Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A GESTÃO DE PESSOAS EM UM AMBIENTE DINÂMICO E COMPETITIVO INTRODUÇÃO A ARH é uma das áreas mais afetadas pelas recentes mudanças que estão acontecendo no mundo moderno. As empresas perceberam que as pessoas constituem o elemento do seu sistema nervoso que introduz a inteligência nos negócios e a racionalidade nas decisões. Tratar as pessoas como recursos organizacionais é um desperdício de talentos e de massa encefálica produtiva. Assim, hoje, fala-se em Gestão de Pessoas e não mais em recursos humanos, para proporcionar essa nova visão das pessoas (não mais como meros funcionários remunerados em função do tempo disponibilizado para a organização), mas como parceiros e colaboradores do negócio da empresa. AS MUDANÇAS E TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO O século XX trouxe grandes mudanças e transformações que influenciaram poderosamente as organizações, sua administração e seu comportamento. E, sem dúvida alguma, essas mudanças marcaram a maneira de administrar as pessoas. Dessa forma, podemos visualizar ao longo do século XX, três eras organizacionais distintas: a Era Industrial Clássica, a Era Industrial Neoclássica e a Era da Informação, cada uma com suas filosofias e práticas de lidar com as pessoas. ERA DA INDUSTRIALIZAÇÃO CLÁSSICA É o período logo após a Revolução Industrial (Iniciada na Grã-Bretanha em meados do século XVIII, expandiu-se pelo mundo a partir do século XIX) e que se estendeu até meados de 1950 envolvendo a primeira metade do século XX. O fenômeno da industrialização estendeu-se mundialmente, surgindo assim os países desenvolvidos ou industrializados. Permitia que as organizações se introvertessem e se preocupassem com os seus problemas internos de produção. A eficiência era a preocupação básica e para alcançá-la eram necessárias medidas de padronização e simplificação, bem como especialização de mão-de- obra para permitir escalas de produção maiores e a custos menores. O modelo organizacional baseava-se em um desenho mecanístico típico da lógica do sistema fechado. Dentro dessa concepção, a administração das pessoas recebia a denominação de Relações Industriais. Os departamentos de relações industriais (DRI) atuavam como órgãos intermediários e conciliadores entre a organização e as pessoas (o capital e o trabalho), no sentido de aparar as arestas dos conflitos trabalhistas, como se ambas as partes fossem estanques e separadas. Os cargos eram desenhados de maneira fixa e definitiva para obter a máxima eficiência do trabalho, e os empregados deveriam ajustar-se a eles. Tudo para servir à tecnologia e à organização. As pessoas eram consideradas recursos de produção, juntamente com outros recursos organizacionais como máquinas, equipamentos e capital, na conjunção típica dos três fatores tradicionais de produção: natureza, capital e trabalho. ERA INDUSTRIAL CLÁSSICA DESENHO MECANICISTA Muitos níveis hierárquicos e coordenação centralizada Departamentalização funcional para assegurar a especialização Padrões rígidos de comunicação e cargos definitivos e limitados Pequena capacidade de processamento da informação Cargos individuais especializados com tarefas simples e repetitivas Ênfase na eficiência da produção, no método e na rotina Adequado para ambiente estável e imutável e tecnologia fixa e permanente Nenhuma capacidade para mudança e inovação ERA DA INDUSTRIALIZAÇÃO NEOCLÁSSICA É o período que se estende entre as décadas de 1950 a 1990. Teve seu início logo após a Segunda Guerra Mundial, quando o mundo começou a mudar mais rápida e intensamente. As transações comerciais passaram da amplitude local para regional, e de regional para internacional, tornando-se cada vez mais intensas e menos previsíveis, acentuando a competição entre as empresas. A Teoria Clássica foi substituída pela Teoria Neoclássica da Administração e o Modelo Burocrático foi redimensionado pela Teoria Estruturalista. A Teoria das relações Humanas foi substituída pela Teoria Comportamental. Ao longo do período surge a Teoria dos Sistemas e no seu final, a Teoria da Contingência. A visão sistema e multidisciplinar e o relativismo tomam conta da teoria administrativa. O velho modelo burocrático e funcional, centralizador e piramidal utilizado para formatar as estruturas organizacionais, tornou-se rígido e vagaroso demais para acompanhar as mudanças e transformações do ambiente. As organizações tentaram novos modelos estruturais para incentivar a inovação e o ajustamento às mutáveis condições externas. A estrutura matricial, uma espécie de quebra-galhos para reconfigurar a velha e tradicional organização funcional, foi a resposta das organizações. A abordagem matricial visava a conjugar a departamentalização funcional com um esquema lateral de estrutura por produtos/serviços, a fim de proporcionar características adicionais de inovação e dinamismo e alcançar maior competitividade. A organização matricial promoveu uma melhoria na arquitetura organizacional das grandes organizações, mas não o suficiente, pois não conseguia remover a rigidez da velha estrutura funcional e burocrática anterior. Como vantagem, posteriormente, esse sistema promoveu a fragmentação e decomposição das grandes organizações em unidades estratégicas de negócios para torná-las mais bem administradas, mais ágeis e mais próximas do mercado e do cliente. ERA INSDUSTRIAL NEOCLÁSSICA DESENHO MATRICIAL Desenho híbrido: estrutura funcional acoplada à estrutura de P/S Coordenação descentralizada sob dupla subordinação: autoridade funcional e autoridade de projeto (produto/serviço) Padrões duplos de interação em cargos mutáveis e inovadores Aumento da capacidade de processamento da informação Cargos adequados para tarefas mais complexas e inovadoras Ideal para ambiente instável e mutável e tecnologia mutável Razoável capacidade para mudança e inovação ERA DA INFORMAÇÃO É o período que começou no início da década de 1990. É a época em que estamos vivendo atualmente. A principal característica que estamos vivendo nessa época são as mudanças, que se tornaram rápidas, imprevistas, turbulentas e inesperadas. A tecnologia da informação (integrando a televisão, o telefone e o computador), trouxe desdobramentos imprevisíveis e transformou o mundo em uma verdadeira aldeia global. Um impacto comparável ao da Revolução Industrial em sua época. A informação passou a cruzar o planeta em um milésimo de segundos. A tecnologia da informação forneceu as condições básicas para o surgimento da globalização da economia: a economia internacional transformou-se em economia mundial e global. A competitividade tornou-se intensa e complexa entre as organizações. O volátil mercado de capitais passou a migrar de um continente para outro em segundos à procura de novas oportunidades de investimentos, ainda que transitórias. Em uma época em que todos dispõem da informação em tempo real, são mais bem-sucedidas as organizações capazes de tomar a informação e transformá-la rapidamente em uma oportunidade de novo produto ou serviço, antes que outras o façam. O capital financeiro (dinheiro), deixou de ser o recurso mais importante cedendo lugar para o conhecimento, ou seja, em como usá-lo e aplicá-lo de maneira rentável. Nessas circunstâncias, os fatores tradicionais de produção (terra, mão-de- obra e capital) produzem retornos cada vez menores em uma escala de rendimentos decrescentes. É a vez do conhecimento, do capital humano e do capital intelectual. O conhecimento torna-se básico, e o maior desafio passa a ser a produtividade do conhecimento.Tornar o conhecimento útil e produtivo tornou-se a maior responsabilidade gerencial. Na Era da informação, o emprego passou a migrar do setor industrial para o setor de serviços, o trabalho manual substituído pelo trabalho mental, indicando o caminho para uma era da pós-industrialização baseada no conhecimento e no setor terciário. ERA DA INFORMAÇÃO DESENHO ORGÂNICO Ênfase em equipes autônomas e não mais em órgãos ou departamentos Elevada interdependência entre as redes internas de equipes Organização ágil, maleável, fluida, simples e inovadora Intensa interação através de cargos autodefinidos e mutáveis Cargos flexíveis e adequados a tarefas complexas e variadas Capacidade expandida de processamento da informação Ênfase na mudança, na criatividade e na inovação Ideal para ambiente mutável e dinâmico e tecnologia de ponta O CONCEITO DE GESTÃO DE PESSOAS Gestão de Pessoas é uma área sensível à mentalidade que predomina nas organizações. Ela depende de vários aspectos, como a cultura que existe em cada organização, da estrutura organizacional adotada, das características do contexto ambiental, do negócio da organização, da tecnologia utilizada, dos processos internos e de uma infinidade de outras variáveis importantes. AS MUDANÇAS E TRANSFORMAÇÕES NA FUNÇÃO DE RH As três eras ao longo do século XX (Industrialização Clássica e Neoclássica e a era da Informação), trouxeram diferentes abordagens sobre como lidar com as pessoas dentro das organizações. Ao longo das três eras, a área de ARH passou por três etapas distintas: Relações Industriais, Recursos Humanos e Gestão de Pessoas. Cada abordagem está ajustada aos padrões da sua época, à mentalidade predominante e às necessidades das organizações. PESSOAL/ RELAÇÕES INDUSTRIAIS Na Industrialização Clássica surgem os antigos departamentos de