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ENTOMOLOGIA MtiDICA OSWALD0 PAUL0 FORATTINI l 0 ramo da entomologia apli- cada a medicina, constitui sem dlivida, preocupacao constante e cada vez maior nas atividades sa- nitarias. As conseqtiencias sobre a vida humana, decorrentes da presenca dos artropodes, quanto mais estudadas, mais complexas se revelam. Se 15 verdade que alguns dbses problemas se enca- minham para soluc5.0 satisfatoria, nao e menos real que outros surgem concomitantemente. Dai a necessidade crescente de investi- gadores que se dediquem a tais estudos. Este livro pretende con- tribuir nesse sentido, isto 6, faci- litar a forma@0 de especialistas. 0 piano de separaciio da obra em mais de urn volume tern por objetivo atender, Go sbmente a complexidade do assunto coma tambern 5 finalidade de maior presteza na divulgacio. A inten- sidade corn que as investigaGbes OSWALD0 PAUL0 FORATTINI Professor P.dlunlo do Deparfamenfo de Parasifologla da Facu!- dade de Higlene e Satide Ptiblica da Universidade de SSro Paulo EntomoIogia Mbdica 1.O V.OLUME Parte Geral, Dipfera, Anophelini. FACULDADE DEHIGIENE E SArjDE PTjBLICA Departamento de Parasitologia SftO PAUL0 1962 A JOHN LANE PREIUCIO 0 aparecimenfo e utilizac6o em massa, no final da riltima con- flagra@io mundial, dos inseticidas de efeito residual, principalmente dos clorogenados, despertaram nos hornens de saride priblica, exage- rado otimismo, em rela@o ds doencas transmitidas por artrdpodes. Sentia-se naquela e’poca, estarem superados OS problemas de profila- xia da makiria e de outras endemias transmitidas por insetos. Z?sse estado de euforia, entretanto, deixou de contaminar alguns pesquisadores, que mesmo em face da grande eficn’cia do DDT, do BHC ou mesmo dos compostos organo-fosforados, continuaram em seus laboratdrios cuidando da sistemdtica e da biologia dos artrd- podes. A t?sse grupo de estudiosos, agregou-se OSWALD0 PAUL0 FORATTINI, no Departamento de Parasitologia da Faculdade de Higiene e Satide Ptiblica da Universidade de S6o Paulo e aqui temos o coroamento de seu trabalho fecundo. A partir de 1949, MARCH e METCALF, seguidos por numero- SOS investigadores, em todo o mundo, trouxeram o fruto de suas observa@es e experimentago”es, mostrando o aparecimento do fenii- meno da resistgncia pelos artrdpodes aos tdxicos empregados no seu combate. Observou-se primeiro a resistgncia da Musca domestica aos dife- rentes inseticidas. Desde 1953, que se vem constatando a ineficn’cia do DDT nas populag6es de Anopheles sacharovi, na Grdcia; nume- rosas outras espe’cies de anofelinos e de outros culicineos t$m impe- dido o born 6xito das campanhas de profilaxia, a certas doencas de massa. Hoje, mais de 50 espkcies de artrdpodes em vn’rias partes do mundo, n6o sofrem OS efeitos de urn ou mais tdxicos empregados para sua destruif6o; diante da evidgncia dos fates, voltaram-se OS sakta- ristas a exigir novamente novos e mais aprofundados estudos, no cam- po da Entomologia. ,?Zste primeiro volume da “Entomologia Me’dica”, ester’ dentro disse ciclo dos novos conhecimcntos entomoldgicos e constitui o resultado de uma pesquisa, orientada nara atender as mais prementes necessi- _ dades da Salide Priblica. Existe atualmente, mimer0 reduzido de publica@es nesse campo da Entomologia, que venha atender aos estudiosos da fauna da Regii?o 6 ENTOMOLOGIA MIZDICA Neo trdpica. I?ste livro, da ao estudante de medicina, ao de saride publica ou de outros ramos das ciencias medicas, a grande oportuni- dade de se inteirar dos conhecimentos atualizados, de que tanto necessitam. OSWALD0 PAUL0 FORATTINI neste primeiro tomo de sua “Entomologia Medica”, procura oferecer tam hem ao especialista, co- nhecimentos atualixados da materia. Divide o seu livro em varies capitulos, magoes gerais aplicadas a entomologia. iniciando-o corn as infor- Estuda o filo Arthropoda caracterizando-o e informando corn precisa’o, OS detalhes relacionados corn a morfologia e a biologia d&se grande agrupamento zooldgico. Destina Este primeiro tomo, ao estudo dos Diptera, focalixando cm particular a tribo Anophelini. Apresenta urn estudo complete dos anofelinos de Regiao Neo- trdpica e destaca corn especial atenctio OS fatos relacionados corn a biologia e ecologia dos vetores de malaria no Novo Mundo. Dedica o tiltimo capitulo ao estudo da Malaria e presta informa- @es atualixadas sobre importantes aspectos da epidemiologia e da profilaxia dessa parasitose. Procura relatar OS fatos fundamentais, ligados ao fenomeno da resistencia dos anofelinos aos inseticidas, atualmente, usados nas cam- panhas de profilaxia. Ocupa-se corn precisao dos metodos de erra- dicaca’o da malaria, que atualmente estao em desenvolvimento no Continente Americano. Todo o trabalho e acompanhado de uma farta bibliografia, ade- quadamente citada, de forma a facilitar a tarefa do interessado, no estu- do da entomologia aplicada as ciencias medrcas. Sao Paulo, 3 de Maio de 1962. PROF. Jose DE OLIVEIRA COL’TINHO Catedrzktico de Parasitologia INTRODUtCiiO Nasceu este livro da necessidade de oferecer aos nossos alunos de Entomologia Medica, fonte de consulta onde pudessem encontrar orientacao no aprendizado da especialidade. Essa falta fez-se sentir nitidamente, desde a instalacao desses Cursos no Departamento de Parasitologia da Faculdade de Higiene e Saude Publica. Ate hoje, tal lacuna temo-la precariamente preenchida pela ado@0 do sistema de postilas, tanto de nossa lavra coma de especialistas que colaboram conosco nos trabalhos didaticos. Em conseqtikrcia, o volume da ma- teria mimeografada adquiriu consideravel vulto apontando, desde o comeco, a urgencia na elaboracao de texto mais ou menos definitivo. Resolvemos pois, iniciar a tarefa. Foi o que fizemos no decorrer do Segundo semestre de 1959, completando agora a primeira etapa. No historic0 da Entomologia Medica, o Continente Americano desempenha papel relevante. Corn efeito, o Brasil foi sede de uma das mais antigas observacdes sobre a transmissao de molestias por artropodes. Deve-se ela a Gabriel Soares de Souza e esta contida no “Tratado Descritivo do Brasil em 1587”. Diz &se autor, no pri- meiro paragrafo do capitulo XCIII, que trata dos mosquitos, grilos, besouros e brocas da Bahia: “Digamos logo dos mosquitos a que chamam NHITINGA, e sao muito pequenos e da feicao das moscas, OS quais nao mordem, mas sao muito enfadonhos, porque se p6em nos olhos, nas narizes; e nao deixam dormir de dia no campo, se r-60 faz vento. l3tes sao amigos das chagas, e chupam-lhe a peconha que tern, e se se vao p6r em qualquer cossadura de pessoa sZi, deixam-lhe a peconha nela, do que se vem muitas pessoas a encher de boubas”. Como se v@, referia-se corn t6da a certeza, aos pequenos dipteros da Familia Chloropidae, vulgarmente denominados “lambe olhos” e que, em alguns lugares, ainda hoje conservam aquela primitiva deno- minacao, coma nos mesmos tivemos oportunidade de verificar na regiao sul do Estado de Sao Paulo. 8 ENTOMOLOGIA MtiDICA A tais observa@es iniciais, segue-se longo period0 silencioso, interrompido apenas pelas teorias de Bancroft em 1769, sabre a transmissao da bouba e de Beauperthuy em 1854, responsabilizando OS mosquitos pela veiculacao da febre amarela. Em fins do seculo XIX e inicio do XX, ocorrem as importantes observa@es que levaram a descoberta da transmissao malarica e amarilica. A primeira inicia-se corn as verifica@es de Ross em 1897, as quais se seguem em 1898 e 1899, as de Manson, MacCallum, Bastianelli, Bignani, Grassi e Koch, concluindo corn OS trabalhos de Sambon e Low em 1900. No que concerne a febre amarela, it na ilha de Cuba que se realizam as observa@es pioneiras de Finlay em 1881, e as definitivasde Reed, Carrol, Lazear e Agramonte em 1900. Corn o surgir do s&u10 XX, OS estudos entomologicos aplicados a medicina, adquirem maior incremento, revelando problemas e fatos novos a requerer solucao. Tal estado atingiu o seu maxim0 em in- tensidade, por ocasiao da segunda conflagracao mundial, de 1939 a 1945. 0 fim d$ste period0 marca tambem o inicio da era do DDT e demais inseticidas dotados de poder de acao residual. Corn 0 advent0 de tais poderosos e eficientes compostos quimicos, as auto- ridades sanitarias foram tomadas de grande otimismo que Ievava a suposicao da rapida solucao dos problemas constituidos pelas moles- tias transmitidas por artropodes. Todavia, tal euforia teve bem curta duracao. Corn efeito, em pouco tempo ja ocorriam as primeiras verifica@es da resistencia que as populac6es desses animais ofere- ciam a acao inseticida. Iniciando-se corn a mosca domestica, &se fe- nomeno estendeu-se rapidamente a outras especies cujo numero, na atualidade, aumenta dia a dia. Inaugurou-se assim, novo capitulo da especialidade, o do estudo da “Resistencia dos Artropodes aos Inseticidas”, que adquire cada vez maior vulto e import&cia. Corn ele, verificaram tabem OS investigadores, a necessidade da volta as observacoes basicas e aos estudos biologicos gerais e ecologicos em particular. Visa-se corn isso, conhecer cada vez melhor esses animais e encontrar as soluc6es mais praticas para OS problemas por eles ocasionados. Era nosso objetivo initial reunir em urn so volume toda a mate- ria pertinente a este ramo das Ciencias Medicas. Todavia, a medida que o trabalho progredia, fomos mudando de id&a. Quando chega- INTRODUCAO 9 mos ao fim dos Capitulos s6bre anofelinos e malkia jh estivamos convencidos da premencia na divulgac5o do que tinhamos escrito. E isso, por vkios motives. Tratando-se de assunto de grande atuali- dade e objet0 de intensas investiga@es em t6das as partes do Mundo, OS conceitos esplanados sofreriam fatalmente acr&cimos e modifica- @es priticamente dikios. Assirn sendo, corn a demora na publica@o, correriamos inevitivelmente o risco de ter de rever ou mesmo refazer o que jh tinhamos feito. Preferimos deixar essa tarefa, se possivel, para futura nova edi$Zo. Alem disso, a matkria elaborada compor- tava, por si s6 urn volume initial. 