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MARIA LUA FERREIRA DE LIMA TURMA 98 RESUMO – FISIOLOGIA E FARMACOLOGIA (2° PROVA) FARMACOLOGIA: ÁLCOOL (FONTE: AULA + GOODMAN) O álcool após ingerido passa pelas seguintes etapas: 1. Absorção 2. Distribuição 3. Biotransformação 4. Eliminação • ABSORÇÃO: As principais vias de absorção do álcool são a via aérea (pulmão→coração→SNC) e a via oral. O efeito de primeira passagem do álcool só ocorre pela via oral. O efeito de primeira passagem diminui a biodisponibilidade do álcool. Depois da administração oral, o etanol é rapidamente absorvido no estômago e no intestIno delgado e levado à corrente sanguínea, onde se distribui na água corporal total. Como a absorção ocorre mais rapidamente no intestino delgado que no estômago, os fatores que retardam o esvaziamento gástrico (p. ex., presença de alimentos) prolongam a absorção do etanol. OBS: O ácido acetilsalicílico aumenta a biodisponibilidade do etanol porque inibe a ADH gástrica. • DISTRIBUIÇÃO: Refere-se ao acoplamento de proteínas. A diminuição da quantidade de proteínas plasmáticas está diretamente relacionada a ação do álcool no organismo. Isso ocorre pq quanto menos proteínas tiver, maior será a fração livre do álcool para agir. • BIOTRANSFORMAÇÃO: A biotransformação (série de transformações químicas que o produto possa ser polarizado/hidrossolubilizado para ser eliminado) do álcool ocorre no intuito de transformar o álcool em compostos mais simples para serem eliminados. As mulheres fazem menos biotransformação do álcool devido ao metabolismo gástrico desse composto ser menor e isso aumenta a concentração biodisponível do álcool no organismo, contribuindo para uma maior sensibilidade das mulheres ao álcool. Essa biotransformação ocorre na mucosa gástrica e no fígado (etanol → aldéido (tóxico) → ácido acético) e diz respeito ao metabolismo do álcool. Como ocorre: MARIA LUA FERREIRA DE LIMA TURMA 98 1. O etanol é metabolizado príncipalmente pela oxidação hepática sequencial, primeiro em acetaldeído pela ADH e depois em ácido acético pela aldeído-desidrogenase (ALDH). 2. Todas as etapas metabólicas necessitam de NAD+; deste modo, a oxidação de 1 mol de etanol ( 46 g) em 1 mol de ácido acético requer 2 mol de NAD+ (cerca de 1,3 kg). Essa quantidade é muito maior que o suprimento de NAD+ no fígado; na verdade, a disponibilidade deste composto limita o metabolismo do etanol a cerca de 8 ou 10 g/mL por hora em adultos de 70 kg, ou cerca de 120 mg/kg/h. Desse modo, o metabolismo hepático do etanol esgota-se funcionalmente com níveis sanguíneos relativamente baixos. 3. Uma enzima do citocromo P450 hepático, CYP2El, também pode contribuir (Figura 23-1), especialmente quando as concentrações de etanol são mais altas e em condições como o alcoolismo, no qual sua atividade pode estar índuzida. A catalase também pode converter o etanol em acetaldeído, mas a disponibilidade de H20 2 no fígado geralmente é muito pequena para resistir ao fluxo significativo de etanol por essa via metabólica. Embora geralmente não seja um fator significativo no metabolismo do etanol, a CYP2El pode ser uma enzima importante nas ínterações do etanol com outros fármacos. Essa enzima é índuzida pelo consumo crônico de etanol, aumentando a depuração dos seus substratos e a ativação de algumas toxínas como o CC14. Entretanto, a depuração dos mesmos fármacos pode ser reduzida depois do consumo agudo de etanol, porque o álcool compete com eles pela oxidação por meio desse sistema enzimático (p. ex., fenitoína e varfarina). 4. O aumento expressivo da relação entre NADH:NAD+ hepáticos durante a oxidação do etanol tem consequências profundas, além de limitar sua taxa de metabolismo. As enzimas que dependem do NAD+ são ínibidas e, desse modo, o lactato acumula-se, a atividade do ciclo do ácido tricarboxílico dimínui e a acetilcoenzima A (acetil-CoA) acumula-se (e é produzida em quantidades maiores a partir do ácido acético derivado do etanol; Figura 23-1). A combínação dos aumentos do NADH e da acetil-CoAfavorece a síntese dos ácidos graxos e o armazenamento e a acumulação dos triacilglicerídeos. Os corpos cetônicos são formados em seguida e agravam a acidose láctica. O metabolismo do etanol pela CYP2El produz quantidades aumentadas de NADP+, limitando a disponibilidade do NADHP para a regeneração da glutationa reduzida (GSH) e, desse modo, acentuando o estresse oxidativo. 