pessoal e, posteriormente, os departamentos de relações industriais. Os departamentos de pessoal eram órgãos destinados a fazer cumprir as exigências legais a respeito do empregado: admissão através de contrato individual, anotação em carteira de trabalho, contagem das horas trabalhadas para efeito de pagamento, aplicação de advertências e medidas disciplinares pelo não-cumprimento do contrato, contagem de férias etc. Mais adiante, os departamentos de relações industriais assumem o mesmo papel acrescentando outras tarefas como o relacionamento da organização com os sindicatos e a coordenação interna com os demais departamentos para enfrentar problemas sindicais de conteúdo reivindicatório. Os departamentos de relações industriais se restringem a atividades operacionais e burocráticas, recebendo instruções da cúpula sobre como proceder. As pessoas são consideradas apêndice das máquinas e meras fornecedoras de esforço físico e muscular, predominando o conceito de mão-de-obra. RECURSOS HUMANOS Na Industrialização Neoclássica, surgem os departamentos de recursos humanos que substituem os antigos departamentos relações industriais. Além das tarefas operacionais e burocráticas, os chamados DRH desenvolvem funções operacionais e táticas, como órgãos prestadores de serviços especializados. Cuidam do recrutamento, seleção, treinamento, avaliação, remuneração, higiene e segurança do trabalho e de relações trabalhistas e sindicais, com variadas doses de centralização e monopólio dessas atividades. GESTÃO DE PESSOAS Na era da Informação, surgem as equipes de gestão com pessoas, que substituem os departamentos de recursos humanos e de gestão de pessoas. As tarefas operacionais e burocráticas são transferidas para terceiros através da terceirização, enquanto as atividades táticas são delegadas aos gerentes de linha em toda a organização, os quais passam a ser os gestores de pessoas. As equipes de RH proporcionam consultoria interna, para que a área possa assumir atividades estratégicas de orientação global, visando ao futuro e ao destino da organização e seus membros. As pessoas (de agentes passivos que são administrados) passam a constituir agentes ativos e inteligentes que ajudam a administrar os demais recursos organizacionais. A virada é fenomenal. As pessoas passam a ser consideradas como parceiros da organização que tomam decisões a respeito de suas atividades, cumprem metas e alcançam resultados previamente negociados e que servem o cliente no sentido de satisfazer suas necessidades e expectativas. Na era da Informação, lidar com as pessoas deixou de ser um problema e passou a ser a solução para as organizações. Deixou de ser um desafio e passou a ser a vantagem competitiva para as organizações bem-sucedidas. Mas o que está acontecendo com a ARH? Na verdade, a ARH está se ajustando rapidamente aos novos tempos. Como? De uma maneira ampla e irreversível. Ela está deixando de ser ARH para se transformar em Gestão de Pessoas. De uma área fechada, hermética e centralizadora que a caracterizava no passado, a moderna ARH está se tornando uma área aberta, amigável, compartilhadora, transparente e descentralizadora. INTRODUÇÃO À MODERNA GESTÃO DE PESSOAS Para mobilizar e utilizar plenamente as pessoas em suas atividades, as organizações estão mudando os seus conceitos e alterando as suas práticas gerenciais. Em vez de investirem diretamente nos produtos e serviços, elas estão investindo nas pessoas que entendem deles e que sabem como criá-los, desenvolvê-los, produzi-los e melhorá-los. Em vez de investirem diretamente nos clientes, eles estão investindo nas pessoas que os atendem e os servem e que sabem como satisfazê-los e encantá-los. Com isso, as pessoas passam a constituir o elemento básico do sucesso da empresa. Fala-se hoje em estratégia de recursos humanos para expressar a utilização deliberada das pessoas para ajudar a ganhar ou manter uma vantagem auto- sustentada da organização em relação aos concorrentes que disputam o mercado. A estratégia constitui o plano global ou a abordagem geral que a organização adota, para assegurar que as pessoas possam cumprir adequadamente a missão organizacional. O CONTEXTO DA GESTÃO DE PESSOAS O contexto da gestão de pessoas é formado por pessoas e organizações. As pessoas passam parte de sua vida trabalhando na organização e a organização depende dessas pessoas para funcionar e alcançar o sucesso. De um lado, o trabalho toma considerável tempo da vida e dos esforços das pessoas, que dependem dele para garantir sua subsistência e sucesso pessoal. Crescer na vida e ser bem-sucedido, quase sempre significa crescer dentro da organização. De outro lado, as organizações dependem completamente das pessoas para operar, produzir seus bens e serviços, atender seus clientes, competir nos mercados e atingir seus objetivos globais e estratégicos. Com toda certeza as organizações jamais existiriam sem as pessoas que lhes dão vida, dinâmica, energia, inteligência, criatividade e racionalidade. Há uma relação de mútua dependência na qual há benefícios recíprocos. QUAIS SÃO AS ORGANIZAÇÕES? As organizações podem ser indústrias, comércio, bancos financeiros, hospitais, universidades, lojas, prestadoras de serviços etc. Podem ser grandes, médias e pequenas quanto ao seu tamanho. Podem ser públicas ou privadas quanto à sua propriedade. Quase tudo de que a sociedade necessita é produzido pelas organizações. Vivemos em uma sociedade de organizações, pois nascemos nelas, aprendemos nelas, servimo-nos delas, trabalhamos nelas e passamos a maior parte de nossas vidas dentro delas. TERMOS QUE DEFINEM AS PESSOAS NA ORGANIZAÇÃO. Dentro do contexto visto, é difícil separar o comportamento das pessoas e o das organizações. As organizações funcionam por meio das pessoas, que delafazem parte e que decidem e agem em seu nome. Vários termos são utilizados para definir as pessoas que trabalham nas organizações. Elas são chamadas de funcionários, empregados, pessoal, trabalhadores, operários quando as organizações as tratam como tal. Ou podem ser chamadas de recursos humanos, colaboradores, associados, se as organizações as tratam dessa maneira. Ou ainda talento humano, capital humano, capital intelectual se as pessoas têm um valor maior para a organização. Muitas organizações classificam seus funcionários em mensalistas e horistas para separar o pessoal que trabalha nos escritórios e nas fábricas respectivamente. OS DESAFIOS DO TERCEIRO MILÊNIO O terceiro milênio aponta para mudanças cada vez mais velozes e intensas no ambiente, nas organizações e nas pessoas. O mundo moderno se caracteriza por tendências que envolvem: globalização, tecnologia, informação, conhecimento, serviços, ênfase no cliente, qualidade, produtividade e competitividade. Todas essas tendências estão afetando e continuarão a afetar a maneira pela qual as organizações utilizam as pessoas. Todas essas fortes tendências influenciam poderosamente as organizações e o seu estilo de administrar com as pessoas. O mundo dos negócios ficou completamente diferente, exigente, dinâmico, mutável e incerto e as pessoas sentem o impacto dessas influências e necessitam de um apoio e suporte por parte dos seus líderes e gerentes. E eles requerem, por seu lado, o apoio e suporte da ARH. OS NOVOS PAPÉIS DA GESTÃO DE PESSOAS Com todas essas mudanças e transformações no mundo todo, a área de RH está passando por profundas mudanças. Na verdade, os papéis hoje assumidos pelos profissionais de RH são múltiplos: eles devem desempenhar papéis operacionais e ao mesmo tempo estratégicos. Precisam ser políticos e parceiros simultaneamente. Em outros termos, para que a área de RH possa adicionar valor à organização, servir aos seus objetivos e criar vantagens competitivas ela precisa desempenhar papéis cada vez mais múltiplos e complexos. OS QUATRO PAPÉIS PRINCIPAIS DE RH SÃO: 1. Administração de estratégias de recursos humanos. Como RH pode ajudar a impulsionar a estratégia organizacional. 2. Administração da infra-estrutura da empresa. Como RH pode oferecer uma base de serviços à organização para ajudá-la a ser eficiente e eficaz. 3. Administração da contribuição dos funcionários. Como RH pode ajudar no envolvimento e comprometimento dos funcionários, transformando-os em agentes empreendedores, parceiros e fornecedores para a organização. 4. Administração da transformação e da mudança. Como RH pode ajudar na criação de uma organização criativa, renovadora e inovadora. ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA MODERNA GESTÃO DE PESSOAS A Gestão de Pessoas se baseia em três aspectos fundamentais: As pessoas como seres humanos. Dotados de personalidade própria e diferentes entre si, como uma história pessoal particular e diferenciada, possuidores de conhecimentos, habilidades e competências indispensáveis à adequada gestão dos recursos organizacionais. Pessoas como pessoas e não como meros recursos da organização. As pessoas como ativadores inteligentes de recursos organizacionais. Como elementos impulsionadores da organização e capazes de dotá-la de inteligência, talento e aprendizagem indispensáveis à sua constante renovação e competitividade em um mundo cheio de mudanças e desafios. As pessoas como fonte de impulso próprio que dinamiza a organização e não como agentes passivos, inertes e estáticos. As pessoas como parceiros da organização. Capazes de conduzi-la à excelência e ao sucesso. Como parceiros, as pessoas fazem investimentos na organização (como esforço, dedicação, responsabilidade, comprometimento, riscos etc), na expectativa de colherem retornos desses investimentos (como salários, incentivos financeiros, crescimento profissional, carreira etc). Qualquer investimento somente se justifica quando traz um retorno razoável. Na medida em que o retorno é bom e sustentável, a tendência certamente será a manutenção ou aumento do investimento. Daí, o caráter de reciprocidade na interação entre pessoas e organizações. E também o caráter de atividade e autonomia a não mais de passividade e inércia das pessoas. Pessoas como parceiros ativos da organização e não como meros sujeitos passivos dela. Resumindo As organizações são constituídas de pessoas e dependem delas para atingir seus objetivos e cumprir suas missões. E, para as pessoas, as organizações constituem o meio através do qual elas podem alcançar vários objetivos pessoais, com um custo mínimo de tempo, de esforço e conflito (isoladamente, possivelmente as pessoas não alcançariam seus objetivos). Sem organizações e sem pessoas certamente não haveria a Gestão de Pessoas. Termos como empregabilidade e empresabilidade são usados para indicar, de um lado, a capacidade das pessoas em manter seus empregos e, de outro, a capacidade das empresas em desenvolver e utilizar as habilidades intelectuais e capacidades competitivas dos seus membros. OS OBJETIVOS DA GESTÃO DE PESSOAS As organizações bem-sucedidas estão percebendo que apenas podem crescer, prosperar e manter sua continuidade se forem capazes de otimizar o retorno sobre os investimentos de todos os parceiros, principalmente o dos empregados. Quando uma organização está voltada para as pessoas, a sua filosofia global e sua cultura organizacional passam a refletir essa crença. A gestão de Pessoas é a função que permite a colaboração eficaz das pessoas (empregados, funcionários, recursos humanos, talentos ou qualquer denominação utilizada) para alcançar os objetivos organizacionais e individuais. Os nomes como: departamento de pessoal, relações industriais, recursos humanos, desenvolvimento de talentos, capital humano ou capital intelectual, são utilizados para descrever a unidade, departamento ou equipe relacionada com a gestão das pessoas. Cada qual reflete uma maneira de lidar com as pessoas. O termo ARH ainda é o mais comum de todos eles. Para que os objetivos da Gestão de Pessoas sejam alcançados, é necessário que as pessoas sejam tratadas como elementos básicos para a eficácia organizacional. Os objetivos da Gestão de Pessoas são variados. A ARH deve contribuir para a eficácia organizacional através dos seguintes meios: 1. Ajudar a organização a alcançar seus objetivos e realizar sua missão. A função de RH é fundamental para a organização de hoje. Antigamente, a ênfase era colocada no fazer corretamente as coisas através dos métodos e regras impostos aos funcionários para obter eficiência. O salto para a eficácia veio com a preocupação em atingir objetivos e resultados. Não se pode imaginar a função de RH sem se conhecer o negócio de uma organização. Cada negócio tem diferentes implicações na ARH. O principal objetivo da ARH é ajudar a organização a atingir suas metas, objetivos e a realizar sua missão. 2. Proporcionar competitividade à organização. Isso significa saber empregar as habilidades e competências da força de trabalho. A função da ARH é fazer com que as forças das pessoas sejam mais produtivas para beneficiar clientes, parceiros e empregados. Esta foi a crença que levou Walt Disney a construir a Disney a partir das suas próprias pessoas. No nível macroeconômico, a competitividade é o grau em que uma nação pode, em condições livres e justas de mercado, produzir bens e serviços que sejam bem aceitos nos mercados internacionais, enquanto simultaneamente mantém ou expande os ganhos reais de seus cidadãos. Nesta definição, a palavra nação pode ser substituída por organização e a palavra cidadãos por empregados. 3. Proporcionar à organização pessoas bem treinadas e bem motivadas. Quando umexecutivo diz que o propósito da ARH é construir e proteger o mais valioso patrimônio da empresa (as pessoas), ele está se referindo a este objetivo da ARH. Preparar e capacitar continuamente as pessoas é o primeiro passo. O segundo é dar reconhecimento às pessoas e não apenas dinheiro. Para melhorar e incrementar seu desempenho, as pessoas devem perceber justiça nas recompensas que recebem. Isso significa recompensar bons resultados e não recompensar pessoas que não se desempenham bem. Tornar os objetivos claros e explicar como são medidos e quais as decorrências do seu alcance. As medidas de eficácia da ARH (e não apenas a medida de cada chefe) é que devem ser proporcionadas às pessoas certas, na fase certa do desempenho de um trabalho, e no tempo certo para a organização. 4. Aumentar a auto-atualização e a satisfação das pessoas no trabalho. Antigamente a ênfase era colocada nas necessidades da organização. Hoje, sabe-se que as pessoas precisam ser felizes. Para que sejam produtivas, as pessoas devem sentir que o trabalho é adequado às suas capacidades. Para as pessoas, o trabalho é maior fonte de identidade pessoal. As pessoas despendem a maior parte de suas vidas no trabalho e isso requer uma estreita identidade com o trabalho que fazem. Pessoas satisfeitas não são necessariamente as mais produtivas. Mas pessoas insatisfeitas tendem a desligar-se da empresa, a se ausentar freqüentemente e a produzir pior qualidade do que pessoas satisfeitas. A felicidade na organização e a satisfação no trabalho são fortes determinantes do sucesso organizacional. 5. Desenvolver e manter qualidade de vida no trabalho. Qualidade de vida no trabalho (QVT) é um conceito que se refere aos aspectos da experiência do trabalho, como estilo de gestão, liberdade e autonomia para tomar decisões, ambiente de trabalho agradável, segurança no emprego, horas adequadas de trabalho e tarefas significativas e agradáveis. Um programa de QVT procura estruturar o trabalho e o ambiente de trabalho no sentido de satisfazer a maioria das necessidades individuais das pessoas e tornar a organização um local desejável e atraente. A confiança das pessoas na organização também é fundamental para a retenção e a fixação de talentos. 6. Administrar e impulsionar a mudança. Nas últimas décadas, houve um período turbulento de mudanças sociais, tecnológicas, econômicas, culturais e políticas. Essas mudanças e tendências trazem novas abordagens, mais flexíveis e ágeis, que devem ser utilizadas para garantir a sobrevivência das organizações. E os profissionais de ARH devem saber como lidar com as mudanças se realmente querem contribuir para o sucesso de sua organização. São mudanças que se multiplicam exponencialmente e cujas soluções impõem novas estratégias, filosofias, programas, procedimentos e soluções. 7. Manter políticas éticas e comportamento socialmente responsável. Toda atividade de ARH deve ser aberta, transparente, confiável e ética. As pessoas não devem ser discriminadas, e os seus direitos básicos devem ser garantidos. Os princípios éticos devem ser aplicados a todas as atividades da ARH. Tanto as pessoas como as organizações devem seguir padrões éticos e de responsabilidade social. A responsabilidade social não é uma exigência feita apenas às organizações, mas também e principalmente às pessoas que nelas trabalham. OS PROCESSOS DE GESTÃO DE PESSOAS NA ARH DE HOJE: O que é um processo? É um conjunto de atividades estruturadas e destinadas a resultar em um produto especificado para um determinado cliente. É uma ordenação específica das atividades de trabalho no tempo e no espaço, com um começo, um fim e entrada e saídas claramente identificadas. O cliente do processo não é necessariamente um cliente externo da empresa, ele pode estar dentro da empresa, é o chamado cliente interno. A moderna Gestão de Pessoas consiste de várias atividades integradas, como descrição e análise de cargos, planejamento de RH, recrutamento, seleção, orientação e motivação das pessoas, avaliação do desempenho, remuneração, treinamento e desenvolvimento, relações sindicais, segurança, saúde e bem-estar etc. O que é a Gestão de Pessoas? No seu trabalho, cada administrador (seja ele um diretor, gerente, chefe ou supervisor) desempenha as quatro funções administrativas que constituem o processo administrativo, a saber: planejar, organizar, dirigir e controlar. A ARH procura ajudar o administrador a desempenhar todas essas funções por que ele não realiza seu trabalho sozinho, mas através das pessoas que formam sua equipe. É com sua equipe de subordinados que o administrador executa as tarefas e alcança metas e objetivos. A ARH refere-se às políticas e práticas necessárias para administrar o trabalho das pessoas, tais como: 1. Análise e descrição de cargos e modelagem do trabalho; 2. Recrutamento e seleção de pessoal e admissão de candidatos selecionados; 3. Orientação e integração de novos funcionários; 4. Administração de cargos e salários; 5. Incentivos salariais e benefícios sociais; 6. Avaliação do desempenho das pessoas; 7. Comunicação aos funcionários; 8. Treinamento e desenvolvimento das pessoas; 9. Desenvolvimento organizacional; 10. Higiene, segurança e qualidade de vida no trabalho; 11. Relações com empregados e relações sindicais; Essas políticas podem ser resumidas em seis processos básicos: OS SEIS PROCESSOS BÁSICOS DE GESTÃO DE PESSOAS Na verdade, a Gestão de Pessoas é um conjunto integrado de processos dinâmicos e interativos. Os seis processos básicos de gestão de Pessoas são os seguintes: 1. Processos de agregar pessoas. 