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Seção 1 de 3 UNIDADE 2. Ciência dos materiais de construção, cimento e argamassa Cimento Bauer (1992) explica que o cimento é um aglomerante hidráulico pulverulento que, ao se juntar com água, mantém suas características de conservação das propriedades aglomerantes, formando uma pasta que pode ser facilmente moldada e que endurece gradativamente. Silva (1991) nos traz uma perspectiva histórica acerca do uso do cimento. A palavra cimento é originária do latim caementa, que tem como significado uma espécie de pedra natural na Roma Antiga. Existem registros de aproximadamente 4500 anos que indicam o emprego de materiais com características idênticas as do cimento, e temos o Panteão e o Coliseu como grandes exemplos de obras romanas construídas com solo vulcânico com propriedades de endurecimento sob a ação da água. FABRICAÇÃO Segundo Oliveira (2008), a fabricação do cimento – patenteado como cimento Portland – tem origem em 1824, quando um construtor inglês chamado Joseph Aspdin queimou pedras calcárias e argila em conjunto, e as transformou em um pó fino. Joseph percebeu que adicionando água a este pó obtinha uma mistura que, após secagem, transformava-se em algo tão duro quanto as pedras utilizadas nas construções, e que, mesmo em contato com a água, não se dissolvia após endurecer. Porém, alguns estudiosos apontam a existência de produtos originários da calcinação com grande resistência já em 1756. Battagin (2009) afirma que no Brasil, o início dos estudos para a viabilização da fabricação do cimento Portland se dá em meados de 1888, com a instalação de uma fábrica em Sorocaba, São Paulo, pelo comendador Antônio Proost Rodovalho. Mas foi somente em 1892 que a produção de cimento no país se iniciou, em uma ilha na Paraíba, por iniciativa do engenheiro Louis Felipe Alves da Nóbrega. Essa primeira fábrica funcionou por apenas três meses e a causa de seu fracasso foi a grande distância do local de produção para os centros consumidores. Conforme os estudos de Joseph Aspdin, o cimento é produzido a partir da mistura de rocha calcária e argila, onde a calcinação (ou queima) dessa mistura dá origem ao clínquer. Dentre os componentes fundamentais dos cimentos, Oliveira (2008) cita: O site Indústria Hoje (2014) resumiu o processo de fabricação do cimento, que passa pelas seguintes etapas: extração de matérias-primas (rocha calcária e argila), transporte, britagem, homogeneização, queima, resfriamento, adições (componentes minerais) e moagem. Após a britagem da rocha calcária para a redução de suas dimensões, ela é armazenada, igualmente à argila, em local específico, e então é encaminhada para a dosagem, onde se efetua a mistura em proporções adequadas de rocha calcária e de argila. Essa primeira mistura, segundo Silva (1991), é chamada de farinha crua. Em seguida, a farinha é encaminhada para moinhos específicos para a redução do tamanho dos grãos e homogeneização (mistura) do material. Os silos de homogeneização misturam os materiais por meio de processos pneumáticos e de gravidade. CLÍNQUER Segundo Bauer (1992), o clínquer (ou clinker) é um produto de natureza granulosa que resulta da calcinação da mistura de materiais, conduzida até a temperatura de sua fusão incipiente. EXPLICANDO A fusão é a mutação do estado sólido para o estado líquido de um material. Ela ocorre quando um corpo sujeito a uma dada pressão recebe calor e sua temperatura atinge um determinado valor. Para as substâncias puras, os processos de fusão ou de solidificação ocorrem sempre a uma mesma temperatura, que se mantém constante durante todo o processo. Surgem combinações químicas a partir do clínquer, que resultam na produção dos compostos citados por Oliveira (2008), e suas proporções influenciam diretamente nos atributos do cimento: • Silicato tricálcico (C3S): corrobora para a resistência da pasta em todas as idades; durante a hidratação do cimento (mistura com a