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i UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA –DEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS - PGCEM Formação: Mestrado em Ciência e Engenharia de Materiais DISSERTAÇÃO DE MESTRADO OBTIDA POR Sidnei Lourenci CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS DE REVESTIMENTO FABRICADAS COM MATERIAIS ALTERNATIVOS Apresentada em 31 / 07 / 2003 Perante a Banca Examinadora: Dr. Enori Gemelli – UDESC (Presidente) Dr. Dachamir Hotza – UFSC (Membro) Dra. Marilena Valadares Folgueras – UDESC (Membro) Dr. Nelson H. A. Camargo – UDESC (Membro) ii UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA - DEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS – PGCEM DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Mestrando: SIDNEI LOURENCI – Engenheiro Civil Orientador: Prof. Dr. ENORI GEMELLI CCT/UDESC – JOINVILLE CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS DE REVESTIMENTO FABRICADAS COM MATERIAIS ALTERNATIVOS DISSERTAÇÃO APRESENTADA PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA, CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT, ORIENTADA PELO PROF. DR. ENORI GEMELLI. Joinville 2003 iii UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO - CPG "Caracterização de Argamassas de Revestimento Fabricadas com Materiais Alternativos” por Sidnei Lourenci Essa dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de MESTRE EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS na área de concentração "Cerâmica", e aprovada em sua forma final pelo CURSO DE MESTRADO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS DO CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA Banca Examinadora: Dr. Enori Gemelli (Presidente) Dr. Dachamir Hotza – UFSC Dra. Marilena Valadares Folgueras -UDESC Dr. Nelson H. A. Camargo - UDESC iv FICHA CATALOGRÁFICA NOME: LOURENCI, SIDNEI DATA DEFESA: 31/07/2003 LOCAL: Joinville, CCT/UDESC NÍVEL: Mestrado Número de ordem: – CCT/UDESC FORMAÇÃO: Ciência e Engenharia de Materiais ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Cerâmica TÍTULO: Caracterização de Argamassas de Revestimento fabricadas com Materiais Alternativos. PALAVRAS – CHAVE: argamassa, materiais alternativos, construção civil, caracterização. NÚMERO DE PÁGINAS: vii, 129 p. CENTRO/UNIVERSIDADE: Centro de Ciências Tecnológicas da UDESC PROGRAMA: Pós-graduação em Ciência e Engenharia de Materiais – PGCEM CADASTRO CAPES: 4100201001p-9 ORIENTADOR: Dr. Enori Gemelli PRESIDENTE DA BANCA: Dr. Enori Gemelli MEMBROS DA BANCA: Dr. Dachamir Hotza, Dra. Marilena Valadares Folgueras, Dr. Nelson H. A. Camargo. v AO PAI, AO FILHO E AO ESPÍRITO SANTO. vi AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Enori Gemelli, que como orientador e amigo soube cobrar, mas também não mediu esforços em oferecer todas as condições necessárias à realização do presente trabalho. À Prof. Dra. Marilena V. Folgueras pela colaboração nas análises de MEV e difração de raios-x. À Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC e ao Programa de Pós- graduação em Ciência e Engenharia de Materiais - PGCEM pela realização do presente trabalho. À Finep e à UDESC que através do projeto Finep – MIFRAEL - Melhoria da Infraestrutura Laboratorial para o Ensino e Pesquisa deram condições de caracterizar melhor os materiais fabricados. À empresa FRANKE DOUAT pelo fornecimento da areia e do poliestireno expandido utilizado nesse trabalho. À empresa FABRIL LEPPER pelo fornecimento do lodo têxtil utilizado neste trabalho. Às empresas MULTIBRÁS E ORPED pelo fornecimento do poliuretano e da fibra de polipropileno utilizados neste trabalho. Ao Laboratório de Materiais de Construção do Departamento de Engenharia Civil na pessoa da Prof. Lígia V. Maia por todo auxílio na fabricação das argamassas. Ao bolsista Eduardo Kayama pela colaboração referente à preparação das argamassas. À CAPES pela bolsa de estudo concedida. • A Deus em primeiro lugar pois sem o seu auxílio divino nada seria possível. vii À minha família que esteve presente em mais essa etapa importante da minha vida. A todos os professores do Curso de Mestrado em Ciência e Engenharia de Materiais, que de uma forma direta ou indireta contribuíram para a realização desse trabalho. Aos amigos que fiz durante esses dois anos de convivência, pelo apoio técnico e moral recebido durante o desenvolvimento desse trabalho. viii SUMÁRIO RESUMO ............................................................................................................................X ABSTRACT ..................................................................................................................... XII INTRODUÇÃO ..................................................................................................................14 Capítulo 1: Características das Matérias Primas ................................................................16 1.1. Aglomerante ................................................................................................................16 1.1.1. Composição Química do Cimento ..........................................................................17 1.1.2. Hidratação do Cimento Portland ............................................................................19 1.1.2.1. Hidratação dos Aluminatos .................................................................................20 1.1.2.2. Hidratação dos Silicatos ......................................................................................23 1.1.3. Pega e Endurecimento do Cimento ........................................................................25 1.1.4. Cimento Portland de Alta Resistência Inicial Resistente à Sulfatos ......................27 1.1.5. Agregados................................................................................................................29 Capítulo 2: Características das Argamassas ........................................................................31 2.1. Características Gerais das Argamassas ........................................................................31 2.2. Resistência Mecânica das Argamassas e dos Concretos ..............................................35 2.3.Reações que Podem Ocorrer Durante a Cura ou o Envelhecimento da Argamassa/Concreto............................................................................................................38 2.3.1. Reação Álcali-Minerais Reativos ..............................................................................38 2.3.2. Reação Álcali Sílica ..................................................................................................39 2.3.3. Reação Álcali-Silicato ...............................................................................................392.3.4. Reação Álcali-Carbonato...........................................................................................40 2.3.5. Carbonatação .............................................................................................................41 2.4. Propriedades das Argamassas no Estado Fresco .........................................................44 2.5 . Propriedades das Argamassas no Estado Endurecido .................................................45 Capítulo 3: Utilização de Polímeros e Resíduo Têxtil em Argamassas ..............................47 3.1. Generalidades Sobre a Utilização de Polímeros na Fabricação de Argamassas .........47 3.1.1. Considerações Gerais do Poliuretano........................................................................48 3.1.2. Considerações Gerais do Polipropileno.....................................................................48 3.1.3. Utilização do Polímero em Argamassas....................................................................49 ix 3.2. Resíduo Têxtil ..............................................................................................................59 3.2.1. Características Gerais ................................................................................................59 3.2.2. Composição Química ................................................................................................59 3.2.3. Utilização do Resíduo Têxtil em Argamassas...........................................................61 Capítulo 4: Durabilidade de Materiais à Base de Cimento .................................................63 Capítulo 5: Materiais e Métodos Experimentais .................................................................73 5.1. Materiais Utilizados na Fabricação das Argamassas ...................................................73 5.2. Metodologia Experimental ...........................................................................................77 5.2.1. Preparação das Argamassas.......................................................................................77 5.2.2. Ensaio de Granulometria ...........................................................................................80 5.2.3. Ensaio de Flexão em Três Pontos..............................................................................80 5.2.4. Ensaios de Caracterização Física, Térmica e Microestrutural .................................81 5.2.5. Ensaios de Lixiviação e Solubilização ......................................................................82 5.2.6. Ensaio de Envelhecimento Acelerado .......................................................................83 Capítulo 6: Resultados Experimentais.................................................................................84 6.1. Caracterização dos Materiais Utilizados ...................................................................... 