0 que focalizamos diz respeito, exclusivamente, a assuntos e pro- blemas da RegGo Neotropical ou seja, Bs Americas, Central e do Sul. Isso r-Go significa que deixamos completarnente de lado certos aspectos peculiares a outras Areas. Abordamos alguns d?les quando tratamos de artr6podes ou molkstias que podem interessar, direta ou indiretamente, iquela regi5o. Foi nossa preocupacZo constante fornecer apanhados OS mais atualizados possiveis. Demos snfase ks aquisiC6es recentes e julga- mos que a consulta bibliogrifica seria mais c6moda quando sepa- rada por assuntos. Por &se motivo, colocamos as vZirias refercncias ao final de cada capitulo. Apesar, pork, d&se nosso cuidado, em certos cases as investiga@es Go atualniente muito intensas e portanto, dificis de acompanhar. Em vista disso, muito provivelmente i hora mesma em que estiverern sendo lidas estas linhas, novos dados terzo sido publicados. Mas, de qualquer maneira, o leitor poderi obter informa@es atualizadas ate esta data. Seguindo orienta@o eminentemente pritica, n?io nos limitamos i morfologia e taxon6mia dos artrbpodes de inter&se medico. Pro- curando dar maios destaque A biologia, nela ressaltamos OS conheci- mentos cuja aplica@o se reveste de valor em Satide Ptiblica. Assim sendo, tentamos imprimir sentido din%nico e eminentemente epidemio- 16gico aos assuntos que foram objet0 de esplana@o. Em vista disso, o leitor encontrari no@es suficientemente detalhadas, Go s6 s6bre OS artr6podes em si, mas tambtkn s6bre as entidades m6rbidas que transmitem ou das quais Go responsiveis. Esta orientaczo seri cons- tantemente mantida nos volumes subseqiientes. 10 ENTOMOLOGIA MIZDICA Nossa experiencia no ensino desta especialidade tern-nos mos- trado, de maneira constante, a importancia das ilustracbes, mormente quando se trata de estudos morfologicos e taxonomicos. Por We motivo, o texto vai acompanhado de abundante material ilustrativo, na sua quase totalidade original e de nossa autoria direta. Esta cir- cunstancia peculiar contribuira certamente para eliminar eventuais divergencias entre as descricoes e as figuras que as representam. OS nossos agradecimentos a pessoa do Prof. Jose de Oliveira Coutinho, Catedratico da Cadeira de Parasitologia Aplicada e Higiene Rural, desta Faculdade, pelas valiosas sugest6es a n6s oferecidas. Pelo mesmo motivo, eles sao extensiveis ao Prof. John Lane e ao Dr. Dino G. B. Pattoli, prezados companheiros de Departamento. Deixamos tambern consignado o nosso reconhecimento a Srta. Maria Levy Kuntz, pela feitura da parte datilografica e a Sra. Maria Cotrim Sarzana, pela revisao do trabalho tipografico. Sao Paula, dezembro de 1961. OSWALD~ PAULO FORATTINI I’NDICE CAP~ULO I - GENERALIDADES. Sistemhtica, nomenclatura, ecolo- gia, distribuiqgo e zoogeografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 CAPiTULO II - ARTHROPODA. Morfologia, reproduqgo, relaqCies corn outros seres vivos, classifica@o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 CAPiTULO III - INSECTA. Morfologia externa, morfologia interna, fisiologia, reproduqso, classificacgo . . . . . . . . , . . . . . . . . 51 CAPhULO IV - DIPTERA. Morfologia, biologia, classificapgo . . . . . . 87 CAPiTULO V - CULICIDAE. Morfologia e classifica@o . . . . . . . . . . . CAPhULO VI - CULZCIDAE. Biologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CAPi-lXLO VII - ANOPHELZNI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CAPhuLo VIII - MALARIA. Epidemiologia e profilaxia, erradica@o . 123 AP~NDICE - PRINClPAIS TKNICAS USADAS NAS INVESTI- GACsES COM ANOFELINOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185 303 505 593 fNDlCE ANALITICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 643 CAP~TULO I GENERALIDADES DefinipTo e ob jetivos Sistemdtica: Caracteres Espkie Subespkie Outras categorias Nomenclatura : Regras Internacionais Ecologia : Solo e vegeta@o Clima Microclima Predatismo Associaq5es Competi@o Alimenta@o Participaqgo na composiC50 populacional AdaptaCGes Hospedeiros e vetores DistribnicGo e Zoogeografia : Distribuiqgo Regi6es Zoogeogrificas RegGo Neotropical Refer6ncias DEFINICAO E OBJETIVOS Denomina-se ENTOMOLOGIA, o ramo da Zoologia que se ocupa corn o estudo dos metazoarios do Filo ARTHROPODA. Embora eti- mologicamente a palavra signifique “estudo dos insetos” (do grego entomon = inseto), ela 6 usada para designar o estudo de todos OS artropodes. N&se sentido, nao logrou aceitacao o term0 ARTRO- PODOLOGIA, usado que foi por alguns autores (Patton e Evans, 1929). 0 estudo dos artropodes compreende todos OS aspectos, bem coma a aplicacao final dos conhecimentos adquiridos. Dessa forma, a Entomologia apresenta-se subdividida em varias partes que, quando desenvolvidas, podem se transformar em outras tantas especialidades. Na verdade p&m, nada mais sao do que fases pelas- quais deve passar o estudo desses animais. Elas sao interdependentes. Assim sendo, vejamos o que ocorre no estudo de determinado artropode. e facil compreender que a primeira etapa deva pertencer a MORFO- LOGIA. De posse dos conhecimentos morfologicos, pode-se passar a classificacao e identificacao, objet0 da SISTEMATICA ou TAXO- NOMIA. Uma vez identificado, o animal sera estudado sob o ponto de vista de sua BIOLOGIA. Em etapa posterior, OS resultados obti- dos servirao as investigacdesda ECOLOGIA. E, finalmente, OS co- nhecimentos assim adquiridos serao aplicados nos diversos setores de inter&se para o homem. Em resumo, a investigacao entomologica reveste-se de varies aspectos e todos eles devem ser cuidados, desde que o objetivo 6 tomar OS diferentes artropodes suficientemente co- nhecidos. A Morfologia estuda e descreve as varias estruturas do corpo. 0 conhecimento destas 6 fundamental para compreender a posi@o das diversas especies na escala zoologica bem coma a fisiologia e a Sistematica ou Taxonomia agrupa OS animais em categorias e o comportamento do animal na natureza. Baseada em tais dados, a identifica. A Biologia compete levar a efeito as observac6es desti- nadas a desvendar OS aspectos da vida, da evolucao e da fisiologia. A Ecologia ocupa-se das rela@es corn OS outros seres e corn o am- biente em geral. Atualmente, dois ramos da Biologia adquirem, dia a dia, maior importancia nas investiga@es entomologicas. Trata-se da FISIOLO- GIA e da GENfiTICA. Deve-se isso principalmente ao aparecimento 16 ENTOMOLOGIA MJ~DICA do fenomen da resistencia dos artropodes aos inseticidas, para cuja compreensao, torna-se necesskio o conhecimento, cada vez maior, dos mecanismos fisiologicos e geneticos desses animais. OS dados adquiridos corn OS estudos supra mencionados serao utilizados, se far o case, no controle das especies nocivas ou no aproveitamento das titeis. Evidentemente, o estudo entomologico pode ser realizado sem objetivo de aplicacao pratica imediata, embora sem- pre exista a probabilidade desta vir a se fazer mais tarde, indepen- dentemente das inten@es iniciais. ~2, pois, a ENTOMOLOGIA PURA a que estuda OS artrdpodes sem se preocupar corn a influencia, maior ou menor, que OS mesmos possam ter s6bre a vida humana. Dada porem a crescente importancia que esses animais apresentam nas suas rela@es corn 0s outros seres vivos, surgiu a necessidade imperiosa de estudos visando a aplicacao imediata dos conhecimentos obtidos. Dai a origem da ENTOMOLOGIA APLICADA, corn suas diversas especialidades : economica, agricola, medica e veterinaria. Podemos, pois, definir a ENTOMOLOGIA MeDICA coma sendo o ramo da Entomologia Aplicada destinado ao estudo daqueles artro- podes que, gracas as suas relac6es corn o homem, adquiriram inte- r&se em medicina humana. 0 objetivo final reside, consequente- mente, no contrale eficaz dos mesmos. SISTEMATICA 0 numero de especies animais 6 grande. Por &se motivo, se o estudo zoologico pretende conseguir visa0 global do Reino e, poste- riormente, especializar-se em alguma parte do mesmo, deve neces- sariamente agrupar esses seres em categorias. Isto significa que e imprescindivel a classificacao ou ordenacao dos animais em grupos afins, e este e o objetivo da SISTEMATICA ou TAXONOMIA. Como se ve, a finalidade imediata da classificacao 6 de ordem pi-5 tica, isto P, a identificacao precisa do animal para que possam se1 levadas a efeito ulteriores investigacbes. Isso, porem, sem prejuizo de outros interesses, coma seja a disposicao em grupos tais que se evidenciem as relac6es de afinidade entre OS mesmos. CARACTERES - No desempenho de sua funcao, o taxonomista lanca mao de determinadas particularidades, proprias do animal, que recebem o nome geral de caracteres. ktes podem ser de diversos tipos corn0 morfologicos internos ou externos, microscopicos ou ma- croscopicos, fisiologicos 01-1 ecologicos. Sempre porem e desejavel que tais elementos sejam associaveis, caracterizando em conjunto a especie estudada. GENERALIDADES 17 A escolha dos caracteres a serem usados pode ser artificial ou arbitraria. Assim, por exemplo, o investigador baseando-se em par- ticularidades de determinado orgao ou parte do corpo, separa OS animais de ac6rdo corn as variac6es d&se caracter. Modernamente, a tendencia 6 no sentido da adocao de um sistema natural ou seja, urn meio que