5. Os mecanismos responsáveis pela doença hepática induzida pelo consumo maciço de etanol provavelmente refletem uma combinação complexa desses fatores metabólicos, a indução da CYP2El (e o aumento da oxidação das toxinas e da formação de H20 2 e radicais do oxigênio) e, possivelmente, a liberação de quantidades aumentadas de endotoxina em consequência do efeito do álcool na flora gram-negativa do trato GI. Os efeitos da ingestão maciça de etanol nos diversos órgãos estão resumidos a seguir; a lesão dos tecidos quase certamente reflete o estado nutricional precário dos alcoólicos ( desnutrição e carências das vitaminas A e D e de tiamina), a supressão da função imunológica pelo etanol e vários outros efeitos generalizados. MARIA LUA FERREIRA DE LIMA TURMA 98 OBS: álcool promove oxidação na mucosa gástrica. Dessa forma, não se deve nunca prescrever AINES não seletivos para pacientes sabidamente alcoolistas por que esse tipo de AINES diminui a síntese de prostaglandinas citoprotetoras gástricas. • ELIMINAÇÃO: Quantidades pequenas de etanol são excretadas na urina, no suor e no ar expirado, mas o metabolismo em acetato é responsável pela excreção de 90-98% do etanol ingerido, principalmente e devido ao metabolismo hepático pela ADH e pela ADLH. MARIA LUA FERREIRA DE LIMA TURMA 98 O mecanismo de ação do álcool afeta diversos sistemas e órgãos, tais como SNC, fígado, rins, coração e pâncreas, podendo causar complicações como diabetes, insuficiência renal e hepática, pancreática, HAS e dislipidemias. MARIA LUA FERREIRA DE LIMA TURMA 98 1. EFEITOS NO SNC: O etanol é basicamente um depressor do SNC. A ingestão de quantidades moderadas de álcool, assim como de outros depressores como os barbitúricos e os benzodiazepínicos, pode ter ações ansiolíticas e produzir desinibição comportamental em uma ampla variação de doses. Os sinais específicos de intoxicação variam de afeto expansivo e vivaz a oscilações descontroladas do humor e a explosões emocionais que podem ter componentes violentos. Nos casos de intoxicação mais grave, as funções do SNC geralmente são deprimidas e, por fim, instala-se uma condição semelhante à anestesia geral. Entretanto, há pouca margem entre as ações anestésicas e os efeitos letais (geralmente decorrentes de depressão respiratória). 2. EFEITOS NO SISTEMA CARDIOVASCULAR: As doenças vasculares estão entre as causas principais de morte precoce entre os pacientes alcoólicos. Esse risco inclui um aumento de 6 vezes do risco de doença arterial coronariana, predisposição às arritmias cardíacas e alta incidência de insuficiência cardíaca congestiva. As causas são complexas e as observações são dificultadas por alguns efeitos favoráveis produzidos por pequenas doses de etanol. HAS: O consumo maciço de álcool pode aumentar as pressões sistólica e díastólica. Alguns estudos sugeriram uma correlação não linear positiva entre consumo de álcool e hipertensão, que não estava relacionada com idade, nível de instrução, tabagismo ou uso de anticoncepcionais orais. O consumo de mais de 30 g de álcool por dia (mais de dois drinques) foi associado às elevações de 1,52,3 mmHg nas pressões sanguíneas sistólica e díastólica. 3. DIURESE O álcool inibe a liberação de vasopressina (hormônio antidiurético) pela hipófise posterior e aumenta a diurese. A sobrecarga de volume que acompanha a ingestão alcoólica contribui para a diurese causada por redução da secreção de vasopressina. O álcool também age no túbulo distal, onde o ADH age, por mecanismo competitivo (são antagonistas). 