84 6.2. Caracterização Mecânica das Argamassas ...................................................................93 6.3. Caracterização Físico-química e Microestrutural das Argamassas ............................ 94 6.3.1. Argamassa Padrão (AP) .......................................................................................... 94 6.3.2. Argamassa Alternativa (A1).................................................................................... 99 6.3.3. Argamassa Alternativa (A2)....................................................................................105 6.4. Ensaio de Lixiviação e Solubilização.........................................................................110 6.5. Ensaio de Envelhecimento Acelerado .......................................................................116 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................................................................118 CONCLUSÃO GERAL ....................................................................................................122 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................................124 x RESUMO Este trabalho teve por objetivo a caracterização de três traços de argamassas, a primeira delas denominada argamassa padrão (AP) composta por cimento, areia e água; a segunda denominada de argamassa alternativa 1 (A1) composta por cimento, areia, poliestireno expandido, fibras de polipropileno e água e a terceira denominada de argamassa alternativa 2 (A2) composta por cimento, resíduo têxtil, poliuretano, fibras de polipropileno e água. Os traços das argamassas alternativas foram desenvolvidos anteriormente na dissertação de mestrado de Raquel L. Pereira, através de um projeto de parceria com as empresas FRANKE DOUAT e FABRIL LEPPER sobre a utilização de traços de resíduos sólidos resultantes de processos industriais na preparação de uma argamassa para revestimento de chapas metálicas. Foram utilizados os resíduos sólidos do processo de tratamento de efluentes da indústria têxtil, o qual foi denominado de resíduo têxtil, e o resíduo sólido de poliuretano resultante do descarte obtido no processo de isolamento de refrigeradores. As matérias primas bem como os resíduos foram caracterizados através de ensaios granulométricos, análise morfológica por microscópia eletrônica de varredura (MEV), microanálise EDX, difratometria de raios-x, análise térmica diferencial (ATD), análise termogravimétrica (TG) e ensaios de lixiviação e solubilização. O trabalho se concentrou no estudo do comportamento mecânico, microestrutural, físico-químico e ambiental dos materiais. Foram estudados as propriedades mecânicas de resistência à flexão em três pontos das argamassas nas idades de 7, 14, 28, 60 e 90 dias para dois processos de cura diferentes (ar e estufa). Além de ensaios mecânicos, os corpos de prova foram caracterizados por microscopia eletrônica de varredura, microanálise, difratometria de raios-x e ensaios de lixiviação e solubilização. Também foram realizados ensaios de envelhecimento acelerado das argamassas fabricadas com materiais alternativos. Esta avaliação foi baseada no ensaio de durabilidade pelo método de molhagem-secagem utilizado em solo-cimento. Foram avaliadas as mudanças nas propriedades mecânicas de resistência à flexão dos corpos de prova frente à ciclos pré- definidos de envelhecimento acelerado somente para as argamassas alternativas curadas ao ar. De modo geral, a caracterização das argamassas nos permitiu observar que a resistência mecânica depende dos materiais de adição e da evolução da microestrutura durante o processo de hidratação. Após completar o processo de hidratação a tensão de resistência à flexão das argamassas AP, A1 e A2 foi de 5,21, 3,84 e 1,42 MPa respectivamente. Os xi corpos de prova previamente secados em estufa (cura em estufa) apresentaram uma resistência à flexão inferior aos 7 e 14 dias, porém aos 28 dias suas resistências foram equivalentes aos dos corpos de prova envelhecidos sem secagem inicial em estufa (cura ao ar). Os estudos térmicos, físico-químicos e microestruturais mostraram que as argamassas AP e A1 são formadas essencialmente por C3S e/ou C2S hidratados, Ca(OH)2, SiO2 e cristais de etringita. A argamassa A2 apresenta, além dos compostos citados acima, o CaCO3, que é proveniente do resíduo têxtil o qual é basicamente formado de CaCO3 e Ca(OH)2. O resíduo têxtil é, portanto, o principal responsável pela diminuição da resistência mecânica da argamassa A2 com relação à argamassa A1. No entanto, a resistência mecânica da argamassa A1 se mantém acima do valor mínimo de 1 MPa exigido para a aplicação industrial. Além disso, o trabalho de mestrado da Raquel L. Pereira mostrou que a argamassa A2 é 30% maisleve do que a argamassa A1. Por outro lado, a caracterização ambiental nos forneceu elementos importantes que podem ser utilizados para avaliar o uso comercial das argamassas alternativas. xii ABSTRACT The aim of this work was to assess the properties and characteristics of two alternative mortars compared to a reference mortar, named (AP), composed of cement, sand, and water. The first alternative mortar, named (A1), was fabricated with cement, sand, expanded polystyrene, polypropylene fibers, and water, and the second alternative mortar, named (A2), was fabricated with cement, textile residue, polyurethane, polypropylene fibers, and water. The first alternative mortar was developed by Franke Douat industry and the second alternative mortar was developed previously in a master course by Raquel L. Pereira through a project sponsored by UDESC, CAPES, FRANKE DOUAT and FABRIL LEPPER on the development of a low cost and light weight mortar for sheet metal coating used in an industrial application. The raw materials as well as the residues, supplied by industries from Joinville/SC, were characterized by granulometric test, morphological analysis performed at the scanning electron microscope (SEM), microanalyses by energy dispersion spectrometry (EDX), x-ray diffraction (XRD), differential thermal analyses (DTA), thermogravimetrical analyses (TG), and leaching and solubilization test. For each mixture, the mortar samples were molded into rectangular molds and then aged through the follows hydration processes: half of samples were dried 10 hours at 50 oC and then removed from the molds and half of them were removed from the molds after 24 hours. After had been removed from the molds the samples were aged in a room at an environmental temperature for 7, 14, 28, 60, and 90 days. The mortars were characterized by flexion test, scanning electron microscope, micro-probe analyses, X-ray diffraction, thermal analyses, and leaching and solubilization test. Upon completion of hydration process the flexion strength stress of the AP, A1 and A2 mortars was 5.21, 3.84, and 1.42 MPa respectively. The samples dried previously presented lower flexion strength at 7 and 14 days of aging time but after 28 days they reach the same flexion strength of the samples aged without initial drying. The AP and A1 mortars were constituted of hydrated C3S and/or C2S phases, Ca(OH)2, SiO2 and etryngite crystals. The A2 mortar present, apart from the compounds above mentioned, CaCO3. The later compound is more likely to be present in A2 due to the textile residue that is composed essentially of CaCO3 and Ca(OH)2. This residue is responsible for the poor mechanical resistance of the A2 mortar compared to the A1 mortar. Even so, its mechanical strength is acceptable because the flexion strength stress required for the industrial application is 1 MPa. On the other hand, xiii The A2 mortar provide the bests results of adherence and light weight. As reported previously in Pereira's master work the alternative mortar 2 (A2) is lighter than the current one (A1 mortar) by 30%. 