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Guia de Estudos 
 
 
 
ONU Mulheres 
Entidade das Nações Unidas para 
a Igualdade de Gênero e o 
Empoderamento das Mulheres 
 
XIV SONU 
 
 
 1 
Caras(os) Delegadas(os), 
 Bem-vindas(os) à Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o 
Empoderamento das Mulheres, a ONU Mulheres. 
 Percebendo a necessidade de incluir o debate de gênero no âmbito das simulações 
e acompanhando os avanços promovidos pela ONU Mulheres, apresentamos o primeiro 
comitê da SONU exclusivamente voltado ao debate quanto a igualdade de gênero. 
Estamos muito felizes em fazer parte desse momento, importante tanto para o projeto 
quanto para a comunidade acadêmica, que poderá discutir temas relacionados ao 
empoderamento das mulheres, participação efetiva das mesmas no cenário político e a 
autoafirmação de gênero no âmbito de um comitê. 
 Durante os quatro dias de simulação, serão abordados os temas “Liderança e 
Participação Política Feminina no Cenário Mundial Atual” e “Necessidade de Proteção 
a Grupos de Mulheres em situações vulneráveis (LGBTI, indígenas e negras)”, ambos de 
enorme relevância internacional, não só jurídica, mas também social, cultural e 
econômica. 
 Esse guia foi desenvolvido para servir de base conteudística e bibliográfica, 
porém não deve ser a única fonte de estudos. Assim, incentivamos a busca aprofundada 
da posição do seu país perante os temas, bem como a análise deles em contexto global. 
 Não poderíamos deixar de ressaltar a importância da luta das mulheres por 
igualdade de gênero, promovida como fundamental na Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, que foi capaz de alterar a humanidade, sendo ainda hoje uma grande 
ferramenta de autodeterminação e promoção de justiça social. Faz-se necessário 
argumentar e contrastar os diferentes pontos de vistas mundiais, considerando as 
peculiaridades culturais, econômicas, religiosas e sociais dos países que irão integrar a 
simulação. 
 Por fim, o desejo é que esse seja o melhor ambiente para uma discussão de alto 
nível sobre o assunto e que os debates transpassem a simulação, servindo como reflexão 
quanto ao machismo que ainda está muito enraizado socialmente à nível global. 
Atenciosamente, 
Diretoria ONU Mulheres. 
 
 2 
SUMÁRIO 
 
1. HISTÓRICO 4 
2. FUNCIONAMENTO 5 
3. ÁREAS DE ATUAÇÃO 7 
4. ACORDOS INTERNACIONAIS RELEVANTES PARA A ONU MULHERES 
 9 
4.1. Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a 
mulher (CEDAW) 9 
4.2. Declaração e Plataforma de Ação de Pequim 11 
4.3. Agenda 2030 12 
TEMA A: Liderança e Participação Política Feminina no Cenário Mundial Atual 
1. INTRODUÇÃO 14 
2. PRINCIPAIS ACORDOS INTERNACIONAIS SOBRE O TEMA 15 
3. MULHER E ACESSO AO PODER 26 
4. PARTICIPAÇÃO POLÍTICA FEMININA 30 
4.1. Abordagem histórica: Estado Democrático de Direito 30 
4.2. Cenário político atual 35 
4.2.1. Mulheres votantes 35 
4.2.2. Mulheres candidatas 38 
4.2.3. Mulheres exercendo cargos políticos 41 
4.2.3.1. Parlamento 41 
4.2.3.2. Chefia de Estado e Chefia de Governo 44 
4.2.3.3. Governo local 47 
4.2.3.4. Ministérios 48 
4.3. Reformas legislativas 50 
4.3.1. Cotas de gênero 51 
4.3.2. Listas partidárias 55 
4.4 O papel da mídia nas eleições 57 
4.5. Educação e direitos políticos 62 
4.6. O papel da sociedade civil na efetivação de direitos políticos 64 
5. PARTICIPAÇÃO FEMININA NA AGENDA INTERNACIONAL E FÓRUNS 
INTERGOVERNAMENTAIS 66 
TEMA B: Necessidade de proteção a grupos de mulheres em situações vulneráveis 
(LGBTI, Indígenas e Negras) 
1. VULNERABILIDADE SOCIAL, POLÍTICA E ECONÔMICA 69 
1.1. Mulheres em situações de vulnerabilidade social, política e econômica 71 
1.2. Acesso aos sistemas de saúde e de prevenção de doenças sexuais por mulheres 
em situação vulnerável na América Latina, África e Ásia 74 
 
 3 
1.3. Mercado de trabalho para mulheres em situações de vulnerabilidade 78 
2. MULHERES LGBTI 80 
2.1. Intolerância e violência contra mulheres LGBTI, lesbofobia e estupro 
corretivo 81 
2.2. Invisibilidade da mulher no movimento LGBTI 83 
2.3. LGBTIfobia como fator de risco para o suicídio entre mulheres 84 
2.4. Mulheres transexuais e amparo legal 85 
2.5. Criminalização da LGBTIfobia e garantias fundamentais para minorias 
sexuais 88 
3. MULHERES INDÍGENAS 91 
3.1. Violência de gênero em aldeias 91 
4. MULHERES NEGRAS 93 
4.1. Interseccionalidade e as diferentes formas de opressão 93 
4.2. Exotificação, hipersexualização e objetificação da mulher negra 96 
4.3. Violência doméstica e sexual 98 
4.4. Mortalidade materna das mulheres negras 101 
REFERÊNCIAS 106 
ANEXO 130 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 4 
ENTIDADE DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A IGUALDADE DE GÊNERO E O 
EMPODERAMENTO DAS MULHERES - ONU MULHERES 
1. Histórico 
 Questões históricas e culturais motivaram a perpetuação da desigualdade de 
gênero em diversas sociedades, nas quais as mulheres foram sujeitadas a assumir um 
papel secundário, convivendo constantemente com diferentes tipos de violência, como 
física, moral, intelectual e sexual. Nesse contexto, a Organização das Nações Unidas 
(ONU), honrando seu compromisso com a luta por uma organização social mais justa, 
criou, em 21 de junho de 1946, a Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres 
(CSW) por meio da resolução 11(II) do Conselho Econômico e Social do órgão1. 
No primeiro encontro da comissão supracitada, ocorrido em fevereiro de 1947, 
em Lake Success, Nova Iorque, a CSW expôs como seus principais objetivos elevar o 
status das mulheres, independente de suas nacionalidades, raças, idiomas ou religiões, 
promover igualdade entre os gêneros no mercado de trabalho e eliminar qualquer 
discriminação contra o sexo feminino nas disposições da lei.2 
A Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres tornou-se, desde então, uma 
das maiores reuniões anuais de lideranças mundiais, ONGs, empresas, parceiras e 
parceiros das Nações Unidas e ativistas de todo o mundo, para discutir a situação dos 
direitos das mulheres e o empoderamento de todas as mulheres e meninas em todas as 
partes do mundo3. 
Como forma de desenvolver seu trabalho de maneira efetiva, ao decorrer de sua 
história, a Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres criou organismos com 
funções específicas. A Divisão para o Avanço das Mulheres (DAW), o Instituto 
Internacional de Pesquisa e Treinamento para o Avanço das Mulheres (INSTRAW), o 
Escritório do Consultor Especial Para Questões de Gênero e Avanço das Mulheres 
(OSAGI) e o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para as Mulheres 
 
1 Comission on the Status Of Women. Disponível em: <http://www.unwomen.org/en/csw>. Acesso 
em: 1 fev. 2018. Tradução livre. 
2 Short History of the Commission on the Status of Women. p. 3. Disponível em: 
<http://www.un.org/womenwatch/daw/CSW60YRS/CSWbriefhistory.pdf> . Acesso em: 2 fev. 2018. 
Tradução livre. 
3 Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres. Disponível em: 
<http://www.onumulheres.org.br/planeta5050-2030/csw/>. Acesso em: 1 fev. 2018. 
 
 5 
(UNIFEM) foram eles4. A ONU Mulheres foi criada, então, em 2010 e iniciou suas 
atividades em 2011, unificando os órgãos até então existentes e atuando, a partir disso, 
como secretariado da Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres5. 
O funcionamento da ONU Mulheres está muito vinculada a acordos fundamentais 
estabelecidos, como a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formasde 
Discriminação contra as Mulheres (CEDAW) e a Declaração e Plataforma de Ação de 
Pequim, além da Agenda 2030. 
2. Funcionamento 
De acordo com a resolução 64/2896 da Assembleia Geral da ONU, que previu a 
criação da ONU Mulheres, a organização é regida por uma estrutura de gestão 
intergovernamental em vários níveis7. Sediada em Nova Iorque8, apresenta como sua 
atual diretora executiva a sul-africana Phumzile Mlambo-Ngcuka, que é subsecretária 
geral das Nações Unidas. Além disso, dispõe de dois diretores executivos adjuntos, a 
sueca Asa Régner e o francês Yannick Glemarec9. A primeira diretora executiva da ONU 
Mulheres foi Michelle Bachelet, que, posteriormente, ocupou a presidência da República 
do Chile10. 
A organização, como maneira de assistir as mulheres em seus diversos contextos 
problemáticos, também dispõe de diretorias regionais (África, Américas e Caribe, Países 
Árabes, Ásia e Pacífico, Europa e Ásia Central)11. 
Tratando-se da África, as taxas de pobreza ainda são elevadas. A maioria das 
 
4 ONU Mulheres. Disponível em: <http://portuguese.weprinciples.org/Site/UnWomen/>. Acesso em: 
27 fev. 2018. 
5 Sobre a ONU Mulheres. Disponível em: <http://www.onumulheres.org.br/onu-mulheres/sobre-a-onu-
mulheres/>. Acesso em: 27 fev. 2018. 
6 Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. A/RES/64/289. Disponível em: 
<http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/64/289>. Acesso em 3 jul. 2018. 
7 Gestão. Disponível em: <http://www.onumulheres.org.br/onu-mulheres/governanca/>. Acesso em: 7 
mar. 2017. 
8 Presença mundial. Disponível em: <http://www.onumulheres.org.br/onu-mulheres/presenca-
mundial/>. Acesso em: 7 mar. 2018. 
9 Diretoria Executiva. Disponível em: <http://www.onumulheres.org.br/onu-mulheres/diretoria-
executiva/>. Acesso em: 7 mar. 2018. 
10 Michelle Bachelet, former Executive Director. Disponível em: 
<http://www.unwomen.org/~/media/CommonContent/UNwomen-MichelleBachelet-FormerED-
en%20pdf.pdf>. Acesso em: 7 mar. 2018. Tradução livre. 
11 Presença mundial. Disponível em: <http://www.onumulheres.org.br/onu-mulheres/presenca-
mundial/>. Acesso em: 7 mar. 2018. 
 