baseado na teoria da evolucao, indique as relacoes de parentesco entre OS diversos componentes do Reino Animal. Neste tipo de Taxonomia 6 fundamental a escolha de elementos indicativos de origem semelhante, isto 6, que evidenciem a homologin. NSo se devem confundir, todavia, corn OS que mostram semelhanca funcional ou analogia, pois esta nem sempre tern o mesmo significado de rela- gi0. Essa pesquisa, pois, implica na realizacao de estudos acurados e prolongados nos campos da embriologia, ecologia, fisiologia e ou- tros. Por isso mesmo, tais estudos estao longe ainda de serem sa- tisfatorios para a maioria dos animais, motivo pelo qua], as homologias ainda se fundamentam principalmente em semelhancas de ordem mor- fologica. Contudo, nao se deve perder de vista a finalidade util da classificacao, e o born taxonomista saber-a recorrer ao seu senso cien- tifico escolhendo OS caracteres bons e praticos que levam a identifi- cacao precisa do animal. ESPZXJZE - A unidade basica da classificacao 6 a espe’cie. As definic6es desta categoria nao Go uniformes e as varias apresenta- das nao satisfazem a totalidade dos cases existentes. Apesar disso, podemos, para fins didhticos, dizer que a especie 6 urn grupo de indi- viduos corn OS caracteres essenciais seguintes : sao semelhantes entre si; possuem urn ancestral comum ; 3) t&l certa area de distribuicao; 4) diferem igualmente dos componentes de grupos proximos; 5) apresentam barreira de infertilidade corn Gsses individuos, isto 6, do cruzamento fora da especie r-60 resulta produto fertil. SUBESPKCIE - Pode ocorrer que, dentro de uma especie, exis- tam individuos formando popula@es. &tes diferem dos outros, por certos caracteres tomados mais no sentido de medias do que no absoluto. Tais especimens constituem as chamadas ragas geogrdficas ou su6espkcies. Elas ocupam “habitats” e areas de distribui@o de- finidas e diferentes em cujos limites, podem ser encontrados exempla- res portadores de caracteres intermediaries entre OS que permitiram a separacao. 18 ENTOMOLOGIA MtiDICA OUTRAS CATEGORIAS - Partindo da unidade, ou seja, a especie, OS animais sao agrupados em categorias cada vez maiores. Sao as seguintes: o GiSNERO ou reniao de especies; a FAMiLIA ou reuniao de generos; a ORDEM ou reuniao de familias; a CLASSE ou reuniao de ordens; o FILO ou reuni%o de classes e por fim, no nosso case, o REIN0 ANIMAL que refine OS varies filos. Tais categorias sao constantes e obrigatorias, isto 6, todo animal deve pertencer a cada uma delas. Existem outras, de posicao inter- mediaria entre as anteriores e cuja existencia e facultativa, ou seja, esta na dependkrcia da complexidade do grupo, do grau de conhe- cimentos atingidos ou da necessidade de evidenciar OS varies niveis de parentesco entre OS componentes. Assim, temos, na mesma ordem anterior, a SUBESPKIE, o SUBGENERO, a TRIBO, a SUB- FAMiLIA, a SUPERFAMiLIA, a SUBORDEM, a SUBCLASSE, o SUBFILO e o SUBREINO. 0 que foi dito pode ser resumido da seguinte maneira : Categorias constantes Categorias facrdfativas REIN0 ANIMAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . SUBREINO FILO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . SUBFILO CLASSE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . SUBCLASSE ORDEM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . SUBORDEM SUPERFAMiLIA FAMfLIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . SUBFAMiLIA TRIBO GENERO ..,...................... SUBGENERO ESPI~CIE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . SUBESPI~CIE NQMENCLATURA 0 animal, uma vez identificado, necessita receber denominacao que seja tinica, exclusiva e reconhecida em qualquer parte do Mundo. c evidente que OS nomes comuns, alem de imprecisos, nao atendem a 3ses requisitos. Podemos tomar, coma exemplo, o case dos flebo- tomos, dos quais se conhece numerosas especies. Eles 60 global- mente designadospelos leigos corn OS mais variados names coma sejam : “biriguis”, “mosquitos-palha”, “bereres”, “cangalhinhas” e “tatuquiras”, para citar somente OS usados no Brasil. IZ claro que tais denominacdes nao satisfazem as condi@es referidas. Dai se conclui da necessidade de se adotar urn process0 de denorninacao universalmente aceito. We 6 o chamado Sistema de Nomenclatura Bionominal criado por Lineu (Linnaeus) na decima edi@o do seu “Systema Naturae” de 1758. 0 referido metodo de Lineu consiste na ado@0 do Latim coma lingua oficial e na designacao de cada especie por duas palavras d&se idioma. 0 primeiro desses vocabulos 6 o gene’rico, isto 6, des- tina-se a designar o genera a que pertence o animal. 0 Segundo 6 0 especifico, ou seja, pertence propriamente a especie em questao. Para designar a subespecie, o nome desta 6 colocado logo apes o especifico e a denominacao passa a ser assim, trinominal. As demais categorias sao designadas apenas por uma expressao e portanto sua nomenclatura 6 uninominal. No case particular de subgcnero, quando se deseja cita-lo, o nome 6 colocado abreviado ou nao, em seguida ao generico e entre parkrtesis. I GENERALIDADES 19 Urn exemplo ilustrara o que foi dito: Nome Nome Nome Nome GenPrico Subgenkrico Especifico Subespecifico ESPGCIE . . . . . . . Culex (Culex) pipiens - SUBESPGCIE , . . Crrlex (Cdex) pipiens fafigans REGRAS INTERNACIONAIS - Para sanar as confusdes que pudessem surgir e estabelecer normas a serem seguidas universalmen- te, foram criadas e aprovadas, nos Congressos Internacionais de Zoologia, as chamadas REGRAS INTERNACIONAIS DE NOMEN- CLATURA ZOOLOGICA. Existe outrossim, em carater permanente, a Comissao de Nomenclatura, cuja funcao 6 de, atraves decis6es su- plementares, resolver OS cases omissos que a ela forem sendo apre- sentados. Nao ha espaco, num livro desta natureza, para transcrever tadas as leis que constituem o conjunto citado. Mencionaremos ape- nas as que julgamos de uso mais corrente, e que devem ser do conhe- cimento de todo taxonomista: 1 - OS nomes cientificos devem ser latinos ou latinizados. 2 - 0 nome generico, no nominativo singular, e escrito corn a primeira letra em tip0 maiiksculo, enquanto que 0 especifico em minuscule. Exemplo : Musca dome’stica. 3 - 0 nome da Familia forma-se acrescentando ao radical do gkero tipico, o sufixo idae, o da Subfamilia acrescentan- do-se inae e o da Tribo, acrescentando-se ini. Exemplo: Genera Culex, Familia Culicidae, Subfamilia Culicinae, Tribo Culicini. 29 ENTOMOLOGIA MEDICA 4- Quando e descrita nova especie, devem ser indicados OS tipos. &tes sao OS exemplares sobre OS quais se baseou a descricao. Quando existe somente urn especimen, este e o holdtipo. No case de mais de urn ou seja, uma serie de individuos, um deles sera escolhido coma holotipo e OS restantes serao 0s parbtipos. Dktes, urn que seja do sexo oposto ao do holotipo sera designado coma aldtipo. Se o autor nao escolheu OS tipos entre a serie que lhe serviu a descricao, todos OS exemplares receberao o nome cotipos e constituirao assim, a se’rie cotipica. 5 - 0 nome do autor ou autores podera ser acrescentado, intei- ro ou abreviado, logo em seguida ao nome cientifico, sem pontuacao de qualquer especie. Se f8r desejavel, separado por uma virgula, pode-se acrescentar o ano em que foi fei- ta a descricao. Exemplo: Phlebotomus intermedias Lutz e Neiva, 19 12. No case de haver mudanca de categoria sistematica, pode-se acrescentar o nome do autor da mesma maneira, porem, entre parentesis. Exemplo : Anopheles oswaldoi (Peryassu, 1922). 6 - 0 nome cientifico e sempre t’inico e a designacao valida e a mais antiga. Esta P a chamada lei da prioridade. Em sua obediencia, OS names posteriores dados a mesma cate- goria ou especie sao considerados sit-2Gnimos. Em case de categorias ou especies diferentes, passam a ser hom8nimos e, neste case, o mais recente devera ser modificado. 7 - Todo nome generic0 ou especifico somente sera conside- rado valid0 se, quando de sua criacao, far acompanhado de diagnose diferencial, isto e, sumula de caracteres dife- renciais corn OS grupos proximos. ECOLOCIA Na Natureza, nenhum ser, animal ou vegetal, vive isoladamente. Todos mantern relacdes, quer entre si, quer corn o ambiente. Assim formam-se conjuntos de seres que recebem o nome de comunidades. 0 estudo dessas rela@es entre seres vivos e das comunidades que estabelecem constitui o objet0 da ECOLOGIA. Aos locais onde as varias especies vivem e se reproduzem, se da o nome generic0 de habitat. GENERALIDADES 21 A composi@o quantitativa e qualitativa de qualquer comunidade animal sofre as influhcias diretas ou indiretas de numerosos fatares. htes podem ser considerados sob OS seguintes t6picos: 1 - Fat6res inerentes ao AMBIENTE: A) Solo e vegetacgo. B) Clima. C) Microclima. 2 - FatGres inerentes i COMUNIDADE: A) Predatismo. B) Associa@es : a) Colonialismo. b) Inquilinismo. c) Comensalismo. d) Simbiose. e) Parasitismo. C) Competi~20. 3 - Fatares inerentes i ESPKIE: A) Alimentac5o. B) Participacao na composi$Zo populacional. C) AdaptaqGes. SOLO E VEGETACAO - A natureza e composi@o quimica do solo regulam a vegeta@o. Esta, por sua vez, influi nas espkcies animais que dela dependem para sua subsisthcia, abrigo e criadou- ros. A vegeta@o 6 a fonte dos elementos essenciais de que OS ani- mais necessitam. As plantas utilizam o carbono, o oxighio, o nitro- ghio e 0s vh-ios minerais e, corn o aproveitamento da energia solar, conseguem sintetizar 0s compostos orghicos que ~20 necesshios aos animais. Compreende-se, pois, que o solo, a vegeta@o e a fauna, constituam elos de uma mesma cadeia. 