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ECONOMIA
INTERNACIONAL I
Professora Dra. Luciane Cristina Carvalho
GRADUAÇÃO
Unicesumar
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a
Distância; CARVALHO, Luciane Cristina.
Economia Internacional I. Luciane Cristina Carvalho.
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018.
208 p.
“Graduação - EaD”.
1. Economia. 2. Internacional. EaD. I. Título.
ISBN: 978-85-459-1244-6
CDD - 22 ed. 337
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
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Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade,
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil:
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba,
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades
de todos. Para continuar relevante, a instituição
de educação precisa ter pelo menos três virtudes:
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quando
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou
profissional, nos transformamos e, consequentemente,
transformamos também a sociedade na qual estamos
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com
os desafios que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe
de professores e tutores que se encontra disponível para
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
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Professora Dra. Luciane Cristina Carvalho
Pós-doutora em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá
– UEM. Doutora em Teoria Econômica (2014) pela Universidade Estadual de
Maringá – UEM, com estágio de doutoramento Sanduíche na Université du
Québec à Trois-Rivières - CA. Mestra em Integração Latino-Americana pela
Universidade Federal de Santa Maria (2007), graduada em Ciências Econômicas
pela Universidade Federal de Santa Maria (2004). Com experiência na área de
teoria econômica e finanças. Atualmente é professora da Universidade Federal
do Mato Grosso do Sul - UFMS.
<http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4753253Y8>
SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) aluno(a).
Seja bem-vindo(a) à nossa disciplina de Economia Internacional I. Esperamos ampliar
seus conhecimentos e lhes proporcionar a integração teórica e prática a partir dos
exemplos reais destacados ao longo do nosso livro.
Nosso estudo inicia com a importância dos principais agentes econômicos, sendo a socie-
dade como um todo, o governo por suas funções, as empresas, entre outros. Logo no início,
vamos perceber que o comércio internacional é muito importante para todos nós, visto
que é por meio dele que nossas necessidades de diversos produtos e serviços são sanadas.
Dessa forma, vamos conhecer, na primeira unidade, que a economia internacional estu-
da a importância do comércio e como a economia mundial se organiza atualmente. Nes-
sa mesma unidade, destacaremos o balanço de pagamentos como instrumento em que
os países podem mensurar suas atividades com relação às transações de mercadorias,
bens e movimento de capitais com o resto do mundo. Além disso, vamos estudar como
funciona o preço da moeda estrangeira com relação à moeda local. Para isso, conhece-
remos um pouco como as taxas de câmbio são determinadas.
No entanto, salientamos que essas atividades de países devem ser coordenadas, pois, ao
adotar certas medidas, estas podem causar crises entre os países. Por isso, cada política
deve procurar amenizar as distorções que podem surgir ao adotar determinadas políti-
cas. E, por fim, discutiremos acerca do mercado internacional de capitais.
Na Unidade 2 iremos analisar os agentes que negociam no mercado internacional, con-
siderando que o comércio internacional proporciona às nações aproveitamento em
termos de tecnologia, trabalho, favorece as trocas e, com isso, beneficia o país com a
diversificação de bens e, claro, proporciona o alcance dos serviços.
Vamos perceber que, com o tempo, o comércio internacionalsofreu diversas modifica-
ções. Tais mudanças também resultaram em alterações de conduta dos países. Observare-
mos que houve acordos comerciais resultantes da proximidade territorial entre os países
e, assim, a formação de blocos econômicos, como NAFTA e Mercosul. Além da integração
regional, analisaremos a globalização como um fenômeno de mudanças internacionais.
Apesar de haver discussões quanto ao tema, pode-se definir que a globalização é proces-
so econômico e social que estabelece a integração entre os países e as pessoas.
Ainda nesta unidade, investigaremos o padrão de mutante do comércio, ou seja, a mudan-
ça do comércio internacional com maior participação dos produtos manufaturados origi-
nários de países em desenvolvimento. Essa mudança é visível, já que esses países possuí-
am como maior pauta de produtos a serem transacionados os produtos de commodities.
Na terceira unidade, vamos estudar as teorias do comércio internacional, iniciando com
o Mercantilismo, que, apesar de não ser uma teoria do comércio internacional, trouxe
contribuições importantes para essa dinâmica. Veremos as teorias clássicas do comér-
cio, que têm como principais formuladores Adam Smith, com a formulação da teoria
das vantagens absolutas, e David Ricardo, com as teorias das vantagens comparativas.
APRESENTAÇÃO
ECONOMIA INTERNACIONAL I
Posteriormente à teoria clássica, estudaremos a teoria neoclássica do comércio in-
ternacional, que se aproxima de uma teoria moderna, com ênfase em quatro teore-
mas. O primeiro a ser estudado é o Hechscher-Ohlin sob a teoria das proporções dos
fatores de produção; o segundo é o Teorema de Equalização dos Preços, indicando
que há uma convergência de preços no comércio internacional; terceiro teorema
é de Stolper-Samuelson, em que procuraram estudar os efeitos de uma tarifa que
altera o preço sem afetar os preços mundiais; e o quarto, e último, é o Teorema de
Rybycnski, que discute as variações das quantidades dos fatores de produção sobre
as mercadorias produzidas.
E, por último e ainda na terceira unidade, veremos a economia moderna, a qual
trata-se de uma extensão ao modelo das vantagens comparativas. Esta se baseia na
economia de escala e estuda a estrutura de mercado, sendo mais realista o mercado
de concorrência monopolística.
A quarta unidade abordará as políticas comerciais, ou seja, as ações que os gover-
nos decidem frente ao comércio mundial. O comércio pode ser considerado livre, no
entanto há argumentos tanto a favor quanto contra o comércio. Assim, teceremos
comentários a essas duas vertentes. O que se pode dizer, que se uma nação optar
por livre comércio pode depender do tamanho de sua economia. Apesar de, atual-
mente, pensarmos em livre comércio, há medidas protecionistas por toda parte. Tais
medidas são a imposição de tarifas a determinados produtos, subsídios, cotas (ou
quotas), restrições voluntárias às exportações, entre outras.
A nossa última unidade tratará de comércio internacional e desenvolvimento. Ao
avançarmos nosso estudo, você perceberá que o comércio tem a importante função
de proporcionar o desenvolvimento. Nesta unidade, vamos conhecer dois modelos
de desenvolvimento, um desenvolvido por R. Prebisch e adotada por países periféri-
cos, e outro por Nurske, tendo o comércio como motor do desenvolvimento.
Vamos estudar também o papel do comércio e da industrialização. Nesse ponto,
selecionamos dois modelos para o estudo, um baseado no ciclo do produto e outro
com ênfase no modelo dos Gansos Voadores. Tais modelos são considerados como
propulsores de tecnologia nas economias.
Esta unidade foca nas relações entre os países, com vistas a acordos comerciais. Es-
ses acordos podem ser via integração econômica, acordos em razão da regionaliza-
ção ou multilaterais. Assim, também iremos discutir um pouco sobre o processo da
globalização financeira e produtiva.
Desejamos um ótimo estudo a você!
APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO
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UNIDADE I
INTRODUÇÃO À ECONOMIA INTERNACIONAL
15 Introdução
16 Do que trata e qual a importância do Comércio Internacional
21 O Balanço de Pagamentos
26 Determinantes da Taxa de Câmbio
30 A Coordenação Internacional de Políticas
34 O Mercado Internacional de Capitais
37 Considerações Finais
UNIDADE II
COMÉRCIO MUNDIAL: UMA VISÃO GERAL
49 Introdução
50 Quem Negocia com Quem?
52 As Fronteiras e os acordos comerciais
62 Globalização: Passado e Presente
65 O padrão mutante do Comércio
69 O Brasil e o Comércio Internacional
75 Considerações Finais
SUMÁRIO
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UNIDADE III
TEORIAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL
87 Introdução
88 Teoria Clássica do Comércio Internacional: Vantagens Absolutas
94 Teoria Clássica do Comércio Internacional: Vantagens Comparativas
101 Teoria Moderna: Os quatro Teoremas Fundamentais
111 O Modelo de Heckscher-Ohlin
115 Extensões da teoria da vantagem Comparativa: Economias de Escala,
Competição Imperfeita e Comércio Internacional
119 Considerações Finais
UNIDADE IV
POLÍTICAS COMERCIAIS
129 Introdução
130 Instrumentos de Política Comercial
142 Política de Estratégia Comercial
147 Política Comercial para países em Desenvolvimento
154 Argumentos para restringir o Comércio
159 Argumentos a Favor do Comércio
163 Considerações Finais
SUMÁRIO
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UNIDADE V
COMÉRCIO INTERNACIONAL E O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
175 Introdução
176 Teoria do desenvolvimento Econômico
180 Comércio e a Industrialização
186 Processo de Substituições de Importações (PSI)
190 Integração Econômica, Regionalismo e Multilateralismo
197 Globalização Financeira e Produtiva
201 Considerações Finais
208 Conclusão
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Profa. Dra. Luciane Cristina Carvalho
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
INTERNACIONAL
Objetivos de Aprendizagem
■ Apresentar qual a abrangência do comércio internacional, bem como
sua importância para o crescimento e desenvolvimento das nações.
■ Conceituar o balanço de pagamentos de forma introdutória.
■ Expor os determinantes, tipos de taxa de câmbio e os principais
regimes adotados pelos países.
■ Destacar a importância da coordenação internacional de políticas e
efeitos possíveis dessa coordenação.
■ Mostrar a importância do mercado de capitais para financiar
atividades econômicas e financeiras.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Do que trata e qual a importância do comércio Internacional
■ O Balanço de pagamentos
■ Determinantes da taxa de câmbio
■ A coordenação internacional de políticas
■ O mercado internacional de capitais
Introdução
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INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo a esta unidade de estudo!
Convidamos você para um estudo sobre a economia internacional; trata-se
de uma área da ciência econômica que estuda as relações de comércio de bens,
serviços e capitais de um país com outros países. Essa é uma área do conheci-
mento que é atual e sempre está em pauta nas discussões, pois os governos estão
sempre procurando dinamizar suas transações, como também adotar medidas
de forma a proteger a economia local. Assim, vamos destacar a importância do
comércio internacional para os governos, sociedade, empresas, entre outros
agentes. Notamos que a economia internacional nos trouxe um novo desenho
de economia global, no qual há integração entre economias, acordos preferen-
ciais de comércio, formação de blocos econômicos, entre outros.
Sendo assim, vamos conhecer um pouco sobre a importância do comér-
cio internacional. O comérciointernacional é benéfico, gerador de ganhos. No
entanto, há problemas resultantes da interação econômica entre as nações, ou
Estados Soberanos, e a economia internacional propõe a coordenação de polí-
ticas para amenizar os efeitos.
Vamos conhecer, também, o balanço de pagamentos que consiste em um
registro contábil de todas as transações de um país com outros países, ou seja,
as transações de agentes domésticos e estrangeiros, das empresas não financei-
ras, governo e também as instituições monetárias e financeiras.
Estudaremos os determinantes da taxa de câmbio e como ela atua no comér-
cio mundial. Por definição, a taxa de câmbio é o preço de uma moeda estrangeira
medido em unidade da moeda nacional. Veremos também como a taxa de câm-
bio é determinada no mercado.
Abordaremos sobre a coordenação de políticas internacionais, que trata de
arranjos que minimizem os efeitos da decisão de uma política em outro país.
E, por fim, será desenvolvido sobre o mercado internacional de capitais, que é
semelhante e tão importante quanto o mercado de bens e serviços. Desejamos
um ótimo estudo a todos!
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rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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DO QUE TRATA E QUAL A IMPORTÂNCIA DO
COMÉRCIO INTERNACIONAL
Vamos estudar sobre o comércio internacional e qual a sua importância para os
países participarem desse mercado, considerado mundial. Primeiramente, sabe-
mos que nenhum país é isolado e, ao mesmo tempo, dizemos que nenhum país é
totalmente autossuficiente e que não necessita comercializar com outras nações.
Assim, assumimos que toda sociedade realiza transações e toda nação vende ou
compra em maior ou menor medida para outras nações.
O comércio internacional é uma subárea da economia e estuda os motivos e
o comportamento dos indivíduos que os levam a transacionar no comércio inter-
nacional, ou mesmo comercializar domesticamente. Conforme Wessels (2003),
devemos nos lembrar que aquilo que é verdadeiro no comércio também é verda-
deiro para o comércio internacional. Podemos elencar alguns pontos, sendo estes:
■ O comércio é mutuamente benéfico: essa é uma situação em que duas
pessoas lucram, lembrando que, quando uma pessoa ganha, não neces-
sariamente a outra perde.
Do que trata e qual a importância do Comércio Internacional
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■ Exportação/venda e importação/compra: destacamos que as transa-
ções relacionadas à venda de bens e serviços referem-se à exportação
e quando ocorre a compra de bens e serviços referimos à importação.
Frequentemente ouvimos falar que a exportação é boa, pois esse argu-
mento mostra que é melhor vender do que comprar, indicando que o país
eficiente tenta obter o máximo possível em troca do que vende.
■ Quanto mais baratas as importações, melhor para o país: isso indica que
quanto menos a importação custa para um país, um certo montante de
suas importações comparam mais importações.
■ As entradas tendem a igualar as saídas de moeda: Os países vendem para
obter a moeda local com a qual compram outros bens e serviços.
Já definimos os principais conceitos introdutórios sobre o comércio internacional e
destacamos que o assunto de economia internacional é importante, pois consiste nos
problemas levantados pela interação econômica entre as nações ou Estados Soberanos.
Assim, vamos estudar os principais temas que justificam o comércio internacional.
OS GANHOS COM O COMÉRCIO INTERNACIONAL
Em um dos pontos destacados anteriormente, afirmamos que o comércio é
mutuamente benéfico, ou seja, é uma percepção de que o comércio internacio-
nal promove ganhos baseados na troca de bens e serviços.
Então podemos pensar: será que o comércio internacional é benéfico quando
os países envolvidos apresentam disparidades econômicas? A resposta é sim,
há ganhos mesmo quando as nações possuem diferenças em produtividade ou
mesmo salário. Krugman (2005) exemplifica duas situações:
■ Uma em que o país envolvido possui tecnologia menos desenvolvida e,
geralmente, preocupa-se caso sua economia promova a abertura econô-
mica, preocupação justa, visto que suas empresas não serão capazes de
competir com as empresas estrangeiras.
■ Um segundo caso é justamente o contrário: quando a sociedade de uma
nação tecnologicamente mais avançada, em que os trabalhadores ganham
altos salários, preocupa-se com o comércio com países menos avançados,
com salários mais baixos, que derrubem seu padrão de vida.
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Podemos dizer que, mesmo que um país seja mais eficiente que o outro, ambos
podem ganhar com o comércio: o mais eficiente ganha em produtividade e os
produtores do país menos eficiente competem pagando salários mais baixos.
Destacamos que o comércio internacional permite aos países exportarem bens
que foram produzidos com uso intensivo de recursos localmente abundantes,
exemplo de mão de obra, fato este semelhante aos países em desenvolvimento.
Enquanto esses mesmos países importam bens com uso de recursos localmente
escassos, tecnologia, geralmente esses bens são produzidos por países desenvolvi-
dos. Dessa forma, o comércio internacional permite que os países se especializem
nos bens que os proporcionam melhor eficiência, pois irá produzir com o fator
produtivo que cada país possui abundantemente.
Devemos levar em conta que, além do que comentamos sobre as disparida-
des, o preço relativo do bem também influencia na hora da transação. De acordo
com Wessels (2003), dois países devem negociar sempre que os preços relati-
vos dos bens (antes de uma abertura comercial) forem diferentes. Calculamos o
preço relativo da seguinte forma:
preço relativo de A = Pª / Pb’
em que Pª é o preço do bem A e Pb’ o preço B do bem. Vejamos um exem-
plo: Se o bem A custa $ 12 e o bem B custa $ 6, o preço relativo do bem A é 2.
Dessa forma, é preciso abandonar duas unidades de B para se adquirir uma
unidade de A.
Devemos observar que não importa o quanto os preços relativos são diferentes,
mas sim que sejam diferentes. Essa, digamos, hipótese de preços relativos ocorre
numa situação em que não houve abertura comercial, pois quando se efetivar
essa abertura os preços tendem a se igualar.
Podemos perguntar: por que os preços relativos são diferentes entre as
nações? São três os motivos dessa diferença. O primeiro é que há diferenças nos
custos relativos da produção dos bens; o segundo pode-se afirmar que é devido
às diferenças nas preferências; e o terceiro refere-se às diferenças de clima e
recursos naturais.
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Devemos observar também que os ganhos do comércio internacional não são
apenas oriundos das trocas de bens – podemos considerar outros tipos de tran-
sações. Exemplo disso é a migração, assim como os empréstimos, os quais são
considerados como forma de comércio que resulta em benefício. Nesse caso, tro-
ca-se trabalho por bens e serviços e trocam-se bens atuais por promessa de futuro.
Além disso, tem-se as trocas no mercado de capitais – estes referem-se a ati-
vos de risco, tais como ações e títulos, os quais podem beneficiar a medida que
proporcionam a diversificação de riqueza e redução de variabilidade de rendas.
Destacamos a existência de um grupo de teóricos docomércio internacio-
nal o qual enfatiza que, apesar dos benefícios oriundos dessa atividade, há outro
grupo que pode ser prejudicado, considerando que o comércio internacional
pode ter fortes efeitos sobre a distribuição de renda. Eles apontam dois fatores
preocupantes, conforme Krugman (2005):
■ O comércio internacional pode afetar negativamente os proprietários de
recursos específicos para as indústrias que concorrem com importações.
■ O comércio também pode alterar a distribuição de renda entre grupos,
como de trabalhadores e o de proprietários de capital.
Portanto, apesar dos ganhos obtidos do comércio internacional, ainda há dis-
cussão sobre seus efeitos. No entanto, com o objetivo de suprir a necessidade da
sociedade, as transações comerciais são realizadas, apostando que seus ganhos
sejam maiores que seus efeitos negativos.
PADRÃO DE COMÉRCIO
A discussão em torno do comércio internacional está mais focada nos efeitos cau-
sados por essa atividade. No entanto, há um viés que procura estudar o padrão
do comércio, ou seja, quem vende o quê e para quem? Essas são preocupações
dos teóricos da área.
Por esse entendimento, Krugman (2005) destaca que é simples de entender
quando o clima e os recursos explicam as transações – por exemplo, o Brasil
exporta café, no entanto não é tão simples explicar o padrão de comércio no Japão,
INTRODUÇÃO À ECONOMIA INTERNACIONAL
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o qual exporta automóveis, e nos Estados Unidos, que exporta aviões. Veremos
algumas respostas ao longo de nosso estudo, porém podemos antecipar que o
pensador David Ricardo procurou explicar o padrão do comércio em termo de
diferenças internacionais na produtividade do trabalho. E uma explicação mais
alternativa num período mais recente relaciona o padrão do comércio a uma
interação entre as ofertas relativas dos recursos nacionais, ou seja, capital, tra-
balho e terra, com o uso relativo desses fatores na produção de diferentes bens.
QUANTO COMÉRCIO PERMITIR
Partindo do pressuposto de que os ganhos do comércio são mais importantes na
economia internacional, então resta saber quanto comércio permitir. Vamos pen-
sar que, desde o surgimento das nações-Estado, os governos têm se preocupado
com os efeitos da concorrência internacional sobre a prosperidade das indús-
trias nacionais. Por essa razão, procuram uma forma de proteger tais indústrias
da concorrência externa, impondo limites à importação de bens ou subsidiando
as exportações, por exemplo.
Do âmbito político, desde o período da Segunda Guerra Mundial, os países
avançados (liderados pelos Estados Unidos) procuraram uma ampla remoção
de barreiras ao comércio internacional. De acordo com Krugman (2005, p. 4),
“[...] essa política refletia a opinião de que o livre comércio era uma força não
somente para a prosperidade, mas também para promover a paz mundial”. E,
com isso, novos acordos de livre comércio foram negociados a partir da década
de 90, por exemplo, o Acordo de Livre Comércio da América do Norte – NAFTA,
entre o Canadá, Estados Unidos e México. E o importante acordo da Rodada do
Uruguai, que acabou por fundar a Organização Mundial do Comércio – OMC.
Esse movimento de livre comércio trouxe novos adeptos para um grupo con-
trário a essa forma de acordo e ideias de globalização. Esse grupo se preocupava
com as ideias tradicionais do protecionismo.
Bem, então quanto comércio permitir?
Um dos argumentos de quanto comércio permitir é fundamentado na ideia
de preço relativo, como argumenta Wessels (2003, p. 463): “Um país deve vender
O Balanço de Pagamentos
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os bens que os outros valorizam com um maior preço relativo. Um país deve
comprar os bens que os outros países estão dispostos a vender a um menor preço
relativo. Compre barato, venda caro”.
Um outro argumento está em Krugman (2005), no qual, dado os efeitos das
políticas governamentais que afetam o comércio internacional, deve-se analisar
o custo-benefício e definir critérios de intervenção do governo para o bom fun-
cionamento da economia.
No entanto, destacamos que, na vida real, não é tão simples assim, mesmo por-
que o fator determinante do comércio internacional são as políticas governamentais.
O BALANÇO DE PAGAMENTOS
O balanço de pagamentos consiste em um registro contábil de todas as transações de
um país com outros países. Podemos, ainda, conceituar como sendo o registro dos
pagamentos efetuados entre os residentes e os não residentes em determinado país.
Vamos detalhar um pouco mais: o balanço registra toda movimentação que
ocorreu num país com relação às atividades com outros países. Essas ativida-
des podem ser de exportação, importação, seguro viagem, frete, movimentação
financeira, entre outras.
Agora, definindo quem são os residentes de um país – por exemplo, no caso
do Brasil –, são considerados residentes todas as pessoas que residam no país
de forma permanente. Além disso, também são consideradas residentes aque-
las pessoas que exercem atividades assalariadas às autarquias e repartições do
governo brasileiro no exterior, aquelas que ingressaram no Brasil com visto per-
manente ou até mesmo temporário.
Definidos os conceitos iniciais, vamos trabalhar um pouco mais sobre o
balanço de pagamentos. O referido balanço é um instrumento de contabilidade
nacional e que registra a conta do agente no exterior, das famílias, das empresas
não financeiras e governo e, também, das instituições monetárias e financeiras.
INTRODUÇÃO À ECONOMIA INTERNACIONAL
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Um ponto importante de que devemos nos dar conta diz respeito à compra e venda
de moeda estrangeira. Essa transação também é registrada no balanço de paga-
mentos, pois é por meio dela que se processam as trocas com o resto do mundo.
Bem, no caso de compra de moeda estrangeira, justifica-se para pagar a impor-
tação de mercadorias de outros países, ou para pagamento de serviços prestados
por estrangeiros a brasileiros, ou ainda para que empresas estrangeiras instaladas no
país enviem seus lucros aos países de origem. Pode justificar-se também para paga-
mentos de juros estrangeiros ou pagamentos de royalties e patentes a outras nações.
Em contrapartida, a venda de moedas estrangeiras ocorre pelos exportadores
que recebem como pagamento pelas firmas estrangeiras que estão se instalando
no país, ou mesmo filiais, e precisam de moedas domésticas – no caso, reais – ou
pelas entidades que receberam empréstimos de outros países e precisam reali-
zar pagamentos em reais.
O balanço de pagamentos das contas nacionais é semelhante ao de um balanço
empresarial, ou seja, segue o mesmo princípio das partidas dobradas. Isso indica
que, para cada transação entre dois agentes, são envolvidos dois fluxos em sen-
tido contrário, sendo um de débito e outro de crédito. Assim, as compras de
moeda estrangeira são registradas no lado esquerdo do balanço de pagamentos,
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pois trata-se de lançamentos a débito. E as vendas de moedas estrangeira são
registrados no lado direito do balanço de pagamentos, indicando lançamento a
crédito, como mostra o esquema abaixo.
Do lado esquerdo - Débito
Compra de moeda estrangeira
Do lado direito - Crédito
Venda de moeda estrangeira
Lembrandoque o balanço de pagamentos precisa estar em equilíbrio e, para isso,
o montante de débito deve ser igual ao montante de crédito.
O balanço de pagamentos segue o padrão sugerido pelo Fundo Monetário
Internacional – FMI – e é composto de duas categorias: as transações correntes e
movimento de capital e o grupo de contas que as compõem, como se apresenta abaixo:
Transações correntes
1. Balança comercial: representa o saldo líquido das exportações menos as
importações de bens e serviços.
2. Balança de serviços: representa o saldo líquido das receitas e despesas em
divisas externas com viagens ao exterior, frete, seguros, serviços gover-
namentais, entre outras.
3. Transações unilaterais: representam transações que não envolvem con-
trapartida, por exemplo: donativos privados e oficiais.
Movimentos de capitais
1. Investimentos estrangeiros líquidos
2. Empréstimos a médio e longo prazo
3. Empréstimos a curto prazo
4. Amortizações.
O balanço de pagamentos segue o mesmo padrão do balanço patrimonial empre-
sarial, no entanto, o primeiro refere-se às transações de um país com relação ao
exterior. As condições de equilíbrio ou desequilíbrio, sendo o déficit ou superá-
vit, são resultados ou saldo líquido de cada categoria mencionada acima. Para
melhor visualização do balanço de pagamentos, segue a síntese de sua estrutura.
INTRODUÇÃO À ECONOMIA INTERNACIONAL
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E24
Quadro 1 - Estrutura do balanço de pagamentos
BALANÇO DE PAGAMENTOS
1. Balança comercial
1.1 Exportações
1.2 Importações
2. Balança de serviços
2.1 Transportes: fretes, seguros, etc.
2.2 Turismo e viagens internacionais
2.3 Rendas de capital: remessa de lucros, lucros reinvestidos e juros
2.4 Serviços governamentais
2.5 Diversos
3. Transferências unilaterais
4. Saldo do balanço de pagamentos em transações correntes: 1 + 2 + 3
5. Movimento de capitais
5.1 Investimentos diretos
5.2 Reinvestimentos
5.3 Empréstimos e financiamentos
5.4 Amortizações de empréstimos
5.5 Capitais de curto prazo
5.6 Empréstimos de regularização
5.7 Outros capitais
6. Erros e omissões
7. Saldo total do balanço de pagamentos: 4 + 5 + 6
8. Variação das reservas
Fonte: Paulani e Braga (2007).
Grupo 1 - Balança Comercial: a balança comercial registra a movimentação
de mercadorias, ou seja, de bens tangíveis. Seu saldo é dado pela diferença
entre vendas de mercadorias efetuadas pelo país ao exterior, pode ser deficitá-
rio quando as importações forem maiores que as exportações e superavitário
em casos contrários.
Grupo 2 - Balança de serviços: agrega as transações com intangíveis, ou
seja, incluem as receitas e despesas com transportes, as receitas e despe-
sas decorrentes de viagens internacionais, as rendas de capital, ou seja, as
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remessas ou recebimentos de juros e lucros, os gastos com representações
diplomáticas e outros tipos de receitas e gastos, como os relacionados com
patentes e royalties.
Grupo 3 - Transferências Unilaterais: representam pagamentos ou recebimen-
tos sem contrapartida, tais como doações de um país para outro a título de ajuda
humanitária ou reparação de guerra.
Grupo 4 - Saldo em transações correntes, que é o somatório dos resultados dos
três grupos anteriores.
Grupo 5 - Movimento de capitais (ou balanço de capitais): registra as transações
envolvendo investimentos, empréstimos e financiamentos entre países.
Grupo 6 - Erros e omissões: é calculado para tornar nulo o resultado do balanço
de pagamentos.
Grupo 7 - Saldo no total no balanço de pagamentos: mostra o resultado que o
país obteve no período, portanto é a apuração do resultado a partir de suas ope-
rações correntes. Se o saldo é positivo, o país, ao longo de suas operações de
compra e venda de bens e serviços, acumulou divisas, ou seja, produziu mais
desses recursos do que deles necessitam. Assim, ou o país utilizou esse superávit
para realizar investimentos na economia ou concedeu empréstimos.
Grupo 8 - A conta de variação das reservas: demonstra o resultado.
Conforme Paulani (2007), é por meio do balanço de pagamentos que pode-
-se dizer se, em face de um déficit em seu balanço de pagamentos em conta
corrente, um país pode tentar obter os recursos que faltam por meio de ope-
rações de investimento, empréstimos ou financiamentos, ou mesmo a partir
dos capitais de curto prazo. O resultado desse esforço que vai determinar
se o país vai ganhar ou perder reservas no período, ou ainda se terá ou não
de pedir auxílio a instituições como o FMI ou simplesmente não honrar os
compromissos.
INTRODUÇÃO À ECONOMIA INTERNACIONAL
Reprodução proibida. A
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IU N I D A D E26
DETERMINANTES DA TAXA DE CÂMBIO
Conheceremos as taxas de câmbio e como elas atuam no comércio mundial.
Então temos por definição que taxa de câmbio é o preço de uma moeda estran-
geira medido em unidade da moeda nacional. Aprimorando o conceito, a taxa
de câmbio é o preço de uma moeda por outra. A moeda considerada hegemô-
nica, ou seja, moeda dominante, é o dólar.
Sendo assim, se o Brasil deseja vender soja para os Estados Unidos, é neces-
sário converter o preço da soja em dólares. Essa medida é a taxa de câmbio em
que, se cada dólar custar R$ 1,00, o preço do quilo de soja em reais é de R$ 4,00
e em dólar será de US$ 4,00. A taxa de câmbio reflete o custo de uma moeda em
relação à outra. Normalmente, as cotações apresentam taxas diferenciadas para
a compra e para a venda.
A taxa de câmbio é influenciada pela oferta e pela demanda de divisas, isto
é, pela oferta e demanda da moeda estrangeira em um determinado país. Nesse
caso, temos de um lado os ofertantes de divisas que são os exportadores, ou seja,
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os que recebem, em troca de suas vendas, moedas estrangeiras que não podem
ser utilizadas no país e que necessitam ser trocadas por moeda nacional, por-
tanto, precisam convertê-las. Por outro lado, temos a demanda de divisas, ou
seja, os importadores que necessitam de moeda estrangeiras para efetuar suas
compras em outros países.
No entanto, deve-se levar em consideração os efeitos psicológicos da oferta
e demanda. Por exemplo: se a taxa de câmbio for muito alta, muitos produto-
res desejam exportar mais, e a oferta de dólares será muito grande. Vejamos um
exemplo para melhor ilustração.
Taxa de câmbio
R$ por dólar
Preço da Soja
em dólares
Preço da Soja
em reais Resultado
2,00 4,00 8,00 Exportar mais
1,00 4,00 4,00 Exportar menos
Tabela 1: Demonstração de conversão da taxa de câmbio
Fonte: adaptado de Montoro Filho (1998).
Conforme a Tabela 1, podemos perceber que, quanto maior a taxa de câm-
bio, maior será o volume que as firmas desejam exportar e, no caso contrário,
quanto menor a taxa de câmbio, menor o volume que as firmas desejam expor-
tar. Lembrando que a oferta de divisas depende das exportações, sendo assim,
quanto maior a taxa de câmbio, maior a oferta de divisas e quanto menor a taxa
de câmbio, menor será a oferta de divisas.
Vale lembrar que estudamos até aqui os determinantes da taxa de câmbio
no mercado, no entanto há ambientes que são conhecidos como regimes cam-
biais que diferem em seus modelos e em cada país. No caso que apontamos, as
taxas de câmbio são determinadaspelo mercado, mas nem sempre é tão simples
assim, e há vários motivos pelos quais é necessário a intervenção do governo na
fixação das taxas de câmbio.
Um primeiro motivo refere-se à elasticidade da demanda e da oferta, ou seja,
se as variabilidades das divisas forem muito pequenas, podem provocar gran-
des alterações na taxa de câmbio. O segundo motivo a favor da intervenção do
governo na taxa de câmbio é a especulação.
INTRODUÇÃO À ECONOMIA INTERNACIONAL
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IU N I D A D E28
Conceituando a especulação, podemos dizer que refere-se à tomada de deci-
sões baseando-se em perspectivas sobre a evolução do mercado. Sendo assim,
caso se acredite que amanhã a taxa de câmbio será maior que a taxa de câmbio de
hoje, é conveniente comprar dólares hoje e vender amanhã. Esse é um fenômeno
de mercado e pode provocar variações nos preços, ou ainda, às vezes estabilizá-
-los, ou seja, consegue fazer com que os preços não variem muito.
Outro ponto a considerar sobre a taxa de câmbio diz respeito à valorização/
apreciação e desvalorização/depreciação. Já ouvimos, principalmente na década de
90, sobre esses conceitos a respeito do câmbio brasileiro. Então, o que isso significa?
Bem, dizemos que um câmbio foi desvalorizado quando precisamos de um
número maior de reais por unidade de moeda estrangeira. Nesse caso, ocorreu
um aumento na taxa de câmbio causando a desvalorização. Em contrapartida,
uma valorização cambial indica que a moeda doméstica está mais forte, e preci-
samos de menos reais para pagar por unidade de moeda estrangeira. Nesse caso,
ocorreu uma queda na taxa de câmbio. Cabe salientar que os termos valorização/
apreciação e desvalorização/depreciação são utilizados para as mesmas situações.
A taxa de câmbio está relacionada com os preços dos produtos exportados
ou importados. Então, ela pode estimular ou desestimular as exportações con-
forme o patamar da referida taxa.
Taxa de câmbio
R$ / US$
Unidades
Vendidas
Preço da Soja
em US$
Faturamento
em US$
Faturamento
em R$
2,00 1.000 50,00 50.000 100.000
Com câmbio desvalorizado em 10%
2,50 1.000 50,00 50.000 125.000
Tabela 2 - Desvalorização da taxa de câmbio
Fonte: Vasconcellos (2004).
Conforme o exemplo, podemos verificar o efeito de uma desvalorização da moeda
doméstica, isto é, precisamos de mais reais para pagar a mesma quantidade de
dólar. No quadro anterior, verificamos uma desvalorização de 10% e a taxa de
câmbio subiu para 2,50 reais/US$; e vendendo a mesma quantidade, que agora
passa a valer 125.000 reais, o que proporciona ao exportador vender mais e, con-
sequentemente, aumenta a oferta de divisas.
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Do lado do importador, a situação não é a mesma, pois os preços dos produ-
tos importados aumentaram em moeda nacional. Isso provoca um desestímulo
à importação e, consequentemente, uma queda na procura por divisa.
Além dos estímulos ou desestímulos à atividade de exportação/importação,
podemos elencar outros efeitos relacionados à valorização ou desvalorização.
No caso de uma valorização da moeda doméstica frente ao dólar, considerando
o Brasil, os brasileiros passam a importar mais e, com isso, aumenta a compe-
titividade do produto nacional e importado. Nesse caso, a valorização permite
ancorar os preços internos e reduzir a taxa de inflação. Isso acontece porque os
empresários são desestimulados a aumentar os preços.
Devemos considerar as desvantagens de uma valorização. Nessa condição,
os setores que não estiverem preparados para competição externa sofrerão com
a queda de suas vendas. Outro ponto é que os exportadores também são preju-
dicados, pois os preços dos produtos nacionais no mercado internacional ficam
mais caros. Além disso, pode ocorrer um déficit na balança comercial em razão
da diminuição das exportações e aumento das importações.
Em contrapartida, em uma desvalorização, os produtos importados ficam mais
caros. A importação de alguns produtos considerados supérfluos será reduzida, no
entanto há produtos necessários para o Brasil que ficam mais caros. Essa situação pode
ocasionar aumento dos custos de produção gerando a chamada inflação de custo.
Em suma, conhecer a taxa de câmbio e sua importância para a economia
internacional é de extrema relevância, pois é um instrumento necessário nas
transações comerciais e financeiras.
Para conhecer as conversões de uma moeda para outra, acesse o link indica-
do. Assim, você poderá simular diversas situações de trocas de moedas, ou
seja, irá conhecer as diferentes cotações.
<http://www.bcb.gov.br/?TXCAMBIO>
Fonte: a autora.
INTRODUÇÃO À ECONOMIA INTERNACIONAL
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IU N I D A D E30
A COORDENAÇÃO INTERNACIONAL DE POLÍTICAS
Então, podemos pensar: o que é coordenar? A resposta é possuir capacidade de clas-
sificar elementos diferentes com a finalidade de alcançar um determinado objetivo.
No nosso caso, o objetivo é coordenar as políticas dada sua importância internacional.
A economia internacional é ampla e compreende nações soberanas, isto é,
exerce seu poder e autoridade suprema. Sendo assim, todas as nações são livres
para escolher suas políticas. Entretanto, nem sempre a decisão de políticas de
um país é boa para outro. Assim, conforme o exemplo destacado por Krugman
(2005), o Banco Central da Alemanha elevou as taxas de juros em 1990, com o
intuito de controlar o impacto inflacionário; essa medida contribuiu para ante-
cipar uma recessão no restante da Europa Ocidental.
Como isso pode ser explicado? Podemos justificar com as diferenças nos obje-
tivos entre países que levam a conflitos de interesse. Destacamos que um problema
fundamental na economia internacional é como produzir um grau aceitável de
harmonia entre o comércio internacional e as políticas (fiscal/monetária/cambial)
de países diferentes sem um governo único que possa orientar sobre o que fazer.
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Para amenizar as diferenças e promover uma melhor coordenação entre
os países, foram criados os organismos internacionais que contribuem para o
melhor funcionamento das decisões. Os organismos internacionais surgiram por
volta da metade do século XX, tendo seu papel ampliado em virtude da integra-
ção global. A finalidade desses organismos internacionais é promover a ordem
das relações internacionais e influência política. Possuem, também, o papel de
elaboração e regulação de normas que resultam em acordos entre os países. Os
principais organismos internacionais são:
■ A Organização das Nações Unidas (ONU): é considerada o mais impor-
tante organismo internacional, pois reúne praticamente todas as nações
do mundo. Ela surgiu ao final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945)
em substituição à antiga Liga das Nações e objetiva promover a paz e a
segurança mundial. A principal função decisória da ONU é o Conselho
de Segurança.
■ A Organização Mundial do Comércio (OMC): é o organismo internacional
responsável por legislar e acompanhar as transações econômicas e comer-
ciais realizadas entre diferentes países. Objetiva promover a liberalização
mundial do comércio, visando combater as práticas ilegais de comércio.
■ O Fundo Monetário Internacional (FMI): é uma organização financeira
responsável por garantira estabilidade econômica internacional. Ele é
composto por 187 países e foi criado em 1944 na Conferência de Bretton
Woods. Seu funcionamento, basicamente, ocorre por meio do gerencia-
mento e concessão de empréstimo para aqueles países que o solicitam.
■ Banco Mundial (BM): criado em 1945 na Conferência de Bretton Woods,
juntamente ao FMI. É uma organização financeira vinculada à ONU, mas
que possui a sua própria autonomia. Atualmente, seu objetivo passou a
ser o de conceder empréstimos a países da Ásia, África e Américas.
■ A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
é uma instituição atualmente composta por 34 países. Seu objetivo é
fomentar e incentivar ações de desenvolvimento econômico de seus paí-
ses-membros, além de medidas que visem à ampliação de metas para o
equilíbrio econômico mundial e melhorem as condições de vida e os índi-
ces de renda e emprego. O Brasil não é um membro dessa organização.