4. FÍGADO O etanol causa vários efeitos deletérios dependentes da dose no fígado. Os principais efeitos são infiltração gordurosa do fígado, hepatite e cirrose. Em virtude da sua toxicidade intrínseca, o álcool pode lesionar o fígado mesmo na ausência de carências nutricionais. A acumulação de gordura no fígado é a primeira alteração e pode ocorrer nos indivíduos normais após a ingestão de quantidades relativamente pequenas de etanol. Essa acumulação é atribuída à inibição do ciclo do ácido tricarboxílico e à oxidação das gorduras, em parte decorrente de geração de quantidades excessivas de NADH pelas ações da ADH e ALDH. A causa básica da cirrose alcoólica é a fibrose resultante de necrose e inflamação crônica dos tecidos. O tecido hepático normal é substituído por tecido fibroso. O álcool pode afetar diretamente as células estreladas do fígado; o consumo crônico de álcool está associado à transformação dessas células em elementos celulares MARIA LUA FERREIRA DE LIMA TURMA 98 semelhantes aos miofibroblastos produtores de colágeno, resultando na deposição de colágeno ao redor das vênulas hepáticas terminais. A síntese de albumina + fator de coagulação dependente de vitamina K só ocorre no fígado e por isso serve como exame hepático. OBS: - Álcool agride o hipotálamo diminuindo a ação da hipófise, que diminui a secreção de GH prejudicando o crescimento das unhas, cabelo, etc.) - Gravidez: o álcool pode atravessar a barreira hematencefálica, ocorrendo síndrome do alcoolismo fetal. - Lactação: o álcool não metaboliza, com isso ele fica presente no leite materno e com isso o álcool fica ano organismo do bebê. - Apetite: pouca quantidade de álcool ingerida = ↑ apetite (↑ HCl) Maior quantidade de álcool ingerida = ↓ apetite (↓ HCl) MARIA LUA FERREIRA DE LIMA TURMA 98 FISIOLOGIA – TERMORREGULAÇÃO E FÍGADO (FONTE: AULA + GUYTON+ BERNE) 1. TERMORREGULAÇÃO: A temperatura do corpo é regulada quase inteiramente por mecanismos de feedback neurais e quase todos esses mecanismos operam por meio de centros regulatórios da temperatura, localizados no hipotálamo. Para que esses mecanismos de feedback operem, deve haver detectores de temperatura para determinar quando a temperatura do corpo está muito alta ou muito baixa. O hipotálamo é informado por meio de termorreceptores periféricos e principalmente por neurônios que funcionam como termorreceptores. O hipotálamo funciona como um termostato capaz de detectar as variações de temperatura do sangue que por ele passa e ativar os mecanismos de perda ou conservação de calor necessário á manutenção da temperatura normal. Existem no hipotálamo dois centros importantes: centro da perda de calor (hipotálamo anterior) e centro da conservação de calor (hipotálamo posterior). Estimulações no centro da perda de calor desencadeiam fenômenos de vasodilatação periférica e sudorese, que resultam em perda de calor. As estimulações no centro de conservação de calor geram vasoconstricção periférica, tremores musculares (calafrios) e até mesmo liberação de hormônios tireoidianos, que aumentam o metabolismo, gerando calor. Papel secundário dos receptores termossensíveis: os receptores em outras partes do corpo desempenham papéis adicionais na regulação da temperatura. Isso é especialmente verdadeiro quando se trata dos receptores de temperatura na pele e em alguns tecidos profundos específicos do corpo. Os receptores de temperatura da pele, detectam, em sua maior parte, o frio ao invés do calor. É provável que tanto os receptores da pele como os receptores profundos do corpo se destinem à prevenção da hipotermia, ou seja, impedir a baixa temperatura corporal. Quando a pele é resfriada em todo o corpo, efeitos reflexos imediatos são evocados e começam a aumentar a temperatura corporal de várias formas: (1) gerando forte estímulo para causar calafrios com aumento resultante da produção de calor corporal; (2) pela inibição do processo da sudorese, se este estiver ocorrendo; (3) promovendo a vasoconstrição da pele para diminuir a perda de calor corporal pela pele. Lesões no Centro da Perda de Calor em consequência de traumatismo craniano, por exemplo, causam elevação incontrolável da temperatura, quase sempre fatal. Nor malmente, a