água), libera certa quantidade de calor, sendo que o silicato tricálcico é o que mais libera calor durante a hidratação; • Silicato bicálcico (C2S): corrobora para o endurecimento da mistura em idades avançadas e libera pouco calor durante a hidratação; • Aluminato tricálcico (C3A): corrobora para a resistência no primeiro dia e agilidade na pega. É o componente que mais libera calor na hidratação; • Ferroaluminato de cálcio (C4AFe): apresenta pouca influência nas características da mistura. TIPOS DE CIMENTO Bauer (1992) explica que o cimento pode ser dividido em três grupos principais: os cimentos endurecidos em ar, os cimentos endurecidos em água e os cimentos resistentes a ácidos. Na maioria dos casos, sua comercialização é feita em sacos de papel contendo 50 kg de material, ou a granel, no caso de grandes volumes e de acordo com as adições e a resistência à compressão mínima após os 28 dias. Independentemente do tipo de cimento, seu armazenamento deve seguir alguns cuidados especiais, e, justamente por ser um aglomerante hidráulico e reagir com a água, não deve ficar exposto à umidade e precisa ser estocado em local seco, coberto e fechado, afastado do chão por meio de pálete. O estoque empilhado dos sacos não pode ultrapassar 10 unidades e recomenda-se que não fique estocado por mais de três meses a partir da data de fabricação, portanto, é importante observar a data de fabricação no ato da compra. // Cimento Sorel Cimentos com oxicloretos (mais conhecidos como cimento Sorel) são considerados aglomerantes especiais e são preparados por meio de uma mistura de magnésia calcinada com cloreto de zinco e óxido de zinco com cloreto de magnésia. Após a pulverização da magnésia, é agregada à mistura ainda seca o cloreto de magnésio em uma solução concentrada de 22 graus Baumé, permitindo mais trabalhabilidade à argamassa. O cimento Sorel dá pega em tempo inferior a 24 horas e endurece completamente antes de quatro meses, o material obtido é especialmente duro e possui muita resistência à abrasão, porém sofre deterioração com ação sistemática da água, sendo assim, seu uso não é indicado para áreas externas. / Cimento resistente à ação de ácido De um modo geral, os aglomerantes utilizados na construção possuem um comportamento satisfatório em meio alcalino, não resistindo ao ataque de meios ácidos ou com pH baixo. Os produtos aglomerantes que resistem à ação dos ácidos são produtos orgânicos que usualmente são encontrados nas resinas e nos plásticos. Das resinas especiais podemos citar o furano, o fenólico, o enxofre e o epóxi, e apresentaremos suas características na Tabela 2. Os cimentos de resinas furano são produtos com excepcionais qualidades de resistência a uma larga variedade de agentes corrosivos, porém não resistem aos ataques de ácido nítrico, ácido sulfúrico concentrado, ácido crômico e cloro. Os cimentos fenólicos têm características semelhantes aos cimentos de resina furano, porém seu comportamento não é satisfatório em meio alcalino. Os cimentos de enxofre (após a fundição do enxofre) resistem satisfatoriamente a ácidos, mas não são usados em misturas com materiais inertes. Os cimentos de resina epóxi são derivados do fenol e têm propriedades físicas e químicas semelhantes ao furano e ao fenólico, com excelentes propriedades de adesão, sendo muito utilizados em reparações de concreto danificado, pois permitem a perfeita ligação entre o concreto novo e o concreto velho. // Cimento Portland Segundo Bauer (1992), o cimento Portland tem em sua constituição essencialmente silicatos de cálcio hidráulicos e sulfato de cálcio natural, obtidos por meio da pulverização do clínquer. Possui eventuais adições de certas substâncias que modificam suas propriedades ou facilitam seu emprego. Conforme explicação da ABCP [s.d.], o cimento brasileiro possui uma grande versatilidade e pode atender a variados tipos de obras, sendoo cimento Portland comum uma grande referência por suas características e