 6 
mulheres trabalha em empregos inseguros e mal remunerados, com poucas oportunidades 
de avanço. Ademais, embora as eleições democráticas estejam se tornando mais comuns, 
a violência relacionada a esse processo é uma preocupação crescente, ainda existindo 
muita resistência à participação feminina na política. A violência física, psicológica e 
sexual contra meninas e mulheres também é uma realidade. Por meio de escritórios 
regionais em Dakar, a capital do Senegal e em Nairobi, a capital do Quênia, além de 
vários escritórios nacionais e multinacionais, a ONU Mulheres implementa programas 
adaptados a cada país auxiliado, em estreita colaboração com os governos, o sistema das 
Nações Unidas e a sociedade civil12. 
Já na América e Caribe, o escritório regional localiza-se na Cidade do Panamá, 
capital do Panamá, liderando uma organização semelhante às outras diretorias regionais. 
As iniciativas dessa diretoria se concentra em três áreas de intervenção prioritárias que 
são consideradas a combinação estratégica para superar desafios compartilhados nos 
países da América Latina e do Caribe: participação e liderança política das mulheres, 
capacitação econômica das mulheres e fim da violência contra mulheres e meninas13. 
Os países árabes enfrentam os problemas provocados por regimes ditatoriais e 
fundamentalistas, o que inclui a subjugação das mulheres. Diante dos processos de 
independência vivenciados por muitos deles, um foco chave é ampliar o alcance da 
cidadania das mulheres, liderança e participação política, o que é essencial para garantir 
que as transições sejam totalmente inclusivas e democráticas. Tratando-se da violência 
contra mulheres, a ONU Mulheres regional trabalha pela adoção de quadros de políticas 
nacionais, a reforma das leis que discriminam as mulheres, o estabelecimento de serviços 
abrangentes de prevenção e proteção e a conscientização sobre as estratégias de combate 
à violência. O escritório da ONU Mulheres Países Árabes localiza-se no Cairo, Egito14. 
A região da Ásia e do Pacífico contêm algumas das economias mais poderosas 
do mundo - e dois terços das pessoas mais pobres. Rico em formas políticas, culturais e 
outras formas de diversidade, enfrenta desafios comuns de disparidades socioeconômicas 
rígidas, incluindo as relacionadas ao gênero. Por meio do escritório regional em 
 
12 Africa. Disponível em: <.http://www.unwomen.org/en/where-we-are/africa>. Acesso em: 7 mar. 
2018. Tradução livre. 
13 Americas and the Caribbean. Disponível em: <http://www.unwomen.org/en/where-we-are/americas-
and-the-caribbean>. Acesso em: 8 mar. 2018. Tradução livre 
14 Arab States/ North Africa. Disponível em: <http://www.unwomen.org/en/where-we-are/arab-states-
north-africa> . Acesso em: 8 mar. 2018. Tradução livre. 
 
 7 
Banguecoque, capital da Tailândia e vários escritórios nacionais e multinacionais, foram 
implantados programas de capacitação econômica que procuram maior segurança para 
grupos marginalizados de mulheres, abrangendo trabalhadoras domésticos, migrantes, 
mulheres rurais, fornecedoras do mercado informal e mulheres vulneráveis a mudanças 
climáticas e desastres naturais15. 
Por fim, a ONU Mulheres Europa e Ásia Central, cujo escritório regional 
localiza-se em Istambul, localizada na Turquia, defende políticas e programas que atuam 
especificamente sobre as diferentes necessidades das mulheres, incluindo grupos 
vulneráveis, como minorias e migrantes. A elaboração de orçamentos sensíveis ao gênero 
para identificar estratégias e recursos para corrigir as desigualdades tornou-se uma 
ferramenta chave em um número crescente de países, orientando o trabalho sobre 
questões do emprego e violência doméstica. A ONU Mulheres pressiona planos de ação 
nacionais e reformas legais para fortalecer medidas protetivas e punitivas para acabar 
com a violência de gênero16. 
3. Áreas de Atuação 
Dentre as áreas de atuação da ONU Mulheres, está a busca por maior liderança e 
participação política feminina. Tendo como base as diretrizes da Convenção sobre a 
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher e da Declaração e da 
Plataforma de Ação de Pequim, atua-se, por exemplo, por meio de capacitações para 
ajudar as candidatas políticas, além de formações cívicas e eleitorais relacionadas à 
igualdade de gênero. Ademais, é promovida a adoção de novas leis e reformas 
constitucionais para garantir um acesso equitativo às mulheres nas esferas políticas como 
eleitoras, candidatas, representantes eleitas e funcionárias públicas17. Uma outra área do 
organismo fortemente ligada ao assunto é a governança e planejamento18. 
Amplamente relacionado às convenções citadas também está o empoderamento 
econômico feminino. Apesar das mulheres contribuírem muito para as economias, 
 
15 Asia and the Pacific. Disponível em: <http://www.unwomen.org/en/where-we-are/asia-and-the-
pacific> . Acesso em: 8 mar. 2018. Tradução livre. 
16 Europe and Central Asia. Disponível em: <http://www.unwomen.org/en/where-we-are/europe-and-
central-asia>. Acesso em: 8 mar. 2018. Tradução livre. 
17 Women’s leadership and political participation. Disponível em: 
<http://www.unwomen.org/en/what-we-do/leadership-and-political-participation> . Acesso em: 19 maio 
2018. Tradução livre. 
18 Governance and Nacional Planning. Disponível em: <http://www.unwomen.org/en/what-we-
do/governance-and-national-planning>. Acesso em: 4 ago. 2018.8 
geralmente são sujeitadas a empregos inseguros e com salários baixos. Para mudar tal 
situação, a organização recebe o apoio de diversos parceiros, promovendo a capacidade 
das mulheres de garantir empregos decentes, acumular ativos e influenciar instituições e 
políticas públicas que determinam o crescimento e o desenvolvimento. Uma área crítica 
de foco envolve a quantificação do trabalho doméstico das mulheres e a realização de 
ações para que elas possam combiná-lo com emprego remunerado19. 
Além disso, a ONU Mulheres atua na paz e segurança. Em conflitos armados, as 
mulheres, normalmente, têm menos recursos para se proteger e, junto às crianças, 
compõem a maioria das populações deslocadas e refugiadas. Além disso, táticas de 
guerra, como violência sexual, são direcionadas especificamente a elas. Nesse contexto, 
em 2000, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a histórica resolução 132520 sobre 
mulheres, paz e segurança. Tal resolução pede que as mulheres participem da construção 
da paz, estejam mais protegidas das violações dos direitos humanos e tenham acesso à 
justiça e aos serviços para eliminar a discriminação21. 
A ONU Mulheres também atua no combate à violência contra mulheres e 
meninas, o que inclui abusos físicos, morais e sexuais. Em nível global, o órgão trabalha 
com os países pelo avanço dos marcos normativos internacionais ao prestar apoio a 
instrumentos intergovernamentais, como a Assembleia Geral e a Comissão sobre a 
Condição Jurídica e Social da Mulher. Em nível nacional, trabalha por reformas jurídicas 
de acordo com normas internacionais de proteção à mulher22. 
Outra área relevante é o combate ao HIV e à AIDS. Muitas vezes, as mulheres 
enfrentam barreiras para a negociação do sexo seguro por causa da dinâmica desigual de 
poder com os homens. Além disso, a violência sexual exacerba o risco de transmissão do 
HIV. Os programas da ONU Mulheres buscam caminhos para integrar a igualdade de 
gênero e os direitos das mulheres em estratégias, políticas, orçamentos, instituições e 
estruturas de prestação de contas quanto ao HIV e à AIDS. Algumas das iniciativas 
 
19 Economic empowerment. Disponível em: <http://www.unwomen.org/en/what-we-do/economic-
empowerment> . Acesso em: 26 maio 2018. Tradução livre. 
20 United Nations Security Council. Resolution 1325 (2000). Disponível em: <https://documents-dds-
ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N00/720/18/PDF/N0072018.pdf?OpenElement>. Acesso em: 3 de julho de 
2018. 
21 Peace and security. Disponível em: <http://www.unwomen.org/en/what-we-do/peace-and-security>. 
Acesso em: 26 maio 2018. Tradução livre. 
22 Ending violence against women. Disponível em: <http://www.unwomen.org/en/what-we-do/ending-
violence-against-women>. Acesso em: 19 maio 2018. Tradução livre. 
 
