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Gestão da Responsabilidade Social e Ambiental W BA 01 50 _V 1. 2 2/218 Gestão da Responsabilidade Social e Ambiental Autor: Diego Correia Como citar este documento: CORREIA, Diego. Gestão da Responsabilidade Social e Ambiental. Valinhos: Anhanguera Educacional, 2015. Sumário Apresentação da Disciplina 04 Unidade 1: Responsabilidade Corporativa 06 Assista suas aulas 25 Unidade 2: Produção mais limpa (P+L) 33 Assista suas aulas 53 Unidade 3: Cultura Organizacional 61 Assista suas aulas 81 Unidade 4: Planejamento e Gestão Empresarial: o Uso da Educação Ambiental (EA) no Estimulo à Responsabilidade 89 Assista suas aulas 109 2/218 3/2183 Unidade 5: Avaliação de Impacto Ambiental e seu Papel na Gestão de Empreendimentos 117 Assista suas aulas 137 Unidade 6: Ecoeficiência em Serviços 145 Assista suas aulas 160 Unidade 7: Ecodesign, Avaliação de Ciclo de Vida e Rotulagem AmbienSal 168 Assista suas aulas 187 Unidade 8: Marketing Ambiental 195 Assista suas aulas 210 Sumário Gestão da Responsabilidade Social e Ambiental Autor: Diego Correia Como citar este documento: CORREIA, Diego. Gestão da Responsabilidade Social e Ambiental. Valinhos: Anhanguera Educacional, 2015. 4/218 Apresentação da Disciplina Em tempos de Globalização, as expectativas sobre o papel das organizações estão mudando. Hoje, o desempenho de uma empresa é avaliado não apenas pela sua lucratividade, valor de mercado ou inovação, mas também sobre a forma como ela se relaciona com os aspectos econômicos, culturais, sociais e ambientais na sua área de influência. As ações estratégias que as empresas desenvolvem ao considerar a abrangência de suas ações nesses campos estão contidas dentro do escopo conhecido como Responsabilidade Social Corporativa (RSC). Trata-se de um conceito amplo, correlacionado a uma rede de interesses e de fatores, que se vincula diferentemente a depender dos diferentes contextos políticos, sociais e econômicos, a partir de uma série de estratégias e ferramentas de articulação e de gestão. Por meio dos oito temas propostos para o estudo, esperamos que você possa: • Identificar os benefícios e desafios de um posicionamento empresarial proativo sob a égide da responsabilidade social e ambiental; • Aplicar modelos conceituais, a fim de melhorar a compreensão sobre os impactos diretos das políticas corporativas, e a resolução de problemas; • Reconhecer e conciliar as demandas conflitantes de políticas corporativas 5/218 e interesses das partes interessadas a partir da elaboração de um plano estratégico; • Prever o impacto positivo e negativo de políticas e ações de forma a reduzir o risco corporativo; • Demonstrar o valor da Responsabilidade Empresarial, a fim de melhor informar a tomada de decisão, e valorizar a imagem da empresa. De forma geral, pretendemos que essa disciplina possa auxiliá-lo com conhecimentos e habilidades necessárias para ajudá-lo a formular e gerir uma agenda socialmente responsável. Em particular, pretendemos que você consolide uma compreensão abrangente das influências sobre os impactos sociais e ambientais do processo de produção de uma empresa, e adquira subsídios teóricos-metodológicos sobre a gestão de impactos e demandas, dentro de uma perspectiva de proatividade e liderança ética. Nós vamos ajudá-lo a alcançar esse objetivo este através da exposição de oito temas diferentes, porém, associados com a proposta da RSC. Estes incluem estudos de negócios, estudos culturais, economia, engenharia, ciência política, metodologia de pesquisa e sociologia. 6/218 Unidade 1 Responsabilidade Corporativa Objetivos 1. Avaliar criticamente o atual contexto de negócios, e os esforços na elaboração de um plano empresarial de atuação responsável. 2. Identificar os investimentos necessários para a melhora da capacidade da organização em se vincular e se comprometer com as demandas sociais, ambientais e econômicas de seus stakeholders. 3. Melhorar a capacidade de comunicação e diálogo, com o objetivo de criar relações produtivas positivas com as partes interessadas e compartilhar valores. Unidade 1 • Responsabilidade Corporativa7/218 Introdução Atualmente diferentes áreas do conhecimento têm se dedicado a estudos e pesquisas sobre aquilo que chamamos de crise ambiental (ou crise socioambiental). Entre outras conceituações, podemos dizer que a crise socioambiental é um fenômeno global, resultado da conjunção de várias perturbações que revelam uma condição extrema que nosso meio ambiente vive, tendo a sua capacidade de suporte no limite, com potencial de ameaça às espécies e aos ecossistemas existentes. Entre essas perturbações, talvez a mais visível seja a poluição, que nada mais é do que a “alteração indesejável das características físicas, químicas e biológicas da biosfera” (ODUM, 2004, p. 475). Ela é causada principalmente pela produção e lançamento de resíduos sólidos, líquidos e gasosos, em quantidade suficiente para alterar a qualidade do ambiente. Toda essa problemática está relacionada ao aumento da população humana e a forma que ela produz, consome e rejeita determinados materiais. Nesse sentido, é importante relembrar um importante pressuposto da Lei da Conservação de Massas, desenvolvido pelo pai da Química Moderna, Antoine Lavoisier, que afirma: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Outro postulado científico bastante importante é a segunda lei da termodinâmica, que observa que as “transformações de energia se realizam Unidade 1 • Responsabilidade Corporativa8/218 das mais nobres para as menos nobres, com aumento da entropia”, ou seja, a degradação processual da matéria. Tendo como pressuposto os referidos postulados, podemos afirmar que a transformação da matéria exige o dispêndio de recursos nobres convertidos em energia. A utilização de recursos naturais e de energia resulta no acúmulo de rejeitos que não desaparecem, e que são menos significativos em termos de potencial de uso. Ainda, a energia residual (calor) liberada na natureza pode facilitar o fenômeno conhecido como “efeito estufa”, um dos contribuintes para aquilo que alguns cientistas vêm chamando de aquecimento global. Para saber mais Dentro do atual contexto socioambiental, sabe-se que as corporações, sobretudo as industriais, são os principais produtores e emissores de diferentes tipos de poluentes. Bem como outras áreas do conhecimento, a Filosofia também nos ajuda a refletir a respeito do nosso posicionamento ético em relação ao mundo e aos outros, sobretudo em situações de crise. Um canal da plataforma YouTube, chamado “Saber Filosófico”, hospeda uma série de palestras com renomados filósofos brasileiros, tais como Mário Sérgio Cortella, Clóvis de Barros Filho, Leandro Karnal, entre outros. Vale a pena conhecer um pouco mais, através do link a seguir: <https://www.youtube.com/channel/ UCWdXgfpEIZIGzah9_yCL-Xw>. Unidade 1 • Responsabilidade Corporativa9/218 1. A Responsabilidade Social Corporativa (RSC) Na página virtual do Instituto Ethos, encontramos a seguinte definição sobre as características e os objetivos da responsabilidade social corporativa (ou empresarial): [...] deve estar diretamente ligada aos valores da companhia e o direcionamento a ela deve estar claro para os empregados, fornecedores e consumidores/clientes, bem como para a própria comunidade e para o governo. Engana-se aquela empresa que enxerga sua responsabilidade como limitada apenas às suas ações diretas. E isso vale também para o governante e para o cidadão comum. Adotar uma gestão socialmente responsávelimplica, necessariamente, atuar buscando trazer benefícios para a sociedade, propiciar a realização profissional dos empregados e promover benefícios para os parceiros e para o meio ambiente, sem deixar de lado o retorno para os investidores. Unidade 1 • Responsabilidade Corporativa10/218 Nesse sentido, a troca e o aprendizado permanentes são tão importantes para a empresa quanto as reflexões internas [...] o diálogo criado a partir daí pode dar as condições necessárias para a legitimação de diferentes atores – mais influentes nesse novo modelo de gestão participativa –, bem como para a definição de metas claras e a promoção do comprometimento das partes para uma mudança efetiva de foco, do momento atual para o futuro (INSTITUTO ETHOS, s/d, p. 1). Para saber mais O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma Oscip cuja missão é “mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade justa e sustentável”. O seu website disponibiliza uma série de materiais, notícias e relatos de experiência que podem servir de inspiração e fonte de pesquisa para a sua própria iniciativa. Saiba mais em: <http://www3.ethos.org.br/>. Unidade 1 • Responsabilidade Corporativa11/218 Trata-se de uma definição interessante, pois destaca a necessidade da ampliação do papel e dos objetivos da empresa − isto é, um investimento financeiro e humano que está além do objetivo tradicional de “lucro”, e que não se limita ao ajustamento de restrições normativas ou regulamentares. É uma iniciativa voluntária que busca beneficiar, de forma direta ou indireta, a coletividade. Entre outros exemplos, é possível citar o investimento em equipamentos que reduzem as emissões de gases de efeito estufa, a melhoria das condições de trabalho, o apoio público à defesa dos direitos humanos em localidades de alta fragilidade institucional, entre outros. Nesse sentido, a Responsabilidade Social