14 INTRODUÇÃO GERAL Apesar da conscientização ecológica e de tudo o que foi dito e discutido sobre desenvolvimento sustentável, ainda não existe uma política adequada sobre reciclagem, utilização ou reaproveitamento de materiais. Sendo assim, o interesse, de modo geral, pelos resíduos sólidos industriais está na redução de custos. O assunto dessa dissertação se enquadra dentro deste critério industrial. Ele faz parte de um projeto de pesquisa realizado em parceria entre a Universidade do Estado de Santa Catarina e as empresas Fabril Lepper e Franke Douat . O objetivo do projeto foi de desenvolver argamassas de revestimento para chapas metálicas com baixa densidade e com resistência mínima à flexão de 1 MPa. Os objetivos iniciais do projeto foram atingidos com a dissertação de mestrado de Raquel L. Pereira [PEREIRA, 2002]. Nesta dissertação foram testados vários traços de argamassas fabricadas com materiais alternativos tendo como referência o traço da argamassa utilizado pela Franke Douat (A1). Os testes de densidade e de resistência mecânica permitiram definir um traço de argamassa (A2) com densidade de aproximadamente 30% menor do que A1 e com resistência à flexão superior a 1 MPa. Em se tratando de processo industrial, para diminuir o tempo de residência, a argamassa moldada sobre a chapa metálica é colocada na estufa durante 10 horas à 50°C. Todas as argamassas estudadas seguram essa metodologia de cura. A vantagem da secagem em estufa é que se consegue diminuir o peso da argamassa e acelerar a aderência da argamassa na chapa metálica. Por outro lado, a secagem em estufa da argamassa pode interferir no processo de hidratação da mesma. Sendo assim, um dos objetivos desse trabalho de dissertação foi de estudar a influência do processo de cura na hidratação das argamassas alternativas A1 e A2 com relação a uma argamassa básica fabricada com cimento, areia e água denominada de padrão (AP). Embora os traços utilizados aqui tenham sido aqueles desenvolvidos na dissertação de Raquel L. Pereira [PEREIRA, 2002], foram feitos ensaios preliminares para diminuir ao máximo a relação água cimento. Portanto, esta relação foi modificada para diminuir o tempo de secagem. Foi estudado então o processo de hidratação das argamassas AP, A1 e A2 através de dois processos de cura: cura em estufa, ou seja, cura da argamassa com secagem inicial em estufa seguido de cura ao ar e, cura ao ar, ou seja, sem secagem inicial em estufa. Outro objetivo do trabalho 15 foi de estudar melhor a influência dos materiais alternativos no comportamento mecânico, microestrutural e ambiental assim como o envelhecimento das argamassas. Este estudo foi feito através de ensaios mecânicos, ensaios de envelhecimento, ensaios de lixiviação e solubilização, análise térmica, difração de raios-x, microscopia eletrônica de varredura (MEV) e microanálise por dispersão de energia (EDS). A dissertação foi dividida em seis capítulos sendo que os capítulos de 1 à 4 abordam uma revisão da literatura sobre características das matérias primas, características das argamassas, utilização de polímeros e resíduo têxtil em argamassas e durabilidade de materiais à base de cimento. O capítulo 5 apresenta os materiais e métodos experimentais utilizados e o capítulo 6 os resultados experimentais obtidos. Por fim tem-se a discussão dos resultados e conclusão do trabalho. 16 Capítulo 1 Características das Matérias Primas As argamassas são fabricadas basicamente pela mistura de três componentes: aglomerante, agregado miúdo e água. O tipo e a quantidade relativa, normalmente em volume, desses componentes, chamada de traço, é que determina as propriedades de uma argamassa. O aglomerante é o principal componente da argamassa pois é ele que contém os compostos químicos que fazem parte do processo de hidratação. Portanto, a qualidade de uma argamassa depende das características de seus componentes, principalmente do aglomerante. Sendo assim, antes de fabricar uma argamassa é preciso ter conhecimento a respeito dos seus componentes. Os principais deles serão abordados a seguir. 1.1. Aglomerante O aglomerante utilizado na fabricação de argamassas é o cimento. Ele é constituído em grande parte por silicatos hidráulicos de cálcio. As fontes industriais de cálcio mais comuns são: rocha calcária, giz, mármore e conchas do mar, tendo argila e dolomita como principais impurezas. As fontes industriais de sílica são asargilas e xistos argilosos que, ao contrário da sílica quartzítica e arenítica, reage com mais facilidade. Essas argilas contém alumina, óxidos de ferro e álcalis que são componentes importantes pois formam aluminatos e ferroaluminatos e ajudam na formação de silicatos de cálcio durante o processo de clinquerização. Outras fontes eventuais de óxido de ferro e de alumínio são os minérios de ferro e bauxita, respectivamente. Essas matérias primas são moídas, misturadas e tratadas termicamente para a produção dos clínqueres. Os clínqueres são compostos químicos com nódulos de 5 a 25 mm de diâmetro obtidos pela sinterização de calcário e argila, por aquecimento até fusão incipiente (30% de fase líquida aproximadamente) de modo que toda cal se combine com os compostos argilosos sem que haja a formação de cal livre em quantidade prejudicial. As reações químicas responsáveis pela formação dos clínqueres são: CaO+CO2 (Decomposição de rochas) (1.1) SiO2+Al2O3+Fe2O3+H2O (Decomposição da argila) (1.2) formando compostos na forma de: 17 3CaO.SiO2 (Silicato tricálcico) (1.3) 2CaO.SiO2 (Silicato bicálcico) (1.4) 3CaO.Al2O3 (Aluminato tricálcico) (1.5) 4CaO.Al2O3.Fe2O3 (Ferro aluminato tetracálcico) (1.6) Estes compostos são responsáveis pelas propriedades do aglomerante [BAUER, 1985]. O cimento é um produto obtido pela moagem e pulverização do clínquer mais gipsita, constituídos de partículas inferiores à 75µm, de silicatos e aluminatos de cálcio sem a presença de cal livre em grande quantidade, com uma certa proporção de cálcio natural e adições de certas substâncias, como por exemplo sulfatos, que modificam suas propriedades ou facilitam o seu emprego. Os silicatos e os aluminatos em presença de água hidratam-se e adquirem resistência mecânica. O cimento é um aglomerante hidráulico, ou seja, não só endurece através de reações com a água, como também forma um produto resistente à água, ao contrário dos aglomerantes cal e gesso que necessitam de uma adição de material pozolânico para ter comportamento semelhante. Isso justifica hoje a utilização do cimento em concreto estrutural, visto que ele é insolúvel em água [PETRUCCI, 1975; ALVES, 1980; BAUER, 1985]. 1.1.1. Composição Química do Cimento O cimento Portland consiste essencialmente de vários compostos de cálcio. As análises químicas de rotina são expressas em termos de óxidos dos elementos presentes, porque a determinação da composição direta dos compostos requer equipamentos e técnicas especiais. As matérias primas utilizadas para a fabricação do cimento Portland são basicamente ricas em sílica e cálcio, por isso o cimento Portland é constituído de compostos de cal (CaO), sílica (SiO2), alumina (Al2O3), óxido de ferro (Fe2O3), certa proporção de magnésia (MgO) e uma pequena porcentagem de anidrido sulfúrico, que é adicionado após a calcinação para retardar o tempo de pega do produto. Também existem as impurezas constituídas de óxido de sódio (Na2O), óxido de potássio (K2O), óxido de titânio (TiO2) e outras substâncias de menor importância [PETRUCCI, 1975; ALVES, 1980; BAUER, 1985]. Os óxidos de potásio e sódio constituem os denominados álcalis do cimento. As propriedades do cimento Portland estão estritamente relacionadas com o teor dos compostos formados após a obtenção do clínquer. Estes óxidos (CaO, SiO2, Al2O3, 18 Fe2O3, MgO, Na2O, K2O e TiO2) são os formadores dos compostos principais do cimento (silicatos e aluminatos) e são os primeiros a colaborar com características de resistência, pega e estabilidade de volume sendo que alguns tem até função de mineralizadores (permitem que haja a formação de compostos do cimento à temperaturas consideravelmente mais baixas do que seria possível de outro modo) ou fundentes. Como exemplos podemos citar o óxido de cálcio (CaO), onde a resistência do cimento aumenta de acordo com o teor deste óxido desde que completamente combinado. Se o processo de fabricação não é perfeito, pode resultar uma certa quantidade de cal livre, cuja presença em estado anidro, acima de certos limites, prejudica a estabilidade de volume das argamassas e concretos. A sílica (SiO2) combinada com o CaO resulta nos compostos mais importantes do cimento. A alumina (Al2O3) combinada com a cal, acelera a pega do aglomerante e reduz sua resistência aos sulfatos; age também como fundente reduzindo a temperatura exigida para a formação do clínquer. O óxido de ferro (Fe2O3), como a alumina, age também como fundente. O sulfato de cálcio adicionado correntemente ao cimento regula sua pega, retardando-a. O óxido de magnésio (MgO) em quantidades superiores a certos limites atua como expansivo, agindo de forma nociva sobre a estabilidade do volume de argamassas e concretos. O álcalis, representado por K2O e Na2O, desenvolvem papel de fundentes e agem como aceleradores de pega [PETRUCCI, 1975]. Para simplificar, na prática usam-se abreviações para representar os óxidos e os compostos presentes no cimento (tabela 1.1) [METHA e MONTEIRO, 1994]. Tabela 1.1 – Óxidos formadores dos compostos do cimento e suas respectivas abreviações [METHA e MONTEIRO, 1994]. ÓXIDOS ABREVIAÇÃO COMPOSTOS ABREVIAÇÃO CaO C 3CaO. SiO2 C3S SiO2 S 2CaO.SiO2 C2S Al2O3 A 3CaO. Al2O3 C3A Fe2O3 F 4CaO. Al2O3. Fe2O3 C4AF SO3 S_ 3CaO. 2SiO2.3H2O C3S2H6 MgO M 4CaO.3Al2O3. SO3 C4A3S H2O H CaSO4.2H2O CSH2 19 Como as análises químicas dos compostos do cimento portland são apresentadas em termos de óxidos é difícil apresentar qualquer conclusão, em termos de propriedades, baseada apenas nos percentuais de óxidos existentes. Utilizam-se então uma série de equações que foram desenvolvidas por R. H. Bogue [BAUER, 1985] que são válidas para uma relação A/F (Al2O3/Fe2O3) maior ou igual à 0,64. Estas equações possibilitam a obtenção do teor de compostos principais do cimento portland (C3S, C2S, C3A e C4AFe) com base no teor de óxidos presentes e admitem que as reações químicas de formação dos compostos estão completas e que impurezas tais como MgO e álcalis possam ser ignorados. Considera também que o cimento é inteiramente cristalino, sem qualquer fase vítrea, o que não seria uma verdade. Outro fator importante é que a altas temperaturas de clinquerização, os elementos presentes no sistema, inclusive as impurezas tais como Mg, Na, K e S tem capacidade de entrar em solução sólida com os compostos principais do clínquer e isso, dependendo da quantidade, pode alterar ou não a natureza cristalográfica e a reatividade dos compostos com a água. A partir disso observa-se que existem limitações nessas equações sendo que o teor de compostos do cimento obtidos pelas mesmas chama- se composição potencial do cimento [PETRUCCI, 1975; MEHTA e MONTEIRO, 1994]. As propriedades do cimento estão relacionadas não somente com os óxidos existentes, mas principalmente com o teor de silicatos e aluminatos, além do MgO e pequena quantidade de cal livre, devendo-se considerar ainda a existência de gesso. Nos cimentos brasileiros, são os seguintes os teores médios dos compostos: C3S - 42 a 60% , C2S - 14 a 35%, C3A - 6 a 13%, C4AF - 5 a 10% [PETRUCCI, 1975]. De acordo com a ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) que realizou centenas de ensaios em 30 cimentos nacionais, pelas fórmulas de Bogue, têm-se as seguintes composições: C3S - 18 a 66% , C2S - 11 a 53%, C3A - 5 a 20%, C4AF - 4 a 14% [ALVES, 1980]. 