 9 
abordam as múltiplas intersecções entre o HIV e a violência contra as mulheres, outros 
promovem o acesso à justiça para mulheres no contexto do HIV23 
4. Acordos Internacionais Relevantes para a ONU Mulheres 
4.1. Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra 
Mulheres (CEDAW) 
A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação24 contra 
a Mulher, de 1979, conhecida como Convenção da Mulher, em vigor desde 1981, é o 
primeiro tratado internacional que dispõe amplamente sobre os direitos humanos da 
mulher, resultando de iniciativas tomadas dentro da já abordada Comissão da ONU sobre 
a Situação das Mulheres25. Composto por um preâmbulo e 30 artigos, define o que 
constitui discriminação contra a mulher e estabelece uma agenda de ação para extingui-
la26. 
Sessenta e quatro países assinaram a Convenção, e dois deles submeteram seus 
instrumentos de ratificação a uma cerimônia especial na Conferência Mundial de 
comemoração dos cinco primeiros anos da Década das Mulheres das Nações Unidas, em 
Copenhague, 1980. Em 3 de setembro de 1981, trinta dias após a vigésima nação-
membro tê-la ratificado, a Convenção entrou em vigor, estabelecendo de forma 
abrangente os padrões legais internacionais para as mulheres. Até outubro de 2005, 180 
países haviam aderido à Convenção da Mulher27. 
Ao aceitar a Convenção, os Estados comprometem-se a empreender uma série de 
medidas para acabar com a discriminação das mulheres sob todas as formas, incluindo 
incorporar o princípio da igualdade entre homens e mulheres no seu ordenamento 
 
23 HIV e AIDS. Disponível em: <http://www.unwomen.org/en/what-we-do/hiv-and-a. Acesso em: 26 
maio 2018. Tradução livre. 
24 Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Mulheres. 
Disponível em: <http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2013/03/convencao_cedaw1.pdf>. 
Acesso em: 3 jul. 2018. 
25 Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Mulheres, pág. 14. 
Disponível em: <http://www.compromissoeatitude.org.br/wp-
content/uploads/2012/11/SPM2006_CEDAW_portugues.pdf>. Acesso em: 5 mar. 2018. 
26 Convention on the Elimination of All Forms of Discrimination Against Women - Overview of the 
Convention. Disponível em: <http://www.un.org/womenwatch/daw/cedaw/>. Acesso em: 5 mar. 2018. 
Tradução livre. 
27 Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Mulheres, pág. 15. 
Disponível em: <http://www.compromissoeatitude.org.br/wp-
content/uploads/2012/11/SPM2006_CEDAW_portugues.pdf>. Acesso em: 5 mar. 2018. 
 
 10 
jurídico, abolir todas as leis discriminatórias e adotar as apropriadas que proíbam a 
discriminação contra as mulheres, estabelecer tribunais e outras instituições públicas para 
assegurar a proteção efetiva das mulheres contra a discriminação e garantir a eliminação 
de todos os atos de discriminação contra as mulheres por pessoas, organizações ou 
empresas28. 
O Comitê recorre a três mecanismos para monitorar o exercício efetivo dos 
direitos das mulheres nos Estados Parte da Convenção. São eles: análise de relatórios 
apresentados periodicamente pelos Estados-parte, com a elaboração de observações e 
recomendações específicas; preparação de Recomendações Gerais que buscam 
interpretar os direitos e princípios previstos na Convenção; consideração das 
comunicações apresentadas por indivíduos ou grupos de indivíduos que alegam a 
ocorrência de violações a quaisquer direitos previstos na Convenção da Mulher. Caso 
seja preciso, o Comitê CEDAW designará uma equipe para realizar visitas e investigação 
in loco. Ambos os mecanismos – petição individual e visitas in loco - foram previstos 
pelo Protocolo Facultativo à Convenção da Mulher29. 
4.2 Declaração e Plataforma de Ação de Pequim 
A IV Conferência das Nações Unidas sobre a Mulher, realizada em Pequim, em 
setembro de 1995, foi muito importante pelo número de participantes que reuniu, pelos 
avanços conceituais e programáticos que propiciou, e pela influência que continua a ter 
na promoção da situação da mulher30. 
Nessa conferência foram estabelecidas doze áreas de preocupação prioritária: a 
crescente proporção de mulheres em situação de pobreza; a desigualdade no acesso à 
educação e à capacitação; a desigualdade no acesso aos serviços de saúde; a violência 
contra a mulher; os efeitos dos conflitos armados sobre a mulher; a desigualdade quanto 
à participação nas estruturas econômicas, nas atividades produtivas e no acesso a 
recursos; a desigualdade em relação à participação no poder político e nas instâncias 
 
28 Convention on the Elimination of All Forms of Discrimination Against Women - Overview of 
the Convention. Disponível em: <http://www.un.org/womenwatch/daw/cedaw/> . Acesso em: 5 mar. 
2018. Traduçãolivre.
 
 
29 Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Mulheres, pág. 17. 
Disponível em: <http://www.compromissoeatitude.org.br/wp-
content/uploads/2012/11/SPM2006_CEDAW_portugues.pdf> . Acesso em: 5 mar. 2018. 
30 Declaração e Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial sobre a Mulher, pág. 148. Disponível 
em: <http://www.unfpa.org.br/Arquivos/declaracao_beijing.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2018. 
 
 11 
decisórias; a insuficiência de mecanismos institucionais para a promoção do avanço da 
mulher; as deficiências na promoção e proteção dos direitos da mulher; o tratamento 
estereotipado dos temas relativos à mulher nos meios de comunicação e a desigualdade 
de acesso a esses meios; a desigualdade de participação nas decisões sobre o manejo dos 
recursos naturais e a proteção do meio ambiente; e a necessidade de proteção e promoção 
voltadas especificamente para os direitos da menina31. 
Por meio da Declaração e da Plataforma de Ação de Pequim32, surge o legado da 
Conferência, que é um conjunto de objetivos estratégicos relacionados às doze áreas 
citadas e ações necessárias para atingi-los. Trata-se de um guia abrangente para orientar 
governos e sociedade no aperfeiçoamento do marco legal, na formulação de políticas e 
na implementação de programas para promover a igualdade e para evitar a 
discriminação33. 
 A Plataforma de Ação de Pequim consagrou três inovações dotadas de grande 
potencial transformador na luta pela promoção da situação e dos direitos da mulher: o 
conceito de gênero, a noção de empoderamento e o enfoque da transversalidade34. 
A inclusão da ideia de gênero teve como objetivo compreender como elementos 
e padrões sociais e culturais influenciam nas relações entre homens e mulheres, passando 
pela ideia de poder e dominação, sustentando a desigualdade existente. Já a noção de 
empoderamento, ressalta a relevância da mulher em ter controle de si e seu 
desenvolvimento, sendo necessário todo o suporte possível para garantir tal condição. 
Por fim, a ideia de transversalidade surge como forma de aderir à perspectiva de gênero 
em todos os níveis de atuação dos governos35. 
4.3 Agenda 2030 
Em setembro de 2015, representantes dos 193 Estados-membros da ONU se 
 
31 Declaração e Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial sobre a Mulher, pág. 148 - 149. 
Disponível em: <http://www.unfpa.org.br/Arquivos/declaracao_beijing.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2018. 
32 Declaração e Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial sobre a Mulher. Disponível em: 
<http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2014/02/declaracao_pequim.pdf> . Acesso em: 3 
jul. 2018. 
33 Declaração e Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial sobre a Mulher, pág. 149. 
Disponível em: <http://www.unfpa.org.br/Arquivos/declaracao_beijing.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2018. 
34 Idem. 
35 Declaração e Plataforma de Ação de Pequim. Disponível em: 
<https://minionupucmg.wordpress.com/2017/07/03/declaracao-e-plataforma-de-acao-de-pequim/>. 
Acesso em: 27 fev. 2018. 
 
 12 
reuniram em Nova York e reconheceram que a erradicação da pobreza em todas as suas 
formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema, é o maior desafio global é um requisito 
indispensável para o desenvolvimento sustentável36. 
Ao adotarem o documento “Transformando o Nosso Mundo: A Agenda 2030 
para o Desenvolvimento Sustentável” (A/70/L.1), os países comprometeram-se a tomar 
medidas ousadas e transformadoras para promover o desenvolvimento sustentável nos 
próximos 15 anos sem deixar ninguém para trás37. 
A Agenda 2030 é um plano de ação para as pessoas, o planeta e a prosperidade, 
que busca fortalecer a paz universal. O plano indica 17 Objetivos de Desenvolvimento 
Sustentável, os ODS, e 169 metas, para erradicar a pobreza e promover vida digna para 
todos, dentro dos limites do planeta. São objetivos e metas claras, para que todos os países 
adotem de acordo com suas próprias prioridades e atuem no espírito de uma parceria 
global que orienta as escolhas necessárias para melhorar a vida das pessoas, agora e no 
futuro38. 
Nesse contexto, destaca-se o quinto dentre os Objetivos de Desenvolvimento 
Sustentável, que é alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e 
meninas39, sendo a igualdade de gênero não apenas um direito humano fundamental, mas 
a base necessária para a construção de um mundo pacífico, próspero e sustentável. 
 
36 Conheça a Agenda 2030. Disponível em: <http://www.agenda2030.com.br/sobre/>. Acesso em: 4 
ago. 2018. 
37 Idem. 
38 Idem. 
39 ONU BR. Glossário de Termos do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5. Disponível em: 
<https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2017/06/Glossario-ODS-5.pdf>. Acesso em: 4 ago. 2018. 
 