Corporativa é um compromisso de integrar práticas socialmente responsáveis nas operações de negócios. Entre outros aspectos, é uma maneira para que uma empresa possa alcançar um equilíbrio de imperativos econômicos, sociais e ambientais, que também atende as expectativas das partes interessadas na atuação da empresa (stakeholders). Ou seja, um ativo “de impulsão” que beneficia toda a sociedade, e tem um potencial de atrair clientes, satisfazer acionistas e motivar os funcionários. A teoria dos stakeholders, ou teoria das partes interessadas, defende que há um contrato implícito entre a empresa e a sociedade. Se a empresa quebra esse Unidade 1 • Responsabilidade Corporativa12/218 contrato, perde sua legitimidade. Por conseguinte, a empresa deve gerir suas relações com as partes interessadas, ou seja, todos aqueles que podem afetar ou ser afetados pelas atividades da empresa. Assim, agora segue responsável por todos os seus stakeholders. Para os teóricos dos stakeholders, as pessoas e os trabalhadores passam a ser reconhecidos como um dos agentes interessados. Apesar de não fazerem nenhum tipo de investimento em capital humano, financeiro, ou qualquer outro valor na empresa, não colocadas em risco, como resultado das atividades da empresa. Nesse sentido, segundo Starik (1994), o meio ambiente é uma das partes interessadas ainda que quem falará pelo seu nome, qual o seu poder de influência e legitimidade posam não estar claras. De acordo com essa teoria, podemos distinguir quatro níveis de responsabilidade social das empresas: econômica, jurídica, ética e discricionária (CARMO, 2010). A responsabilidade econômica é produzir produtos e serviços confiáveis, proporcionar empregos, gerar dividendos para os acionistas, e utilizar tecnologias de baixa emissão, de modo que reflita em custos nos preços finais. A responsabilidade legal é a obediência às leis e aos regulamentos. Também, é possível tirar proveito das obrigações regulamentares para inovar em produtos e tecnologias. Unidade 1 • Responsabilidade Corporativa13/218 A responsabilidade ética é seguir os princípios éticos fundamentais e, por exemplo, fornecer informações completas e precisas, além das exigências legais. A responsabilidade discricionária, por sua vez, ultrapassa os limites das obrigações legais, assumindo o papel de “bom cidadão corporativo”, através, por exemplo, de ações filantrópicas. Porém, esse conceito esconde uma variedade de práticas e áreas de atuação, normalmente agrupadas em três dimensões: a ambiental, a social e a de governança. A dimensão ambiental se refere à incorporação de tecnologias, adoção de design, prevenção e controle da poluição advindos da produção e distribuição, proteção dos recursos hídricos, conservação da biodiversidade, gestão de resíduos, gestão da poluição local, e outros. A dimensão social se refere a práticas inovadoras em gestão de recursos humanos (formação e gestão de carreira, participação dos trabalhadores, qualidade das condições de trabalho), e também podem incluir contribuições para as causas de interesse local ou global, como: o respeito pelos direitos humanos, ou o apoio da eliminação do trabalho infantil. E, finalmente, a dimensão de governança, que incide sobre práticas de transparência da gestão, garantindo a independência e as competências dos diretores, a clareza sobre a remuneração de executivos, e outros. A transparência pode ser estendida também Unidade 1 • Responsabilidade Corporativa14/218 na relação com clientes e fornecedores. Uma relação mais próxima (para evitar os conflitos de interesse e as práticas de corrupção, a insegurança do produto, divulgação de boas práticas de produção, e outros). 2. Por que Investir nesse Propósito? Primeiramente, adotar uma postura de responsabilidade social projeta uma imagem de um compromisso ético na relação construída com a sociedade. Esses esforços imbuem a ideia de prosperidade e qualidade dos produtos e serviços da empresa, e proporciona um crescente reconhecimento e valorização por parte da comunidade de negócios e da opinião pública. Para a empresa, a instituição de uma postura de RSC é boa porque inclui (BERTONCELLO; CHANG JÚNIOR, 2007; FERREIRA; ÁVILA; FARIA, 2010; PESSOA et al., 2009): Para saber mais Nesse sentido, a Teoria de Sistemas das Organizações (termo emprestado da Física), pode nos ajudar a refletir sobre nosso lugar (e da empresa) no mundo. Façam uma pesquisa sobre o assunto. Um primeiro passo pode ser dado através do link abaixo: <https://www. pucpcaldas.br/graduacao/administracao/ revista/artigos/esp1_8cbs/15.pdf>. Unidade 1 • Responsabilidade Corporativa15/218 • A oportunidade de melhorar o envolvimento do cliente com a empresa. • A oportunidade de melhorar o envolvimento dos funcionários com a empresa. • A RSC fornece a oportunidade de uma maior interação com a comunidade local e, assim, melhorar a reputação da empresa, o que pode ter resultados positivos em termos de contratação de bons talentos da comunidade. • A oportunidade para diferenciação da marca. • A economia de custos através da eficiência – redução de custos acumulados através da eficiência energética, redução de uso de materiais e reciclagem de resíduos. A relação com os clientes é também beneficiada, visto que: • Os clientes desejam se posicionar como responsáveis por transformações positivas e, como resultado, têm interesse de se relacionar com empresas com comprovado histórico de responsabilidade social. • A cidadania corporativa permite que a empresa encontre meios de envolver os seus clientes, de formamais profunda, com outras bandeiras, relativamente desvinculados dos produtos e serviços comercializados. Unidade 1 • Responsabilidade Corporativa16/218 • Cria a oportunidade de construir um programa de comunicação mais efetiva entre a empresa e o cliente, facilitando a fidelização dos mesmos. E, enfim, o envolvimento dos funcionários com o projeto permite: • Programas abrangentes de recursos humanos que irão auxiliar o processo de contratação e retenção de talentos. • Gerar no funcionário o sentimento de orgulho em participar de uma iniciativa que está além da lógica da venda e do lucro. • Uma oportunidade de envolvimento coletivo e integrado entre funcionários, inclusive entre aqueles de diferentes linhas de produção, melhorando a habilidade de trabalho em equipe. 3. Como Implantar um Plano Estratégico de Responsabilidade Corporativa? 3.1 Diagnóstico A construção de um plano estratégico de responsabilidade corporativa exige um diagnóstico prévio sobre o contexto no qual a empresa pretende atuar e, posteriormente, um acompanhamento que permita a produção de relatórios anuais sobre os impactos sociais e ambientais (BERTONCELLO; CHANG JÚNIOR, 2007; Unidade 1 • Responsabilidade Corporativa17/218 FERREIRA; ÁVILA; FARIA, 2010; PESSOA et al., 2009). Abaixo, seguem alguns importantes dados para apuração: Os indicadores sociais: • A capacitação dos funcionários (tipo e tempo de formação). • Pesquisas junto aos funcionários sobre satisfação, reconhecimento, e percepção sobre os objetivos e estratégias de cada linha de produção. A percepção sobre a empresa, a marca, a gestão, o plano de carreiras, entre outras considerações sobre o desenvolvimento de talentos. • Percepção sobre autonomia de trabalho e espaços para sugestões e/ ou críticas. • Avaliação da saúde do empregado, sua segurança e bem-estar. Nesse sentido, inclui-se aspectos como atividades desportivas e de lazer, flexibilidade, avaliação dos benefícios dados pela empresa, entre outros. Os indicadores ambientais: • O consumo de eletricidade para iluminação, aquecimento e refrigeração. • A utilização de materiais de consumo, tais como papel, toner, gasolina, entre outros. • Quantidade de resíduo produzido. Unidade 1 • Responsabilidade Corporativa18/218 Os indicadores culturais e comunitárias: • Áreas de lazer e esporte. • Escolas locais. • Projetos da iniciativa privada e do poder público. • Carências. Governança e ética: • Tipo de negócio e marketing adotado. • Transparência da gestão financeira (auditorias, por exemplo). • Proteção dos dados e da privacidade dos clientes. • Serviços de atendimento ao cliente. 3.2 Estratégia e ação: A estratégia é um passo de planejamento onde são feitas as atribuições de funções, e estabelecidas as metas que devem ser constantemente revisitadas. Nesse momento, alguns passos são sugeridos (BERTONCELLO; CHANG JÚNIOR, 2007; FERREIRA; ÁVILA; FARIA, 2010; PESSOA et al., 2009). 1. Formar uma equipe de RSC integrando membros da área de Recursos Humanos, de instalações, e financeiro. A nomeação de um líder é importante. 2. Eleja ou priorize os indicadores para a realização do diagnóstico. Desenvolva um diagnóstico com Unidade 1 • Responsabilidade Corporativa19/218 dados plausíveis de serem obtidos e acompanhados. 3. Além dos dados quantitativos, obtido, por exemplo, da equipe de instalações e de finanças, estabelecer indicadores com base qualitativa, sobretudo aqueles ligados ao sistema de recursos humanos. 4. Estabeleça metas e proponha metodologias para alcançar cada índice desejado. 5. Realizar uma auditoria independente com os dados do projeto de responsabilidade social periodicamente. Essa pode ser realizada por uma equipe interna ou independente da empresa. 6. Apresentar os índices e os progressos alcançados ao público interessado (gestores, acionistas, funcionários, entre outros). 