2. Processos de aplicar pessoas. 3. Processos de recompensar pessoas. 4. Processos de desenvolver pessoas. 5. Processos de manter pessoas. 6. Processos de monitorar pessoas. O equilíbrio na condução de todos esses processos é fundamental. Daí a necessidade de um balanced scorecard para integrar todos eles. Quando um processo é falho, ele compromete todos os demais. Além disso, todos esses processos são desenhados de acordo com as exigências das influências ambientais externas e das influências organizacionais internas para obter a melhor compatibilização entre si. Ele deve funcionar como um sistema aberto e interativo. Trata-se de um modelo de diagnóstico de RH. AS PESSOAS NA ORGANIZAÇÃO Gestão de Pessoas é uma área sensível à mentalidade que predomina nas organizações. Ela depende de vários aspectos, como a cultura que existe em cada organização, da estrutura organizacional adotada, das características do contexto ambiental, do negócio da organização, da tecnologia utilizada, dos processos internos e de uma infinidade de outras variáveis importantes. AS PESSOAS COMO PARCEIRAS DA ORGANIZAÇÃO Atualmente as organizações estão ampliando sua visão e atuação estratégica. Todo o processo produtivo somente se realiza com a participação paralela de diversos parceiros, sendo que cada um contribui com algum recurso. Os fornecedores contribuem com matérias-primas, insumos básicos, serviços e tecnologias e esperam lucros e novos negócios; os acionistas e investidores contribuem com capital e investimentos que permitem o aporte financeiro para a aquisição de recursos e esperam lucros e dividendos, valor agregado. Os empregados contribuem com seus conhecimentos, capacidades e habilidades, proporcionando decisões e ações que dinamizam a organização e esperam salários, benefícios, retribuições e satisfações. Os clientes e consumidores contribuem para a organização, adquirindo seus bens ou serviços colocados no mercado e esperam qualidade, preço, satisfação, valor agregado. Cada parceiro está disposto a continuar investindo seusrecursos na medida em que obtém retornos e resultados satisfatórios de seus investimentos. Todos esses parceiros, atualmente, são indispensáveis para o sucesso da empresa. No entanto, o parceiro que consideram mais íntimo da organização é o empregado, pois é aquele que está dentro dela, que lhe dá vida e dinamismo e que faz as coisas acontecerem. PESSOAS COMO RECURSOS OU COMO PARCEIROS DA ORGANIZAÇÃO? Neste contexto, a questão básica é a escolha entre tratar as pessoas como recursos ou como parceiros da organização. Os colaboradores podem ser tratados como recursos produtivos das organizações: os chamados recursos humanos. Como recursos, eles são padronizados, uniformes, inertes e precisam ser administrados, o que envolve planejamento, organização, direção e controle das atividades, já que são considerados sujeitos passivos da ação organizacional. Daí, a necessidade de administrar os recursos humanos para obter deles o máximo rendimento possível. Nesse sentido, as pessoas constituem parte do patrimônio físico na contabilidade organizacional. São recursos da organização, o que significa “coisificar” as pessoas. A outra escolha é visualizar as pessoas como parceiros das organizações. Como tais, elas seriam fornecedoras de conhecimentos, habilidades, competências e, sobretudo, o mais importante aporte para as organizações: a inteligência que proporciona decisões racionais e que imprime significado e rumo aos objetivos do negócio. Nesse sentido, as pessoas constituem o capital humano e intelectual da organização. Organizações bem-sucedidas tratam seus colaboradores como parceiros do negócio e fornecedores de competências, não como simples empregados contratados. O objetivo principal desta primeira parte é introduzir o leitor no campo da moderna gestão relacionada com pessoas, seus talentos e suas competências. Será discutido o moderno conceito de gestão com e por meio das pessoas e suas várias abordagens desenvolvidas nas últimas décadas, e os contornos que ela está assumindo no novo milênio. Também serão discutidas as características da GP em um ambiente dinâmico, o planejamento estratégico de GP e o seu importante papel na moderna e dinâmica estratégia empresarial. ARH COMO RESPONSABILIDADE DE LINHA E FUNÇÃO DE STAFF Há um princípio básico em ARH: gerir pessoas é uma responsabilidade de linha e uma função de staff. Isso significa que quem deve gerir as pessoas é o próprio gerente (ou supervisor ou líder de equipe), ao qual elas estão subordinadas. Ele tem a responsabilidade direta pela condução de seus subordinados. Devido a isso, existe o princípio da unidade de comando: cada pessoa deve ter um e apenas um gerente. A contrapartida desse princípio é que cada gerente é o único e exclusivo chefe dos seus subordinados. Para que o gerente possa assumir com plena autonomia essa responsabilidade de gerir seu pessoal, ele precisa receber assessoria e consultoria do órgão de ARH, que lhe proporciona os meios e serviços de apoio. Assim, gerir pessoas é uma responsabilidade de cada gerente que deve receber orientação do staff a respeito das políticas e procedimentos adotados pela organização. CENTRALIZAÇÃO/DESCENTRALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES DE RH O conceito básico de que administrar pessoas é uma responsabilidade de linha e uma função de staff é fundamental. No entanto, o que acontece é que as empresas sempre se defrontam com o problema do grau de centralização/descentralização de suas áreas de atividades. Na área de ARH sempre predominou uma forte tendência para a centralização e concentração na prestação de serviços para as demais áreas empresariais. A tal ponto que, em muitas empresas o recrutamento e seleção, a admissão, integração, treinamento e desenvolvimento, administração de salários e remuneração, administração de benefícios, higiene e segurança do trabalho, avaliação do desempenho, eram estreitamente concentrados na área de ARH, com pouca participação gerencial das demais áreas. Nisso, a área de ARH era essencialmente exclusivista e, até certo ponto, hermética, mantendo a sete chaves os segredos das suas decisões e atividades. A atividade prestadora de serviços do staff (ARH) prevalecia fortemente sobre a responsabilidade de linha dos gerentes da empresa, a tal ponto que o staff é quem tomava as decisões peculiares da linha. A centralização preponderava sobre a descentralização. CENTRALIZAÇÃO DA ARH No passado as decisões e ações de RH eram totalmente centralizadas no órgão de RH. Os gerentes de linha não tinham nenhuma inclusão nestes aspectos. Quando a ARH é centralizada, existem os seguintes prós e contras: Prós: 1. Reúne os especialistas de RH em um só órgão; 2. Incentiva a especialização; 3. Proporciona elevada integração intradepartamental; 4. A área de ARH é perfeitamente delimitada e autônoma; 5. Focaliza a função de RH e, conseqüentemente, as tarefas e atividades de RH em um conjunto único; 6. Ideal para pequenas organizações. Contras: 1. Excessiva concentração das decisões e ações no staff de RH; 2. Monopólio e exclusividade das decisões e ações de RH no staff; 3. Homogeneização e padronização das práticas de RH; 4. Manutenção e conservação do status quo; 5. Distanciamento do foco de ação; 6. O órgão de ARH torna-se operacional e burocrático; 7. Proporciona administração autoritária e autocrática; 8. Os gerentes de linha ficam afastados dos assuntos de RH; DESCENTRALIZAÇÃO DA ARH A tendência moderna é descentralizar as decisões e ações de RH rumo aos gerentes, que se tornam os gestores de pessoas. Quando a ARH é descentralizada, existem os seguintes prós e contras: Prós: 1. Descentraliza todas as decisões e ações de RH nos gerentes de linha; 2. Desmonopolização das decisões e ações de RH; 3. Adequação das práticas de ARH às diferenças individuais das pessoas; 4. Órgão de ARH torna-se consultor interno dos gerentes de linha; 5. Focalização no cliente interno; 6. Favorece a administração participativa dos gerentes e equipes; 7. Promove a visão estratégica através das unidades estratégicas de RH. Contras: 1. O órgão de ARH perde suas fronteiras e limites e torna-se aberto e receptivo; 2. Os especialistas de RH se dispersam entre as unidades estratégicas; 3. Perda da visão de conjunto das práticas de RH; 4. Necessidade de terceirização de atividades burocráticas. A INTERAÇÃO ENTRE ESPECIALISTAS DE RH E GERENTES DE LINHA Na realidade, as tarefas de ARH mudaram com o tempo. Hoje, elas são desempenhadas nas organizações por dois grupos de executivos: de um lado, os especialistas de RH que atuam como consultores internos, e de outro, os gerentes de linha (gerentes, supervisores etc.) que estão envolvidos diretamente nas atividades de RH por serem responsáveis pela utilização eficaz de seus subordinados. Os gerentes de linha utilizam um tempo considerável na gestão de pessoas, em reuniões, conversas individuais ou grupais, telefonemas, e-mails, solução de problemas e definição de planos futuros. Todo gerente de linha é responsável se a produção cai ou se a máquina falha e prejudica