 
 13 
TEMA A: Liderança e Participação Política Feminina no Cenário Mundial Atual 
1. Introdução 
É inquestionável que o direito de voto e de se candidatar das mulheres ao redor 
do mundo é uma grande conquista do movimento sufragista, tendo sido a Nova 
Zelândia40 o primeiro país a garantir legalmente o sufrágio feminino em 1893, em um 
movimento liderado por Kate Sheppard, inspirando diversas outras nações a fazerem o 
mesmo. No entanto, o direito formal ao voto nem sempre significa que as mulheres votem 
livremente e efetivamente participem da esfera política.41 
Nesse sentido, apesar do significativo avanço em prol da igualdade de gênero e 
do aumento dos índices de liderança e de participação política feminina ao longo dos 
anos a nível global, as mulheres continuam a enfrentar obstáculos estruturais, como leis 
e políticas institucionais discriminatórias, além de barreiras sociais perpetuadoras de 
estereótipos de gênero que restringem sua atuação política.42 
Sendo assim, mulheres de toda parte do mundo continuam a ser amplamente 
marginalizadas no âmbito da vida política43, sendo sub-representadas enquanto eleitoras, 
candidatas e em posições de liderança política por meio do exercício de cargos eletivos. 
De fato, não ter mulheres envolvidas nos processos de decisão política, em todos 
os níveis, significa que as discussões, que terão efeitos práticos por meio da adoção de 
leis e de políticas públicas, estão sendo realizadas sem a contribuição da perspectiva 
feminina sobre determinada questão, o que resulta, frequentemente, em um 
negligenciamento das necessidades desse grupo social. 
Diante dessa problemática, a ONU Mulheres é guiada por uma história de 
 
40 UN Women. Timeline: Women of the world, unite! Disponível em: 
<http://www.unwomen.org/en/digital-library/multimedia/2018/2/timeline-womenunite>. Acesso em: 15 
abr. 2018. 
41The Guardian. A timeline of women's right to vote - interactive. Disponível em: 
<https://www.theguardian.com/global-development/interactive/2011/jul/06/un-women-vote-timeline-
interactive>. Acesso em: 15 abr. 2018. 
42UN Women. Women's Leadearship and Political Participation. 2013. Disponível em: 
<http://www.unwomen.org/-
/media/headquarters/attachments/sections/library/publications/2013/12/un%20womenlgthembriefuswebr
ev2%20pdf.pdf?la=en>. Acesso em: 15 abr. 2018. 
43United Nations. A/RES/66/130. 2011. Disponível em: 
<http://dag.un.org/bitstream/handle/11176/294223/A_RES_66_130-EN.pdf?sequence=3&isAllowed=y>. 
Acesso em: 15 abr. 2018. 
 
 
 14 
compromissos internacionais em prol da paridade de gênero, um dos Objetivos de 
Desenvolvimento Sustentável, reconhecendo que ainda há muito a ser conquistado. Ela 
atua diretamente com diversos países, incentivando e fornecendo suporte a programas 
que visam ao empoderamento político demulheres e meninas.44 
Nos tópicos a seguir serão abordados pontos relevantes dessa discussão a partir 
de um panorama do cenário atual, indicando iniciativas já existentes, bem como quais os 
atuais desafios e os diversos eixos que precisam ser considerados na atuação em prol da 
efetiva e inclusiva participação política da mulher. 
2. Principais acordos internacionais sobre o tema 
A proteção internacional dos direitos humanos é um fenômeno relativamente 
recente da história da humanidade, tendo surgido após a Segunda Guerra Mundial, um 
período marcado por barbáries e atrocidades que resultaram em uma enorme perda 
humanitária. A violação sistemática e maciça de direitos humanos cometida durante o 
regime nazista é um dos exemplos que permitem afirmar que, em certos contextos, o 
Estado não é a instituição mais confiável para resguardar o valor da dignidade da pessoa 
humana.45 
Diante disso, emerge a necessidade de uma ação internacional mais eficaz para a 
proteção dos direitos humanos como referencial e paradigma ético.46 Surge então, o 
Direito Internacional dos Direitos Humanos sob a premissa de que a proteção de direitos 
fundamentais não deve se limitar à competência exclusiva dos Estados, ou à sua 
jurisdição doméstica, ela deve ser exercida também pelas instituições internacionais e a 
pela própria sociedade civil.47 
Nesse contexto, no dia 26 de junho de 1945 foi elaborada a Carta das Nações 
Unidas e no dia 24 de outubro daquele mesmo ano, após a ratificação do documento, 
começa a existir oficialmente a Organização das Nações Unidas (ONU), um centro 
 
44UN Women. Flagship Programming Initiatives. 2015. Disponível em: <http://www.unwomen.org/-
/media/headquarters/attachments/sections/library/publications/2015/un-women-flagship-programmes-
booklet-en.pdf?la=en&vs=357>. Acesso em: 15 abr. 2018. 
45 SOUZA NETO, Cláudio Pereira de; SARMENTO, Daniel. Direito Constitucional: Teoria, história e 
métodos de trabalho. Belo Horizonte: Fórum, 2013. p. 88. 
46 PIOVESAN, Flavia. Direitos Humanos e Direito Constitucional Internacional. 7. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2006. p. 117. 
47 SOUZA NETO, Cláudio Pereira de; SARMENTO, Daniel, op. cit., p. 89. 
 
 
 15 
destinado a harmonizar a ação dos povos para manter a paz e a segurança internacionais, 
desenvolver relações amistosas entre as nações, realizar a cooperação internacional para 
resolver os problemas mundiais de caráter econômico, cultural e humanitário, 
promovendo o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais.48 
Um dos órgãos instituídos pela Carta das Nações Unidas foi o Conselho 
Econômico e Social49 (ECOSOC, em inglês), responsável por coordenar o trabalho 
econômico e social das instituições que compõem o Sistema das Nações Unidas. O 
Conselho formulou em 1946, resolução50 determinando a criação do Conselho da ONU 
sobre a Situação das Mulheres (CSW), tendo como função inicial a produção de 
recomendações e relatórios sobre a promoção dos direitos das mulheres a serem 
apresentados ao ECOSOC. 
 No dia 10 de Dezembro de 1948, três anos após a ratificação da Carta das Nações 
Unidas, a Assembleia Geral das Nações Unidas, através da resolução 217 A (III) da 
Assembleia Geral51, proclama a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), 
marco normativo do Direito Internacional dos Direitos Humanos. A proteção 
internacional dos direitos humanos passa, então, a se expandir intensamente no plano 
global e no regional, particularmente na Europa, na América e na África, mediante a 
adoção de pactos, tratados e convenções de proteção aos direitos humanos, bem como 
com a criação de órgãos e mecanismos específicos voltados para a fiscalização e 
monitoramento desses direitos52, que somados ao sistema nacional de proteção de 
direitos humanos, proporcionam maior efetividade na tutela e promoção desses direitos.53 
A DUDH é a responsável por conferir o sentido moderno de direitos humanos 
enquanto unidade indivisível, interdependente e universal.54 Proclama-se a 
 
48 Nações Unidas no Brasil. Propósitos e princípios da ONU. Disponível em: 
<https://nacoesunidas.org/conheca/principios/> Acesso em 17 junho. 2018. 
49 Nações Unidas no Brasil. Como funciona: o Conselho Econômico e Social. Disponível em: 
<https://nacoesunidas.org/conheca/como-funciona/ecosoc/> Acesso em 17 junho. 2018. 
50United Nations. Journal of the Economic and Social Council. 1946. p. 525 Disponível em: 
<http://www.un.org/womenwatch/daw/csw/pdf/CSW_founding_resolution_1946.pdf>. Acesso em: 17 
jun. 2018. 
51 Assembleia Geral das Nações Unidas. A Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível 
em: <https://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10133.htm> Acesso em 17 junho. 2018. 
52 SOUZA NETO, Cláudio Pereira de; SARMENTO, Daniel, op. cit., p. 89. 
 
53 PIOVESAN, Flavia (Coord.). Direitos Humanos. 1. ed. 2006. Curitiba: Juruá, 2007. p. 19 
54 Organização das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948. Disponível em: 
< https://www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf> Acesso em 17 junho. 
 
 16 
universalidade dos direitos humanos, sob a crença de que a condição de pessoa é o 
requisito único para a titularidade de direitos, considerando o ser humano como 
essencialmente moral, dotado de unicidade existencial e dignidade, e a indivisibilidade, 
pois a observância dos direitos civis e políticos é condição para observância dos direitos 
sociais, econômicos, culturais e políticos e vice-versa. Quando um deles é violado, os 
demais também o são.55 
Desse modo, torna-se evidente que os direitos humanos passam a ocupar um 
espaço de primazia no âmbito das discussões internacionais e se antes apenas o Estado 
era tido sujeito de direitos no plano internacional e a soberania, autonomia e liberdade 
nacional eram tidas como absolutas, passa-se a adotar a ideia de que o indivíduo é 
também sujeito de direitos no plano internacional, bem como a soberania nacional é 
relativizada à medida que se admitem intervenções no plano nacional em prol dos direitos 
humanos, tornando possível, por exemplo, que o Estado que tenha ratificado algum 
instrumento internacional de direitos humanos seja responsabilizado no domínio 
internacional quando as instituições nacionais se mostram falhas ou omissivas na sua 
incumbência de proteger tais direitos56. 
Nos Arts. 1º e 2º é proclamada a igualdade entre todos os seres humanos: 
Art. 1º 
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São 
dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com 
espírito de fraternidade. 
Art. 2º 
1 - Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades 
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de 
raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem 
nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. 
2 - Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, 
jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer 
se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer 
sujeito a qualquer outra limitação de soberania. 
(Grifo nosso) 
 
2018. 
55 PIOVESAN, Flavia (Coord.). Direitos Humanos. 1. ed. 2006. Curitiba: Juruá, 2007. p. 18 
56 PIOVESAN, Flavia. Direitos Humanos e Direito Constitucional Internacional. 7. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2006. p. 113-115. 
 