7. Uma consultoria independente, especialista no assunto, pode auxiliar nessa empreitada. Para saber mais Para saber mais sobre a concepção e as principais características da Responsabilidade Social Corporativa, leia as seções introdutórias do artigo A Efetividade dos Estrategistas da Responsabilidade Social Empresarial, de autoria de Ometto, Bulgacov e May (2015), disponível em: <http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984- 92302015000300423&lang=pt>. Unidade 1 • Responsabilidade Corporativa20/218 Glossário Impactos diretos: termo utilizado para definir os efeitos ambientais e sociais resultados diretos do funcionamento de uma empresa (emissão de poluentes, geração de empregos, alteração paisagística, entre outros) (EMBRAPA, s/d). Governança: importante aspecto da estratégia de desenvolvimento sustentável, é o conjunto de regras e de processos que regulam a gestão de uma organização (DIGITRO, s/d). Stakeholder: indivíduo, grupo ou organização suscetível de ser afetado, direta ou indiretamente, por uma atividade, programa, ou arranjo de uma empresa. Inclui todos os grupos que estão diretamente envolvidos com as atividades de uma empresa (empregados, clientes, fornecedores, acionistas), os que acompanham (ONGs e sindicatos) e os que são impactados diretamente com as atividades (meio ambiente, comunidade de vizinhança, entre outros) (DIGITRO, s/d). Questão reflexão ? para 21/218 Atualmente, não é possível que as empresas se sintam desconectadas de outros agentes e do contexto que convive. Problemas sociais e ambientes de seu entorno acabam se convertendo em situações de insustentabilidade para a própria empresa. Compreendendo que há uma necessidade de mudança de valores em termos de posicionamento e responsabilidade empresarial, e pela escassez de um plano, são propostas aqui algumas questões: Quais são os termos e os desafios da adoção de uma postura proativa e responsável socialmente? Quais papéis ela pode desempenhar? Quais as responsabilidades das empresas diante desse contexto de insustentabilidade ambiental? Como estruturar um modelo de negócios que seja, ao mesmo tempo, responsável e agregador de valor? 22/218 Considerações Finais A reponsabilidade social corporativa (RSC) é uma forma de autorregulação das empresas, integrada a um modelo de negócio. A proposta da RSC vai além da conformidade e respeito às normas e regras, e tem o intuito de promover algum bem social, para além dos interesses de lucros da empresa. Um plano estratégico de RSC deve conter objetivos de benefícios ao meio ambiente e às partes interessadas, incluindo os consumidores, colaboradores, investidores, comunidades, entre outros. A empresa tem muito a ganhar com a adoção de práticas de responsabilidade social, tanto em termos de reputação e ganhos de valor, quanto de envolvimento de seus funcionários nas práticas de negócios desenvolvidas. Cada contexto ou tipo de negócio demanda um tipo de atuação particular. Dessa forma, não há fórmulas prontas, e um diagnóstico prévio é necessário. Esse documento deve conter indicadores sociais, ambientais, culturais e de governança, e, a partir desses dados, montar um plano estratégico que contenha dados mensuráveis para acompanhamento processual, e metas. Uma consultoria pode ser contratada para auxiliar a empresa nesse processo. Unidade 1 • Responsabilidade Corporativa23/218 Referências BERTONCELLO, S. L. T.; CHANG JÚNIOR, J. A importância da Responsabilidade Social Corporativa como fator de diferenciação. FACOM, n. 17, 2007. p. 70-76. Disponível em: <http://www.faap. br/revista_faap/revista_facom/facom_17/silvio.pdf>. Acesso em: mar. 2016. CARMO, P. Governança e Responsabilidade Social Corporativa(RSC). Ti especialistas: desenvolvimento ideias. 2010. Disponível em: <http://www.tiespecialistas.com.br/2010/11/ governanca-e-responsabilidade-social-corporativa-rsc/>. Acesso em: 3 jan. 2016. CLARKSON, M. B. E. Corporate Social Performance in Canada. In: PRESTON, L. E. (ed.). Research in Corporate Social Performance and Policy, Greenwich. CT: JAI Pres., v.10, p. 241-265, 1988. ______. A stakeholder framework for analyzing and evaluating corporate social performance. Academy of Management Review. Ada, v. 20, n. 1, p. 92-117, 1995. DIGITRO. Glossário. s/d. Disponível em: <http://www.digitro.com/pt/index.php/sala-imprensa/ glossario>. Acesso em: 18 fev. 2016. EMBRAPA. Glossário Ambiental. s/d. Disponível em: <http://www.biodiversidade.cnpm. embrapa.br/glossario>. Acesso em 15 jan. 2016. INSTITUTO ETHOS. Valores, transparência e Governança. s/d. Disponível em: <http://www3. ethos.org.br/conteudo/gestao-socialmente-responsavel/valores-transparencia-e-governanca/#. Vso3NPIrLIU>. Acesso em: 15 fev. 2016. Unidade 1 • Responsabilidade Corporativa24/218 FENKER, E. Gestão Corporativa Socioambiental: uma visão sistêmica. Disponível em: <http:// noticias.ambientebrasil.com.br/artigos/2008/04/17/37621-gestao-corporativa-socioambiental- uma-visao-sistemica.html>. 2008. Acesso em: 21 dez. 2015. FERREIRA, D. A.; ÁVILA, M. FARIA, M. D. Efeitos da responsabilidade social corporativa na intenção de compra e no benefício percebido pelo consumidor: um estudo experimental. Revista de Administração da Universidade de São Paulo, p. 285-296, 2010. MORIN, E. Introdução do pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina, 2005. ODUM, E. P. Fundamentos de Ecologia. 7. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004. OMETTO, M. P., BULGACOV, S., MAY, M. R. Organizações & Sociedade, v. 22, n. 74, p. 423-442, 2015. PESSOA, R. W. A.; NASCIMENTO, L. F.; NEVES, J. A. D.; OLIVEIRA FILHO, G. S. Estratégia e vantagem competitiva da responsabilidade social empresarial. Gestão e Regionalidade, p. 79- 93, 2009. STARIK, M. Reflection on Stakeholder Theory. Business & Society, v. 33, p. 82-131, 1994. 25/218 Assista a suas aulas Aula 1 - Tema: Responsabilidade Corporativa - Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ f0bb05916cbf0f5f9ec74a2a1d4f3e0d>. Aula 1 - Tema: Responsabilidade Corporativa - Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/pA- piv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/d4a- ce57e86c49c43ef497f58263e5823>. 26/218 1. Sobre a crise socioambiental, é INCORRETO AFIRMAR: a) Chama a atenção o alto índice de poluição, derivado, sobretudo, das atividades produtivas e econômicas. b) Tem caráter global. c) É multifacetado, pois abrange diferentes contextos, de diferentes formas. d) Apresenta-se como ameaça real à vida na Terra. e) É tema de interesse apenas de disciplinas ligadas às ciências biológicas, florestais e geográficas. Questão 1 27/218 2. Quanto à Responsabilidade Social Corporativa, é CORRETO afirmar: a) Deve estar ligado aos sistemas de valores de uma empresa. b) A lucratividade é um fator preponderante a ser contemplado na avaliação das ações de responsabilidade social. c) Amplia o papel da empresa no seu conjunto de relações. d) É um aspecto de interesse de acionistas e demais investidores. e) Todas as opções estão corretas. Questão 2 28/218 3. Carmo (2010) afirma que a Responsabilidade Social Corporativa se firma em quatro níveis. Dos destacados abaixo, qual não é tratado pelo autor: a) A responsabilidade econômica, que, entre outras coisas, trata sobre a promoção do emprego e renda. b) A responsabilidade legal, que tem a ver com o respeito às normas e leis. c) A responsabilidade educacional, incutida no ideal de que a empresa tem responsabilidade na educação sobre consumo, finanças e outros. d) A responsabilidade ética, que, entre outras coisas, prega a transparência sobre o processo de produção. e) A responsabilidade discricionária, que solicita uma maior solidariedade empresarial, sobretudo em casos considerados emergenciais. Questão 3 29/218 4. A postura de responsabilidade social corporativa consolida algumas vantagens, exceto: a) Melhora a relação do cliente com a empresa. b) Melhora a reputação da empresa junto à comunidade do entorno da área de produção. c) Valoriza a marca da empresa. d) Reduz custos por diminuir o número de funções da empresa. e) Todas as opções estão corretas. Questão 4 30/218 5. Considerando um planejamento estratégico de Responsabilidade Social Corporativa, é CORRETO AFIRMAR: a) Há uma melhora de desempenho dos funcionários, visto que são relegados a estes a única função de melhorar a qualidade da produção e garantir mais lucro. b) Aspectos como o bem-estar dos funcionários devem estar desassociados do plano de negócios da empresa, pois incide num incremento de gastos somados com aqueles direcionados com impostos direcionados para tal. c) Os dados dos clientes devem ser expostos publicamente no intuito de maior transparência das ações empresariais. d) Uma consultoria externa e independente pode ser contratada com fins de auditoria. e) Nenhuma das opções está correta. Questão 5 31/218 Gabarito 1. Resposta: E. A questão socioambiental é tema de interesse e de necessidade de diferentes áreas do conhecimento. Aspectos sociais, culturais, econômicos, físicos, socioespaciais e históricos são relevantes para o entendimento da complexidade socioambiental. 2. Resposta: E. Aspectos como segurança, valorização da marca, inserção no campo político, entre outros, são atributos que devem ser considerados dentro de um plano estratégico em RSC. É sugerido que um plano de ação socioambiental esteja permanentemente interligado ao plano de negócios da empresa. 