febre que acompanha processos inflamatórios resulta do comprometimento dos neurônios termorreguladores do hipotálamo anterior que deixam de perder calor. Acredita-se que o hipotálamo ativa regiões corticais para determinar os comportamentos motivacionais de busca de abrigo, agasalho. • Outros mecanismos: - Ganho/produção de calor/ corpo muito frio--> Metabolismo basal. Junto com o metabolismo basal, outros mecanismos são capazes de produzir calor, tais como: MARIA LUA FERREIRA DE LIMA TURMA 98 Produção da tiroxina, contração muscular (causada pelo calafrio), atividade química celular e metabolismo extra necessário para digestão, absorção e armazenagem de alimentos (efeito termogênico dos alimentos); Vasoconstrição da pele por todo o corpo (causada pela estimulação dos centros simpáticos hipotalâmicos posteriores); Piloereção. - Perda de calor/ corpo muito quente: Vasodilatação dos vasos sanguíneos cutâneos (causada pela inibição dos centros simpáticos no hipotálamo posterior que causam vasoconstrição); Adrenalina aumenta a queima de gordura, aumenta o metabolismo, aumentando a perda de calor; Alta de ATP, irradiação, evaporação (sudorese), etc. Estimulação hipotalâmica de calafrios Localizada na porção dorsomedial do hipotálamo posterior, próximo à parede do terceiro ventrículo, encontra-se a área chamada centro motor primário para os calafrios. Essa área normalmente é inibida pelos sinais oriundos do centro do calor na área hipotalâmica anterior pré-óptica, mas é excitada por sinais de frios, oriundos da pele e da medula espinhal. Depois de ativado, ele transmite sinais que causam calafrios por tratos bilaterais, pelo tronco encefálico, na direção das colunas laterais da medula espinhal e, finalmente, para os neurônios motores. Esses sinais aumentam o tônus dos músculos esqueléticos por todo o corpo, fazendo com que os calafrios comecem, todavia não causam a contração muscular. Sudorese e Sua Regulação pelo Sistema Nervoso Autônomo: A estimulação dá área pré-óptica- hipotalâmica anterior do cérebro provoca sudorese tanto eletricamente como por excesso de calor. Os impulsos neurais oriundos dessa área que causam sudorese são transmitidos por vias autônomas para a medula espinal e, depois, pelo simpático para a pele em todas as partes do corpo. Sobre o SNA, deve-se considerar que as glândulas sudoríparas são inervadas por fibras nervosas colinérgicas (fibras que secretam acetilcolina, mas que cursam pelos nervos simpáticos junto com as fibras adrenérgicas). Essas glândulas também podem ser estimuladas em certo grau, pela epinefrina ou pela norepinefrina que circulam no sangue, mesmo que as glândulas propriamente ditas não tenham inervação adrenérgica. Esse mecanismo é importante durante o exercício, quando esses hormônios são secretados pela medula adrenal e o corpo precisa perder quantidades excessivas do calor produzido pelos músculos em atividade. 2. FÍGADO TÓPICOS DE ESTUDO: 1. Descrever a unidade funcional do fígado, o lóbulo hepático. 2. Discutir a importância da circulação êntero-hepática; 3. Discutir a função do sistema hepato-biliar; 4. Discutir a produção e secreção da bile. MARIA LUA FERREIRA DE LIMA TURMA 98 • LÓBULO HEPÁTICO: Um fígado é composto por inúmeras unidades básicas chamadas lóbulos hepáticos, ele (o lóbulo hepático) é organizado formando uma estrutura similar à um hexágono, sendo que em cada vértice encontramos uma estrutura chamada trato portal ou espaço-porta, que é composta por um ramo da veia porta, um ramo da artéria hepática e um ramo de um ducto biliar, estas estruturas se apóiam em um tecido conjuntivo, e no centro do hexágono existe uma veia, chamada de veia centro lobular. Entre o trato portal e a veia centro lobular estão as células do fígado propriamente dito, os hepatócitos. Os hepatócitos possuem vários papéis no metabolismo do ser humano, atuando como um dos principais responsáveis pela metabolização de uma série de substâncias (alimentos, medicamentos etc.) e eles são divididos por zonas, de acordo com sua relação com o trato portal e a veia