a produção. Da mesma maneira ele também deve cuidar pessoalmente do treinamento, desempenho e satisfação dos subordinados. CONFLITOS ENTRE LINHA E STAFF Quando os dois lados (gerentes de linha e especialistas de RH – staff) tomam decisões sobre as mesmas pessoas, geralmente ocorrem conflitos. Isso ocorre porque os gerentes de linha e os especialistas em RH discordam sobre quem tem a autoridade para tomar as decisões sobre pessoas ou porque têm diferentes orientações a respeito. Os conflitos entre linhae staff já são tradicionais. O especialista de staff está preocupado com suas funções básicas de proporcionar consultoria, aconselhamento e informação sobre a sua especialidade. Ele não tem autoridade direta sobre o gerente de linha. O gerente de linha tem autoridade para tomar as decisões relacionadas com suas operações e seus subordinados. Ocorre que nem sempre existe uma distinção clara entre linha e staff nas organizações. O conflito entre especialistas de RH e gerentes de linha é mais crítico quando as decisões exigem um trabalho conjunto em assuntos como disciplina, condições de trabalho, transferências, promoções e planejamento de pessoal. EXISTEM TRÊS MANEIRAS PARA REDUZIR O CONFLITO ENTRE LINHA E STAFF: 1. Demonstrar aos gerentes de linha os benefícios de usar programas de RH. 2. Atribuir responsabilidades por certas decisões de RH exclusivamente aos gerentes de linha, e outras exclusivamente aos especialistas de RH. 3. Treinar ambos os lados (gerentes de linha e especialistas de RH) em como trabalhar juntos e tomar decisões conjuntas. Esta alternativa é mais eficaz se a organização tem um padrão de carreiras que proporciona o rodízio entre posições de linha e de staff. A rotação de cargos entre ambos ajuda cada grupo a compreender melhor os problemas do outro. AS RESPONSABILIDADES DE ARH DOS GERENTES DE LINHA Lidar com pessoas sempre foi parte integral da responsabilidade de linha de cada executivo, desde o presidente até o mais baixo nível de supervisão. Organizações bem-sucedidas definem as seguintes responsabilidades de linha para os gerentes: 1. Colocar a pessoa certa no lugar certo, isto é, recrutar e selecionar; 2. Integrar e orientar os novos funcionários na equipe; 3. Treinar e preparar as pessoas para o trabalho; 4. Avaliar e melhorar o desempenho de cada pessoa no cargo ocupado; 5. Ganhar cooperação criativa e desenvolver relações agradáveis de trabalho; 6. Interpretar e aplicar as políticas e procedimentos da organização; 7. Controlar os custos trabalhistas; 8. Desenvolver as habilidades e competências de cada pessoa; 9. Criar e manter elevado moral na equipe; 10. Proteger a saúde e proporcionar condições adequadas de trabalho. Em organizações de pequeno porte, os gerentes de linha assumem todas essas responsabilidades sem qualquer assistência interna ou externa. À medida que a organização cresce, o trabalho dos gerentes de linha se divide e se especializa e eles passam a necessitar de assistência através da consultoria de um staff de RH. A partir daí a ARH torna-se então uma função especializada de staff. Com o princípio da responsabilidade de linha e função do staff em vista, deve- se descentralizar a gestão das pessoas no nível das gerências de linha, de um lado, enquanto, de outro, mantém-se a função de assessoria e consultoria interna através do órgão de RH. Cada qual no seu papel para proporcionar o melhor em termos de condução das pessoas em direção aos objetivos da organização, permitindo também o alcance dos objetivos individuais. No modelo descentralizado, a área de RH oferece produtos e serviços aos gerentes, e a unidade de RH passa a ser uma unidade de negócios dentro da organização. Como tal deve gerar lucro para a empresa e atender aos clientes internos dentro do conceito de consultoria interna. Cuidar das políticas de RH Prestar assessoria e suporte Dar consultoria interna de RH Proporcionar serviços de RH Dar orientação de RH Cuidar da estratégia de RH Cuidar da sua equipe de pessoas Tomar decisões sobre subordinados Executar as ações de RH Cumprir metas de RH Alcançar resultados de RH Cuidar da tática e operações A ESTRUTURA DO ÓRGÃO DE GESTÃO DE PESSOAS Antigamente, os órgão de ARH eram tradicionalmente estruturados dentro do esquema de departamentalização funcional que predominava nas empresas. A estrutura funcional privilegia a especialização de cada órgão e a cooperação interdepartamental, mas produz duas conseqüências indesejáveis: 1. Os objetivos departamentais tornam-se mais importantes que os objetivos globais e organizacionais; 2. A enorme dificuldade de cooperação interdepartamental (os departamentos mais se separam e brigam do que cooperam entre si) que impede a sinergia entre os órgãos. Aparentemente, a especialização de cada órgão parece trazer vantagens pela concentração e integração de profissionais. No entanto, essas vantagens são toldadas pela orientação focada nos objetivos específicos de cada função. Privilegiam-se os objetivos divisionais e departamentais, enquanto que os objetivos da empresa vão para o brejo. Além disso, embora a estrutura funcional favoreça a coordenação intradepartamental, ela dificulta enormemente a coordenação interdepartamental. Torna-se difícil obter a cooperação e a colaboração dos diversos departamentos sem assuntos mais amplos. E, cada órgão funciona como uma entidade organizacional definitiva, permanente, separadas das demais. ADMINISTRAÇÃO DO TALENTO HUMANO Em muitas organizações, a denominação administração de recursos humanos (ARH) está sendo substituída por expressões como gestão de pessoas (GP), gestão com pessoas, gestão do talento humano, gestão de parceiros ou de colaboradores, gestão de competências, gestão do capital humano ou administração do capital intelectual. Diferentes nomes para representar um novo espaço e uma configuração da área. Apenas para facilitar a exposição, será mantida ainda a velha e tradicional denominação RH. Nesta primeira parte, vamos abordar as mudanças que estão ocorrendo nas organizações bem-sucedidas e, portanto, nas suas áreas de GP. Saber gerir talento humano está se tornando indispensável para o sucesso das organizações. Ter pessoas não significa necessariamente ter talentos. E qual é a diferença entre pessoas e talentos? Um talento é sempre um tipo especial de pessoa: aquela que possui competências. E nem sempre toda pessoa é um talento. Para ser talento a pessoa precisa possuir algum diferencial competitivo que a valorize. Hoje, o talento envolve quatro aspectos essenciais para construir uma competência individual: Conhecimento: é o saber. É o resultado de aprender a aprender, aprender continuamente e aumentar continuamente o conhecimento. O conhecimento é a moeda mais valiosa do século XXI. Habilidade: é o saber fazer. Significa utilizar e aplicar o conhecimento para resolver problemas ou situações ou criar e inovar. Em outras palavras, é a transformação do conhecimento em resultado. Julgamento: é saber analisar a situação e o contexto. Significa saber obter dados e informação, ter espírito crítico, julgar os fatos, ponderar com equilíbrio e definir prioridades. Atitude: é saber fazer acontecer. A atitude empreendedora permite alcançar e superar metas, assumir riscos, atuar como agente de mudança, agregar valor, obter excelência e focar em resultados. É o que leva a pessoa a alcançar a autorrealização do seu potencial. Talento era o nome dado a uma moeda valiosa na Antiguidade. Hoje, é preciso saber atrair, aplicar, desenvolver, recompensar, reter e monitorar esse ativo precioso para as organizações. E quem deve fazê-lo? Esse é um desafio para toda a organização, não apenas para a área de GP. Trata-se de um ativo importante demais para ficar restrito a uma única e exclusiva área da organização. Talento é uma pessoa dotada de competências. CAPITAL HUMANO O conceito de talento humano conduz necessariamente ao conceito de capital humano, o patrimônio inestimável que uma organizaçãopode reunir para alcançar competitividade e sucesso. O capital humano é composto de dois aspectos principais: 1. Talentos: Dotados de conhecimentos, habilidades e competências que são constantemente reforçados, atualizados e recompensados. Contudo, não se pode abordar o talento isoladamente como um sistema fechado. Sozinho ele não vai longe, pois precisa existir e coexistir dentro de um contexto que lhe permita liberdade, autonomia e retaguarda para poder se expandir. 