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Caso hipotético NP2

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O Trono de Ferro, as Amazonas e as Rainhas da Tormenta 
 
 Brasil, ano de 2019. O país vem aprovando diversos investimentos na exploração 
de energia elétrica, tendo autorizado diversas empresas a construírem barragens. 
 Sanoz é o maior dos estados da República Federativa do Brasil, mas sua população 
corresponde a apenas 2% da população nacional. Sua capital é Suan, onde se encontra 
metade da população do Estado. 
 Sanoz tem 98% de seu território ocupado por vegetação native, mas possui um 
modelo sustentável de empreendedorismo, pois sua capital é a sexta mais rica do país. 
 Ainda sobre o Estado de Sanoz, tem-se que sua geografia apresenta certas 
peculiaridades. Possui um dos picos mais altos do país e algumas regiões de serra, mas é 
predominantemente formada por planícies. Localiza-se em uma grande área de depressão, 
além de possuir uma grande extensão fluvial, onde se localiza o primeiro tipo de mata, a 
de várzea, cuja riquezas minerais atraem peixes e facilitam o cultivo de sementes e de 
outros meios de subsistência, como ervas medicinais. Os solos de terra firme ficam nas 
áreas mais altas e fornecem madeiras nobres como castanha, cacao e palmeiras. 
 As águas que banham o território de Sanoz formam a maior bacia hidrográfica do 
mundo, além de servirem de meio de transporte para a maioria da população. Tendo como 
meta proteger esses rios, foram criados mecanismos como Unidades de Conservação de 
Proteção Integral, Unidades de Conservação e Uso Sustentável e Unidades de 
Conservação que, somadas, representam 48% do território do estado. 
 Na década de setenta, com o aumento do preço do petróleo, o governo opta pela 
construção de uma usina hidrelétrica capaz de suprir Suan e substituir termoelétricas. A 
nova usina, chamada Trono de Ferro, foi construída em meio a floresta de Sanoz, em um 
município chamado Westereos, banhada pelo Rio Boca Grande. 
 Vários cientistas na época alertaram o governo sobre erros na construção, porém 
foram ignorados e a obra avançou. A responsável pela obra e administração da usina é a 
empresa Cersei, uma concessionária atrelada ao Estado de Sanoz. 
 A construção da usina Trono de Ferro, que tinha por objetivo baratear os custos 
da energia da capital de Sanoz e regiões, acabou por se tornar um dos projetos ais 
criticados, uma vez que a usina tem uma capacidade 4 vezes inferior ao que deveria 
apresentar, além de ter causado a destruição da mata local, invadido o cemitério indígena 
da tribo Povo Livre, terras de caça dos mesmos e da população de Westereos. A água 
apresenta forte acidez devido as árvores não terem sido removidas antes da inundação 
pela barragem, pois tal fato traria mais custos e atraso na obra, além de emitir três 
toneladas de carbono por hora (dióxido de carbono e metano). 
 O povo ribeirinho, representado pela Associação Dracarys, fez diversos protestos, 
pois foram obrigados a migrar para parte central da cidade de Westereos, tendo que deixar 
costumes milenares de lado. 
 Em contrapartida, a cidade de Westeros, que fica localizada aos pés da usina 
apresentou um desenvolvimento econômico forte. Com a ida de engenheiros da empresa 
Cersei para desenvolver e monitor a usina, a empresa passou a construir escolas em tempo 
integral, as quais poderiam ser frequentadas inclusive pela comunidade, foi construído 
um hospital com todos os principais tipos de atendimento e máquinas para urgências, 
emergências e internação. 
 Bimestralmente existe um treinamento de evacuação da cidade em caso de 
acidente com a usina, porém apenas em português, o que não contempla os povos 
indígenas da região. 
 O Estado de Sanoz possui um clima tropical e um alto índice pluviométrico. 
Recentemente, com o aquecimento global, o nível de chuvas passou a aumentar com 
frequência, tendo os três últimos anos com situações de alagação, uma vez que as 
comportas, usadas para esvaziar a usina, estavam em seu limite máximo. Vale ressaltar 