centro lobular, os que estão em volta do trato portal são os hepatócitos da zona 1, os que estão em volta da veia central são os da zona 3, e os que ficam no meio são os da zona 2. Esta divisão é importante, pois por conta da localização dos hepatócitos as alterações sofridas por eles têm significados diferentes na interpretação final. MARIA LUA FERREIRA DE LIMA TURMA 98 Os hepatócitos que se constituem no principal tipo de célula do fígado estão dispostos em cordões anastomosados que formam placas ao redor das quais circula grande volume de sangue. O fígado recebe fluxo elevado de sangue, que é desproporcional à sua massa, o que garante que os hepatócitos recebam grandes quantidades de O, e nutrientes. Durante o repouso, mais de 70% do suprimento sanguíneo que chega aos hepatócitos provém da veia porta. As placas de hepatócitos constituem o parênquima hepático e são irrigadas por um conjunto de sinusóides, cavidades de baixa resistência que recebem sangue de ramos da veia porta e da artéria hepática. Os sinusóides são diferentes dos capilares encontrados nos outros órgãos. Durante o jejum, muitos sinusóides estão colapsados, mas podem ser recrutados, de modo gradual, à medida que o fluxo de sangue porta aumenta no período que se segue à refeição, quando os nutrientes absorvidos são transportados para o fígado. Por causa da baixa resistência das cavidades sinusoidais, o fluxo sanguíneo pelo fígado pode aumentar consideravelmente, sem que ocorra elevação concomitante de sua pressão. No final, o sangue drena para os ramos centrais da veia hepática. As células endoteliais que revestem a parede dos sinusóides também são incomuns. Elas contêm aberturas especializadas, conhecidas como fenestrações, que são amplas o suficiente para permitir a passagem de moléculas tão grandes quanto a albumina. Além disso, as células endoteliais dos sinusóides não têm membrana basal, a qual poderia, se presente, representar barreira à difusão. Essas características permitem que substâncias ligadas à albumina atinjam os hepatócitos e sejam captadas por eles. O espaço de disse é uma fina camada de tecido conjuntivo frouxo que separa o endotélio dos sinusóides do endotélio dos hepatócitos. Os hepatócitos também constituem o ponto de origem do sistema biliar. Embora os hepatócitos sejam considerados células epiteliais, com membranas apical e basolateral, a disposição espacial desses dois domínios celulares difere da vista no epitélio colunar simples, como o que reveste o trato gastrointestinal. Mais precisamente, no fígado, a superfície apical do hepatócito ocupa apenas a pequena fração da membrana celular, e as membranas apicais das células adjacentes se opõem umas às outras, formando um canal entre elas, conhecido como canalículo é responsável por drenar a bile, produzida no fígado, para o interior de ductos biliares. Por fim, os ductos biliares drenam para grandes ductos biliares que coalescem, formando os ductos hepáticos direito e esquerdo, que permitem a saída da bile do fígado. Esses últimos ductos, por sua vez, formam o ducto hepático comum, de onde a bile pode fluir, dependendo das relações de pressão vigentes, para a vesícula biliar, passando pelo ducto cístico, ou para o intestino, descendo pelo ducto biliar comum. • PRODUÇÃO E SECREÇÃO DA BILE: A bile é um líquido excretor do que desempenha papel importante na digestão dos lipídios. A formação da bile começa nos hepatócitos, que transportam ativamente solutos para os canalículos biliares, através da membrana apical. A bile é solução micelar cujos principais solutos são os ácidos biliares, a fosfatidilcolina e o colesterol, na proporção aproximada 10:3:1, respectivamente. A secreção desses solutos desencadeia movimento concomitante de água e de eletrólitos, através das junções fechadas (tight junctions) que unem os hepatócitos adjacentes e, desse modo, a bile MARIA LUA FERREIRA DE LIMA TURMA 98 canalicular é formada. A maior parte do fluxo biliar é composta por ácidos biliares, secretados através da membrana apical dos hepatócitos, pela ação