22 ENTOMOLOGIA MI~DICA CLIMA - OS fatores clmaticos principais, coma a temperatura e a umidade, influem poderosamente s6bre a composic;ao das comu- nidades animais. Nas regi6es tropicais, cles sZ0 pouco variaveis. 0 contrario acontece em outras, onde as estac6es do ano sao bem mar- cadas. Assim sendo, o estudo das popula@es deve levar em consi- deracao a variac6o estacional subordinada a variabilidade desses fat6res climaticos. No nosso meio, por exemplo, as observac6es rea- lizadas corn diferentes especies de insetos demonstraram, de maneira evidente, a maior producao nos meses quentes e umidos, em contra- posicao a menor que ocorre nos meses frios e secos. Compreende-se pois que tais observa@es sao dotadas de grande importancia quando se trata, no case que nos interessa, de especies vetoras de molestias. 0 estudo de sua variacao populacional permite determinar as epocas e as condi@es de maior transmissao. MICROCLIMA - As condi@es de temperatura e umidade das keas restritas constituem o que se denomina de Microclima. Seu es- tudo tern importancia ao se pretender observar a influencia exercida sobre OS animais em seus abrigos. De modo geral, nesses locais, a temperatura e a unidade mostram valores e variac6es diferentes das do clima geral da regiao e o seu estudo pode levar a conhecimentos interessantes sobre o modo de vida dessas especies. PREDATZSMO - E o process0 pelo qua1 uma especie animal se alimenta de outra, destruindo-a. Quando ele ocorre dentro da mesma especie, recebe o nome particular de canibalismo. Se a ali- mentacao se processa sobre individuos mortos, o process0 denomina-se necrofagismo ou necrofagia. AssOC/ACfiEs - As relac6es entre especies animais podem variar atraves enorme graduacao. Esta pode ser figurada, de modo empirico, desde o encontro fortliito ate a intima situacao de interde- pendencia. Existem, portanto, varies tipos de rela@es que denomi- names genericamente de associapjes. Podemos mais, a saber considerar duas categorias distintas de associac6es ani- I- A constituida porindividuos da mesma especie. 2 - A formada por individuos de especies diferentes. No primeiro case, temos o que se chama colonialismo. 0 con- junto desses individuos associados formam as col6nias. S~O, pois, verdadeiras sociedades de animais de uma unica especie, que vivem juntos e se diferenciam em grupos distintos para o desempenho de GENERALIDADES 23 determinadas fun@es. Podemos citar coma exemplos, as col8nias de himen6pteros e is6pteros. Nelas OS espkimens pertencem ZI mesma espkcie mas, no entanto, formam grupos distintos, ecokgica e morfo- lhgicamente. Assim it que existem operirios, soldados, rainha e ma- chos, constituindo classes de uma sociedades perfeitamente organizada e eficiente. Pela pr6pria naturez a do assunto tratado neste manual, interessa mais a anilise detalhada da segunda modalidade de associa@o. Evidentemente, o fator que influencia a aproxima@o de espkies diferentes reside em exigencias semelhantes de alimenta@o e ambiente. Considerando duas ou mais espkcies que se associam, verificaremos, de ac6rdo corn essas necessidades, vk-ios tipos de rela$es, tais coma: inquilinismo comensalismo, simbiose e parasifismo. Denomina-se inquilinismo, “shelter association” (Hoare 1949) ou “phoresis” (Baer 1951), o tipo de sociedade na qua1 urn animal vive s6bre a superficie ou dentro de cavidades naturais de outro. Esse h6spede contudo, em tal situa@o, nada aproveita alkm da pro- te+o decorrente de sua localiza@o. 0 hospedeiro fornece apenas alojamento. A alimentaqso do inquilino pro&m do meio externo. 0 grau de intimidade torna-se maior quando o h6spede procura em seu hospedeiro, nZo scimente prote@o contra inimigos naturais mas tambern alimenta@io necessiria i sua subsistencia. Estaremos diante de urn case de comensalismo, quando o h6spede utiliza parte dos ali- mentos do hospedeiro, sem contudo causar-lhe qualquer deficiencia, perturba@ fisiolhgica ou leszo. Por outro lado, dessa’ uniso pode resultar miltua vantagem para ambos OS componentes e, entzo, teremos um case de simbiose ou mutrralismo. Quando o h6spede retira o aliment0 do organism0 do hospedeiro causando-lhe perturba@es no funcionamento e les6es nos tecidos, da- remos a $le o nome de parasito e, a essa associa@o, o de parasitismo. As defini@es que demos acima Go SZO rigidas. Variam, priti- camente, conforme o autor considerado. Alguns, coma Baer (1951), consideram o comensalismo coma tipo de associa@o de mfituo bene- ficio entre 0s parceiros OS quais, porkm, conservariam suas respectivas independencias fisiolbgicas. Todavia, devido a razdes puramente ecolbgicas, Gles nZo poderiam sobreviver quando separados. Se admi- tirmos &se ponto de vista, a diferenca corn a simbiose residiria na interdepend?ncia fisiolbgica entre h6spede e hospedeiro que existe nesta tiltima. Seja coma f6r, parece que OS autores (Hoare 1949, Baer 1951, Caullery 1952) concordam em admitir que, no case do parasitismo, existe urn aspect0 constante. Este reside no fato de que o h6spede perdeu a capacidade de sintetizar certas substkcias que Ihe Go ‘indispensiveis. Portanto, para que possa subsistir, tais ele- 24 ENTOMOLOGIA MtiDICA mentos devem lhes ser fornecidos pelo hospedeiro. Assim sendo, @ste tipo de associa@o tern coma caracteristico essential e unilateral, o fato de ser necessdria shmente ao hdspede. Como vimos, da-se o nome geral de parasito ou parasifa ao ani- mal que, no parasitismo, desempenha o papel de hospede. Recebe o nome de ectoparasito ou ectoparasita aquele que se instala na super- ficie externa do hospedeiro. Chama-se endoparasito ou endoparasita o que procura localizar-se no interior do corpo do hospedeiro, esco- lhendo as cavidades naturais, gerais ou a intimidade dos tecidos. Resumindo o que acima foi dito, podemos organizar o seguin- te quadro : ASSOCIAC0ES ANIMAIS : l- Da mesma especie: COLONIALISMO. 2 - De especie diferentes: A) INQUILINISMO. B) COMENSALISMO. C) SIMBIOSE. D) PARASITISM0 : 4 4 Ectoparasitismo. Endoparasitismo. COMPETI(XO - Desde que OS membros de uma mesma espe- tie t&n as mesmas exigkrcias alimentares, eles se tornam naturalmen- te competidores entre si. 0 mesmo conceit0 se aplica a individuos de especies diferentes mas corn o mesmo tipo de alimentacao. Outro aspecto, ligeiramente diferente, 6 o dos chamados initnigos naturais que sao representados principalmente pelos predadores a que ja nos referimos at&. A competi@o e OS inimigos naturais s50 meios de que a natureza lanca mao para regular o equilibrio das especies. ALIA4ENTACA”O - Cada especie animal apresenta exig&rcias alimentares definidas, tanto quantitativas coma qualitativas. Tais ne- cessidades podem ser mais ou menos restritas. Dai pode resultar o confinamento maior ou menor da especie em relacao as fontes de ali- GEKERALIDADES 25 mento. E ainda o fator alimentar que influi na escolha dos locais de cria#o. Neste assunto particular, a hematofagia rnerece maior aten@o de nossa parte. Ela vem a ser o hibito que tern certos animais, de se alimentarem de sangue. Tal tipo de alimenta@o pode estar con- dicionado a variados fatcres, ser mais ou menos ocasional e se rea- lizar s6bre diversos hospedeiros. Em primeiro lugar, devemos dis- tinguir as espkies que encessitam do repast0 sanguine0 para o seu desenvolvimento complete. Ao lado destas, hi outras para as quais a hematofagia torna-se necessiria apenas para o desempenho de de- terminadas fun@es fisiol6gicas. No primeiro case, Go hemat6fagas tadas as fases do ciclo evolutivo do animal ou enGo sbmente as adultas, de ambos OS sexos. No Segundo case, apenas OS individuos adultos do sexo feminino apresentam &se hibito alimentar. Isto se deve ti freqiiente rela@o que existe entre o repast0 sanguineo, o amadurecimento dos ovos e conseqtiente oviposi@o. A hematofagia depende ainda das oportunidades que se apre- sentam para ser exercida. Hi especies habitualmente Go hematci- fagas mas que podem vir a ~6-10, desde que as condi@es para isso sejam favorAveis. I? 0 que ocorre, por exemplo, corn vkias espkies de hemipteros fitbfagos que foram observados acidentalmente sugando sangue do homem e animais. Da maior importancia, para n6s, vem a ser o estudo das prefe- rkcias alimentares dssses animais sugadores de sangue. 0 grau de escolha dkses hematbfagos pode ser mais ou menos restrito, isto 6, podem apresentar pouca tendencia i varia@o em seus hospedeiros. Compreende-se perfeitamente a importincia de que se reveste, em epidemiologia, a investiga@o das espkcies que se adaptaram a sugar preferentemente o sangue hurnano. Assim, pois, a antroyofilia e a zoofilia ou seja, a prefercncia pelo homem ou pelos animais, C ele- mento de relevo para se aquilatar do valor epidemiol6gico de deter- minada espkcie. PARTICIPAC2iO NA COMPOSICA”0 POPULACIONAL - Va- ria muito a percentagem corn que OS representantes das diferentes espkies entram na composi@o da comunidade animal. Em linhas gerais e sob criteria quantitative, temos as dominantes, as secunddrias e as raras ou esporddicas. Para a execucSo de estudos que visem a composi@o populacio- nal, torna-se necess&-io o miximo cuidado. E isso, porque Go nume- rosos OS fatares que influem nessa composi@o, sendo grande parte deles, para Go dizer a maioria, ainda ma1 conhecidos. Assim, por exemplo, a tecnica adoptada na coleta de exemplares pode selecionar apenas determinadas espkies, dai resultando idkias err6neas s6bre 26 ENTOMOLOGIA M@DICA outras. A composicao pode tambem variar, corn o passar do tempo, considerando-se o mesmo local, coma ja se observou para varias espe- ties de Insetos. A composicao especifica e aspect0 de grande importancia epide- miologica. A densidade de uma especie pode ser fator relevante a ser levado em conta para aavaliacao do poder transmissor de deter- minada molestia. ADAPTACGES - Juntamente corn o habitat e o modo de vida, OS animais podem apresentar modifica@es, mais ou menos acentua- das, de ordem morfolbgica, fisiologica ou ecologica. Tais altera@es conduzem - especiaZixa@es ou adapta@es a esses diferentes am- bientes. Mudando estes, OS animais tambem tendem a fazer o mesmo corn a finalidade de se adaptarem as novas condi@es de vida. Isso foi o que aconteceu e esta acontecendo, por exemplo, corn o uso em larga escala dos rnodernos inseticidas. &tes, sob o ponto de vista ecologico, nada mais representam do que mudanca do ambiente. Como resultado, OS artropodes procuram adaptar-se, dai resultando o fenomeno da resistencia a essas substancias quimicas. No capitulo das adapta@es convira que consideremos, corn maio- res detalhes, as referentes a vida parasitaria. 