por outro lado, serão necessariamente réus nas ações previstas no §1º do referido dispositivo legal. ]
 
objetivos: subdividem em intrínsecos e extrínsecos: 
intrínseco => deve-se respeitar o procedimento (por exemplo, a comunicação dos atos processuais – citação /art. 239). 
extrínsecos (ou pressupostos negativos => não podem existir para que o processo seja válido): - litispendência: quando se repete a ação que está em curso (coexistência de duas ou mais ações idênticas, ou seja, que tenham as mesmas partes, mesma causa de pedir e mesmo pedido) – art. 337, §3º, NCPC. 
coisa julgada: quando se repete a ação que já foi decidida por decisão transitada em julgado – art. 337, §4º, NCPC. 
perempção: é a perda da faculdade de demandar contra o réu, pelo mesmo objeto, quando o autor já deu causa, em outras três oportunidades, à extinção do processo por abandono da causa – art. 
486, §3º, NCPC. 
convenção de arbitragem: acordo prévio feito pelas partes de abrirem mão da jurisdição estatal e optarem pela arbitragem como meio de solução de seus conflitos. 
 
4.4 Sujeitos do Processo 
 
São sujeitos do processo (a relação jurídica processual é triangular): 
AUTOR: que ocupa o pólo ativo, pois foi quem procurou a jurisdição pelo exercício da ação. 
RÉU: que ocupa o pólo passivo e que vai responder pela ação. 
JUIZ: que está numa posição soberana, porém eqüidistante das partes, pelo fato de exercer a jurisdição. 
Os dois primeiros sujeitos -autor e réu - são conhecidos como PARTES. Logo, concluímos haver no processo apenas duas partes a ATIVA e a PASSIVA. 
 O conceito de partes é importante na medida em que determina os efeitos da sentença, os quais, regra geral, só alcançam elas, e também porque as diferenciam do chamando terceiro. Aliás, essa é a inteligência do artigo 506 do NCPC, in verbis: “A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros”. 
 Entretanto, quando a lei autoriza é possível ao terceiro ingressar, intervir no processo como parte. Nesse caso, o terceiro interveniente deixará de ser mero terceiro, adquirindo regra geral a condição de parte, o que incluir o fato de ser alcançado pelos efeitos da sentença. São espécies de intervenção de terceiros previstos no NCPC: a assistência (arts. 119 a 124); a denunciação da lide (arts. 125 a 129); o chamamento ao processo (arts. 130 a 132); o incidente de desconsideração da personalidade jurídica (arts. 133 a 137); e o amicus curiae (art. 138), os quais ainda serão mais tarde estudados. 
O MP também pode figurar como parte quando atuar na defesa de interesse coletivo. Nesse caso, a sua atuação dar-se-á como substituto processual, posto que a sua legitimidade é extraordinária (artigo 177 do NCPC). 
Coisa diversa é quando o MP atua como fiscal da ordem jurídica (custos legis) quando a causa versar interesse de menor questão de estado ou interesse público (artigo 178 do NCPC). Ele o fará não na condição de parquet ou de terceiro, mas atuará como uma espécie de amicus curiae (amigo da corte). 
Advogados, peritos, assistentes técnicos, oficial de justiça, etc, JAMAIS poderão ser entendidos como partes. O primeiro é figura indispensável à administração da justiça e os últimos, auxiliares da justiça. 
 
4.5 Das Partes e Procuradores 
 
Capacidade processual e postulatória 
 	 
Vimos que para o processo se desenvolver VALIDAMENTE é necessário dentre outros pressupostos, que as partes tenham capacidade processual e capacidade postulatória. 
 Em outras palavras: elas, para estarem em juízo, para praticarem os atos processuais, devem ser dotadas de capacidade civil e estarem representadas por um advogado. 
Por serem pressupostos processuais, o juiz poderá analisa-las de ofício, e, caso não estejam presentes, deve

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