 
 17 
Ao tratar sobre direitos políticos, os Arts. 20º e 21º da DUDH dispõe que: 
Artigo 20º 
1. Todo ser humano tem direito à liberdadede reunião e associação pacífica. 
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação 
Artigo 21º 
1. Todo ser humano tem o direito de fazer parte no governo de seu país 
diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. 
2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. 
3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será 
expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto 
secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto. 
 
 Em seguida, no ano de 1953 - tendo entrado em vigor no ano de 1954 após atingir 
o número mínimo de ratificações -, surge a Convenção sobre os Direitos Políticos da 
Mulher57, o primeiro tratado internacional da ONU direcionado especificamente à 
temática da inserção e participação política feminina. Ratificando o princípio de 
igualdade contido na Carta das Nações Unidas e na Declaração Universal de Direitos 
Humanos, a Convenção é um importante marco no fortalecimento dos instrumentos que 
buscam garantir as mesmas condições a homens e mulheres. Destaca-se os seguintes 
artigos: 
Artigo 1º 
As mulheres terão, em igualdade de condições com os homens, o direito de 
voto em todas as eleições, sem nenhuma restrição. 
Artigo 2º 
As mulheres serão, em condições de igualdade com os homens, elegíveis para 
todos os organismos públicos de eleição, constituídos em virtude da legislação 
nacional, sem nenhuma restrição. 
Artigo 3º 
As mulheres terão, em condições de igualdade, o mesmo direito que os 
homens de ocupar todos os postos públicos e de exercer todas as funções 
públicas estabelecidas em virtude da legislação nacional, sem nenhuma 
restrição. 
 
 Posteriormente, é apresentado o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e 
 
57 United Nations. Convention on the Political Rights of Women. New York, 1953. Disponível em: 
<https://treaties.un.org/doc/Treaties/1954/07/19540707%2000-40%20AM/Ch_XVI_1p.pdf>. Acesso em: 
17 jun. 2018. 
 
 
 18 
Políticos (PIDCP)58 em 1966, tendo entrado em vigor em 1976. O PIDCP - e seus dois 
Protocolos Opcionais - integra, juntamente, com a Declaração Universal de Direitos 
Humanos e com o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais 
(PIDESC) - e seu Protocolo Opcional, a chamada Carta Internacional de Direitos 
Humanos.59 
O PIDCP reitera o disposto na DUDH e disciplina como será a atuação dos 
Estados Partes, firmando expressamente o comprometimento desses Estados em garantir, 
dentro de sua jurisdição interna, o pleno exercício dos direitos políticos a todos os 
cidadãos, prevendo, por exemplo, a adoção das reformas legislativas cabíveis e os 
mecanismos para combate a violações de direitos: 
Artigo 2º 
1. Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a respeitar e garantir 
a todos os indivíduos que se achem em seu território e que estejam sujeitos à 
sua jurisdição os direitos reconhecidos no presente Pacto, sem discriminação 
alguma por motivo de raça, cor, sexo. língua, religião, opinião política ou de 
outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou 
qualquer condição. 
2. Na ausência de medidas legislativas ou de outra natureza destinadas a tornar 
efetivos os direitos reconhecidos no presente Pacto, os Estados Partes do 
presente Pacto comprometem-se a tomar as providências necessárias com 
vistas a adotá-las, levando em consideração seus respectivos procedimentos 
constitucionais e as disposições do presente Pacto. 
3. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a: 
a) Garantir que toda pessoa, cujos direitos e liberdades reconhecidos no 
presente Pacto tenham sido violados, possa de um recurso efetivo, mesmo que 
a violência tenha sido perpetrada por pessoas que agiam no exercício de 
funções oficiais; 
b) Garantir que toda pessoa que interpuser tal recurso terá seu direito 
determinado pela competente autoridade judicial, administrativa ou legislativa 
ou por qualquer outra autoridade competente prevista no ordenamento jurídico 
do Estado em questão; e a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; 
c) Garantir o cumprimento, pelas autoridades competentes, de qualquer 
decisão que julgar procedente tal recurso. 
Artigo 3º 
Os Estados Partes no presente Pacto comprometem-se a assegurar a homens e 
 
58 Assembleia Geral das Nações Unidas. Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966). 
Disponível em: 
<https://www.oas.org/dil/port/1966%20Pacto%20Internacional%20sobre%20Direitos%20Civis%20e%2
0Pol%C3%ADticos.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2018. 
59 Nações Unidas no Brasil. Direitos Humanos. Disponível em: 
<https://nacoesunidas.org/docs/direitoshumanos/>. Acesso em: 17 jun. 2018. 
 
 
 19 
mulheres igualdade no gozo de todos os direitos civis e políticos enunciados 
no presente Pacto. 
 
 Além disso, o Pacto inova ao criar o Comitê de Direitos Humanos, disciplinado 
nos Arts. 28º a 45º, órgão responsável por monitorar a aplicação das disposições do 
PIDCP, sendo composto por membros eleitos pelo período de quatro anos pelos Estados 
Partes, com possibilidade de reeleição. O Art. 40º prevê que cada Estado deverá enviar 
relatórios anuais, ou conforme solicitação do Comitê, acerca de como os direitos estão 
sendo implementados; posteriormente, os membros do Comitê analisam os relatórios e 
fazem suas recomendações, sendo garantido que os Estados Partes apresentem 
comentários acerca das eventuais orientações. 
Não obstante, além das recomendações específicas, o Comitê emite também 
Comunicados Gerais60 sobre temas que considera de relevância a todos os Estados 
Partes.61 Nesse sentido, o Comunicado Geral n. 28 trata da igualdade de direitos entre 
homens e mulheres e apresenta como uma de suas recomendações o fornecimento de 
informações estatísticas sobre a porcentagem de mulheres em cargos públicos eleitos, 
incluindo a legislatura, bem como em cargos no funcionalismo público e no judiciário.62 
Em 1975, na Cidade do México, a Comissão da ONU sobre a Situação das 
Mulheres (CSW) promove a primeira Conferência Mundial da Mulher63, sob o lema 
“Igualdade, Desenvolvimento e Paz”, tendo sido aprovado plano de ação a ser norteador 
das diretrizes de governos e da comunidade internacional no decênio 1976-1985, 
destacando-se o objetivo comum de adotar diretrizes no sentido de alcançar a eliminação 
 
60 OHCHR. United Nations Human Rights Office of The High Commissioner. Human Rights 
Comitte. Disponível em: <https://www.ohchr.org/EN/HRBodies/CCPR/Pages/CCPRIntro.aspx>. Acesso 
em: 17 jun. 2018. 
61 OHCHR. United Nations Human Rights Office of The High Commissioner. Human Rights 
Comitte - Treaty Body Database. Disponível em: 
<https://tbinternet.ohchr.org/_layouts/treatybodyexternal/TBSearch.aspx?Lang=en&TreatyID=8&DocTy
peID=11>. Acesso em: 17 jun. 2018. 
 
62 Human rights committee. General Comment No. 28 Article 3 (The equality of rights between men 
and women) Disponível em: 
<https://tbinternet.ohchr.org/Treaties/CCPR/Shared%20Documents/1_Global/CCPR_C_21_Rev-1_Add-
10_6619_E.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2018. 
63 ONU Mulheres. Planeta 50-50. Disponível em: <http://www.onumulheres.org.br/planeta5050-
2030/conferencias/>. Acesso em: 17 jun. 2018. 
 
 
 20 
da discriminação da mulher e o seu avanço social. 
Conforme já abordado em tópicos anteriores, a Convenção sobre a Eliminação de 
Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, de 1979, vigente a partir de 1981, 
fruto de iniciativas da CSW, inaugura um mecanismo queaborda de forma abrangente a 
situação de discriminação contra a mulher, definindo o que é considerado discriminação, 
veja-se: 
Artigo 1º 
Para os fins da presente Convenção, a expressão “discriminação contra a 
mulher” significará toda a distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e 
que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo 
ou exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil, com base na 
igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades 
fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em 
qualquer outro campo. 
Artigo 4º 
1. A adoção pelos Estados-Partes de medidas especiais de caráter temporário 
destinadas a acelerar a igualdade de fato entre o homem e a mulher não se 
considerará discriminação na forma definida nesta Convenção, mas de 
nenhuma maneira implicará, como conseqüência, a manutenção de normas 
desiguais ou separadas; essas medidas cessarão quando os objetivos de 
igualdade de oportunidade e tratamento houverem sido alcançados. 
2. A adoção pelos Estados-Partes de medidas especiais inclusive as contidas 
na presente Convenção, destinada a proteger a maternidade, não se 
considerará discriminatória. 
Ao expor sobre o compromisso dos Estados Partes na efetivação das disposições 
constantes na referida Convenção, o Artigo 5º prevê que devem ser adotados os esforços 
cabíveis no sentido de modificar os padrões de conduta sócio-culturais que propagam 
preconceitos e práticas firmados na ideia de “...inferioridade ou superioridade de 
qualquer dos sexos ou em funções estereotipadas de homens e mulheres”. Ou seja, urge-
se que Estados Partes adotem medidas que possibilitem uma mudança comportamental 
visando, principalmente, o combate a práticas machistas enraizadas nos costumes de 
determinada sociedade. 
 