0 parasito e urn ser que, em niaior ou menor grau, se especializou para determinada forma de vida e ambiente. I? lbgico, pois, que apresente modificacbes es- truturais em seu organismo. Elas se traduzem principalmente pela atrofia de certos 6rgaos e hipertrofia de outros. De modo geral, a simplificac5o estrutural atinge OS orgaos da locomocao e certos sen- sorios. A hipertrofia se faz sentir essencialmente nos 6rgaos de re- producao. HOSPEDEZROS E VETORES - Alem dos individuos que de- sempenham o papel de parasitos ou de hospedeiros, ha outros que, em virtude de seu habit0 hematofago ou gracas a qualquer outro mecanismo, podem provocar a entrada em seus organismos, dos para- sitos que estavam no hospedeiro. Uma vez no interior desses se- gundos hospedeiros, podem se reproduzir ou passar por fases de seu ciclo biologico. Posteriormente, tal hospedeiro pode transferir OS pa- rasitos que estao no seu corpo, para outro semelhante ao primeiro. Dessa forma, o ciclo parasitario pode compreender mais de urn hos- pedeiro. idles podem ser de dois tipos, a saber: 1 - Hospedeiro definitivo ou seja, aquele no qua1 0 parasito desenvolve as fases sexuadas de seu ciclo evolutivo. 2 - Hospedeiro intermedicirio, isto e, aquele no qua1 volvem as fases assexuadas d&se mesmo ciclo. se desen- GENERALIDADES 27 Apes tais considera@es surge, sob o ponto de vista epidemio- logico, o conceit0 de v&or. Rste seria o hospedeiro que abriga o parasito e o transmite a outro hospedeiro. e justamente no estudo dkstes vetores que reside grande parte da importancia dos artropodes em medicina humana e veterinaria. Pode-se distinguir varies tipos, a saber: 1 - Vetor mec&zico 6 aquele que apenas transporta mecanica- mente 0 parasito. Pode faze-lo, seja na superficie do cor- po, seja no interior do tubo digestivo; neste case, elimi- nando-o posteriormente atraves de fezes e vomitos. Neste vetor, o parasito nao desenvolve nenhuma fase de seu ciclo evolutivo. 2 - Vetor bioldgico vern a ser aquele no qua1 se desenvolve certa etapa do ciclo evolutivo do parasito. Pode ser hos- pedeiro intermediario ou definitivo. Como exemplo do pri- meiro case, podemos citar o Culex pipiens fatigans para a Wuchereria bancrofti e, do Segundo, OS Anopheles para OS Plasmodios da Malaria. DISTRIBUICAO E ZOOGEOCRAFIA OS animais nao se distribuem de maneira uniforme na super- ficie da Terra. Cada especie apresenta certa circa de distribui@o. Esta pode ser encarada sob diversos pontos de vista. Assim, quando se refere a certa regiao, denomina-se distribui@o geogrdfica. Porem, se diz respeito a determinado tipo de ambiente, recebe o -nome de distri- buicao ecologica. Conhece-se coma niche ecoldgico a situacao IocaI que possui todos OS elementos essenciais para a existencia de deter- minada especie. Designa-se, portanto, coma ZOOGEOGRAFIA, o ramo da Zoologia que se ocupa corn a distribuicao dos animais e OS fatores que nele interferem. D/STRIBUICA”O - As areas ocupadas pelos animais variam muito corn as especies. Algumas 60 cosmopolitas, isto 6, distri- buem-se amplamente pela superficie do Globo, coma a Musca dome’s- tica. Outras sao restritas ou Zocais, ocorrendo somente em determi- nadas areas. OS componentes de cada especie tendem a se expandir, premidos por varies fatores coma competi@io, inimigos naturais, es- cassez de alimentos, condic6es adversas do ambiente, etc. Todavia, essa disseminacao tern limites. Rstes sao representados por condicoes naturais que recebem o nome geral de barreiras xoogeogrtificas. Elas podem ser de varies tipos, a saber: 28 ENTOMOLOGIA MtiDICA 1 - Fisicas, tais coma as cadeias de montanhas, as colecees liquidas e outros acidentes geograficos. 2 - Clima’ticas, representadas temperatura e umidade. pelas condi@es desfavoraveis de 3 - Bioldgicas, coma a ausencia de alimentos adequados e pre- senca de inimigos naturais. Por outro lado, existem fatares que contribuem para maior dis- tribuicao. Alguns sao inerentes a propria especie, e o case dos ani- rnais migradores. Outros decorrem de fenamenos geograficos coma as correntes aquaticas e areas que levam numerosas especies a dis- tancias, as vczes, consideraveis. No case dos parasitos, a locomo- @o dos respectivos hospedeiros pode ser causa de aumento de sua area de distribuicao. Ha, ainda, a considerar o papel representado pelos fatores artificiais, que pode ser muito importante. J? o case do homem que corn OS meios de locomocao, cada vez mais rapidos e de maior alcance, pode transportar varias especies animais. Sem citar OS cases ja por demais conhecidos dos ratos e outros animais domes- ticos, desejamos exemplificar mencionando a veiculacao de artropodes nocivos. 0 Aedes aegypti nas Americas e o Anopheles gambiae na regiao Nordeste do Brasil, sao fatos muito ilustrativos e que vieram criar o conceit0 de policiamento sanitaria dos meios de transporte. Entre nos, temos observado comurnente a veiculacao de triatomineos em mudancas da populacao rural para regiGes onde antes tais inse- tos nao eram conhecidos. Sob o ponto de vista da distribuicao ecologica, podemos dividir as especies animais em aqudticas e terrestres. As primeiras se sub- dividem em de aagua dote e de agua salgada ou marinhas. No case dos artropodes, existe a possibilidade freqiiente de se encontrar a mesma especie corn varias distribuicoes ecologicas, de acardo corn as fases da vida. c o case dos culicideos, por exemplo, que sso aqua- ticos durante as fases imaturas e terrestres quando adultos. REGI0ES ZOOGEOGRAFICAS - Zoogeograficamente falando, a superficie da Terra foi dividida em determinadas areas. E isso desde OS trabalhos de Sclater ( lSSS>, Wallace ( 1876) e Lydekker (1896), que para tanto se basearam nas especies autoctones caracte- risticas. Dessa maneira, foram criadas as chamadas REGI0ES ZOOGEOGRAFICAS, que sao as seguintes (fig. 1) : 1 - Paleartica, compreendendo a Europa, a Asia ate o Sul da Cordilheira do Himalaia, e o Norte da Africa. GENERALIDADES 30 ENTOMOLOGIA MtiDICA 2 - Efiopica, compreendendo o restante da Africa, a Ilha de Madagascar e o Sul da Peninsula Arabica. 3 - Orienfal, cornpreende o Sul da Asia, a india, a Malasia e as Ilhas de Ceilao, Java, Borneu, Celebes e Filipinas. 4 - Australiana, cornpreendendo a Australia, a Nova Zel%dia, a Nova Guine e as Ilhas do Ocean0 Pacifico. 5 - Neartica, compreendendo a America do Norte ate Norte do Mexico. 6 - Neofropical, compreendendo as Americas Central e do Sul, alem da regiao Sul do Mexico. De preferencia, trataremos neste manual, das especies cuja dis- tribuicao se faz na tiltima dessas Regi6es. Por isso, julgamos inte- ressante tecer mais algumas considera@es sabre a mesma. REGZA”O NEOTROPZCAL - Compreende, coma foi dito, as Americas do Sul e Central, alem da parte tropical da America do Norte. Evidentemente, nao existe limite rigid0 corn a Regiao Near- tica.Nas zonas baixas do Mexico, coma assinala Wallace (1876), as formas tropicais chegam ate 280 de latitude Norte. Ao passo que no altiplano do mesmo Pais, as formas temperadas descem ate ccrca de 200 da mesma latitude. Desse mode, o percurso da linha divi- soria e aproximadamente o seguinte: inicia-se na Costa Ocidental do Mexico acompanhando-a em dire@0 Sul, desde o Estado de Sinaloa ate o istmo de Tehuantepec. Ai, atravessa as regi6es sulinas dos Estados de Oaxaca e Vera Cruz em direcao ao Golfo do Mexico. Em seguida, sofre uma inflexao e toma a dire@0 Norte, acompanhando as terras baixas da Costa Oriental do Mexico ate perto de Browns- ville, no Texas, Estados Unidos da America no Norte. Atravessando o citado Golfo do Mexico atinge o Estreito da Florida, passa pelo mesmo, dirigindo-se para o Norte, a Oeste do Arquipelago das Ilhas Bahamas. Toda a parte situada ao Sul dessa linha imaginaria cons- titui a chamada Regiao Neotropical. Esta Regiao tern sido dividida em sub-regi6es. As comumentes aceitas sao : a Chilena, a Magalsnica, a Pampeana, a Brasiliana, a Mexico-Andina e a Antilhana. Lane (1943, 1953), ao estudar a distribuicao dos culicideos, divide-a em duas, correspondentes a Am& rica Central e a America do Sul. Nesta tiltima, o referido autor considera varies centros de endemism0 e dispersao, o Caribe, o Incasico, o Planalto Central, o Tupi, o Chileno e o Pataghnico. Alem disso, assinala urn centro negativo, de regiao arida, correspondente ao Nordeste do Brasil. GENERALIDADES 31 REFERENCIAS BAER, J. G. - Ecology of animal parasites. Univ. of Illinois Press, Urbana, 1951. CAULLERY, M. - Parasitism and symbiosis. Sidgwick di Jackson, London, 1952. HOARE, C. A. - Handbook of medical protozoology. Bailhere, Tindall & Cox, London, 1949. LANE, J. - The geographic distribution of Sabethini (dipt. Culicidae). Rev. de Etom. 14:409-29. LANE, J. - Neotropical Culicidae. Univ. S. Paulo Pubs., %io Paula, 1953. LYDEKKER, R. - A geographical history of mammals. Cambridge Univ. Press, Cambridge, 1896. PATTON, W. S. and EVANS, A. M. - Insects, Ticks and Venomous animals of Medical and Veterinary Importance. Britain, 1929. H. R. Grubb Ltd., Croydon, Great SCLATER, P. R. - On the the Class Aves. J. P geographical distribution of the members of rot. Linn. Sot. 2: 130-46, 1858. WALLACE, A. R. - The geographical distribution of animals. Harper & Br. Pubs., N. York, 1876. CAP~TULO II FILO ARTHROPODA Definig-tio e generalidades Morfologia: Cuticula Anexos cuticulares Organizac20 geral ConstituiqZo do anel Constitui+o do apOndice ConstituipZo do corpo Sistema muscular Aparelho circulatbrio Aparelho digestive Sistema excretor Sistema nervoso cirg5os dos sentidos Aparelho reprodutor ReproducGo : Metamor foses Rcln~~cs corn orrtros scrcs lvivos: Artrhpedes coma agentes etiolbgicos de molktias Artrbpodes coma vetores de agentes etiol6gicos de molbtias Comportamento dos agentes etiol6gicos no orga- nismo do vetor CfassificapTo Ref ehcias DEFINECAO E CENERALIDADES 0 Filo ARTHROPODA e o maior do Reino Animal. Assim sendo, reune consideravel numero de representantes, bastante diferen- tes entre si. No que pese porem tal diversidade, esses animais apre- sentam certos caracteres comuns que permitem agrupa-10s nesta mes- ma categoria zoologica. Baseados em Imms (1957), podemos enu- mera-los da seguinte maneira : l- 2- 3- 4- 5- 6- Corpo segmentado e revestido de exoesqueleto de quitina. Presenca, em certo numero desses segmentos, de pares de apendices articulados que se destinam a func6es variadas e, portanto, se apresentam corn morfologia diferente. Coracao dorsal e corn pericardio. Cavidade geral formada por uma hemocele, isto 6, urn sis- tema lacunar atraves o qua1 a hemolinfa banha OS v&-ios orgaos. Sistema nervoso central formado por urn ganglio supra- esofagico que esta conectado corn uma serie linear e ven- tral de outros ganglios. Predominancia quase absoluta de musculatura estriada e ausencia de epitelio ciliado. Pode-se, pois, definir OS artropodes coma sendo animais meta- zoarios, de simetria bilateral e que apresentam a combinacao dos caracteres acima mencionados. MORFOLOCIA CUTiCULA - 0 aspect0 primordial e que logo chama a aten- $20 do examindor, e a presenca de urn revestimento de espessura e consistencia variavel. Pode-se compara-lo a uma armadura medieval cobrindo t8da a superficie do corpo do artropode. Esse revestimento recebe o nome de cuticula. Sua fur@0 e a de urn verdadeiro exo- esqueleto apresentando na superficie interna as areas de implantacao da musculatura. A cuticula nao e celular mas formada principal- mente por uma substancia quaternaria, acetato de polissacaride, deno- minada quitina. Alem desta, reconhece-se outro componente, secun- 36 ENTOMOLOGIA MEDICA dario, constituido por uma proteina que recebe o norne de artropo- dina. Existem ainda outras fra@es nao conhecidas suficientemente. SupGe-se que kses dois componentes da cuticula estejam quimica- mente combinados formando urn compost0 glicoproteico. Rste revestimento e produto da secrecao de uma camada basal de celulas, denominada hipoderme. Ele se prolonga tambem dentro do organism0 do animal, revestindo as partes anterior e posterior do tubo digestivo, certas porc6es dos orgaos genitais e as traquitias do aparelho respiratorio. Pode tambem sofrer invaginacoes, dando lugar a estruturas internas destinadas i fixa@o muscular. A rigidez d&se exoesqueleto varia de lugar para lugar e pode ser aumentada pela deposicao de outras substancias, coma sais calcarios. Por outro lado, tal consistkrcia rigida sofre interrup@es ao nivel das articula- @es dos varies segmentos. Nesses pontos o revestimento apresen- ta-se membranoso e mole, permitindo OS variados movimentos dessas partes do corpo que recebem o nome geral de escleritos. A cuticula nao tern somente a funcao de exoesqueleto mas tam- hem, em vista de sua impermeabilidade, protege o corpo do animal contra a dessecacao do meio ambiente. ANEXOS CUT/CULARES - A superficie cuticular apresenta variado ntimero de apendices, processes e ornamentacoes, muitos dos quais rnerecem aten@o especial, uma vez que sao de grande impor- tancia nos estudos de sistematica (fig. 2 j. Denomina-se se- tas ou macrotriqlrias as estruturas origina- rias de uma celula hipodermica chamada tricdgeno. Estao im- plantadas em depres- s6es conhecidas pelo nome de alve’olos e se conectam corn a cuticula atraves uma mem brana cuticular. Tais ap&rdices tern aspectos e fun@es diferentes, estas ain- r al da nao suficientemen- Fig. 2 - Esquema dos ap@ndices cuticulares. te conhecidas. Assim ac - Actileo; al - Alveolo; ec - Escama; ep - sendo, q u a n do se Espor50; hp - Hipoderme; ma - Membrana arti- cular; mc - Microtriquia; no - N6dulo; tr - apresentam rigidas e Tric6geno; st - Seta. FILO ARTHROPODA ., 37 bem desenvolvidas, recebem o nome de cerdas. Sendo finas e de tamanho variAve1, denominam-se genkricamente, pelos. Quando muito modificadas, de aspect0 achatado, folGceo, Go conhecidas pelo nome de escamas. Consideram-se ainda, as setas glandulares e as sensoriais ou seja, aquelas relacionadas corn tais fun@es. Existem ainda processes chamados espinhos e esporo’es, que di- ferem das setas por serem de origem pluricelular e Go apresentarem articula@o. Deve-se considerar, porPm, que a primeira dessas deno- mina@es tern sido usada para designar forma@es diferentes. Assim por exemplo, Go conhecidas corn %se nome as cerdas espiniformes encontradas na genitilia masculina de certas espkies. Ao lado dkses anexos de origem celular, observam-se tambkm ornamenta@escuticulares acelulares, que recebem o nome de micro- triquias, acrileos, tub&culos, nddulos e cornos, de tamanho, aspect0 e desenvolvimento OS mais variados. ORGANIZACiiO GERAL - A caracteristica fundamental dos artr6podes reside no fato do corpo d&ses animais se apresentar cons- tituido por s&ie longitudinal de elementos hom6logos conhecidos pelo nome de segmentos, somitos ou metameros e que se evidenciam exte- riormente em an&is. E isso tanto no que concerne i morfologia exter- na coma i disposi+o dos brgzos internos. A &te tipo de organiza- $20, em tudo semelhante .5 dos anelideos, denomina-se nzetameria ou metameriza~iro. A tais segmentos, por sua vez, correspondem apcndices. Testes se apresentam em ntimero miximo de dois pares para cada somito e Go formados por peGas articuladas entre si, que recebem o nome gekrico de articulos. Pelo que foi dito, compreende-se que o estudo morfol6gico geral dktes animais deveri levar em considerac5o a constitui$Zo tipica de urn segment0 e de urn apendice, al&n das varia@es que tais elemen- tos podem apresentar, de ac6rdo corn a fun@0 nas virias partes do corpo e corn OS diversos grupos de artrcipodes. CONSTITUIC2iO DO ANEL - Considerando-se o exoesqueleto de urn segment0 ou seja, um anel tipico, v&se que primitivamente Gle 6 de consist&cia membranosa. Posteriormente, em sua evolu@o, di-se o endurecimento de Areas definidas. Tais reg%es, que ii tive- mos ocasiso de mencionar, Go OS escleritos. No anel, eles se dispdem da seguinte maneira (fig. 3) : a) dois tergitos tendendo a se fundir, formando urn arco dorsal chamado tergo ou noto; 38 ENTOMOLOGIA MtiDICA b) dois esfernitos que tarnbem tendem a se unir na linha media formando urn arco ventral, o esterno; c) dois pleuritos em cada uma das faces laterais ou pleuras. 0 superior denominado epimero e o inferior episterno. D t0 to /p& en ecI Fig. 3 -Diagrama do anel e ephdice tipicos de artr6pode. D - Face dorsal; V - Face ventral; tg - Tergo; pl - Pleura; et - Esterno; to - Tergito; eo - Esternito; ep - Epimero; es - Episterno. Teoria da bifurca&& dos ap@ndices: pt - Protopodito; ed - Endopodito; ex - Exopodito. Teoria axial dos aphdices: co - Coxito; tp - Telopodito. CONSTITUlCAlO DO APIZNDZCE - No apendice dos artro- podes reconhece-se duas partes essenciais, cada uma formada por varies articutos (fig. 3). A primeira P proximal e destinada a esta- belecer a juncao entre o corpo e o apendice propriamente dito, inse- rindo-se na pleura. Recebe o nome de protopodito, simpodito ou coxito. A segunda 6 distal, funcional e tern sua constitui@o primi- tiva interpretada por duas teorias. Uma delas considera esta parte bifurcada, ou seja, formada por dois ramos, urn externo ou exopodito e outro interno ou endopodito. A outra teoria admite apenas uma estrutura axial plurisegmentada chamada telopodito. Este correspon- deria ao endopodito da teoria anterior e, assim sendo, o exopodito FILO ARTHROPODA 39 seria apenas um prolongamento mais ou menos desenvolvido. Tais interpreta@es dividem as preferkcias dos entomologistas. Admite-se clue a segunda explique melhor a estrutura apresentada pelos espC- cimens terrestres, enquanto que a primeira aplicar-se-ia corn mais propriedade is formas aquAticas. 0 apsndice primitivo provivelmente estaria presente em todos OS an&s do artr6pode ancestral. D2le derivariam, tekicamente, OS vkios tipos encontrados na atualidade. E isso, graqas a variadas modifi- ca@es e de ac6rdo corn as diferentes fun@es que tern de desempe- nhar. Assim, as pernas e as asas encarregam-se da locomo@o, po- dendo tambilm servir a outras fun@es. AquUes due rodeiam o ori- ficio bucal destinam-se i nutri@o e se modificam de ac6rdo corn o hibito alimentar do animal. Hi OS que @m fun@0 sensorial coma as antenas e 0s palpos. Outros Go destinados i reprodu@o, coma certos apGndices abdominais que fazem parte da genithlia externa. 