2. Contexto organizacional: é o ambiente interno adequado para que os talentos floresçam e cresçam. Talento é como uma semente delicada. Se ela é plantada em um solo desfavorável, certamente fenecerá. Sem esse terreno favorável e impulsionador, o talento murcha ou foge. O contexto organizacional é determinado por aspectos como: Desenho organizacional flexível, com uma divisão do trabalho que coordene as pessoas e o fluxo dos processos e das atividades de maneira integrada. Cultura organizacional democrática e participativa que inspire confiança, comprometimento, satisfação, espírito de equipe e solidariedade. Estilo de gestão baseado na liderança renovadora e no coaching, com descentralização do poder, delegação e empowerment (autorização). O contexto organizacional deve funcionar como um colchão ou uma plataforma capaz de incentivar e impulsionar os talentos rumo à excelência. Assim, não basta ter talentos para possuir capital humano. É preciso ter talentos que estejam integrados em um contexto organizacional realmente acolhedor e impulsionador. Se o contexto é favorável e incentivador, os talentos podem se desenvolver e crescer. Se o contexto não é adequado, os talentos fogem ou ficam isolados e amarrados. O conjunto de ambos – continente e conteúdo – proporciona o conceito de capital humano. Isso tem um significado importante para a GP: não se trata mais de lidar com pessoas e transformá-las em talentos apenas, mas também cuidar do contexto organizacional no qual elas trabalham. Este é o novo papel da GP: lidar com pessoas, com a organização do seu trabalho, com a cultura organizacional que as envolve e com o estilo de gestão utilizado pelos gerentes como gestores de pessoas – e, principalmente, lembrando o fato de que o conceito de capital humano conduz ao conceito de capital intelectual. Aliás, o capital humano é a parte mais importante do capital intelectual Dessa forma, não basta ter talentos para possuir capital humano, é preciso ter talentos colocados em um contexto. Se o contexto é favorável e incentivador, os talentos podem se desenvolver e crescer. Se o contexto não for adequado, os talentos fogem ou ficam amarrados. A conjunção de ambos (continente e conteúdo) proporciona o conceito de capital humano. E o conceito de capital humano conduz ao conceito de capital intelectual. CAPITAL INTELECTUAL É um dos conceitos mais discutidos recentemente. Ao contrário do capital financeiro (que é basicamente quantitativo, numérico e baseado em ativos tangíveis e contábeis), o capital intelectual é invisível e intangível. Daí a dificuldade de geri-lo de forma adequada. O capital intelectual é composto por capital interno, capital externo e capital humano, como demonstrado na figura. HIGIENE DO TRABALHO A higiene do trabalho ou higiene ocupacional está relacionada com as condições ambientais de trabalho que assegurem a saúde física e mental das pessoas, e com as condições de bem-estar delas. Do ponto de vista de saúde física, o local de trabalho é a área de ação da higiene do trabalho, envolvendo aspectos ligados com a exposição do organismo humano a agentes externos, como ruído, ar, temperatura, umidade, luminosidade e equipamentos. Assim, um ambiente saudável de trabalho deve envolver condições ambientais físicas que atuem positivamente sobre todos os órgãos dos sentidos humanos – visão, audição, tato, olfato e paladar. Do ponto de vista de saúde mental, o ambiente de trabalho deve envolver condições psicológicas e sociológicas saudáveis e que atuem positivamente sobre o comportamento das pessoas, evitando impactos emocionais, como o estresse. Os principais itens do programa de higiene do trabalho estão relacionados com: Ambiente físico de trabalho: ligados ao bem-estar, envolvendo: Iluminação: luminosidade adequada a cada tipo de atividade. Ventilação: remoção de gases, fumaça e odores desagradáveis, bem como efetivar a proibição de fumar ou utilização de máscaras, caso necessário. Temperatura: manutenção de níveis adequados de temperatura. Ruídos: remoção de ruídos ou utilização de protetores auriculares. Conforto: ambiente agradável, repousante e aconchegante. Ambiente psicológico de trabalho: ligados ao bem-estar psicológico, envolvendo: Relacionamentos humanos agradáveis. Tipo de atividade agradável e motivadora. Estilo de gerencia democrático e participativo. Eliminação de possíveis fontes de estresse. Envolvimento pessoal e emocional. Aplicação de princípios de ergonomia: para eliminar a fadiga, envolvendo: Máquinas e equipamentos adequados às características dos usuários. Mesas e instalações ajustadas ao tamanho das pessoas. Ferramentas que reduzam a necessidade de esforço físico humano. Saúde ocupacional: envolvendo aspectos que serão vistos a seguir. SAÚDE OCUPACIONAL Uma maneira de definir saúde é a ausência de doenças. Contudo, os riscos para a saúde, como riscos físicos e biológicos, tóxicos e químicos, bem como condições estressantes de trabalho, podem provocar riscos no trabalho. O ambiente de trabalho em si também pode provocar doenças. Uma definição mais ampla de saúde é o estado físico, mental e social de bem-estar.2 Essa definição enfatiza as relações entre corpo, mente e padrões sociais. A saúde de uma pessoa pode ser prejudicada por doenças, acidentes ou estresse emocional. Os gerentes devem assumir também a responsabilidade de cuidar do estado geral de saúde dos colaboradores, incluindo o bem-estar psicológico. Um colaborador excelente e competente, mas deprimido e com baixa autoestima, pode ser tão improdutivo A saúde ocupacional está relacionada com a assistência médica preventiva. A Lei no 24/1994 instituiu o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional, que exige exame médico pré-admissional, exame médico periódico, exame de retorno ao trabalho (no caso de afastamento superior a 30 dias), exame de mudança de função, antes da transferência, e o exame médico demissional nos 15 dias que antecedem o desligamento definitivo do funcionário. O programa de medicina ocupacional envolve os exames médicos exigidos legalmente, além de executar programas de proteção à saúde dos funcionários, palestras de medicina preventiva, elaboração do mapa de riscos ambientais, relatório anual e arquivos de exames médicos com avaliação clínica e exames complementares, visando à qualidade de vida dos colaboradores e maior produtividade da organização MEDICINA OCUPACIONAL Os programas de saúde começaram a atrair a atenção, pois as consequências de programas inadequados são perfeitamente mensuráveis: aumento de pagamentos de indenizações, aumento de afastamentos por doença, aumento dos custos de seguros, aumento do absenteísmo e da rotatividade, baixa produtividade e baixa qualidade, além de pressões sindicais. Os custos de programas inadequados são altíssimos e devem ser evitados com programas profiláticos e preventivos. Um programa de saúde ocupacionalrequer as seguintes etapas: Definição de uma política de saúde ocupacional na organização. Estabelecimento de um sistema de indicadores e métricas, abrangendo estatísticas de afastamentos e acompanhamento de doenças. Desenvolvimento de sistemas de relatórios médicos. Desenvolvimento de regras e procedimentos para prevenção médica. Recompensas aos gerentes e supervisores pela administração eficaz da função de saúde ocupacional. Campanhas de esclarecimento e orientação sobre alimentação sadia, sedentarismo, obesidade, uso de drogas, tabagismo, alcoolismo, estresse e problemas pessoais ou familiares. ESTRESSE NO TRABALHO Estresse é um conjunto de reações físicas, químicas e mentais de uma pessoa decorrente de estímulos ou estressores que existem no ambiente. É uma condição dinâmica que surge quando uma pessoa é confrontada com uma oportunidade, restrição ou demanda relacionada com o que ela deseja. O autoritarismo do chefe, desconfiança, pressão das exigências e cobranças, cumprimento do horário de trabalho, chatice e monotonia de certas tarefas, o baixo- astral dos colegas, a falta de perspectiva de progresso profissional e a insatisfação pessoal não somente derrubam o bom humor das pessoas, como também provocam estresse no trabalho. O estresse é a soma das perturbações orgânicas e psíquicas provocadas por diversos agentes agressores, como: traumas, emoções fortes, fadiga, exposição a situações conflitivas e problemáticas, etc. O estresse provoca ansiedade e angústia. Certos fatores relacionados com o trabalho, como sobrecarga de atividade, pressão de tempo e urgência, relações problemáticas com chefes ou clientes provocam reações como nervosismo, inquietude, tensão, etc. Alguns problemas – como dependência de álcool e abuso de drogas – muitas vezes são decorrentes do estresse no trabalho ou na família. Existem duas fontes principais de estresse no trabalho: causas ambientais e causas pessoais. 1. Causas ambientais: envolvem uma variedade de fatores externos e contextuais que podem conduzir ao estresse no trabalho. Incluem a programação de trabalho intensivo, falta de tranquilidade no trabalho, insegurança no trabalho, fluxo intenso de trabalho e o número e natureza dos clientes internos ou externos a serem atendidos. Pesquisas revelam que o ruído ambiental decorrente de máquinas funcionando, pessoas conversando e telefones tocando contribui para o estresse em 54% das atividades de trabalho. 