INTRODUÇÃO À ECONOMIA INTERNACIONAL
Reprodução proibida. A
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IU N I D A D E32
Os organismos internacionais desempenham um papel importantíssimo na
economia mundial. Suas políticas estão muitas vezes em defesa de uma política
comercial. Países se utilizam do protecionismo para proteger sua economia de
concorrência externa. Essas medidas protecionistas podem ocorrer por meio de
tarifas ou barreiras ao comércio.
O momento em que surgiu a maior parte desses organismos internacionais
foi com a liberalização do comércio pós-guerra. Nessa época, a negociação inter-
nacional alcançada foi que os governos concordaram em promover redução de
suas tarifas. Esses acordos resultaram em menor proteção às indústrias nacio-
nais. Esse vínculo contribuiu para compensar algumas dificuldades políticas que
países insistiam a relutar com relação à política comercial.
Conforme Krugman (2005), há dois motivos considerados como vantagem
de negociação. O primeiro é que o acordo mútuo ajuda a atrair apoio para um
comércio mais livre. O segundo é que tais acordos sobre o comércio ajudam o
governo a não entrar em guerras comerciais destrutivas.
Para melhor ilustrar, vamos utilizar o exemplo mostrado em Krugman (2005),
supondo que haja somente dois países, sendo eles Estados Unidos e Japão. E esses
países contam com apenas duas opções de política econômica: livre comércio
ou proteção. Imaginemos que os governos de ambos os países são objetivos e
capazes de atribuir valores numéricos para a satisfação de cada política. Sendo
assim, o quadro abaixo mostra os valores atribuídos a cada opção de política.
Estados Unidos
Japão Livre comércio Proteção
Livre comércio 10
10
-10
20
Proteção 20
10
-5
-5
Tabela 3 - O problema de guerra comercial
Fonte: Krugman (2005).
Podemos observar que, conforme a tabela, os valores dos ganhos estão funda-
mentados em dois pressupostos:
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1. Supondo que cada país escolhera a proteção, se soubesse não influenciaria
na escolha do outro país. De forma mais clara, qualquer que seja a polí-
tica escolhida pelo Japão, o governo dos Estados Unidos sairá ganhando
se proteger suas indústrias.
2. Mesmo que cada governo, agindo individualmente, saísse ganhando com
a proteção, ambos se beneficiariam se tivessem escolhido o livre comércio.
Alguns pontos a considerar no exemplo: os governos devem agir não apenas
no interesse político, mas também em seu próprio interesse político. Os Estados
Unidos têm mais a ganhar com a abertura dos mercados japoneses do que têm
a perder com a abertura dos seus próprios mercados e vice-versa.
Então, se cada país optar pela decisão que for melhor para si, cada governo
escolherá a proteção. Esse resultado é mostrado no quadrante inferior direito da
tabela. Em contrapartida, se nenhum escolher a proteção, ambos sairão ganhando.
Esses resultados estão no quadrante superior esquerdo.
Concluímos com esses resultados que os governos, agindo unilateralmente,
deixam de obter ganhos. E, se cada país decidir proteger seus mercados, promo-
verá uma guerra comercial que prejudicará a todos.
Esse foi um exemplo de que muitos países estão dispostos a proteger seus
mercados. Também observamos que a ilustração sugere uma coordenação de polí-
ticas comerciais internacionais, o que acontece por meio de acordos comerciais.
Enfim, os organismos internacionais são atores fundamentais para estabe-
lecer a ordem e a coordenação internacional de políticas, em papel importante
nas negociações comerciais.
Para conhecer a organização mundial do comércio – OMC, seu surgimento,
seus objetivos, concessões, acordos e outros funcionamentos acesse o link:
<http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/negociacoes-inter-
nacionais/805-omc-organizacao-mundial-do-comercio>.
Fonte: a autora.
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IU N I D A D E34
O MERCADO INTERNACIONAL DE CAPITAIS
Vamos estudar sobre o mercado internacional de capitais. Semelhante e tão
importante quanto o mercado de bens e serviços, o referido mercado apresenta
problemas que demandam atenção.
O mercado internacional de capitais deve cumprir regulamentações espe-
ciais que diversos países impõem ao investimento estrangeiro. As normas para
essa atividade existem com a finalidade de exercer certo controle no capital
estrangeiro que entra no país e, além disso, deve-se considerar os riscos nos
quais estão inseridos.
Um dos riscos a ser considerado no mercado internacional de capitais refe-
re-se à flutuação da moeda, que pode resultar em perda de capital – por exemplo,
se o euro cai em relação ao dólar, os investidores norte-americanos que compra-
ram títulos em euro sofrem uma perda do capital.
Outro risco a ser considerado é a inadimplência da nação. Nesse caso, uma
nação pode recusar-se a pagar suas dívidas e pode, ainda, não haver nenhuma
maneira eficaz para que seus credores levem a referida nação aos tribunais.
O Mercado Internacional de Capitais
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Então, podemos dizer que em qualquer economia existe o mercado de capi-
tais e que neste exige-se um conjunto de arranjos, ou alguma coordenação, para
que os indivíduos e as firmas troquem dinheiro por promessas de pagamento
no futuro a partir de dois momentos:
1. O crescimento do comércio internacional foi acompanhado pelo mer-
cado internacional de capitais na década de 60.
2. As nações do Oriente Médio, ricas em petróleo, investiram renda oriunda
desse produto nos principais bancos, banco de Londres ou de Nova York.
E esses bancos emprestaram dinheiro a governos e empresas na Ásia e
na América Latina.
Cabe salientar que o mercado internacional de capitais não é único, mas é um grupo
de mercado que está interligado com a finalidade de trocas, envolvendo produtos,
serviços e ativos. Para que essas negociações sejam transacionadas, são necessárias
as transações no mercado de câmbio para as trocas das moedas. Os principais parti-
cipantes do mercado de capitais são: bancos comerciais, grandes firmas, instituições
financeiras não bancárias, bancos centrais, agentes do governo, entre outros.
Conforme Krugman (2005), a maior parte das negociaçõesno mercado
internacional de capitais resultam em trocas entre residentes de vários países,
baseadas em três categorias: troca de produtos ou serviços por produtos ou ser-
viços; trocas de produtos ou serviços por ativos; e trocas de ativos por ativos. A
Figura 1 mostra as categorias de transações considerando dois países e os gan-
hos diferentes possíveis de comércio.
BENS E
SERVIÇOS
ATIVOS ATIVOS
BENS E
SERVIÇOS
Figura 1- Os três tipos de transações internacionais
Fonte: Krugman (2005).
INTRODUÇÃO À ECONOMIA INTERNACIONAL
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IU N I D A D E36
Na primeira situação mencionada, percebemos que o ganho do país está con-
centrado nas atividades de produto e parte do que é produzido utiliza para
pagamento das importações. A segunda situação mostra um ganho referente ao
ganho intertemporal, isto é, a troca de produtos e serviços por produtos e servi-
ços futuros, ou seja, ativo. A última situação envolve a troca de ativos por ativos,
por exemplo, a troca de um imóvel localizado em um país por títulos do tesouro
de um outro país. Dessa forma, podemos concluir que as categorias de trocas são
benéficas aos países envolvidos, pois movimentam grande volume de comércio.
Enfim, o mercado de capitais internacionais é tão importante quanto o mer-
cado de bens e serviços. Salientando que em ambos os mercados há exigências,
as quais os países devem respeitar para que haja o bom funcionamento do mer-
cado internacional.
De acordo com a Figura 1, a seta horizontal superior mostra a troca de bens e ser-
viços entre o país local e estrangeiro. As setas diagonais indicam a troca de bens
e serviços por ativos. A seta horizontal inferior indica troca de ativos por ativos.
Como seria a vida das pessoas se não houvesse a possibilidade de troca de
produtos capitais?
“A transnacionalização do capital” é um artigo que mostra como as firmas
evoluíram do seu espaço econômico para a internacionalização produtiva.
Trata das trocas internacionais à transnacionalização do capital. Para saber
mais acesse o artigo indicado:
<http://www.scielo.br/pdf/rae/v20n1/v20n1a06.pdf>
Fonte: a autora.
Considerações Finais
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Chegamos ao final de nossa unidade com conhecimentos adquiridos sobre a
importância do comércio internacional, bem como os principais elementos que
contribuem para dinamizar esse comércio, como a taxa de câmbio, o balanço de
pagamentos que serve de controle das transações para um país, as decisões que
devem ser tomadas de forma coordenada para evitar efeitos negativos ao comércio.
Assim, esperamos que tenham aproveitado o aprendizado e desejamos ótimo
estudo a todos!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao final da unidade e com o conhecimento básico sobre a economia
internacional. Estudamos os elementos do comércio que compõe a economia
global, sendo o produto, serviço e mercado. Vimos que o comércio é benéfico,
resultante de ganhos mesmo quando se negocia com países de disparidade eco-
nômica. Nesse caso, observamos que o país desenvolvido pode trocar o que de
melhor dispõe, sendo este a tecnologia, enquanto o menos desenvolvido troca
sua mão de obra, que há em abundância.
Estudamos que, com o comércio internacional, é necessário que o país uti-
lize um instrumento chamado de balanço de pagamentos para controlar suas
transações com o exterior.
Vimos que, no comércio internacional, é necessário realizar os pagamentos em
moeda aceitável, que, no caso, corresponde ao dólar, que é a moeda de transação.
Para isso, o exportador ou importador, em algum momento, para comprar e vender,
terá de converter a moeda doméstica em dólar. Essa conversão é chamada de taxa
de câmbio, que nada mais é do que o preço da moeda estrangeira pela doméstica.
O comércio internacional é um mercado global, no qual países de diferen-
tes economias se negociam entre si. No entanto, estudamos que uma decisão de
política doméstica pode afetar o outro país. E, nesse caso, conhecemos a coorde-
nação de políticas econômicas internacionais, a coordenação procura minimizar
os efeitos dessa política em outros países e também harmonizar as negociações.
INTRODUÇÃO À ECONOMIA INTERNACIONAL
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Por fim, conhecemos um mercado semelhante ao de bens e serviços, que é o
mercado de capitais. Esse mercado mostra a importância dos fluxos internacio-
nais de capitais tanto para o setor produtivo quanto para o mercado financeiro.
Vimos, também, que esse mercado apresenta vários riscos a seus participantes,
que vão desde a perda do capital em decorrência de uma alteração na moeda
estrangeira – nesse caso quando há investimentos atrelados a uma outra moeda,
– até o risco de inadimplência de uma nação – nesse caso, o país pode decretar
moratória e recusar-se de pagar suas obrigações.
E, assim, chegamos ao final desta unidade e desejo um ótimo estudo!
39
1. O comércio internacional é uma subárea da economia e estuda os motivos e
o comportamento dos indivíduos que os levam a transacionar no comércio
internacional, ou mesmo comercializar domesticamente. Sobre os argumentos
para o comércio internacional, assinale a alternativa correta.
a) O Comércio é benéfico de forma unilateral.
b) Quanto mais baratas as importações, melhor para o país.
c) As entradas não se igualam às saídas de moedas.
d) As exportações indicam um país ineficiente.
e) As importações são melhores quando superam as exportações.
2. A percepção de que o comércio internacional promove ganhos baseados na
troca de serviços orienta as transações no comércio internacional. Sobre o co-
mercio internacional, analise as afirmativas a seguir:
I. O comércio internacional permite que os países se especializam nos bens.
II. Há ganhos mesmo que as nações tenham diferenças em produtividade ou
mesmo salário.
III. Dois países devem negociar sempre que os preços relativos dos bens forem
iguais.
IV. O comércio internacional permite que os países exportem bens com uso in-
tensivo de recursos localmente abundantes, enquanto importam bens com
uso de recursos localmente escassos.
É correto o que se afirma em:
a) I e II, apenas.
b) II e III, apenas.
c) I, apenas.
d) II e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
3. O balanço de pagamentos: trata-se de um instrumento obrigatório que toda
nação deve ter para controlar suas transações financeiras e comerciais. Sobre o
balanço de pagamentos, assinale a alternativa correta.
a) A compra e venda de moeda estrangeira não precisa ser registrada no ba-
lanço de pagamentos.
b) O balanço de pagamentos segue o padrão diferente ao sugerido pelo Fun-
do Monetário Internacional – FMI.
40
c) As transações de caráter humanitário não devem ser registradas no balanço
de pagamentos.
d) O balanço de pagamentos das contas nacionais é semelhante ao de um ba-
lanço empresarial, ou seja, segue o mesmo princípio das partidas dobradas.
e) As compras de moeda estrangeira são registradas no lado direito do balan-
ço de pagamentos.
4. A taxa de câmbio é o preço de uma moeda estrangeira medido em unidade da
moeda nacional. Sobre taxa de câmbio, assinale a alternativa correta.
a) A taxa de câmbio é influenciada pela oferta e pela demanda de divisas.
b) Se a taxa de câmbio for muito alta, muitos produtores desejarão exportar menos.
c) Uma desvalorização da taxa de câmbio implica em aumento das importações.
d) O governo faz intervenções diárias na taxa de câmbio.
e) Variações pequenas de divisas não provocam alterações de câmbio.5. O mercado internacional de capitais é semelhante e tão importante quanto o
mercado de bens e serviços. Sobre o mercado internacional de capitais, assina-
le a alternativa correta.
a) Não há normas para a atividade de capitais internacionais ao ingressarem no
país.
b) Os riscos na atividade de capitais internacionais são mínimos, quase inexisten-
tes.
c) Para que essas negociações sejam transacionadas, são necessárias as transa-
ções no mercado de câmbio para as trocas das moedas.
d) A maior parte das negociações no mercado internacional de capitais resulta
em trocas entre residentes de um mesmo país.
e) O mercado internacional de capitais deve cumprir regulamentações espe-
ciais que diversos países impõem ao investimento estrangeiro.
41
O SISTEMA MONETÁRIO E FINANCEIRO
INTERNACIONAL CONTEMPORÂNEO
O Sistema Monetário Internacional (SMI)
que emergiu após o colapso do acordo de
Bretton Woods também se baseou no com-
promisso de manutenção de uma moeda
chave, ou seja, no dólar. Outros traços
importantes desse SMI contemporâneo
são: o regime de câmbio flutuante e a livre
mobilidade de capitais.
A posição do dólar como principal moeda
internacional nas transações econômicas
aconteceu basicamente pelo grande poder
financeiro dos Estados Unidos em âmbito
mundial. A atual hegemonia financeira dos
EUA foi reforçada inicialmente pelo choque
das taxas de juros de 1979, que consoli-
dou a política norte-americana conhecida
como “dólar forte”, bem como a desre-
gulamentação/liberalização financeira
implementada no final dos anos de 1970,
com o novo regime de “não-sistema”. Logo,
todo o antigo questionamento em relação à
confiabilidade do dólar observado durante
a falência de Bretton Woods se tornou
subjacente às novas exigências mundiais
nesse novo período, e o dólar passou a
cumprir o papel de moeda financeira de
origem pública, sendo, assim, o denomi-
nador comum da riqueza financeira global
(TAVARES, 1997, p 59 - 96).
Essa atual situação da moeda norte-a-
mericana é um tanto quanto singular e
diferente da antiga posição que esta ocu-
pava durante o sistema de Bretton Woods.
Atualmente, o dólar americano deixou de
estar vinculado diretamente ao ouro. Logo,
o Estado norte-americano possui uma
maior autonomia de política como emis-
sor da moeda-chave, sofrendo esta, apenas
com as variações das taxas de juros básicas
que influenciam decisivamente a direção
dos fluxos internacionais de capital. Ou seja,
ao se liberar as “amarras” da conversibili-
dade direta da moeda ao ouro, os Estados
Unidos passaram a cometer déficits comer-
ciais sucessivos, gerando uma incerteza
constante em relação às taxas de juros e de
câmbio norte-americanas, que, dada a sua
posição central no sistema financeiro inter-
nacional, acaba projetando-se aos demais
países centrais e periféricos. Dessa conjun-
tura, resulta-se uma cadeia sistêmica de
incertezas e crises internacionais cíclicas
(GONÇALVES, 1997, p. 298-312).
Além das inseguranças geradas em rela-
ção à moeda-chave internacional (dólar),
encontramos no SMI contemporâneo uma
das principais características que compõe
a conjuntura econômica internacional: o
regime de câmbio flutuante. Essa tendên-
cia de um aumento na flexibilidade cambial
constitui uma consequência inevitável da
crescente mobilidade de capitais. Nesse
contexto de câmbio flutuante e regime
de livre mobilidade de capitais, não há
uma estabilidade das taxas de câmbio
em nível mundial, com a consequente eli-
minação dos desequilíbrios das balanças
de pagamentos (como propagavam os
defensores desse “não-sistema” financeiro
após Bretton Woods). Muito pelo contrá-
rio, esse novo contexto implicou em uma
extrema volatilidade das taxas de câmbio
e de juros (BELLUZZO, 1995, p. 151-193).
42
Toda essa imprevisão na determinação das
taxas cambiais acaba por gerar especula-
ções nos mercados de câmbio e nos fluxos
de capitais em curto prazo, o que acentua
ainda mais a fragilidade e a instabilidade do
sistema financeiro contemporâneo (BELLU-
ZZO, 1995, p. 151-193).
A globalização financeira que se consoli-
dou ao longo dos anos de 1980, com os
respectivos processos de liberalização e/
ou desregulamentação financeira, aumen-
tou a importância dos mercados de capitais
vis-à-vis o mercado de crédito bancário,
aprofundando, assim, a nova lógica de
investimento dos agentes econômicos, que
passaram cada vez mais a adquirir um cará-
ter especulativo. A partir desse raciocínio, os
investimentos passaram a não ser mais reali-
zados mediante a capacidade de se produzir
em um fluxo de rendimento, capitalizados à
taxa de juros correntes, mas sim em função
do ganho de capital a partir da expectativa
de variação do valor de mercado do ativo de
curto prazo. Assim, os agentes econômicos
(empresas, famílias e até mesmo os bancos)
nas suas decisões de alocação de riquezas
passaram a ser guiados predominantemente
pela lógica especulativa, procurando “prever
a psicologia do mercado”. Desse modo, o sis-
tema financeiro contemporâneo tornou-se
débil e imprevisível (PRATES, 2008).
Os investimentos de portfólio (compras e
vendas de ações e títulos transfronteiriços)
também caracterizam o atual SMI globa-
lizado, estando também intrinsecamente
ligados à lógica especulativa dos merca-
dos cambiais e a deterioração do controle
de capitais: “[...] (os investimentos de por-
tfólio) procuram otimizar globalmente seus
rendimentos financeiros líquidos mediante
operações que visam antecipar as variações
dos preços dos ativos nos diferentes mer-
cados” (CINTRA, 1997).
No entanto, esses luxos de portfólio men-
cionados por Cintra (1997) não dizem
respeito somente à atuação de agentes
institucionais, mas os Bancos e as empre-
sas transnacionais são agentes igualmente
protagonistas nesse mercado internacional
de capitais. As instituições bancárias tive-
ram um papel fundamental na expansão
desse tipo de mercado, sendo as principais
responsáveis pela transferência de recursos
entre agentes deficitários e superavitários.
No mercado internacional de capitais, os
bancos atuam diretamente comprando e
vendendo securities, administrando cartei-
ras de grandes investidores internacionais e
estruturando operações financeiras (GUTT-
MANN, 1996, p. 59-96).
De uma forma geral, o atual sistema finan-
ceiro internacional, apesar de permitir
maior margem de manobra para a adoção
de políticas econômicas menos restritas e
proporcionar uma maior rapidez dos luxos
de capitais (o que favorece a ampliação do
comércio internacional), bem como todos
os benefícios também gerados pela glo-
balização, ele ainda está inserido em uma
lógica de constante deterioração, aumen-
tando, assim, as assimetrias dos mercados
financeiros contemporâneos. Toda a lógica
especulativa comentada anteriormente
tem implicado na formação de bolhas espe-
culativas e posteriores colapsos de preços.
Gera-se, desse modo, uma extrema vola-
tilidade dos luxos recentes de capitais, o
que afeta de modo significativo todos os
países em desenvolvimento (KRUGMAN,
2005, p. 423-425).
Fonte: Ferreira (2012).
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Economia internacional
Paul R. Krugman e Maurice Obstfeld
Editora: Pearson
Sinopse: o livro objetiva explicar a economia mundial a partir dos
avanços e importantes contribuições da economia internacional. Para
isso, o livro aproxima a teoria da prática sem omitir as percepções
teóricas e históricas.
Sistema Financeiro Internacional: uma perspectiva histórica-
econômica
Antonio Portugal Duarte
Editora: Actual
Sinopse: o livro faz uma análise do sistema fi nanceiro internacional desde
o padrão ouro até a criação da moeda única com a criação da União
Europeia.
Command ing Heights - The battle for the world economyAno: 2012
Sinopse: o documentário mostra de forma muito interessante a batalha entre os ideais de Keynes,
Hayek e Marx e como os políticos do século XX e XXI incorporaram suas doutrinas. O objetivo
central é elucidar com a globalização, o comércio mundial, o desenvolvimento econômico,
os valores e as teorias co-evoluíram nas últimas décadas para determinar o estado atual da
economia global. Não deixe de conferir.
REFERÊNCIAS
KRUGMAN, P. R., OBSTFELD, M., Economia Internacional: teoria e política. 5. ed. São
Paulo: Makron Books, 2005.
PAULANI, L. M.; BRAGA. M. B. A nova contabilidade social: uma introdução à ma-
croeconomia. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
FERREIRA, V. C. Sistema financeiro internacional: fracassos e necessidades de rees-
truturação macroeconômica. Revista Aurora, Marília, v. 5, n. 1, p. 157-168, jan./jun.,
2012
MONTORO FILHO, A. Teoria monetária. In: VASCONCELOS, M. A.; PINHO, D. B. (Orgs).
Manual de Economia. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 1998.
WESSELS, W. Economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
GABARITO
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Professora Dra. Luciane Cristina Carvalho
COMÉRCIO MUNDIAL:
UMA VISÃO GERAL
Objetivos de Aprendizagem
■ Compreender o modelo gravitacional e o papel fundamental do
comércio internacional.
■ Entender melhor sobre as organizações internacionais e os acordos
que existem, bem como a sua importância.
■ Saber o conceito de globalização e suas diferenças do passado para
os dias de hoje.
■ Apreender o funcionamento das transações internacionais e o que
geralmente é negociado no mercado mundial e suas transformações.
■ Visualizar a evolução do Brasil no mercado internacional, bem como
saber quais são os seus principais parceiros comerciais.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Quem negocia com quem?
■ As fronteiras e os acordos comerciais
■ Globalização: Passado e Presente
■ O padrão mutante do comércio
■ O Brasil e o comércio internacional
Introdução
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INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo à Unidade II de estudo!
Estamos avançando nosso estudo sobre a Economia Internacional. Essa é
uma área do conhecimento que é atual e sempre está em pauta de discussões e em
modificação, além do comércio internacional ser muito importante para os países.
A existência do comércio internacional propicia às nações o aproveitamento
de suas aptidões, empregando os recursos na produção daqueles bens com custos
relativamente mais baixos e as trocas por bens com custos relativamente maio-
res. Dessa forma, os países produzem e trocam entre si uma maior variedade e
quantidade de bens que seriam menores de custos elevados, caso cada país ten-
tasse ser autossuficiente.
Nesta unidade, iremos analisar os motivos que levam os países a comer-
cializarem uns com os outros, verificar os benefícios e os custos do comércio
internacional, além de verificar algumas políticas que incentivam ou restringem
o comércio entre os países.
Estudaremos também como ocorrem as transações comerciais e a estru-
tura do comércio internacional, que está em constante modificação, pois, como
enfatizam alguns estudiosos, as últimas décadas foram marcadas pelo aumento
da produção mundial e das trocas internacionais e também por alterações nos
tipos de bens que compõem o comércio entre os países.
Além disso, vamos destacar proximidade territorial como forma de ampliar
o comércio por meio de algum “acordo de comércio”. Como acontece com o
Acordo de Livre Comércio Norte-Americano – NAFTA – de que os Estados
Unidos da América, Canadá e México fazem parte, acordo este que garante que
a maioria dos bens comercializados entre esses três países não esteja sujeita a
tarifas ou outras barreiras ao comércio internacional, além de outros espalha-
dos pelo mundo.
Desejo um ótimo estudo a você!
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Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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QUEM NEGOCIA COM QUEM?
Conforme Appleyard, Field e Cobb (2010), o mundo encontra-se menor a cada
dia, e isso não está relacionado somente a melhorias no transporte e comuni-
cações, mas também ao aumento do comércio internacional para a compra de
bens, serviços e de ativos financeiros. Ainda nas ideias desses autores, esse fenô-
meno não é recente – desde os tempos antigos, o comércio era importante para
os egípcios, gregos, romanos e fenícios e, mais tarde, para a Espanha, Portugal,
Holanda e Inglaterra. De maneira geral, todas as grandes nações que eram influen-
tes no passado também eram grandes comerciantes.
A importância do comércio e das finanças internacionais para a saúde
econômica e para o padrão de vida dos países está cada vez mais visível. É
possível perceber esses sinais ao nosso redor, pois sempre que compramos
algum produto, é possível perceber que foram feitos em diversos lugares do
mundo, isto é, alguns componentes que são utilizados na fabricação de outro
produto podem ter sido fabricados em outro país e montados em um terceiro
país, por exemplo.
Quem Negocia com Quem?
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Vale destacar que, na prática, alguns fatores determinam quem negocia com
quem. Um seria o tamanho da economia, conhecido como o “modelo de gra-
vidade”, ou “modelo gravitacional”, ou seja, há uma forte relação empírica entre
o tamanho da economia de um determinado país e o volume da sua corrente
de comércio (soma das exportações e importações) (KRUGMAN; OBSTFELD;
MELITZ, 2015). Economistas, ao estudarem o comércio internacional, descobri-
ram uma equação que prevê (com certa precisão) o volume do comércio entre
dois países, conforme segue:
Tij = A x Yi x Yj
Dij
Em que A é um termo constante; Tij é o valor do comércio entre o país i e o país
j; Yi é o PIB do país i; Yj é o PIB do país j; Dij é a distância entre os dois países.
Dito de outro modo, o valor do comércio entre esses dois países será propor-
cional, ceteris paribus (do latim, significa “tudo o mais mantido constante”), ao
produto do PIB dos dois países e diminui com a distância entre eles.
A apresentada é conhecida como “modelo de gravidade” do comércio inter-
nacional. Conforme Krugman, Obstfeld e Melitz (2015, p. 10), a razão para esse
nome é uma analogia à Lei de Newton da gravidade: “assim como a atração gra-
vitacional entre dois objetos é proporcional ao produto das suas massas e diminui
com a distância, o comércio entre dois países é, sendo as outras variáveis iguais,
proporcional ao produto de seu PIB e diminui com a distância”.
De maneira geral, os economistas realizam uma estimação do modelo gra-
vitacional da seguinte forma:
Tij = A x Yi
a x Yj
b
Dij
Essa equação nos diz que os três parâmetros que determinam o volume do comér-
cio entre dois países são o tamanho do PIB desses dois países e a distância entre
eles, sem assumir especificamente que o comércio seja proporcional aos produ-
tos desses dois PIBs e inversamente proporcional à distância. “a, b” e “c” foram
escolhidas para se encaixar o mais próximo dos dados reais. Se os valores de
“a, b” e “c” forem todos iguais a um, a segunda equação ficaria igual a primeira.
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Reprodução proibida. A
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A modelagem gravitacional funciona porqueas grandes economias tendem
a importar mais devido ao seu nível de renda ser maior, além de atrair gastos
de outros países, pois produzem uma grande quantidade e variedade de produ-
tos. Então, como as demais variáveis do comércio são iguais (ceteris paribus), o
comércio entre quaisquer duas economias será maior quanto maior forem essas
economias.
Vale destacar, conforme bem colocado por Krugman, Obstfeld e Melitz
(2015), que um dos principais usos da modelagem gravitacional é que ela nos
ajuda a identificar anomalias no comércio – normalmente, quando o comércio
entre dois países é muito diferente do que o modelo estimou, os economistas
procuram uma explicação. Geralmente, as respostas estão na afinidade cultural,
custos de transporte e a geografia.
O comércio internacional tem um papel fundamental: ele torna possível para
cada país produzir uma variedade restrita de mercadorias e tirar proveito de eco-
nomias de escala, sem realizar um sacrifício de variedade no consumo. Então,
economias de escala geram um comércio internacional mutuamente benéfico,
pois cada país irá se especializar em produzir produtos em que sejam mais efi-
cientes na sua produção do que se tentassem produzir tudo sozinhos. Portanto,
as economias especializadas irão negociar entre si para que sejam capazes de con-
sumir toda a gama de mercadorias (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
AS FRONTEIRAS E OS ACORDOS COMERCIAIS
Torna-se natural pensar que países que são vizinhos comercializam mais quando
comparados a países que estão longe. Testes empíricos dos modelos gravitacio-
nais evidenciaram um forte efeito negativo da distância no comércio mundial.
Conforme Krugman, Obstfeld e Melitz (2015), estimativas encontraram que um
aumento na distância de 1% entre dois países está associado com uma diminuição
de 0,7% a 1% no comércio entre os países em análise. Essa queda pode refletir, em
As Fronteiras e os acordos comerciais
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parte, no aumento dos custos de transporte de mercadorias e serviços. Diversos
economistas também acreditam que fatores menos tangíveis também tenham um
papel crucial; são eles: o comércio tende a aumentar quando os países mantêm
um contato pessoal e esse contato tende a cair quando as distâncias aumentam.
Além da proximidade territorial, os países próximos, geralmente, são parte
de algum “acordo de comércio”. Por exemplo, temos o acordo comercial denomi-
nado Acordo de Livre Comércio Norte-Americano – NAFTA – de que os Estados
Unidos da América, Canadá e México fazem parte, acordo este que garante que a
maioria dos bens comercializados entre esses três países não esteja sujeita a tari-
fas ou outras barreiras ao comércio internacional. Outros exemplos de “acordos”
são o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e a União Europeia.
Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai assinaram, em 1991, o Tratado de
Assunção – com vistas a criar o Mercado Comum do Sul – e seu principal obje-
tivo é a integração dos Estados Partes por meio da livre circulação de bens,
serviços e fatores produtivos, do estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum
(TEC), da adoção de uma política comercial comum, da coordenação de polí-
ticas macroeconômicas e setoriais, e da harmonização de legislações nas áreas
pertinentes, ou seja, tem por objetivo consolidar a integração política, econômica
e social entre os países que o integram, fortalecer os vínculos entre os cidadãos
do bloco e contribuir para melhorar sua qualidade de vida. É importante dizer
que todos os países da América do Sul participam do MERCOSUL, seja como
Estado Parte, seja como Estado Associado.
A União Europeia é uma união econômica e política de características úni-
cas, com 28 países europeus (membros) que, em conjunto, abarcam grande parte
do continente europeu. O que começou por ser uma união econômica evoluiu
para uma organização com uma vasta gama de domínios de intervenção, desde
o clima, o ambiente e a saúde até às relações externas e a segurança, passando
pela justiça e a migração. Em 1993, a Comunidade Econômica Europeia (CEE)
passou a chamar-se União Europeia (UE).
Considerando os modelos de gravidade como uma maneira de avaliar o
impacto dos acordos comerciais sobre o comércio internacional real: caso o acordo
comercial seja eficaz, o mesmo deve estimular significativamente o comércio entre
seus parceiros do que iriam prever por seus PIBs e as distâncias um do outro.
COMÉRCIO MUNDIAL: UMA VISÃO GERAL
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IIU N I D A D E54
Conforme observam Krugman,
Obstfeld e Melitz (2015), apesar
de os acordos comerciais, muitas
vezes, acabarem com as barreiras
formais ao comércio entre os países,
eles raramente tornam irrelevan-
tes as fronteiras nacionais. Mesmo
quando grande parte dos bens e
serviços transacionados através de
uma fronteira nacional não paga
tarifas aduaneiras e enfrenta pou-
cas restrições legais, existe muito
mais comércio entre regiões (com
características semelhantes) dentro
do mesmo país quando compara-
das com diferentes países.
O Ato de Smoot-Hawley tratou-se de uma lei de tarifa aduaneira (irresponsável),
a qual foi aprovada pelos Estados Unidos da América em 1930. Essa lei previa
um grande aumento das taxas de tarifas e o comércio internacional desse país
diminuiu bastante. Alguns estudiosos da área dizem que esse ato contribuiu para
aprofundar a Grande Depressão de 1929.
Alguns anos depois da aprovação do referido ato, concluiu-se que as tarifas
precisariam ser reduzidas e isso acabou causando sérios problemas políticos, pois
qualquer redução tarifária seria oposta pelos membros do Congresso, cujos dis-
tritos possuíam empresas produzindo mercadorias competitivas, enquanto que
os benefícios seriam difundidos fazendo com que poucos congressistas pudes-
sem ser mobilizados no outro lado.
Portanto, para que a tarifa fosse reduzida, ela precisaria estar acoplada a
alguns benefícios concretos para os exportadores. Inicialmente, a solução para
esse problema foram as negociações bilaterais da tarifa, ou seja, os Estados Unidos
da América iriam chamar um país que fosse grande exportador de mercadoria e
ofereceriam tarifas menores sobre aquele produto se o país reduzisse suas tari-
fas para alguma exportação norte-americana.
As Fronteiras e os acordos comerciais
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Esse acordo foi atrativo para os exportadores dos Estados Unidos e contri-
buiu para reduzir o problema político. Para o país estrangeiro (que fazia parte do
acordo), tal ato também foi atrativo, beneficiando os exportadores daquele país
que tiveram as tarifas reduzidas. Essas negociações bilaterais contribuíram para
reduzir a média tributável nas importações estadunidenses de 59%, em 1932,
para 25% logo após a Segunda Guerra Mundial. Apesar disso, os benefícios das
negociações bilaterais poderiam “transbordar” para outros países, ou seja, um
terceiro país poderia ser beneficiado pelo acordo.
Por exemplo, uma redução da tarifa dos Estados Unidos sobre o café brasi-
leiro, derivado de um acordo bilateral com o Brasil, a Colômbia ganharia com
um maior preço internacional do café. Logo, o próximo passo na liberalização do
comércio mundial foi prosseguir para negociações multilaterais, ou seja, envol-
vendo vários países, (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
As negociações multilaterais começaram logo após a Segunda Guerra Mundial.
Os países vitoriosos da guerra acreditavamque as negociações iriam acontecer,
sob condições favoráveis, mediante um órgão chamado Organização de Comércio
Internacional (OCI), que seria paralelo ao Fundo Monetário Internacional (FMI)
e ao Banco Mundial. Entretanto, um grupo composto por 23 países não quis
esperar que a OCI estivesse completamente montada, e iniciou negociações comer-
ciais pautadas sob um conjunto de regras (provisórias) denominado de Acordo
Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio (GATT). Como se viu, a OCI não
se estabeleceu devido às oposições políticas, especialmente dos Estados Unidos
da América. Então, o GATT, que seria um acordo provisório, acabou por gerir
o comércio mundial por quase meio século (48 anos).
O GATT era um acordo (e não uma organização), e os países signatários
eram conhecidos como “parte contratante”, e não membros; ele ainda contava com
uma secretaria permanente em Genebra (Suiça). No ano de 1995, a Organização
Mundial do Comércio (OMC) foi estabelecida, sendo uma organização formal
que tinha sido pensada havia uns cinquenta anos. Vale ressaltar que as regras do
GATT ainda permanecem vigentes e a lógica do sistema permanece a mesma.
A GATT-OMC é uma espécie de um dispositivo criado para empurrar
um objeto pesado, que seria a economia mundial, para o livre comércio. Para
se chegar ao tão sonhado livre comércio, é preciso tanto de “alavancas” (para
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empurrar o objeto na direção) quanto “roquetes” (que iriam impedir o retro-
cesso). (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015). O principal roquete seria a
vinculação, ou seja, quando alguma tarifa fosse vinculada, o país que a impôs
concorda em não aumentar a taxa no futuro. Nos dias atuais, a maioria das tari-
fas dos países desenvolvidos encontram-se vinculadas e, pelo menos, 75% das
taxas dos países em desenvolvimento também estão vinculadas. Embora exista
o comprometimento em não se aumentar as taxas no futuro, existe alguma mar-
gem de manobra nas tarifas vinculadas, ou seja, um país pode aumentar alguma
tarifa se ele conseguir o consentimento dos outros países, o que, em contrapartida,
significa fornecer alguma compensação na redução de outras tarifas. Na prática,
essa vinculação tem sido efetiva, com pouco retrocesso nas tarifas ao longo de
50 anos. O GATT-OMC também tenta impedir intervenções não tarifárias no
comércio; os subsídios à exportação não são permitidos, com uma exceção: na
criação do GATT, os Estados Unidos da América insistiram em uma brecha para
as exportações agrícolas, que tem sido muito explorada pela União Europeia.
Tomando o caso dos Estados Unidos, a maioria do custo atual da proteção
desse país advém de quotas de importação. O atual sistema GATT-OMC “permite”
quotas de importações, embora exista um esforço contínuo para remover quo-
tas ou transformá-las em tarifas. Novas quotas de importações normalmente são
proibidas, exceto quando são medidas temporárias com o objetivo de lidar com
alguma “ruptura de mercado”, termo este indefinido e interpretado como surtos
de importações que ameaçam expulsar algum setor nacional de forma repentina.
As rodadas de negociações são a alavanca, na qual um grupo de países se
junta para negociar um conjunto de reduções de tarifas e outras medidas para
liberar o comércio. Ao todo, tivemos nove rodadas de negociações, sendo que a
última, conhecida como Rodada de Doha, ainda está em andamento – a última
rodada concluída foi a Rodada Uruguai (terminou em 1994), que estabeleceu a
OMC, e a mesma começou a operar em 1995. A nona rodada parece ter fracas-
sado em 2014, por não se ter chegado a um acordo.
As cinco primeiras rodadas de negociações sob o GATT (1947-1961) foram
sobre negociações bilaterais “paralelas”, em que cada país negociava em pares com
uma quantidade de países de uma só vez. Com isso, tornou-se possível fazer maio-
res acordos, devido à recuperação econômica mundial da guerra, e ajudou a reduzir
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substancialmente as tarifas aduaneiras. As cinco primeiras rodadas ficaram conhe-
cidas como: Rodada de Genebra (1947); Rodada Annecy (1949); Rodada Torquay
(1950-1951); Rodada de Genebra (1955-1956); Rodada Dillon (1960-1961).
A Rodada de Kennedy (sexta rodada: 1964-1967) envolveu uma redução
geral de 50% nas tarifas dos principais países industriais, exceto para indús-
trias específicas, cujas tarifas permaneceram as mesmas. A preocupação estava
em quais indústrias isentar em vez do tamanho do corte para as indústrias que
não receberiam essa redução. De maneira geral, essa rodada reduziu as tarifas
médias em torno de 35%.
A sétima rodada, Rodada de Tóquio (1973-1979), trouxe uma redução das
tarifas por uma fórmula mais complexa que a sexta rodada. Foram estabeleci-
dos também esforços com o objetivo de controlar a proliferação de barreiras
não tarifárias, como restrições voluntárias das exportações e acordos ordena-
dos pelo mercado.