3. Resposta: C. Carmo (2010) indica quatro níveis de responsabilidade, são eles: responsabilidade econômica, responsabilidade legal, responsabilidade ética e responsabilidade discricionária. Apesar de importante, o nível educacional não é mencionado pelo autor. 4. Resposta: D. A postura de RSC aumenta o número de funções que a empresa atribui a si. Nesse esforço, algumas estratégias podem 32/218 incidir num menor custo global para o seu funcionamento, porém, não tem a ver com a diminuição de objetivos e papéis. 5. Resposta: D. Uma auditoria independente permite uma maior relação de transparência da ação da empresa junto aos seus stakeholders. Além disso, possibilita processos de avaliação contínuos e uma revisão ampla de todo o planejamento estratégico da empresa. 33/218 Unidade 2 Produção mais limpa (P+L) Objetivos 1. Fornecer conhecimentos teóricos e aplicados e compreensão de estratégias e tecnologias para uma produção industrial mais limpa. 2. Apresentar os prerrequisitos para uma gestão mais eficaz, tendo como pressuposto a estratégia P+L. 3. Propor e motivar estratégias e ações para diferentes problemas ambientais presentes nas cadeias produtivas Unidade 2 • Produção mais limpa (P+L)34/218 Introdução De maneira geral, todas as atividades produtivas causam algum efeito sobre o meio ambiente. Porém, a adoção do modelo de produção em larga escala após a Revolução Industrial, induziu que, por muito tempo, não fosse dada a devida atenção aos impactos ambientais significativos causados pelas atividades econômicas. A partir da década de 1960, em virtude das denúncias de movimentos sociais, dos alertas de grupos científicos, e da exposição de grandes catástrofes ambientais pela mídia, a sociedade passou a exigir normatizações e técnicas que garantissem padrõesambientais menos impactantes. Ao mesmo tempo, alguns segmentos industriais se convenceram dos benefícios do investimento na modificação de seus processos de produção, sobretudo pela economia de matéria-prima e consumo de energia. Vale destacar que o tipo e a intensidade dos impactos ambientais variam conforme a tecnologia específica utilizada, a localização geográfica, e uma série de outros fatores. Ao compreender o processo histórico, os problemas atuais e potenciais ambientais associados a cada processo produtivo, podemos tomar medidas para evitar ou minimizar os danos sem menosprezar a importância das atividades econômicas. O conceito de “Produção Mais Limpa” (P+L) foi cunhado em 1988, dentro das atividades do Programa das Nações Unidas Unidade 2 • Produção mais limpa (P+L)35/218 para o Meio Ambiente, como sendo uma “[...] aplicação contínua de uma estratégia ambiental preventiva, aplicada a processos, produtos e serviços, com o intuito de aumentar a eficiência global e reduzir os riscos para a saúde dos seres humanos e ao meio ambiente” (ALVES; OLIVEIRA, 2007, p. 131-132). Especificamente, trata-se de uma concepção de cadeia produtiva que visa otimizar o emprego de matérias-primas de modo a eliminar ou minimizar ao máximo a geração de resíduos, reduzindo assim, os impactos ambientais e trazendo benefícios econômicos para a empresa devido ao aumento da eficiência do processo. Nesse sentido, busca a gestão sustentável dos resíduos sólidos, tendo como referência os princípios dos “3 (três) Rs” (Reduzir, Reutilizar, Reciclar) (GASPAR; SPERANDIO, 2009). Link Os 3 Rs são propostas de ações práticas no intuito de estabelecer relações mais sustentáveis de consumo. Segundo esse princípio, é possível diminuir o custo de vida, além de facilitar o desenvolvimento econômico com maior respeito e proteção ao meio ambiente. <http://www.mma.gov.br/component/k2/ item/7589?Itemid=849>. O P+L pode ser adotado em todos os níveis de tomada de decisão. Inova pela adoção de tecnologias e técnicas mais limpas, Unidade 2 • Produção mais limpa (P+L)36/218 de forma a ser aplicada a diversas atividades, tais como: serviços, indústria, infraestrutura, habitação, hotelaria, independentemente do porte da organização, seja um grande parque petroquímico ou uma pequena empresa de prestação de serviços. Os tradicionais procedimentos de controle de poluição, focalizados no controle de rejeito de resíduos, são substituídos por uma estratégia que reduz e evita a poluição e o desperdício em todas as etapas de produção. Nesse sentido, o primeiro aspecto a ser refletido é a respeito do design do produto (tipos de materiais e suas qualidades, complexidade e outros) para, em seguida, propor mecanismos para o uso eficiente de matérias-primas, água e energia (HINZ; VALENTINA; FRANCO, 2006; BARROS, et al., 2012). Um bom início é propor soluções de minimização de impacto dentro do ambiente interno de trabalho, tal como os exemplos ilustrados no Quadro 1, a seguir: Quadro 1 – Exemplos de Ação para a minimização da produção de resíduos Ação Exemplo Redução do uso de matérias-primas e de energia Tecnologias e técnicas que façam um uso mais eficiente de material e energia (menos para mais) Uso excessivo de copos plásticos Distribuição de garrafas e/ou canecas para os funcionários Unidade 2 • Produção mais limpa (P+L)37/218 Ação Exemplo Redução do uso de água e energia em hospitais Escolha de chuveiros, torneiras e outras instalações que minimizem o desperdício; trocas de lâmpadas Redução do uso de energia utilizada pelo ar- condicionado Levantar a possibilidade de utilização de teto/ parede verde; plantio de árvores no entorno Fonte: O autor Perceba através dos exemplos acima que a Produção Mais Limpa enfatiza tanto a diminuição do uso de energia, quanto a melhoria da eficiência dos recursos em matéria de organização, materiais e melhores práticas. O P+L resulta em benefício para todas as partes, pois protege o meio ambiente, o consumidor e o trabalhador, melhorando a eficiência industrial, a lucratividade e, consequentemente, a competitividade. 1. Os Principais Objetivos e Desafios da P+L Como anotado anteriormente, a proposta de P+L é uma estratégia caracterizada pela permanente averiguação do desempenho e busca por melhorias. Quanto ao uso de recursos, algumas ações são primordiais: Unidade 2 • Produção mais limpa (P+L)38/218 • Buscar o valor de referência 0 (zero) de produção de resíduos, tomando como base a análise do processo de entrada – processo – saída das matérias primeiras utilizadas. • Identificar e quantificar as oportunidades para reduzir, reutilizar e reciclar recursos. • Realizar avaliações sistemáticas da Cadeia de Produção (CP), tendo como base metas e comparação em termos de ganhos e perdas após a adoção do modelo P+L. No entanto, alterar uma cultura organizacional muitas vezes se revela ser um desafio bastante significativo. Porém, quando o projeto se sustenta numa proposta de responsabilidade social e/ou sustentabilidade socioambiental, percebe-se uma maior abertura na adoção de um senso e um compromisso coletivo. Quando adotado pelos diferentes agentes interessados (stakeholders), a própria cadeia produtiva acaba por contribuir ondas de inovação que vão além dos limites imediatos de desempenho (GASI; FERREIRA apud VILELA JÚNIOR; DEMAJOROVIC, 2006; FONSECA et al., 2013). Dessa forma, as empresas devem inicialmente focar em estratégias de sustentabilidade interna. Este é o lugar onde é possível obter um maior controle, resultados mais rápidos, e benefícios diretos. O passo seguinte é examinar o fluxo total dos recursos utilizados em Unidade 2 • Produção mais limpa (P+L)39/218 toda a cadeia da atividade econômica da qual participam, observando assim os resultados de impactos diretos e indiretos causados pela sua operação. Essas atividades “integradas” agregam todas as organizações que fornecem produtos, materiais ou serviços, bem como outras que são intermediários, até o consumidor final. Quando uma empresa adota a postura P+L pode estimular seus fornecedores a melhorar o seu desempenho dentro da cadeia produtiva (GASI; FERREIRA apud VILELA JÚNIOR; DEMAJOROVIC, 2006; FONSECA et al., 2013). A expansão da iniciativa P+L demanda esforços substanciais na coleta de dados, análise, normalização e relatórios globais. Nessa etapa, são esperados alguns tipos de resistências. Assim, para evitar conflitos, é essencial que (1) a empresa já adote e execute um programa de P+L interno, e demonstre seu compromisso e possíveis ganhos após a iniciativa; e (2) a empresa se comunique com seus fornecedores e clientes, explicando o porquê está solicitando os dados, quais são os compromissos subsequentes, mostrando- lhes os benefícios de seus esforços. Dessa forma, a empresa proativa, líder desse processo, pode/deve oferecer (ou vender) seus conhecimentos sobre eficiência aos seus fornecedores e clientes, no intuito de apoiar a replicação dessas práticas (FONSECA, et al., 2013). Unidade 2 • Produção mais limpa (P+L)40/218 2. Estratégias Possíveis para uma P+L Atualmente, muitas empresas estão melhorando a eficiência energética dos seus produtos e serviços. Como metodologia, estimam a pegada ecológica (total de emissões de carbono de produtos e serviços ao longo de sua vida útil). Entre os principais motivadores, observa- se a pressão de órgãos ambientais e defensorias públicas, a concorrência, o marketing, e busca por maior receita e lucro. Não há uma estratégia ideal e/ou única para a consolidação de um programa P+L efetiva, até porque cada atividade, porte, lugar e público envolvido demandauma ação particular. A única característica comum entre as Cadeias Produtivas eficazes é o envolvimento de todas as unidades operacionais da