0 que foi dito s6bre a constitui+o tipica do anel e seu apendice, poderA ser resumido da seguinte maneira: I - ANEL - escleritos: A) dois tergitos - tergo ou noto (dorsal) B) dois esternitos - esterno (ventral) C) quatro pleuritos, dois de cada lado - pleura (lateral) : a) epimero (superior) b) episterno (inferior) II - APENDICE - articulos: A) por@o proximal : protopodito, simpodito ou coxito B) po@o distal: B,) Teoria da bifurca@io (formas aquiticas) : a> exopodito (ramo externo) b) endopodito (ramo interno) Teoria axial (formas terrestres) : trutura axial plurisegmentada) . B,) telopodito (es- CONST/TU/@iO DO CORPO - G do consenso gel-al que OS artr6podes descendem dos anelideos ou, pelo menos, de urn ancestral 40 ENTOMOLOGIA MEDICA comum mais prbximo destes do que daqusles. OS dois apresentam a metamerixa@o do corpo, isto 6, a organizacao segmentada. Ela 6 simples 110s anelideos ao passo que mostra importantes modificac6es nos artrbpodes. Corn efeito, nos primeiros sao semelhantes entre si, ou seja, a metameria P do tipo Izom6mero. Nos segundos, ao con- trario, OS somitos se mostram sempre mais ou menos diferentes entre si, dai a denomina@o de metameria do tipo IzeterGmero. Tal diferen- ciacao dos metameros adquire grande importancia nos artrbpodes. 12 em conseqtiencia dela que ocorre o agrupamento de segmentos modi- ficados, terminando pela formacao das diferentes partes do corpo. l l / Tlpo 2 nccstrai c- __ 1 _ _ CI-IILOPOOA DIPLOI?OOA CRUSTACEA ALAR1 c- i- a- ;:: INSECTA Fig. 4 - Representa@ diagram8tica das regiBes do corpo dos principais grupos de artr6podes. C - Cabeca; ct. - C6falothrax; a - Abd6men; t - T&ax. A divisao supramencionada apresenta aspectos profundamente diferentes entre OS numerosos artrbpodes (fig. 4). E essa diferenca e de tal monta que se torna muito dificil, ou mesmo impossivel, esta- belecer as possiveis homologias entre as varias regi6es corporais dos FILO RRTNROPODA 41 grandes grupos d&k Filo (Vandel, 1949). Nos insetos verifica-se nitidamente, a separaGZo em trk partes distintas denominadas cabega, tcirax e abd6men. Nos crustkeos superiores e em muitos aracnideos ocorre a fus5o da cabeca e do t&ax, dai resultando a diviszo do corpo em cefalotdrax e abd6men. Nos acarianos observa-se a au&- cia de separa@o, ou seja, a uni5o completa das partes dai resultando urn todo indivisivel. E finalmente, nos dipl6podos, quil6podos e pen- tastomideos, existe o aspect0 plurisegmentado em elementos seme- lhantes, de maneira a 1120 ser possivel a diferencia@o entre t6rax e abd6men. SISTEMA MUSCULAR - Logo abaixo do revestimento cuti- cular, encontram-se as camadas do sistema muscular. 12 formado por musculos estriados, individualizados, dispostos em feixes longitudi- nais e transversais em cada segmento. APARELHO CIRCULAT6RIO - A cavidade do corpo dos ar- tr6podes nZo Et uma verdadeira cavidade geral ou celomitica, mas sim urn espa$o sanguine0 que recebe o nome geral de hemocele. 0 aparelho circulatbrio 6 muito pobre em 6rgZios especializados, no en- tanto, em grupos superiores, hi um vase-dorsal, muscular e de situa- $50 mediana, que desempenha as fun@es cardiacas. Ventralmente a %se CjrgZo encontra-se geralmente um septo transparente denominado yericlirdio. Devido a &se sistema cavitkio pelo qua1 circula o iiqui- do sanguineo, diz-se que CJ aparelho circulatkio dos Artr6podes 6 lacunar. 0 sangue ou hemolinfa 6 geralmente incolor e contern ele- mentos figurados. APARELHO RESP/RATciRIO - Tambkn 6 pobre em cirg2ios diferenciados. Nas formas inferiores, essa fun@0 6 realizada atravks da superf icie corporal. Nas outras, existem certas estruturas espe- cializadas. Nos espkcimens aqujticos hi apendices tubulares ramifi- cados denominados brhqrrias. Nos individuos terrestresh5 diverti- culos internos, revestidos de quitina e tambern ramificados, chamados traque’ias. Estas se abrem na superficie do corpo por meio de ori- ficio que recebe o nome de espirdculo. APARELHO DZGESTIVO - Conquanto de aspect0 muito va- rihvel, 6 bem diferenciado e complete, isto P, corn abertura bucal anterior e anal posterior. 12 constante e sii excepcionalmente pode se apresentar atrofiado ou ausente. i?ste aparel ho 6 constituido por um distinguem tr& Pa tes essenciais, a saber tabo digestivo, no qua1 se 42 ENTOMOLOGIA MRDICA l- intestino anterior ou estomodeu 2- intestino rne’dio ou mesentero 3 - intestino posterior ou protodeu A primeira e a terceira Go de origem ectodermica. Por isso, apresentam revestimento cuticular quitinoso que se continua, sem in- terrupcao, atraves dos orificios bucal e anal corn o da superficie do corpo. 0 intestino media e de origem endodermica e, portanto, nao possui revestimento quitinoso, mas sim essencialmente glandular. Observa-se, ainda, 6rgaos glandulares anexos tais coma as glandulas salivares e certos apendices de desenvolvimento variavel. SISTEMA EXCRETOR - E simples, podendo ser representadc apenas por celulas da parede intestinal ou alguns orgaos diferencia- dos. Tais sao OS ap&dices tubulares que se abrem no intestino, en- contrados nos Insetos, e certas glandulas que se abrem diretamente no exterior, coma em Crustaceos e Acarianos. SZSTEMA NERVOSO - I? constituido essencialmente pela nzassa ganglionar supraesofagiana ou ce’rebro. Atraves prolongamen- tos, forma urn anel que abraca o tubo intestinal e une-se ao element0 anterior da cadeia ganglionar ventral. Esta ultima 6 formada por urn conjunto linear de ganglios pares que percorre em sentido longitu- dinal o corpo do artropode. De tais ganglios partem OS nerves para as diferentes regi6es do organismo. ORGAOS DOS SENTIDOS - Em relacao ao sistema nervo- so, Gsses animais apresentam 6rgFtos dos sentidos diferenciados. A visao, que pode faltar em algumas formas, se faz a custa de olhos que podem ser sitnples OLI ocelos, e compostos. OS primeiros sao ele- mentos pequenos e refringentes. OS segundos sempre se apresentam formando urn par e sao constituidos pela reuniao, de numero variavel, de elementos simples denominados omatideos. As outras fun@es sen- soriais s%o desempenhadas por 6rgaos de complexidade variavel e celulas dispostas em varias regides do corpo. Em geral, tais celulas se associam a pelos e cerdas e, dessa forma, quando estes anexos se movem, 0 element0 nervoso transmite OS estimulos. APARELHO REPRODUTOR - Tern como or-g&s essenciais OS testiculos e ova’rios. A eles segue urn sistema de tubos condu- tores que se reunem na sua terminacao, abrindo-se num so orificio genital. Ao redor deste, pode existir estruturas e apendices que em conjunto, formam a chamada genitdlia externa. FILO ARTHROPODA 43 Na figura 5 esta representada , diagramaticarnente, a disposicao geral dos principais orgaos internos de urn artropode. Fig. 5 - Representa& diagramatica da disposi&o dos principais 6rg&os internos de urn artr6pode. m- Camada muscular; n - Cadeia ganglionar ven- tral; p - Perickdio; s - GBndulas sexuais; t - Tubo digestivo; v - Vaso dorsal. REPR0DUCdO OS artropodes, em geral, 60 gonocoricos, isto 6, apresentam OS sexos separados. 0 hermafroditismo pode ser encontrado corn fre- qiiencia em certos grupos, coma nos crustaceos. Enquanto que so excepcionalmente se apresenta em outros, corn0 nos inestos. l2stes aliam comumente a isso, a presenca de dimorfismo sexual que chega a ser consideravel em alguns cases. A partenogenese 6 freqtiente. 0 f enomeno do desenvolvimen to do ovulo sem previa fecundacao 6 encontrado coma regra em certos grupos de insetos e crustaceos. A grande maioria dos Artropodes 6 ovipara. A viviparidade, embora nao comum, @ encontrada em numerosos grupos, coma nos onicoforos e certos insetos e aracnideos. No desenvolvimento destes animais, costuma-se distinguir duas fases: a embriona’ria e a postembriondria. A primeira compreende o desenvolvimento intraovular, enquanto que a segunda it a que ocorre desde a eclosao ate a forma@0 do adulto. Ao organism0 recem-eclo- dido dh-se o nome generico de larva, embora tal denominacao possa 44 ENTOMOLOGIA MfiDICA n20 estar de ac6rdo corn o tipo de desenvolvimento posterior. l3tes organismos t&n aspectos OS mais variados e podem receber denomi- na@es especiais, de ac6rdo corn o grupo a que pertencem. Como exemplos, podemos citar a larva hexdpode dos Acarianos e o nauplius dos crust2ceos. METAMORFOSES - A larva, para atingir a fase adulta, via de regra, sofreri transforma@es de intensidade varitivel, is quais se di o nome de mefamorfoses. Desde que o exoesqueleto dktes animais it rigido, o crescimento deveri se fazer corn correspondente abandon0 do mesmo. E real- mente, o desenvolvimento postembriokrio se faz i custa de sucessi- vas rnudanqas do revestimento externo. Estas recebem o norne de mudas ou ecdises. 0 period0 entre duas mudas sucessivas denomi- na-se esftidio. Ao revestimento antigo, que 6 abandonado, di-se o nome de exhvia. As metamorfoses que apresentam maior especializa- @o s%o encontradas entre OS insetos e nelas ocorrem transforma@jes substkciais, tanto morfol6gicas como fisiol6gicas. A larva, por ocasiio da eclosZo, pode apresentar ntimero de segmentos diferente do da fase adulta. Neste case, o ntirnero defi- nitivo 6 adquirido no decorrer do desenvolvimento postembrionkio que aqui recebe o nome particular de anamorfose. 