2. Causas pessoais: envolvem uma variedade de características individuais que predispõem ao estresse. Cada pessoa reage de diferentes maneiras na mesma situação aos fatores ambientais que provocam o estresse. Personalidades do tipo A – aquelas pessoas que são viciadas no trabalho (workaholics) e que são impulsionadas a alcançar metas – geralmente estão mais sujeitas ao estresse do que as outras. A pouca tolerância para a ambiguidade, a impaciência, a baixa autoestima, a saúde precária e a falta de exercícios físicos e os maus hábitos de trabalho e sono fazem com que reajam negativamente ao estresse, seja decorrente do trabalho ou de problemas pessoais, familiares, conjugais, financeiros e legais. O estresse no trabalho provoca sérias consequências tanto para o colaborador quanto para a organização. As consequências pessoais do estresse incluem ansiedade, depressão, angústia e várias consequências físicas, como distúrbios gástricos e cardiovasculares, dores de cabeça, nervosismo e acidentes. Em certos casos, levam ao abuso de drogas, alienação e redução de relações interpessoais. Por outro lado, o estresse também afeta a organização, ao interferir negativamente na quantidade e na qualidade do trabalho, no aumento do absenteísmo, na rotatividade e na predisposição a queixas, reclamações, insatisfação e greves. O estresse não é necessariamente disfuncional. Algumas pessoas trabalham bem sob alguma pressão e são mais produtivas em um esquema de cobrança de metas. Outras buscam incessantemente mais produtividade ou um melhor trabalho. Um nível modesto de estresse conduz à maior criatividade quando uma situação competitiva requer novas ideias e soluções. Como regra geral, muitas pessoas não se preocupam com uma pequena pressão, desde que possa conduzir a consequências desejadas ou a resultados positivos. COMO REDUZIR O ESTRESSE NO TRABALHO Existem várias maneiras de aliviar o estresse, indo desde maior tempo de sono a tratamentos exóticos, como biofeedback e meditação. Albrecht sugere as seguintes medidas para reduzir o estresse: Relações cooperativas, recompensadoras e agradáveis com os colegas. Não tentar forçar mais do que cada um pode fazer. Relações construtivas e eficazes com o gerente. Compreender os problemas do chefe e ajudá-lo a compreender os seus. Negociar ou propor com o gerente metas realísticas para o trabalho. Estudar o futuro e aprender como se defrontar com eventos possíveis. Encontrar tempo para se desligar das preocupações e relaxar. Andar pelo escritório para manter a mente tranquila e alerta. Verificar os ruídos no trabalho e buscar meios para reduzi-los. Sair do escritório algumas vezes para mudar de cena e esfriar a “cuca”. Reduzir o tempo em que se concentra atenção. Delegar rotina e papelório. Limitar interrupções: programar períodos de isolamento e de reuniões. Não ficar muito tempo lidando com problemas desagradáveis. Fazer uma relação de assuntos preocupantes. Listar os prioritários e as providências sobre cada um para que não fiquem rondando a memória. A organização, os gerentes de linha e os profissionais de RH podem colaborar com a identificação e a redução do estresse no trabalho. Para o gerente de linha, inclui monitorar cada colaborador para identificar sintomas de estresse e informar os “remédios” organizacionais disponíveis, como transferências de cargo ou aconselhamento. Os especialistas de RH podem fazer pesquisas de atitudes para identificar fontes organizacionais de estresse, refinando os procedimentos de seleção e colocação para assegurar a adequação entre pessoa e cargo, bem como propor um planejamento de carreiras em função de atitudes. SEGURANÇA NO TRABALHO Um programa de segurança no trabalho requer as seguintes etapas: Estabelecimento de um sistema de indicadores e estatísticas de acidentes. Desenvolvimento de sistemas de relatórios de providências. Desenvolvimento de regras e procedimentos de segurança. Recompensas aos gerentes e supervisores pela administração eficaz da função de segurança. A segurança do trabalho envolve três áreas principais de atividade: prevenção de acidentes, prevenção de incêndios e prevenção de roubos. A finalidade é profilática no sentido de antecipar e definir programas preventivos para que os riscos de acidentes sejam minimizados. A seguir a primeira delas: prevenção de acidentes. PREVENÇÃO DE ACIDENTES Anualmente são divulgadas estatísticas de acidentes que ocorrem no país com o número de mortos, feridos, aleijados, incapacitados para o trabalho e incapacitados para a vida normal. São perdas desastrosas. Em um ano, os EUA presenciaram 6.200 mortes e mais de 6,5 milhões de pessoas com lesões corporais resultantes de acidentes no trabalho. No Brasil, ocorrem cerca de mil acidentes por dia em média, proporcionando 370 mil acidentes por ano. Acidente é um fato não premeditado do qual resulte dano considerável. O National Safety Council define acidente como uma ocorrência em uma série de fatos que, sem intenção, produzam lesão corporal,morte ou dano material. Essas definições consideram o acidente como um fato súbito, inesperado, imprevisto – embora algumas vezes previsível – e não premeditado ou desejado e, ainda como causador de dano considerável, embora não determinem se ocorre dano econômico (prejuízo material) ou dano físico à pessoa (como dor, sofrimento, invalidez ou morte). De acordo com o Decreto no 6.042/2007, entende-se como acidente de trabalho o evento que teve a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), protocolada no Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) e aquele que, embora não tenha sido objeto de CAT, deu origem a benefício por incapacidade de natureza acidentária. Todo acidente com ou sem afastamento deve ser cadastrado no INSS por uma CAT para encaminhamento ao Sistema de Comunicação de Acidentes do Trabalho. Assim, quanto à gravidade os acidentes do trabalho são classificados em: Simples assistência médica: com atendimento médico seguido da pronta recuperação do segurado para o exercício da atividade laboral. Incapacidade com afastamento inferior a 15 dias: com interrupção do exercício laboral durante o período de tratamento psicofisicossocial. Quando inferior ou igual a 15 dias, não gera pagamento por parte do INSS, sendo a cobertura financeira (remuneração salarial) de responsabilidade do empregador. Incapacidade com afastamento superior a 15 dias: a interrupção do exercício laboral durante o período de tratamento psicofisicossocial por ocasião do acidente do trabalho, quando superior a 15 dias, é coberto financeiramente (remuneração salarial) pelo INSS. Incapacidade permanente: refere-se ao afastamento em decorrência de permanente incapacitação para o exercício laboral. A incapacidade permanente pode ser de dois tipos: 1. Parcial: quando após o devido tratamento psicofisicossocial, o segurado apresenta sequela definitiva que implica na redução da capacidade laboral devidamente enquadrada em legislação específica, redução da capacidade laboral com exigência de maior esforço para o desempenho da mesma atividade que exercia na época do acidente ou em impossibilidade de desempenho da atividade que exercia à época do acidente, permitido, porém, o desempenho de outra após processo de reabilitação profissional, nos casos indicados pela perícia médica do INSS. A informação é captada a partir da concessão do benefício. 2. Total: quando o segurado apresenta incapacidade permanente e total para o exercício de qualquer atividade laboral. A informação é captada a partir do auxílio-acidente por acidente de trabalho ou por aposentadoria por invalidez por acidente de trabalho. Óbito: é o falecimento do segurado ocorrido em função do acidente de trabalho durante o exercício laboral. Essa informação é captada a partir da protocolização da CAT por morte decorrente de acidente de trabalho e da habilitação de pensão por morte por acidente de trabalho, em caso de morte de segurado em gozo de benefício acidentário, tendo em vista que essas pensões são, necessariamente, vinculadas ao óbito decorrente de acidente de trabalho. Quanto ao seu processamento, os acidentes podem ser classificados em: 1. Acidente sem CAT registrada: corresponde ao número de acidentes cuja CAT não foi cadastrada no INSS. A pessoa continua trabalhando e sem qualquer sequela ou prejuízo considerável. Este tipo de acidente não provoca o afastamento do trabalho nem é considerado nos cálculos dos coeficientes de frequência (CF) e de gravidade (CG), embora deva ser investigado e anotado em relatório, além de exposto nas estatísticas mensais. a. Acidentes com CAT registrada: corresponde ao número de acidentes cuja CAT foi cadastrada no INSS. Não é contabilizado o reinício de tratamento ou afastamento por agravamento de lesão de acidente do trabalho ou doença do trabalho, já comunicado anteriormente ao INSS. b. Acidentes típicos: são os acidentes decorrentes da característica da atividade profissional desempenhada pelo acidentado. c. Acidentes de trajeto: ocorridos no trajeto entre a residência e o local de trabalho do segurado e vice-versa. d. Doença profissional ou do trabalho: produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinado ramo de atividade constante do Anexo II do Regulamento da Previdência Social (RPS), aprovado pelo Decreto no 3.048, de 6 de maio de 1999; e por doença do trabalho, seja adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, desde que constante do Anexo II. Os acidentes com afastamento do trabalho podem ser classificados em: Incapacidade temporária: provoca a perda temporária da capacidade para o trabalho, cujas sequelas se prolongam por um período menor do que um ano. No retorno ao trabalho, a pessoa assume sua função sem qualquer redução da capacidade de trabalho. Incapacidade parcial permanente: provoca a redução parcial e permanente para o trabalho, cujas sequelas se prolongam por período maior do que um ano. É geralmente motivada por: a. Perda de qualquer membro ou parte deste. b. Reduçãodafunçãodequalquermembroouparte deste. c. Perda da visão ou redução funcional de um olho. d. Perda da audição ou redução funcional de um ouvido. e. Quaisquer outras lesões orgânicas, perturbações funcionais ou psíquicas que resultem, na opinião do médico, em redução de menos de três quartos da capacidade de trabalho. Incapacidade permanente total: provoca a perda total em caráter permanente da capacidade de trabalho. É geralmente