De 1986 até 1994, a rodada vigente foi a Rodada Uruguai (oitava rodada).
Seus resultados foram agrupados (e resumidos) em liberalização do comércio e
reformas administrativas. Ela também cortou tarifas, a tarifa média para países
desenvolvidos foi reduzida em quase 40% (embora já estivessem baixas, foi de 6,3%
para 3,9%, o suficiente para produzir um pequeno aumento no comércio interna-
cional). Em relação aos produtos agrícolas, o acordo exigiu que os exportadores
agrícolas reduzissem o valor dos subsídios em 36% e o volume de exportações
subsidiadas em 21% no período de seis anos. Países que protegem seus agricul-
tores com quotas de importações, como o Japão, por exemplo, foram solicitados
a trocar as quotas por tarifas que não poderiam ser aumentadas no futuro.
Os produtos têxteis e vestuários tiveram seu Acordo Multifibras distorcido e
iriam acabar com ele em dez anos, eliminando todas as restrições quantitativas
nesse tipo de comércio, ou seja, esse tipo de comércio foi amplamente liberali-
zado. Essa rodada também criou um novo conjunto de regras que dizem respeito
às aquisições governamentais. Essas aquisições forneceram mais mercados pro-
tegidos para várias mercadorias. No campo das reformas administrativas, cabe
destacar que foi criada a OMC que, diferentemente do GATT (que era um acordo
provisório), é uma organização internacional estabelecida. Incorporou-se uma
versão atualizada do GATT às regras da OMC. Vale destacar que o GATT era
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aplicado somente para o comércio de mercadorias; já o comércio dos servi-
ços teve regras incluídas pela OMC. Na prática, essas regras ainda não tiveram
impacto significativo no comércio de serviços e seu principal objetivo é de servir
como base para negociações em rodadas futuras. O OMC também tem tratado
sobre propriedade intelectual, que é protegida por patentes e direitos autorais.
Foi criado também o processo de “resolução de disputas”, ou seja, quando ocorre
algum problema em que um país acusa o outro de violar as regras de comércio.
Por exemplo, suponha que o Brasil acuse a Argentina de limitar de forma desleal
as importações de trigo e a Argentina negue a acusação. O que iria acontecer?
Antes da criação da OMC, existiam tribunais internacionais nos quais o
Brasil poderia apresentar seu caso. Feito isso, o processo poderia se arrastar por
anos. Com a publicação da decisão, não existia garantia de fazê-la valer. A OMC
possui um procedimento mais efetivo. Painéis de expertssão selecionados para
ouvir os casos e sua finalização não poderá levar mais que 15 meses. Com a con-
clusão do “processo” e, caso constatado que país acusado violou as regras e este
se recusar a mudar sua política, a OMC não tem como obrigar que o país cum-
pra, porém ela pode conceder ao país que prestou queixa o direito de retaliar.
Continuando nosso exemplo do Brasil e Argentina, o governo brasileiro pode
receber o direito de impor restrições nas exportações argentinas sem que isso
seja considerado violação das regras da OMC.
A nona rodada (Rodada de Doha) de negociações, que ainda encontra-se aberta,
teve início em 2001. Essa rodada também (como as anteriores) foi marcada por
negociações difíceis. A partir do verão de 2010, parecia que essa rodada iria ter-
minar sem nenhum acordo em vista. Vale destacar que, embora não se tenha
chegado em nenhum acordo, ela não desfaz o progresso alcançado nas negocia-
ções anteriores. O comércio mundial está muito mais livre do que em qualquer
outro ponto da história moderna (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
O aparente fracasso rodada se deve muito ao sucesso das negociações ante-
riores, pois como reduziram as barreiras comerciais, aquelas remanescentes são
baixas, de modo que os ganhos com novas liberalizações são modestos. Ocorreram
algumas tentativas de se reavivar as negociações, porém elas ruíram por causa
das discordâncias sobre o comércio.
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Os acordos do comércio internacional descritos até agora envolvem uma
redução “não discriminatória” nas taxas de tarifa. Todavia, existem alguns casos
nos quais as nações estabelecem acordos de comércio preferencial, sendo as
tarifas que elas aplicam entre seus produtos menores que as taxas dos mes-
mos produtos que vêm de outros países. Em geral, dois ou mais países podem
concordar em estabelecer o livre comércio de duas formas. A primeira seria
estabelecer uma zona de livre comércio na qual as mercadorias podem ser
transacionadas sem tarifas aduaneiras, mas eles definem tarifas aduaneiras
contra o resto do mundo de forma independente. Ou ainda podem estabele-
cer uma união aduaneira na qual eles devem concordar com as taxas da tarifa.
Por exemplo, o Acordo de Livre Comércio da América do Norte, que estabe-
lece livre comércio entre Canadá, México e Estados Unidos da América, criou
uma zona de livre comércio. A União Europeia já é uma união aduaneira com-
pleta, ou seja, todos os países concordam em cobrar a mesma taxa de tarifa
em cada mercadoria importada; existem ainda diversos acordos no mundo,
outro exemplo é o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), que será discu-
tido mais adiante.
Poucos países adotaram o livre comércio por completo: Hong Kong, que
legalmente pertence à China, tem uma política econômica separada e deve ser
uma das únicas economias modernas sem tarifas aduaneiras ou quotas de impor-
tações. Desde Adam Smith, conforme bem colocado por Krugman, Obstfeld e
Melitz (2015) alguns economistas vêm defendendo o livre comércio. As razões
para essa defesa não são simples como a própria ideia em si. Em nível teórico,
os modelos sugerem que o livre comércio irá evitar perdas de eficiência asso-
ciadas à proteção. Possivelmente, economistas acreditam que o livre comércio
produza ganhos adicionais além de eliminar as distorções de produção e con-
sumo e alguns ainda acreditam que ele é a melhor política que o governo deve
seguir. Uma tarifa aduaneira irá fazer com que ocorra uma perda líquida para a
economia, pois causa uma distorção nos incentivos econômicos tanto para pro-
dutores quanto para consumidores. Contrariamente, uma mudança para o livre
comércio iria eliminar essas distorções e, consequentemente, aumentaria o bem-
-estar nacional. Atualmente, taxas de tarifa aduaneira são, em geral, baixas, e as
quotas de importações são raras.
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IIU N I D A D E60
Tabela 1 - Benefícios de uma mudança para o livre comércio ao redor do mundo (porcentagem do PIB)
Estados Unidos da América 0,57
União Europeia 0,61
Japão 0,85
Países em Desenvolvimento 1,4
Mundo 0,93
Fonte: William Cline, Trade Policy and Global Poverty. Washington, D.C.: Institute for International
Economics (2004, p. 180 apud KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
Portanto, estimativas dos custos totais das distorções que decorreram das tari-
fas aduaneiras e das quotas de importações tendem a ser modestas em tamanho.
A Tabela 1 apresenta uma estimativa dos ganhos de uma mudança para o livre
comércio ao redor do globo, medido como uma porcentagem do PIB. A partir
dela, é possível perceber que os ganhos são menores para países desenvolvidos
quando comparados com países em desenvolvimento.
Ao dar incentivos para empreendedores buscarem novas formas de expor-
tar ou competir com as importações, o livre comércio é capaz de oferecer mais
oportunidades para aprender e inovar do que são fornecidos por um sistema
comercial em que o governo dita os padrões de exportações e importações. Há
uma tendência no mercado internacional, em que as empresas mais eficientes
(mais produtivas) de um país envolvem-se com exportações, enquanto que as
menos produtivas ficam com o mercado doméstico. A partir dessa constata-
ção, uma mudança para o livre comércio faz, de maneira geral, que a economia
torne-se mais eficiente ao mudar a mistura industrial em direção às empre-
sas mais eficientes.
Argumentos contra o livre comércio também merecem seu espaço. Diversos
economistas argumentam que desvios do livre comércio diminuem o bem-es-
tar, entretanto, há alguns fundamentos teóricos que acreditam que políticas de
comércio podem, em alguns casos, aumentar o bem-estar nacional (KRUGMAN;
OBSTFELD; MELITZ, 2015). Um país grande é capaz de afetar os preços dos
exportadores estrangeiros, a tarifa aduaneira irá diminuir o preço das impor-
tações e, portanto, gerará benefícios em termos de comércio. Esse benefício
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precisa ser definido contra os custos da tarifa aduaneira, que surgem porque
essa tarifa distorceu os incentivos de produção e consumo – pode ocorrer, em
alguns casos, que os benefícios dos termos de comércio de uma tarifa adua-
neira prevaleçam sobre seus custos. Outro argumento que merece destaque é
o de que o excedente do produtor não mede de forma correta os custos e bene-
fícios, isso porque a mão de obra utilizada em algum setor estaria, de algum
modo, sendo desemprego ou subempregada; temos também diversas falhas
de mercado, tais como: a possibilidade de transbordamentos tecnológicos,
um possível problema que impeça os recursos de serem transferidos rapida-
mente para os setores que possuem retornos elevados. Outros motivos, bem
destacados por Passos e Nogami (2005), são: argumento da indústria nas-
cente (ela pode não estar em condições de sobrevivência com a concorrência
externa); segurança nacional (proteção das indústrias estratégicas); proteção
ao emprego (promover a substituição das importações por bens fabricados no
próprio país e, desta forma, estimula-se a criação de novas indústrias e cria-
-se novos empregos); combate aos déficits comerciais (procurar combater os
déficits entre importações e exportações).
Ainda de acordo com Krugman, Obstfeld e Melitz (2015), há duas linhas em
defesa do livre comércio (ou seja, menores barreirascomerciais, no sentido de
tentar “diminuir” ou “acabar” com fronteiras comerciais), a primeira diz que as
falhas de mercado interno deveriam ser corrigidas por políticas nacionais volta-
das diretamente para o problema; e a segunda defende que os economistas não
podem diagnosticar falhas de mercado da maneira mais eficiente possível com
o objetivo de prescrever alguma política. Destarte, as falhas de mercado interno
clamam por mudanças de política nacional, e não de políticas de comércio inter-
nacional, que pode ser feito pela análise de custo-benefício modificado levando
em conta quaisquer benefícios sociais marginais não medidos. Portanto, é prefe-
rível lidar com as falhas de mercado da forma mais direta possível, pois respostas
de políticas indiretas nos levam a distorções de incentivos não intencionais em
algum outro setor da economia. Então, as políticas de comércio justificadas por
falhas de mercado interno nunca são as melhores respostas – elas são as “segun-
das melhores”.
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IIU N I D A D E62
GLOBALIZAÇÃO: PASSADO E PRESENTE
A globalização nada mais é que um processo econômico e social o qual estabe-
lece uma integração (ligação) entre os países e as pessoas do mundo todo. Desse
modo, os indivíduos, os governos e as empresas trocam ideias, realizam transa-
ções financeiras e comerciais, além de espalhar os aspectos culturais pelo mundo.
Alguns historiadores afirmam que o processo de globalização teve início nos
séculos XV e XVI com as Grandes Navegações. Nesse sentido, o homem europeu
entrou em contato com os povos de outros continentes, e acabou estabelecendo
relações comerciais e culturais. Entretanto, a globalização foi efetivada no final
do século XX, logo após a queda da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS). O neoliberalismo, que ganhou força nos anos de 1970, acabou por impul-
sionar ainda mais o processo de globalização econômica.
Conforme Passos e Nogami (2005), o comércio doméstico de um país influencia
de forma significativa na geração de recursos aos governos, por meio dos impostos
e taxas. De maneira análoga, isso também se aplica ao comércio internacional, ape-
nas se altera o fato gerador do imposto. Nas operações de comércio internacional,
é comum eliminarem-se os impostos domésticos do país, ou seja, não se exportam
impostos. Entretanto, cria-se o imposto alfandegário, o que significa que, para deter-
minada mercadoria entrar no país, ela será taxada de acordo com a política econômica
do país que está realizando a importação. Governos, por meio de alguma política
alfandegária, poderão distorcer o livre comércio, interferindo no comércio mundial.
Para saber mais sobre a OMC, Banco Mundial, FMI, União Europeia e outras
organizações, acesse o site do Ministério das Relações Exteriores Brasileiro.
Nele, você encontrará o sistema eletrônico de barreiras comerciais, a agenda
de comércio internacional e, também, a agenda das organizações econômi-
cas internacionais. Segue o link:
<http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/diplomacia-economica-e-comercial>.
Fonte: a autora.
Globalização: Passado e Presente
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Dito isso, e com os mercados domésticos saturados, muitas empresas (conheci-
das como multinacionais) buscaram conquistar novos mercados consumidores.
A concorrência fez com que as empresas utilizassem cada vez mais recursos tec-
nológicos, com o objetivo de diminuir os custos e, consequentemente, barateando
os preços. Portanto, uma característica importante da globalização é a busca pelo
barateamento do processo produtivo. Muitas empresas produzem suas mercado-
rias em diversos países com o objetivo de diminuir os custos. Preferem países com
a mão de obra, a matéria-prima e a energia baratos. Uma camiseta, por exem-
plo, pode ser projetada nos Estados Unidos da América, produzida no Vietnã,
com matéria prima indiana, e comercializada em diversos países do mundo.
Com o objetivo de facilitar as relações econômicas, as instituições financei-
ras criaram um sistema rápido e eficiente que favorece a transferência de capital e
comercialização de ações em nível mundial. Os investimentos, pagamentos e trans-
ferências bancárias podem ser feitos em questões de segundos por meio da internet
ou do telefone celular. Alguns países, conhecidos como tigres asiáticos (Hong Kong,
Taiwan, Cingapura e Coreia do Sul), souberam aproveitar os benefícios da globali-
zação e investiram muito em tecnologia e educação nos anos de 1980 e 1990. Como
resultado, baratearam os custos de produção e agregaram tecnologias aos produtos.
COMÉRCIO MUNDIAL: UMA VISÃO GERAL
Reprodução proibida. A
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Muitos países se juntaram e formaram blocos econômicos, com o objetivo
principal de aumentarem as relações comerciais entre os membros. Nesse con-
texto, surgiram a União Europeia, o MERCOSUL, a COMECOM, o NAFTA,
o Pacto Andino e a Apec. Esses blocos se fortalecem e também relacionam-se
entre si. Dessa forma, cada país, ao fazer parte de um bloco econômico, conse-
gue mais força nas relações comerciais internacionais.
Portanto, a globalização extrapolou as relações comerciais e financeiras. Os
indivíduos estão cada vez mais descobrindo na internet uma maneira rápida e
eficiente de entrar em contato com pessoas de outros países, de conhecer aspectos
culturais e sociais de várias partes do planeta. Em conjunto com a TV, a internet
quebrou barreiras e vai, cada vez mais, ligando as pessoas e difundindo as ideias.
O comércio internacional encontra-se em constante modificação. A sua dire-
ção e composição é muito diferente hoje do que era na geração anterior e ainda
é mais diferente quando comparado há mais de um século.
Diversas vezes ouvimos que o “mundo ficou menor”. De fato, o transporte
moderno e as comunicações aboliram a distância, ou seja, a internet possibili-
tou uma comunicação instantânea e quase livre entre pessoas que se encontram
a milhares de quilômetros de distância, enquanto o transporte por aviões a jato
permite um rápido acesso físico para todas as partes do globo terrestre. Por outro
lado, os modelos gravitacionais continuam evidenciando uma forte relação nega-
tiva entre a distância e o comércio mundial.
Krugman, Obstfeld e Melitz (2015) trazem que a história também apresenta
que forças políticas compensam os efeitos tecnológicos. O mundo tornou-se
menor entre 1840 e 1914, mas ficou novamente maior em grande parte do século
XX. Pesquisadores da história econômica afirmam que uma economia global,
com fortes ligações econômicas entre países mesmo distantes, não é recente.
Ocorreram duas grandes ondas de globalização, sendo que a primeira se baseou
em ferrovias, navios a vapor e telégrafo e a segunda na tecnologia.
Ainda nas ideias de Krugman, Obstfeld e Melitz (2015), grande parte do
aumento do valor do comércio internacional reflete a “desintegração vertical” da
produção, que significa que antes do produto chegar aos consumidores, passa por
vários estágios de produção em diversos países. Por exemplo, diversos produtos
eletrônicos de consumo muitas vezes são montados em nações com baixos salários,
O padrão mutante do Comércio
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como a China, a partir de componentes produzidos em países que possuem uma
remuneração maior, como os Estados Unidos da América.Devido a essa grande
movimentação dos componentes, um produto de R$ 200 reais pode dar origem a
um valor de R$ 500 reais ou R$ 600 reais nos fluxos de comércio mundial.
O PADRÃO MUTANTE DO COMÉRCIO
Quando os países realizam comércio, o que eles geralmente comercializam? A
primeira resposta que pode ocorrer, de maneira geral, são produtos manufa-
turados, como automóveis, computadores e roupas. Entretanto, o comércio de
commodities – minérios, grãos e petróleo, por exemplo – são uma importante
parte das trocas internacionais. Tem-se também os serviços, que desempenham
um papel importante e espera-se que no futuro aumentem sua participação.
Conforme Krugman, Obstfeld e Melitz (2015), produtos manufaturados
compõem a maior parte do comércio internacional, pois possuem um alto valor
agregado. A grande maioria do valor dos bens de mineração – inclui diversos
produtos, desde o minério de cobre até o carvão, embora o maior componente
seja o petróleo – vem do petróleo e outros combustíveis. O comércio de pro-
dutos agrícolas – por exemplo, o trigo, o soja e algodão
– embora seja crucial na alimentação de diversos
países, representa uma pequena porção do valor
do comércio moderno, sendo um dos motivos o
baixo valor agregado.
As exportações de serviços incluem, em sua
maioria, as taxas de transporte tradicio-
nais cobradas por companhias aéreas
e empresas que realizam transporte
marítimo, taxas de seguros e gas-
tos de turistas. Novos tipos de
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comércio de serviços têm ganhado destaque nos últimos anos, promovidos pelas
telecomunicações e que têm atraído grande atenção da mídia. É possível desta-
car os centros de atendimento telefônico e de assistência remota no exterior, ou
seja, caso você telefone para algum número 0800 com o intuito de obter infor-
mações ou alguma ajuda técnica, a pessoa que atender pode muito bem estar
em um país distante – esses serviços ainda correspondem a uma pequena parte
do comércio mas isso pode se alterar nos próximos anos.
Krugman, Obstfeld e Melitz (2015) destacam que a dominância dos produ-
tos manufaturados no comércio internacional é relativamente nova. No passado,
produtos primários – bens agrícolas e minérios – tinham um papel mais relevante
no quadro geral de comércio. A Tabela 2 evidencia as trocas de bens manufatu-
rados nas exportações e importações do Reino Unido (formado pelos seguintes
países: Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte) e dos Estados Unidos
da América em 1910 e 2011.
Reino Unido Estados Unidos da América
Exportação Importação Exportação Importação
1910 75,4 24,5 47,5 40,7
2011 72,1 69,1 65,3 67,2
Tabela 2 - Manufaturados como porcentagem do comércio de mercadorias
Fonte: Dados de 1910 extraído de Kuznets (1966). Dados de 2011 extraído da Organização Mundial do
Comércio (OMC) (apud KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
A Tabela 2 nos mostra que, no início do período, o Reino Unido, embora expor-
tasse muitos bens manufaturados, importava bastante os produtos primários.
No final do período analisado, os produtos manufaturados dominam ambos os
lados do seu comércio. Em contrapartida, os Estados Unidos da América alte-
raram seu padrão de comércio de produtos primários em ambos os lados para
um padrão em que os manufaturados dominam.
Krugman, Obstfeld e Melitz (2015) também trazem a recente discussão da
ascensão do “terceiro mundo” nas exportações de manufaturados. Vale destacar
que os termos “países em desenvolvimento” e “terceiro mundo” são aplicados
aos países mais pobres, muitos dos quais eram colônias europeias. Na década de
70, a pauta de exportação desses países era praticamente de produtos primários.
O padrão mutante do Comércio
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No entanto, eles alteraram (e estão alterando) para a exportação de manufatu-
ras, pelo fato de possuírem maior valor agregado.
Atualmente, uma das questões mais discutidas na economia internacional é
se a tecnologia, que tornou possível realizar diversas funções econômicas a longa
distância, irá aumentar drasticamente nas novas formas de comércio. Diversos
serviços podem ser realizados em um lugar remoto. Quando algum serviço que
antes era feito em um país é deslocado para outro, essa alteração é conhecida
como “offshoring de serviço” (chamado também de terceirização de serviço).
Os produtores também precisam escolher se devem configurar uma subsidiária
estrangeira para fornecer os serviços (operando como uma empresa multina-
cional) ou terceirizar os serviços de outra companhia.
Alan Blinder, economista da Universidade de Princeton, publicou um artigo
em 2006 na revista Foreign Affairs, dizendo que, em um futuro próximo, a principal
distinção para o comércio global não será entre coisas que podem ser colocadas
ou não em uma caixa, mas, em vez disso, será entre os serviços que podem ser
entregues eletronicamente em longas distâncias, com pouca ou nenhuma queda
de qualidade, e aqueles que não podem.
A partir do artigo de Alan Blinder (2006), Krugman, Obstfeld e Melitz (2015)
listaram alguns exemplos, são eles: o trabalhador que reestoca as prateleiras na
sua mercearia precisa ir até o local, enquanto que o contador que realiza a conta-
bilidade do mercado pode estar em outro país, fazendo contato pela internet. A
enfermeira que mede seu pulso precisa estar próxima de você, embora o radiolo-
gista que irá analisar a radiografia pode receber essas imagens de forma eletrônica
em qualquer lugar que exista uma conexão de alta velocidade.
A terceirização de serviços, que pode ser realizada em países estrangeiros, ou
seja, utilizando mão de obra externa, pode se tornar tão grande que determinados
trabalhadores do país doméstico (interno), que hoje não possuem concorrência,
poderão tê-la no futuro, devido ao aumento da terceirização ocorrida em países
estrangeiros. A comercialização dos serviços pode acabar dominando as tran-
sações internacionais em detrimento das manufaturas, tornando-se o principal
componente do comércio internacional.
Se pararmos para pensar sobre o início da modelagem do comércio interna-
cional, por exemplo, o modelo de David Ricardo de 1819, e pensarmos em todas
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as mudanças ocorridas no comércio mundial, as “velhas” ideias ainda são rele-
vantes. Ainda que muita coisa tenha mudado no comércio mundial, os princípios
fundamentais ainda se aplicam. O comércio internacional não é classificado em
termos simples e, cerca de um século atrás, as exportações dos países estavam
ligadas, em grande parte, por seu clima e seus recursos naturais. Países tropicais
tinham em sua pauta de exportação café e algodão – que são produtos tropicais
– enquanto os países com terras férteis, como a Austrália e os Estados Unidos da
América, exportavam alimentos para os países europeus. As disputas em rela-
ção ao comércio eram simples de explicar: batalhas sobre o livre comércio versus
protecionismo ocorriam entre os proprietários ingleses, que queriam proteção
contra as importações de alimentos baratos, e os fabricantes ingleses, que expor-
tavam grande parte da sua produção (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
O comércio moderno é mais sutil, pois os recursos humanos e as máqui-
nas, além de outros capitais, são considerados mais importantes que os recursos
naturais, pois possuem maior valor agregado. As batalhas políticas em relação ao
comércio envolvem funcionários cujas habilidades acabamsendo menos valio-
sas pelas importações, por exemplo, trabalhadores da indústria de vestuário que
enfrentam concorrência dos vestuários importados (KRUGMAN; OBSTFELD;
MELITZ, 2015).
A lógica do comércio internacional permanece a mesma, ou seja, conforme
bem colocado por Krugman, Obstfeld e Melitz (2015), os modelos econômicos
desenvolvidos muito antes da invenção de aviões a jato ou da própria internet
continuam sendo relevantes para entendermos os fundamentos do comércio
mundial do século XXI.
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Nas últimas décadas, o Brasil conseguiu modificar a sua pauta de comércio
internacional, pois até 1960 o país produzia e exportava praticamente produ-
tos primários, tais como café – o qual, no início do século, era responsável pela
maioria da exportação do país – e, posteriormente, outros produtos se destaca-
ram, como cacau, algodão, fumo, açúcar, madeiras, carnes e minérios.
Atualmente, nossa economia está mais diversificada, sendo referência mundial
em alguns setores, exportando produtos industrializados e processados (semima-
nufaturados), calçados, suco de laranja, tecidos, combustíveis, bebidas, alimentos
industrializados, automóveis e aviões. Sendo assim, o país se destaca em alguns seg-
mentos como o agronegócio, mineração, setor alimentício e mercado de aviação.
Conforme destacado, é possível perceber que os principais produtos da pauta
exportadora brasileira são commodities, que possuem baixo valor agregado. O
primeiro produto industrializado são os aviões, os quais estimulam a cadeia pro-
dutiva, têm um alto valor agregado e geram empregos qualificados.
O Brasil possui diversos parceiros comerciais, com destaque para a União
Européia, principalmente Alemanha, Itália, França, Espanha e Holanda, além
do Estados Unidos da América, Argentina, Japão, Paraguai, Uruguai, México,
Chile, China, Taiwan, Coréia do Sul e Arábia Saudita. Os principais clientes
dos produtos brasileiros no exterior são a China, Estados Unidos da América,
Países Baixos, Alemanha e Rússia, sendo que eles impor-
tam mais de 50% de todo volume negociado pelo Brasil,
embora concentrem suas compras em produtos bási-
cos. As exportações brasileiras estão sofrendo
o impacto de uma menor
demanda chinesa por
matérias-primas, que,
por sua vez, não são
exportadas no mesmo
ritmo para outros mer-
cados, alguns em recessão, como alguns países membros da
União Europeia.
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Em relação ao valor, a posição brasileira como exportador de commodities
também declinou. Os preços das commodities de maneira geral se reduziram em
2012, derrubando os ganhos brasileiros.
Em um estudo realizado em 2015 pela Thomson Reuters em parceria com
a KPMG, foi encontrado que 70% das empresas se tornariam mais competitivas
em seus processos de exportação se otimizassem a gestão de suas operações. Os
maiores desafios dos gestores estão relacionados aos processos manuais reali-
zados em sistemas distintos e à complexidade das alterações normativas – que,
no Brasil, são em média três alterações por dia útil, conforme a Associação de
Comércio Exterior do Brasil.
Outros desafios são as interpretações de regras em países diferentes, a alte-
ração das exigências junto a instituições públicas locais e a necessidade de lidar
com processos ultrapassados, sendo assim, a burocracia emperra o comércio
internacional. Os processos mais demorados e que consomem mais recursos são
documentação e licenciamento de importação, a gestão de despachantes adua-
neiros e a classificação de importação de produtos. Esses processos também são
vistos como atividades que criam os maiores riscos de multas ou elevados cus-
tos operacionais.
O Gráfico 1 apresenta uma evolução histórica do comércio internacional bra-
sileiro no período de 1989-2017, sendo que os dados de 2017 correspondem a
outubro. Analisando o gráfico, é possível perceber que, a partir do século XXI, o
Brasil aumentou, em valores, seus negócios no comércio mundial. Um dos moti-
vos foi a entrada da China na OMC, quando o Brasil passou a negociar (e muito)
com ela – sendo, atualmente, seu principal parceiro comercial – os altos preços
das commodities no mercado internacional, fazendo com que tivéssemos um
aumento das transações comerciais internacionais. O referido gráfico também
mostra o efeito da crise internacional de 2008 (iniciada nos Estados Unidos), em
que tanto as importações como as exportações diminuíram. Nos anos posterio-
res, percebeu-se que as importações cresciam em um ritmo mais acelerado que
as exportações, tanto que, por volta de 2013 e 2014, elas chegaram muito próxi-
mas, o que acabou por pressionar ainda mais as nossas transações correntes. Nos
anos da crise econômica e política interna (iniciada em 2015 e posteriormente)
brasileira, tivemos uma alteração cambial, mais precisamente uma depreciação
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cambial, em que os produtos brasileiros tornaram-se mais competitivos no mer-
cado internacional, enquanto as importações tornaram-se mais caras. Sendo
assim, é possível perceber o aumento do saldo da balança comercial e também
uma queda da corrente de comércio (sendo esta última causada, principal-
mente, pela crise interna). O aumento do saldo da balança comercial é positivo
para o Brasil, pois ele é um dos componentes do saldo das transações corren-
tes que, historicamente, tem apresentado resultados negativos no Brasil e, com
isso, a poupança externa utilizada para financiar esse saldo negativo fica menor.
Gráfico 1 - Evolução histórica do comércio internacional brasileiro (1989-2017*)
US$ FOB EXP
600,000.00
500,000.00
400,000.00
300,000.00
200,000.00
100,000.00
0.00
-100,000.00
US$ FOB IMP SALDO US$ FOB CORRENTE US$ FOB
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Fonte: adaptado de Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços ([2018], on-line)1.
Observações: Os dados de 2017 contêm os valores de até outubro daquele ano;
os dados encontram-se em valores correntes de US$; FOB (Free On Board):
Livre a Bordo do Navio; “EXP” significa exportações; “IMP” são as importações;
“SALDO” seria o saldo da balança comercial, ou seja, é a diferença das exporta-
ções e das importações (EXP-IMP); “CORRENTE”, por sua vez, significa corrente
de comércio, que é a soma das exportações com importações (EXP+IMP).
O Gráfico 2 apresenta alguns parceiros comerciais brasileiros e seu comér-
cio com o Brasil, tendo como base a corrente de comércio de 1989 a 2017, sendo
que os dados de 2017 vão até outubro. Analisando o gráfico, é possível perceber
um aumento do comércio com os chineses, visto que a China encontra-se em
grande crescimento econômico, mesmo com as crises internacionais, ela vem
apresentando crescimento econômico superior a 7% ao ano. Ela também, desde
2013, é o maior parceiro comercial brasileiro, seguido pela União Europeia e
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os Estados Unidos da América. Em relação ao MERCOSUL, Estados Unidos e
União Europeia, é possível constatar no gráfico os efeitos da crise internacional
iniciada em 2008, em que a corrente de comércio com esses países foi afetada.
Podemos também ver a crise europeia, em que muito países, especialmente os
que compõem a Zona do Euro, sofreram muito com a crise da dívida pública e,
consequentemente, diminuíram suas transações comerciais.
Gráfico 2 - Alguns parceiros comerciais brasileiros (1989-2017*)
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CHINA UNIÃO EUROPEIA MERCOSUL ESTADOS UNIDOS
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Fonte: adaptado de Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços ([2018], on-line)1.
Observação: Os dados de 2017 contém os valores até outubro daquele ano.
Atualmente, com o objetivo de “projetar” o Brasil no mercado internacional, a
política externa brasileira precisa firmar um acordo com a Aliança do Pacífico;
repensar o MERCOSUL em conjunto com os membros, pois alguns acordos
parecem não funcionar bem para as partes envolvidas; firmar o acordo entre o
MERCOSUL e a União Europeia, o que se encontra em discussão (2017) e, ao
que tudo indica, terá sucesso. Precisa retornar também a negociação para faci-
litar o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos.
Conforme já destacado, o Brasil, nos últimos anos, tornou-se um país exportador
de produtos básicos. Existe espaço para não só promover a indústria brasileira entre
os nossos parceiros comerciais, mas também priorizar as relações com os países que
mais adquirem produtos industriais feitos no Brasil. A WIOD (World Input-Ouput
Database) mostrou que, entre 1995-2011, o valor adicionado importado nas expor-
tações de produtos manufaturados brasileiros praticamente não se alterou, passando
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de 9% para 11%. Por outro lado, na China esse número saltou de 10% para 35%,
considerando o mesmo período, enquanto a Índia foi de 9% para 24%. Portanto, é
possível concluir que a indústria exportadora nacional permaneceu nacionalista e
o Brasil precisa correr atrás do prejuízo causado por anos de isolacionismo, ou seja,
o fato de sermos uma das economias mais fechadas do planeta, sendo que há muito
tempo o Brasil não possui uma estratégia clara para a política externa.
O ano de 2017 foi um período com boas notícias sobre o comércio exte-
rior brasileiro. De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior do
Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (SECEX, [2018] on-line)2,
o Brasil está registrando um crescimento das exportações e das importações, o
que pode ser um indicativo da retomada da atividade econômica no país, que
vem sofrendo com a crise interna.
A ampliação das exportações brasileiras merecem algumas ressalvas, são elas:
encontra dificuldade para aumentar de maneira sustentável a sua base expor-
tadora; tem, de maneira geral, reconfigurado a composição de sua pauta de
exportação em detrimento dos manufaturados; tem dificuldade de diversificar
mercados de forma mais intensiva; não tem conseguido aumentar a participação
das exportações na atividade econômica do país. Além disso, a infraestrutura do
país encontra-se sucateada, fazendo com que os custos aumentem e, com isso,
os nossos produtos ficam menos competitivos no mercado mundial.
Para superar esses problemas, é importante dizer que o comércio exterior não
se trata apenas de uma dimensão macroeconômica, com destaque para o câmbio.
É importante atentar-se para o fato de que, na verdade, os países não exportam
e nem realizam comércio (utilizamos este termo para facilitar, uma espécie de
figura de linguagem). As economias nacionais são os ambientes, quem exporta/
importa são os agentes econômicos, principalmente as empresas.
Quais medidas, na sua opinião, o governo brasileiro deveria tomar para ten-
tar melhorar o desempenho brasileiro no mercado internacional?
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Desse modo, ações de capacitação, apoio informacional e de inteligência estraté-
gica de mercado seriam exemplos do que deve ser feito. Caso contrário, o Brasil
estará fadado a pequenos incrementos comerciais, muito aquém de seu potencial
empresarial instalado.
Portanto, não é possível idealizar qualquer mudança no padrão e no nível comercial
de um país sem considerar as dimensões microeconômicas, muitas vezes esqueci-
das, as quais não são apenas do ambiente negócios (como infraestrutura e ambiente
institucional, por exemplo), mas pertinentes ao nível das empresas, com destaque
ao perfil do empreendedor/tomador de decisão e aos modelos organizacionais de
gestão e de operações adotados pelos empreendimentos. Isso, no Brasil, nem sem-
pre ocorre, provavelmente devido a uma ideia empresarial voltada ao mercado
interno, que também pode restringir a possibilidade de se inserir no mercado inter-
nacional, somadas às lacunas de competências organizacionais, e que resultam em
baixa propensão à inovação, além dos diversos problemas de gestão e operações
que prejudicam a competitividade da empresa para se lançar no mercado mundial.
Portanto, torna-se imprescindível que o Brasil incorpore, simultaneamente, as
dimensões micro e macroeconômicas no desafio das exportações, com políticas
que não apenas busquem resolver problemas do ambiente econômico e de
negócios, mas também adentrem as empresas e impactem a mentalidade dos
empresários e os modelos de gestão e de operações.
Conforme disponibilizado pelo Banco do Brasil, as Incoterms são “as regras”
internacionais de comércio que irão definir as obrigações e os deveres tanto
do exportador quanto do importador. Portanto, o principal objetivo dos Inco-
terms utilizados é o de determinar o momento exato em que a responsabili-
dade pelos custos e pelos riscos é transferida do exportador para o importa-
dor, não somente no que se refere às despesas das transações, mas também
à responsabilidade por perdas e danos que podem ocorrer com as merca-
dorias que são transacionadas. Para saber mais sobre Incoterms, acesse:
<http://www.bb.com.br/docs/pub/dicex/dwn/IncotermsRevised.pdf>.
Fonte: a autora.
Considerações Finais
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a), chegamos ao final desta unidade e ampliamos o conhecimento
sobre a economia internacional. Estudamos o modelo gravitacional e, a partir dele,
vimos que o valor do comércio entre esses dois países será proporcional, ceteris
paribus, ao produto do PIB dos dois países e diminui com a distância entre eles.
Vimos também que países que são vizinhos comercializam mais quando
comparados a países que estão longe. Além da proximidade territorial, geral-
mente países próximos são parte de algum “acordo de comércio”. Demos como
exemplo o Acordo de Livre Comércio Norte-Americano (NAFTA), o Mercado
Comum do Sul (MERCOSUL) e a União Européia.
Falamos do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio (GATT)
e da Organização Mundial do Comércio (OMC). Vimos que o GATT era um
acordo e não uma organização, diferentemente da OMC, que, como uma orga-
nização, “absorveu” o GATT e tem por objetivoestimular o comércio mundial.
Descrevemos, resumidamente, as rodadas de negociações da OMC, bem como
o que eles tratavam e os acordos a que chegaram. Discutimos sobre a globaliza-
ção, que nada mais é que um processo econômico e social que estabelece uma
integração (ligação) entre os países e as pessoas do mundo todo. Desse modo, os
indivíduos, os governos e as empresas trocam ideias, realizam transações finan-
ceiras e comerciais, além de espalhar os aspectos culturais pelo mundo, que
remonta à época das Grandes Navegações.
Em relação ao comércio internacional e as suas mudanças, vimos que
inicialmente se comercializavam produtos primários, depois manufaturas, ou
seja, produtos que possuem um maior valor agregado. Vimos também que a
tecnologia está em constante modificação.
E, por fim, conhecemos um pouco sobre o Brasil inserido no mercado inter-
nacional, bem como os seus principais parceiros comerciais e quais os produtos o
país mais comercializa. Comentamos sobre os principais problemas que emper-
ram uma maior participação brasileira no mercado mundial. Assim, chegamos
ao final da unidade!
76
1. A importância do comércio (e das finanças) internacionais para a saúde econô-
mica e para o padrão de vida dos países está cada vez mais visível. É possível
perceber esses sinais ao nosso redor, pois sempre que compramos algum pro-
duto, é possível perceber que foi feito em diversos lugares do mundo, assim
como alguns componentes que são utilizados na fabricação de outro produto
podem ter sido fabricados em outro país e montados em um terceiro país, por
exemplo. Sobre o modelo gravitacional, assinale a alternativa correta:
a) No modelo gravitacional, não há uma forte relação empírica entre o tama-
nho da economia de um determinado país e o volume da sua corrente de
comércio.
b) Levando em consideração a equação do modelo gravitacional, o valor do
comércio entre dois países será proporcional, ceteris paribus, ao produto do
PIB dos dois países e diminui com a distância entre eles.
c) Considerando a equação do modelo gravitacional, os três parâmetros que
determinam o volume do comércio entre dois países são o tamanho do PIB
desses dois países e a distância entre eles, sendo necessário assumir que
o comércio seja proporcional ao produtos desses três PIBs e inversamente
proporcional à distância.
d) A modelagem gravitacional não identifica anomalias no comércio e, geral-
mente, as respostas estão na afinidade cultural, custos de transporte e a ge-
ografia. Entretanto, esse modelo prediz que as economias se especificam na
produção de um único bem para ser transacionado, além de que quando há
algum acordo comercial, este modelo não pode ser aplicado.
e) A modelagem gravitacional funciona porque as grandes economias tendem
a ser autossuficientes na produção dos produtos que necessitam, devido ao
seu nível de renda ser maior, além de atrair empresas de outros países, pois
produzem uma grande quantidade e variedade de produtos. Então, como
as demais variáveis do comércio são iguais (ceteris paribus), o comércio entre
quaisquer duas economias será maior quanto maior forem essas economias.