propriedades. O cimento Portland pode ser classificado em diversos tipos que se diferenciam de acordo com a proporção de clínquer, dos sulfatos de cálcio e das adições (tais como escórias, pozolanas e material carbonático) acrescentadas no processo de moagem durante a fabricação. A diferenciação também pode ocorrer de acordo com a função das propriedades intrínsecas, como a alta resistência inicial, a cor branca, dentre outras. Tanto a nomenclatura do cimento Portland como a identificação dos tipos e variações são compostas em partes, conforme representado na Figura 1. Podemos extrair diversas informações das classificações e identificações dos tipos de cimento, e, a partir da Figura 1, podemos gerar o Quadro 1, apresentando cada variedade possível. O tipo de cimento é retratado por números romanos de I a V, seguidos ou não de letras, de acordo com a composição de adição. Um mesmo tipo de cimento pode ter diferentes classes de resistência, que são representadas por um número correspondente à resistência mecânica em megapascal (MPa), obtida em ensaio específico. Este ensaio, segundo Oliveira (2008), é descrito pela NBR 7215 de forma detalhada, e tem como objetivo principal moldar amostras (também chamadas de corpos de prova) de uma argamassa composta por uma medida de cimento e três medidas de areia. As amostras são mantidas em condições adequadas e ensaiadas em idades ou períodos de 1, 3, 7 e 28 dias. Os resultados mínimos de resistência obtidos nesses ensaios para que tenhamos qualidade no produto final é de 8 MPa na idade de três dias, 15 MPa na idade de sete dias e 25 MPa na idade de 28 dias. A resistência de 25 MPa é o mínimo apresentado nas opções de cimento, segundo o Quadro 1. EXPLICANDO Para realizar um teste de amostragem de modo eficaz, o ideal é retirar no mínimo seis corpos de prova (cilindros moldados com diâmetro de 10 cm e altura de 20 cm) da concretagem realizada a cada lote de caminhão betoneira que chegar na obra. As adições ao cimento, segundo a ABCP [s.d.], melhoram certas características do concreto e preservam o ambiente ao aproveitar resíduos, diminuindo as emissões de gases e a extração de matéria-prima. Desde 2018, a NBR 16697 reuniu em uma única norma todos os tipos de cimento, desde suas dosagens adequadas, aplicações, análises de características e propriedades. Quanto à classificação por tipos de cimento, essa separação acontece de acordo com a composição e a classe de resistência, e segundo Petrucci (2007), os tipos de cimento podem ser apresentados conforme o Quadro 2. // Cimento aluminoso De acordo com Petrucci (2007), o cimento aluminoso é resultante do cozimento da mistura de bauxita com calcário. Ele possui uma pega lenta e consegue alcançar altas resistências em pouco tempo, sua hidratação é intensa e libera grandes quantidades de calor. Justamente por conservar essas características, é muito utilizado como cimento refratário, resistindo a temperaturas de até 1400 °C, mas não é fabricado no Brasil. // Cimento branco O cimento branco, consoante explicação de Oliveira (2008), é resultante da mistura de caulim no lugar da argila, por isso a cor branca. É encontrado no mercado para venda com a sigla CPB e possui baixo teor de óxido de ferro e manganês. Ele pode ser atribuído durante sua fabricação a condições especiais, podendo ser do tipo estrutural ou não estrutural. Sua maior utilização é para fins arquitetônicos, permitindo uma estética mais leve do que o cimento cinza convencional, além de ser utilizado no rejuntamento de azulejos e aplicações não estruturais. Uma grande vantagem é que ele pode ser associado a pigmentos, resultando em concretos coloridos. HIDRATAÇÃO DO CIMENTO A hidratação do cimento nada mais é que a liberação de calor durante a reação química do clínquer com a água. Esse processo ocorre nas primeiras horas após a aplicação da mistura de cimento com água (concreto), que também podemos chamar de cura do concreto, tendo justamente o objetivo