ATPase transportadora, conhecida como bomba de exportação de sais biliares A composição do líquido resultante pode ser modificada mais adiante, à medida que flui pelos ductos biliares (resultando na bile hepática) e, ainda mais adiante, quando a bile é armazenada na vesícula biliar (bile vesicular). Por fim, a bile é transformada em solução concentrada de detergentes biológicos que auxilia na solubilização dos produtos da digestão dos lipídios, no meio aquoso do lúmen intestinal, aumentando, assim, a velocidade com a qual os lipídios são transferidos para a superfície epitelial absortiva. A bile também atua como meio em que os produtos residuais do metabolismo são eliminados do corpo. - SECREÇÃO BILIAR: A bile é secretada pelo fígado em duas etapas: 1. A solução inicial é secretada pelas células principais do fígado, os hepatócitos; essa secreção inicial contém grande quantidade de ácidos biliares, colesterol e outros constituintes orgânicos. É secretada para os canalículos biliares, que se originam por entre as células hepáticas. 2. Em seguida, a bile flui pelos canalículos em direção aos septos interlobulares para desembocar nos ductos biliares terminais, fluindo, então, para ductos progressivamente maiores e chegando finalmente ao ducto hepático e ao ducto biliar comum. Desde esses ductos, a bile flui diretamente para o duodeno ou é armazenada por minutos ou horas na vesícula biliar, onde chega pelo ducto cístico. Nesse percurso pelos ductos biliares, a segunda porção da secreção hepática é acrescentada à bile inicial. Essa secreção adicional é solução aquosa de íons sódio e bicarbonato, secretada pelas células epiteliais que revestem os canalículos e ductos. Essa segunda secreção, às vezes, aumenta a quantidade total de bile por 100% ou mais. A segunda secreção é estimulada especialmente pela MARIA LUA FERREIRA DE LIMA TURMA 98 secretina, que leva à secreção de íons bicarbonato para suplementar a secreção pancreática (para neutralizar o ácido que chega ao duodeno, vindo do estômago). ESTÍMULO PARA A SECREÇÃO DA BILE: COLESCISTOCININA (CCK): Quando o alimento começa a ser digerido no trato gastrointestinal superior, a vesícula biliar começa a se esvaziar, especialmente quando alimentos gordurosos chegam ao duodeno, cerca de 30 minutos depois da ingestão da refeição. O esvaziamento da vesícula biliar se dá por contrações rítmicas da parede da vesícula biliar, com o relaxamento simultâneo do esfíncter de Oddi, que controla a entrada do ducto biliar comum no duodeno. Sem dúvida, o estímulo mais potente para as contrações da vesícula biliar é o hormônio CCK. É a mesma CCK discutida antes que causa o aumento da secreção de enzimas digestivas, pelas células acinares do pâncreas. O estímulo principal para a liberação de CCK no sangue pela mucosa duodenal é a presença de alimentos gordurosos no duodeno. A vesícula biliar também é estimulada, com menor intensidade por fibras nervosas secretoras de acetilcolina, tanto no nervo vago como no sistema nervoso entérico. São os mesmos nervos que promovem a motilidade e a secreção em outras partes do trato gastrointestinal superior. Em suma, a vesícula biliar esvazia sua reserva de bile concentrada no duodeno, basicamente, em resposta ao estímulo da CCK que, por sua vez, é liberada, em especial em resposta aos alimentos gordurosos. Quando o alimento não contém gorduras, a MARIA LUA FERREIRA DE LIMA TURMA 98 vesícula biliar se esvazia lentamente, mas, quando quantidades significativas de gordura estão presentes, a vesícula biliar costuma se esvaziar de forma completa em cerca de 1 hora. SECRETINA: Além do forte efeito estimulador dos ácidos biliares na secreção de bile, o hormônio secretina, que também estimula a secreção pancreática, aumenta a secreção de bile, às vezes mais do que a duplicando por horas depois da refeição. Esse aumento é quase inteiramente por secreção de solução aquosa rica em bicarbonato de sódio pelas células epiteliais dos dúctulos e ductos biliares, sem aumento da secreção pelas próprias células do parênquima hepático. O