12 o que acontece nos crustkeos. Num Segundo tipo, desde a eclosZo at6 a etapa final, o ntimero de secmentos il sempre o mesmo e a &ste desenvolvimento se di o nome due epimorfose. RELAlCaES COM OS artrbpodes formam o mere de espitcies conhecidas. constituida por &stes animais. sentada pelos insetos que por ‘12 o predominante nos insetos. OUTROS SERES VIVOS grupo animal possuidor do maior nti- C&ca de 80% da fauna mundial 6 D&se total, a grande maioria 6 repre- si s6s perfazem mais de 70% das es- pkies animais conhecidas. Vivendo e adaptando-se em grande nti- mere de ambientes ecol6gicos, eles mantern rela@es estreitas corn OS dernais seres vivos, entre OS quais esth o pr6prio homem. A impor- t2ncia medica dos artrbpodes resulta das rela@es que eles possam ter corn molitstias que afetam a satide e o bem estar do homem e animais. Disso resultam aQ5es que se fazem sentir de uma das duas seguintes maneiras : 1 - Condi@es patolbgicas determinadas diretarnente pelos ar- trbpodes, ou seja, &tes animais agem coma agentes etiol& gicos de molkstias. FILO ARTHROPODA 45 2 - Condi@es patologicas cujos agentes etiologicos sao veicula- dos pelos artropodes, ou seja, Gstes animais agem coma vetores. ARTRciPODES COMO AGENTES ETIOL0GICOS DE MO- L,%STIAS - Dentro deste grupo estZo incluidas t8das as afecc6es devidas diretamente a presenca desses animais. Podemos distinguir duas modalidades : 1 - As que constituem verdadeiras parasitoses. Como exemplo, podemos citar a sarna e as miiases, onde OS artropodes se comportam coma verdadeiros parasitos. 2 - Aquelas devidas ao contact0 passageiro ou a simples vizi- nhanca desses seres. Aqui incluem-se OS acidentes corn artropodes peconhentos. Alem disso, as dermatoses de di- versos tipos, oriundas de picadas ou contatos, OS fename- nos akgicos, certas psicoses especiais rotuladas corn o nome geral de entomofobias e por fim, as les6es acidentais dos sensorios devidas a introduc5o desses animais princi- palmente nos 6rgaos da visa0 e audicao. ARTRciPODES COMO VETORES DE AGENTES ETIOLB- GICOS DE MOLBTIAS - Possivelmente e nesta condicao que reside a maior dose de inter&se por parte da entomologia medica. As molestiasque apresentam urn vetor natural recebem o nome de metnxenicas. Nelas, o papel desempenhado por esses animais 6 o de urn elo importante na cadeia epidemiologica dessas afecc6es. Esquematicamente, podemos representar essa estrutura da seguinte maneira : RESERVATORIO ---f VETOR ----, INDIViDUO SUSCETiVEL AMBIENTE 0 elo que cabe aos artropodes 6 precisamente o representado pelo vetor. Assim sendo, 6 facil compreender que a Saude Publica deva dirigir sua aten@o para o desempenho d&se papel, hem coma ao ambiente que influi diretamente sobre o mesmo. Ha diferentes maneiras pelas quais podem veicular OS varies agen- tes etiologicos. Podem ser distinguidas duas modalidades gerais de transmissao, a mechica e a bioldgica. No primeiro case, 0 animal apenas transporta 0s vkios agentes etiologicos sem que porem estes se multipliquem ou desenvolvam no 46 ENTOMOLOGIA MRDICA interior de seu organismo. Dessa forma, a transmissao podera se fazer por contaminagtio da superficie externa, ou atraves OS vomitos e fezes que contenham as formas infectantes. Na segunda modalidade, 0 agente etiologico se multiplica ou desenvolve no interior do vetor. &te constitui, portanto, urn hospe- deiro normal no ciclo evolutivo do parasito (em senso lato). Aqui a transmissao se fara por inocuZaga”o ou por contamina@o. Na inocula- $50 podem ocorrer tres formas: 1 - 0 parasito se multiplica e passa por varias fases. Corn0 exemplo, citamos OS plasmodios da malaria. 2 - 0 parasito passa por varias fases do seu ciclo biologic0 sem contudo, se multiplicar. I? o case, por exemplo, da Wuchereria bancrofti. 3 - 0 parasito se multiplica mas nao sofre transformacdes sen- siveis. I? 0 que ocorre corn a Pasteurella pestis. Na transmissao biologica por contaminacao, o agente, apes evo- luir em seu vetor, alcanca o novo hospedeiro atraves contato corn o mesmo. &te contato varia de acordo corn o modo de eliminacao das formas infectantes. Pode se fazer por via fecal, coma 6 o case do Trypanosoma cruxi nas fezes dos triatomineos. Pode ser conseqtiente ao esmagamento do vetor s6bre o corpo do hospedeiro. Tal seria o case de piolhos portadores de Borrelia recurrentis que sofressem &se process0 sobre a pele humana. E, finalmente, pode ainda ocorrer o process0 do parasito atingir o hospedeiro mediante a ingest50 do vetor, no interior do qua1 se desenvolveu. Como exemplo, podemos citar o Dipylidium caninum que evolui nas pulgas e que pode ser transmitido pela ingest50 destas. Este 6, por conseguinte, o aspect0 geral da transmissao de mo- lestias pelos artropodes e em cujas modalidades podemos incluir todos OS tipos de veiculacao que serao estudados. Elas podem ser resumi- das da seguinte maneira: TRANSMISSAO, PELOS ARTROPODES, DE AGENTES ETIOL0GICOS DE MOL~STIAS 1 - MECANICA: contaminacao : 4 atraves da superficie do corpo b) pelas fezes C> pelos vomitos FILO ARTHROPODA 47 2- BIOLOGICA: A) inoculacao : 4 0 parasito evolui e se multiplica b) o parasito somente evolui c) 0 parasito somente se multiplica B) contaminacao : a) pelas fezes b) por esmagamento e maceracao c) por ingest50 COMPORTAMENTO DOS AGENTES ETIOLOGICOS NO ORGANISM0 DO VETOR - Como se depreende do que acima foi dito, existem numerosas e uteis aplicacbes que resultam dos co- nhecimentos e informac6es obtidos atraves o estudo das rela@es entre microorganismos e artropodes. Em medicina humana e veterinaria, a importancia e muito grande. Somente pela compreensao d&se tipo de associac6es 6 que se pode adquirir ideia Clara do papel de tais animais na transmissao dos agentes etiologicos das diferentes molestias. Nos artropodes, o canal alimentar 6 a porta de entrada de nu- merosos microorganismos. Alguns passam pelo tubo digestivo sem se multiplicarem ou sofrerem qualquer transformacao. Outros ai en- contram o local apropriado para levar a cabo as fases de seu ciclo biologico. Neste tiltimo case, estao varies agentes que podemos agru- par da seguinte maneira: 1 - Especies que evoluem somente no tubo digestivo do vetor. A transmissao e feita pela picada, pela contaminacao fecal . ou pelo esmagamento do transmissor. Corn0 exemplos ci- tamos a Pasteurella pestis, o Trypanosoma cruzi, as Leish- mania e a Rickettsia prowaxeki. 2 - Especies que efetuam no tubo digestivo somente uma parte de sua evolucao, completando-a em outros orgaos. A trans- miss50 e feita pela picada e pelo esmagamento ou ingest50 do vetor. Como exemplos podemos citar OS plasmodios da malaria, a Wuchereria bancrofti, a Borrelia recurrentis e o Dipylidium caninum. 48 ENTOMOLOGIA MI~DICA 3 - Especies que evoluem e se multiplicam, nao somente no tubo digestivo, mas tambem em outros orgaos. A trans- miss20 e feita pela picada ou esmagamento. Aqui pode ocorrer a transmissao de geracao para geracao do artro- pode. Isto deve-se a infeccao dos orgaos reprodutores. Em resumo, OS agentes etiologicos, penetrando pelo tubo digestivo do artropode, podem ou nao invadir outros setores do corpo d&se animal. De tal relacao resultara a/au as maneiras de transmiss5o ao novo hospedeiro. CLASSIFICACAO 0 Filo ARTHROPODA compreende varias Classes, uma das quais fossil. Damos a seguir a enumeracao e a caracterizacao suma- ria das mesmas. TRILOBITA - 12 a Classe extinta e representada por formas marinhas do Paleozoico. 0 corpo apresenta-se corn feicao dividida em tr&s partes ou lobos longitudinais. Possuem urn par de antenas preorais alem de apendices bifurcados em numero variavel e diversa- mente modificados. As tr6.s Classes seguintes t&n posicao sistematica ainda discutida. Sao incluidas entre OS artropodes pelo fato de apresentarem alguns dos elementos que caracterizam &se grupo. ONYCHOPHORA - 12 considerada coma ocupando posicao in- termediaria entre OS anelideos e OS artropodes. 0 aspect0 geral do corpo e alongado e anelado, possuindo numerosos apkkdices locomo- tores. 0 tegumento it provivelmente quitinoso se bem que de con- sistencia mole e corn numerosas papilas. A inclusao destes animais neste Filo deve-se ao fato de possuirem respiracao traqueal, garras apendiculares, mandibulas e hemocele. TARDIGRADA - SZio pequenos animais cujo Porte nao ultra- passa alguns milimetros. 0 corpo e vagamente segmentado. Pos- suem quatro pares de pernas e sao desprovidos de antenas e apen- dices orais. Certos caracteres OS aproximam deste Filo, tais coma o revestimento cuticular, a segmentacao do corpo, a ausencia de epi- telio ciliar e a ocorrencia de mudas OLI ecdises. FILO ARTHROPODA 49‘ PENTASTOMIDA - Sao tambern conhecidos coma LINGUA- TULIDA e possuem o corpo alongado, vermiforme, dividido em an&s. Quando adultos, nZio aprasentam apendices articulados, excecZio feita de dois pares de ganchos situados na regiao oral. Todavia, na fase larval, pode-se observar dois pares de apendices curtos, 2 maneira de pernas. Outros elementos, alem destes, permitem inclui-los entre OS artropodes, tais coma o revestimento cuticular quitinoso, a metameri- za@o do corpo e a ausencia de epitelio ciliar. As outras Classes do Filo ARTHROPODA apresentam todos OS caracteres fundamentais deste grupo. Nas quatro irnediatamente se- guintes, o corpo e nitidamente plurisegmentado. Cada segment0 pos- sui geralmente apendices. Nao ha distincao entre as regides torkica e abdominal e apresentam um so par de antenas. DIPLOPODA - Possuem dois pares de pernas para cada seg- mento do corpo que sao em grande numero. PAUROPODA - Aqui ocorre freqiientemente a soldadura dos tergos. Existe um par de apendices por segment0 cujo numero total n5o ultrapassa o doze. As antenas apresentam duas ramificacdes. SYMPHYLA - As antenas sao muito longas e a maioria dos segmentos possui somente um par de apendices locomotores.
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