de evitar a perda da água e o surgimento de problemas como trincas, fissuras e porosidade. O resultado do processo de hidratação é o endurecimento do material. Assim, existe a formação dos silicatos de cálcio hidratados que, juntamente com o calor da hidratação, influenciam nas propriedades mecânicas e físicas do concreto depois de endurecido. É necessário conhecer as características de cada tipo de cimento, pois a composição química interfere no método de cura e na hidratação, portanto, caso opte por um tipo de cimento inadequado para determinada situação, corre-se o risco de ocorrer redução da durabilidade do concreto, trazendo sérias consequências à obra. Dentre os quatro componentes principais do cimento, cada um reage de uma forma diferente ao calor da hidratação, conforme verifica-se no Quadro 3 Quadro 3. Calor de hidratação segundo a composição do cimento. Já existe no mercado cimentos de baixo calor de hidratação, que possibilitam retardar o desprendimento do calor e são indicados para elaboração de peças de grande massa de concreto, permitindo evitar fissuras térmicas. Mas outra forma de se abaixar o calor da hidratação sem o uso de cimentos especiais de alto custo é prestando atenção ao horário da concretagem, pois as condições climáticas interferem muito na liberação de calor e a exposição excessiva ao sol pode comprometer a reação. Portanto, é recomendável evitar a concretagem em horários com sol a pino, sendo sempre ideal sua programação no final da tarde ou em dias nublados. Também pode-se reduzir o calor da hidratação pulverizando água. SUSTENTABILIDADE NO PROCESSO DE FABRICAÇÃO Enfrentamos, cada vez mais, graves problemas ambientais oriundos das ações humanas. Pensando nisso, indústrias e empresas vêm em busca de soluções sustentáveis em sua produção. Segundo Maury e Blumenschein (2012), no Brasil, os movimentos ambientais estão intrinsecamente ligados à questão da produção industrial e seus impactos ao meio ambiente e à saúde humana. Como o cimento é a base dos métodos construtivos atuais, é necessário pensar em maneiras de reduzir os impactos gerados por sua produção. A indústria do cimento é responsável por aproximadamente 3% das emissões mundiais de gases de efeito estufa e por 5% das emissões de CO2. Para o controle da poluição gerada nos pátios fabris de cimento, estabeleceu-se a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA nº 003/1990, com os padrões de emissão para materiais articulados, metais pesados, cloretos, monóxido de carbono e dioxinas. Vários aspectos dentro do processo produtivo do cimento podem ser vinculados às questões ambientais. Veja alguns desses impactos elencados por Maury e Blumenschein (2012, p. 82), que devem ser observados, fiscalizados e, quando possível, evitados: Extração de matéria-prima (argila, areia e calcário) nas pedreiras Poeira, fluidos, impactos na paisagem, vibrações do terreno, emissão de gases, arremessos de fragmentos e poeira, cavas abandonadas, desmoronamentos e erosões; Dragagem de rios Contaminação de águas com substâncias tóxicas, diminuição da qualidade da água dos leitos, perturbação de habitats e redução de biodiversidade, alterações batimétricas (aprofundamento de canais e cursos d’água) e ruídos gerados pelo funcionamento das dragas; Moagem de calcário Poeira, ruídos, eletricidade; Produção de clínquer Poeira, emissão de gases, dióxido de carbono (CO2), dióxido de enxofre (SO2), monóxido de carbono (CO), micropoluentes, gases oxidantes, óxidos nitrogenados, compostos de chumbo, calor e uso de combustíveis; Moagem do cimento Poeira, ruídos, eletricidade e matérias-primas; Armazenamento e frete Poeira, ruídos e combustíveis. UTILIZAÇÕES NA CONSTRUÇÃO CIVIl Como já citado anteriormente,o cimento é utilizado desde as mais remotas construções e, na atualidade, é muito empregado na construção civil como um dos principais componentes. Geralmente, quando se fala em cimento, também se fala em concreto, e ambos são