empresa. Não há a necessidade de uma equipe/consultoria externa para executar o projeto. No intuito de facilitar a integração, geralmente se aproveita o(a)s líder/gestor(es)(a) responsável(is) por cada unidade da empresa, o(s) qual(is) irá(ão) compor uma equipe interfuncional, multinível e matricial, responsável pela execução, acompanhamento e avaliação do projeto. Esse tipo de composição minimiza a possibilidade de “problema do agente principal” ou “dilema da agência”, visto que a empresa busca o sucesso do empreendimento através da construção Unidade 2 • Produção mais limpa (P+L)41/218 de um programa que convida esses agentes a seguir um objetivo comum. Coletivamente, podem ser discutidos contratos, estratégias, metas, faturamento, operações das instalações e investimentos necessários (PRINDLE, 2010). Para saber mais Em entrevista, quando questionado sobre o problema do agente principal, Michael Jensen disse: A TEORIA DA AGÊNCIA explica como as relações humanas inevitavelmente levam a conflitos de interesse. É simples de entender se você for casado, tiver um parceiro, for sócio de alguém... Em qualquer ocasião em que duas pessoas ou mais tentam se engajar em esforços cooperativos, inevitavelmente vai surgir algum conflito. É um fato da vida inerente às relações humanas quando elas exigem cooperação entre as partes. No caso das empresas, em especial nas de capital aberto, isso costuma acontecer entre os executivos responsáveis pela gestão e os acionistas. Tento entender os custos resultantes desses conflitos e como eles podem ser controlados e reduzidos. Há muitos benefícios no esforço cooperativo. A saída é estruturar as relações para que os conflitos sejam mitigados” (GODOY; MARCON, 2006). A maioria dos investimentos em P+L ainda é pequena, ainda mais quando comparados com outras oportunidades corporativas. Ao final, estratégias vencedoras acabam por poupar gastos Unidade 2 • Produção mais limpa (P+L)42/218 e otimizar lucros, gerando repercussão positiva em termos de gestão e de reconhecimento público, podendo ampliar os investimentos nesse tipo de proposta. É indicado que haja um coordenador visível da equipe P+L que tenha como característica a capacidade de liderar/ mediar a construção e execução coletiva de um projeto de cadeia de produção eficaz. Essa equipe deve ser composta por diferentes partes interessadas, incluindo os técnicos da empresa, consultores externos, representantes de chão de fábrica, engenheiros, gestores financeiros e administrativos. A campanha deve criar ferramentas de recompensas, reconhecimento e incentivos para encorajar todos os funcionários para participar na identificação de oportunidades e implementação de mudanças. Essa empreitada deve ser comunicada de maneira clara, enfatizando os benefícios para o trabalhador, para a comunidade, para a empresa e o meio ambiente. Um relatório patrocinado pela Pew Center resume os elementos centrais das melhores estratégias de eficiência corporativa através dos “Sete Hábitos das Empresas Altamente Eficazes” (PRINDLE, 2010). Embora o estudo seja focado em eficiência energética, seus resultados e conclusões podem ser adaptados, de forma geral, para quaisquer cadeias produtivas. Unidade 2 • Produção mais limpa (P+L)43/218 Quadro 2 – Os sete hábitos das empresas Eficazes. 1. A eficiência é uma estratégia central, e não apenas um aparador de custos ou iniciativa pontual. 2. A liderança e suporte organizacional é um processo real e contínuo. Ao menos uma pessoa deve se dedicar integralmente ao planejamento estratégico da corporação. Os funcionários devem ser estimulados e recompensados por propor inovações. 3. A companhia tem metas de eficiência quantificáveis, responsáveis e sustentáveis, com a indicação de previsão de prazos. 4. Estratégia se baseia em um sistema de monitoramento e medição robusto. 5. Organização faz investimentos substanciais no sistema para eficiência. 6. A estratégia de eficiência mostra resultados concretos. 7. Empresa comunica efetivamente os custos e resultados de eficiência energética. Fonte: (PRINDLE, 2010). É preciso salientar que a etapa de coleta e de dados é um passo crítico em qualquer estratégia corporativa. Em muitas organizações, as principais informações da cadeia produtiva, tais como os de energia e água, são tragados em maiores categorias de custo operacional e, portanto, não podem ser vistas como elementos separados. Um programa P+L requer um sistema em que Unidade 2 • Produção mais limpa (P+L)44/218 todas as unidades controlem seus custos e consumos. Com esse fim, é necessário conjunto de unidades padronizadas que facilite a construção de uma base de medição de desempenho consistente. Uma medida de desempenho é considerada útil quando a utilização dos recursos é quantificada por um ou mais fatores que a organização considera fundamental para o desempenho global. Dados de energia, por exemplo, são quantificados em termos de “kWh por X” (pode também ser quilogramas, metro quadrado de área útil, ou unidade de produto, entre outros). Além da quantidade de “produtos” utilizados, os sistemas eficazes devem desenvolver uma linha do tempo sobre o desempenho alcançado antes e após as iniciativas, ou num ano específico. Esse traçado servirá de base na fixação de metas, com o intuito do diagnóstico dos progressos em relação ao objetivo desejado. O relatório de desempenho em relação às metas em ciclos regulares deve ser apresentado, primeiramente, aos agentes executivos com poder de decisão. Em seguida, a lista de verificação orientação operacional deve ser divulgada entre os funcionários dos diferentes níveis, e aberto espaços de apresentação de feedbacks, avaliação e coleta de sugestões para a manutenção ou melhoria de desempenho. Além disso, os líderes das unidades de produção devem saber quem contatar em caso de atrasos em uma instalação, ou Unidade 2 • Produção mais limpa (P+L)45/218 em outra unidade operacional da qual ele depende. É possível observar que os melhores programas de P+L não se restringem ao recolhimento de dados e de informação como um requisito de conformidade, embora eles também achem que um elemento de cumprimento é necessário para obter uma ampla participação, especialmente na fase de elaboração da proposta. Isso facilita a construção de uma cultura organizacional mais ampla e participativa, com vistas à melhoria contínua, usando o sistema de comunicação como ferramenta que envolve e capacita as pessoas a perseguirem a eficiência e as inovações associadas. Link Com uma rápida pesquisa na web conseguimos encontrar uma série de estudos de casos de aplicação da iniciativa de P+L. É interessante observar o seu alcance em diferentes áreas e atividades econômicas. Seguem alguns estudos interessantes: Ecoeficiência e produção mais limpa para a indústria de celulose e papel de eucalipto (por Celso Foekel). Disponível em: <http://www.eucalyptus. com.br/capitulos/PT09_ecoeficiencia.pdf>. Programa de produção mais limpa em indústria de médio porte de laticínios (por Leandro Eric Sessin), em: <https://repositorio.ufsc.br/ handle/123456789/126180>. Unidade 2 • Produção mais limpa (P+L)46/218 Glossário Ciclo de Vida: combinação de processos necessários para um produto cumprir a função especificada pela unidade de produção. As fases do ciclo de vida incluem a produção, o uso e o processamento após o descarte, incluindo o processamento dos resíduos gerados (EMBRAPA, s/d). Ecoeficiência: maximização da qualidade da produção industriala partir dos recursos utilizados, com o intuito de garantir uma produção mais limpa e a utilização adequada de recursos renováveis e não renováveis (EMBRAPA, s/d). Produção Mais Limpa: aplicação contínua de uma estratégia ambiental preventiva e integrada de produção, a fim de reduzir os riscos para os seres humanos e o meio ambiente. Não deve ser confundido com outros termos mais ambíguos, tais como a prevenção da poluição, minimização de resíduos, ou a avaliação ambiental (EMBRAPA, s/d). Questão reflexão ? para 47/218 O conceito de “Produção mais Limpa” criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) reforça o entendimento de que todo processo produtivo resulta em algum tipo de produção de resíduos. No entanto, evidencia também um compromisso por uma abordagem de redução contínua de produção de poluentes, em todas as fases do ciclo de vida do produto. Diante do exposto até aqui, qual o maior desafio para a viabilidade de uma iniciativa de P+L? Você já teve experiência com uma proposta nesse sentido? Caso não haja, pesquise alguns estudos de caso, e trace quais as ferramentas e experiências que mais lhe chamou atenção. Nessa reflexão, é importante que não se confunda o P+L com outras propostas isoladas: como projetos de redução de resíduos, prevenção de poluição, etc. É importante ressaltar que a proposta de produção mais limpa coloca uma forte ênfase na mudança global de atitude. 48/218 Considerações Finais (1/3) A priori, o benefício mais convincente do P+L é a redução dos custos operacionais e melhoria da produtividade de uma empresa. Trata-se de uma justificativa econômica que proporciona melhorias físicas e ambientais de um produto ou processo, e pode agir como um gatilho para a inovação a nível estratégico. Em muitos casos, aumenta o acesso a determinados nichos de mercado, ou impede a sua exclusão. Muitas vezes, ele serve como uma abordagem proativa para futura legislação. Trata-se de um investimento altamente rentável, com rápido retorno, e que amplia a competitividade da empresa a baixo custo e, geralmente, baixo risco. Além disso, o investimento em uma cadeia de produção mais eficiente agrega uma melhor reputação, diante de um mercado cada vez mais exigente, à empresa, aos seus funcionários, aos seus investidores e a outras partes interessadas. 