2. Além da proximidade territorial, geralmente países próximos são parte de
algum “acordo de comércio” ou ainda são signatários de acordos internacio-
nais e/ou fazem parte de Institucionais, sendo que as negociações multilate-
rais começaram logo após a Segunda Guerra Mundial. Sendo assim, marque a
alternativa correta sobre o Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio
(GATT) e sobre a Organização Mundial do Comércio (OMC):
a) A organização Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio (GATT) foi
criada juntamente com a Organização de Comércio Internacional (OCI), que
seria paralela ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial.
Os países signatários eram conhecidos como membros e ainda contava com
uma secretaria permanente em Genebra (Suíça).
77
b) Um grupo composto por 23 países, logo após a criação da Organização de
Comércio Internacional (OCI), iniciou as negociações comerciais pautadas sob
um conjunto de regras definitivas conhecido como Acordo Geral sobre Tarifas
Aduaneiras e Comércio (GATT) e Organização Mundial do Comércio (OMC).
c) Como a nona rodada, denominada de Rodada de Doha, não se chegou a
acordo algum, o que significa dizer que a Organização Mundial do Comér-
cio (OMC) tende ao fracasso e todo os acordos internacionais firmados nas
rodadas passadas não terão mais efeitos.
d) O atual sistema GATT-OMC “permite” quotas de importações, embora exis-
ta um esforço contínuo para remover quotas ou transformá-las em tarifas.
Novas quotas de importações normalmente são proibidas, exceto quando
são medidas temporárias com o objetivo de lidar com alguma “ruptura de
mercado”, termo este indefinido e interpretado como surtos de importações
que ameaçam expulsar algum setor nacional de forma repentina.
e) No ano de 1995, a Organização Mundial do Comércio (OMC) foi estabele-
cida, sendo uma organização formal que tinha sido idealizada havia uns
cinquenta anos. Vale ressaltar que as regras do Acordo Geral sobre Tarifas
Aduaneiras e Comércio (GATT) foram extintas e também não foram incor-
poradas pela OMC.
3. A globalização nada mais é que um processo econômico e social que estabele-
ce uma integração (ligação) entre os países e as pessoas do mundo todo. Desse
modo, os indivíduos, os governos e as empresas trocam ideias, realizam tran-
sações financeiras e comerciais, além de espalhar os aspectos culturais pelo
mundo. Sendo assim, marque a alternativa correta sobre a globalização:
a) Grande parte do aumento do valor do comércio internacional reflete a “in-
tegração vertical e horizontal” da produção, que significa que antes do pro-
duto chegar aos consumidores, passa por vários estágios de produção em
diversos países. Por exemplo, diversos produtos eletrônicos de consumo,
muitas vezes, são montados em nações com baixos salários, como a China,
a partir de componentes produzidos em países que possuem uma remune-
ração maior, como os Estados Unidos da América.
b) O comércio internacional encontra-se em constante modificação. A sua di-
reção e composição é a mesma hoje, na geração anterior e muito semelhan-
te quando comparamos com há mais de um século.
c) Muitos países se juntaram e formaram blocos econômicos, com o objetivo
principal de aumentar as relações comerciais entre os membros, não comer-
cializando com países que não fossem membros do referido bloco econômi-
co. Nesse contexto, surgiram a União Europeia, o Mercosul, a Comecom (Con-
selho para Assistência Econômica Mútua), o NAFTA, o Pacto Andino e a Apec
(Cooperação Econômica Ásia-Pacífico). Estes blocos se fortalecem e também
78
se relacionam entre si. Dessa forma, cada país, ao fazer parte de um bloco eco-
nômico, consegue mais força nas relações comerciais internacionais.
d) Alguns historiadores afirmam que o processo de globalização teve início
nos séculos no final do século XX, logo após a queda da União das Repú-
blicas Socialistas Soviéticas (URSS). O neoliberalismo, que ganhou força na
década de 90, acabou por impulsionar ainda mais o processo de globaliza-
ção econômica.
e) Uma característica importante da globalização é a busca pelo barateamen-
to do processo produtivo. Dessa forma, muitos países produzem suas mer-
cadorias em outros países, com o objetivo de reduzir o custo do processo
produtivo.
4. Quando os países realizam comércio, o que eles geralmente comercializam? A
primeira resposta que pode ocorrer, de maneira geral, são produtos manufa-
turados, como automóveis, computadores e roupas. Entretanto, o comércio de
commodities – minérios, grãos e petróleo, por exemplo – são uma importante
parte das trocas internacionais. Tem-se também os serviços, que desempe-
nham um papel importante e espera-seque no futuro aumentem sua parti-
cipação. Sobre os produtos/mercadorias que são transacionados no comércio
internacional entre os países e também sobre o comércio global, assinale a al-
ternativa correta:
a) Produtos manufaturados compõem a maior parte do comércio internacio-
nal, pois possuem um baixo valor agregado. A grande maioria do valor dos
bens de mineração – inclui diversos produtos, desde o minério de cobre até
o carvão, embora o maior componente seja o petróleo – vem do petróleo e
outros combustíveis. Já o comércio de produtos agrícolas – por exemplo, o
trigo, o soja e algodão – embora seja crucial na alimentação de diversos paí-
ses, representa uma pequena porção do valor do comércio moderno, sendo
um dos motivos o alto valor agregado.
b) A dominância dos produtos manufaturados no comércio internacional não
é relativamente nova. No passado, produtos primários – bens agrícolas e
minérios – tinham um papel mais irrelevante no quadro geral de comércio.
c) Atualmente, uma das questões mais discutidas na economia internacional é
se a tecnologia, que tornou possível realizar diversas funções econômicas a
longa distância, irá aumentar drasticamente nas novas formas de comércio.
d) Em um futuro distante, a principal distinção para o comércio global não será
entre coisas que podem ser colocadas ou não em uma caixa mas, em vez
disso, será entre os produtos que podem ser entregues eletronicamente em
longas distâncias, com pouca ou nenhuma queda de qualidade, e aqueles
que não podem.
79
e) O comércio moderno é mais sutil, pois os recursos humanos e as máquinas,
além de outros capitais, são considerados mais importantes que os recursos
naturais, pois possuem menor valor agregado.
5. O estudo da economia internacional nunca foi tão importante quanto agora. No
começo do século XXI, as nações estão mais próximas do que nunca por causa
da comercialização de mercadorias e serviços, dos fluxos de dinheiro e dos inves-
timentos nas economias estrangeiras. Sobre a pauta de comércio internacional
brasileiro e sua inserção no mercado mundial, assinale a alternativa correta:
a) Nas últimas décadas, o Brasil conseguiu modificar a sua pauta de comércio
internacional, pois até os anos 1960 o país produzia e exportava praticamen-
te produtos primários. Atualmente, nossa economia está mais diversificada
e completa, sendo referência mundial em alguns setores, exportando pro-
dutos industrializados e processados (semimanufaturados). Sendo assim,
o país se destaca em alguns segmentos como o agronegócio, mineração,
setor alimentício e mercado de aviação.
b) É possível perceber que os principais produtos da pauta exportadora brasi-
leira são commodities, que possuem alto valor agregado. O primeiro produ-
to industrializado é o avião, que estimula a cadeia produtiva, tem um alto
valor agregado, gera empregos qualificados e passa uma imagem positiva
do país para o exterior.
c) O efeito da crise internacional de 2008, foi de que tanto as importações
como as exportações aumentaram, pois a China e a União Europeia não
passaram por essa crise, já que a mesma se iniciou nos Estados Unidos da
América e foi contida rapidamente pelo governo norte-americano.
d) Nos anos da crise econômica e política interna (iniciada em 2015) brasileira,
tivemos uma alteração cambial, mais precisamente uma depreciação cam-
bial, em que os produtos brasileiros tornaram-se menos competitivos no
mercado internacional, enquanto as importações tornaram-se mais baratas.
Sendo assim, é possível perceber uma queda do saldo da balança comercial
e também uma queda da corrente de comércio (sendo esta última causada,
principalmente, pela crise interna e pela diminuição das exportações).
e) O Brasil possui diversos parceiros comerciais, comercializando somente com
os países do ocidente, devido a sua proximidade territorial e saída para o
oceano atlântico, com destaque para a União Europeia, além do Estados
Unidos da América, Argentina, Japão, Paraguai, Uruguai, México, Chile, Chi-
na, Taiwan, Coréia do Sul e Arábia Saudita. Os principais clientes dos produ-
tos brasileiros no exterior são a China, Estados Unidos da América, Países
Baixos, Alemanha e Rússia, sendo que eles importam mais de 50% de todo
volume negociado pelo Brasil, embora concentrem suas compras em pro-
dutos básicos.
80
Caro(a) aluno(a)! Convido a todos(as) para
uma leitura enriquecedora, que discorre
sobre como o mundo encontra-se cada vez
mais globalizado. Trata-se do resumo de
artigo de Cunha (2011), que nos apresenta
a ascensão chinesa a nível global e alguns
impactos no Brasil. Para uma melhor com-
preensão, é indicado que seja realizada uma
leitura completa do artigo, intitulado “A
China e o Brasil na Nova Ordem Internacio-
nal”, sendo que a sua referência encontra-se
logo após o resumo.
A CHINA E O BRASIL NA
NOVA ORDEM INTERNACIONAL
A ascensão chinesa à condição de potência
econômica e política em nível global tem
estado no centro dos debates acadêmi-
cos e políticos. Neste trabalho analisamos
alguns impactos desse evento marcante
sobre o Brasil.
Deve-se notar que os possíveis efeitos
sobre o sistema internacional da ascensão
chinesa, em suas dimensões econômica
e política, têm concentrado a atenção de
especialistas das mais diversas áreas. No
Brasil. é possível identificar pelo menos
duas perspectivas sobre esse tipo de for-
mulação. Aceitando os riscos derivados do
excesso de simplificação, sugere-se deno-
miná-las de visões “otimista” e “pessimista”.
A primeira percebe na ascensão chinesa
a possibilidade de consolidação de uma
nova ordem internacional menos centrada
no poder americano e com maior abertura
de espaços para que o Brasil consolide-se
como uma potência líder entre os países
em desenvolvimento, particularmente na
América do Sul (e, também, com capaci-
dade de influenciar nações africanas que
compartilham a herança comum da colo-
nização portuguesa). A demanda chinesa
por recursos naturais criaria um vetor de
dinamismo para a economia brasileira ao
longo dos próximos anos, o que permitiria
a ruptura do quadro de semiestagnação
derivado da crise da dívida externa dos
anos 1980. Evidentemente, a demanda chi-
nesa per se não teria esse poder indutor,
sendo percebida como uma alavanca
para a internacionalização de setores
produtivos especializados na produção
e industrialização de bens intensivos em
recursos naturais.
Por outro lado, a visão “pessimista” olha
para essa mesma possibilidade como sendo
um risco de involução, com o Brasil retor-
nando a uma posição semelhante àquela
dos anos anteriores a 1930, de uma econo-
mia primário-exportadora. Teme-se aqui a
perda de densidade da estrutura industrial
diante das pressões competitivas origina-
das na China, com efeitos negativos sobre
a capacidade de gerar emprego e renda em
setores produtivos mais complexos. Ava-
lia-se, também, que a crescente presença
econômica da China na América do Sul e
na África poderia reduzir o potencial de
internacionalização da economia brasileira.
Investigamos o comércio bilateral e os
padrões de convergência cíclica entre as
duas economias, considerando uma aná-
lise mais ampla da competitividade externa
da economia brasileira. A partir desse pano
de fundo, objetiva-se mapear alguns dos
possíveis impactos para o Brasil da ascen-
são da China à condição de potência global.
A ênfase recai sobre a dimensão econômica,
especialmente o comércio internacional. Par-
te-se da perspectiva de que o processo de
crescimento e internacionalização da econo-
mia chinesa está gerando estímulos capazes
81
de condicionar as possibilidades de desen-
volvimento do Brasil ao longo das próximas
décadas. Os argumentos estão estrutura-
dos em três seções: (i) procura-se apresentar
uma visão panorâmica da ascensãochinesa,
tomando-se como pano de fundo a dinâ-
mica da “grande divergência”; (ii) faz-se um
apanhado da situação contemporânea da
economia chinesa; (iii) a análise dos efeitos
de sua crescente internacionalização sobre a
economia mundial, com ênfase para os casos
da América do Sul e Brasil. Concluímos explo-
rando algumas implicações normativas dos
nossos resultados.
Fonte: Cunha (2018).
Leia o artigo completo, acessando o link: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782011000400003&lng=pt&nrm=iso>.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Economia internacional
Dennis R. Appleyard, Alfred J. Field Jr e Steven L. Cobb.
Editora: McGraw-Hill
Sinopse: livro-texto que oferece análise e tratamento consistentes das duas
principais subdivisões da economia internacional: a teoria internacional do
comércio e a política monetária internacional. Trabalha uma ampla variedade
de fenômenos econômicos e assuntos emergentes, como mudanças na
política comercial norte-americana, progresso na transição de economias de planejamento central
para economia de mercado e aspectos especiais relacionados a nações em desenvolvimento.
REFERÊNCIAS
83
APPLEYARD, D. R.; FIELD, A. J.; COBB, S. L. Economia internacional. 6. ed. Porto
Alegre: AMGH, 2010.
BLINDER, A. S. Offshorring: The Next Industrial Revolution? Foreign Affairs, mar./
abr. 2006.
CUNHA, A. M. A China e o Brasil na Nova Ordem Internacional. Revista de
Sociologia e Política, Curitiba, v.19, n. suplementar, p. 9-29, nov. 2011.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0104-44782011000400003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 20 jun. 2018.
KRUGMAN, P. R.; OBSTFELD, M.; MELITZ, M. J. Economia Internacional. São Paulo:
Pearson Education do Brasil, 2015.
KUZNETS, S. Modern Economic Growth: Rate, Structure and Speed. New Haven:
Yale Univ. Press, 1966.
PASSOS, C. R. M.; NOGAMI, O. Princípios de economia. 5.ed. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2005.
REFERÊNCIAS ON-LINE
1 Em: <http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior>. Acesso em: 20 jun.
2018.
2 Em:<http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-co-
mercio-exterior/balanca-comercial-brasileira-acumulado-do-ano?layout=edi-
t&id=3056>. Acesso em: 20 jun. 2018.
GABARITO
1. B
2. D
3. E
4. C
5. A
U
N
ID
A
D
E III
Professora Dra. Luciane Cristina Carvalho
TEORIAS DO COMÉRCIO
INTERNACIONAL
Objetivos de Aprendizagem
■ Explicitar os fundamentos da teoria clássica do comércio
internacional baseados nas vantagens absolutas.
■ Compreender as diferenças do modelo de vantagens absolutas para
as vantagens comparativas.
■ Demonstrar os teoremas básicos da teoria neoclássica sobre o
comércio internacional.
■ Apresentar o modelo de Heckscher-Olhin com ênfase em diferenças
com relação aos modelos básicos de comércio internacional.
■ Mostrar as teorias da nova economia internacional voltadas a
economias de escala e a competição imperfeita.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Teoria clássica do comércio internacional: vantagens absolutas
■ Teoria clássica do comércio internacional: vantagens comparativas
■ Teoria moderna: os quatro teoremas fundamentais
■ O modelo de Heckscher-Ohlin
■ Extensões da teoria da vantagem comparativa: economias de escala,
competição imperfeita e comércio internacional
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) à unidade de estudo!
Nesta unidade, vamos conhecer um pouco sobre as teorias do comércio
internacional. Sabemos que, apesar de hoje estudarmos essas teorias, elas nem
sempre existiram, mas sempre foi possível o comércio. Nesse sentido, vamos ini-
ciar nosso estudo num período anterior às ideias, o período conhecido como
Mercantilismo.
O Mercantilismo foi a formulação de políticas nacionais que possuía um con-
junto de doutrinas com a finalidade de obter progresso econômico, que é criado
pela ação do Estado como forma de poder nacional. Posteriormente às ideias
mercantilistas, inicia-se a fase das ideias clássicas, em que Adam Smith, conhe-
cido por ser pai do liberalismo econômico, desenvolve uma teoria chamada de
vantagens absolutas, a qual consiste na ideia de que cada país deve produzir o
bem que custe mais barato e importar o bem que produziria de modo mais caro.
Sua ideia é ampliada por David Ricardo, que buscou aprimorar as vantagens
absolutas e, agora, formula a vantagem comparativa. Tal vantagem consiste na
especialização do país no bem no qual se utiliza o fator em abundância no local,
indicando a vantagem comparativa.
Vamos conhecer as teorias neoclássicas do comércio internacional, as cha-
madas teorias modernas, conhecidas também como quatro teoremas. São eles:
Teorema de Hechscher-Ohlin; Teorema de equalização dos preços, o qual cor-
responde à situação em que há convergência dos preços internacionais; Teorema
de Stolper-Samuelson, em que se buscou estudar o efeito de uma tarifa que alte-
rasse o preço de um produto importado, sem afetar os preços mundiais; e, por
fim, o Teorema de Rybcynski, que procurou mostrar que mantendo os preços
inalterados, quais seriam as mudanças na dotação dos fatores e o que poderiam
ocasionar no nível de produção das mercadorias.
Por último, estudaremos os ganhos do comércio mediante a economia de
escala numa economia de concorrência monopolística.
Desejamos um ótimo estudo a todos!
Introdução
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TEORIA CLÁSSICA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL:
VANTAGENS ABSOLUTAS
Neste tópico, vamos estudar a teoria clássica do comércio internacional voltada
às vantagens absolutas. Tal teoria foi desenvolvida por Adam Smith, conhecido
como o pai da economia moderna e considerado o mais importante teórico
do liberalismo econômico. Ele foi filósofo e economista britânico, nascido na
Escócia. As principais obras de Smith são a Teoria dos sentimentos morais e sua
grande obra econômica Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza
das nações. Como ponto de partida ao estudo sobre a teoria das vantagens abso-
lutas, Smith teve o importante trabalho de questionar as ideias mercantilistas e
o sistema feudal; por isso, o tema do comércio internacional é um dos aspectos
centrais de seu pensamento.
Para melhor entendimento sobre a teoria desenvolvida por Smith, vamos
rever a ideia principal das teorias do comércio anterior, que serviram de base
para os questionamentos de Smith. Partindo do pressuposto que as relações
TEORIAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL
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IIIU N I D A D E88
econômicas entre diferentes povos sempre existiram, mesmo antes das relações
políticas e culturais entre os mesmos, vamos conhecer sucintamente o que foi
o Mercantilismo.
O Mercantilismo, conforme Gonçalves et al. (1998), foi uma economia polí-
tica do Estado Absolutista. Surgiu na Europa Ocidental no século XVIII, criando
a visão moderna do mundo. A vida econômica era baseada na economia natural,
ou seja, na regulação e sistemas de pesos e medidas locais. O poder era exercido
pelo nobre local ou por um governo municipal em cidades livres.
Assim, surge o Mercantilismo como sistema econômico, sendo uma reação
à ordem estabelecida e opondo-se ao poder local ou da cidade, ao poder uni-
versal ou supranacional da igreja. No entanto, a política comercial mercantilista
reforça o poder do monarca, defende a unificação econômica, jurídica e admi-
nistrativa nacional. Além disso, sustenta a necessidade de se reforçar contra as
ameaças externas. Assim,pode-se dizer que o nacionalismo e o absolutismo são
as ideias principais do Mercantilismo.
Então, o Mercantilismo foi a formulação de políticas nacionais que possuía
um conjunto de doutrinas com a finalidade de obter progresso econômico, que
é criado pela ação do Estado como forma de poder nacional. Para melhor com-
preender o conjunto de doutrinas assumidas pelos mercantilistas, destacamos,
conforme Brue (2006):
■ Ouro e Prata como riqueza: associavam a riqueza de uma nação com o
montante de ouro e prata que possuíam.
■ Nacionalismo: cada um deveria exportar e acumular riqueza à custa dos
vizinhos. Consideravam que somente uma nação poderosa poderia con-
quistar e manter colônias.
■ Política protecionista: importação isenta de taxas de matérias-primas que
não podiam ser produzidas internamente, proteção para bens manufatu-
rados e matéria-prima que poderia ser produzida internamente.
■ Colonização e monopolização do comércio: eram a favor da coloniza-
ção, pois quaisquer benefícios que chegassem às colônias em virtude do
crescimento e poder militar colonizador eram um subproduto acidental
da política de exploração.
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■ Oposição aos pedágios, impostos e outras restrições internas sobre o trans-
porte de bens: reconheciam que os pedágios e impostos poderiam estrangular
as empresas e aumentar o preço das exportações de um país. Cabe lembrar
que os mercantilistas não eram a favor do livre comércio interno, preferiam
as concessões de monopólios e privilégios comerciais exclusivos.
■ Importância de uma população numerosa e trabalhadora: uma popula-
ção numerosa e trabalhadora era necessária como soldados e marinheiros
para lutar pela nação, mas também contribuía para manter a oferta de
mão de obra elevada e os salários baixos.
De forma resumida, a Figura 1 apresenta as principais ideias de uma política
mercantilista.
A Política Mercantilista
Protecionismo e
nacionalismo
econômico
Companhias de
comércio:
Concessão de monopólios
ao comércio:
Abundância de matéria -
prima e Restrições
tarifárias sobre as
importações.
Atos de navegação e
exclusividade
comercial
Nacionalização do
comércio
Fomento
manufatureiro
Figura 1 - Políticas Mercantilistas
Fonte: adaptado de Brue (2006).
Apesar das leis pragmáticas dos mercantilistas, podemos observar que fazia
algum sentido para o período em questão. Os mercantilistas sabiam que a entrada
de metais preciosos facilitava a cobrança de impostos. Também sabiam que o
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IIIU N I D A D E90
aumento do montante de ouro e prata em circulação reduzia as taxas de juros e
promovia o comércio.
Já conhecida a política econômica mercantilista, podemos entender melhor
sobre os questionamentos de Smith sobre a referida política. Conforme Brue
(2006), a questão central dos mercantilistas que Smith abordou foi respondida
por ele e deu origem a seu livro A riqueza das nações: uma investigação sobre a
natureza e as causas da riqueza das nações.
Conforme a resposta de Smith, a riqueza das nações é o resultado do aumento
de produtividade do trabalho. Para Smith, essa oposição entre a riqueza das
nações e o Mercantilismo afirmou que os metais preciosos são um produto como
qualquer outro; portanto, um país grande produtor de metais preciosos seria
naturalmente um exportador desse produto. Acrescenta que o preço dos outros
produtos, que são cotados em ouro e prata, no país com minas, seria mais alto
do que no país sem minas.
Como a riqueza das nações é a produtividade do trabalho, cria-se, assim,
uma divisão do trabalho, a qual é o resultado da propensão da natureza humana
de trocar, negociar e vender um produto em troca de outro. No entanto,
Gonçalves et al. (1998) argumentam que a divisão de trabalho é limitada
pela extensão do mercado. Sendo assim, o comércio internacional aumenta
o mercado para produtos produzidos internamente, situação que permite
o aprofundamento da divisão do trabalho contribuindo para o aumento da
riqueza da nação.
Smith defende que, por intermédio do comércio internacional, um país
exporta as mercadorias que consegue produzir de modo mais barato que os
demais, e importa aquelas que produz de maneira mais cara. Dessa forma, pro-
duz mais dos produtos que faz com maior eficiência e consumindo mais produtos
do que seria capaz na ausência do comércio internacional. Essa ideia de Smith
é conhecida como vantagens absolutas.
Para ele, o comércio internacional, conforme Gonçalves et al. (1998), seria
possível somente quando o tempo de trabalho necessário para produzir pelo
menos um produto fosse inferior ao tempo de trabalho necessário para pro-
duzir o mesmo produto no exterior, ou seja, a capacidade de produzir um bem
com menos insumos.
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Podemos observar em Gonçalves et al. (1998) que o pensamento de Smith
é complexo e destaca que, quando houver um produto de qualquer setor da
indústria que exceda a demanda interna de um país, o excedente deve ser tro-
cado no exterior por algum produto que não tenha produção doméstica. Então,
reforçamos a contribuição de Smith sobre o comércio internacional, baseado
nas vantagens absolutas – podemos entender que um país possui uma vanta-
gem absoluta quando consegue produzir um bem com menor custo que o país
estrangeiro. Lembrando que isso ocorre por meio da divisão de trabalho, ou seja,
especialização. Assim, o país consegue produzir com eficiência.
Entendendo melhor as vantagens absolutas, elas indicam que o país deve
se especializar no que faz melhor, ou seja, o produto que produz melhor, pois,
dessa forma, obtém vantagem absoluta em termos de custos, isto é, em número
de horas de trabalho necessárias para a produção de um bem, que deve ser menor
do que o estrangeiro. Vamos observar na Tabela 1:
Tabela 1 -Teoria das vantagens absolutas
Bens, X e Y
Custo (horas de trabalho
necessárias para produzir 1)
Produtividade (produção por
hora de trabalho)
Países, A e B X Y X Y
A 1 2 1 ½ = 0,5
B 2 1 ½ = 0,5 1
Fonte: Africano, Afonso e Alves (2007, on-line)1.
Neste exemplo, consideramos os custos unitários de produtos de dois países, sendo
A e B, que produzem dois produtos, sendo X e Y. Percebemos que, embora exista
custos de produção constantes para cada bem em cada nação, os custos diferem
nos dois países e o fator determinante na diferenciação dos custos é a tecnologia.
No referido exemplo, o país A é mais eficiente em produzir o produto X, isto
é, o país A consegue produzir X com menor custo e sua produtividade é maior.
Por isso, dizemos que o país A tem vantagem absoluta em X e deve se especia-
lizar em sua produção. Enquanto o país B é mais eficiente em produzir Y, isto é,
possui vantagem absoluta em produzir Y e deve se especializar em sua produção.
TEORIAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL
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IIIU N I D A D E92
Assim, conforme a teoria de Smith, podemos dizer que o comércio é bené-
fico? Vamos conversar sobre a resposta partindo do pressuposto das vantagens
absolutas e considerando duas situações: uma situação em economia fechada e
outra em uma situação de livre comércio.
Tabela2 - Ganho de uma hora de trabalho em cada país
Gastos em horas de trabalho
em Economia fechada
Gastos em horas de trabalho
em livre comércio
Bens Bens
País X Y Total País X Y Total
A 1 2 3 A 2 - 2
B 2 1 3 B - 2 2
Total 3 3 6 Total 2 2 4
Fonte: Africano, Afonso e Alves, (2007, on-line)1.
Na primeira situação, de economia fechada, cada economia produz uma unidade
de cada bem para satisfazer suas necessidades internas. Na segunda situação,
livre comércio, o país A vai produzir duas unidades, uma para consumo domés-
tico e outra para o consumo externo, e B vai produzir duas unidades de Y com
a mesma finalidade.
Conforme o exemplo, os ganhos de horas de trabalho em livre comércio
beneficiam os países que possuem eficiência, ou seja, aqueles com capacidade
para produzir um produto com menor custo. Isso mostra claramente a ideia cen-
tral de Smith sobre os ganhos baseados na exportação, ou seja, o livre comércio.
Destacamos que, de acordo com a teoria das vantagens absolutas, o comér-
cio só seria possível se um país fosse eficiente em pelo menos um bem. Portanto,
não haveria comércio se o país possuísse ineficiência em ambos os bens.
Esse ponto de troca com países ineficientes apresenta uma falha na teoria
das vantagens absolutas. Logo, com o intuito de avançar os conhecimentos sobre
a especialização do comércio e responder a essa falha, vamos conhecer a teoria
das vantagens comparativas em nossa próximo tópico.
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TEORIA CLÁSSICA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL:
VANTAGENS COMPARATIVAS
A teoria clássica do comércio internacional, de acordo com Gonçalves et al.
(1998), apresenta David Ricardo como um dos mais importantes pensadores de
sua época com a contribuição das vantagens comparativas. A preposição de seu
estudo era que as vantagens comparativas são as causas dos ganhos do comércio.
Assim, a teoria Ricardiana de vantagens comparativas assume alguns pres-
supostos, sendo eles:
I. O comércio entre duas economias cujas estruturas de produção sejam
diferentes.
II. As duas economias produzindo, cada uma, dois produtos.
III. Existe um único fator de produção, o trabalho.
IV. O trabalho é perfeitamente móvel no interior de um país, mas imóvel
internacionalmente.
V. Há diferença de tecnologia entre os dois países.
VI. Balança comercial equilibrada.
VII. Custo de transporte igual a zero.
VIII. Há rendimentos constantes de escala.
Entendendo melhor esses pressupostos do
modelo Ricardiano, conforme Gonçalves
et al. (1998), no primeiro pressuposto,
Ricardo argumenta que o comércio
bilateral é sempre mais vantajoso do
que em uma economia fechada, conhe-
cida como autarquia. Para as duas
economias envolvidas no comércio
bilateral, a estrutura de produção deve
ser diferenciada, isto é, a produtividade
do trabalho nos vários países é diferente.
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A tecnologia é destacada como motivadora das diferenças internacionais de
produção.
O segundo pressuposto aponta que as duas economias envolvidas produ-
zem, cada uma, dois produtos, indicados na maioria dos livros em economia
internacional como sendo vinho e tecido. Assim, as economias empregam uma
quantidade de trabalho para a produção de ambos, sendo este o único fator de
produção como terceiro pressuposto.
O quarto pressuposto trata do salário; note que, para Ricardo, o salário no
interior de uma economia seria sempre igual. Assim, levando em conta o custo
de se produzir uma unidade de vinho em um país A e uma unidade de tecido no
país B, os preços relativos no interior dessa economia dependem apenas da quan-
tidade de trabalho necessária para produzir um bem e não do nível de salário.
O quinto pressuposto diz respeito à tecnologia. Como já mencionamos, a
tecnologia é destacada como motivadora das diferenças internacionais de pro-
dução, no entanto Ricardo a considera como uma possível explicação para as
diferentes estruturas de preços relativos em diferentes países.
O sexto pressuposto refere-se à balança comercial equilibrada, mostrando sua
preocupação com a continuidade da relação comercial entre as duas economias.
O sétimo pressuposto refere-se ao custo de transporte zero. Isso indica que,
numa situação de livre troca, não há impedimentos ao comércio, portanto, pres-
supõe a ausência de tarifas e custo de transporte zero.
E, por último, diz respeito ao rendimento constante de escala, isto é, o número
de horas de trabalho por unidade e produto não se altera com a quantidade pro-
duzida com o tempo.
Estes foram os pressupostos do modelo Ricardiano de vantagens compara-
tivas. Mas afinal, o que é exatamente uma vantagem comparativa?
Pode-se definir vantagens comparativas como vantagens de custos de pro-
dução – conforme o modelo de Ricardo de comércio internacional, implica na
especialização de cada país na exportação do produto do qual tem vantagens
comparativas. Assim, todos os países irão lucrar com o comércio, exceto na situ-
ação em que a estrutura de custos relativos desses dois países for idêntica.
De acordo com Salvatore (2013), sob o pressuposto da lei da vantagem com-
parativa, mesmo que uma não seja menos eficiente do que a outra nação na
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produção de dois produtos, ainda existe uma base para o comércio mutuamente
benéfico. Nessa situação, a primeira nação deve se especializar na produção e
exportação do bem em que tem desvantagem absoluta menor (nessa situação esse
produto é o que apresenta a vantagem comparativa) e importar o produto em que
tenha maior desvantagem absoluta (nesse caso sua desvantagem comparativa).
Vejamos um exemplo prático das vantagens comparativas, conforme
Gonçalves et al. (1998), considerando como dois países, Inglaterra e Portugal,
os dois produtos como sendo vinho e tecido.
Bens: Tecido e Vinho
Custo (horas de trabalho
necessárias para produzir 1)
Produtividade
(produção por hora de trabalho)
Países Tecido Vinho X Y
Inglaterra 100 120 1/100 1/120
Portugal 90 80 1/90 1/80
Quadro 1 - Formulação da Teoria das Vantagens Comparativas
Fonte: adaptado de Gonçalves et al. (1998, p. 15).
Para David Ricardo, é a tecnologia que determina os custos unitários de pro-
dução. No exemplo acima, procurou mostrar que é irracional um país menos
desenvolvido, no caso Portugal, ser absolutamente mais eficiente na produção
dos dois bens. Nesse sentido, a motivação de David Ricardo era conduzir até o
limite das consequências a vantagem da troca, referindo-se à Inglaterra.
Então, como seria o comércio entre as duas nações?
Vejamos sob a ótica das vantagens absolutas: o comércio desses dois países
seria nulo, visto que Portugal era mais eficiente na produção de ambos os bens,
dessa forma não haveria de sua parte interesse na troca e, também, considerando
as vantagens absolutas, não há fatores suficientes para determinar a especialização.
Vejamos agora sob a ótica das vantagens comparativas, em que se permite
determinar padrões de especialização e, consequentemente, a troca. Vamos
considerar uma economia fechada que possui equivalência nos valores globais
de produção em ambos os bens e já pode determinar as Razões de Troca (RT).
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IIIU N I D A D E96
Vejamos o exemplo a seguir, considerando: Q representa quantidades, C repre-
senta os custos unitários e a RT T/IV Portugal , ou seja, a razão de troca de tecido por
um de vinho em Portugal.
/ 1
/1
80 0,88(8)
90
Portugal Portugal
Portugal Portugal Portugal Portugal Portugal Tecido Vinho
Tecido Tecido Vinho Vinho T V Portugal Portugal
Vinho Tecido
Portugal
Portugal Vinho Tec
V T Portugal
Tecido
Q CQ C Q C RTA
Q C
Q CRTA
Q
× = × ⇔ = = = =
= =
90 1,125
80
Portugal
ido
Portugal
VinhoC
= =
/1
/1
120 1,2
100
Inglaterra Inglaterra
Inglaterra Inglaterra Inglaterra Inglaterra Inglaterra Tecido Vinho
Tecido Tecido Vinho Vinho T V Inglaterra Inglaterra
Vinho Tecido
Inglaterra
Inglaterra Vinho
V T
Q CQ C Q C RTA
Q C
QRTA
× = × ⇔ = = = =
=
100 0,83(3)
120
Inglaterra
Tecido
Inglaterra Inglaterra
Tecido Vinho
C
Q C
= = =
Figura 2 - Razão de Troca de Portugal
Fonte: Africano, Afonso e Alves (2007, on-line)1.
A RT mostra o custo oportunidade da troca em relação aos dois bens. Sendo assim,
verifica-se o custo do vinho em relação ao tecido em Portugal, para então, posterior-
mente, tomar a decisão de troca. Colocando os resultados da RT em matriz, temos:
Custos relativos
Países Tecido Vinho
Inglaterra 0,83(3) 1,2
Portugal 1,125 0,88(8) a)
Tabela 3 - Custos relativos a partir da razão de troca
Fonte: Africano, Afonso e Alves, (2007, on-line)1.
Nota: a) é a RT T/IV Portugal ou, dito de outro modo, o custo do Vinho relativamente ao Tecido em
Portugal ou, ainda, o custo de oportunidade do Vinho em Portugal.
De acordo com os resultados dos custos relativos de cada bem frente ao outro de
cada país, podemos concluir que Portugal possui vantagem comparativa na pro-
dução de vinho e Inglaterra na produção de tecido. Baseados em que chegamos
a essa conclusão? Bem, são os custos relativos que nos mostram que a produ-
ção do vinho é inferior em Portugal, sendo 0,88 (8) < 1,2 da Inglaterra, e com
relação ao tecido, é inferior na Inglaterra, sendo 0,83 (3) < 1,125 de Portugal.
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Com a demonstração da RT, podemos dizer que Portugal é relativamente mais
eficiente na produção de vinho e a Inglaterra na produção de tecidos. Então, devido
a essas diferenças de custos relativos, ambos os países são incentivados à troca.
E, conforme Gonçalves et al. (1998) sobre a teoria de David Ricardo, Portugal
deve especializar-se na produção de vinho e Inglaterra na produção de tecido.
Enfim, a especialização deve ser verificada sob a ótica das vantagens com-
parativas e cada nação deve especializar-se na produção do bem que possui
relativamente maior vantagem ou menor desvantagem relativa.
Lembrando que, apesar da determinação do padrão e comércio, a troca
internacional só se realizará se houver incentivos, isto é, Portugal irá se espe-
cializar em vinhos se obtiver no mercado internacional mais do que 0,88 (8)
unidade de tecido em metros, por cada unidade de barril de vinho. E os ingle-
ses, da mesma forma, só sentirão incentivados a especializar-se na produção de
tecido se conseguirem comprar no mercado internacional o vinho mais barato,
isto é, se pagarem por uma unidade de vinho menos de 1,2 unidade de tecido,
que é quanto pagam domesticamente.
Por outro lado, os Ingleses só irão se especializar em tecido se obtiverem, por
cada unidade, no mercado internacional, mais de 0,83 (3) unidades de vinho, ou
seja, mais do que recebem internamente. E os Portugueses só estarão dispostos a
especializar-se na produção de vinho se conseguirem comprar mais barato o tecido,
ou seja, se pagarem por uma unidade de tecido menos de 1,125 unidade de vinho.
O argumento sobre as trocas internacionais ainda não está completo, pois
David Ricardo, de acordo com Krugman e Obstfeld (2005), argumenta que para
que dois países tenham interesse na troca e esta de fato se realize, deve-se com-
preender a Razão de Troca Internacional (RTI). Sendo assim, David Ricardo
define os limites para essa Razão, ou seja, demonstrou o objetivo fundamen-
tal desse acontecimento que é baseado na eficácia da troca, isso quer dizer que
ambos os países ganham.
Lembramos que o referido autor não avançou para uma melhor definição
de RTI, em razão de falta de informações que pudessem contribuir para a for-
mulação mais exata. Para essa informação ser completa, deveria ser levado em
conta tanto a oferta quanto a demanda, no entanto, no modelo desenvolvido por
David Ricardo, considera-se apenas a oferta.
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IIIU N I D A D E98
No exemplo anterior, a RTI T/1V obedeceu aos limites estabelecidos por David
Ricardo e, nesse caso, os Portugueses ganham porque vendem mais caro que no
mercado doméstico e os Ingleses também ganham porque compram mais barato.
A ideia fundamental da troca é que, após sua realização, haverá um preço
do vinho em termos de tecido que será comum nos dois países. Sendo assim,
podemos dizer que a Inglaterra importa o vinho e exporta o tecido pelo preço
do tecido relativamente ao vinho deverá, que aumentar. Em Portugal não é
diferente, o preço relativo do vinho também irá aumentar. Então, com novos
preços, os produtores aumentam a produção do bem em que têm vantagem
comparativa.
Outro fato a destacar é que David Ricardo não se preocupou com a divi-
são dos ganhos por cada país. No entanto, podemos considerar que o país mais
beneficiado é aquele para o qual a RTI mais se afasta da interna. Assim, exem-
plificamos a seguir os ganhos de cada país. Salientamos que ambos os países
ganham, no entanto não equitativamente.
Para melhor entendimento sobre o exemplo a seguir, vamos supor que
RTI T/1V =1 e que cada país necessita de uma unidade de cada um dos bens para
satisfazer as necessidades internas.
Gastos em horas de trabalho
em Economia fechada
Gastos em horas de trabalho
em livre troca
Bens Bens
País Tecido Vinho Total País Tecido Vinho Total
Inglaterra 100 120 220 Inglaterra 200 - 200
Portugal 90 80 170 Portugal - 160 160
Total 190 200 390 Total 200 160 360
Tabela 4 - A ideia fundamental da troca e os ganhos em escala mundial
Fonte: Africano, Afonso e Alves, (2007, on-line)1.