1.1.2. Hidratação do Cimento PortlandChama-se hidratação a reação química do cimento com a água, a qual gera produtos com características de pega e endurecimento transformando compostos anidros mais solúveis em compostos hidratados menos solúveis [MEHTA e MONTEIRO, 1994; PETRUCCI, 1975]. Os compostos presentes no cimento Portland, como visto anteriormente, foram obtidos através de reações a altas temperaturas (clinquerização) que 20 não estão em equilíbrio e por isso estão em um estado de energia elevada. Quando estes compostos reagem com a água (hidratação), os mesmos tendem a atingir estados de baixa energia, e este processo é acompanhado pela liberação de energia na forma de calor (reações exotérmicas) [MEHTA e MONTEIRO, 1994]. Foram propostos dois mecanismos de hidratação do cimento Portland. Um destes mecanismos é a hidratação por dissolução-precipitação que envolve a dissolução de compostos anidros em seus constituintes iônicos, formação de hidratos na solução e, devido à sua baixa solubilidade, tem-se a precipitação de hidratos provenientes da solução supersaturada [MEHTA e MONTEIRO, 1994]. Este mecanismo visa uma completa reorganização dos constituintes dos componentes originais durante a hidratação do cimento. Outro mecanismo, denominado topoquímico ou hidratação no estado sólido do cimento, as reações ocorrem diretamente na superfície dos componentes do cimento anidro sem entrarem em solução [MEHTA e MONTEIRO, 1994]. Estudos em microscopia eletrônica de varredura mostram que o primeiro mecanismo é dominante nos estágios iniciais de hidratação e em estágios posteriores. Quando a mobilidade atômica se torna restrita, a hidratação da partícula residual de cimento pode ocorrer por reações no estado sólido [MEHTA e MONTEIRO, 1994]. Sendo o cimento formado por vários compostos, estes não se hidratam à mesma velocidade, como por exemplo, os aluminatos se hidratam muito mais rapidamente que os silicatos. Desta forma, as reações de hidratação dos aluminatos nos permitem analisar a perda de consistência (enrijecimento) e a solidificação (pega), visto que os aluminatos são os primeiros a se hidratarem. Na fase do enrijecimento a pasta ainda é trabalhável com as mãos, mas após o início da pega a pasta não se torna mais trabalhável. Os silicatos em maioria na pasta (presentes em 75% do cimento), são responsáveis pelo aumento de resistência (endurecimento). 1.1.2.1. Hidratação dos Aluminatos Conforme Mehta e Monteiro [1994], a reação do C3A com a água é imediata, formam-se rapidamente os hidratos cristalinos, tais como C3AH6, C4AH9 e C2AH8, com liberação de uma grande quantidade de calor de hidratação. Para a construção civil não é interessante essa reação imediata. A desaceleração da reação é conseguida adicionando gipsita (gêsso) à solucão. Várias teorias têm sido postuladas para explicar o mecanismo de retardo do C3A pela gipsita. De acordo com uma delas [MEHTA e MONTEIRO, 1994], 21 uma vez que a gipsita e o álcalis entram em solução rapidamente, a solubilidade do C3A é diminuída na presença de íons hidroxila, álcalis e sulfato. Dependendo da concentração do aluminato e dos íons sulfato na solução, o produto cristalino de precipitação é o trissulfoaluminato de cálcio hidratado ou o monossulfoaluminato de cálcio hidratado. Em soluções saturadas com íons cálcio e hidroxila, o primeiro cristaliza-se como pequenas agulhas prismáticas e é também denominado alto-sulfato ou etringita. O monossulfato é também denominado baixo-sulfato e cristaliza-se na forma de placas hexagonais delgadas. As reações químicas relevantes podem ser expressas como: [AlO4]- + 3[SO4]-2 + 6[Ca]+2 + aq. → C6AS3H32 (etringita) (1.7) [AlO4]- + [SO4]-2 + 4[Ca]+2 + aq. → C4ASH18 (monossulfato) (1.8) A etringita é geralmente o primeiro hidrato a cristalizar-se devido à elevada relação sulfato/aluminato na fase aquosa durante a primeira hora de hidratação. Nos cimentos Portland normalmente retardados que contêm 5 a 6% de gipsita, a precipitação da etringita contribui para o enrijecimento (perda de consistência), para a pega (solidificação da pasta) e para a evolução da resistência inicial. Mais tarde, depois do sulfato da solução ter sido consumido, quando a concentração de aluminatos se eleva novamente devido à renovação da hidratação do C3A e do C4AF, a etringita torna-se instável e é gradativamente convertida em monossulfato, que é o produto final da hidratação do cimento Portland que contém mais de 5% de C3A: C6AS3H32 + 2C3A → C4ASH18 (1.9) O aluminato de cálcio hidratado reage com o sulfato de cálcio e forma um sulfoaluminato conhecido pelo nome de sal de Candlot. Este sal se cristaliza com fixação de muita água. Havendo cal dissolvida na água, o aluminato precipita e forma-se nos poros da massa uma quantidade de sulfoaluminato maior do que eles podem conter, o que provoca a expansão e desagregação do material. Em caso contrário, isto é, a precipitação do sulfoaluminato a partir do aluminato dissolvido não ocupa um volume maior que a dos três componentes (água-aluminato-sulfato). Assim, este sal se aloja nos poros e a massa se torna mais compacta [PETRUCCI, 1975]. Segundo Mehta e Monteiro [1994], o equilíbrio aluminato-sulfato na fase aquosa de uma pasta endurecida de cimento Portland é que determina principalmente se o 22 comportamento da pega é normal ou não. Vários fenômenos de pega influenciados pelo desequilíbrio na relação A/S (Al2O3/SiO2) são discutidos à seguir: • Caso I: Quando as concentrações disponíveis dos íons aluminato e sulfato na fase aquosa são baixas, a pasta de cimento vai permanecer trabalhável por aproximadamente 45 min; depois disso começará a se enrijecer à medida que os espaços preenchidos com água começam a ser preenchidos com os cristais de etringita. A maioria dos chamados cimentos de pega normal pertencem a esta categoria. A pasta torna-se menos trabalhável entre 1 e 2 horas após a adição de água e pode iniciar o endurecimento dentro de 2 ou 3 horas. • Caso II: Quando as concentrações dos íons aluminato e sulfato disponíveis na solucão são altas, grandes quantidades de etringita se formam rapidamente e causam uma perda considerável de consistência dentro de 10 a 45 min, com o enrijecimento da pasta entre 1 e 2 horas. Cimentos de alto teor de C3A recém- produzidos contendo mais do que a quantidade normal de sulfatos alcalinos ou sulfato de cálcio hemidratado são geralmente caracterizados por este tipo de comportamento. • Caso III: Quando a quantidade de C3A reativo é alta, mas a quantidade de sulfato solúvel presente é menor do que aquela necessária para um retardamento normal, cristais em formas de placas hexagonais de monossulfato e de aluminato de cálcio hidratados formam-se rapidamente e em grandes quantidades com a pega da pasta de cimento em menos de 45 min após a adição de água. Este fenômeno é conhecido como pega rápida. • Caso IV: Quando pouco ou nenhuma gipsita for adicionada a um clínquer pulverizado de cimento Portland, a hidratação do C3A é rápida e os aluminatos de cálcio hidratados em placas hexagonais começam a se formar em grandes quantidades, logo após a adição de água, gerando quase uma pega instantânea. Este fenômeno conhecido como pega instantânea, está associado a uma grande evolução de calor inicial com resistências baixas a longo prazo. • Caso V: Quando o C3A no cimento é de baixa reatividade, como no caso de cimentos parcialmente hidratados ou cimentos carbonatados que foram armazenados de modo inadequado, e ao mesmo tempo, uma grande quantidade de hemidrato está presente no cimento, a fase aquosa conterá uma baixa concentração de íons aluminato mas ficarárapidamente supersaturada com 23 relação aos íons cálcio e sulfato. Esta situação conduzirá a uma rápida formação de grandes cristais de gipsita com uma correspondente perda de consistência. O fenômeno, chamado falsa pega, não está associado com grande evolução de calor e pode ser remediado pela mistura enérgica da pasta de cimento com ou sem a presença de água adicional. Na verdade, o teor ótimo de gipsita no cimento que atua como retardador, é determinado por ensaios normalizados. Estes ensaios permitem mostrar a resistência máxima do cimento e a retração mínima para dadas idades de hidratação. Os íons sulfato que entram em solução pela dissolução de gipsita têm um efeito retardador sobre os aluminatos, mas um efeito acelerador na hidratação dos silicatos. Portanto, dependendo da composição de um cimento, tem-se um teor específico de gipsita para o desempenho ótimo do cimento. 