49/218 As inovações geradas pela eficiência também possibilitam oportunidades de elaboração de novas tecnologias e práticas que agreguem novos valores e ofertas aos clientes, gerando um duplo fluxo de benefícios. Porém, barreiras podem surgir da combinação de diferentes fatores, tais como: falta de sensibilização sobre a economia de recursos, relutância no investimento quanto aos custos iniciais, falta de capacidade técnica para identificar mecanismos rentáveis, a percepção do risco sobre a produção de produtos fora das normas/padrões industriais, dificuldade de acesso a financiamento, entre outros. Encontrar os recursos financeiros para a implementação talvez seja a maior dificuldade no avanço de programas de P+L. Diante desse quadro, uma abordagem eficaz é o estabelecimento de metas de eficiência agressivas, tornando-as prioritárias, e forçando as tomadas de decisão a uma redefinição de prioridades de investimento com o intuito de favorecer a eficiência. Considerações Finais (2/3 50/218 Aparentemente, o período de melhor oportunidade para implementar uma produção mais limpa é durante a fase pré-operacional de uma organização, mas também pode ocorrer durante qualquer outro momento, sobretudo quando observado um alto grau de ineficiência. No decorrer dessa disciplina, algumas metodologias e ferramentas serão apresentadas com esse intuito, bem como padrões e certificações, processos de engenharia, e técnicas de desenvolvimento e investigação. Considerações Finais (3/3) Unidade 2 • Produção mais limpa (P+L)51/218 Referências ALVES, S. M.; OLIVEIRA, J. F. G. Adequação ambiental dos processos usinagem utilizando Produção mais Limpa como estratégia de gestão ambiental. Prod. [on-line]. 2007, v. 17, n. 1, p. 129-138. BARROS, D. A.; BORGES, L. A. C.; NASCIMENTO, G. O.; PEREIRA, J. A. A.; REZENDE.; J. L. P.; SILVA, R. A. Breve análise da política de gestão ambiental brasileira. Política & Sociedade, v. 11, n. 22, p. 155-179, 2012. CLAYTON, A.; SPINARDI, G.; WILLIAMS, R. Policies for cleaner technology: a new agenda for government and industry. Earthscan: London, 1999. EMBRAPA. Glossário Ambiental. s/d. Disponível em: <http://www.biodiversidade.cnpm. embrapa.br/glossario>. Acesso em: 15 jan. 2016. FONSECA, R. A.; LIMA, A. B.; REZENDE, J. L. P.; NAZARETH, L. G. C.; SANTIAGO, T. M. O. Produção Mais Limpa: Uma nova estratégia de produção. In: Anais do Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia − SEGET, p. 1-12, 2013. GASI, T. M. T.; FERREIRA, E. Produção mais limpa. In: VILELA JÚNIOR, A.; DEMAJOROVIC, J. (org.). Gestão ambiental: desafios e perspectivas para as organizações. São Paulo: Senac, 2006. cap. 3, p. 45-82. Unidade 2 • Produção mais limpa (P+L)52/218 GASPAR, M. A.; SPERANDIO, S. A. Gestão socioambiental em empresas industriais. Revista de Administração da Universidade Federal de Santa Maria [on-line], 2009. GODOY, P.; MARCON, R. Teoria da agência e os conflitos organizacionais: a influência das transferências e das promoções nos custos de agência em uma instituição bancária. Revista de Administração Mackenzie, v. 7, n. 4, p. 168-210, 2006. HINZ, R. T. P.; VALENTINA, L. V. D.; FRANCO, A. C. Sustentabilidade ambiental das organizações através da produção mais limpa ou pela avaliação do ciclo de vida. Estudos Tecnológicos, v. 2, n. 2, p. 91-98, 2006. PRINDLE, W. From shop floor to top floor: best business practices in energy efficiency. Arlington, VA, EUA: Pew Center, 2010. 53/218 Assista a suas aulas Aula 2 - Tema: Produção mais Limpa – Definição e Objetivos - Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 0c8958363fb2614b0288e40ace47feeb>. Aula 2 - Tema: Produção mais Limpa – Definição e Objetivos - Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- 1d/116ec2db4df224f7e5a7fff185ed9d86>. 54/218 1. Sobre a Produção Mais Limpa, podemos dizer que: a) É um termo cunhado na década de 1960, com o objetivo de minimizar o impacto de poluentes produzidos pelas grandes indústrias. b) Trata-se de uma estratégia que se circunscreve na melhoria da qualidade do resíduo antes de sua emissão na natureza. c) O design do produto objetivado pela empresa é relevante. d) Leva em consideração apenas a unidade de produção da empresa. e) Todas as opções estão corretas. Questão 1 55/218 2. Quanto aos objetivos e efeitos da P+L, é INCORRETO afirmar: a) Busca-se o valor 0 (zero) de produção de resíduos. b) Pretende-se melhores mecanismos de redução, reutilização e reciclagem de produtos. c) Permite uma única etapa de avaliação da cadeia produtiva, diminuindo custos. d) Possibilita maiores ganhos em termos de melhor aproveitamento da matéria-prima. e) Todas as alternativas estão corretas. Questão 2 56/218 3. Quais dessas estratégias NÃO pode ser considerada de P+L: a) Mudança das estruturas sanitárias da unidade de produção. b) Redução de gastos com energia a partir da mudança de estruturas de condicionamento. c) Aproveitamento dos resíduos para outros tipos de produção. d) Concentrar resíduos perigosos ou tóxicos para reduzir volume. e) Melhoria do processo de controle. Questão 3 57/218 4. Sobre um planejamento em P+L, é CORRETO afirmar que: a) Seja um processo altamente horizontalizado, sem líderes ou coordenadores, para facilitara participação coletiva do processo. b) Deve ser executada unicamente por uma empresa terceirizada, com o intuito de maior transparência e independência. c) A sensibilização voluntária dos funcionários não pode estar atrelada a qualquer aspecto de negócios da empresa. d) É aconselhável que a comunidade do entorno da empresa não seja comunicada sobre o projeto, para evitar quaisquer tipos de interferência externa. e) Todas afirmações acima estão incorretas. Questão 4 58/218 5. A eficiência é o termo mais próximo para caracterizar os objetivos de uma P+L. Nesse sentido, qual dos hábitos a seguir não deve ser adotado. a) Priorizar o tratamento de efluentes, resíduos e emissão. b) Adotar ao menos uma figura de referência ao longo de um processo de P+L. c) Esboçar metas relativas à produtividade. d) Investir em estruturas que incidam em menor desperdício. e) Mensurar e avaliar dados concretos. Questão 5 59/218 Gabarito 1. Resposta: C. O redesign de produtos se consolida como um importante passo na consolidação de uma P+L, visto que possibilita a avaliação e a escolha de matérias-primas mais eficientes, tanto com o intuito de qualidade e menor desperdício, como num processo de produção menos poluente. 2. Resposta: C. A avaliação contínua da cadeia produtiva permite a avaliação dos ganhos e perdas de um processo de P+L. Se pensarmos que a ideia de “poluição e efeito zero” é utópica, ou de difícil alcance, é possível sempre a melhoria do processo produtivo. 3. Resposta: D. O intuito da P+L é a minimização da produção de resíduos, e não a sua contenção, transferência ou condicionamento. 4. Resposta: E. Apesar de desejável que todos os participantes de um projeto de P+L possam e sejam incentivados opinar e participar ativamente das ações, é importante que haja um núcleo destacado para servir de referência de coordenação, para evitar desvios de funções. Uma empresa de consultoria pode ser contratada com esse fim, porém, todos os setores da empresa devem se sentir participantes do processo, 60/218 seja por meio de incentivos salariais ou de recompensas, ou pela sensibilização sobre a causa/missão. A comunidade deve ser comunicada sobre os planos da empresa, pois ela é diretamente afetada pelas ações a serem implantadas. Isso permite uma repercussão positiva, e um auxílio adicional sobre os instrumentos e mecanismos que podem ser adotados. 5. Resposta: A. O principal hábito de eficiência de produção a ser adotado numa P+L é a de evitar o desperdício de qualquer tipo de material. Priorizar o tratamento de efluentes, por exemplo, além de ser mais caro, descola as ações da empresa no intuito de evitar os efeitos indesejados. 61/218 Unidade 3 Cultura Organizacional Objetivos 1. Analisar as ligações entre a estratégia de responsabilidade social corporativa e os impactos sobre os princípios funcionais, tais como a missão e a visão organizacionais. 2. Fortalecer a estratégia de RSC como fonte de vantagem competitiva. 