Com relação a esse exemplo, podemos concluir que o ganho em escala mundial
é uma economia de 30 horas de trabalho para as mesmas unidades dos bens.
Esclarecendo: Portugal poupa 10 horas e a Inglaterra 20 horas. No entanto, como
já destacado, os ganhos não são equitativos. Vamos considerar um outro exem-
plo em que a produção total foi realizada em Portugal.
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Gastos em horas de trabalho
em Economia fechada
Gastos de horas de trabalho concentran-
do a produção no país mais eficiente.
Bens Bens
País Tecido Vinho Total País Tecido Vinho Total
Inglaterra 100 120 220 Inglaterra - - -
Portugal 90 80 170 Portugal 180 160 340
Total 190 200 390 Total 180 160 340
Tabela 5 - Ótimo absoluto em escala mundial
Fonte: Africano, Afonso e Alves, (2007, on-line)1.
Nesse caso, o ganho seria maior, considerando que toda a produção seria reali-
zada em 340 horas, sendo um ótimo relativo. Essa situaçãocausaria problemas em
relação à circulação de capitais e de fatores. Lembrando que, conforme Gonçalves
et al. (1998), nas hipóteses iniciais, David Ricardo considerou imobilidade de
fatores, resultando numa situação de ótimo relativo. No entanto, o comércio inter-
nacional pode permitir uma situação de second best, ou seja, segundo melhor.
Enfim, vamos fechar o modelo de David Ricardo considerando alguns pontos:
■ Modelo um tanto irreal: salientamos que, apesar de ser um tanto irreal,
ele atende à estrutura de custos, defende a especialização industrial para
a Inglaterra, a qual, a longo prazo, leva a ganhos maiores.
■ A especialização não é dissociável dos fatores do crescimento econômico,
da distribuição da renda e da acumulação do capital.
■ Pensamento incorreto com relação às vantagens de um país grande sobre
um país pequeno. O pensamento aqui é que, apesar do país grande, devido
a sua dimensão e poder, obter ganhos do comércio, estando o mesmo com
vantagem relativa comparado a uma nação de dimensão pequena e sem
poder, isso não se verifica nas teorias clássicas. É entendido que, quando
os dois países com dimensão muito diferente trocam entre si, todos os
ganhos podem reverter para a nação menor, enquanto o país grande não
obtém ganhos.
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IIIU N I D A D E100
TEORIA MODERNA: OS QUATRO
TEOREMAS FUNDAMENTAIS
Neste tópico, vamos conhecer a teoria moderna do comércio internacional, a qual
é conhecida como teoria neoclássica do comércio internacional. Salientamos que
as alterações na teoria das trocas, desde as ideias de David Ricardo – defensor
das ideias clássicas –, centraram-se no desenvolvimento do lado da procura e do
lado da oferta, não levando em conta a teoria do valor trabalho. Então, essa cha-
mada teoria moderna de comércio internacional surge como reação às ideias de
David Ricardo. A partir daí, tem-se a origem de duas vertentes que dão forma a
essa nova ideia, as quais, de acordo com Gonçalves et al. (1998), são:
■ Desenvolvida por Stuart Mill e Alfred Marshall, essa vertente referente
ao lado da procura analisa a especialização ao nível dos produtos. Na
verdade, a formulação desenvolvida por David Ricardo fica incompleta,
pois analisa apenas o lado da oferta e ainda não procurou esclarecer de
fato a razão de troca internacional. Posteriormente, Stuart Mill introduz
a análise pelo lado da procura para completar o modelo de D. Ricardo.
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■ Desenvolvida pelos suecos Eli Hechscher e Bertil Ohlin (ex-aluno de
Hechscher), analisa a especialização ao nível dos fatores produtivos, ou
seja, o lado da oferta. Assim, origina-se a chamada teoria pura do comér-
cio internacional, centrada na dotação dos fatores de produção. Esses dois
formuladores procuraram analisar com base na identidade de funções
de produção que, diferentemente de David Ricardo, a base fundamen-
tal desigualdades de tecnologia. E, para Heckscher e Ohlin, é justamente
essa diferença de dotação de fatores produtivos que explica a razão da
troca internacional.
De acordo com Gonçalves et al. (1998), o ponto de partida para a formulação dessa
nova teoria foi o modelo de Cassel sobre o modelo de equilíbrio geral desenvol-
vido por Walras. Trata-se de um modelo em que a determinação das quantidades
e preços relativos dependiam primeiramente da dotação dos fatores, num segundo
momento da tecnologia e, por fim, das preferências dos consumidores.
Nesse sentido, Ohlin modificou esse modelo para aplicá-lo aos estudos inter-
nacionais e intrarregional, o qual ficou conhecido como Hechscher-Ohlin. E ainda:
Esse modelo permitia mostrar que, no caso simples de dois fatores, dois
produtos e duas regiões, o comércio que surgiria, uma vez que cada re-
gião saísse do isolamento, seria baseado na troca de produtos produzidos
relativamente mais baratos em cada região. Esses produtos eram aqueles
cuja produção requeria relativamente maior quantidade do fator abun-
dante em termos domésticos (GONÇALVES et al., 1998, p. 18).
Além da contribuição de Hechscher-Ohlin, outro pensador que contribuiu para
melhorar o modelo da teoria neoclássica foi Paul Samuelson. Sua contribuição
foi desenvolver a teoria sobre os ganhos do comércio, apresentando um novo
problema, que é a equalização dos preços dos fatores produtivos. Sendo assim, a
teoria neoclássica tornou-se uma teoria de 4 teoremas, conhecida também como
Hechscher-Ohlin-Samuelson.
Para melhor compreensão da teoria do comércio internacional, vejamos as
bases fundamentais, que são os quatro teoremas: Teorema de Hechscher-Ohlin,
Teorema de equalização do preço dos fatores, Teorema de Stolper-Samuelson e
Teorema de Rybczynski.
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IIIU N I D A D E102
TEOREMA DE HECKSCHER-OHLIN
Vamos conhecer aqui o modelo de teoria internacional desenvolvido por
Heckscher-Ohlin, lembrando que se trata de um teorema, ou seja, o modelo
recebeu contribuições posteriores que melhoram sua análise.
Iniciamos partindo dos pressupostos indicados por Gonçalves et al. (1998):
1. Dois países, podemos denominar de N e S, que produzem os mesmos
produtos, numa situação de mercado competitivo internamente. Os pro-
dutos são elaborados separadamente e para sua elaboração são utilizados
apenas dois fatores de produção: capital (K) e trabalho (L) para o país S,
e K* e L* para o país N. Levando em consideração que a oferta no inte-
rior de cada país é perfeitamente inelástica.
2. A tecnologia utilizada nos dois países é idêntica e possui retorno de escala.
3. Cada país possui diferentes fatores de produção, sendo assim, vamos con-
siderar que o país S tem maior dotação relativa do fator trabalho. Vamos
colocar no modelo o preço do trabalho (L) em S como sendo w e w* o
preço do L em N, o qual possui sua maior dotação de L que pode ser
determinado pelo fato de que, numa economia autárquica w<w*.
4. Cada país compartilha de padrões de preferências idênticos e homotéti-
cos, ou seja, é um aumento ou redução a partir de um ponto fixo.
Esse último pressuposto carece de uma explicação melhor, pois a partir dele
Gonçalves et al. (1998) acrescenta uma nova premissa.
De acordo com o referido autor, a Figura 3 apresenta um equilíbrio no con-
sumo, isto é, internamente a um país, considerando que o gráfico possui um
conjunto de curvas de indiferença para um indivíduo no país. Nele, podemos
observar que todos os pontos na curva de indiferença U indicam o mesmo nível
de bem-estar para o consumidor. Outro ponto importante é que o consumidor
maximiza sua utilidade, conforme suas restrições orçamentárias.
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Consumo de tecido
Consumo de vinho
Ct
Cv
E U2
U1
U0
Figura 3 - Modelo de Heckscher-Ohlin – Equilíbrio no consumo
Fonte: adaptado Gonçalves et al. (1998).
Dessa forma, os resultados no modelo dependem das preferências do consumi-
dor ou da comunidade como um todo, necessitando de uma curva de indiferença
comunitária. Então, origina-se o quinto pressuposto do modelo:
5. Não só os países, mas todos os consumidores em cada país pos-
suem preferências idênticas ou homotéticas, ou seja, assume-se que
a sociedade pode maximizarseu bem-estar para a sociedade como se
fosse um indivíduo e que um maior nível de bem-estar para a socie-
dade implica um maior nível de bem-estar para cada indivíduo nessa
comunidade.
Agora vamos olhar pelo lado da oferta, pois o lado dos consumidores já conhe-
cemos. Nosso estudo começa pela análise de uma economia autárquica, que
tem curva de possibilidade de produção (PP) conforme Figura 4, que mostra o
produto máximo possível, com os fatores disponíveis, em uma economia com
produção de dois produtos, sendo: vinho (v) e tecido (t).
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IIIU N I D A D E104
Produção de tecido
Produção de vinhoV
P
P
E’
Figura 4 - Modelo de Heckscher-Ohlin – Equilíbrio na produção
Fonte: adaptado Gonçalves et al. (1998).
Conforme podemos observar na Figura 4, a inclinação da curva PP representa
o preço relativo de v com relação a t. Assim, a produção ocorrerá, numa situ-
ação de livre concorrência, no ponto E’, ponto este em que a curva de preço
tangencia a curva de possibilidade de produção. Nesse ponto, o produto é
otimizado, ou seja, a esses preços relativos qualquer mudança nos níveis de
produção de qualquer produto levará a uma redução do valor da produção
nacional.
Agora vejamos pelo lado do mercado: o equilíbrio se dá no ponto em que se
iguala o lado da demanda e oferta de cada bem a um determinado nível de pre-
ços relativos. O nível de preço de equilíbrio é dado pela inclinação da curva PP,
no ponto que tangencia Ea com a curva de indiferença comunitária Ua e com a
curva PP qq, como podemos observar na Figura 5.
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Produção e consumo
de tecido
Produção e consumo
de vinho
V
P
P
Eaqt’
Ua
Figura 5 - Modelo de Heckscher-Ohlin – Equilíbrio em autarquia.
Fonte: adaptado Gonçalves et al. (1998).
Bem, vimos até aqui a economia autárquica. Neste ponto, vamos expandir a aná-
lise para a situação de abertura econômica. Podemos perguntar: o que muda com
a abertura do comércio? A resposta é: muda o preço de equilíbrio, que na econo-
mia autárquica era determinado pela demanda e oferta. Agora, com a abertura
do comércio, os preços relativos de cada produto são ajustados para equalizar a
demanda e oferta na economia mundial.
De acordo com o gráfico a sehuir, podemos observar que o equilíbrio do
país autárquico é o ponto Ea e o equilíbrio do livre comércio é o ponto Elc. A
linha P’ mostra os preços de equilíbrio em escala mundial. Lembrando que os
preços relativos em P’ diferem dos preços de uma economia autárquica P, como
apresentado na Figura 6.
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IIIU N I D A D E106
Produção e consumo
de tecido
Produção e consumo
de vinho
QvCv
Elc
Ulc
UaEa
P
P*QQt
Cta
Ct
Figura 6 - Modelo de Heckscher-Ohlin – Equilíbrio em livre mercado
Fonte: Gonçalves et al. (1998, p. 22).
Vamos entender um pouco mais a Figura 6, que demonstra o equilíbrio de mer-
cado. Podemos perguntar: e como fica a produção? A resposta é que a produção
doméstica, ou economia autárquica, é mostrada pelo ponto P’, que tangencia a
curva de possibilidade de produção doméstica. O consumo doméstico é verifi-
cado na tangência dos pontos Elc e Ulc da curva de indiferença.
De acordo com o gráfico, o modelo de economia produz quantidade de
Vinho (Qv) e quantidade de tecido (Qt), e o consumo de ambos os produ-
tos sendo Cv e Ct. Nesse caso, a economia exporta vinho e importa tecido. A
exportação é dada por Qv-Cv. O consumo de tecido nessa economia é igual a
Ct. Podemos ver que o consumo de vinho não alterou a economia autárquica
para o livre comércio, no entanto o consumo de tecido aumenta de Cta para
Ct. Nessa situação, o ganho com a abertura do comércio exterior foi apenas
a região onde estão os pontos Ct, Elc, Cta e Ea, representando um ganho de
bem-estar dos consumidores desse país, da curva de indiferença Ua para curva
de indiferença comunitária Ulc.
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A validação do modelo sob o teorema de Heckscher-Ohlin depende de mais
dois pressupostos, sendo:
6. A balança comercial de ambos os países deve estar em equilíbrio.
7. Não existe reversão na intensidade de uso dos fatores para o mesmo pro-
duto internacionalmente.
Entretanto, Gonçalves et. al. (1998) salienta que as hipóteses acimas mencionadas
levam a um padrão de comércio de forma indeterminada, em razão da hipótese
6 ser pouco realista, pois um balanço de pagamentos não equilibrado levaria a
alterações da riqueza alternando o ponto de equilíbrio do comércio. Quanto à
hipótese 7, o argumento é de que não haver reversão na intensidade dos fatores
leva a uma limitação do modelo.
TEOREMA DE EQUALIZAÇÃO DE PREÇOS
Estudaremos esse teorema dando continuidade à economia hipotética de dois
produtos, vinho e tecido, conforme foi visto no teorema anterior. Iniciando nosso
estudo de equalização de preços, vamos levar em consideração a combinação de
salário real e o custo do capital, que leva a um retorno real igual a zero.
Lembrando que o salário real e o custo de capital não podem ser diferentes
em dois setores da economia, pois, se assim o fossem, moveriam os fatores para
o setor de remuneração mais alta.
Dessa forma, Gonçalves et al. (1998) argumentam que o equilíbrio deve ser
e consiste na dotação de fatores da economia e o preço desses fatores deve ser
determinado pela tecnologia e pelo custo das mercadorias. Considerando que
no livre mercado os preços dos fatores de produção são iguais no mundo, está
de acordo com os postulados do teorema da equalização dos preços.
O teorema de equalização dos preços leva a uma completa equalização dos
preços, levando em conta que os fatores de ambos os setores da economia, vinho
e tecido, estão plenamente empregados. Assim, o comércio internacional con-
tribui para a redução das diferenças internacionais entre os fatores de produção.
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IIIU N I D A D E108
TEOREMA DE STOLPER-SAMUELSON
Esse teorema foi desenvolvido por W. Stolper e Paul Samuelson, os quais buscaram
tratar da relação do preço dos fatores com o preço das mercadorias comerciali-
zadas. Assim, o teorema mostra que os preços dos fatores são dependentes dos
preços das mercadorias.
Esclarecendo, o referido teorema indica que uma mudança no preço de uma
das mercadorias comercializadas internacionalmente leva a uma alteração mais
do que proporcional em ambos os fatores. Melhorando a ideia: um aumento no
preço de tecido com relação ao preço do vinho leva a um aumento mais do que
proporcional ao preço do fator usado intensivamente na produção desse produto.
O Teorema buscou discutir o efeito de uma tarifa que alterasse o preço de
um produto importado sem afetar os preços mundiais. De acordo com essa situ-
ação, haveria uma transferência de renda para o fator usado abundantemente na
produção de uma mercadoria protegida. Por exemplo: se um determinado país
decidisse proteger sua indústria de tecido, estaria também aumentando mais que
relativamente a taxa de retorno do capital sobre os salários reais.
O teorema de Stolper-Samuelsonfoi argumentado por outro estudioso,
Pomflet, que procurou mostrar o efeito ampliação de tal teoria. A argumenta-
ção é a seguinte: se a taxa de retorno do capital e dos salários reais crescem mais
que 10%, então o preço do tecido teria que crescer mais que 10%. Em contra-
partida, se a taxa de retorno do capital e dos salários reais crescem menos que
10%, isso também seria verdadeiro para o preço dos tecidos. Logo, para que os
preços dos tecidos cresçam exatamente 10%, é necessário que o preço do capi-
tal cresça mais que 10% e do trabalho menos que 10%.
Assim, esse teorema estabelece uma ordem nas mudanças proporcionais no
preço dos fatores e dos produtos, sendo: o aumento inicia-se pelo capital que,
por sua vez, aumenta o preço dos tecidos, o qual irá aumentar o preço do vinho
e, por fim, o preço dos salários reais.
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TEOREMA DE RYBCYNSKI
Esse é o último teorema da escola neoclássica. O referido teorema procurou
mostrar que, dado o preço dos fatores, ou seja, estes se mantêm constantes, as
mudanças ocorrem nas alterações na dotação dos fatores de produção que, por
sua vez, ocasionam o nível total de produção das mercadorias. A discussão desse
teorema é o efeito da variação das quantidades dos fatores sobre as mercado-
rias produzidas.
Conforme Gonçalves et al. (1998), esse teorema mostra que com o cresci-
mento da oferta de um fator de produção é possível observar o efeito ampliação,
ou seja, com o crescimento mais que proporcional do produto da mercadoria
que usa de maneira intensiva o fator que aumentou.
O efeito ampliação destacado nesse teorema é semelhante ao do Stolper-
Samuelson, considerado de forma intuitiva. Exemplo: vamos considerar que a
oferta de trabalho aumente em 10% e que os preços permaneçam inalterados.
Logo, considerando os mesmos dois produtos, nessa situação os produtos de
ambos os setores não poderiam crescer mais que 10%, pois seria necessário o
uso de mais capital. Em contrapartida, também não poderiam crescer menos
que 10%, pois indicaria mão de obra desempregada.
Assim, de forma conclusiva a esse exemplo, o produto que faria uso intensi-
vamente do trabalho deveria crescer mais que 10%, já que aumentou sua oferta
de trabalho em 10%. Todavia, o aumento do produto desse setor causaria um
deslocamento de capital do setor intensivo nesse setor. Como a oferta de capi-
tal não se alterou, é necessário que haja uma queda na produção da mercadoria
que usa intensivamente o fator capital.
Enfim, finalizamos o estudo sobre os quatro teoremas.
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O MODELO DE HECKSCHER-OHLIN
Vamos conhecer o modelo de recursos e comércio conhecido como modelo de
Heckscher-Ohlin. Esse modelo enfatiza a inter-relação entre os fatores de pro-
dução diferentes disponíveis em diferentes países e as proporções em que eles
são utilizados na produção de diferentes bens, sendo assim chamado de teoria
das proporções dos fatores. O modelo mostra que a vantagem comparativa é
influenciada pela abundância relativa de fatores (refere-se a países) e pela inten-
sidade relativa de fatores (refere-se a bens).
Vimos que o comércio internacional traz benefícios ou ganhos às nações parti-
cipantes. Entretanto, devemos refletir nas diferenças produtivas entre eles, que
em teorias anteriores são justamente o motivo para trocar mercadorias. Então,
se as estruturas produtivas de cada país são diferentes, será que de fato há ga-
nhos, por exemplo, como a equalização de preços, no comércio internacional?
O Modelo de Heckscher-Ohlin
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Como hipótese do modelo, vamos destacar primeiramente uma situação
em que não há comércio, ou seja, vamos analisar as proporções dos fatores sem
considerar o resto do mundo, apenas o país local. As hipóteses destacadas em
Krugman e Obstfeld (2005) são:
■ Uma economia pode produzir dois bens, roupas e alimentos.
■ A produção desses bens requer dois insumos que têm oferta limitada:
trabalho (L) e terra (S).
■ Nos dois países, a produção de alimentos é terra-intensiva, enquanto a
produção de tecidos é trabalho-intensiva.
■ A concorrência perfeita prevalece em todos os mercados.
Nesse modelo, a quantidade utilizada de insumos, seja terra ou trabalho, vai
depender da disponibilidade do produtor, já que, em uma economia com fato-
res, é possível o produtor fazer escolhas e produzir mais de um produto com
certa quantidade de insumos e menos do outro, como mostrado na Figura 7:
Insumo terra por unidade
aSA , em alqueires por caloria
Insumo trabalho por unidade
aLA , em horas por caloria
Combinações de insumos
que produzem uma
caloria de alimento
Figura 7 - Possibilidades de insumos na produção de alimentos
Fonte: Krugman e Obstfeld (2005).
Conforme a Figura 7, o produtor ou agricultor pode produzir mais alimento com menos
terra se utiliza mais trabalho e vice-versa. Enfim, a figura apresenta as diversas com-
binações entre os insumos que irão ao encontro da escolha do produtor ao produzir.
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IIIU N I D A D E112
Então, a pergunta básica para esse produtor é: qual a escolha do insumo? A
resposta não é tão simples, pois depende do custo relativo entre os fatores. Isso
quer dizer que depende da razão terra/trabalho. Consideremos o caso em que a
renda produzida pela terra é alta e os salários baixos, os agricultores escolherão
produzir utilizando pouca terra e muito trabalho. E, no caso contrário, se as rendas
forem baixas e os salários altos, eles pouparão o trabalho e utilizarão mais terra.
Essa situação podemos observar na Figura 8, que mostra as razões entre o
fator terra e trabalho que são utilizados na produção conforme o custo do tra-
balho em relação a terra.
■ A curva AA indica as escolhas da razão terra-trabalho.
■ A curva TT indica as escolhas correspondentes a produção de tecido.
Razão salário-renda
da terra, w / r
Razão terra-trabalho, S / L
TT
AA
Figura 8 - Preço de fatores e escolhas de insumos
Fonte: Krugman e Obstfeld (2005).
Conforme a Figura 8, podemos entender que a qualquer preço dos fatores de pro-
dução, o produtor sempre irá escolher um tipo de insumo ao produzir. Assim,
a intensidade vai depender da razão entre os insumos. Dessa maneira, um bem
não pode ser ao mesmo tempo terra-intensivo e trabalho-intensivo.
Vimos até agora que o modelo funciona para uma economia local, ou seja, na
ausência do comércio. Agora vejamos como funciona para o comércio internacio-
nal. Para isso, vamos assumir novas hipóteses para o modelo de Heckscher-Ohlin,
que, conforme Krugman e Obstfeld (2005), são:
O Modelo de Heckscher-Ohlin
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■ Há dois países (local e estrangeiro), que têm:
■ os mesmos gostos;
■ a mesma tecnologia;
■ recursos diferentes.
■ O local possui uma razão entre trabalho e terra mais alta que a do
estrangeiro.
■ Cada país tem a mesma estrutura de produção de uma economia com
dois fatores.
Conforme essas hipóteses, os preços relativos e o padrão de comérciosão postos
considerando que o local possui razão trabalho e terra mais alta que o estran-
geiro, ou seja, o estrangeiro é abundante em terra e o local abundante em trabalho.
Como o comércio leva à convergência dos preços relativos, isso indica que os
preços dos dois produtos serão iguais. Então, podemos dizer que os países pos-
suem diferenças em abundância de fatores para qualquer preço relativo entre os
dois bens. Assim, quando local e estrangeiro fazem comércio entre si, os preços
terão convergência, e, os países tendem a exportar os bens nos quais a produção
é intensiva em fatores dos quais são dotados abundantemente.
Resumindo, o modelo Heckscher-Ohlin foi entendido primeiramente para uma
economia local e expandido para uma economia no comércio internacional. Em
ambos os casos observamos que se aplica o modelo.
Para conhecer uma aplicação do modelo de proporções dos fatores especí-
ficos, que é o modelo de Hechscher-Ohlin, o artigo “Liberalização comercial,
salários reais e emprego: uma aplicação do modelo de fatores específicos
para o Brasil”, de Frederico Hartmann de Souza, apresenta o impacto da libe-
ralização comercial no Brasil utilizando o referido modelo.
O artigo está disponível por meio do seguinte link: <http://www.anpec.org.
br/novosite/br/encontro-2010>.
Fonte: a autora.
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EXTENSÕES DA TEORIA DA
VANTAGEM COMPARATIVA:
ECONOMIAS DE ESCALA, COMPETIÇÃO
IMPERFEITA E COMÉRCIO INTERNACIONAL
Neste tópico, trataremos sobre a economia de escala e a concorrência imperfeita
no mercado internacional. Vamos lembrar que o modelo de vantagens compa-
rativas apresenta e está fundamentado na hipótese de retornos constantes de
escala – isso indica que se os insumos de uma indústria duplicassem, o produto
dessa indústria também duplicaria. Entretanto, na realidade, as firmas apresen-
tam economias de escala, ou seja, ao dobrar os insumos em uma indústria, sua
produção mais que dobra. Por outro lado, os custos médios por unidade produ-
zida reduzem o tamanho do mercado. Assim, pressupõem que uma indústria é
mais eficiente quanto maior for a escala que ela opera.
De acordo com Krugman e Obstfeld (2005), as economias de escala podem
ser externas e internas, como segue:
■ Externas: indica que o custo por unidade depende do tamanho da indús-
tria; uma indústria consiste na formação de muitas firmas pequenas, com
estrutura de mercado de concorrência perfeita.
Extensões da teoria da vantagem Comparativa:
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■ Internas: indica que o custo por unidade depende do tamanho da firma
individual; e a estrutura de mercado será de concorrência imperfeita, com
firmas grandes com vantagens de custo sobre as pequenas.
Então, vejamos na seção seguinte como a economia de escala funciona em uma
economia de concorrência imperfeita.
TEORIA DA CONCORRÊNCIA IMPERFEITA
Primeiramente, é preciso esclarecer o que é um mercado de concorrência imper-
feita; assim, podemos definir que se trata de um mercado em que há muitos
compradores e vendedores e nenhum deles representa uma grande parcela do
mercado. Então, para melhor compreensão do modelo, assume-se algumas hipó-
teses, tais como:
■ As firmas estão conscientes de que podem influenciar os preços de seus
produtos.
■ As firmas sabem que somente podem vender mais ao reduzir seu preço.
■ Cada firma considera-se uma formadora de preço ao escolher o preço de
seu produto, em vez de ser uma tomadora de preço.
Alertando que, conforme a microeconomia, a estrutura de mercado de concor-
rência imperfeita mais simples é a de monopólio puro, em que uma firma não
tem concorrência. Então, vamos conhecer a estrutura de monopólio.
A. Monopólio
Essa estrutura mostra a posição de apenas uma única firma monopolista.
Nessa situação de monopólio, a firma pode vender mais unidades de um pro-
duto se o preço baixar. E, caso a firma queira vender uma unidade adicional
de sua produção, ela deve diminuir o preço de todas as unidades vendidas.
E os custos, como são no monopólio?
Considerando uma economia de escala, quanto maior a produção da firma
menores serão seus custos por unidade, isto é, a produção da firma é seu
custo total dividido por produto.
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IIIU N I D A D E116
E o lucro do empresário, como ocorre?
O lucro do monopolista é aquele em que a receita marginal se iguala ao
custo marginal, sendo Rmg=Cmg, ou seja, a receita de vender uma uni-
dade adicional igualando ao custo em produzir uma unidade adicional.
B. Concorrência monopolística
Na estrutura de mercado conhecida como concorrência monopolística,
as firmas que são caracterizadas por economias de escala internas são as
de oligopólio. Assim, podemos definir que um mercado oligopolizado é
aquele em que há diversas firmas, cada uma é grande o suficiente para
afetar os preços, mas nenhuma com um monopólio incontestável. Dessa
forma, cada firma, ao determinar seu preço, considera como essa deci-
são pode afetar as reações dos concorrentes.
Krugman e Obstfeld (2005) argumentam que, em modelos de concorrên-
cia monopolista, deve-se considerar duas hipóteses para um caso especial
de oligopólio, em que os preços das firmas são interdependentes, sendo:
■ Supõe-se que cada firma é capaz de diferenciar seu produto em rela-
ção ao produto de seus rivais.
■ Supõe-se que cada firma tome os preços cobrados por seus concor-
rentes como dados.
Como resultado, mostra-se que cada firma enfrenta a concorrência de
outras, então ela se comporta como se fosse monopolista.
Bem, então podemos perguntar: quando a firma está em equilíbrio?
A resposta é que, partindo do pressuposto de que todas as empresas nesse
setor são simétricas, elas apresentam função de demanda e custos idên-
tica às outras firmas. Então, fica a pergunta: quantas ficam consistentes
nesse mercado? Para isso, deve-se determinar o número de firmas e o
preço médio que elas cobram, o que envolve três passos:
Extensões da teoria davantagem Comparativa:
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1. Estabelece-se uma relação entre o número de firmas e o custo médio
de uma firma típica: quanto mais firmas houver na indústria, maior
será o custo médio.
2. Mostra-se a relação entre o número de firmas e o preço que cada uma
cobra: o preço cobrado por uma firma típica depende do número de
firmas na indústria. Quanto mais firmas, mais intensa a concorrên-
cia e, portanto, menor o preço.
Mostra-se o número de firmas no equilíbrio e o preço médio cobrado
por elas: quanto mais firmas houver, mais concorrência cada uma enfren-
tará. Se o número de firmas aumentar, cada firma venderá menos, de
modo que elas não poderão se mover muito para baixo sobre sua curva
de custo médio.
Conforme Gonçalves et al. (1998), a concorrência monopolística é a dis-
cussão mais importante para o comércio internacional, pois a maior
parte do comércio ocorre entre os países que comercializam os mesmos
produtos. Isso quer dizer que não há forte fluxo comercial entre os paí-
ses centro-periferia.
Isso é explicado no fato de os produtos similares serem vistos pelos consu-
midores como diferentes, em função de características reais ou imaginárias,
de marca, preferências individuais, entre outras.
No entanto, em um mercadode concorrência imperfeita, em que a con-
corrência se faz por meio da diferenciação de produtos, os ganhos do
comércio podem ser observados pelo aumento de variedades de produtos.
Enfim, chegamos ao final de mais uma unidade. Esperamos que tenha ampliado
seus conhecimentos. Até a próxima!
TEORIAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL
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IIIU N I D A D E118
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao final da unidade e com o conhecimento sobre as teorias do comér-
cio internacional. Vimos as teorias clássicas, partindo do pressuposto de que as
relações econômicas entre diferentes povos sempre existiram, mesmo antes das
relações políticas e culturais entre os mesmos serem formadas. Então, passamos
pela escola anterior à escola clássica, o Mercantilismo, que priva essa relação eco-
nômica entre os povos.
Na escola clássica, conhecemos as principais teorias desenvolvidas pelo pai
do liberalismo econômico, Adam Smith, baseadas nas vantagens absolutas, indi-
cando que cada país deve produzir e vender o produto que consegue produzir
mais barato e importar o produto que produz mais caro. Posteriormente a isso,
outro pensador, David Ricardo, ampliou o conceito das vantagens absolutas,
passando a chamá-las de vantagens comparativas, que correspondem às vanta-
gens de custos de produção, ou seja, implica na especialização de cada país na
exportação do produto sobre o qual tem vantagens comparativas. Assim, todos
os países irão lucrar com o comércio, exceto na situação em que a estrutura de
custos relativos desses dois países for idêntica.
Posteriormente às teorias clássicas de comércio internacional, vimos as teo-
rias neoclássicas do comércio internacional, as chamadas teorias modernas. Essas
teorias são conhecidas como quatro teoremas, que ampliam as ideias de comer-
cializáveis para as proporções dos fatores produtivos. Nessa escola, vimos os
teoremas de Hechscher-Ohlin, o teorema de equalização dos preços, situação em
que há convergência dos preços internacionais, o teorema de Stolper-Samuelson,
em que se buscou estudar o efeito de uma tarifa que alterasse o preço de um pro-
duto importado sem afetar os preços mundiais.
E, por fim, o teorema de Rybcynski procurou mostrar, mantendo os preços
inalterados, quais seriam as mudanças na dotação dos fatores e o que pode-
riam ocasionar no nível de produção das mercadorias, além de ver os ganhos
do comércio mediante a economia de escala numa economia de concorrência
monopolística.
Esperamos que tenham gostado dos novos conhecimentos!
Considerações Finais
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1. O Mercantilismo, conforme Gonçalves et al. (1998), foi uma economia política
do Estado Absolutista. Surgiu na Europa Ocidental no século XVIII, criando a vi-
são moderna do mundo. Sobre o Mercantilismo, assinale a alternativa correta:
a) Surgiu como sistema econômico, sendo uma reação à ordem estabelecida e
opondo-se ao poder local ou da cidade, ao poder universal ou supranacio-
nal da igreja.
b) A política comercial mercantilista reforça o poder do trabalhador, que de-
fendia a unificação econômica, jurídica e administrativa nacional.
c) O mercantilismo foi a formulação de políticas internacionais que possuía um
conjunto de doutrinas com a finalidade de obter progresso econômico.
d) Os mercantilistas sabiam que a entrada de metais preciosos era isenta de
cobrança de impostos.
e) Os mercantilistas sabiam que o aumento do montante de ouro e prata em
circulação aumentava as taxas de juros e reduzia o comércio.
2. Conforme o pensamento de Smith, a riqueza das nações é o resultado do au-
mento de produtividade do trabalho. Sobre a teoria desenvolvida por Smith,
assinale a alternativa correta.
a) A divisão de trabalho é o resultado da propensão da natureza humana em
produzir.
b) O país produz mais dos produtos que faz com maior eficiência e consumindo
menos produtos do que seria capaz na ausência do comércio internacional.
c) Para Smith, a riqueza das nações é a produtividade do trabalho; assim, cria-se
uma divisão do trabalho.
d) O comércio internacional seria possível somente quando se tem a capacida-
de de produzir um bem com mais insumos.
e) Quando houver um produto de qualquer setor da indústria que exceda a
demanda interna de um país, o excedente deve ser estocado.
3. A preposição do estudo sobre o comércio internacional desenvolvido por David
Ricardo é de que as vantagens comparativas são as causas dos ganhos do co-
mércio. Sobre a teoria das vantagens comparativas, assinale a alternativa correta.
a) O comércio bilateral é sempre mais vantajoso do que em uma economia
fechada, conhecida como autarquia.
b) Para as duas economias envolvidas no comércio bilateral, a estrutura de pro-
dução deve ser idêntica.
c) A tecnologia não exerce influência nas diferenças internacionais de produção.
121
d) As economias empregam uma quantidade de trabalho para a produção de
seus produtos, sendo este um dos dois fatores de produção utilizados.
e) Balança comercial não precisa estar em equilíbrio.
4. Heckscher-Ohlin são dois teóricos que centraram seu estudo na dotação dos
fatores de produção. Sobre o teorema de Hechscher-Ohlin, assinale a alterna-
tiva correta:
a) Há diferença de tecnologia utilizada nos dois países.
b) Os retornos nos dois países são decrescentes de escala.
c) Os resultados do modelo são indiferentes às preferências do consumidor ou
da comunidade como um todo
d) O consumidor maximiza sua utilidade, sem levar em conta suas restrições
orçamentárias.
e) Assume-se que a sociedade pode maximizar seu bem-estar para a socieda-
de como se fosse um indivíduo.
5. A economia de escala é uma extensão à teoria das vantagens comparativas.
Sobre a economia de escala, assinale a alternativa correta:
a) Uma indústria é mais eficiente quanto menor for a escala que ela opera.
b) O modelo de vantagens comparativas pressupõe retornos constantes de es-
cala, ao passo que a economia de escala pressupõe um crescimento maior
da produção do que a utilização dos insumos.
c) Os custos médios por unidade produzida aumentam o tamanho do mercado.
d) As economias de escala interna indicam que o custo por unidade depende
do tamanho da indústria.
e) As economias de escala externa indicam que o custo por unidade depende
do tamanho da firma individual.
122
MUDANÇAS NA ESTRUTURA DO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO:
UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DA TEORIA DE HECKSCHER-OHLIN
Esse artigo, escrito pelos autores Hidalgo e
Feistel (2013), foi escolhido por mostrar uma
análise baseada na teoria das proporções de
insumos, conhecida como Teoria de Hecks-
cher-Ohlin. Um caso aplicado às mudanças
na estrutura do comércio brasileiro.
O objetivo desse trabalho é analisar as
mudanças ocorridas na estrutura do comér-
cio exterior brasileiro, após a abertura
comercial, em termos de uso dos recursos
produtivos disponíveis. Na última década,
as exportações brasileiras apresentaram um
crescimento significativo e uma mudança
na sua estrutura. Esse crescimento e essa
mudança verificada na estrutura estão
relacionados ao processo de crescimento
econômico, à expansão do comércio mun-
dial e às estratégias comerciais que foram
seguidas pela economia brasileira no pas-
sado. A partir do fim da década de 80, os
formuladores da política econômica bra-
sileira começaram a introduzir algumas
medidas de livre comércio, a fim de tornar
a economia brasileira mais competitiva e
moderna.
Como dito anteriormente, o objetivo desse
trabalho consiste em analisar as mudanças
acontecidas naestrutura do comércio exte-
rior brasileiro após a abertura comercial, em
termos de uso dos recursos produtivos na
economia brasileira e de aproveitamento
ou não de vantagens comparativas nos
moldes da teoria das proporções de fato-
res de Heckscher-Ohlin.
A análise, nesse artigo, é realizada com
base na teoria das proporções de fatores,
na versão de modelo de três fatores: traba-
lho, recursos naturais e capital. Utilizando
a técnica de insumo-produto, o conteúdo
dos fatores produtivos no comércio é men-
surado, enquanto é analisada a tendência
de longo prazo de especialização da eco-
nomia brasileira em termos das vantagens
comparativas, segundo a teoria de Hecks-
cher-Ohlin.
Os resultados obtidos mostram uma ten-
dência de longo prazo de aumento de
participação dos produtos intensivos em
recursos naturais, além de queda de par-
ticipação dos produtos intensivos em
capital e trabalho na pauta de exporta-
ções brasileiras. Por outro lado, no que se
refere às importações, estas mostram uma
inequívoca tendência de crescente partici-
pação de produtos intensivos em capital e
uma queda de participação de produtos
intensivos em recursos naturais, portanto
condizentes com os preceitos das vanta-
gens comparativas de Heckscher-Ohlin.
Para ter acesso ao material na íntegra,
acesse: <https://www.revistas.usp.br/ee/
article/viewFile/46744/56182>.
Fonte adaptado de: Hidalgo e Feistel (2011,
p. 79).
A Riqueza das Nações: uma Investigação sobre a Natureza
e as Causas da Riqueza das Nações
Adam Smith
Editora: Madras
Sinopse: o clássico A Riqueza das Nações, abreviação de Uma Investigação
sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações, foi escrito por Adam
Smith, muitas vezes citado como o pai da economia moderna. A obra,
publicada pela primeira vez em 1776, infl uenciou, além de muitos
escritores e economistas, governos e organizações.
“Teorias do comércio internacional: um debate sobre a relação entre crescimento
econômico e inserção externa”
Trata-se de um artigo acadêmico que tem como objetivo analisar a importância conferida aos
ramos industriais de alta tecnologia no processo de crescimento econômico, em sua relação com
o comércio internacional.
Web: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-31572012000200004>
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
REFERÊNCIAS
BRUE, S. L. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Thomson, 2006.
GONÇALVES, R. et al. A nova economia internacional: uma perspectiva brasileira.
Rio de Janeiro: Campus, 1998.