indispensáveis em nossos projetos e obras. A escolha do tipo de cimento a ser empregado dependerá, portanto, das necessidades relacionadas à resistência, trabalhabilidade, durabilidade e impermeabilidade. Em cada região do Brasil você pode encontrar um tipo de cimento com maior disponibilidade que em outra. O Quadro 4, desenvolvido por Arnaldo Forti Battagin e divulgado no Portal AECweb [s.d.] pode auxiliar a esclarecer quais tipos de cimento utilizamos para cada categoria de serviço ou projeto. Argamassa A argamassa precisa de desempenho e durabilidade ideais para atuar, protegendo contra os agentes agressivos (por exemplo, umidade, vento, calor, ruídos etc.), facilitando que as vedações regulem a superfície dos elementos. Ela também apresenta importante função para os demais revestimentos e para a estética da fachada. Com o passar do tempo, o uso da cal virgem nos canteiros de obras (que buscavam velocidade) e menos área utilizada nos canteiros fizeram aumentar a necessidade na fabricação e comercialização de argamassas, conforme afirma Recena (2011). Inicialmente, as madeireiras fabricavam argamassas a partir da cal e da areia, chamadas de argamassas brancas ou intermediárias. Ela é justamente intermediária porque a argamassa final, que é aplicada efetivamente, é a que recebe o acréscimo do cimento Portland. A argamassa é a adição de aglomerantes com água e agregados minerais e sua classificação se dá quanto à sua utilização, quanto ao aglomerante utilizado, ao número de aglomerantes, à dosagem e à consistência, conforme podemos observar no Quadro 5. Das argamassas colantes industrializadas disponíveis no mercado, encontramos a classificação de quatro tipos, sendo que cada uma tem uma melhor adequação de uso: Clique nas abas para saber mais AC-I É usualmente empregada no assentamento de revestimentos e pisos cerâmicos em ambientes internos, sendo utilizadas tanto em áreas secas como em áreas molhadas AC-II É usualmente empregada em ambientes internos e externos que necessitem absorver as variações de temperatura, umidade e ação do vento dos revestimentos cerâmicos e dos pisos, portanto, sua utilização é muito indicada para fachadas, revestimentos de piscinas de água fria e áreas públicas. AC-III É muito mais aderente entre as argamassas, sendo indicada para o assentamento cerâmico das fachadas, onde o risco de acidentes por queda é muito grande. Também é indicada para os revestimentos de piscinas de água quente e sauna, ou mesmo para placas maiores que 60 x 60 cm. AC-III E Argamassa com maior tempo de cura. Da mesma forma que o cimento, seu armazenamento deverá preservar as questões de afastamento de umidade, ficando em cima de tablados de madeira (páletes) por se tratar de um material pulverulento, que tem reação com o contato com a água. Além da questão do armazenamento, outro item importante a ser observado no canteiro de obras é o traço empregado nas argamassas EXPLICANDO O traço é a proporção entre os materiais componentes, e pode ser especificado em massa, volume ou peso. São essas as proporções que definem se a argamassa será mais ou menos forte, e mais ou menos resistente aos agentes agressivos. Para argamassas dosadas sem o ensaio em laboratório, que é o caso de argamassas prontas, a resistência à compressão esperada é menor que 6 MPa para uma proporção de um saco de cimento, com 10 dm³ de cal, mais 133 dm³ de agregado miúdo e 40 cm³ de água. Segundo Mohamad e colaboradores (2009), para argamassas com resistência superior, ou mesmo com características específicas, é necessário ensaio em laboratório para a definição dos traços mais adequados. As normativas ASTM C- 270 e BS-5628 regem as discriminações quanto ao traço das argamassas, verificando a consistência e a retenção de água para as argamassas em estado fresco, conforme observa-se nas Tabelas 3 e 4. Para argamassas dosadas sem o ensaio em laboratório, que é o caso de argamassas prontas, a resistência à compressão esperada é