que, ao abrirem as comportas, a inundação passou a atingir mais um espaço do território 
da tribo Povo Livre, pedaço esse que não causou prejuízos visíveis, pois era uma parte 
não utilizada pelos mesmos. 
 Ocorre que, em março de 2019, o aumento das chuvas continuou, mas de forma 
nunca vista, fazendo com que a empresa tivesse que abrir todas as comportas, inundando 
a aldeia da tribo. A continuação das chuvas e seu permanente aumento acabaram por 
romper a barragem da usina, o que inundou toda a cidade de Westereos. 
 A população da cidade, que morava mais perto da barragem era a dos 
trabalhadores, justamente por serem os mais humildes da cidade e para que a empresa 
economizasse com o transporte dos mesmos. Aproximadamente 6.600 pessoas morreram 
ou estão desaparecidas. 
 A quantidade de água foi tão grande e a força violenta, que o rompimento destruiu 
a cidade em minutos, causando um rio de lama e destroços, cuja água era ácida e que 
poderia causar danos à saúde. 
 O solo de Westereos é muito arenoso, o que facilitou, mediante o impacto da água 
após o rompimento da barragem, a entrada da água ácida nos lençóis freáticos de Pedra 
do Dragão, município ao lado de Westereos. A população de lá passa a apresentar 
diversos problemas de saúde em virtude da ingestão da água, tendo morrido 3 idosos e 
dez crianças, que moravam na zona rural e utilizavam a captação de água dos lençóis 
freáticos. 
 A empresa Cersei acionou o alarme de evacuação apenas quando percebeu que o 
nível da barragem continuava aumentando, mesmo com todas as comportas abertas. Em 
cinco minutos a barragem rompeu e o estrago foi feito. 
 A empresa trouxe médicos da capital de Sanoz no mesmo dia e diversos 
municípios do entorno forneceram bombeiros e voluntários para realizar o resgate dos 
sobreviventes e dos corpos. Contudo, a aldeia indígena não sabia do que se tratava o som 
e não evacuou as terras, tendo morrido quase metade dos homens, que estavam caçando 
na hora do ocorrido. 
 O município de Pedra do Dragão sentiu os efeitos através da poluição dos solos e 
água da zona rural, mas a cidade não foi afetada. Vale ressaltar que o município de Pedra 
do Dragão não indenizou nenhuma família que teve seu solo contaminado, mesmo tendo 
participação da construção da usina Trono de Ferro, já que seria uma das beneficiadas 
pela energia ˜mais barata˜. 
 Lembrando-se da história de mulheres guerreiras, montadas a cavalo e que 
defendiam seu território, a Associação de Mulheres Indígenas e Ribeirinhas passou a ser 
chamada de “As Amazonas”, e iniciaram um processo de coleta de provas sobre as 
irregularidades praticadas pela empresa Cersei, já que tinham catalogado, desde o início 
da construção da usina, todos os impactos à natureza e aos povos afetados. A associação 
sempre foi conhecida pelo trabalho com os povos indígenas e tradicionais, inclusive com 
projetos de revitalização de áreas afetadas pela barragem e manutenção de rituais para a 
não perda de sua cultura. 
Juntamente com elas, a Associação Rainhas dos Dragões, formada pelas 
pesquisadoras que denunciavam as violações ambientais, dentre elas antropólogas, 
engenheiras, biólogas e bioquímicas, fazia estudos sobre o impacto ambiental e sócio-
econômico da barragem, mas suas inúmeras denúncias eram sempre minimizadas em 
reuniões com o Secretário Municipal de Meio Ambiente e prefeitura de Westereos. 
Inobstante, o governo de Sanoz também não dava prosseguimento às denúncias 
enviadas pelas suas associações, restando a maioria arquivada. 
O Ministério Público Federal, então, vendo todo o cenário de calamidade dos dois 
municípios e da tribo indígena, resolve ingressar com uma Ação Civil Pública, na qual 
foram acionados: Governo do Estado de Sanoz, Prefeiturade Westereos, Prefeitura de 
Pedra do Dragão e a empresa Cersei, juntamente com a empresa Jamie, que é acionista e 
forneceu parte dos recursos para a construção da usina. 
As duas associações “As Amazonas” e “Rainhas dos Dragões” habilitaram-se 
como amicus curiae no processo, que passará a ser julgado pelo Tribunal Regional 
Federal.

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