1.1.2.2. Hidratação dos Silicatos Segundo Mehta e Monteiro [1994], a hidratação do C3S (alita) e do βC2S (belita) no cimento Portland produz família de silicatos de cálcio hidratados com estruturas similares mas a composição química é diferente quanto à relação cálcio/sílica e o teor de água quimicamente combinada. Os silicatos de cálcio hidratados são pouco cristalinos e formam um sólido poroso com características de gel rígido, no qual a literatura se refere como gel de tobermorita. Esse nome não é mais aceito pois a tobermorita é um mineral cuja semelhança na estrutura com este gel ainda é muito pobre. Tornou-se comum, devido à composição química dos silicatos dependerem da relação água/cimento, temperatura e idade de hidratação, referir-se a estes hidratos simplesmente como C-S-H, o que não implica em uma composição fixa. Na hidratação completa, a composição que mais se aproxima é C3S2H3. As reações estequiométricas para as pastas completamente hidratadas de C3S e C2S podem ser expressas como: 2C3S + 6H → C3S2H3 + 3CH (1.10) 2C2S + 4H → C3S2H3 + CH (1.11) 24 Segundo Mehta e Monteiro [1994] os produtos das reações de hidratação dos compostos C3S e C2S são similares. Porém, alguns pontos precisam ser observados e estão descritos à seguir: • Cálculos estequiométricos mostram que a hidratação do C3S produziria 61% de C3S2H3 e 39% de hidróxido de cálcio, enquanto que a hidratação do C2S produziria 82% de C3S2H3 e 18% de hidróxido de cálcio. Se a área específica e, consequentemente, a propriedade adesiva da pasta de cimento for principalmente devido à formação de silicatos de cálcio hidratados, espera-se que para um cimento de alto teor de C3S a resistência final seja menor do que um cimento com alto teor de C2S. • A durabilidade da pasta endurecida à águas ácidas e sulfáticas é reduzida com a presença de hidróxidos de cálcio. Então espera-se que um cimento contendo uma proporção maior de C2S seja mais durável em ambientes ácidos e sulfatados do que outros contendo maior proporção de C3S. Muitas especificações objetivam limitar o teor máximo de C3S nos cimentos e outras recomendam o uso de pozolanas que inibem o excesso de hidróxido de cálcio na pasta hidratada. • Para a hidratação completa, o C3S e o C2S exigem 24% e 21% de água, respectivamente. As equações estequiométricas não dizem nada sobre a velocidade da reação. Percebe-se que o C3S hidrata a uma velocidade maior do que o C2S. Na presença de gipsita, o C3S em finas partículas começa a hidratar uma hora após a adição de água ao cimento, e contribui para o tempo final de pega e a resistência final da pasta de cimento. Essa evolução rápida de hidratação do C3S é um importante fator em cimentos de alta resistência inicial. Por outro lado, Petrucci [PETRUCCI, 1975] confirma alguns dos pontos destacados acima: • O C3S hidrata-se dentro de poucas horas, desprendendo-se calor; o composto anidro vai passando pela solução aparecendo hidróxidos de cálcio, enquanto uma massa gelatinosa de silicato hidratado se forma em torno dos grãos originais. 25 • O C2S é atacado lentamente pela água; depois de semanas os cristais se recobrem de silicato hidratado. Forma-se também o hidróxido de cálcio, porém em menor quantidade do que no C3S. As reações da alita e belita são aceleradas na presença de íons sulfatos na solução, o que ao contrário ocorre com os aluminatos que diminuem sua solubilidade na presença de íons sulfatos. Uma problemática é que a adição de gipsita provoca o retardamento na hidratação dos aluminatos que seria imediata, mas um efeito colateral é que essa adição provoca a aceleração na hidratação da alita sem a qual os cimentos não endureceriam à taxas mais lentas [MEHTA e MONTEIRO, 1994]. Dos compostos resultantes, o único solúvel em água é o hidróxido de cálcio, sendo esta solubilidade a principal causa de desagregação do cimento endurecido. Nos cimentos Portland comuns formam-se de 13 a 17% de Ca(OH)2. O hidróxido de cálcio, Ca(OH)2, pode se dissolver com a umidade do ar e reagir com o CO2 na superfície da argamassa formando o CaCO3. Este carbonato insolúvel forma eflorescência brancas. Na água do mar, o sulfato de magnésio nela contido reage com o Ca(OH)2, e resulta CaSO4, sulfato de cálcio, com consequente depósito de hidróxido de magnésio. Este sulfato de cálcio ocasiona a expansão da massa do cimento e, juntamente com o existente na água do mar, combina-se com a alumina e forma o sal de Candlot, o que agrava com o tempo a fragmentação do cimento [PETRUCCI, 1975]. 1.1.3. Pega e Endurecimento do Cimento O endurecimento é o ganho de resistência mecânica com o tempo e é fortemente marcado pela hidratação do C3S durante muitas semanas. Durante esse tempo também ocorre o preenchimento progressivo dos espaços vazios na pasta com os produtos da reação, o que resulta em decréscimo de porosidade e de permeabilidade acompanhado de um ganho de resistência. Os dados de estudos de calor de hidratação podem ser usados para caracterizar o comportamento de pega e endurecimento do cimento e para prever a elevação de temperatura. Segundo Lerch [1946], usando um calorímetro de condução, registrou a taxa de evolução de calor das pastas de cimento durante a pega e o período inicial de 26 endurecimento como mostra a figura 1.1. Percebe-se uma rápida evolução do calor (pico A), o que representa a dissolução de aluminatos e sulfatos. Devido aos sulfatos que reduzem a solubilidade dos aluminatos, essa evolução termina rapidamente. O segundo pico (B) é atingido entre 4 e 8 horas de hidratação e representa o calor de formação da etringita. Figura 1.1 - Taxa de liberação de calor de uma pasta de cimento Portland durante a pega e o período inicial de endurecimento [ MEHTA e MONTEIRO, 1994]. O valor do calor de hidratação do cimento Portland ordinário varia entre 85 e 100 cal/g, reduzindo-se para 60 a 80 cal/g nos cimentos de baixo calor de hidratação [BAUER, 1985]. A perda de plasticidade caracteriza o fenômeno de pega e endurecimento do cimento. O enrijecimento é o nome dado à perda de consistência da pasta plástica de cimento e está associado à perda de abatimento do concreto (ensaio de abatimento do tronco de cone, onde um tronco de cone de dimensões padronizadas é preenchido com concreto e vagarosamente suspenso. O concreto sem suporte abate-se pelo seu próprio peso. A diminuição da altura do tronco de cone se chama abatimento), perda gradual de água livre do sistema para as reações, adsorção física na superfície de produtos de hidratação de baixa cristalinidade e a evaporação [MEHTA e MONTEIRO, 1994].27 Existem os chamados tempos de pega, ou seja, os tempos de início e fim de pega que podem ser determinados e que são dados importantes pois nos fornecem uma idéia do tempo disponível para trabalhar e manusear de maneira geral o cimento Portland. Nesse tempo decorrido entre o início e fim da pega do cimento ocorre a perda de plasticidade, aumento de viscosidade e aumento de temperatura e após esse tempo final de pega o cimento continua a aumentar a coesão entre suas partículas, adquirindo resistência, fase chamada de endurecimento. Os tempos são influenciados por vários fatores. Por exemplo, cimentos com teores maiores de C3A que, como visto anteriormente reage imediatamente com a água, resultado em um tempo de pega menor. Outro fator é a composição química do clínquer, no qual existe uma quantidade ótima de gesso à adicionar para retardar a pega. O grau de moagem das partículas também influencia na velocidade de hidratação e também as quantidades de água de amassamento colocadas para que o cimento hidrate. Os tempos de pega são influenciados também pela temperatura que podem acelerar ou até paralisar as reações. Certos compostos solúveis são utilizados para acelerar a pega ou para retardá-la. Entre esses compostos estão o cloreto de cálcio, cloreto de sódio e alcalinos para acelerar a pega e gesso, carbonato de sódio, óxido de zinco, bórax, tanino e ácido fosfórico para retardar a pega. Na própria normalização brasileira [NBR NM65, 2002], os cimentos são classificados em cimentos de pega normal e de pega rápida, sendo estes primeiros os que tem início de pega em um tempo superior a uma hora e os de pega rápida terminando a pega em poucos minutos. 