menor que 6 MPa para uma proporção de um saco de cimento, com 10 dm³ de cal, mais 133 dm³ de agregado miúdo e 40 cm³ de água. Segundo Mohamad e colaboradores (2009), para argamassas com resistência superior, ou mesmo com características específicas, é necessário ensaio em laboratório para a definição dos traços mais adequados. As normativas ASTM C- 270 e BS-5628 regem as discriminações quanto ao traço das argamassas, verificando a consistência e a retenção de água para as argamassas em estado fresco, conforme observa-se nas Tabelas 3 e 4. Quanto ao estado plástico, a argamassa precisa apresentar boa trabalhabilidade, permitindo o assentamento dos blocos de forma maleável e tendo capacidade de retenção ideal de água, garantindo a hidratação do cimento. Já para o estado endurecido da argamassa, é necessário ter resistência à compressão, resistência de cisalhamento e boa aderência e resiliência. A ABNT, por meio dos seus ensaios e estudos em laboratório, normatizou requisitos necessários para cada característica, conforme vemos no Quadro 6. Trabalhabilidade Está ligada diretamente à quantidade de água empregada em sua preparação, pois o excesso de água em uma argamassa tornará mais fluida e menos trabalhável pela perda de coesão. Distribui facilmente ao ser assentada, não agarra na ferramenta no momento da aplicação e não endurece em contato com superfícies absortivas. Resistência à compressão Quanto maior a resistência à compressão, maior sua resistência aos outros esforços solicitantes. Nas argamassas de cal e areia, a resistência é pequena, entre 0,5 a 2,0 MPa aos 28 dias. Já nas argamassas de cimento e areia, ou cimento, cal e areia, a resistência aos 28 dias fica entre 1,5 a 16 MPa. Aderência Capacidade de absorver as tensões tangenciais e normais à superfície da argamassa, sendo importante observar a aderência tanto da argamassa fresca como da argamassa endurecida. Retenção de água Capacidade de liberar demoradamente para o meio ambiente a água utilizada em sua preparação, quanto maior o volume de água no preparo da massa, maior o volume de água a ser evaporado, gerando mais retração e causando fissuras. Durabilidade Capacidade de manter-se estável química e fisicamente ao longo do tempo, em condições normais de exposição a um determinado ambiente. Elasticidade Capacidade de absorver os esforços por deformação ou elasticidade, portanto, absorvendo a deformação dos trabalhos dos diferentes materiais empregados e evitando a ruptura no regime elástico. A retenção de água e a cura lenta favorecem a elasticidade da argamassa. De acordo com Barros (1991), contrapiso se referem às camadas de argamassa ou enchimento utilizadas sobre uma laje ou um terreno, e também qualquer camada intermediária de isolamento e impermeabilização, sendo necessário definir os parâmetros relacionados ao desempenho, função e finalidade, bem como a base em que será aplicado e o revestimento de piso que este contrapiso irá receber. Dentre as funções do contrapiso, Barros (2011) cita: • 1 I. Criação de desníveis entre ambientes, principalmente no caso de ambientes de áreas molhadas, que costumam ser rebaixados em relação aos demais cômodos de um projeto para evitar o escoamento da água; II. Possibilita as declividades necessárias para o escoamento da água aos ralos; III. Auxilia na transmissão de cargas para a base estrutural; IV. Regularização da base, permitindo o assentamento de pisos vinílicos ou mantas de fina espessura, evitando a visualização de deformidades e irregularidades da laje; V. Permite o embutimento das instalações, evitandoa quebra da laje; VI. Adequa os suportes de fixação de revestimentos de piso; VII. Isolamento térmico e/ou acústico. Barros (2011) menciona as principais características e propriedades do contrapiso: Condições superficiais Incumbido da aderência entre o contrapiso e o revestimento; Aderência Habilidade de transmitir esforços por meio da interface do contrapiso – base, que são oriundas