HIDALGO, A. B.; FEISTEL, P. R. Mudanças na Estrutura do Comércio Exterior Brasileiro:
Uma Análise sob a Ótica da Teoria de Heckscher-Ohlin. Revista Estudos Econômi-
cos, São Paulo, v. 43, n.1, p.79-108, jan./mar., 2013. <https://www.revistas.usp.br/ee/
article/viewFile/46744/56182>
KRUGMAN, P. R.; OBSTFELD, M., Economia Internacional: teoria e política. 5. ed. São
Paulo: Makron Books, 2005.
SALVATORE, D. Economia Internacional. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2013.
SMITH, A. A riqueza das nações: uma investigação sobre a natureza e as causas da
riqueza das nações. São Paulo: ed., Madras, 2009.
REFERÊNCIA ON-LINE
1 Em: <https://www.fep.up.pt/disciplinas/lec207/Apoio/EI_Classicos.pdf>. Acesso
em: 21 jun. 2018.
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GABARITO
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Professora Dra. Luciane Cristina Carvalho
POLÍTICAS COMERCIAIS
Objetivos de Aprendizagem
■ Compreender os diversos instrumentos de política comercial que os
governos podem fazer em direção ao comércio internacional.
■ Apreender os argumentos mais sofisticados para a política comercial
mais intervencionista com respeito às externalidades e produção em
escala mundial.
■ Saber sobre as políticas comerciais que os países em
desenvolvimento adotaram para tentar se industrializar e também
para buscar o crescimento econômico.
■ Entender os argumentos contra o livre comércio, ou seja, os
argumentos que restringem as transações internacionais.
■ Apreender os argumentos a favor do livre comércio, ou seja, entender
os motivos para que não ocorra intervenção do governo com
políticas comerciais.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Instrumentos de política comercial
■ Política de estratégia comercial
■ Política comercial para países em desenvolvimento
■ Argumentos para restringir o comércio
■ Argumentos a favor do comércio
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) à Unidade 4 de estudo!
Continuamos avançando nosso estudo sobre a economia internacional. Essa
é uma área do conhecimento que é atual e sempre está em pauta de discussões e
em modificação, além do comércio internacional ser muito importante para os
países, pois, de maneira geral, todos se beneficiam.
Nesta unidade, vamos aprender sobre os instrumentos de política comercial
que são as ações que os governos dos países realizam em direção ao comércio
internacional. Essas ações são de diversos tipos; destacamos as “tarifas adua-
neiras”, que correspondem ao imposto que é cobrado quando se importa uma
mercadoria, além de ser a mais simples das políticas de comércio. Discutiremos
também o excedente do consumidor e o excedente do produtor com a adoção
das tarifas aduaneiras. Além disso, vamos falar dos “subsídios à exportação”, que
se traduzem em um pagamento a um indivíduo ou empresa que exporta algo.
A “quota de importação” seria uma espécie de restrição direta na quantidade
importada de alguma mercadoria. Veremos a “restrição voluntária da exporta-
ção” (RVE), que é uma variante da quota de importação, além do “requisito de
conteúdo legal”, que se trata de uma regulamentação a qual obriga que alguma
fração específica do produto seja produzida em território nacional. Vamos ver
também outros instrumentos de política comercial, como os “subsídios de cré-
dito à exportação”, a “procura nacional” e as “barreiras burocráticas”.
Estudaremos a política comercial para países em desenvolvimento princi-
palmente a ideia de substituição de importação, que nada mais é do que trocar
a importação por produção doméstica, ou seja, os países em desenvolvimento
faziam isso na tentativa de se industrializar e também para obter crescimento
econômico.
Por fim, analisaremos os argumentos contrários e favoráveis ao livre comércio:
aqueles que são contra o livre comércio falam das intervenções que os governos
fazem, enquanto os que são a favor do livre comércio dizem que não deve haver
intervenções do governo com políticas comerciais.
Desejamos um ótimo estudo a todos!
Introdução
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INSTRUMENTOS DE POLÍTICA COMERCIAL
Esta unidade irá apresentar as políticas comerciais, ou seja, as ações que os gover-
nos adotam em direção ao comércio mundial. Essas ações podem ser de diversos
tipos, a saber: impostos sobre transações, subsídios, limites legais sobre o valor
ou volume de importações, entre outras medidas. Além disso, ao final da uni-
dade, será possível verificar os efeitos dos instrumentos da política de comércio
a partir de uma tabela resumo.
Vamos iniciar os estudos falando sobre a “tarifa aduaneira”, que é conside-
rada como a mais simples das políticas de comércio. Ela é um imposto que é
cobrado quando se importa uma mercadoria. Quando falamos em uma “tarifa
aduaneira específica”, significa dizer que é cobrada uma taxa fixa para cada uni-
dade de mercadoria importada, por exemplo, paga-se R$ 10,00 reais por cada
celular importado no Brasil. Os impostos denominados de “tarifas aduaneiras ad
valorem” são cobrados como uma porcentagemdo valor da mercadoria impor-
tada, por exemplo, cobra-se 10% (dez por cento) para importar um celular no
Brasil. Nesses dois casos apresentados sobre tarifa aduaneira, o efeito foi o de
aumentar o custo de envios de mercadorias para o país.
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IVU N I D A D E130
Conforme bem colocado por Krugman, Obstfeld e Melitz (2015), a polí-
tica de comércio considerada mais antiga é a tarifa aduaneira, e foi usada como
uma forma de arrecadação pelo governo. O verdadeiro propósito dessa política
é o de proteger alguns setores nacionais e ser fonte de receita para o governo.
No início do século XIX, o Reino Unido fez uso das tarifas aduaneiras, deno-
minadas de Leis de Grãos, para proteger a sua agricultura da concorrência com
as importações. Já no final do século XIX, os Estados Unidos da América e a
Alemanha protegeram seus novos setores industriais adotando tarifas aduanei-
ras nas importações de manufaturas.
Atualmente, a importância das tarifas aduaneiras tem caído, pois os gover-
nos preferem proteger as suas indústrias domésticas adotando uma variedade de
barreiras não tarifárias, por exemplo, as “quotas de importações”, que nada mais
são do que limites à quantidade das importações, as “restrições de exportação”,
que são entendidas como uma limitação na quantidade de exportação que foi
imposta pelo país exportador a pedido do país que está importando.
Agora, vamos ilustrar um exemplo gráfico da adoção de uma tarifa aduaneira.
Para facilitar a nossa análise, vamos admitir que existam dois países, o país “D”,
que seria o país doméstico, e o país “E”, que seria o país estrangeiro. Ambos pro-
duzem e consomem o produto arroz, que pode ser transacionado entre eles sem
custo. Individualmente, a estrutura de mercado do arroz em cada país é perfeita-
mente competitiva, na qual as curvas de demanda e oferta são funções do preço
do mercado. Vale ressaltar que tanto a oferta quanto a demanda de cada país vai
depender do preço em termos da moeda de cada país. Vamos admitir também que
a taxa de câmbio entre as duas moedas (do país doméstico e do país estrangeiro)
não são afetadas por qualquer tipo de política comercial adotada no mercado.
É importante ressaltar que o comércio internacional somente irá ocorrer
se os preços do arroz forem diferentes na ausência do comércio. Sendo assim,
vamos supor que, na ausência do comércio mundial, o preço do arroz é maior
no país D do que no país E. Dessa forma, é possível que haja comércio entre os
dois países. Como o preço do arroz é maior em D, começa a ocorrer comércio,
em que se exporta arroz de E para D, fazendo com que o preço do arroz suba
em E e caia em D – esse movimento de preços termina quando não houver dife-
rença de preços entre os dois países.
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Para determinar a quantidade transacionada e o preço internacional, preci-
samos definir duas novas curvas, a “curva de demanda de importação” do país
D e a “curva de oferta de exportação” do país E, que serão derivadas das curvas
de oferta e demanda nacionais de cada país. A importação de D, que seria a sua
demanda, se traduz no excesso de demanda dos consumidores de D sobre a pro-
dução doméstica, ou seja, a sua demanda é maior que a própria produção, por
isso a necessidade de importar. A obtenção da curva de demanda por importa-
ção de D se dá a seguir: conforme o preço do arroz aumenta, os consumidores do
país D demandam menos, enquanto os seus produtores fornecem mais, fazendo
com que a demanda por importações diminua.
Já a exportação de E, que seria a sua oferta, são os produtos produzidos por
E que não foram consumidos no próprio país e, por isso, são exportados. Aqui, a
curva de oferta de exportação de E é obtida da seguinte forma: conforme o preço
do arroz aumenta, os consumidores de E demandam menos enquanto os pro-
dutores de E ofertam mais, de modo que a oferta total para exportar aumenta.
O preço internacional de equilíbrio ocorre quando a oferta de exportação de E
se iguala com a demanda de importação de D, ou seja, quando a oferta mundial
for igual a demanda mundial.
Agora, ainda nesse mesmo exemplo do arroz, vamos incluir a tarifa adua-
neira e verificar seu efeito. Krugman, Obstfeld e Melitz (2015) explicam que, para
o exportador, a tarifa aduaneira é como se fosse uma espécie de custo de trans-
porte. Supondo que o país D colocou uma taxa de R$ 5 reais para cada tonelada
de arroz importada, o exportador ficará relutante em exportar, a não ser que a
diferença de preços entre os dois países seja de, ao menos, R$ 5 reais. Com a
adoção dessa tarifa, caso o arroz não fosse transacionado no mercado mundial
devido ao seu preço com tarifa, iria existir um excesso de demanda por arroz
em D e um excesso de oferta em E. Desse modo, o preço em D iria aumentar,
enquanto que em E iria cair, até que essa diferença compensasse o valor da tarifa.
É importante ressaltar que, na ausência de tarifas, os preços de D e de E iriam
se igualar, devido ao equilíbrio no mercado internacional.
É possível dizer que a adoção de uma tarifa aduaneira abriu uma lacuna entre
os preços dos dois países. Essa tarifa aumentou os preços em D e diminuiu em
E. No país doméstico, D, os produtores iriam ofertar mais arroz no preço maior,
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IVU N I D A D E132
ao mesmo tempo em que os consumidores demandariam menos, fazendo com
que ocorressem poucas importações. No país estrangeiro, E, como os preços
estão mais baixos, há pouca oferta de arroz e aumento de sua demanda, fazendo
com que a oferta para exportação caia. Destarte, o volume de arroz comercia-
lizado diminui.
Esse aumento no preço em D é menor do que o valor da tarifa aduaneira,
pois parte dela se reflete em uma queda no preço de exportação de E e, por conse-
quência, não é repassada aos consumidores de D. Portanto, esse seria o resultado
normal de uma tarifa aduaneira de qualquer política comercial que limite as
importações. No entanto, na prática, o tamanho do efeito no preço dos expor-
tadores é pequeno. Quando um país pequeno impuser uma tarifa aduaneira, a
parcela do mercado internacional para as mercadorias que este país importa é
menor, de forma que a redução na importação teria pouco efeito no preço mun-
dial (exportações estrangeiras).
De maneira geral, o principal objetivo da tarifa aduaneira é o de prote-
ger os produtores domésticos (ou seja, do próprio país) de preços baixos que
resultariam em concorrência da importação, pois uma tarifa aplicada em uma
mercadoria importada iria aumentar o preço recebido pelos produtores domés-
ticos dessa mercadoria.
A tarifa aduaneira irá aumentar o preço de uma mercadoria no país que
importou e diminuir no país que exportou. O resultado dessa mudança de preço
foi uma perda, por parte dos consumidores, no país que está importando e um
ganho no país que exporta. Os ofertantes (que são os produtores) ganham no
país considerado importador e perdem no exportador. O governo também se
beneficia com a receita da tarifa. A fim de comparar os custos e benefícios, preci-
samos quantificá-los e, para isso, vamos utilizar a ideia de excedente do produtor
e do consumidor.
O “excedente do consumidor” mensura a quantidade que um consumidor
ganha em uma compra ao computar a diferença entre o preço que ele estaria dis-
posto a pagar e o preço que ele realmente pagou. Para exemplificar, imagine que
um determinado consumidor quer comprar uma caneta e está disposto a pagarR$ 3,00 reais, porém o preço é R$ 2,00 reais. Então, o excedente do consumidor
com a compra foi de R$ 1,00 real (R$ 3,00 - R$ 2,00 = R$ 1,00).
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O conceito do “excedente do produtor” é análogo ao do “excedente do con-
sumidor”. Por exemplo, um produtor está disposto a vender uma calculadora por
R$ 10,00 reais, mas recebe o preço de R$ 18,00 reais, sendo o seu excedente de
R$ 8,00 reais (R$ 18,00 - R$ 10,00 = R$ 8,00). Ou seja, esse excedente é o valor
que ele recebe da sua venda menos o valor pelo qual ele estaria disposto a ven-
der o produto.
Tanto o “excedente do consumidor” quanto o “excedente do produtor” podem
ser derivados das curvas de oferta e demanda. O primeiro é igual à área abaixo
da curva de demanda e acima do preço; enquanto o segundo é igual à área acima
da curva de oferta e abaixo do preço. Graficamente, temos:
Preço P
p2
D2
D
Quantidade Q
a
b
p1
D1
Preço P
p2
S2
S
Quantidade Q
d
c
p1
S1
Excedente do Consumidor Excedente do Produtor
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IVU N I D A D E134
Figura 1 - Excedente do Consumidor e Produtor
Fonte: Krugman, Obstfeld e Melitz (2015).
Em relação aos eixos das Figuras 1a e 1b, a abscissa (horizontal) refere-se à quan-
tidade demandada e a ordenada (vertical) é o preço. Portanto, para se calcular o
excedente do consumidor (1a), basta subtrair P vezes Q da área sob a curva da
demanda até Q. Caso o preço seja P1 e a quantidade demandada D1, o excedente
do consumidor seria a soma das áreas a e b. Suponhamos que o preço aumente
para P2, a quantidade demandada irá cair para D2, o excedente do consumidor
passa a ser somente a área de a. O excedente do produtor (1b) será P vezes Q
subtraído da área sob a curva de oferta até Q. Por exemplo, se o preço for P1, a
quantidade ofertada será S1 e o excedente será a área de c. Se o preço aumen-
tar para P2, a quantidade ofertada aumenta para S2 e o excedente do produtor
aumenta, sendo a soma das áreas de c e d.
Agora, vamos verificar os benefícios sociais, ou seja, os custos e os benefícios
medidos pelos excedentes. A Figura 2 apresenta esses custos e benefícios da tarifa
aduaneira para o país que está importando. Sendo assim, a tarifa irá aumentar
o preço nacional de PW para PT, porém esse preço irá diminuir o preço do país
estrangeiro (ou seja, o que está exportando) de PW para PT* (a notação com o
asterisco em cima faz referência ao preço estrangeiro, ou seja, ao preço do país
que exporta) (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
A produção doméstica irá aumentar de S1 para S2, enquanto que o consumo
cairá de D1 para D2. Os benefícios e os custos são expressos como a soma das
áreas de a, b, c, d, e.
S¹
Qr
Quantidade, Q
Preço, P
S² D² D¹
D
b
a
w
t*
P
P
tP
c
e
S
= perda do consumidor (a + b + c + d)
= ganho do produto(a)
= ganho de receita do governo(c + e)
{
ccccccccccccccc
eeeeeeeeeeeeeee
d
e
c
Figura 2 - Benefícios e Custos Sociais de uma tarifa aduaneira para o país aduaneira
Fonte: Krugman, Obstfeld e Melitz (2015).
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A partir da análise da Figura 2, vamos verificar o ganho dos produtores de D. Eles
recebem um preço maior e, consequentemente, possuem um excedente maior
– antes da adoção da tarifa, o excedente era a área abaixo de PW , mas acima da
curva de oferta. Como o preço do produto foi para PT , o excedente aumentou
em a. Este, portanto, é o ganho do produtor com a adoção da tarifa aduaneira.
Ao mesmo tempo, os consumidores estão comprando esse produto por um preço
maior, o que os deixa em uma situação pior. Retomando o conceito, o excedente
do consumidor é igual à área acima do preço, mas sob a curva da demanda. Já
que os preços estão maiores (de PW para PT), o excedente cai para a área indi-
cada por a+b+c+d, sendo os consumidores, prejudicados pela adoção da tarifa.
Precisamos também nos lembrar do governo, que é quem irá receber o valor
da tarifa aduaneira, ou seja, ela se traduz em receita para o governo. Ela é igual
à taxa da tarifa aduaneira t vezes o volume de importação. QT= D2 - S2 e t= PT -
PT*, portanto, a receita do governo será a soma das áreas de c, e, (KRUGMAN;
OBSTFELD; MELITZ, 2015).
Conforme percebemos, tivemos ganhadores e perdedores com a adoção da
tarifa aduaneira, e a estimativa do custo-benefício global dessa tarifa irá depen-
der do quanto se valoriza o benefício para cada grupo existente – com o objetivo
de facilitar a análise do efeito líquido da tarifa, os analistas de políticas comer-
ciais dão o mesmo valor social para os grupos. Portanto, o efeito líquido da tarifa
aduaneira no bem-estar social é:
Custo líquido= perda do consumidor - ganho do produtor - receita do governo
Ou ainda, substituindo os conceitos pela área da Figura 2, temos:
(a+b+c+d) – a – (c + d) = b + d – e
Portanto, a visualização gráfica nos permite verificar que temos dois “triângulos”,
em que essas áreas medem a perda da nação, e o retângulo evidencia um ganho
de compensação. Podemos ainda interpretar os “triângulos” como a perda de
eficiência derivada da tarifa aduaneira que distorceu os incentivos de produção
e consumo, e o “retângulo” seria os termos de ganho do comércio surgidos da
tarifa aduaneira que fez com que os preços dos produtos exportados de E caís-
sem (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
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IVU N I D A D E136
Se voltarmos ao caso de um país pequeno, que não possui qualquer influên-
cia no mercado internacional, ele não irá conseguir afetar o preço internacional e,
consequentemente, a região “e” da Figura 2 irá desaparecer (essa região eviden-
cia os ganhos com o comércio), o que acaba se traduzindo em uma redução do
bem-estar. A adoção da tarifa aduaneira distorceu os incentivos de se produzir
e de se consumir, fazendo com que esses agentes pensassem que as importações
fossem mais caras do que realmente são.
Quantidade, Q
Importações
Preço, P
D
wP
db
e
S
= perda de e�ciência (b + d)
= ganho dos termos de comércio (e)
{
t*P
tP
Figura 3 - Efeito líquido do bem-estar de uma tarifa aduaneira
Fonte: Krugman, Obstfeld e Melitz (2015).
Portanto, os efeitos líquidos de bem-estar da adoção da tarifa aduaneira são apre-
sentados na Figura 3. Os efeitos negativos são as somas das áreas dos triângulos
b, d. O primeiro triângulo mostra a perda por distorção de produção, que faz
com que os produtores produzam mais dessa mercadoria; enquanto o segundo
triângulo mostra a perda de distorção de consumo doméstico, que resultou da
queda do consumo dessa mercadoria. O retângulo e representa os ganhos do
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comércio, que resultou da queda no preço da exportação de E – quando o país for
pequeno, não teremos esse retângulo (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
Conforme mencionamos, as tarifas aduaneiras são as políticas comerciais
mais simples. Entretanto, as ações que os governos tomam são outras, tais como:
subsídiosà exportação, quotas de importação, restrições voluntárias da expor-
tações e requisitos de conteúdo local.
O “subsídio à exportação” se traduz em um pagamento a um indivíduo ou
empresa que exporta algo. Esse subsídio pode ser tanto específico (montante fixo
por unidade) ou ad valorem (proporção do valor exportado). Quando o governo
subsidiar à exportação, os produtores irão exportar a mercadoria até o ponto
em que o preço doméstico ultrapasse o preço internacional pelo valor do subsí-
dio – os efeitos do subsídio à exportação são o inverso dos da tarifa aduaneira.
A “quota de importação” seria uma espécie de restrição direta na quan-
tidade importada de alguma mercadoria. Essas restrições normalmente são
aplicadas através da emissão de licenças para alguns grupos de empresas. Por
exemplo, o Brasil possui uma quota de importação de celulares e as empresas
que são autorizadas a importarem celulares possuem uma quantidade máxima
de importação anual. O tamanho dessa quota se baseia na quantidade de celu-
lares que ela importou no passado.
As quotas de importações sempre irão aumentar o preço doméstico da mer-
cadoria importada, pois, como as importações são limitadas, no preço inicial a
demanda por determinada mercadoria é maior que a oferta doméstica somada
às importações, fazendo com que o preço suba até equilibrar o mercado. No fim,
a quota de importação irá aumentar o preço doméstico no mesmo valor que a
tarifa aduaneira (exceto no caso de monopólio nacional, em que a quota aumenta
os preços em uma proporção maior).
A diferença entre a quota e a tarifa aduaneira é que a quota não cria receita
para o governo, enquanto a tarifa cria. Na adoção da quota como instrumento de
restrição à importação em vez da tarifa aduaneira, o montante de dinheiro que
seria arrecadado pelo governo (sendo uma fonte de receita para o mesmo) é reco-
lhido por quem recebe as licenças para importar. Portanto, os lucros recebidos
pelos detentores das licenças são conhecidos como rendas de contingencia-
mento. Na avaliação dos custos e benefícios da adoção de quotas para importar,
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IVU N I D A D E138
é necessário determinar quem irá receber as rendas. Quando o direito de se ven-
der no mercado doméstico é atribuído ao governo de países exportadores, como
frequentemente acontece, a transferência de rendas para o exterior faz o custo
da quota ser maior do que uma tarifa aduaneira equivalente.
A “restrição voluntária da exportação” (RVE), também conhecida como
“acordo de restrição voluntária” (ARV) é uma variante da quota de importa-
ção. A RVE seria uma quota no comércio que foi imposta pelo país que exporta.
Normalmente, elas são impostas a pedido do país importador e aceitas pelo
exportador com o objetivo de prevenir outras restrições ao comércio. Do ponto
de vista econômico, ela é exatamente como uma quota de importação, em que
as licenças são dadas aos governos estrangeiros sendo muito dispendiosa para o
país que importa, pois o que se traduziria em receita com uma tarifa aduaneira
se transforma renda ganha pelos estrangeiros com a RVE.
O “requisito de conteúdo legal” trata-se de uma regulamentação que obriga
que alguma fração específica do produto seja produzida em território nacional.
Em alguns casos, essa fração é especificada em unidades físicas (como uma quota
de importação); já em outros, essa exigência é especificada em termos de valores,
ao requerer que uma parcela mínima do preço da mercadoria represente valor
nacional acrescentado (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015). Esse tipo de
estratégia tem sido muito utilizada por países em desenvolvimento com o objetivo
de mudar sua base de produção de montagem para mercadorias intermediárias.
Uma regulamentação de conteúdo local fornece, do ponto de vista dos pro-
dutores domésticos de partes, proteção semelhante a uma quota de importação.
Por outro lado, do ponto de vista das empresas que precisam comprar a produ-
ção local, os efeitos são diferentes. Vale ressaltar que o conteúdo local não impõe
limite rigoroso nas importações. Em vez disso, ele permite que as empresas
importem mais e, em contrapartida, que também comprem mais das empresas
nacionais. Portanto, o preço dos insumos para a empresa é a média do preço dos
produtos importados e dos produzidos domesticamente.
Esse tipo de política não gera receita nem para o governo nem rendas de
contingenciamento. A diferença entre os preços das mercadorias importadas
e domésticas fica na média no preço final e é repassada para os consumidores
(KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
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Outros instrumentos de política comercial também merecem ser destacados.
Temos os “subsídios de crédito à exportação”, que seriam uma espécie de subsí-
dio à exportação, exceto que ele toma a forma de um empréstimo subsidiado ao
comprado. A “procura nacional” são compras feitas pelo governo ou empresas
reguladas que podem ser direcionadas para produzir domesticamente, mesmo
quando sua produção é mais custosa quando comparadas a importação. Por fim,
temos as “barreiras burocráticas”: esporadicamente, um governo decide restrin-
gir as importações de uma maneira não tradicional. Ele pode distorcer a saúde
normal, a segurança e os procedimentos comuns.
POLÍTICA
TARIFA
ADUANEIRA
SUBSÍDIO À
EXPORTAÇÃO
QUOTA DE
IMPORTAÇÃO
RESTRIÇÃO DE
EXPORTAÇÃO
VOLUNTÁRIA
Excedente
do produtor Aumenta Aumenta Aumenta Aumenta
Excedente do
consumidor Diminui Diminui Diminui Diminui
Receita
do governo Aumenta
Diminui
(gastos do
governo
aumentam)
Nenhuma
mudança
(aluga para
proprietários
de licença)
Nenhuma
mudança
(aluga para
estrangeiros)
Bem-estar
geral
nacional
Ambíguo
(diminui para
país pequeno)
Diminui
Ambíguo
(diminui para
país pequeno)
Diminui
Quadro 1 - Os efeitos de políticas de comércio alternativas
Fonte: Krugman, Obstfeld e Melitz (2015).
De acordo com o apresentado no Quadro 1, podemos observar o resumo dos
efeitos das políticas comerciais. Percebemos que todos os tipos de política pre-
judicam os consumidores e beneficiam os produtores. Em relação ao bem-estar
econômico, os resultados são ambíguos. Temos, também, que duas políticas
prejudicam o país como um todo, enquanto as tarifas aduaneiras e as quotas de
importações geram benefícios aos países grandes que possuem poder de alterar
os preços internacionais (diminuí-los).
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Além dos conceitos e instrumentos comerciais apresentados aqui, temos
também os “impostos preferenciais”, que são tarifas aplicadas a uma importa-
ção de acordo com a sua origem geográfica, sendo que um país que recebe
um tratamento preferencial terá uma tarifa menor. Outro sistema é o “sistema
geral de preferências” que ocorre em locais nos quais um grande número de
países desenvolvidos permite a entrada de impostos reduzidos ou a isenção
dos impostos para uma lista de itens selecionados caso esses produtos fos-
sem importados por determinados países em desenvolvimento.
Outro fator importante é o “tratamento da nação mais favorecida” ou “relações
comerciais normais” sendo que aqui não temos um elemento não discrimi-
nante na política tarifária. Por fim, temos também as “provisões de recepção
offshore” ou “arranjos de divisão de produção” sendo que a tarifa aplicada em
um bem é mais baixa que as tarifas que estão listadas em tabelas tarifárias.
Fonte: Appleyard,Field e Cobb (2010).
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POLÍTICA DE ESTRATÉGIA COMERCIAL
Dois tipos de falhas de mercado são identificados por economistas que estudam
os países industriais, os quais são importantes nas políticas comerciais desses
países. O primeiro está relacionada com as indústrias de alta tecnologia que, ao
que tudo indica, não conseguem se beneficiar da sua contribuição para os trans-
bordamentos para outras empresas; o segundo, por sua vez, refere-se aos lucros
de monopólio nas indústrias oligopolistas muito concentradas.
Então, quando existir externalidade (receber algo sem que se tenha parti-
cipado diretamente da ação) é indício para subsidiar essa indústria. Seguindo
Krugman, Obstfeld e Melitz (2015), esse argumento lembra aquele da indústria
nascente. Nos países desenvolvidos existem indústrias de alta tecnologia que alo-
cam recursos na produção de conhecimento e estão dispostas a aceitar prejuízos
iniciais com novos processos e produtos para adquirir experiência.
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IVU N I D A D E142
A política comercial seria que algumas empresas apropriam parte dos bene-
fícios do seu investimento em conhecimento, pois geralmente não podem se
apropriar dele totalmente. Alguns desses benefícios são usufruídos por outras
empresas que podem copiar as técnicas e ideias, por exemplo, uma engenharia
reversa. Deste modo, essas empresas de alta tecnologia não recebem incentivos
para inovar tanto quanto deveriam.
Conforme bem colocado por Krugman, Obstfeld e Melitz (2015), não há
razões para dar subsídios no emprego de capital ou de trabalhadores que não são
técnicos nessas indústrias de alta tecnologia. De maneira geral, a política industrial
e comercial precisa focar seus esforços onde ocorre falha de mercado. Então, tal
política precisa subsidiar as áreas de que essas empresas não podem se apropriar.
Na década de 80, os economistas Barbara Spencer e James Brander pro-
puseram um argumento que identifica falhas de mercado que possibilitam a
intervenção governamental na ausência da concorrência perfeita, pois, como
há poucas empresas, os pressupostos da concorrência perfeita não se aplicam.
Portanto, as empresas irão registrar grandes lucros e as internacionais vão bri-
gar para absorver os lucros. Os mesmos economistas disseram que o governo
poderia, inicialmente, transferir esses lucros das empresas internacionais para as
nacionais, mudando algumas regras. Então, caso o governo concedesse um sub-
sídio para as empresas nacionais, as empresas internacionais poderiam perder o
interesse em investir e produzir e, com isso, os lucros das empresas domésticas
poderiam aumentar em valores maiores que os do subsídio – essa análise também
é conhecida como Brander-Spencer (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
A análise Brander-Spencer foi muito criticada pois, para se utilizar essa ideia,
seria necessário ter acesso a informações que não se encontram disponíveis e
isso ainda poderia desencadear diversas retaliações. Então, a utilização das polí-
ticas comerciais dependem da leitura da situação, pois, dependendo da situação,
o subsídio seria interessante, enquanto em outros momentos seria terrível. Além
disso, as indústrias não se encontram isoladas e, portanto, ao subsidiar um setor,
poderá aumentar os custos e causar desvantagens em outros setores.
Os países em desenvolvimento tiveram um aumento das suas exportações
de produtos manufaturados. Em contrapartida, os trabalhadores tinham bai-
xos salários, péssimas condições de trabalho e os movimentos antiglobalização
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evidenciaram que a globalização estava piorando a situação de alguns trabalha-
dores de países em desenvolvimento. Krugman, Obstfeld e Melitz (2015) ainda
afirmam que, com vantagem comparativa, o comércio seria benéfico para os paí-
ses que participassem dele. Portanto, países que são abundantes em mão de obra
iriam exportar produtos que fossem trabalho-intensivos e as rendas nacionais
iriam aumentar, bem como a sua distribuição. Por outro lado, diversos econo-
mistas dizem que, independentemente dos baixos salários dos trabalhadores nos
países em desenvolvimento, eles estão em melhor situação do que estariam caso
a globalização não existisse.
Alguns economistas defendem a criação de um sistema para monitorar as
condições de trabalho e os salários e, então, disponibilizar esses dados para os
consumidores, pois sugerem que alguns deles preferem comprar produtos que
foram realizados por trabalhadores os quais foram pagos de maneira decente
e tiveram boas condições de trabalho. Desse modo, os consumidores ficam em
melhor situação sabendo da qualidade de vida do trabalhador, enquanto estes
conseguem melhor qualidade de vida (ELLIOTT, 2003).
Outra ideia seria a criação de padrões trabalhistas formais que as indústrias
que produzem para a exportação deveriam seguir, e alguns países desenvolvi-
dos apoiam essa ideia. Contudo, como colocado por Krugman, Obstfeld e Melitz
(2015), muitos países em desenvolvimento são contrários a essa ideia, afirmando
que esses padrões seriam utilizados como uma ferramenta protecionista.
Existem também os críticos da globalização que entram nas ideias ambien-
tais, ou seja, dizem que ela é ruim para o meio ambiente, pois os padrões
ambientais nos países em desenvolvimento são menores que os dos países
desenvolvidos – por exemplo, a destruição de florestas. Também se discute a
implementação de acordos comerciais que levariam em conta o meio ambiente.
Por um lado, uns dizem que todos se beneficiariam, outros afirmam, em con-
trapartida, que as indústrias exportadoras dos países em desenvolvimento
poderiam desaparecer, pois não seriam capazes de arcar com os padrões
ocidentais.
Outro tema que também é discutido encontra-se relacionado com a cultura.
Com a integração comercial, de maneira geral, tivemos uma homogeneização
das culturas no mundo como um todo. Você é capaz de perceber isso: só reparar
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no McDonald’s, no sushi e nos filmes de Hollywood, por exemplo. Então, alguns
podem utilizar as falhas de mercado para implantar políticas para preservar as
culturas nacionais (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
A produção e o consumo causam danos ao meio ambiente; logo, o cresci-
mento econômico também irá causar dano ambiental. Entretanto, conforme os
países vão se tornando mais ricos, sua produção e consumo se alteram, até o
ponto em que tentam reduzir o impacto ambiental. Assim, ao aumentar o PIB
per capita, as exigências para a política ambiental também iriam aumentar, ou
seja, conforme os países vão se tornando mais ricos, as suas regras ambientais
seriam mais pesadas que as regras dos países pobres.
A Curva Ambiental de Kuznets, que tem formato de “U” invertido, fala
dos efeitos compensatórios do crescimento econômico entre renda per capita
e o dano ambiental. Quando a renda per capita de um país aumenta por causa
do crescimento econômico, inicialmente se polui mais – movimento do ponto
A para o ponto B da Figura 4. Vai chegar um momento em que o país encon-
tra-se muito rico e passa a realizar ações para proteger o meio ambiente; com
isso, o seu dano ambiental poderá diminuir – movimentos do pontoC para o
ponto D da Figura 4.
Dano ambiental
Renda per capita
A
B
C
D
Figura 4 - Curva Ambiental de Kuznets
Fonte: Krugman, Obstfeld e Melitz (2015, p. 236).
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Krugman, Obstfeld e Melitz (2015) trazem que a curva ambiental de Kuznets
não diz que a globalização é boa para o meio ambiente; ela também já foi com-
provada empiricamente por diversos trabalhos científicos. Surgiram os “refúgios
da poluição” devido ao comércio internacional, que são atividades realizadas
em países os quais possuem regulamentações ambientais menos rigorosas. Um
exemplo de externalidade negativa é a poluição e, por isso, é um bom motivo
para a intervenção governamental. Temos diferentes formas de poluição e com
alcances geográficos diversos, ou seja, algumas podem ultrapassar as fronteiras
do país, o que acaba se tornando uma preocupação internacional.
Na tentativa de amenizar a emissão dos gases do efeito estufa, que são preju-
diciais ao planeta, muito tem se tentado, embora nem sempre obtivesse êxito. Isso
porque seria necessário uma força conjunta de muitos países, embora não estejam
todos de acordo com as propostas e também não seriam todos os países que adota-
riam políticas semelhantes. Portanto, existe a ideia da “tarifa de carbono”, que seria
cobrar dos importadores de países que não possuem políticas de mudança climá-
tica um valor que deveria ser proporcional à emissão de gases do efeito estufa para
se produzir essa mercadoria. Conforme Krugman, Obstfeld e Melitz (2015, p. 241):
Isto daria aos produtores estrangeiros um incentivo para limitar suas
emissões de carbono e retiraria o incentivo de mudar a produção para
países com regulamentações mais frouxas. Além disso, possivelmente
daria aos países com regulamentações mais permissivas um incentivo
para adotar políticas próprias de mudanças climáticas.
Muitos críticos das tarifas de carbono dizem que esse tipo de política seria pro-
tecionista e, portanto, violaria as regras comerciais internacionais – que seria a
proibição em discriminar produtos nacionais e estrangeiros. Em contrapartida,
os que delegam a favor das tarifas de carbono dizem que essa tarifa permiti-
ria colocar os produtores domésticos e internacionais em condições iguais no
momento da venda para os consumidores nacionais, pois os dois pagariam pelas
emissões dos gases.
A ideia da tarifa de carbono ainda é discutida e, por isso, não foi aplicada.
Em relação à Organização Mundial do Comércio (OMC), ela não possui uma
decisão formada sobre o tema e, por isso, não emitiu nenhum comunicado acerca
disso (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
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POLÍTICA COMERCIAL PARA PAÍSES EM
DESENVOLVIMENTO
Olá! Neste tópico, vamos estudar a política comercial para os países em desenvol-
vimento. Historicamente, após o final da Segunda Guerra Mundial até por volta
da década de 70, as políticas comerciais de muitos países em desenvolvimento
estiveram pautadas na ideia de que, para se ter um desenvolvimento econômico,
era necessário criar um forte setor industrial, e a melhor forma de tê-lo era prote-
gendo os produtos nacionais dos produtos internacionais, ou seja, da competição
internacional, por meio da substituição de importação. Entretanto, a partir da
década de 80, as ideias do livre comércio começaram a ganhar espaço em detri-
mento da substituição de importação (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
Diversos países em desenvolvimento, na tentativa de impulsionar seu cresci-
mento, do final da Segunda Guerra Mundial até a década de 70, restringiram suas
importações de produtos manufaturados, com o objetivo de sustentar um setor
manufatureiro, o qual, em algumas vezes, era nascente, para que sustentasse o mer-
cado doméstico, ou seja, que suprisse as necessidades internas, deixando de recorrer
às exportações, isto é, deixava de importar na tentativa de industrializar o país.
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O argumento da indústria nascente nos diz que os países em desenvolvi-
mento possuem vantagem comparativa potencial na manufatura, porém novas
indústrias manufatureiras nos países em desenvolvimento não conseguem com-
petir, inicialmente, com as indústrias já estabelecidas em países desenvolvidos.
Sendo assim, os governos precisam apoiar essas novas indústrias temporaria-
mente, para que elas fiquem fortes e possam competir com os concorrentes
internacionais. Portanto, de acordo com esse argumento, faz sentido fazer uso
de tarifas aduaneiras e quotas de importações como medidas temporárias para
dar início à industrialização, ou seja, adotar alguma proteção com o objetivo de
estimular a industrialização.
Diversos economistas apontam armadilhas nesse argumento, dizendo que
ele precisa ser usado com cuidado. Primeiro, nem sempre é interessante tentar
entrar hoje nas indústrias que terão vantagem comparativa no futuro. Conforme
bem exemplificado por Krugman, Obstfeld e Melitz (2015), vamos supor que um
país que tem muita mão de obra encontra-se em processo de acumular capital.
Quando ele acumular capital o suficiente, terá vantagem comparativa na indús-
tria de capital. Portanto, não significa que ele precisa desenvolver esse tipo de
indústria imediatamente.
A segunda está relacionada com a “indústria pseudonascente”, em que uma
indústria, que não é competitiva, começa a ser protegida e se torna competitiva por
motivos que não estão relacionados com a proteção. Então, nesse caso, a proteção
parece que foi um sucesso, porém tornou-se um custo líquido para a economia.
A ideia de que é custoso e demorado construir uma indústria não se con-
figura como argumento para o governo intervir, a não ser que tenha alguma
falha de mercado interno. Caso uma indústria seja capaz de ter altos retornos
que façam o desenvolvimento valer a pena, por que os investidores privados não
investem sem a ajuda governamental? O argumento é que os investidores pri-
vados pensam somente nos retornos atuais, sem pensar no futuro, embora esse
argumento não seja consistente com o comportamento do mercado. Nos paí-
ses desenvolvidos, diversas vezes os investidores privados apoiam projetos com
retornos incertos, pensando no futuro.
Outro argumento a favor da proteção da indústria nascente que merece
destaque é o de falhas de mercado que tendem a impedir os mercados privados
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de desenvolverem a indústria na velocidade que eles gostariam. Essa ideia das
falhas de mercado se divide em “mercados de capitais imperfeitos” e o problema
da “apropriabilidade”. O primeiro nos diz que, se um país em desenvolvimento
não possuir instituições financeiras eficientes, permitindo que as poupanças dos
setores tradicionais fossem usadas no financiamento de novos setores, e o cres-
cimento dessas novas indústrias estaria restringido pela sua capacidade atual de
gerar lucros, então, lucro atual baixo seria um empecilho (barreira) para investir,
mesmo que os lucros futuros fossem altos. A segunda ideia pode ter várias for-
mas, muito embora todas elas acreditem que as novas indústrias geram benefícios,
não sendo recompensadas por isso, podendo fazer com que diversos empresá-
rios não estejam dispostos a entrarem uma determinada indústria.