1.1.4. Cimento Portland de Alta Resistência Inicial e Resistente à Sulfatos O cimento Portland CPV-ARI-RS é um aglomerante hidráulico que atende às exigências de alta resistência inicial e resistência à sulfatos. Ele é obtido pela moagem do clínquer portland ao qual se adiciona, durante a operação e em quantidade necessária, sulfato de cálcio. Esse aglomerante tem um baixo teor de aluminato tricálcico (C3A) e se caracteriza pelo endurecimento rápido nas primeiras idades. No caso da construção civil ele é interessante, pois permite uma remoção mais rápida das fôrmas utilizadas para a obtenção de peças estruturais ou durante a estação fria, quando se deseja reduzir o tempo necessário de hidratação a fim de proteger a argamassa do congelamento da água 28 necessária na reação de hidratação. Portanto pode ser utilizado em concretagens à baixas temperaturas quando se deseja resistência inicial elevada. Para o tipo de cimento Portland com alta resistência inicial, Neville [1997] diz que esse tipo de cimento (tipo III), desenvolve a resistência mais rapidamente e, por esse motivo, é especificado como cimento para resistências iniciais elevadas. O tempo de pega desse cimento é semelhante ao cimento comum, especificado por norma como 45 minutos. Não se deve confundir velocidade de endurecimento com velocidade de pega. O aumento da resistência é atribuído devido à elevação do teor de silicato tricálcico (C3S) (maior do que 55% e às vezes até maior do que 70%) e também pelo processo de moagem desse cimento promovendo uma finura maior do clínquer. Os cimentos tipo III da ASTM (American Standad Testing Materials) têm área específica determinada pelo método Blaine, de 450 m²/kg a 600 m²/kg, enquanto que os cimentos tipo I têm 300 m²/kg a 400 m²/kg. A resistência das 10 horas até às 20 horas é significativamente aumentada pela finura do cimento, persistindo essa diferença até os 28 dias. As resistências se igualam à idade de 2 meses à 3 meses, mas com o tempo, a resistência dos cimentos de menor finura ainda ultrapassa a resistência dos cimentos de maior finura. Neville [1997] diz que de modo semelhante à reação do composto aluminato tricálcico (C3A) com o gesso formando o sulfoaluminato de cálcio, no cimento endurecido, o aluminato de cálcio pode reagir com um sulfato proveniente do exterior cujo produto é o mesmo sulfoaluminato de cálcio que surge dentro da estrutura da pasta de cimento. Outra reação possível é a troca de bases entre o hidróxido de cálcio e os sulfatos, resultando na formação de gesso com aumento de volume da fase sólida em 124%. Os sais particularmente ativos são os sulfatos de magnésio e o sulfato de sódio e as reações são conhecidas como ataques por sulfatos sendo bastante acelerados quando acompanhados por molhagem e secagem alternadas. Para situações em que o cimento será provavelmente atacado por sulfatos, deve-se utilizar um cimento com baixo teor de aluminato tricálcico (C3A). Portanto, para ambientes agressivos com presença de sulfatos, quer seja solos contaminados ou água saloba, se faz necessário a utilização de um cimento resistente à ação desses sulfatos. 29 1.1.5. Agregados Segundo Petrucci [1975], os agregados são materiais granulares, sem forma e volume definidos, geralmente inertes e de dimensões e propriedades adequadas para uso em obras de engenharia. Uma de suas maiores aplicações está na confecção de argamassas e concretos. São materiais relativamente baratos e têm sido atualmente tratados como material de enchimento inerte. A utilização de agregados de minerais naturais compreendem mais de 90% do total de agregados utilizados e devido ao grande potencial de uso, também têm-se os agregados dos rejeitos industriais, tais como escória de alto- forno, cinza volante, concreto reciclado e resíduos selecionados de rejeitos urbanos [MEHTA e MONTEIRO, 1994]. Os agregados podem ser naturais ou artificiais e sua qualidade exerce benéfica influência nas propriedades finais da argamassa, como: retração, aumento da resistência ao desgaste, etc. Eles são classificados quanto à sua granulometria em miúdos e graúdos. Para Petrucci [1975], agregado miúdo é aquele material que passa (podendo deixar retido até 15% de grãos) na peneira n°4 , de abertura de malha quadrada de 4,8 mm de lado e agregado graúdo é o material que fica retido na peneira n° 4. O termo “agregado” é de uso generalizado na tecnologia do concreto; nos outros ramos da construção é conhecido, conforme cada caso, pelo nome específico: filer, pedra britada, bica-corrida ou rachão [SILVA, 1991]. O agregado utilizado na confecção das argamassas é a areia quartzosa com diâmetro entre 0,06 e 2,0 mm. Pode-se citar ainda os agregados existentes e classificados como filler, pedrisco, seixo rolado e pedra britada. Esses agregados são extraídos diretamente do leito dos rios, através de equipamentos para essa finalidade, ou extraídos de minas, onde posteriormente sofrem um beneficiamento consistindo de lavagem e classificação. Devido a esse material ser relativamente de baixo custo em comparação com os demais utilizados na argamassa, e também por ser inerte com a água, muitas vezes é tratado como apenas material de enchimento. Entretanto, buscando compreender melhor a importância deste elemento na argamassa, podem-se perceber que suas características influenciam diretamente em propriedades de alta relevância, no que diz respeito às argamassas. Nestas características incluem-se porosidade, composição granulométrica, massa específica, massa unitária, teor de material pulverulento, absorção de água, forma e 30 textura superficial das partículas, resistência à compressão, módulo de elasticidade e os tipos de substâncias deletérias presentes proveniente das composições mineralógicas da rocha matriz e do tipo de operação e equipamento usados para a produção do agregado. Essas características são importantes no estudo das propriedades da argamassa no estadofresco sendo que a variação desses parâmetros pode afetar as propriedades finais do produto obtido. Ferreira e Silva [1995], analisaram argamassas com incorporação de fibras de polipropileno usando dois tipos de areias diferentes. Perceberam que o teor de material pulverulento constituído de partículas de argila (< 0,002 mm) e silte (entre 0,002 a 0,06 mm) assim como uma elevada quantidade de finos aumentam a relação água/cimento provocando uma maior retração da argamassa e, em consequência, afetando suas propriedades finais. Com isso percebe-se então a importância de se conhecer melhor o agregado utilizado, embora neste trabalho não se esteja variando a granulometria do agregado para se perceber variações nas propriedades finais do produto. 31 Capítulo 2 Características das Argamassas 2.1. Características Gerais das Argamassas As características de uma argamassa dependem da natureza, composição físico- química e da proporção de seus componentes sendo imprescindível o estudo tanto dos componentes quanto da proporção entre eles. A água utilizada para fazer com que a mistura adquira plasticidade deve ser limpa, isenta de sais ferrosos e de matérias orgânicas a fim de não alterar as propriedades químicas dos aglomerantes. A água deve ser colocada na quantidade certa sem excessos e nem em pouca quantidade pois prejudicará a trabalhabilidade e a cura da pasta e, consequentemente, a resistência mecânica da pasta. A quantidade e a qualidade da água a ser utilizada também é muito importante pois a relação água/aglomerante influencia diretamente na resistência, além do que o uso de muita água ainda pode influenciar na porosidade da argamassa. O traço de uma argamassa pode ser apresentado em volume ou em peso, sendo o primeiro mais prático e o segundo mais preciso [VERÇOZA, 1984]. As argamassas tem propriedades que são influenciadas por diversos fatores, visto que há inúmeros tipos de argamassas existentes atualmente. As propriedades da argamassa são consequência da qualidade do aglomerante que se usa e do agregado, além da proporção entre eles. O traço é muito importante pois a resistência mecânica e a trabalhabilidade estão a ele relacionadas [VERÇOZA, 1984]. As primeiras misturas de sucesso na junção de blocos de alvenaria foram batizadas com o nome de argamassa: misturas de cal, água e areia para construções. Dá-se o nome de pasta à mistura de um aglomerante mais água. Quando se coloca água em excesso na pasta, tem-se um produto denominado nata. Misturando-se agregado miúdo à pasta obtém-se uma argamassa, podendo eventualmente conter adições que melhorem suas propriedades. A adição de areia se faz por vários motivos, e dentre eles destacam-se a diminuição da retração e o barateamento do produto [GUIMARÃES, 1997; SILVA, 1991]. 32 As argamassas podem ser utilizadas como revestimento de pisos, tetos e paredes (emboço e reboco), ou no assentamento de tijolos, blocos, azulejos e ladrilhos, reparos de obras de concreto, injeções [SILVA, 1991]. Chama-se traço da argamassa a proporção dos componentes relativamente ao aglomerante. Normalmente se calcula o traço em massa, o qual dá origem ao traço em volume, que é o mais usado em obras correntes. O traço de argamassa, 1 : a, significa uma parte em massa do aglomerante (cimento) para “a” partes de agregado miúdo (areia). As propriedades da argamassa estão diretamente ligadas a diversos fatores, tais como: qualidade e quantidade do aglomerante; qualidade e quantidade de água. Variando estas condições, tem-se a qualificação do produto final, de acordo com as condições de envolvimento dos grãos pela pasta, quantidade de vazios e aderência dos grãos com a pasta [SILVA, 1991]. A Tabela 2.1 fornece alguns exemplos de argamassas utilizadas e suas respectivas aplicações. As argamassas podem ser classificadas de diversos modos [SILVA, 1991]: a) Quanto ao emprego: • comuns (para rejuntamentos, revestimentos, pisos, injeções); • refratárias (para fornos, revestimentos térmicos). b) Quanto ao tipo de aglomerante: • aéreas (cal aérea, gesso); • hidráulicas (cal hidráulica, cimento); • mistas (cimento e cal aérea). c) Quanto ao número de elementos ativos: • simples (um aglomerante); • composta (mais de um aglomerante). d) Quanto a dosagem: • pobres ou magras (volume de pasta insuficiente para preencher vazios); • ricas ou gordas (excesso de pasta); • cheias (quantidade suficiente de pasta). 