3. Sistematizar estratégias de ação, no intuito de sensibilizar e envolver os funcionários da empresa dentro das atividades de responsabilidade proposta pela organização. Unidade 3 • Cultura Organizacional62/218 Introdução Apesar das similitudes (existência de oficinas, armazéns, escritórios, movimento constante de pessoas e de mercadorias), sabe-se que nenhuma empresa é totalmente comparável a outra. Cada uma tem sua própria personalidade e imagem a zelar. Esses traços de identificação acabam por consolidar compromissos materiais e simbólicos entre os agentes de uma organização, consolidando aquilo que é conhecido como “cultura organizacional”. O conceito de cultura corporativa não é novo. De modo geral, trata-se de um conjunto de valores partilhados por todos os funcionários de uma empresa. Para Edgar Morin (2005) é um sistema de comunicação onde a troca de experiências e de conhecimentos pessoais elaboram um sentido de existência coletiva. Praticar a responsabilidade social corporativa exige que uma empresa mescle os objetivos de negócio com algumas expectativas da sociedade. Embora não seja muitas vezes o foco prioritário dos projetos, o investimento em atividades com foco na ética e no comportamento individual humano, sobretudo dos funcionários e colaboradores da empresa, pode desempenhar um grande papel nos esforços para a RSC. O tratamento interpessoal no local de trabalho − quer se trate de um gerente que interage com um funcionário, um empregado que interage com um cliente, um executivo que interage com um jornalista, ou qualquer outra interação em nome de uma empresa − pode trazer impactos sociais que beneficiam ou Unidade 3 • Cultura Organizacional63/218 prejudicam outros. A falta de cuidado com essa questão pode colocar em risco os esforços de comprometimento da empresa com os seus stakeholders. Compreender o comportamento humano como componente da responsabilidade social é fundamental para desenvolver uma reputação positiva da empresa e melhorar a qualidade de vida na sua comunidade. A partir desses entendimentos, é possível uma reflexão geral sobre a cultura corporativa, e as novas concepções de cultura de negócios atualmente necessárias para uma RSC efetiva. Para saber mais Os sentimentos de existência, de pertencimento e de comprometimento não são fragmentados a cada episódio específico de nossa vida – por exemplo, alguém que prima pela pontualidade, busca respeitar prazos e horários em quaisquer situações, seja em suas atividades profissionais, ou em sua informalidade, como um encontro num bar. Ao mesmo tempo, nossa formação cultural, ética e social é uma construção social em movimento, dotada de uma grande capacidade de transformação a partir de nossas experiências e contatos com o mundo. Em um mundo globalizado e altamente acelerado e conectado, devemos tomar cuidado em “robotizar” também as relações humanas. Procurar compreender e se vincular com o outro parece uma tarefa cada vez mais difícil em nossos tempos. Com esse intento, alguns pensadores nos ajudam a refletir a necessidade de fortalecer vínculos humanos genuínos para que possamos fazer alguns enfrentamentos em termos de alguns colapsos socioambientais. Unidade 3 • Cultura Organizacional64/218 1. A Cultura como Construção Social Cada comunidade desenvolve uma cultura própria. Em termos empresariais, por muito tempo, foi desenvolvida uma “cultura de trabalho”, cuja noções de solidariedade e amor ao trabalho suplantavam os valores ligados ao lucro de negócios. Essa perspectiva foi sendo alterada, gradativamente, durante a década de 1980. A desconstrução da empresa como um agente de exploração, a partir, por exemplo, da política Para saber mais Nesse sentido, deixamos o convite para que conheça um pouco sobre o pensamento de dois autores: o filósofo francês Edgar Morin, um dos percussores da Teoria da Complexidade, e do sociólogo polonês Sygmunt Bauman, criador do conceito de Modernidade Líquida. Os dois pequenos vídeos abaixo apresentam pontos de partidas para essa reflexão (outros vídeos estão disponibilizados na plataforma YouTube): <https://www.youtube.com/watch?v=8_ifW0Gym0I>. <https://www.youtube.com/watch?v=LcHTeDNIarU>. Unidade 3 • Cultura Organizacional65/218 de distribuição de lucros entre os funcionários, favoreceu a construção de uma “comunidade de criação de riquezas” e a consolidação de culturas corporativas genuínas (TIRIBA, 2008; LEANDRO; REBELO, 2011). A cultura corporativa é a combinação de diferentes elementos culturais, cada um com suas características próprias, são eles: a cultura nacional, a cultura profissional e os acontecimentos importantes que já tenham ocorrido naempresa. A cultura nacional pode ser definida como um conjunto de elementos que direcionam o pensar e o agir dos membros de uma determinada corporação, mesmo que eles possuam diferentes origens ou formações. Isso só é possível a partir da consolidação de normas e regras que orientam as ações de seus membros e servem como apoio na resolução de conflitos. A cultura organizacional é o modelo de pressupostos básicos, que um dado grupo desenvolve no processo de aprendizagem, para lidar com o problema de adaptação externa e integração interna. Esse modelo é desenvolvido e vivenciado dentro da organização, sedimentando processos, atitudes, crenças, valores, ritos, atos e mitos levando a organização a criar sua própria identidade cultural na forma de ajuizar, discorrer e aprender a lidar com dificuldades advindas da diversidade cultural (MARTINS, 2006, p. 39). Unidade 3 • Cultura Organizacional66/218 Nessa seara, os fundadores da empresa são os elementos principais na construção desse capital. É a partir de suas experiências, conhecimentos, crenças, personalidades e filosofias que é traçada a “filosofia” e o futuro da empresa. Já a cultura profissional tem a ver como a cultura de trabalho adquirido em outras experiências de vida, inclusive a formação adquirida em outras empresas. Já os acontecimentos, ou marcos, são os mitos heroicos, ou seja, os tempos de glória vivida pela empresa, que auxiliam a produzir mitos, imagens e rituais de uma empresa. Observe que nenhum dos elementos apresentados são “naturais”, surgidos do “nada”. São aspectos que são construídos socialmente e, assim sendo, são passíveis de transformação, conforme necessidades, demandas ou estímulos. Para saber mais Para saber mais sobre o conceito de cultura, deixamos a sugestão de um pequeno livro, intitulado “O que é cultura?”, da Coleção Primeiros Passos, escrito por José Luiz dos Santos e publicado pela Editora Brasiliense. É possível encontrar esse livro em formato de e-book em sites direcionados com esse fim. 2. Operação e Formalização da Cultura dentro das Organizações A cultura corporativa é uma variável essencial para explicar a vida diária e as Unidade 3 • Cultura Organizacional67/218 escolhas estratégias feitas por um grupo social. É, em certo sentido, um subproduto cultural nacional e, portanto, um conjunto de valores, mitos, rituais, tabus e sinais compartilhada pela maioria dos funcionários. Mais do que um plano de gestão, são esses valores que consolidam aquilo que conhecemos como “a filosofia da empresa”, e acabam por determinar as regras de procedimento, os posicionamentos, e até mesmo o sistema de recompensas e sanções adotadas. Impor-se contra esse sistema pode acarretar em conflitos e sentimento de aversão dos componentes de uma empresa (MARTINS, 2006). Tem a função de agrupar as normas informais e não escritas sobre a rotina e o comportamento dos membros de uma organização, no intuito de direcionar ações em prol dos objetivos organizacionais. Com esse intuito, são firmados alguns rituais, presentes em vários momentos da vida corporativa: no recrutamento, nas reuniões de negócios, nas recepções, entre outros. A cultura organizacional inclui símbolos, como uniformes ou crachás que distinguem os membros da organização daqueles que são externos a ela. Mais sutilmente, a linguagem aparece como símbolo cultural mais expressivo. Esse compartilhamento facilita o movimento, a informação, a comunicação social e a tomada de decisão. Esta linguagem se consolida em um vocabulário específico, mas também nas formas e nos estímulos Unidade 3 • Cultura Organizacional68/218 de comunicação adotados: cartas, relatórios, ordens, etc., assim como nos procedimentos de controle (FAIR RIDGE GROUP, 2009). Todo esse conjunto de relações permite a cada indivíduo a se identificar como parte de um projeto maior, de uma existência necessária para a sociedade. Para saber mais Para saber mais sobre o conceito de cultura organizacional, sugerimos a leitura dos seguintes artigos: Modelo de gestão e cultura organizacional: conceitos e interações, escrito por Jaime Crozatti, publicado na revista Cadernos de Estudos em 1998. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-92511998000200004>. A responsabilidade social das empresas: incursão ao conceito e suas relações com a cultura organizacional”, escrito por Alexandra Leandro e Tereza Rebelo, publicado em uma edição especial da revista Exedra, em 2011. Disponível em: <http://www.exedrajournal.com/docs/s-CO/01-11-40.pdf>. Unidade 3 • Cultura Organizacional69/218 3. Visão Instrumental da Cultura Organizacional: um Projeto de Negócio O plano de negócios é um documento unificador, que traduz dinamicamente os desejos da corporação para os períodos futuros. Às vezes, é resumido numa carta que reúne aspectos essenciais (o que nós somos, o que fazemos, e o que pretendemos – nessa parte, são apresentados os principais objetivos da empresa). No entanto, é importante observar que a empresa é um ambiente de conflitos, pois há grupos com diferentes aspirações e possíveis interesses divergentes que devem trabalhar em conjunto. Esses conflitos podem ser resolvidos por meio de negociações ou de confronto, mas também por meio de um rigoroso planejamento de trabalho (BIO, 1987). Nesse sentido, um documento norteador deve: • Num ambiente influenciado pela complexidade e incerteza, garantir mecanismos de decisão que possuam certa flexibilidade. • Priorizar a qualidade em relação à quantidade. Dessa forma, evita-se o desperdício numa linha de produção prejudicada por uma eventualidade ou acidente. • Consolidar uma visão de futuro compartilhada por todos os seus participantes. Unidade 3 • Cultura Organizacional70/218 • Incluir a cultura corporativa como uma ferramenta de gestão. • Compreender o funcionário como o “coração da empresa”, e deve contar com um espaço de diálogo para manifestar suas aspirações, reclamações e sugestões. O setor de Recursos Humanos deve levar esses aspectos em consideração, no intuito de apresentar estratégias de melhoria do ambiente de trabalho, de segurança, e outros aspectos coletivos de trabalho (plano de carreiras, seguridade social, e outros). • Apresentar a pirâmide organizacional da empresa, no intuito de fortalecer o sentimento de pertencimento de grupo, e gerar expectativas de promoção. 