 21 
Em 1980, em Copenhague, é realizada a II Conferência Mundial da Mulher64 com 
o objetivo de revisar o progresso na implementação das metas da primeira Conferência 
Mundial, chegando-se à constatação de que poucas haviam sido alcançadas, conduzindo 
a um movimento mais intenso de organização e pressão da sociedade civil. Dentre os 
objetivos firmados no plano de ação, estão: a igualdade no acesso à educação, 
oportunidades no trabalho e atenção à saúde das mulheres. 
Já a III Conferência Mundial da Mulher65 ocorreu em Nairóbi no ano de 1985 e 
teve como cerne a discussão acerca do estabelecimento de medidas concretas para 
superar os obstáculos frente aos objetivos das Conferências anteriores a partir da adoção 
das Estratégias Avançadas de Nairóbi para o Avanço da Mulher, nesse sentido, a 
Resolução 1990/15 do Conselho Econômico e Social da ONU estabelece algumas 
recomendações relacionadas à primeira revisão dessas estratégias. No âmbito da 
igualdade de gênero, destaca-se a Recomendação VI66: 
Governos, partidos políticos, sindicatos e profissionais e outros grupos 
representativos devem visar metas para aumentar a proporção de mulheres em 
cargos de liderança para pelo menos 30% até 1995, com o objetivo de alcançar 
uma representação igual entre mulheres e homens até o ano 2000, e deve 
instituir programas de recrutamento e treinamento para preparar as mulheres 
para essas posições (ECONOMIC AND SOCIAL COUNCIL, 1990) 
Posteriormente, em 1995, é realizada, em Pequim, a IV Conferência Mundial da 
Mulher67, importante marco na agenda global da igualdade de gênero. Conforme citado 
em tópico anterior, a Declaração e Plataforma de Ação de Pequim, adotada por 
unanimidade por 189 países, estabelecem objetivos estratégicos e ações para o avanço 
das mulheres e a conquista da igualdade de gênero em 12 áreas críticas, sendo uma delas 
a área de mulheres no poder e na tomada de decisões. 
No ano seguinte, em 1996, o ECOSOC, na Resolução 1996/6, ampliou a área de 
 
64 ONU Mulheres. Planeta 50-50. Disponível em: <http://www.onumulheres.org.br/planeta5050-
2030/conferencias/>. Acesso em: 17 jun. 2018. 
65 UN Women. World Conferences on Women. Disponível em: <http://www.unwomen.org/en/how-
we-work/intergovernmental-support/world-conferences-on-women#mexico>. Acesso em: 17 jun. 2018. 
66 Economic and Social Council. Resolutions and decisions of the economic and social council. 1990, 
p. 22. Disponível em: <http://www.un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol=E/1990/90 >Tradução livre 
 
67 UN Women. World Conferences on Women. Disponível em: <http://www.unwomen.org/en/how-
we-work/intergovernmental-support/world-conferences-on-women>. Acesso em: 17 jun. 2018. 
 
 22 
atuação da Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres (CSW) e decidiu que ela 
deveria assumir um papel de liderança no monitoramento e revisão da implementação da 
Declaração e Plataforma de Ação de Pequim e na integração de uma perspectiva de 
gênero nas atividades da ONU. 
Em 2000, a Assembleia Geral ONU realizou uma 23ª sessão especial para 
conduzir a primeira revisão e avaliação de cinco anos da implementação da Plataforma 
de Ação de Beijing, e para considerar futuras ações e iniciativas. Nesse mesmo ano, a 
ONU também adota uma agenda global denominada “Objetivos de Desenvolvimento do 
Milênio”, que busca alcançar oito objetivos, sendo um deles a promoção da igualdade de 
gênero e do empoderamento de mulheres. 
Em 2003, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprova Resolução sobre a 
Participação Política das Mulheres (A/RES/58/142)68, urgindo que os Estados Membros 
adotem uma série de medidas, incluindo o esforço para implementação de mecanismos 
que visam expandir as habilidades políticas das mulheres a partir de programas de 
treinamento que incentivem as mulheres a participarem do processo eleitoral como um 
todo, incentivando-as e capacitando-as a concorrerem a cargos eletivos; bem como a 
implementação de iniciativas que visam ampliar o acesso das mulheres a informações 
sobre candidatos, partidos políticos, e os procedimentos de votação a fim de que elas 
possam exercer de maneira adequada o direito de voto em eleições livres e justas. 
Em 2011, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprova mais uma importante 
Resolução sobre o tema (A/RES/66/130)69, enfatizando sua importância crítica em todos 
os contextos, como em momentos de transição política - nos quais deve ser assegurado 
às mulheres uma participação efetiva em todas as fases da reforma. Além disso, urge-se 
que os Estados Membros adotem medidas específicas para incentivar um maior 
envolvimento político de mulheres que podem ser marginalizadas, incluindo mulheres 
indígenas, mulheres com deficiência, mulheres de áreas rurais e mulheres de qualquer 
minoria étnica, cultural ou religiosa. 
 Em 2014, a ONU Mulheres lançou a campanha mundial Pequim+20 “Empoderar 
 
68 General Assembly. A/RES/58/142. Disponível em: 
<http://www.un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/58/142>. Acesso em: 17 jun. 2018. 
 
69 General Assembly. A/RES/66/130. Disponível em: 
<http://www.un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/66/130>. Acesso em: 17 jun. 2018. 
 
 23 
Mulheres. Empoderar a Humanidade. Imagine!”70 convidando Governos a produzirem 
relatórios nacionais sobre a implementação da Declaração e Plataforma de Ação de 
Pequim71, tendo sido submetidos um número recorde de 164 relatórios que fornecem 
importantes análises sobre conquistas e desafios em relação à igualdade de gênero e ao 
empoderamento das mulheres. 
Esse processo revisional culminou na apresentação de um Relatório Geral72 na 
59ª sessão da Comissão das Nações Unidas sobre o Situação das Mulheres (CSW), 
realizada em 2015 - ano que marca 20 anos desde a adoção da Declaração e Plano deAção de Pequim, tendo sido constatado que: 
Significativos avanços normativos foram feitos na agenda global sobre 
mulheres, paz e segurança. O progresso geral, no entanto, tem sido 
inaceitavelmente lento, com estagnação e mesmo regressão em alguns 
contextos. A mudança para a igualdade de gênero não foi suficientemente 
profunda, nem irreversível. (ECONOMIC AND SOCIAL COUNCIL, p. 5 
2014). 
Nesse contexto, em 2016, entram oficialmente em vigor os 17 Objetivos de 
Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 para o Desenvolvimento 
Sustentável73 - adotados pela ONU em 2015. Os ODS baseiam-se nos Objetivos de 
Desenvolvimento do Milênio (ODM), mas adotam uma perspectiva mais detalhada e 
abrangente, sendo dispostos de forma integrada e indivisível, equilibram as três 
dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. 
Embora não sejam juridicamente vinculativos, firmou-se o comprometimento do 
Estados Membros em adotar medidas concretas a nível nacional em prol da realização 
desses objetivos, devendo ainda fornecer dados que permitam avaliar o progresso na 
 
70 ONU Mulheres. Planeta 50-50. Disponível em: <http://www.onumulheres.org.br/planeta5050-
2030/csw/>. Acesso em: 17 jun. 2018. 
71 UN Women. Beijing+20: Recomitting for Women and Girls. Disponível em: 
<http://www.unwomen.org/-
/media/headquarters/attachments/sections/how%20we%20work/intergovsupport/unw_beijing_brief_v3%
20pdf.pdf?la=en>. Acesso em: 17 jun. 2018. 
72 Economic and Social Council. Review and appraisal of the implementation of the Beijing 
Declaration and Platform for Action and the outcomes of the twenty-third special session of the 
General Assembly. Disponível em: 
<http://www.un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol=E/CN.6/2015/3&Lang=E>. Acesso em: 17 jun. 
2018. 
73 ONU Brasil. Agenda 2030. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/wp-
content/uploads/2015/10/agenda2030-pt-br.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2018. 
 
 24 
implementação da Agenda 2030.74 
Particularmente tratando sobre igualdade de gênero, o Objetivo 5 visa “Alcançar 
a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas“, e apresenta algumas 
metas voltadas à atuação política, sendo uma delas - a ser alcançada até o ano de 2030, a 
participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança 
em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública, devendo 
cada país adotar e cumprir as legislações e políticas públicas cabíveis. 
Após a adoção da Resolução 2015/6 do ECOSOC75, a Comissão sobre a Situação 
da Mulheres (CSW) - que tem a ONU Mulheres como Secretariado - também passa a 
contribuir para o acompanhamento da Agenda 2030 para o Desenvolvimento 
Sustentável, tornando-se uma das principais instâncias de negociação e de 
monitoramento de compromissos internacionais sobre direitos humanos das mulheres, 
participando das reuniões anuais Governos, especialistas e partes interessadas da 
sociedade civil. 
Posteriormente, em apoio à Agenda 2030, a ONU Mulheres lança a campanha 
“Por um planeta 50-50 em 2030: um passo decisivo pela igualdade de gênero”, 
ressaltando que alcançar a igualdade de gênero depende de esforços determinados, 
concretos e sistemáticos “por parte de todas e todos – mulheres, homens, sociedade civil, 
governos, empresas, universidades e meios de comunicação.” 
3. Mulher e acesso ao poder 
Embora as mulheres do século XXI venham ocupando diversos espaços antes 
inalcançáveis, como os cargos executivos, elas ainda são sub-representadas quando se 
trata dos cargos de altas gestão ou de elevado valor nas tomadas de decisão. Diversos são 
os empecilhos que contribuem para tal situação perdure ao longo de tantos anos. 
Principalmente devido a questão da misoginia - o ódio ou aversão às mulheres - que ainda 
insiste em elaborar estereótipos negativos que dificultam o acesso da mulher ao poder ou 
 
74 UN. The Sustainable Development Agenda. 
Disponível em: <https://www.un.org/sustainabledevelopment/development-agenda/>. Acesso em: 17 jun. 
2018. 
75 Economic and Social Council. Future organization and methods of work of the Commission on 
the Status of Women. Disponível em: 
<http://www.un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol=E/RES/2015/6>. Acesso em: 17 jun. 2018. 
 