33 e) Quanto a consistência • secas; • plásticas; • fluidas. Tabela 2.1 - Aplicações de argamassas, traços e relações A/C – água/cimento [SILVA, 1991]. Finalidade Traço (massa) Materiais Relação A/C Consistência Assentamento de Tijolos 1:0,5:2,5 Cimento, Saibro e Areia Fina 0,60 Muito Plástica Revestimento 1:1:5,5 Cimento, Saibro e Areia Fina 0,90 Plástica Chapisco 1:5,0 Cimento e Areia Grossa 1,00 Fluida Contrapiso 1:4,0 Cimento e Areia Média 0,50 Seca Produção de Blocos de Concreto Entre 1:6 e 1:11 Cimento e Areia Muito Grossa 0,60 Muito Seca Argamassa não é apenas um material que se molda, que dá forma a um corpo estrutural, que participa da determinação de sua resistência, ou que caracteriza uma cor, uma textura nas superfícies aparentes. Um elemento estrutural de uma argamassa pode sofrer tanto as ações mecânicas decorrentes das leis de equilíbrio quanto as que resultam de uma chuva ácida em uma atmosfera poluída, por exemplo. A qualidade da argamassa é tão importante para a durabilidade das construções como é a epiderme para a proteção do corpo humano, tanto que as vezes é possível assemelhar algumas funções de ambas, principalmente do ponto de vista de proteção da armadura [HANAI, 1992]. Como se sabe, os agentes agressivos do meio ambiente não são apenas os mecânicos – que deformam, rompem e desgastam – mas também os físico-químicos – que provocam sobretudo a corrosão das armaduras, contra os quais a argamassa desempenha um papel importante. A argamassa é sempre, por menos que o seja, um material permeável a líquidos e gases, sujeito a diferenças de potencial elétrico e outros fatores, em permanente equilíbrio com o meio ambiente, e além disso sujeito a limitações de execução. 34 As adições das argamassas são componentes ativos ou não, como as pozolanas e os aditivos para concreto em geral, que são empregadas com finalidades diversas na modificação das propriedades da argamassa fresca ou endurecida. Há propriedades físicas, químicas e mecânicas, de deformação ou de durabilidade da argamassa endurecida a serem consideradas, mas existem também importantes propriedades da mistura seca e da argamassa fresca que devem ser observadas com todo o cuidado, uma vez que elas refletem o potencial de qualidade final do material [HANAI, 1992]. A qualidade dos materiais constituintes é fundamental, mas as relações quantitativas entre eles fornecem indicadores globais de tendências, os quais são imprescindíveis na execução de argamassas adequadas às exigências de cada caso. Se a argamassa resulta essencialmente de uma mistura de cimento (aglomerante), água e agregados, há de se considerar duas importantes relações: • água/cimento; • pasta/agregado. A relação água/cimento é um parâmetro de mais alta importância, que influi de maneira decisiva nas diversas propriedades da argamassa. Esta relação não apenas determina a plasticidade ou a fluidez da pasta de cimento no estado fresco, e portanto as características de consistência e trabalhabilidade da argamassa, mas afeta também, incisivamente,as propriedades da argamassa endurecida. As propriedades de resistência mecânica e de deformação da argamassa dependem de forma direta dessa relação (Figura 2.1); entretanto, são as propriedades físicas e químicas da argamassa – intervenientes na durabilidade das construções – que merecem destaque especial na tecnologia da argamassa [HANAI, 1992]. Quanto a relação entre quantidades de cimento e de agregados, os parâmetros de diluição ou de concentração da pasta e da distribuição granulométrica do agregado diluente alteram as propriedades físicas, mecânicas e químicas das argamassas [BUCHER, 1983]. A análise das relações entre quantidades de água e cimento, e pasta e agregado permite estabelecer algumas considerações sobre as propriedades das argamassas. 35 O agregado graúdo deve ser sempre de uma rocha muito mais resistente do que a pasta de água e cimento. O concreto deve sempre romper na pasta caso haja uma solicitação maior do que a projetada [TARTUCE e GIOVANNETTI, 1990]. A Tabela 2.2 apresenta a evolução da trabalhabilidade e da resistência mecânica em função de certos fatores de composição do concreto. Tabela 2.2 - Evolução da trabalhabilidade e da resistência mecânica em função dos fatores de composição do concreto [TARTUCE e GIOVANNETTI, 1990]. Fatores de Composição do Concreto Para Uma Boa Trabalhabilidade Para Uma Boa Resistência Finura da areia De preferência fina De preferência grossa Relação graúdo/areia A diminuir A aumentar Dosagem de água A aumentar até um certo ponto A diminuir Granulometria Preferível contínua Preferível levemente descontínua Dimensão máxima dos grãos De preferência pequena De preferência grande 2.2. Resistência Mecânica das Argamassas e dos Concretos Pode-se dizer que a resistência mecânica da argamassa, acaba sendo satisfatória na maioria dos casos, em conseqüência de cuidados que são tomados na garantia de outras qualidades importantes, como baixa permeabilidade, trabalhabilidade adequada, etc. A resistência mecânica das argamassas usuais, isto é, aquelas com consumo de cimento entre 520 e 800 kg/m3 e relação água/cimento entre 0,38 e 0,48, medida por meio de ensaio de compressão axial sobre corpos de prova cilíndricos de 50 mm de diâmetro e 100 mm de altura, varia entre 25 MPa e 50 MPa, considerada suficiente em grande parte dos casos práticos. Sabe-se que a resistência mecânica da argamassa depende fundamentalmente da relação água/cimento, das proporções entre cimento e agregados, das impurezas contidas no cimento e agregados, e das propriedades dos agregados: granulometria, forma, textura, resistência e dimensão máxima característica [HANAI, 1992]. A grande influência da relação água/cimento deve-se ao fato de que ela determina a porosidade da pasta de cimento endurecida; quanto menor a porosidade, maior a resistência da pasta e conseqüentemente da argamassa. 36 Quando o concreto é bem adensado, admite-se que a sua resistência é inversamente proporcional à relação água/cimento, de acordo com a “lei” estabelecida por Duff Abrams, em 1919, fc = K1__ (2.1) K2 a/c onde fc representa a resistência do concreto, a/c, a relação água/cimento (originalmente em volume) e K1 e K2, constantes empíricas. O gráfico de Abrams está representado na figura 2.1 [NEVILLE, 1997]. A influência da relação água/cimento na resistência não se constitui, verdadeiramente, em uma “lei”, pois a regra da relação água/cimento não contém várias qualificações necessárias para a validade. Em particular, a resistência com qualquer relação água/cimento depende do grau de hidratação do cimento e das suas propriedades químicas e físicas, da temperatura à qual se processa a hidratação, do teor de ar do concreto e também da variação da relação água/cimento efetiva e da formação de fissuras devidas a exsudação. Portanto, é mais correto relacionar a resistência com a concentração de produtos sólidos da hidratação do cimento no espaço disponível para os mesmos. Figura 2.1 - Gráfico de Abrams mostrando a resistência mecânica do concreto em função da relação água/cimento [ NEVILLE, 1997]. Outra observação interessante é que os concretos e/ou argamassas com relação água/cimento mais baixa apresentam maior velocidade de endurecimento do que aqueles com relação água/cimento mais alta, já que os grãos de cimento ficam mais próximos e se 37 estabelece mais rapidamente um sistema contínuo de gel. Com relação ao grau de diluição da pasta de cimento, pode ocorrer que uma argamassa de relação água/cimento muito baixa e alto teor de cimento apresente um retrocesso de resistência. Possivelmente isso seria conseqüência de tensões induzidas pela retração, uma vez que a restrição oferecida pelas partículas do agregado causaria fissuração da pasta de cimento ou perda de aderência entre pasta e agregado [HANAI, 1992]. A relação de agregado/cimento tem influência sobre a resistência de todos os concretos/argamassa de resistência média e alta. Não há dúvida de que a relação agregado/cimento é apenas um fator secundário da resistência do concreto/argamassa, mas foi constatado que para uma mesma relação água/cimento os concretos/argamassas mais pobres tem resistência maior. No entanto, é provável que outros fatores também participem; por exemplo, o teor total de água por metro cúbico de concreto é menor em uma mistura pobre do que em uma rica. Como resultado, em uma mistura pobre os vazios ocupam uma fração menor de volume do concreto e são esses vazios que tem um efeito prejudicial sobre a resistência [NEVILLE, 1997]. A permeabilidade das argamassas e dos concretos é uma propriedade extremamente importante, uma vez que reflete a capacidade do material facilitar a penetração de líquidos e gases nocivos no seu interior. A permeabilidade desses materiais depende da porosidade dos agregados e da pasta de cimento endurecida. De modo geral, a porosidade dos grãos dos agregados naturais e compactados é extremamente baixa, dependendo a permeabilidade, portanto, das características da pasta endurecida de cimento [BUCHER, 1983]. A existência de uma maior quantidade de pasta nas argamassas empregadas em argamassa armada poderia induzir à conclusão de que elas seriam mais permeáveis. Contudo, deve-se salientar que, com emprego de baixo fator água/cimento, a porosidade capilar da pasta de cimento endurecida é bastante reduzida, conferindo assim à argamassa a qualidade de material “impermeável”, uma virtude sempre citada em relatos diversos [HANAI, 1992]. A Figura 2.2 apresenta a relação entre a permeabilidade e relação água/cimento de pastas endurecidas (93% de cimento hidratado). Com relação água/cimento da ordem de 0,40, a permeabilidade na pasta de cimento é praticamente nula. A partir de 0,45, já começa a crescer até atingir valores muito altos, com relação água/cimento de cerca de 0,70 [NEVILLE, 1997]. 