É importante ressaltar que os argumentos para os “mercados de capitais
imperfeitos” e os da “apropriabilidade” são casos específicos da falha de mer-
cado para proteger a indústria nascente. A diferença aqui é que esses argumentos
se aplicam a novas indústrias em vez de qualquer indústria. Na prática, torna-
-se complicado avaliar quais indústrias precisam dessa proteção, além de existir
o risco dessa política ser utilizada em interesses especiais ou ainda em algum
benefício para alguma classe em específico.
Diversos países em desenvolvimento utilizam o argumento da indústria nas-
cente para dar proteção e desenvolver indústrias manufatureiras. Esses apoios
podem ser na forma de subsídios para a produção de manufatura em geral, ou
ainda focar nos subsídios para produtos de exportação que acreditam ter van-
tagens comparativas.
De maneira geral, a principal estratégia da industrialização nos países em
desenvolvimento é a de promover indústrias voltadas ao mercado doméstico, uti-
lizando restrições ao comércio, como as tarifas e quotas (que são instrumentos de
política comercial) que encorajam a substituição das mercadorias importadas por
produção nacional (doméstica). Portanto, limitam as importações de manufatu-
ras, sendo isso conhecido como “industrialização de substituição de importação”.
A substituição de importação é preferida ao crescimento das exportações
como estratégia de industrialização devido a uma mistura política e de economia.
Até a década de 70, diversos países em desenvolvimento acreditavam que pode-
riam exportar manufaturas, além de acreditar que a industrialização se baseava
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na substituição da indústria nacional por importações, em vez de se aumentar
as exportações de manufaturas.
Alguns defensores da política de substituição de importação à época acredita-
vam que a economia mundial encontrava-se protegida contra novos entrantes no
mercado, pois as vantagens das indústrias já estabelecidas eram grandes demais
para serem superadas por economias industrializadas recentemente.
As décadas de 50 e 60 foram marcadas como os maiores períodos da industria-
lização de substituição de importação. Os países em desenvolvimento inicialmente
protegiam os estados finais da indústria. Em países grandes e em desenvolvimento,
as mercadorias nacionais praticamente substituíram os produtos importados
(muito embora essas produções tivessem sido feitas por multinacionais). A par-
tir do momento em que esse processo se esgota, os países começaram a proteger
seus produtos intermediários.
Conforme bem abordado por Krugman, Obstfeld e Melitz (2015), a maioria
dos países em desenvolvimento já esgotou a sua substituição de importação, pois
os produtos manufaturados sofisticados (computadores, por exemplo), ainda são
importados, embora nos países grandes que já fizeram uso da industrialização
de substituição de importação tenham registrado níveis de importações baixos.
A industrialização de substituição de importação obteve sucesso ao encorajar
o crescimento da manufatura, principalmente nos países da América Latina, que
produziram quase a mesma parcela de manufaturas que os países desenvolvidos.
Afinal, a política de industrialização de substituição de importação contribuiu
para o desenvolvimento econômico das nações? Diversos economistas aprova-
ram a adoção dessas ideias na década de 50 e início da década de 60, porém,
na metade de 1960, essas ideias sofreram grandes críticas. Isso ocorreu pois os
policymakers (indivíduos que fazem alguma política) deixaram de encorajar a
substituição de importação para tentar corrigir os efeitos colaterais de políticas
mal implementadas da substituição de importação.
A industrialização de substituição de importação começou a perder a sua proteção
quando se percebeu que os países que adotavam essas ideias não alcançaram os paí-
ses desenvolvidos. Um fator interessante é que alguns dos países em desenvolvimento
ficaram ainda mais atrás dos países desenvolvidos, mesmo tendo implementado a
política de substituição de importação e criando uma base manufatureira doméstica.
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A industrialização por substituição de importação não funcionou da forma
que foi desenhada, pois, ao que tudo indica, o argumento da indústria nascente
não foi totalmente válido. Isso porque um período com proteção não iria criar
um setor manufatureiro competitivo, pois os países podem não ter vantagem
comparativa na manufatura. Diversas experiências evidenciaram que o fracasso
é muito mais do que a falta de experiência com a manufatura desses países. Os
países pobres não possuem mão de obra qualificada e nem competência adminis-
trativa, além de problemas com organização social. É importante ressaltar que os
problemas aqui citados podem não estar fora do alcance da política econômica,
mas também não podem ser resolvidos pela política de comércio, ou seja, uma
quota de importação pode permitir que algum setor manufatureiro, que é inefi-
ciente, sobreviva. O argumento da indústria nascente, tendo a proteção temporária
de tarifas aduaneiras e quotas, é de que as indústrias de manufaturas de países
menos desenvolvidos irão aprender a ser eficientes, sendo que na prática, essa
afirmação nem sempre se concretiza, (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
Como os benefícios prometidos da substituição de importação falharam,
toda a atenção se voltou para os custos das políticas adotadas com o intuito de
promover a industrialização. Desse modo, diversas evidências indicaram que
as políticas protecionistas de alguns países em desenvolvimento distorceram os
incentivos de maneira negativa. Parte dos problemas foi que muitos países faziam
uso excessivo de métodos complexos para promover a indústria nascente. Dito de
outro modo, faziam usos de quotas de importações, controles cambiais e regras
de conteúdo nacional em vez de tarifas aduaneiras simples.
Outro fator que também merece destaque é a tendência das restrições de
importações com o objetivo de produzir em uma escala ineficiente e pequena.
Os mercados dos países em desenvolvimento, mesmo quando os países são gran-
des, são pequenos quando comparados aos da União Europeia ou dos Estados
Unidos da América. Portanto, como esse mercado é pequeno, torna-se com-
plicado possuir uma indústria com uma escala de produção eficiente. Mesmo
quando esse mercado for protegido por uma quota de importação, por exem-
plo, se tivermos somente uma indústria nele, essa indústria poderia obter ganhos
semelhantes aos de monopólio. A concorrência por esses lucros extraordinários
faz com que diversas empresas entrem no mercado, mercado este que quase não
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tem espaço para nenhuma delas, fazendo com que a produção seja realizada em
uma escala ineficiente. Para tentar contornar o problema da escala de produção,
seria necessário que as indústrias se especializassem na produção e na exporta-
ção de determinados produtos e importar outras mercadorias. Acontece que a
industrialização de substituição de importação irá eliminar essa opção, pois irá
focar na produção industrial para o mercado doméstico. Krugman, Obstfeld e
Melitz (2015) destacam ainda que a industrialização de substituição de impor-tação também agravou problemas relacionados à desigualdade de renda e ao
desemprego nos países.
Algumas evidências empíricas começaram a sugerir, embora não haja um
consenso sobre o fato, que os países em desenvolvimento que adotaram políticas
comerciais relativamente livres cresceram, em média, mais rápido do que aque-
les que seguiram políticas protecionistas. Isso fez com que, atualmente, muitos
países em desenvolvimento deixassem de adotar quotas de importações e tam-
bém diminuíssem as taxas de tarifas aduaneiras.
Na metade de 1980, muitos países em desenvolvimento adotaram menores
taxas de tarifas, eliminaram quotas de importação, entre outras medidas, tudo
isso na direção de um comércio mais livre, ou seja, esses países abriram seus
mercados para a concorrência da importação. Com uma maior liberalização
econômica, os países em desenvolvimento aumentaram seu volume de transa-
ções internacionais, ou seja, sua corrente de comércio (soma das exportações
com as importações) aumentou, além de que a natureza do comércio foi alterada,
isto é, antes da alteração da política comercial, os países em desenvolvimento
exportavam, em sua grande maioria, produtos agrícolas e de mineração e, após
essa mudança, eles tiveram um aumento significativo da parcela de manufatu-
ras em suas exportações.
Conforme já relatado, a substituição de importação começou a declinar
quando ficou evidente que ela não trazia um rápido desenvolvimento econômico,
além de ser custosa. Então, será que essa mudança para um comércio mais livre
iria trazer resultados mais positivos? Krugman, Obstfeld e Melitz (2015) afir-
mam que a resposta dessa questão é um mix de resultados, pois muitos países da
América Latina registraram taxas de crescimento mais lentas com a liberalização
do comércio do que quando faziam a substituição de importações, enquanto que
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a Índia apresentou grandes taxas de crescimento – muito embora não seja pos-
sível dizer o quanto dessa taxa foi atribuído à liberalização do comércio.
Existem também preocupações sobre o aumento da desigualdade de renda
em países em desenvolvimento. Em países da América Latina, por exemplo, o
gap (diferença) da industrialização de substituição de importação parece ter
diminuído os salários reais dos trabalhadores, enquanto que os ganhos dos tra-
balhadores qualificados aumentaram.
Portanto, a ideia de que a substituição de importação era o único caminho
para o desenvolvimento se mostrou equivocada, pois diversos países em desen-
volvimento que fizeram uso do livre comércio, ou seja, que estavam mais abertos
ao livre comércio, alcançaram maiores taxas de crescimento.
Conforme bem colocado por Appleyard, Field e Cobb (2010), a justificativa
da utilização de tarifas melhora a balança comercial (exportações menos
as importações nos dá o saldo da balança comercial), pois a tarifa irá dimi-
nuir as importações. Destarte, vamos assumir que as exportações não sejam
afetadas, então o resultado é que de fato a balança comercial tenha um re-
sultado melhor, podendo se tornar menos negativa ou ainda em um saldo
positivo.
Entretanto, um economista pode responder a essa ideia afirmando que se
deixou de conhecer as repercussões econômicas e políticas dessa ação, sen-
do que o resultado final pode ser uma redução no bem-estar do país (e até
mundial), pois podemos ter retaliações dos parceiros comerciais, diminui-
ção da renda nacional no exterior e das exportações do país doméstico e
aumento das importações também do país doméstico devido a possíveis
pressões inflacionárias, entre outros. Portanto, a aplicação de uma tarifa não
garante melhorias na balança comercial.
Fonte: Krugman, Obstfeld e Melitz (2015).
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ARGUMENTOS PARA RESTRINGIR O COMÉRCIO
Apresentaremos a você sobre os argumentos que restringem o comércio em nível
mundial. Essas restrições são impedimentos ao livre comércio e muitas vezes são
usadas como forma de proteger o país de nações mais desenvolvidas que possuem
estrutura de produção e condições diferenciadas de nações menos desenvolvidas.
Conforme muito bem explanado por Krugman, Obstfeld e Melitz (2015),
muitas das tarifas aduaneiras, quotas de importação entre outras medidas de
política comercial são utilizadas para proteger a renda de um grupo em particu-
lar. Entretanto, os políticos dizem que essas políticas são feitas para o interesse
de toda a nação. Além disso, diversos economistas dizem que os desvios do livre
comércio reduzem o bem-estar na nação, enquanto outros acreditam que as polí-
ticas comerciais, em alguns casos, aumentem o bem-estar da nação como um
todo. Portanto, podemos perceber que não existe um consenso sobre o assunto.
O primeiro argumento que vai contra o livre comércio advém da análise
custo-benefício. Países grandes são capazes de afetar os preços internacionais,
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sendo que uma tarifa aduaneira irá diminuir o preço das importações e, com
isso, irá gerar benefícios nos termos do comércio. É importante ressaltar que esse
benefício precisa ser definido contra os custos da tarifa aduaneira, que surgiram
pois a tarifa distorceu os incentivos de consumo e produção. Em alguns casos,
os benefícios gerados de uma tarifa aduaneira se sobrepõem a seus custos, exis-
tindo termos do argumento de comércio para uma tarifa aduaneira.
Temos que, com a adoção de uma tarifa aduaneira pequena, os benefícios do
comércio precisam ser maiores que os custos. Então, com tarifas aduaneiras baixas,
o bem-estar de países grandes é maior do que com o livre comércio. Entretanto, con-
forme a tarifa aduaneira vai aumentando, os custos também aumentam de forma
mais rápida que os benefícios. A melhor tarifa é aquela que é justificada pelos termos
do argumento de comércio, sendo que ela (a melhor tarifa) será sempre positiva,
porém menor que a taxa proibitiva que, no caso, iria inviabilizar as importações.
É importante ressaltar que subsídios à exportação pioram os termos de comér-
cio que, por sua vez, reduzem o bem-estar nacional, sendo que a política ideal
aqui seria uma espécie de subsídio negativo, ou seja, uma espécie de imposto de
exportação que iria aumentar o preço da mercadoria exportada. Aqui, também,
o melhor imposto de exportação (como a melhor tarifa) será sempre positivo,
porém menor que o imposto proibitivo que acaba com as exportações.
Outro ponto importante é que os argumentos contra o livre comércio pos-
suem limitações. Isso porque a maioria dos países não consegue alterar os preços
internacionais (por se tratar de países pequenos) e, portanto, os termos do argu-
mento de comércio são, na prática, pouco importantes para eles. Já para os países
grandes, o problema é que os termos do argumento de comércio são equivalen-
tes ao argumento de poder de monopólio. Krugman, Obstfeld e Melitz (2015)
dizem que os Estados Unidos da América até poderiam fazer isso, porém, em
algum momento, eles seriam retaliados pelos outros países, que também são
grandes. Sendo assim, caso as retaliações entre os países grandes virassem um
círculo vicioso, as tentativas de coordenação internacional seriam minadas.
Ainda nas ideias dos referidos autores, os argumentos contra o livre comércio
são intelectualmente impecáveis, entretanto, na utilidade, são duvidosos. Na prá-
tica, os economistas os enfatizam mais como uma proposição teórica do que de
fato sãoutilizados pelos governos como justificativa para a política comercial.
Argumentos para restringir o Comércio
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Os conceitos de excedente do consumidor e excedente do produtor são uti-
lizados para realizar a análise de custo-benefício, sendo o caso teórico básico
para o livre comércio. Sendo assim, diversos países utilizam o argumento con-
tra o livre comércio de que essas ideias teóricas, principalmente a de excedente
do produtor, não mede de forma correta os custos e os benefícios. Isso porque a
mão de obra que é utilizada em um setor pode ser desempregada ou subempre-
gada; ainda poderia existir defeitos no capital ou ainda nos mercados de mão de
obra que, de alguma forma, podem impedir a transferência dos recursos para os
setores que possuem retornos elevados; além da possibilidade de spillovers (trans-
bordamento) de tecnologias industriais. Essas razões são denominadas de falhas
de mercado interno. Ou seja, sempre haverá algum mercado no país que não vai
estar realizando o seu trabalho de forma correta, sendo, portanto, ineficiente.
Agora, vamos supor que a produção de alguma mercadoria irá possibili-
tar alguma experiência para que a tecnologia e, com isso, o processo produtivo,
melhore. Entretanto, as empresas não podem se apropriar desse benefício, além
de não levá-lo em consideração quando decidem o quanto produzir, pois esse
benefício não pode ser quantificado pelo excedente do produtor – sendo conhe-
cido como “benefício social marginal”, sendo que este pode ser utilizado como
justificativa para tarifas aduaneiras ou ainda como outras políticas comerciais.
Conforme escrito por Krugman, Obstfeld e Melitz (2015), dizem que o
argumento de falha de mercado interno contra o livre comércio seria um caso
particular da teoria do segundo melhor (second best). Portanto, temos que uma
política sem intervenção seria o melhor em qualquer mercado somente se todos
os demais mercados estivessem funcionando corretamente, ou seja, sem falhas.
Caso não estiverem, alguma intervenção governamental que, aparentemente,
distorce os incentivos no mercado, pode vir a aumentar o bem-estar, compen-
sando as consequências das falhas de mercado. Os autores ainda trazem um
exemplo. Vamos supor que o mercado de mão de obra não esteja funcionando
corretamente, ou seja, não atinge o pleno emprego; então, a política de subsídios
para as indústrias com mão de obra intensiva, que não seria desejável no pleno
emprego, pode acabar se tornando uma boa ideia. Desse modo, deixar os salá-
rios mais flexíveis no mercado de trabalho seria uma forma de consertar esse
mercado, mas se por alguma razão isso não puder ser feito, interferir em outros
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mercados pode ser a segunda melhor opção para minimizar os problemas. Essa
teoria se fundamenta nas imperfeições no funcionamento interno da economia
justifica a interferência em suas relações econômicas externas. Portanto, esse
argumento aceita que o comércio internacional não seja a fonte do problema,
entretanto sugere que a política comercial possa ajudar em uma solução parcial.
Os argumentos de falha de mercado derrubaram muitas ideias de defesa
do livre comércio, pois as economias não são livres de falhas de mercado, ainda
mais quando se trata de países pobres. Portanto, como defender o livre comércio
sendo que as intervenções no mercado podem aumentar o bem-estar nacio-
nal? Aqui, temos duas ideias que defendem o livre comércio, sendo a primeira
que as falhas de mercado interno precisam ser corrigidas na fonte do problema
e a segunda diz que os economistas não conseguem realizar um diagnóstico
das falhas de mercado e, com isso, não podem receitar políticas (KRUGMAN;
OBSTFELD; MELITZ, 2015).
É sempre preferível lidar com as falhas de mercado da forma mais direta
possível, pois as respostas de políticas indiretas distorcem os incentivos não
intencionais em outro setor da economia. Logo, as políticas comerciais que são
justificadas pelas falhas de mercado interno não são a resposta mais eficiente,
ou seja, elas serão as segundas melhores políticas.
As implicações para os formuladores de políticas comerciais são que qualquer
política que é proposta deve sempre ser comparada com uma política puramente
nacional que seria aplicada na correção do problema. Caso a política nacional
seja cara ou tenha efeitos colaterais severos, a política comercial será menos dese-
jável. Diversos críticos da falha de mercado interno para proteção dizem que a
maioria dos desvios do livre comércio são adotados não porque os benefícios
superam os custos, mas porque a população não entende os verdadeiros custos.
É importante também ressaltar que a defesa do livre comércio dá-se porque
as falhas de mercado são difíceis de se identificar e, com isso, seria complicado
também pensar na melhor política que deve ser aplicada. Portanto, a dificuldade
de se determinar a segunda melhor política comercial que deve ser seguida traz
um reforço para o argumento do livre comércio.
Os defensores das políticas comerciais afirmam que elas irão beneficiar o
país como um todo. Todavia, as práticas comerciais atuais nos mostram que não
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há um bem-estar nacional com a implementação da política; em vez disso, exis-
tem os desejos individuais que, normalmente, estão refletidos nos objetivos dos
governos, na tentativa de se obter um maior sucesso político.
Conforme comentado, existem interesses individuais que, às vezes, são refle-
tidos nas políticas de comércio, na tentativa de se obter um maior sucesso po-
lítico. Sendo assim, a “economia de escolha pública” faz uso de modelos eco-
nômicos na tentativa de se analisar o comportamento da tomada de decisão
do governo – que são maximizadores de utilidade. Desse modo, a implicação
aqui é que a maior parte da população deverá ser atendida, na tentativa do
político em se manter no cargo, o que é conhecido como “modelo de eleitor
mediano”, que tentará maximizar as possibilidades de reeleição.
Essa modelagem é muito utilizada nas políticas de comércio internacional
pois a própria política comercial irá resultar em diferentes efeitos de bem-
-estar nos diferentes grupos da economia.
Fonte: Krugman, Obstfeld e Melitz (2015, p. 195).
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ARGUMENTOS A FAVOR DO COMÉRCIO
Neste tópico, vamos conhecer um pouco mais sobre os argumentos a favor do
livre comércio. Lembrando que, tanto na teoria como na prática, há diversos argu-
mentos, questionamentos e posições políticas contra a prática do livre comércio.
Assim, devemos nos lembrar que nenhum país é absolutamente suficiente
viver apenas com o que se produz domesticamente. Dessa forma, faz-se necessário
adquirir bens e/ou serviços que são produzidos por outro país, ou seja, importar.
Apesar dos argumentos a favor do livre comércio, é difícil encontrar algum
país que se aproxime do livre comércio por completo. Podemos citar o caso de
Hong Kong, na China, que possui uma política econômica diferente do restante
do país, sendo considerada umas das únicas economias modernas que não pos-
suem tarifas aduaneiras ou quotas de importações.
Durante muito tempo, diversos economistas vêm defendendo o livre comér-
ciocomo sendo ideal. Alguns modelos teóricos sugerem que o livre comércio
pode evitar perdas de eficiências que estão associados à proteção. Como não
existe um consenso sobre os benefícios do livre comércio, alguns economistas
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acreditam que o livre comércio traz ganhos adicionais, além de eliminar distor-
ções do consumo e da produção e que ele seria a melhor política que um governo
deveria seguir, enquanto outros dizem que o livre comércio não é uma política
perfeita (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
A eficiência para o livre comércio seria ao contrário da análise do custo bene-
fício da tarifa aduaneira (que já foi abordado). Conforme já comentado, a tarifa
aduaneira causa uma perda líquida na economia, pois ela distorce os incentivos
econômicos dos consumidores e dos produtores. Portanto, uma alteração para
o livre comércio iria eliminar essas distorções e, consequentemente, o bem-es-
tar iria aumentar. Vale ressaltar que, atualmente, as quotas de importações são
raras e as taxas de tarifa aduaneira são pequenas.
Estados Unidos da América 0,57
União Europeia 0,61
Japão 0,85
Países em Desenvolvimento 1,4
Mundo 0,93
Tabela 1- Benefícios de uma mudança para o livre comércio ao redor do mundo (porcentagem do PIB)
Fonte: William Cline, Trade Policy and Global Poverty. Washington, D.C.: Institute for International
Economics, 2004, p. 180 apud Krugman, Obstfeld e Melitz (2015).
Podemos observar na Tabela 1 os resultados de uma estimativa empírica dos
ganhos de uma mudança para o livre comércio. De maneira geral, os custos
referentes à proteção são de 0,93% do PIB mundial. Podemos perceber também
que o ganho com o livre comércio é menor nos países desenvolvidos (Estados
Unidos da América, União Européia e Japão), enquanto nos países em desen-
volvimento, os ganhos são muito maiores. Mesmo com evidências empíricas,
diversos economistas acreditam que esses cálculos não mostram o resultado
como um todo. Isso porque, nos países pequenos e nos países em desenvolvi-
mento, há ganhos no livre comércio que não estão representados na análise do
custo benefício tradicional.
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IVU N I D A D E160
Conforme bem colocado por Krugman, Obstfeld e Melitz (2015), os mercados
que são protegidos tendem a limitar os ganhos de economias de escala externas,
enquanto que nas economias de escala internas, elas diminuem a competição,
aumentam os lucros, dividem a produção pelo mundo e fazem com que muitas
empresas entrem na indústria protegida. Então, com esse aumento no número
de firmas no mercado, a escala de produção das empresas torna-se ineficiente.
Outro argumento que também merece destaque é o de incentivo aos
empreendedores para exportar ou ainda competir com as importações, pois o
livre comércio permite que as empresas tenham oportunidades de aprender e de
inovar, quando comparado com um sistema de comércio em que o governo de
alguma nação dita o padrão do comércio internacional naquele país.
Outra forma dos ganhos relacionados ao livre comércio são as empresas pro-
dutivas que começam a exportar, enquanto que as menos produtivas ficam com
o mercado doméstico. Ou seja, temos aqui uma alteração da tendência indus-
trial em direção às empresas mais eficientes (ou produtivas), fazendo com que
a economia como um todo seja mais eficiente.
É importante ressaltar que não é trivial quantificar os ganhos com o livre
comércio, além de não haver um consenso sobre o tamanho desses ganhos,
pois podem se alterar muito dependendo da metodologia adotada. Portanto,
se os benefícios adicionais com o livre comércio são tão grandes como alguns
argumentam, os custos relativos a alguma intervenção comercial, como tarifas
aduaneiras, quotas, subsídios à importação entre outros, serão maiores do que
a análise de custo-benefício tradicional consegue medir.
Quando o governo emite licenças de importação, pois as importações estão
restringidas, o custo de não estar no livre comércio aumenta, sendo esse pro-
cesso conhecido como “busca por renda”, pois as rendas são capturadas por quem
tiver essas licenças. Diversas vezes, empresas e indivíduos aceitam custos altos
para conseguir as licenças de importação.
Argumentos políticos a favor do livre comércio podem ser, na prática, uma
boa ideia, mesmo tendo políticas mais interessantes à priori. Muitos economistas
dizem que as políticas comerciais são, na prática, políticas de interesse especial
em vez de levar em consideração custos e benefícios nacionais. Algumas vezes é
possível mostrar, a nível teórico, que tarifas aduaneiras e subsídios à exportação
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podem aumentar o bem-estar nacional, muito embora a realidade é que as agên-
cias de governos (que realizam programas de intervenção comercial) podem
ser capturadas por grupos de interesse, sendo convertidas em um mecanismo
de distribuição de renda para setores politicamente influentes (KRUGMAN;
OBSTFELD; MELITZ, 2015). Caso esse argumento esteja correto, seria mais
interessante lutar pelo livre comércio, apesar que em áreas que são puramente
econômicas o livre comércio nem sempre é a melhor política.
Destarte, temos três argumentos que representam a visão geral de muitos
economistas. O primeiro está relacionado com os custos, calculados da forma tra-
dicional, de se desviar do livre comércio, que são altos. O segundo diz respeito a
outros benefícios do livre comércio que aumentam os custos das políticas prote-
cionistas. E em terceiro, temos que qualquer desvio sofisticado do livre comércio
poderá ser corrompido pelo processo político.
Chegamos ao fim de mais uma unidade, espero que tenha sido provei-
toso. A seguir, serão apresentadas as considerações finais da unidade, ou seja,
os principais pontos abordados. Faça uma boa leitura para relembrar o que foi
aprendido até aqui.
E desejo um ótimo estudo a todos!
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao final desta unidade e ampliamos o nosso conhecimento sobre a
economia internacional. Estudamos os instrumentos da política comercial e
verificamos que a adoção de uma tarifa aduaneira cria um espaço entre o preço
estrangeiro e doméstico, fazendo com que o preço doméstico aumente.
Vale ressaltar que os benefícios e os custos de uma política comercial podem
ser medidos por meio da ideia do excedente do produtor e do excedente do con-
sumidor. Portanto, os produtores do país doméstico ganham, pois a tarifa, por
exemplo, aumentou o preço que eles recebem, enquanto que os consumidores
desse mesmo país perdem pela mesma razão, além de existir uma receita para
o governo.
Somando as perdas e os ganhos de uma tarifa aduaneira, encontramos o
efeito líquido no bem-estar nacional. A partir da análise da tarifa aduaneira,
podemos adaptar e realizar análises para as outras políticas comerciais. O subsí-
dio à exportação causa perdas de eficiência parecidas com as da tarifa aduaneira,
enquanto as quotas de importações e as restrições voluntárias são diferentes da
tarifa aduaneira, pois não dão receita para o governo.
Em relação às políticas comerciais nos países em desenvolvimento, vimos
que os principais objetivos são os de promover a industrialização e, consequen-temente, aumentar o crescimento econômico.
Como vimos, poucos países praticam o livre comércio, muito embora os eco-
nomistas dizem que ele deve ser preferível. Isso porque o livre comércio, que é
eficiente, permite realizarmos análise do custo-benefício, além de que ele produz
ganhos que vão além dos medidos pela análise formal e, também, pois escolher
uma boa política comercial não é trivial.
Um argumento para desviar do livre comércio é a falha de mercado interno,
pois quando algum mercado não está funcionando de forma correta, desviar do
livre comércio pode ajudar a diminuir os efeitos do mau funcionamento.
Considerações Finais
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1. As políticas comerciais são ações que os governos adotam em direção ao co-
mércio mundial. Essas ações podem ser de diversos tipos, a saber: impostos
sobre transações, subsídios, limites legais sobre o valor ou volume de importa-
ções, entre outras medidas. Sobre os instrumentos de política comercial, assi-
nale a alternativa correta:
a) A “tarifa aduaneira”, que não é considerada como a mais simples das polí-
ticas de comércio, é um imposto que é cobrado quando se importa uma
mercadoria.
b) Tanto a “tarifa aduaneira específica” como as “tarifas aduaneiras ad valorem”
aumentam o custo de envios de mercadorias para o país.
c) As políticas de comércio consideradas mais antigas são as tarifas aduaneiras,
porém não podem ser usadas como uma forma de arrecadação pelo go-
verno. O verdadeiro propósito dessa política é o de proteger alguns setores
nacionais.
d) O “subsídio à exportação” se traduz em um pagamento a um indivíduo ou
empresa que exporta algo. É importante ressaltar que esse subsídio é sem-
pre um montante fixo por unidade e não uma proporção do valor exportado.
e) A “quota de importação” seria uma espécie de restrição direta na qualidade
importada de alguma mercadoria. Essas restrições normalmente são aplica-
das através da emissão de licenças para alguns grupos de empresas e indiví-
duos, tanto para consumo próprio quanto para revenda.
2. Dois tipos de falhas de mercado são identificados por economistas que estudam
os países industriais. São eles: o primeiro está relacionada com as indústrias de
alta tecnologia que, ao que tudo indica, não conseguem se beneficiar da sua
contribuição para os transbordamentos para outras empresas; já o segundo se
refere aos lucros de monopólio nas indústrias oligopolistas muito concentra-
das. Sobre a curva ambiental de Kuznets, assinale a alternativa correta.
a) Ela possui a forma de “U” e significa que quando a renda per capita de um
país aumenta por causa do crescimento econômico, inicialmente se polui
mais e vai chegar um momento em que o país estará tão rico que irá realizar
ações para proteger o meio ambiente e, com isso, o seu dano ambiental
poderá diminuir.
b) Ela possui a forma de “U” invertido, e significa que quando a renda per capita
de um país diminui por causa do crescimento econômico, inicialmente se
polui menos e vai chegar um momento em que o país estará tão rico que
irá realizar ações para proteger o meio ambiente e, com isso, o seu dano
ambiental poderá aumentar.
165
c) Ela está relacionada com a proteção ambiental de um país e, dependendo
da sua posição na curva, ele poderá adotar diversas políticas comerciais na
tentativa de diminuir a sua emissão de gases do efeito estufa. Ela já foi com-
provada empiricamente por diversos trabalhos científicos.
d) Ela possui a forma de “U” invertido e significa que quando a renda per capita
de um país aumenta por causa do crescimento econômico, inicialmente se
polui mais. Vai chegar um momento em que o país estará tão rico que irá
realizar ações para proteger o meio ambiente e, com isso, o seu dano am-
biental poderá diminuir.
e) Ela possui a forma de “U” e significa que quando a renda per capita de um
país aumenta por causa do crescimento econômico, inicialmente se polui
menos. Vai chegar um momento em que o país estará tão rico que irá reali-
zar ações para proteger o meio ambiente e, com isso, o seu dano ambiental
poderá aumentar.
3. Historicamente, após o final da Segunda Guerra Mundial até por volta da déca-
da de 70, as políticas comerciais de muitos países em desenvolvimento acredi-
tavam na ideia de que, para se ter um desenvolvimento econômico, era neces-
sário criar um forte setor industrial, e a melhor forma de tê-lo era protegendo
os produtos nacionais dos produtos internacionais. Sobre a política comercial
para países em desenvolvimento, assinale a alternativa correta.
a) Diversos países em desenvolvimento, na tentativa de impulsionar seu cres-
cimento, do final da Segunda Guerra Mundial até a década de 70, aumen-
taram suas importações de produtos manufaturados, com o objetivo de
sustentar um setor manufatureiro, que em algumas vezes era nascente, para
que sustentasse o mercado doméstico, ou seja, que suprisse as necessida-
des internas, deixando de recorrer às exportações, isto é, deixava de impor-
tar na tentativa de industrializar o país.
b) O argumento da indústria nascente nos diz que os países em desenvolvi-
mento possuem vantagem absoluta potencial na manufatura, sendo que
as novas indústrias manufatureiras nos países em desenvolvimento compe-
tem, inicialmente, com as indústrias já estabelecidas em países desenvolvi-
dos. Sendo assim, os governos precisam apoiar essas novas indústrias tem-
porariamente, para que elas fiquem fortes e possam continuar a competir
com os concorrentes internacionais.
c) A ideia de que é custoso e demorado construir uma indústria se configura
como argumento para o governo intervir, mesmo que exista alguma falha
de mercado interno.
166
d) De maneira geral, a principal estratégia da industrialização nos países em
desenvolvimento é a de promover indústrias voltadas ao mercado externo,
utilizando restrições ao comércio, como as tarifas e quotas (que são instru-
mentos de política comercial) que encorajam a substituição das mercado-
rias exportadas por produção nacional (doméstica). Portanto, limitam as
exportações de manufaturas, sendo isso conhecido como “industrialização
de substituição de importação”.
e) Diversos países em desenvolvimento utilizam o argumento da indústria
nascente para dar proteção e desenvolver indústrias manufatureiras. Esses
apoios podem ser na forma de subsídios para a produção de manufatura,
em geral, ou ainda focar nos subsídios para produtos de exportação que
acreditam ter vantagens comparativas.
4. Os argumentos que restringem o comércio em nível mundial são utilizados
para impedir o livre comércio e muitas vezes são usados como forma de prote-
ger o país de nações mais desenvolvidas que possuem estruturas de produção
e condições diferenciadas de nações menos desenvolvidas. Sobre os argumen-
tos para restringir o comércio, assinale a alternativa correta:
a) Um argumento que vai contra o livre comércio advém da análise custo be-
nefício. Países grandes não são capazes de afetar os preços internacionais,
sendo que uma tarifa aduaneira irá diminuir o preço das importações e, com
isso, irá gerar benefícios nos termos do comércio.
b) Subsídios à exportação pioram os termos de comércio que, por sua vez, au-
mentam o bem-estar nacional, sendo que a política ideal aqui seria uma es-
pécie de subsídio negativo, ou seja, uma espécie de imposto de exportação
que iria aumentar o preço da mercadoria exportada.
c) Diversos países utilizam o argumento contra o livre comércio de que o exceden-
te do produtor não mede de forma correta os custos e os benefícios gerados.
d) Os argumentos de falha de mercado derrubaram muitas ideias de defesa
do livre comércio,pois as economias são livres de falhas de mercado, ainda
mais quando se trata de países pobres.
e) As políticas comerciais que são justificadas pelas falhas de mercado interno
são a resposta mais eficiente, ou seja, elas serão as primeiras melhores políticas.
5. Durante muito tempo, diversos economistas vêm defendendo o livre comércio
como sendo ideal, sendo que alguns modelos teóricos sugerem que o livre
comércio pode evitar perdas de eficiências que estão associadas à proteção.
Sobre os argumentos a favor do comércio, assinale a alternativa correta:
167
a) A eficiência para o livre comércio seria o contrário da análise do custo-be-
nefício da tarifa aduaneira. Além disso, a tarifa aduaneira causa uma perda
líquida na economia, pois ela distorce os incentivos econômicos dos consu-
midores e dos produtores. Portanto, uma alteração para o livre comércio iria
eliminar essas distorções e, consequentemente, o bem-estar iria aumentar.
b) As evidências empíricas apontam que os cálculos realizados mostram o re-
sultado como um todo; isso porque, nos países pequenos e nos países em
desenvolvimento, há ganhos no livre comércio que não estão representa-
dos na análise do custo-benefício tradicional.
c) O incentivo aos empreendedores para importar ou ainda competir com as
exportações são permitidos no livre comércio, pois as empresas possuem
oportunidades de aprender e de inovar, quando comparado com um sis-
tema de comércio em que o governo de alguma nação dita o padrão do
comércio internacional e doméstico naquele país.
d) Outra forma dos ganhos relacionados ao livre comércio são as empresas
produtivas que começam a importar, enquanto que as ainda mais produti-
vas ficam com o mercado doméstico. Ou seja, temos aqui uma alteração da
tendência industrial em direção às empresas mais eficientes (ou produtivas),
fazendo com que a economia como um todo seja mais eficiente.
e) Pela facilidade em quantificar os ganhos com o livre comércio, além do con-
senso sobre o tamanho dos ganhos, esses valores quantificados não se alte-
raram muito com o tipo de metodologia adotada. Portanto, se os benefícios
adicionais com o livre comércio são tão grandes como alguns argumentam,
os custos relativos a alguma intervenção comercial, como tarifas aduaneiras,
quotas, subsídios à importação entre outros, serão maiores do que a análise
de custo benefício tradicional consegue medir.
168
Caro(a) aluno(a)! Para complementar o
aprendizado sobre as práticas de comér-
cio, como vimos na teoria, convido vocês
para uma leitura mais próxima da prática, ou
vida real. Este texto trata da proteção contra
a conduta desleal dos estados no comércio
internacional. Nele, vocês poderão observar
os fundamentos que são orientados pela
Organização Mundial do Comércio.
Sobre a proteção contra a conduta
desleal dos Estados no comércio inter-
nacional: as ambiguidades de sua
disciplina jurídica e de seus fundamen-
tos no direito da OMC.
A competição pelo mercado internacio-
nal mobiliza não apenas empresas, mas
igualmente Estados. Com efeito, políticas
públicas são adotadas com vistas a aumen-
tar a participação de empresas domésticas
no mercado internacional. Por esses moti-
vos, surge o seguinte questionamento:
determinadas condutas estatais podem
ser consideradas desleais pelas normas
do sistema multilateral do comércio, ao
desequilibrarem o jogo da concorrên-
cia internacional em favor das empresas
nacionais? O direito da OMC responde afir-
mativamente a essa questão, ao autorizar
os seus membros a reagirem ao dumping
e aos subsídios por meio de instrumentos
de defesa comercial. Tal autorização funda-
menta-se na finalidade de assegurar uma
certa isonomia entre os atores do comér-
cio internacional. Isso, porém, não significa
dizer que as medidas antidumping e con-
tra os subsídios sejam sempre benéficas
e isentas de custos econômicos. Convém,
assim, aprofundar o debate sobre o uso
desses instrumentos de defesa comercial.
Fonte: Borges, (2017, on-line).
Leia o artigo completo por meio do link: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=s-
ci_arttext&pid=S1808-24322017000200428&lng=pt&nrm=iso>.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Economia internacional
Paul Krugman, Maurice Obstfeld e Marc J. Merlitz
Editora: Pearson
Sinopse: em parceria com Maurice Obstfeld e Marc J. Merlitz, Paul
Krugman traz na décima edição de Economia internacional os últimos
acontecimentos da área, com uma linguagem didática, clara e analítica,
que permite ao leitor analisar os quadros passados e atuais do mercado
econômico. Com uma revisão rigorosamente atualizada dos capítulos, a
obra se divide em duas partes – voltadas ao comércio e às questões monetárias – e discorre sobre
alguns desenvolvimentos signifi cativos dos lados teórico e prático, além de responder às sugestões
dos leitores. Conta ainda com estudos de caso que reforçam os temas abordados, ilustrando sua
aplicabilidade no mundo real e fornecendo importantes informações históricas.
REFERÊNCIAS
APPLEYARD, D. R.; FIELD, A. J.; COBB, S. L. Economia internacional. 6. ed. Porto Ale-
gre: AMGH, 2010.