das solicitações de uso; Resistência mecânica Prevenção da integridade física quando solicitado por meio de ações durante sua utilização; Resiliência Habilidade de regressar à forma original após sofrer as deformações de trabalho dos materiais sem a apresentação de fissuras; Compacidade Resistir ao esmagamento em razão dos índices de vazios da argamassa; Durabilidade Habilidade de resistir à degradação em consequência do grau de exposição do contrapiso e da compatibilidade entre ele e o revestimento do piso. Ao escolher o tipo de contrapiso a ser executado, é necessário analisar suas propriedades e qual argamassa será utilizada, que, segundo a normativa BS 8204-02, de 2009, existem três tipos de contrapiso conforme sua aderência com a base: Contrapiso aderido A argamassa aponta total aderência à base e é executada em camadas finas, entre 20 a 40 mm. Esse contrapiso movimenta-se em conjunto com a laje; Contrapiso não aderido ou semiaderido A argamassa não adere totalmente à base e as espessuras são superiores a 35 mm; Contrapiso flutuante O contrapiso estaria “flutuando” entre o revestimento final e a laje, por ser executado sobre manta asfáltica impermeabilizante e manta de polietileno para isolamento acústica Para um melhor entendimento, a Figura 2 ilustra as camadas comuns do contrapiso que, por ser um revestimento composto por argamassa em seu principal componente, utiliza dois tipos de argamassas, as plásticas e as secas. Uma correta execução do contrapiso, segundo Barros (1991), minimiza as chances de erros de declividade da queda d’água, bem como maximiza o rendimento dos revestimentos. ASSENTAMENTO A argamassa de assentamento é um dos tipos mais utilizados e conhecidos, servindo para unir tijolos e blocos de alvenaria ou blocos estruturais. A união dos blocos ocorre geralmente em um cordão de 1 cm ancorando mecanicamente, ou seja, formando “raízes” entre os poros do bloco, fixando-os. Essa argamassa é produzida no canteiro de obras com a utilização de betoneira, mas também pode ser adquirida de forma industrializada. É possível encontrá-la para venda em forma de bisnagas, garantindo um bom acabamento na junção dos blocos. Independentemente da origem da argamassa de assentamento, o ideal é que o trecho entre os blocos não seja muito grande, refletindo em economia financeira e qualidade na resistência e alinhamento. A Tabela 5 apresenta os traços mais comuns para a argamassa de assentamento: REVESTIMENTO A argamassa para revestimento é aplicada na parede crua ou mesmo no teto recém-construído, cobrindo, protegendo e nivelando as superfícies. No caso dessa argamassa, aplica-se em três camadas, onde cada uma delas tem função específica. A primeira camada de argamassa recebe o nome de chapisco e sua função é ser a base para todo o revestimento, feita normalmente com uma parte de cimento e quatro partes de areia grossa. A segunda camada é chamada de emboço, e tem como objetivo o nivelamento da superfície. Já a terceira camada chama-se reboco e atribui o acabamento da parede ou local e, na sequência, o recebimento do revestimento. A produção de argamassa de uso imediato em uma mistura natural pode ser estabelecida em quatro passos, segundo Leggerini e Aurich [s.d.]: • Medir primeiro o agregado (areia) e espalhá-lo para formar uma camada de cerca de 12 cm de altura; • Acima dessa camada de areia, colocar o cimento e a cal hidratada; • Fazer a mistura dos componentes até obter uma mistura homogênea. Colocar o resultado desta mistura amontoada em um canto, abrindo espaço no meio para o acréscimo de água; • Acrescentar e misturar a água aos poucos, controlando a quantidade para evitar excessos. Em casos onde a mistura ocorre mecanicamente, deve-se seguir: Ligar o equipamento, betoneira ou similar; Colocar dentro o agregado (areia); Acrescentar metade da água; Colocar o cimento e a cal hidratada; Adicionar o restante da água, sempre controlando o excesso; Deixar misturar no equipamento por três