38 A permeabilidade da pasta de cimento diminui à medida que se processa a hidratação, pois a redução do coeficiente de permeabilidade é tanto maior quanto menor for a relação água/cimento da pasta [NEVILLE, 1997]. A baixa permeabilidade a líquidos e gases é uma das mais importantes propriedades da argamassa, a se conseguir geralmente com baixa relação água/cimento, consumo mais elevado de cimento, granulometria adequada de agregado, bom adensamento e cura adequada. Figura 2.2 - Relação entre permeabilidade e relação água/cimento de pastas endurecidas [NEVILLE, 1997]. 2.3. Reações que Podem Ocorrer Durante a Cura ou o Envelhecimento da Argamassa/Concreto 2.3.1. Reação Álcali-Minerais Reativos A reaçãoálcali-minerais reativos afeta a durabilidade de uma argamassa/concreto. A deterioração causada consiste na expansão provocada por um gel formado através da reação química entre os álcalis de sódio (Na) e de potássio (K), existentes no cimento Portland, e os minerais reativos presentes no agregado. Este gel, ao absorver água exerce pressões hidráulicas produzindo expansões elevadas, causando fissurações que com o tempo interferem negativamente na durabilidade das argamassas e das estruturas de concreto, com conseqüente redução da resistência à tração e compressão [VIVIAN, 1951]. 39 2.3.2. Reação Álcali-Sílica É definida como a reação que envolve a presença de sílica amorfa, assim como certos tipos de vidros naturais (vulcânicos) e artificiais. Foi inicialmente observada na Califórnia em 1940 por Stanton, sendo depois reconhecida em diversos países. A deterioração do concreto ou argamassa pela reação álcali-sílica é devida a alta concentração de álcalis na solução dos poros da argamassa/concreto, que resulta em uma elevação do pH a níveis que tornam a solução altamente agressiva, susceptíveis a reagir com a sílica amorfa das rochas usadas como agregado. É importante ressaltar que não são os álcalis que reagem, e sim os íons hidroxilas provenientes da dissociação dos hidróxidos alcalinos [VIVIAN, 1951]. O mecanismo da reação álcali-sílica pode ser dividido em dois passos: sílica + álcalis → gel gel + H2O → expansão Trata-se de uma reação onde o grupo silanol (Si – OH) é neutralizado pela solução alcalina de Na formando um gel de silicato alcalino conforme as equações 2.2 e 2.3. Si – OH + OH- → Si – O- + H2O (2.2) Si – O- + Na+ → Si – ONa (2.3) 2.3.3. Reação Álcali-Silicato O princípio da reação álcali-silicato é similar ao da álcali-sílica, porém o processo ocorre mais lentamente devido a quantidade de minerais reativos disseminados na matriz (silicatos eventualmente presentes nos feldspatos, folhelhos argilosos e rochas sedimentares como quartzitos, magmáticas e os granitos) e principalmente a presença de quartzo deformado e minerais expansivos da classe dos filossilicatos como as esmectitas [VAN AARDT e VISSER, 1977]. 40 VAN AARDT e VISSER [1977] observaram que feldspatos, folhelhos argilosos e determinadas rochas ígneas a temperatura de 95oC, reagem com hidróxido de cálcio produzindo silicatos hidratados de cálcio e álcalis. A temperatura de 39oC, os feldspatos alcalinos produzem aluminatos tetracálcicos hidratados e álcalis. A quantidade de álcalis liberada depende da composição dos feldspatos em relação ao cálcio, sódio e potássio. A teoria que explica como os feldspatos podem ser um material reativo, tem como sustentação o fato de que nas primeiras idades do concreto ou argamassa desenvolve-se uma camada de aderência em torno do agregado formada de silicatos de cálcio hidratados e hidróxido de cálcio. Com o tempo, em condições de umidade o hidróxido de cálcio reage com o feldspato liberando álcalis sob a forma de KOH e NaOH e/ou silicatos de sódio e potássio, sendo este último sob a forma de gel e parcialmente solúvel em água. Quando os álcalis atingirem uma certa concentração, os silicatos de cálcio (camada de aderência) tenderão a se dissolver em silicatos de sódio e potássio formando um gel contendo cálcio, potássio, sódio e sílica em sua vizinhança. Este gel constitui um mau elemento de ligação, especialmente se considerarmos que está sujeito a contrações e dilatações conforme perda ou ganho de água. 2.3.4. Reação Álcali-Carbonato A reação álcali-carbonato ocorre entre alguns calcários dolomíticos e soluções alcalinas presentes nos poros do concreto ou argamassa, causando expansões e intensas fissurações. Não há formação de gel alcalino como produto desta reação. Um mecanismo bastante aceito é que este tipo de reação está fundamentado na reação de deslomitização com formação de hidróxido de magnésio (brucita) e regeneração do hidróxido alcalino, conforme as seguintes equações [VAN AARDT e VISSER, 1977]: Formação da brucita: CaMg(CO3)2 + 2NaOH → Mg(OH)2 + CaCO3 + Na2CO3 (2.4) Regeneração dos álcalis: Na2CO3 + Ca(OH)2 → 2NaOH + CaCO3 (2.5) Como conseqüência tem-se o enfraquecimento da ligação entre a pasta de cimento e o agregado e a presença de microfissurações. 41 2.3.5. Carbonatação A palavra carbonatação em seu sentido mais amplo significa converter em carbonato, ou seja, transformar qualquer sal proveniente da reação de neutralização em que participe o ácido carbônico (H2CO3). O ácido carbônico nada mais é do que a dissolução em água do dióxido de carbono (CO2) presente na atmosfera e, de modo geral, proveniente da queima de combustíveis fósseis, de queimadas, da respiração humana e animal ou de algumas reações químicas envolvidas no processo de putrefação de matéria orgânica. Em engenharia civil a carbonatação significa a neutralização do hidróxido de cálcio [Ca(OH)2] liberado como subproduto ao longo do processo de hidratação do C3S (silicato tricálcico) e do C2S (silicato dicálcico) do cimento Portland [REVISTA TÉCHNE, 1994]: Ca(OH)2 + CO2 → CaCO3 + H2O (2.6) A equação (2.7) caracteriza a formação do ácido carbônico. Como essa reação só ocorre em presença de água, em um ambiente de baixa umidade relativa, a carbonatação apenas se verificará em níveis muito baixos. Paralelamente, considerando um concreto saturado, a dificuldade de difusão do CO2 reduz a reação a níveis desprezíveis. A equação (2.8) tem como produto uma fase instável representada pelo bicarbonato de cálcio. A equação (2.9) apresenta a forma estável do carbonato de cálcio com liberação de água [REVISTA TÉCHNE, 1994]: CO2 + H2O → H2CO3 (2.7) 2H2CO3 + Ca(OH)2 → Ca(HCO3)2 + 2H2O (2.8) Ca(HCO3)2 + Ca(OH)2 → 2CaCO3 + 2H2O (2.9) Esta reação apresentada na equação (2.8) depende, entre outros fatores, tanto da argamassa/concreto como do meio ambiente. Quanto ao ambiente, são condições básicas para a reação a presença de dióxido de carbono no ar e de umidade, a fim de que possa formar-se ácido carbônico dissolvente da cal. O processo ocorre em duas etapas. Uma 42 eminentemente química caracterizada pelo ataque do ácido carbônico aos cristais instáveis de hidróxido de cálcio, considerada a etapa “molhada”, já que é fundamental a penetração da umidade no concreto ou argamassa. A outra, a etapa seca, envolve o transporte da água saturada com o hidróxido de cálcio dissolvido até zonas de menor pressão, podendo ser estas poros ou capilares de maiores dimensões ou até a superfície da peça, onde a evaporação da água permite a precipitação do carbonato de cálcio. Quanto à argamassa, é fundamental vincular a porosidade e conseqüente permeabilidade com a intensidade da carbonatação. Assim, tem-se que a variável mais importante do processo é o fator água/cimento (a/c), desde que se comparem traços semelhantes. A alteração do traço, para um mesmo fator a/c, pode alterar as condições de retenção de água da mistura, estabelecendo processos diferenciados com a possibilidade de formação de uma rede capilar mais efetiva no estabelecimento da permeabilidade do material. Outros fatores podem ser citados como intervenientes indiretos no processo, tais como grau de adensamento, nível de hidratação do cimento e eficiência da cura, já que sua ação direta se verifica na permeabilidade da argamassa/concreto [REVISTA TÉCHNE, 1994]. A exsudação, sendo um tipo especial de segregação, é a separação da água de amassamento que aflora à superfície da argamassa/concreto. É um fenômeno que pode
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