 
 25 
a sua permanência nele76. 
No contexto da misoginia, fala-se mal de mulheres de muitos modos, seja 
inventando uma essência para elas, seja ocultando as heterodenominações que 
pesam sobre elas, seja criando e intensificando as ideologias femininas, tais 
como a ideologia da maternidade, da juventude, da sensualidade, todas essas 
que fazem parte do sistema do machismo estrutural. Toda esse sistema 
ideológico não prevê mulheres no poder. Porque o poder é coisa que os 
homens querem para eles. É evidente que toda mulher vai ter que pagar um 
preço imenso quando tomar para si alguma coisa desejada pelos homens 
(TIBURI, 2016). 
 Poder segundo a sociologia clássica é a capacidade de produzir resultados sob um 
determinado grupo social. O exercício do poder se dá através das relações entre os 
indivíduos na qual uns se sobressaem aos outros exercendo, assim, as suas reivindicações 
como as mais valorativas. Michel Foucault, sociólogo e filósofo francês, acreditava que 
o poder seria uma espécie de mecanismo de controle de um indivíduo ou grupo social, 
sobre o outro e que isso seria capaz de modelar os discursos, as ações e reforçar a própria 
subjetividade77. 
Se analisarmos a história da humanidade, podemos perceber como o poder ficou 
hegemonicamente atribuído ao gênero masculino e, assim, ele acabou suprimindo a 
participação feminina em diversas esferas de atuação e silenciando as reivindicações 
próprias das mulheres. Isso afeta não só a esfera pública, mas também a esfera privada 
uma vez que consegue conclamar as questões masculinas sobre as questões femininas 
em uma decisão que deveria ser coletiva, tendo em vista que afetará a toda sociedade. 
A dificuldade das mulheres em ter acesso ao poder pode ser traduzida em 
números. No setor privado, segundo pesquisa International Business Report (IBR) – 
Women in Business, realizada pela Grant Thornton em 2017 a média global de mulheres 
em cargos de liderança é de 24%, na América Latina esse número se torna ainda menor, 
cerca de 20% das mulheres ocupam o cargo de executivas ou seniores. No setor privado, 
em março de 2017 tínhamos apenas dez mulheres como chefes de Estado e outras 9 como 
chefes de governo. Em 2018, a ONU Mulheres lançou uma nota de pesar em uma reunião 
 
76 TIBURI, M. Revista Cult. A máquina misógina e o fator Dilma Rousseff na política brasileira, São 
Paulo. 
 
77 FOUCAULT, Michel. 1979. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal 
 
 26 
na cidade do Panamá, na qual lamentava a inexistência de mulheres chefe do Executivo 
na América Latina. 
 Além de terem a sua representatividade negada no status de poder, as mulheres 
que conseguem alcançar esse patamar são menosprezadas e sofrem diversos ataques 
misóginos, ou seja, sofrem discursos de ódio e opressão apenas pautados pela sua 
condição enquanto gênero feminino. Podemos ilustrar tal situação a partir de situações 
ocorridas com mulheres que conseguiram alcançar um patamar de poder na sociedade, 
rompendo com uma hegemonia masculina, mas sendo questionadas, muitas vezes, por 
questões que são estereótipos associados ao “universo feminino”. 
Considerando aqui apenas a questão da condição feminina e não de 
posicionamento ideológico, podemos ilustrar inúmeros casos em que o acesso da mulherao poder provoca um efeito diferenciado na mídia e na sociedade. A ex-presidenta da 
República Federativa do Brasil, tomando posse do seu primeiro mandato em 01 de 
janeiro de 2011, foi alvo de críticas, não por conta do seu discurso, mas por conta da sua 
roupa e aparência. A Folha de São Paulo, em 05 de janeiro de 2015, publicou uma 
matéria que se intitulava “Look de Dilma na posse divide estilistas famosos” que julgava 
as roupas e o peso da ex-presidenta em sua segunda posse78. 
 A campanha eleitoral de 2016 dos Estados Unidos da América (EUA) também 
protagonizou episódios de misoginia. O slogan mais utilizado na campanha era “Thump 
That Bitch”² que faz referência a palavra thump, que tem como tradução a palavra murro, 
ou seja, a ideia era “Esmurre essa vadia”, fazendo uma alusão a violência de gênero 
direcionada a candidata Hillary Diane Rodham Clinton. Além disso, durante o primeiro 
debate dos candidatos presidenciais, Donald John Trump interrompeu a fala de Hillary 
Clinton 51 vezes, enquanto a mesma só o interrompeu 19 vezes79. 
 Outra problemática paralela a essa é de que as mulheres, quando estão no poder, 
tendem a ser enquadradas em dois esteriótipos: (1) de feminilidade ou (2) de 
 
78 DINIZ, P. Look de Dilma na posse divide estilistas famosos. Notícias. Disponível em: 
<http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/01/1570468-look-de-dilma-na-posse-divide-estilistas-
famosos.shtml>. Acesso em: 18 mar. 2018. 
79 PREZA, E. “Trump That Bitch” Takes Over as a Favorite Slogan of the Trump Hordes . 
Alternet. Notícias. Disponível em: <https://www.alternet.org/election-2016/trump-bitch-takes-over-
favorite-slogan-trump-hordes>. Acesso em: 18 mar. 2018. 
 
 
 
 27 
desumanização. Muitas vezes, uma vez identificado esses dois tipos de enquadramento, 
as próprias candidatas se utilizam estrategicamente de uma postura mais feminina de 
mãe, avó, familiar e doce, para retirar a negatividade associada às mulheres poderosas. 
Essa foi uma estratégia utilizada por Michelle Obama, por exemplo, ao longo da 
sua posição de primeira dama. Por outro lado, a figura de desumanização acompanha o 
perfil da mulher de “punhos de ferro”, aquela que se afastar do estereótipo de 
feminilidade construído pela sociedade e passa a adotar uma postura que a muito é 
comum em homens. Um exemplo disso é Angela Merkel. 
Figura: Michelle Obama com seus cães na Casablanca. 
 
Fonte: Move Notícias (2017) 
Figura: Angela Merkel na capa da revista New Statesman 
Fonte: The Globe and Mail (2017) 
 
 28 
Dessa forma podemos constatar que a chegada da mulher ao poder já é limitado 
por uma série de variáveis, mas o seu estabelecimento no poder é ainda mais 
problemático pois relaciona-se especificamente com as práticas misóginas que provém 
tanto da sociedade civil quanto de outros agentes que já estão estabelecidos em patamares 
elevados na tomada de decisão. Assim, faz-se necessário a criação de políticas 
afirmativas que incentivem e empoderem - ato de dar o poder a alguém ou a um grupo - 
para que as mulheres consigam não só chegar a cargos eletivos de alto poder de decisão, 
mas também que elas possam se manter nesses postos. Pois somente dessa forma 
podemos dar mais voz às mulheres na sociedade. 
4. Participação Política Feminina 
4.1. Abordagem histórica: Estado Democrático de Direito 
No percurso de formação da superestrutura estatal como conhecemos atualmente, 
não se pode aferir nenhuma linearidade, pois foi o processo de rompimento de velhas 
estruturas que permitiu a configuração atual. Quando se fala em Estado como garantidor 
de um direito, não apenas como um prestador de serviço, é preciso notar que essa é uma 
configuração mais recente do que se imagina. 
O Estado garantidor de direitos, e não apenas estrutura burocrática de regulação, 
se configura embrionariamente no ocidente pela Magna Charta Libertatum de 1215, 
inaugurando o constitucionalismo e pela primeira vez no ocidente, tolhendo o 
absolutismo. Contudo, no absolutismo não consagrava as liberdades individuais, ainda 
que se iniciasse em 1215 uma contrapartida de obrigações. 
A ideia de Estado Democrático de Direito teve suas origens nas lutas contra o 
absolutismo, sobretudo através da afirmação dos direitos naturais da pessoa humana, 
assim como ressalta Dalmo de Abreu Dallari80. Os principais movimentos que 
influenciaram a ideia de democracia moderna foram a Revolução Inglesa, a Revolução 
Americana e a Revolução Francesa, essa última destacando-se pela elaboração da 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão81, de 1789, na qual é apontado que os 
 
80 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 2ª edição. Editora Saraiva, 
1998. Disponível em: <https://estudeidireito.files.wordpress.com/2016/03/dalmo-de-abreu-dallari-
elementos-da-teoria-geral-do-estado.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2018. 
81 Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Disponível em: 
<http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/legislacao/direitos-
humanos/declar_dir_homem_cidadao.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2018. 
 
 29 
homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos. 
Mas a experiência demonstrou com muita eloqüência que tal regime, na 
realidade, só assegurava a liberdade para os que participassem do poder 
econômico. Os que icção de que a liberdade como valor supremo era a causa 
inevitável da desigualdade. Entendiam, por isso, indispensável um sistema 
dependiam do próprio trabalho para viver foram ficando cada vez mais 
distanciados dos poucos que detinham o capital, mal ganhando para 
sobreviver e sem a mínima possibilidade de progredir econômica e 
socialmente. Surgiu então uma corrente doutrinária e política manifestando a 
conve controle social que assegura a igualdade de todos os indivíduos 
(DALLARI, 2008). 
 