4. Os Benefícios e Desafios da Consolidação de uma Cultura Organizacional A cultura corporativa permite uma maior competividade e desempenho das empresas. Crenças, práticas e mitos comuns são um mecanismo de coordenação informal que sincroniza os esforços dos funcionários. Os novos funcionários adquirem determinados valores, objetivos e práticas da empresa a partir do convívio e ensinamento dos funcionários mais antigos. Nesse sentido, a cultura organizacional é socialmente construída. Nesses casos, a motivação são qualitativamente melhores do que aqueles impostos por algum tipo Unidade 3 • Cultura Organizacional71/218 de autoridade hierárquica. O custo do trabalho também é inferior, permitindo um melhor desempenho financeiro da empresa, num fenômeno conhecido como “efeito da cultura” (SOUZA; JORDÃO, 2012). Porém, uma cultura mal gerida pode ocasionar alguns problemas, tais como: a) a não identificação no crescimento dos negócios (em virtude de limitação das promoções, medidas de contenção, entre outros). Quando restrito ao aspecto financeiro, a cultura organizacional é fragilizada, como: b) a falta de uma cultura de comunicação efetiva, ou uma que possua apenas uma direção (do posto mais alto para o posto mais baixo)– criando uma percepção de ação totalitária, que pode facilitar situações de resistência. Diante dessas e outras dificuldades, por que não fazer esforços para a constituição de um projeto maior? A consolidação de uma cultura organizacional que integre não só a vida profissional dos funcionários da empresa, mas também os entendimentos sobre ética, valores sociais, sonhos e criatividade? Uma estratégia em RSC pode auxiliar nesse sentido. 5. Cultura Organizacional e Responsabilidade Social, Uma Ponte Possível Atualmente, assim como clientes cada vez mais ávidos por uma postura de consumo sustentável, também se observa a ampliação de indivíduos, sobretudo mais Unidade 3 • Cultura Organizacional72/218 jovens, com a expectativa de uma profissão que agregue melhores condições para à sociedade e o ambiente. Profissionais orgulhosos em serem associados com uma organização responsável, recomenda a outros o lugar como ótimo de trabalhar. Consequentemente, isso facilita a atração de talentos e contribui para uma melhoria da reputação com os clientes. Mas como iniciar essa sensibilização? Primeiramente, deve-se descobrir a atual percepção sobre os assuntos de interesse da empresa. Uma pesquisa individual ou em grupo pode ser utilizada para aferir o quanto os funcionários percebem o compromisso da sua empresa com a sustentabilidade socioambiental, bem como os seus próprios pensamentos pessoais. É interessante também recolher as ideias sobre quais medidas são percebidas como necessárias para progredir nessa questão, e se eles estão interessados em serem envolvidos. Essa informação poderá auxiliar a construção de uma estratégia de engajamento. Um projeto de engajamento dos funcionários não obtém êxito sem uma infraestrutura de gestão que apoie as iniciativas de sustentabilidade. Isso significa integrar a sustentabilidade dentro do próprio local de trabalho, e também a integração desta na estratégia global de negócios, com uma visão clara de metas. Também, deve obter forte apoio da equipe Unidade 3 • Cultura Organizacional73/218 executiva da empresa, e uma estrutura de governança colaborativa, para a tomada de decisão e alocação de recursos. Um programa de recompensas e reconhecimento são bastante eficazes. Uma equipe que acolha representantes de todas as unidades de produção também é importante. Uma infraestrutura mínima também deve ser perseguida, e deve conter, minimamente, instrumentos de coleta de dados e armazenamento, metas e ferramentas de avaliação, espaço para discussões e comunicação, entre outros. Abaixo, seguem algumas sugestões para a construção de uma estratégia de engajamento (FAIR RIDGE GROUP, 2009): • Articule uma visão de sustentabilidade, sua importância, e o que as pessoas precisam fazer para garanti-la. • Dialogue sobre as expectativas de desempenho e como o progresso será medido. • Clarifique os papéis e as competências requeridas para gerenciar/participação em iniciativas de sustentabilidade. • Forneça educação e formação sobre o tema “sustentabilidade”, no que se refere às habilidades técnicas e de negócios, incluindo a colaboração, inovação e gerenciamento de projeto. Unidade 3 • Cultura Organizacional74/218 • Envolva os funcionários no planejamento e na implantação do projeto, desde o diagnóstico até a divulgação do feedback dos resultados para uma melhoria contínua. • Estabeleça equipes funcionais que auxiliem na produção de diretrizes e metodologias de ação. • Consolide um programa de melhoria contínua para rever processos, questões ambientais e priorização de novas iniciativas. • Estabeleça um espaço de compartilhamento ou de excelência em sustentabilidade para compartilhar e desenvolver melhores práticas. • Forneça os recursos necessários para apoiar o engajamento, tais como: recursos financeiros e estruturais para treinamento, troca de informação, infraestrutura, divulgação, entre outros. • Motive, inspire, energize os funcionários a se comprometer com a estratégia: evidencie os benefícios e a importância de suas contribuições. • Solicite e aborde questões e preocupações. • Recompense comportamentos necessários para o sucesso do projeto. • Comemore realizações. Unidade 3 • Cultura Organizacional75/218 Para saber mais Pesquise sobre propostas de oficinas motivacionais que sejam criativas, e que possibilite a participação do maior número de pessoas. Evite ferramentas onde o funcionário, alvo da sua ação, seja um mero expectador. Ele deve sentir-se influente na ação da empresa. Isso facilitará o compromisso e engajamento. Um consultor/palestrante com bastante experiência pode ser uma boa alternativa. Unidade 3 • Cultura Organizacional76/218 Glossário Participação: ato de juntar-se com outros com um objetivo. Tornar-se parte (DIGITRO, s/d). Comunicação: compartilhamento de informações com outras. Isso pode ser feito através de diferentes mecanismos, e pode incluir: sites, mídias sociais, relatórios, fóruns, murais, entre outros (DIGITRO, s/d). Planejamento ou projeto estratégico: iniciativa ou documento de uma organização que, quando aprovado pelo conselho administrativo, indica a missão e as diretrizes a serem seguidas, juntamente com estratégias e metas que se espera atingir durante um determinado período (DIGITRO, s/d). Questão reflexão ? para 77/218 Dentro do contexto brasileiro, sabe-se que a maior parte dos empregadores e empregados vivem numa situação de micro ou pequena empresa. Apesar da menor repercussão, há um grande potencial dessas empresas em atividades e projetos de sustentabilidade socioambiental. Nesse sentido, como incentivar as ações sustentáveis de funcionários e gestores em pequenos negócios? Quais são os ganhos nesse tipo de ação? 78/218 Considerações Finais A cultura é um repositório de aspectos apreendidos através da interação social, construída no seio de uma comunidade, e influenciada por aspectos sociais, ambientais e econômicos. A cultura organizacional é uma variável estratégica que associa valores organizacionais e valores éticos, e fortalece no indivíduo um sentimento de participação de um projeto “maior”. Ao mesmo tempo, é um complexo pouco palpável. Apesar disso, quando a empresa reconhece sua riqueza é possível capitalizar o seu potencial humano. Embora possa haver resistências, a gestão sustentável da cultura organizacional tem o potencial de valorização da marca, e estimula a criatividade e o talento dentro da organização. Para quaisquer estratégias de Responsabilidade Social e Ambiental Corporativa, é imprescindível o estímulo da participação dos funcionários, de todas as funções e áreas. É essa participação que garantirá o sentimento de pertencimento, e sucesso do projeto. Unidade 3 • Cultura Organizacional79/218 Referências BIO, S. R. Desenvolvimento de sistemas contábeis-gerenciais: um enfoque comportamental e de mudança organizacional. São Paulo, 1987. Tese (Doutorado) − Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, 1987. CROZATTI, J. Modelo de gestão e cultura organizacional: conceitos e interações. Cad. estud. [on-line], p. 1-20, 1998. DIGITRO. Glossário. s/d. Disponível em: <http://www.digitro.com/pt/index.php/sala-imprensa/ glossario>. Acesso em: 18 fev. 2016. FAIR RIDGE GROUP. Building an organizational culture of sustainability: employee engagement. Triple Pundit, 2009. Disponível em: <http://www.triplepundit.com/2009/09/ building-an-organizational-culture-of-sustainability-employee-engagement/>. Acesso em: 12 jan. 2016. JORDÃO, R. V. D.; SOUZA, A. A. Efeitos da cultura organizacional no sistema de controle gerencial
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