a cinco minutos. O ideal é deixar que a argamassa “descanse” por 16 a 24 horas para se obter um maior rendimento e uma melhor liga. A Tabela 6 nos traz os traços mais comuns para a argamassa de revestimento: PATOLOGIAS entre as patologias mais comuns nas argamassas e revestimentos argamassados temos as fissuras, as vesículas, os empolamentos e os descolamentos, tanto na aplicação em alvenarias estruturais como em alvenarias de vedação. Santos (2016) afirma que essas anomalias vão além de incômodos estéticos. Desta forma, é necessário levar em consideração os fatores climáticos, seja no momento de projetar e escolher os materiais adequados para aquela região, seja no momento de produzir e aplicar a argamassa. A causa mais comum para vesículas e empolamento da argamassa é a reação de hidratação da cal virgem ou a presença de impurezas nos agregados. No caso das fissuras e microfissuras, a maior contribuição para esse quadro é quando há elevado teor de insumos e agregados. No caso da proliferação de fungos, a infiltração de água no revestimento é a causa mais comum para a patologia, e quanto ao descolamento das placas de revestimento, tem-se o uso inadequado de tinta ou a aplicação de pintura prematuramente sobre o reboco ainda fresco. Podem surgir também eflorescências (manchas de umidade) que podem ser causadas devido a infiltrações ou umidade e presença de sais solúveis na argamassa. O bolor (manchas esverdeadas ou escuras) também é ocasionado por conta da umidade e da falta de exposição ao sol. Podem ocorrer fissuras horizontais ao longo da parede por conta da expansão da argamassa por uma hidratação retardada do óxido de magnésio da cal, ou também a presença de argilominerais expansivos no agregado. Podemos observar ainda as fissuras mapeadas – trincas distribuídas por toda a superfície que podem até ocasionar alguns descolamentos de placas – causadas principalmente pela retração da argamassa, pelo excesso de agregado fino ou por causa de excesso de cimento na mistura SINTETIZANDO Conforme vimos nessa unidade, o cimento também é um aglomerante de fundamental emprego dentro da construção civil e da arquitetura, e a argamassa é a mistura de um aglomerante (no caso, o cimento) com água e um agregado miúdo, que normalmente é areia ou cal hidratada. O cimento, da mesma forma que a cal, é resultado da calcinação de rochas calcárias que, em conjunto com a argila e demais aditivos, forma um dos aglomerantes mais presentes em nossas obras, desde as casas mais simples até os projetos mais complexos de engenharia, como as pontes. Desta queima surge o clínquer, que é a base principal para a produção do cimento. Dos vários tipos de cimento, o mais utilizado é o cimento Portland, que possui uma grande versatilidade em seu emprego, atendendo a características e propriedades distintas. As argamassas têm a função de unir os revestimentos nas alvenarias, auxiliar no desempenho térmico e acústico, na durabilidade da construção e em sua estética. Protegem contra agentes agressivos, tais como umidade, vento, calor, ruídos, e seguem traços definidos para cada tipo de emprego. Ambos são fundamentais para a elaboração de um projeto e para o andamento de uma obra, intensificando a qualidade e a durabilidade da construção. São os dois materiais mais empregados na maioria das obras brasileiras. FABRICAÇÃO CLÍNQUER TIPOS DECIMENTO // Cimento Sorel / Cimento resistente à ação de ácido De um modo geral, os aglomerantes utilizados na construção possuem um comportamento satisfatório em meio alcalino, não resistindo ao ataque de meios ácidos ou com pH baixo. Os produtos aglomerantes que resistem à ação dos ácidos são produtos orgânicos... // Cimento Portland // Cimento branco // Cimento branco HIDRATAÇÃO DO CIMENTO UTILIZAÇÕES NA CONSTRUÇÃO CIVIl Trabalhabilidade Resistência à compressão Aderência Retenção de água Durabilidade Elasticidade ASSENTAMENTO SINTETIZANDO
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