A industrialização alterou as dinâmicas de constituição das cidades, as relações 
familiares e a organização de movimentos sindicais de trabalhadores, é nesse momento 
que se acirram as demandas por participação efetiva na política, permitindo que questões 
anteriormente renegadas, fossem de fato pautadas. O século XX inicia no ocidente com 
um grande problema pela frente, adequar a fórmula de estado para integrar massas 
operárias ao ambiente político. Tradicionais representantes já não satisfaziam as massas. 
Ainda que no século XX, países como o Brasil, Argentina, Uruguai e Egito tenha 
institucionalizado o voto obrigatório para suas eleições, as rupturas iniciadas nesse 
mesmo período, como a ascensão de ditaduras e regimes familiares autocráticos, 
impediram a materialização dessa participação política da sociedade e portanto, adiando 
nessas regiões a democracia e a formação de um efetivo Estado Democrático de Direito. 
Sucessivas guerras mundiais, conflitos internacionais na Ásia e as ditaduras em países da 
América Latina e Caribe impediram o avanço dessas discussões e toleram manifestações 
por participação política. 
 É somente no final do século XX, com a queda da União Soviética e a dissolução 
de regimes ditatoriais na América, que se retomam debates no mundo todo sobre o estado 
social e a efetiva participação popular. Nesse contexto, o Estado Democrático de Direito 
tornou-se o ideal maior na organização de grande parte dos países, tendo como seus 
princípios norteadores a supremacia da vontade popular, a preservação da liberdade e a 
igualdade de direitos. Ademais, a democracia é um dos valores centrais das Nações 
Unidas82, pois, embora a Carta das Nações Unidas83 não mencione a palavra 
 
 
82 UN. Democracy. Disponívelem: <https://www.un.org/en/sections/issues-depth/democracy/>. Acesso 
em: 29 jul. 2018.Tradução livre. 
83 ONU. Carta das Nações Unidas. Disponível em: <https://www.cm-
 
 30 
“democracia”, suas primeiras palavras -“Nós, os Povos”- refletem a essência 
democrática, sendo a vontade do povo a fonte de legitimidade dos Estados soberanos e, 
portanto, das Nações Unidas como um todo. Posteriormente, por meio da Declaração 
Universal dos Direitos Humanos84, adotada pela Assembleia Geral em 1948, a ONU 
projetou claramente o conceito de democracia, afirmando que “a vontade do povo será à 
base da autoridade do governo”. 
Um dos elementos substanciais da democracia é a prevalência da vontade do 
povo sobre a de qualquer indivíduo ou grupo. Quando um governo, ainda que 
bem intencionado e eficiente, faz com que sua vontade se coloque acima de 
qualquer outra, não existe democracia. Democracia implica autogoverno, e 
exige que os próprios governados decidam sobre as diretrizes políticas 
fundamentais do Estado. O argumento de que o povo é incapaz de uma decisão 
inteligente não pode ser aceito, porque contém o pressuposto de que alguém 
está decidindo se a orientação preferida pelo povo é boa ou não. Assim sendo, 
a orientação será considerada boa ou má de acordo com as preferências de 
quem a estiver julgando. Basta atentar-se para o fato de que, qualquer que seja 
a decisão popular, sempre haverá grupos altamente intelectualizados e 
politizados que irão considerá-la acertada, como haverá grupos opostos, 
também altamente qualificados, que a julgarão errada. Não havendo a 
possibilidade de um acordo total quanto às diretrizes políticas, não há razão 
para que prevaleça a opinião de um ou de outro grupo, devendo preponderar 
a vontade do povo. Mas o povo é uma unidade heterogênea, sendo necessário 
atender a certos requisitos para que se obtenha sua vontade autêntica 
(DALLARI, 2008). 
A democracia, no entanto, apesar de sua grande valorização teórica, apresenta 
desafios para a sua implementação plena. Exemplo disso é que não é incomum países 
considerados Estados Democráticos de Direito serem, na verdade, falsas democracias, 
existindo manipulação eleitoral, corrupção e restrições aos direitos fundamentais, como 
integridade física, liberdade de expressão, julgamentos justos e igualdade de gênero. 
Além disso, países até então democráticos estão vivenciando claramente um retrocesso 
na área, pois há uma visão que as não-democracias podem enfrentar desafios atuais 
melhores do que as democracias. Tal visão é fomentada por governos autocráticos que 
são engajados na propaganda do Estado e na disseminação de desinformação.85 
Diante dessa realidade, a Organização das Nações Unidas estabeleceu princípios 
que devem guiar suas ações que visam a proteger a democracia. Dentre esses princípios 
 
vfxira.pt/uploads/writer_file/document/14320/Carta_das_Na__es_Unidas.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2018. 
 
84 Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: 
<http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2018. 
85 Idea. The Global State of Democracy: Exploring Democracy’s Resilience. p.6. Disponível em: 
<https://www.idea.int/gsod/files/IDEA-GSOD-2017-REPORT-EN.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2018. 
Tradução livre. 
 
 31 
está que a ONU deve agir proativamente, ou seja, estar sempre analisando e atuando em 
seus países-membros de maneira a proteger a democracia. Suas ações, no entanto, não 
podem, pela democracia, provocar danos em outros setores, como, ao antecipar eleições, 
fragilizar um país institucional e economicamente. A organização também deve respeitar 
ao máximo as normas locais, equilibrando-as com determinações internacionais quanto 
ao assunto. Por fim, um princípio que merece destaque é que a ONU tem o papel de 
procurar integrar os diversos grupos aos processos democráticos, o que inclui as 
minorias, como as mulheres.86 
É preciso entender que o processo de tomada de decisões ocorrerem em diversos 
níveis da vida, do político privado, passando pelo econômico ao político público, 
alcançando temáticas que alteram a vida de diversos indivíduos, de um microssistema 
familiar a toda uma população. Compreender a extensão do processo de decisão é 
fundamental para o debate de acesso de minorias a esse processo. Na busca pela 
efetivação do Estado Democrático de Direito, no qual a igualdade de possibilidade deve 
ser preservado junto a vontade popular suprema, garantir a participação na vida pública, 
especialmente no campo da tomada de decisões públicas, é uma medida-chave. Sendo, 
para as mulheres, uma ferramenta de empoderamento e um caminho para a promoção da 
igualdade de gênero. 
Dar garantias de tomadas de decisão para mulheres, negros, indígenas, 
quilombolas, LGBTIs, etc, é permitir além do que acesso a cargos em governos, pois 
muitas vezes a nomeação é mais facilitada por um processo de propaganda política ou 
uma falsa representatividade, garantir, portanto, esse acesso ao processo de tomada de 
decisões é alcançar um status de representação igualitária para homens e mulheres, e 
demais minorias, em cargos de decisão nas mais variadas áreas da vida humana, na arte, 
na cultura, nos esportes, na mídia, na educação, na religião, em organizações de 
empregadores e sindicatos, corporações nacionais e transnacionais, bancos, instituições 
acadêmicas e científicas, e as organizações regionais e internacionais. 
 No contexto de constitucionalismo social, em que se pautam questões de 
efetivação do Estado Democrático de Direito, a democracia paritária se coloca como a 
 
86 UN. Guidance Note of the Secretary-General on Democracy. p 3-4. Disponível em: 
<http://www.un.org/en/pdfs/FINAL%20Guidance%20Note%20on%20Democracy.pdf>. Acesso em: 29 
jul. 2018. Tradução livre. 
 
 
 32 
materialização dos ideais dessa estrutura de estado. Incentivado pela ONU Mulheres, a 
democracia paritária conceitualmente não se limita a esfera política, mas se coloca frente 
todas as transformações das relações de gênero, permitindo uma nova dinâmica social 
entre homens e mulheres em que todos assumem responsabilidades compartilhadas nas 
mais diversas esferas da vida, do âmbito público ao privado. A democracia paritária 
requer, portanto, a desconstituição dos fatores estruturais que impedem ou limitam o 
empoderamento político das mulheres e perpetuam a desigualdade de gênero. 
Quanto ao tema, merece destaque a Norma Estrutural pela Consolidação da 
Democracia Paritária. Essa norma é resultado do “Encontro Parlamentário: Mulheres, 
Democracia Paritária”, que ocorreu em 2014, Panamá, devido às comemorações dos 
cinquenta anos do Parlamento Latino-americano, havendo a colaboração da ONU 
Mulheres no evento. Foram debatidas cinco áreas estratégicas de intervenção no 
encontro: a paridade representativa como meta e medida definitiva, a responsabilidade 
do poder público com a igualdade de gênero, o fortalecimento das lideranças femininas, 
o compromisso dos partidos políticos com a paridade e a luta pelo fim dos estereótipos e 
discriminações nas mídias, do assédio e da violência política. A Norma Estrutural pela 
Consolidação da Democracia Paritária tem esses tópicos como seus principais pontos.87 
A Declaração e Plataforma de Ação de Pequim, documento marco da Quarta 
Conferência Mundial sobre a Mulher: Ação para a Igualdade, Desenvolvimento e Paz, 
realizada em Pequim, na China, em setembro de 1995, tem dois objetivos estratégicos 
para a efetivação plena da participação das mulheres no processo de tomada de decisões 
e igualdade de oportunidades para a liderança plena das mulheres: o primeiro

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