bicarbonato, por sua vez, passa ao intestino delgado e soma-se ao bicarbonato do pâncreas para neutralizar o ácido clorídrico do estômago. Assim, o mecanismo de feedback da secretina, de modo a neutralizar o ácido duodenal, opera não só por meio de seus efeitos sobre a secreção pancreática, mas também em escala menor por seus efeitos sobre a secreção pelos dúctulos e ductos hepáticos. FUNÇÃO DOS SAIS BILIARES NA DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE GORDURA: As células hepáticas sintetizam cerca de 6 gramas de sais biliares diariamente. O precursor dos sais biliares é o colesterol, presente na dieta ou sintetizado nas células hepáticas, durante o curso do metabolismo de gorduras. O colesterol é, primeiro, convertido em ácido cólico ou ácido quenodesoxicólico, em quantidades aproximadamente iguais. Esses ácidos, por sua vez, se combinam em sua maior parte com glicina e, em menor escala, com taurina, para formar ácidos biliares glico e tauroconjugados. Os sais desses ácidos, especialmente os sais de sódio, são então secretados para a bile. Os sais biliares desempenham duas ações importantes no trato intestinal: Primeiro, eles têm ação detergente, sobre as partículas de gordura dos alimentos. Essa ação, que diminui a tensão superficial das partículas, permite que a agitação no trato intestinal as quebre em partículas diminutas, o que é denominado função emulsificante ou detergente dos sais biliares. Segundo, e até mesmo mais importante do que a função emulsificante, os sais biliares ajudam na absorção de (1) ácidos graxos; (2) monoglicerídeos; (3) colesterol; e (4) outros lipídios pelo trato intestinal. Ajudam a sua absorção mediante a formação de complexos físicos bem pequenos com esses lipídios, denominados micelas e são semissolúveis no quimo, devido às cargas elétricas dos sais biliares. Os lipídios intestinais são “carregados” nessa forma para a mucosa intestinal, de onde são então absorvidos pelo sangue. Sem a presença dos sais biliares no trato intestinal, até 40% das gorduras ingeridas são perdidas nas fezes, e a pessoa muitas vezes desenvolve déficit metabólico em decorrência da perda desse nutriente. • CIRCULAÇÃO ENTERO-HEPÁTICA: Os ácidos biliares auxiliam a digestão e a absorção dos lipídios ao atuar como detergentes, e não como enzimas. Por essa razão, é necessária uma quantidade significativa dessas moléculas para solubilizar todos os lipídios da ingestão alimentar. Pela circulação êntero-hepática, os ácidos biliares conjugados que foram reabsorvidos ativamente passam no sangue porta de volta para os MARIA LUA FERREIRA DE LIMA TURMA 98 hepatócitos, onde são captados, de modo eficiente, pelos transportadores basolaterais que podem ser dependentes ou independentes de Na+. De modo similar, os ácidos biliares que são desconjugados no cólon também retornam para os hepatócitos, onde são reconjugados e, posteriormente, secretados na bile. Dessa forma, adquirimos reserva de ácidos biliares primários (CÓLICO E DESOXICÓLICO) e secundários circulantes, e a síntese diária corresponde a uma pequena parte (aproximadamente 10%/ dia, ou 200 a 400 mg) que escapa da captação e é perdida nas fezes. O reservatório de colesterol presente no organismo reflete a quantidade de colesterol sintetizada diariamente, acrescida de fração relativamente menor que provém da captação alimentar ineficiente, contrabalanceada pela quantidade perdida que, nos indivíduos saudáveis, ocorre apenas pela bile. O colesterol pode ser excretado em duas formas: na forma inalterada, ou na forma de ácidos biliares, após a conversão hepática. A segunda forma é responsável por até um terço do colesterol excretado por dia, a despeito da reciclagem êntero-hepática. Assim, a estratégia que pode ser utilizada para tratar a hipercolesterolemia consiste em interromper a circulação êntero-hepática dos ácidos biliares, que leva ao aumento da conversão do colesterol em ácidos biliares. Após a conversão, os ácidos biliares são eliminados do corpo nas fezes.
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