motivada por: a. Perda da visão de ambos os olhos. b. Perda da visão de um olho com redução em mais da metade da visão do outro. c. Perda anatômica ou impotência funcional de mais de um membro de suas partes essenciais (mão ou pé). d. Perda da visão de um olho, simultânea à perda anatômica ou impotência funcional de uma das mãos ou de um pé. e. Perda da audição de ambos os ouvidos ou, ainda, redução em mais da metade de sua função. f. Quaisquer outras lesões orgânicas, perturbações funcionais ou psíquicas permanentes que ocasionem, sob opinião médica, a perda de três quartos ou mais da capacidade para o trabalho. Óbito: o acidente provoca a morte da pessoa. A figura dá uma ideia gráfica da classificação de acidentes no trabalho e quando devem ser registrados para efeito de estatísticas. ESTATÍSTICAS DE ACIDENTES A VI Conferência Internacional de Estatística do Trabalho estabeleceu em 1947 dois coeficientes para medir, controlar e avaliar os acidentes no trabalho: o coeficiente de frequência e o coeficiente de gravidade. Ambos são utilizados em todos os países, permitindo comparações internacionais, além de comparações en- tre organizações de diferentes ramos de atividade. •» Coeficiente de frequência (CF): significa o número de acidentes com afastamento em cada um milhão de homens/horas trabalhadas, no período conside- rado, que pode ser mensal ou anual. É um índice que relaciona o número de acidentes com cada um milhão de homens/horas trabalhadas, a fim de pro- porcionar comparações estatísticas com todos os tipos e tamanhos de organizações. O cálculo do CF se baseia nas seguintes informações: –» Número médio de colaboradores: é o efetivo de pessoal no período considerado. Envolve todo o pessoal da organização de todas as áreas e níveis. Além do coeficiente global, pode- se utilizar o CF para cada uma das unidades (departamentos, se- ções), em períodos mensais e anuaispara efeito de comparação interna. –» Homens/horastrabalhadas:éamultiplicaçãodo número médio de colaboradores pelo total de horas de trabalho no período considerado. São as horas em que as pessoas estão sujeitas a aciden- tes no trabalho. No número de horas/homens trabalhadas são incluídas horas extras e excluí- das horas remuneradas não trabalhadas (como as decorrentes de faltas abonadas, licenças, fé- rias, enfermidades e descanso remunerado). Em geral, consideram-se 8 horas por dia de trabalho. A fórmula do CF é a seguinte: Coeficiente de gravidade (CG): significa o número de dias perdidos e computados em cada um milhão de homens/horas trabalhadas no período consi- derado. Esse período pode ser mensal ou anual. É um índice que relaciona o tempo de afastamento (gravidade do acidente) em cada um milhão de ho- mens/horas trabalhadas, para permitir compara- ções com outros tipos e tamanhos de organizações. O cálculo do CG se baseia nas seguintes informações: –» Número de dias perdidos por afastamentos: é o total de dias nos quais os acidentados ficam in- capacitados para o trabalho em consequência de acidentes com incapacidade temporária. Os dias perdidos são contados a partir do dia seguinte ao do acidente até o dia da alta médica, inclusive. Na contagem dos dias perdidos incluem-se os domingos, feriados e quaisquer dias em que não haja trabalho na organização. –» Dias perdidos transportados: é o total de dias per- didos por afastamentos no mês anterior ou ante- riores, quando o CG abrange o período anual ou quando o afastamento é maior do que o período. –» Dias computados e debitados: é o total dos dias computados por redução da capacidade ou mor- te dos acidentados. Há uma tabela convencio- nal de uso universal que transforma a morte ou incapacidade permanente, total ou parcial, em dias de trabalho perdidos. A fórmula do CG é a seguinte: Em função do tipo de atividade e dos riscos de aci- dentes envolvidos, cada tipo de organização apre- senta determinada tendência de CF e CG. Certas organizações apresentam elevado CF (muitos aci- dentes) e elevado CG (com afastamentos longos). Outras um elevado CF (muitos acidentes) acompa- nhado de baixo CG (pouca gravidade). Outras, um baixo CF (poucos acidentes) e elevado CG (muita gravidade e afastamentos longos). Outras, ainda, apresentam baixos CF e CG. Isso seria o ideal. •» Índice de acidentados (IA): é o número que exprime a combinação do CF com o CG. É utilizado para clas- sificar o resultado da frequência com que os aciden- tes ocorrem e seu impacto nas horas trabalhadas. A fórmula do IA é a seguinte: •» Índice de custo (IC): é o custo decorrente das despe- sas com pagamento de benefícios devidos a aciden- tes de trabalho. É utilizado para avaliar o custo dos acidentes de trabalho. A fórmula do IC é a seguinte: Em que: NA: número de acidentes no trabalho que geram benefícios. CAUSAS DE ACIDENTES NO TRABALHO Em todo acidente no trabalho estão presentes os seguintes elementos: •» Agente: é o objeto ou substância (máquina, local, equipamento que poderia ser adequadamente protegido) diretamente relacionado com a lesão, como prensa, mesa, martelo, escada, parede, etc. •» Parte do agente: é a parte do agente que está diretamente associada ou relacionada com a lesão, como volante, pé da mesa, cabo do martelo, piso da escada, acesso à parede, etc. •» Condição insegura: é a condição física ou mecânica existente no local, na máquina, no equipamento ou na instalação (que poderia ter sido protegida ou corrigida) e que leva à ocorrência do acidente, como piso escorregadio, oleoso, molhado, com saliência ou buraco, máquina desprovida de proteção ou com polias ou partes móveis desprotegidas, instalação elétrica com fios descascados, motores sem fio terra, iluminação deficiente. •» Tipo de acidente: é a forma ou modo de contato entre o agente do acidente e o acidentado, ou o resultado desse contato, como batidas, tombos, escorregões, choques, trombadas, etc. •» Ato inseguro: é a violação de procedimento aceito como seguro, ou seja, deixar de usar equipamento de proteção individual, distrair-se ou conversar durante o serviço, fumar em área proibida, lubrificar ou limpar máquina ligada ou em movimento. •» Fator pessoal de insegurança: é qualquer característica, deficiência ou alteração mental, psíquica ou física – acidental ou permanente – que permita ou provoque o ato inseguro. São problemas como visão defeituosa, audição deficiente, fadiga ou intoxicação, descuido, desatenção, problemas particulares, desconhecimento das normas de segurança. Mas o que causa o acidente no trabalho? Existem duas causas básicas no local de trabalho: as condições inseguras e os atos inseguros. 1. Condições inseguras: constituem as principais causas dos acidentes no trabalho. Incluem fatores que precisam ser localizados e mapeados, como zonas de perigo: •» Paredes, tetos e pisos que não oferecem segurança. •» Ausência de limpeza e escada sem corrimão. •» Cartazes, avisos ou obstrução em corredores ou escadas. •» Trânsito mal orientado. •» Iluminação deficiente e ruído excessivo. •» Equipamento defeituoso ou sem proteção. •» Acúmulo de máquinas e de pessoas. •» Equipamentos ou ferramentas defeituosos. •» Procedimentos arriscados em máquinas ou equipa- mentos. •» Armazenamento inseguro, congestionado ou so- brecarregado. •» Iluminação deficiente ou imprópria. 2. Atos inseguros: são comportamentos predispostos a acidentes. Eliminar apenas as condições inseguras é insuficiente. As pessoas podem causar acidentes. Os atos inseguros das pessoas costumam ser: •» Carregar materiais pesados de maneira inadequada. •» Trabalhar em velocidades inseguras – muito rápi- das ou muito lentas. •» Utilizar esquemas de segurança que não funcionam. •» Usar equipamento inseguro ou usá-lo inadequada- mente. •» Não usar procedimentos seguros. •» Assumir posições inseguras. •» Subir escadas ou degraus depressa. •» Desatenção a normas de segurança. •» Distrair, negligenciar, brincar, arriscar, correr, pu- lar, saltar, abusar, etc. As providências para evitar acidentes consistem em eliminar ou minimizar as condições inseguras e treinar intensivamente as pessoas. Outros fatores acidentais e que são considerados condições inseguras são: o cargo em si, a programação de trabalho prolongado e o clima psicológico do local de trabalho. traços de personalidade que predispõem a acidentes Algumas pesquisas tentaram identificar os traços de personalidade que distinguem as pessoas que são predispostas a provocar acidentes daquelas que não o são.24 O interessante é que uma pequena porcentagem de pessoas (cerca de 20%) é responsável por uma alta parcela de acidentes (algo em torno de 80%). Isso lembra a curva de Pareto. As pesquisas não conseguem definir quais são os traços pessoais comuns que predispõem as pessoas a acidentes. Ou seja, não há consenso de que a predisposição aos acidentes seja universal, pois uma pessoa predisposta a acidente em um tipo de trabalho pode não ser em outra atividade. Essa predisposição parece ser situacional. Os traços de personalidade (como instabilidade emocional ou pouca resistência à frustração) podem distinguir as pessoas predispostas a acidentes em atividades que envolvam riscos. Falta de habilidade motora pode predispor a acidentes quando a atividade exija excelente coordenação motora. A visão está relacionada com a frequência de acidentes em muitos casos. Motoristas de táxi, de ônibus intermunicipais e operadores de máquinas que têm
Compartilhar