BORGES, D. D. Sobre a proteção contra a conduta desleal dos Estados no comér-
cio internacional: as ambiguidades de sua disciplina jurídica e de seus fundamen-
tos no direito da OMC. Revista Direito GV, São Paulo, v.13, n.2, mai./ago. 2017.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-
24322017000200428&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 28 jun. 2018.
ELLIOTT, K. A. FREEMAN, R. B. Can Labor Standards Improve Under Globaliza-
tion? Washington, D.C.: Institute Internacional Economics, 2003.
KRUGMAN, P. R.; OBSTFELD, M.; MELITZ, M. J. Economia Internacional. São Paulo:
Pearson Education do Brasil, 2015.
1. B
2. D
3. E
4. C
5. A
GABARITO
171
U
N
ID
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E V
Professora Dra. Luciane Cristina Carvalho
COMÉRCIO INTERNACIONAL
E O DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO
Objetivos de Aprendizagem
■ Conhecer, de forma básica, a teoria do desenvolvimento econômico
baseado no comércio internacional.
■ Compreender como o comércio e a industrialização surgiram como
forma alternativa de investimento ao comércio internacional.
■ Observar o processo de substituição de importações como um
modelo de desenvolvimento econômico utilizado por economias
latino-americanas.
■ Entender a Teoria da Integração Econômica e suas diferenças com o
regionalismo e multilateralismo.
■ Apreender o movimento da globalização, em especial a globalização
financeira e produtiva.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Teoria do desenvolvimento econômico
■ Comércio e a industrialização
■ Processo de substituições de importações (PSI)
■ Integração econômica, regionalismo e multilateralismo
■ Globalização financeira e produtiva
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) à unidade de estudo!
Nesta unidade, vamos conhecer um pouco sobre o comércio internacional e
o desenvolvimento econômico, ou seja, como o primeiro proporciona o segundo.
Levando em consideração que os países buscam estreitar suas relações com vis-
tas à troca de experiências, tecnologias, produtos, serviços, crédito, investimento,
esta unidade destaca alguns modelos de desenvolvimento que ocorreram em
razão do comércio internacional e da promoção do desenvolvimento.
Conheceremos duas teorias iniciais de desenvolvimento econômico baseado
no comércio, sendo o primeiro a evolução dos termos de troca, e o segundo o
comércio como motor de crescimento econômico.
Além disso, vamos conhecer também o comércio e a industrialização ou
progresso técnico como alternativa de investimento ao comércio internacional.
Destacaremos suas principais teses de fluxo do comércio, sendoelas baseadas
no ciclo do produto desenvolvido por R. Vermon. De acordo com essa teoria, o
comércio internacional de produtos manufaturados seria explicado pela dinâ-
mica da inovação nas corporações transnacionais.
E a segunda é baseada na teoria dos gansos voadores. Tal teoria propõe um
padrão de industrialização que ocorre em ondas e que implica uma divisão regio-
nal de trabalho baseada em hierarquia industrial e locacional.
Estudaremos também o modelo de substituição de importações que foi
utilizado por diversos países de economia periférica como alternativa ao desen-
volvimento. Como modelos mais recentes, iremos ver a teoria da integração
econômica, o regionalismo e o multilateralismo. Nessa fase, vamos conhecer os
blocos econômicos que foram formulados para ampliar as relações comerciais.
E, por fim, nosso estudo se voltará para o processo de globalização e suas
principais fases, sendo a globalização produtiva e financeira. Desejamos um
ótimo estudo a todos!
INTRODUÇÃO
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TEORIA DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Vamos estudar o comércio internacional e o desenvolvimento econômico. O
assunto é importante tanto para as nações desenvolvidas como às economias
consideradas emergentes. O que muda para ambas as nações são os problemas
macroeconômicos existentes em cada uma: por exemplo, no primeiro caso, nações
desenvolvidas, a questão fundamental das economias desenvolvidas é o pleno
emprego. Em contrapartida, para a maioria das nações consideradas como perifé-
ricas ou não desenvolvidas, o desenvolvimento é de extrema importância e pode
ser visto por diversos ângulos, como o alto índice de desemprego. Então, vamos
procurar mostrar aqui os motivos para alcançar o desenvolvimento econômico.
Primeiramente, definiremos: o que é desenvolvimento econômico? Bem,
podemos conceituar como um processo pelo qual as nações passam e ocorre
aumento da capacidade produtiva acompanhado de melhoria na qualidade de
vida dos indivíduos de uma sociedade.
Alertamos, portanto, que desenvolvimento econômico é diferente de cresci-
mento econômico. Este último se preocupa apenas com variações quantitativas,
tais como Produto Interno Bruto (PIB).
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O debate acerca do desenvolvimento organizou-se em oposição à economia
neoclássica, ou seja, os países subdesenvolvidos tinham características particu-
lares, portanto não poderiam ser estudados com a mesma formulação de estudo
para nações desenvolvidas.
Outro ponto a destacar é que, conforme Gonçalves et al. (1998), o cres-
cimento econômico é a crítica à ideia difusionista, ou seja, os mecanismos de
mercado seriam suficientes para fazer o desenvolvimento econômico fluir desde
as regiões mais desenvolvidas até as menos desenvolvidas.
Lembrando que as teorias clássicas e neoclássicas de crescimento econômico
consideram o comércio internacional como difusão de frutos desse processo, ou
seja, via por meio do livre comércio os ganhos de produtividade que eram trans-
mitidos pela economia internacional.
Economistas clássicos, como Adam Smith, argumentavam que o comércio e
o crescimento econômico estão associados, como mostra sua abordagem sobre
o canal de escoamento do excedente. De acordo com essa abordagem, tem-se a
hipótese de que quando os países isolados entram no comércio internacional,
eles têm capacidade de alguns recursos domésticos. E, nesse caso, o comércio
não iria apenas realocar os recursos, mas também permitir o emprego da par-
cela desses recursos que estariam ociosos na ausência do comércio.
Outro pensador clássico, David Ricardo, difere da ideia de Smith e pressu-
põe que os recursos de um país estão plenamente empregados antes mesmo dos
países entrarem no comércio internacional. Para Ricardo, a função do comércio
seria de realocar os recursos disponíveis de forma mais eficiente, tendo como
requisito um certo padrão tecnológico e pleno emprego.
Assim, o debate sobre o comércio e o desenvolvimento não se limita à escola
clássica e neoclássica. Há pensadores considerados modernos que possuem
argumentos sobre esse debate. São eles: Prebisch-Singer e o argumento sobre a
deterioração dos termos de troca e o argumento de Ragnar Nurkse sobre o comér-
cio como motor do desenvolvimento. Vejamos separadamente cada um deles.
A. Tese de Prebisch-Singer
Este argumento (ou tese) foi formulado de forma independente por Hans
W. Singer e Raul Prebisch na década de 50 e era fundamentado na ten-
dência estrutural de deterioração dos termos de troca entre os países
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subdesenvolvidos, sendo estes exportadores de produtos primários, e os
países desenvolvidos como exportadores de produtos manufaturados.
Prebisch, juntamente com outras personalidades científicas políticas, for-
mularam a abordagem que ficou conhecida como CEPALINA. Vamos
explicar melhor: Prebisch e outros economistas, sociólogos e cientis-
tas políticos se reuniam na Comissão Econômica para América Latina
(CEPAL), disso derivou-se o nome CEPALINA. Trata-se de uma aborda-
gem com foco em países considerados periféricos. Para ele, o comércio
internacional não levaria a um fluxo contínuo de países desenvolvendo-se
em função dos ganhos do comércio, ou ainda, pela difusão do progresso
técnico dos países avançados para os menos desenvolvidos ou atrasados.
Segundo essa abordagem, a integração das economias periféricas em escala
mundial levou à modernização sob condições de heterogeneidade estru-
tural. De forma mais clara, ele queria dizer que o progresso técnico que
concentrava-se nas atividades exportadoras modernizara-se, no entanto,
devido à oferta de mão de obra e pouca organização sindical, os ganhos de
produtividade não acarretavam aumentos salariais, mas redução de preço.
Assim, conforme Gonçalves et al. (1998), a especialização na exportação
de produtos primários levava à formação de uma economia dual, isto é,
um setor moderno exportador e um setor tradicional. Tais economias
foram consideradas como especializadas e heterogêneas.
Por outro lado, as economias avançadas difundiam o progresso técnico
por toda a economia e geravam aumento dos salários, lembrando que os
movimentos dos sindicatos nessas regiões são mais organizados, possi-
bilitando uma economia mais diversificada e homogênea.
B. Tese de Ragnar Nurkse
Essa tese apresentou-se diferente da anterior, pois sustentava o argumento de
que, no século XIX, o comércio foi o motor do crescimento econômico. Esse
fato sucedeu-se em razão da alta propensão marginal a importar, gerando como
subproduto da dinâmica industrial um mercado para matéria-prima e alimen-
tos, que vinham de economias consideradas periféricas da América Latina.
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Conforme Gonçalves et al. (1998), esse fato, de motor do crescimento,
mudou no século XX, pois nesse período houve redução de importân-
cia relativa da demanda por matérias-primas e alimentos da periferia, ou
seja, houve redução no comércio. Esse fato ocorreu por dois motivos:
■ O primeiro foi que o crescimento da renda dos países desenvolvidos
à propensão marginal a importar alimentos mostrou uma tendência
de queda.Aliada a isso, ocorreu a descoberta das tecnologias de pro-
dutos sintéticos, que reduziu a demanda por matéria-prima.
■ Em segundo, os Estados Unidos, substituindo a Grã-Bretanha na
liderança da economia mundial, era autossuficiente em alimentos, e
ainda mantinha sua economia fechada e protecionista.
Dessa forma, o comércio como motor de desenvolvimento foi usado como
base para explicar o sucesso das economias de colonização recente pela
escola canadense de desenvolvimento econômico, que, por sua vez, for-
mulou a chamada teoria do produto dinâmico de exportação.
Enfim, de forma sucinta, a ideia do comércio como motor de desenvolvi-
mento formulado por Nurkse foi contestada por Irving Kravis. Este último
argumentou que o comércio não foi o motor do crescimento, mas sim
que foi o resultado de um desenvolvimento econômico endógeno bem-
-sucedido. Em suma, essas foram as principais teorias de desenvolvimento
econômico, fundamentadas no comércio internacional.
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COMÉRCIO E A INDUSTRIALIZAÇÃO
Esse tema é muito oportuno, visto que é por meio dessas suas dinâmicas que
se alcança o crescimento. Para um melhor entendimento, vamos utilizar o pro-
gresso técnico como forma de industrialização.
Bem, tanto o comércio quanto o progresso técnico estão associados à eco-
nomia internacional como formas alternativas, pois demandam investimentos
internacionais.
Partindo dessa abordagem, Gonçalves et al. (1998) destaca que são jus-
tamente as diferenças entre os níveis de desenvolvimento e as tecnologias
que explicam os fluxos comerciais. Para compreender melhor o comércio e
a industrialização, vamos estudar sobre dois argumentos que promovem o
internacional, sendo eles: o primeiro argumento é conhecido como teoria do
ciclo do produto e o segundo como teoria dos gansos voadores. Vamos estu-
dá-los de forma separada.
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TEORIA DO CICLO DO PRODUTO
A teoria do ciclo do produto foi desenvolvida por Raymond Vernom na década
de 60 sob o argumento de que o comércio internacional de produtos manufatu-
rados seria explicado pela dinâmica da inovação nas corporações internacionais.
O argumento de Vernom, conforme Gonçalves et al. (1998), era de que inicial-
mente, em seu país de origem, as firmas introduziriam inovações e desenvolveriam
novos produtos. Logo, com o aumento da produção, a firma inovadora começaria
a exportar, beneficiando-se da economia de escala. Posteriormente a isso, a firma
decide investir no exterior beneficiando-se da tecnologia, e percebe, nesse momento,
que não é possível manter a quase-renda da inovação apenas com a exportação.
Dessa maneira, o produto entra em declínio, e a firma mantém a produção somente
fora do seu país, enquanto introduz no mercado doméstico um novo produto.
Entendendo melhor: o produto tem um tempo na economia. Quando ele
entra em declínio, a firma inovadora irá buscar o lançamento de um novo pro-
duto no país doméstico até que este produto faça todo o ciclo.
Com esse argumento, Vernom procurou explicar os fluxos de comércio de
produtos que operam em mercados de concorrência perfeita. Para isso, utilizou
os Estados Unidos da América (EUA) como exemplo, já que o país estaria em
liderança da inovação tecnológica no momento em que realizou o estudo. Dessa
forma, o autor descreve o ciclo do produto em fases como apresenta o Quadro 1.
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1ª FASE
Estágio inicial
• Os novos produtos tendem a não ser padronizados.
• Fase de efetuar experiências com o processo de pro-
dução com diferentes tipos de insumos e desenho de
produto.
• Fornecedores não podem prover as necessidades sem
que não haja desperdícios.
• A diferenciação de produtos e dos fornecedores é alta.
2ª FASE
Fase da maturação
• A demanda se expande e começa um certo grau de
padronização.
• Com novas instalações no exterior as exportações nor-
te-americanas começam a crescer de forma mais lenta.
• As novas regiões produtoras podem começar ativida-
des de exportação para outros países de sua área de
influência, reduzindo as exportações norte-america-
nas.
3ª FASE
Fase de padronização
• Ocorre um processo de transferência de fábricas dos
EUA e a Europa Ocidental com alguns países em de-
senvolvimento mais dinâmico.
• Novas regiões produtoras começam a substituir impor-
tações desses produtos.
• É possível que os EUA deixem de produzir esses
produtos, dado sua padronização, já que os elevados
custos de mão de obra tornam mais atraente importar
tais produtos de regiões menos desenvolvidas, onde o
custo de fabricação é menor.
Quadro 1 - Fases da teoria do ciclo do produto
Fonte: adaptado de Gonçalves et al. (1998).
Conforme o estudo de Vernom, o ciclo do produto tem alto poder explicativo
para o período de seu estudo (décadas de 50 e 60) na economia norte-ameri-
cana, como podemos observar na Figura 1.
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Estágios de desenvolvimento do produto
Produto novo Produto em
maturação
Países menos desenvolvidos
Outros países adiantados
Estados Unidos
Produto
padronizado
Produção
Produção
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Exportações
Exportações
Consumo
ConsumoConsumo
Consumo
Importações
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Figura 1- Ciclo do produto
Fonte: Gonçalves et al. (1998, p.74).
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De acordo com Gonçalves et al. (1998), a partir da década de 70, as posições
das empresas dos EUA, como líderes da inovação tecnológica, passaram a ser
ameaçadas pelo dinamismo das empresas europeias e japonesas. Outra expli-
cação observada pela teoria é a redução do comportamento das exportações e
do investimento externo norte-americano. Outro modelo similar ao de Vernon
foi desenvolvido independentemente pelo economista japonês K. Akamatsu na
década de 30, mas ficou conhecido apenas em 1962. Vamos conhecer esse novo
modelo no próximo tópico.
TEORIA DOS GANSOS VOADORES
Vamos conhecer aqui um modelo de industrialização conhecido como modelo
dos gansos voadores. Essa teoria apresenta uma descrição do ciclo de vida de
várias indústrias no processo de desenvolvimento econômico e, também, a realo-
cação das indústrias de um país para outro.
Essa teoria foi desenvolvida por K. Akamtsu e, conforme seu argumento,
o comércio é o meio mais importante para transferir tecnologias pelos países.
A partir disso, considerou duas palavras-chave, sendo uma senshinkoku, a qual
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indica que as importações dos países avançados permitira quenovos produtos
fossem introduzidos nos países seguidores, ou seja, koshinkoku.
Dessa forma, a teoria dos gansos voadores propõe um padrão de industriali-
zação que acontece em ondas e explica uma divisão regional de trabalho firmada
em uma hierarquia industrial e locacional. Conforme Gonçalves et al.(1998),
essa onda de difusão de tecnologia e capacidade produtiva acontece em formato
de um V, semelhante à formação de gansos voadores. Assim, o progresso eco-
nômico do país líder seria progressivamente transmitido aos países seguidores,
que iniciariam sua produção no mesmo padrão tecnológico.
Conforme esse modelo, os países menos desenvolvidos iniciam sua produ-
ção já empregando a mais avançada tecnologia disponível. Assim, a produção
regional seria dividida segundo os custos de mão de obra e intensidade do uso
desse fator, mas com padrão tecnológico. O modelo é representado conforme
a Figura 2.
Japão
Coréia
Taiwan
Tailândia
Indonésia
Malásia
China
Figura 2- Modelo dos gansos voadores
Fonte: adaptada de Gonçalves et al. (1998).
O modelo é baseado empregando a estratégia de desenvolvimento dos países
asiáticos, que, tendo o Japão como liderança, entraram sucessivamente em um
processo de crescimento econômico influenciado pelo dinamismo regional.
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PROCESSO DE SUBSTITUIÇÕES
DE IMPORTAÇÕES (PSI)
Na literatura, o processo de substituição de importação (PSI) teve como ponto
de partida a crise dos anos 30. Esse momento foi caracterizado por ruptura na
estrutura da economia brasileira, em razão do declínio do modelo primário
agroexportador, resultando em um novo modelo de desenvolvimento baseado
na industrialização.
A estratégia para o desenvolvimento foi entendida como modelo voltado para
dentro, aderindo, dessa maneira, a substituição de importações que durou entre
os períodos de 1930 até meados da década de 80. O referido modelo foi adotado
pelos grandes países latino-americanos. De acordo com Gremaud, Vasconcellos
e Toneto Júnior (2002), as principais características desse modelo foram:
■ Ser conhecido como industrialização fechada, sendo justificado por dois
argumentos: primeiro foi voltado para dentro, isto é, tinha como obje-
tivo o atendimento do mercado interno. E, segundo, era um modelo que
dependia de medidas que protegem a indústria nacional. Para que houvesse
essa proteção, algumas medidas foram adotadas, tais como: desvaloriza-
ção cambial, controles cambiais, taxas múltiplas de câmbio e aplicação
de tarifas aduaneiras.
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O PSI origina-se com o estrangulamento externo, ou seja, um esgotamento
externo que resultou em escassez de divisas. Esse fato levou à dificuldade do
país em fazer frentes aos diversos compromissos financeiros externos. Com isso,
o governo procurou medidas para controlar a crise que se instaurou naquele
momento, por meio de medidas que pudessem dificultar as importações e, con-
sequentemente, proteger a indústria nacional, já que esse era o novo modelo e
era necessário para o desenvolvimento industrial do país.
Verificou-se, também, que no período originou-se uma onda de investimen-
tos nos setores que substituíam as importações, o que fez com que se elevasse a
renda nacional e a demanda agregada.
Posteriormente a isso, desencadeava-se um novo estrangulamento externo em
função do próprio crescimento da demanda. E aí tem-se todo o processo nova-
mente. O PSI foi um processo de substituição de produtos que, anteriormente, era
importado e que no momento passará a ser produzido domesticamente. Esse pro-
cesso não foi tão simples, pois exigiu a industrialização por etapas. Esperava-se que,
com o passar do tempo, ou ao final deste, haja uma indústria completa. Entretanto,
como ocorreu em etapas, a indústria foi se desenvolvendo a partir das necessidades,
ou seja, a pauta de importações ditava a sequência dos setores objeto dos investi-
mentos industriais. Assim, temos a representação das etapas do PSI no Quadro 2.
1ª rodada: Bens de consumo não duráveis. Têxteis, calçados, alimentos.
2ª rodada: Bens de consumo duráveis. Eletrodomésticos, automóveis.
3ª rodada: Intermediários. Ferro, aço, cimento, petróleo, químicos.
4ª rodada: Bens de capital. Máquinas, equipamentos.
Quadro 2 - Etapas do processo de substituição de importações
Fonte: Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2002).
O PSI foi um modelo utilizado pelos países latino-americanos como alternativa
ao desenvolvimento. No entanto, não foi um processo simples, mas apresentou
diversas dificuldades que careciam de um olhar mais profundo. Tais dificuldades
referiam-se à tendência ao desequilíbrio externo, ao aumento da participação do
Estado, ao aumento do grau de concentração de renda e escassez de fontes de
financiamento. Vamos conhecer com mais detalhes o que eram essas dificuldades.
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A. Tendência ao desequilíbrio externo
Essa dificuldade era observada devido a três elementos. O primeiro era
decorrente da política cambial que permitiu o confisco cambial, isto é,
permitiu a transferência da renda da agricultura para a indústria, cau-
sando desestímulo às exportações agrícolas. O segundo motivo referia-se
à falta de competitividade, devido ao protecionismo. E o terceiro motivo
era a elevada demanda por importações, devido ao investimento indus-
trial e ao aumento da renda.
B. Aumento da participação do Estado
A participação do Estado é sempre polêmica na economia. Então, para
a situação pós anos 30 e com novo modelo de desenvolvimento, caberia
ao Estado algumas funções, tais como:
1. Adequar o arcabouço institucional à indústria.
2. Promover a geração de infraestrutura básica.
3. Fornecer os insumos básicos.
4. Captar e distribuir a poupança.
O último podemos ressaltar que era um problema além, pois havia neces-
sidade de planejamento e financiamento crescente na economia.
C. Aumento do grau de concentração de renda
Outra dificuldade observada é que o modelo adotado era concentrador de
renda. Como já destacamos na dificuldade sobre o desequilíbrio externo,
havia a transferência da renda da agricultura para a indústria, resultando
no êxodo rural. Além disso, havia uma dificuldade com relação ao inves-
timento industrial intensivo, ou seja, um desequilíbrio no mercado de
trabalho. Esse desequilíbrio era resultado do excesso da oferta para mão
de obra pouco qualificada e baixos salários e, ao contrário, escassez de
mão de obra qualificada com altos salários.
Outro ponto a destacar é o protecionismo e a concentração industrial
que permitiram preços elevados e altas margens de lucro às indústrias.
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D. Escassez de fontes de financiamento
Bem, os recursos em qualquer época são escassos. Nesse momento, a
escassez das fontes de financiamento era decorrente da quase inexistência
do sistema financeiro e também devido a “Lei da Usura”. Esta lei impe-
dia a cobrança de juros considerada exorbitante que pudesse colocar em
perigo o patrimônio e a estabilidade econômica.
E outra dificuldade era a ausência de uma reforma tributária ampla quepudesse adaptar-se às novas mudanças na economia brasileira. No entanto,
essa reforma só foi alcançada na década de 60.
Agora vamos entender como um país primário agroexportador, que modifi-
cou seu modelo de desenvolvimento econômico, recebeu sua contribuição do
campo, ou seja, como a agricultura, que era o modelo anterior, inseriu-se nessa
industrialização.
Conforme Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2002), a agricultura teve
um papel na industrialização bem importante, sendo ele:
1. A liberação da mão de obra, como já vimos anteriormente, que ocorreu
com o êxodo rural. Dessa forma, ocorreu a troca do trabalho que estava
no campo agora com destino à indústria.
2. O fornecimento de alimentos e de matérias-primas para a indústria.
3. A transferência do capital, que também já comentamos, quando houve
o deslocamento dos recursos que anteriormente iam para a agricultura
e, agora, destinam-se à indústria.
4. A geração de divisas.
5. O papel de mercado consumidor.
Destacamos ainda que a agricultura sempre teve um papel na economia brasi-
leira. E alguns autores argumentam que o atraso na agricultura durante o PSI
representava um obstáculo ao processo de crescimento do país. Outros autores já
argumentam que a agricultura não representava obstáculo ao desenvolvimento,
visto que o setor primário cumpria sua função, mesmo sem o apoio governamental.
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INTEGRAÇÃO ECONÔMICA, REGIONALISMO E
MULTILATERALISMO
Essas formas tornaram-se mais conhecidas nas últimas décadas, pois foi o perí-
odo em que o mundo sofreu diversas transformações. As formas de estratégias
de comércio internacional são: integração econômica, regionalismo e multila-
teralismo. O que quer dizer cada uma delas?
A resposta será mostrada a partir dos tópicos seguintes.
1. Integração econômica
Primeiramente, devemos conceituar integração; apesar de ainda não estar
tão clara essa definição, podemos assumir o que a maioria dos pesqui-
sadores denominam. Conceituamos que integração econômica é a união
de economias que ultrapassa as fronteiras geográficas, com o intuito de
reduzir as barreiras ao comércio.
Devemos lembrar que as fronteiras mantêm alguns empecilhos aos flu-
xos de mercadorias entre os países, justificável em partes, pois o maior
intuito no comércio internacional é proteger a economia nacional. Assim,
pode-se dizer que o objetivo do processo de integração é a criação de
mercados, mediante acordos preferenciais de tarifas. Além disso, a base
fundamental do comércio é que mercados maiores são mais eficientes do
que os menores.
Bela Balassa,
um dos estu-
diosos sobre
o assunto,
afirma que
a integração
pode ser con-
ceituada como
um processo ou
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uma situação de atividade, como segue:
Considerada como un proceso, se encuentra acompañada de medidas
dirigidas a abolir la discriminación entre unidades económicas perten-
cientes a diferentes naciones; vista como una situación de los negocios,
la integración viene a caracterizarse por la ausencia de varias formas
de discriminación entre economías nacionales (BALASSA,1980, p.1).
Bem, podemos perguntar: o que as nações ganham com a integração?
A resposta é bem simples: a natureza humana é motivada por incentivos,
logo, as nações possuem interesse econômico. Como argumenta Machado
(2000), com o aumento do mercado há ganhos oriundos não só da melhor
alocação dos recursos, mas também do incremento da concorrência. Esse
último fator leva a preços mais baixos, a busca por melhora na qualidade
dos produtos e, principalmente, aumento da produtividade.
O processo de integração econômica geralmente envolve pelo menos 4
estágios, mas Machado (2000) destaca de forma detalhada que esta ação
pode envolver 7 estágios, os quais estão discriminados abaixo.
A. A zona preferencial de comércio: Machado (2000) destaca que essa
fase também é conhecida como acordos de cooperação comercial e
caracteriza-se pela eliminação parcial das tarifas em geral, sob a forma
de concessões mútuas (ou não) de redução de alíquotas, com ou sem
fixação de cotas de importação. Nesse caso, não implica em eliminar
ou reduzir as outras práticas de comércio. Exemplo: Associação Lati-
no-Americana de Integração (ALADI).
B. A zona de livre comércio: de acordo com Machado (2000), essa fase
da integração é caracterizada pela eliminação de tarifas aduaneiras e
outras restrições ao comércio entre os países participantes do acordo. A
vantagem desse acordo é que cada país preserva sua autonomia na polí-
tica comercial em relação aos países fora do acordo, ou seja, possuem
liberdade para práticas de tarifas aduaneiras diferenciadas. Exemplo:
Tratado de livre comércio das Américas (NAFTA).
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C. A união aduaneira: essa fase, segundo Machado (2000), é caracterizada
pela ausência de barreiras ao comércio entre os países participantes
do acordo, mas adotam a prática de uma tarifa externa comum a ser
aplicada a países fora do bloco. Exemplo: Mercosul.
D. O mercado comum: nessa fase, ocorre a eliminação de barreiras, as
trocas de mercadorias e fatores de produção. Sendo assim, os países
desse mercado devem se estimular a harmonizar os instrumentos de
suas políticas. Exemplo: União Europeia.
E. A união econômica: fase de integração considerada mais avançada
em que envolve perda de soberania nacional para gerir determinadas
políticas. É uma fase em que se estabelece uma autoridade suprana-
cional com aplicação das políticas comuns entre os países participes
da união. Exemplo: União Europeia.
F. A união política: de acordo com Machado (2000), essa fase constituiu
a formação de uma confederação de Estados que discutem apenas as
áreas acordadas entre esses Estados. Trata-se de uma união política
que deve ter práticas de cooperação no âmbito da política externa e
de defesa. Exemplo: União Europeia
G. A integração econômica total: considerado um estágio avançado de
integração econômica e é caracterizado pela criação de uma moeda
única comum e de um banco central regional independente, configu-
rando a formação de uma união monetária. Esse estágio pressupõe
a perda total de autonomia dos estados nacionais na gestão da polí-
tica monetária. Nesta situação, há necessidade de harmonização por
completo de políticas monetária, fiscal, social, e transferência de con-
trole sobre a política econômica para o conjunto de membros. Ainda
não chegamos nessa etapa de integração, por isso não há exemplos.
Balassa (1980) destaca que as motivações para o processo de integração são de
natureza econômica e induzem os países à formação de blocos que garantam
benefícios ou vantagens maiores que os seus custos. Devemos lembrar que o
processo de integração não envolve apenas os mercados no sentido puramente
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econômico, mas é um processo político que afeta os diversos agentes sociais e
afeta de forma geral toda a gestão das políticas nacionais.
Além disso, há um problema que se refere à capacidade dos governos nacio-
nais em avaliar as pressões econômicase criar mecanismo para resisti-las, de
modo que permaneça os benefícios do processo de integração.
Para conhecer mais sobre os blocos econômicos, sua formação, países par-
ticipantes e principais acordos comerciais, acesse os seguintes sites oficiais:
<http://www.mercosul.gov.br/saiba-mais-sobre-o-mercosul>
<http://www.naftanow.org/default_en.asp>
<http://www.aladi.org/sitioAladi/indexP.html>.
Fonte: a autora.
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2. Regionalismo
O regionalismo ou novo regionalismo é outra forma de estratégia de comér-
cio internacional. Essa estratégia se difere do multilateralismo, pois estas
faziam parte das rodadas de negociações do Acordo Geral de Tarifas e
Comércio (GATT) e conseguiram reduzir substancialmente as barreiras
tarifárias entre os países membros do GATT. Isso garantiu que as nego-
ciações criassem uma economia internacional liberal, não manifestando
interesse em discutir assuntos voltados aos acordos regionais ou bilate-
rais (GONÇALVES et al. 1998). Nesse sentido, com vistas a atender a essa
demanda, surgiu na década de 80 a discussão sobre a criação de blocos
regionais e, também, novos tratados de integração.
Conceitualmente, o que seria o regionalismo?
Conforme Oliveira (2009), o termo pode ser entendido como uma forma
de integração econômica ou política de uma determinada região, origi-
nando os blocos regionais.
Assim, podemos destacar que o regionalismo foi motivado tanto por ques-
tões econômicas como demanda de fluxos de comércio entre as regiões.
Além disso, salientamos que também estão envolvidas no processo de
regionalismo as questões políticas, que tratam dos acordos.
Para Gonçalves el al. (1998), as motivações para o regionalismo podem ser
entendidas por duas situações relevantes. A primeira delas corresponde à
insatisfação com as negociações multilaterais junto ao organismo inter-
nacional do comércio. Esta foi considerada a principal motivação, já que
as rodadas de negociações realizadas pelo GATT não eram capazes de
impedir os aumentos tanto de barreiras tarifárias como não tarifárias. E,
também, o tratamento diferenciado dos produtos agrícolas ou produtos
manufaturados intensivos em mão de obra. O que se percebia eram ações
consideradas bem-sucedidas na redução de barreiras para setor especí-
fico da economia, sendo este o setor industrial.
Na literatura, podemos encontrar que o regionalismo pode acontecer de
três formas; estudaremos as modalidades, que, segundo More (2002), são:
1. Blocos regionais: essa modalidade refere-se à formação dos blocos regio-
nais, ou seja, consiste na finalidade de concentrar o comércio internacional
entre os países de um determinado acordo bilateral ou acordo formal de
integração econômica.
2. Regionalismo: esta modalidade é um pouco diferente da primeira, pois conta
com elementos de proximidade geográfica. A finalidade, basicamente, é a
mesma de concentrar o comércio internacional entre os países que são partes.
3. Polarização: esta modalidade possui características mais específicas, ou
seja, visa à concentração do comércio internacional entre grupos de paí-
ses em desenvolvimento com um grupo de países industrializados.
Conhecidas as formas de regionalismo, vamos deixar claro que regio-
nalismo não é a mesma coisa de regionalização. Então, esclarecendo, o
regionalismo é um subgrupo da regionalização. O regionalismo, assim
como a integração, também apresentou um processo de evolução, ou seja,
foi realizado em duas fases:
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1ª Fase do regionalismo: 1950 a 1970 - fase do modelo de substitui-
ções de importações.
Conhecida como fase de regionalismo fechado e, portanto, protecionista.
Não se discutia liberalização multilateral, havia apenas pequeno número
de acordos firmados entre países vizinhos. O principal argumento nesta
fase é de que o processo de industrialização iria alterar a composição das
importações e, dessa forma, impulsionar o crescimento dos países lati-
no-americanos. Esclarecendo, foram esses países que adotaram o modelo
de substituição de importações, seguindo dessa forma a orientação da
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). A ideia
desse modelo era a diversificação de exportações, além de reduzir o dese-
quilíbrio externo que havia entre os países.
2ª Fase do regionalismo aberto: a partir de 1990.
Esta fase ficou conhecida como regionalismo aberto, o qual ocorreu devido
ao aumento significativo do número de acordos regionais firmados a par-
tir de 1990. Os motivos dessa nova fase é a “vontade” da América Latina
em superar os efeitos resultantes da crise dos anos 1980. Outra razão foi
a insatisfação com o progresso multilateral desenvolvido pelo GATT.
Podemos observar que o modelo destacado na primeira fase do regiona-
lismo não foi suficiente para promover o crescimento das economias dos
países latino-americanos. Desta maneira, pensou-se em criar um novo
modelo com vistas a desenvolver a região. Então, a característica desta nova
fase foi baseada na implementação de reformas estruturais que incluíam
a abertura das economias para o mundo. Assim, houve uma nova confi-
guração do cenário mundial que proporcionaria a expansão econômica
e as negociações multilaterais.
Essa fase proporcionou a criação de novos blocos, com a finalidade de
eliminar as barreiras comerciais entre os países membros. E, também,
houve a busca de acordos preferenciais com países não pertencentes ao
bloco. A ideia do regionalismo aberto da América-Latina foi mostrada
como “second best” diante da impossibilidade de se obter o comércio
multilateral.
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3. Multilateralismo
Vamos conhecer agora o multilateralismo, que é diferente do que estuda-
mos anteriormente. Conceitualmente, esse é o termo usado de forma mais
comum nas relações internacionais e refere-se à participação de vários
países que se esforçam para atingir um objetivo comum.
Conforme Sabbatini (1990), o multilateralismo é a busca do livre comér-
cio que deve ser objeto fim dos formuladores de política. Dessa maneira,
seria necessário adequações às normas e às regras do comércio mundial
ao chamado livre comércio e aos benefícios para o bem-estar econômico.
Assim, evita-se as restrições, inclusive aquelas firmadas em acordos regio-
nais. Então, o multilateralismo é visto como uma solução normativa para
a economia, garantindo a liberalização em escala mundial.
Não podemos deixar de comentar que o multilateralismo possui maior
influência nas rodadas de negociações entre os países com aumento do
número de participantes, intensificando o processo de liberalização comer-
cial. O multilateralismo também é conhecido como integração rasa, pois
apesar das rodadas de negociações, há diversos conflitos e atritos em razão
do grande número de participantes.
Podemos perguntar: qual o benefício observado no multilateralismo?
Nesse modelo de integração é para ser constatada a redução dos custos de
transação comercial e mesmo de guerra internacional. Deve proporcio-
nar maior eficiência econômica e política de forma cooperativa. Também
melhora o poder de negociação sem que seja necessário a busca de polí-
ticas unilaterais.
Por outro lado, também podemos mencionar que, apesar demuitos paí-
ses participarem dessas rodadas de negociações, há um número pequeno
de temas que não avançaram devido às diferenças assimétricas entre os
países pobres e ricos. Outro ponto a ser destacado é que há dificuldade
de coordenação e fechamento de agenda em fóruns multilaterais devido
a interesses de países diferenciados. Este último é um dos motivos que
incentiva os acordos regionais.
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GLOBALIZAÇÃO FINANCEIRA E PRODUTIVA
Vale lembrar que esse tema é muito polêmico, visto que ainda há diversas opini-
ões quanto ao uso da palavra globalização. Isso porque ainda não há consenso
sobre seu conceito. Então, primeiramente, vamos destacar algumas definições
sobre esse fenômeno e, depois, conheceremos os dois pontos em questão: a glo-
balização financeira e produtiva.
A globalização é um fenômeno que ficou mais conhecido recentemente
devido à produção em escala mundial, com objetivo de reduzir custos. No
entanto, devemos refletir sobre os efeitos da globalização. Podemos refle-
tir por meio da seguinte pergunta: globalização promove distribuição de
renda?
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Normalmente, percebemos que o termo globalização é utilizado para mostrar
um processo de estreitamento entre os países, ou seja, é um processo de inte-
gração econômica, política, social e cultural. Esse processo tem como finalidade
reduzir os custos de transação entre produção e financeira.
Semelhantemente, outro autor que também contribui com o debate sobre o conceito
é Dreifuss (1998); em seu entendimento, a globalização é um processo que com-
preende mudanças significativas no sistema produtivo, partindo da utilização crescente
de métodos, meios e recursos de produção que ultrapassam as fronteiras nacionais.
Agora, uma definição interessante e diferente das citadas até aqui é argumen-
tada por Chesnais (1996), o qual define o termo de globalização como a capacidade
estratégica de grandes grupos oligopolistas, com vistas aos mercados consumido-
res. Além disso, Chesnais alerta que o termo mais adequado é a mundialização do
capital, destacando que refere-se à produção e comercialização de bens e serviços.
Após apresentados alguns conceitos, vamos entender a globalização finan-
ceira e produtiva que é argumentada por Gonçalves et al. (1998). Esses autores
defendem que a globalização pode ser definida como a interação de três processos
distintos e que afetam as dimensões financeira, produtiva, comercial e tecnoló-
gica das relações econômicas internacionais. Então, vamos conhecer melhor a
globalização financeira e produtiva.
1. Globalização Financeira
Vamos estudar a globalização financeira a partir da abordagem de
Gonçalves et al. (1998). Para esses estudiosos, a referida globalização
pode ser entendida como a interação de três processos:
a. A expansão extraordinária dos fluxos financeiros internacionais: refe-
re-se à forma acelerada de investimentos, incluindo os empréstimos.
Percebeu-se no estudo que o crescimento acelerado dos fluxos de capi-
tais ocorreu tanto em títulos, em especial bônus e notas, como também
em ações. O crescimento atingiu não só países desenvolvidos como
também os em desenvolvimento.
b. O acirramento dos fluxos internacionais de capitais: o que se perce-
beu nesse processo foi uma maior disputa pelas transações financeiras
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internacionais envolvendo por um lado os bancos e do outro lado as
instituições financeiras não monetárias (são instituições que não rece-
bem depósitos à vista). Observou-se que houve avanço no mercado
de capitais não só nos países desenvolvidos, mas, principalmente, nos
países considerados emergentes.
c. Maior integração dos sistemas financeiros nacionais: nesse processo de
integração se observa que uma proporção crescente de ativos financei-
ros que são emitidos por residentes tem como detentores não residentes.
Pode-se dizer que um indicador importante que acaba resultando nisso
é o diferencial das taxas de juros.
Enfim, a globalização financeira é a interação desses três processos menciona-
dos. Falta, ainda, considerar os fatores determinantes dessa globalização, como
mostra o Quadro 3.
1. Fatores de
ordem ideológica
• Onda de desregulamentação do sistema financeiro.
• Liberalização do movimento de capitais.
• Reorientação da estratégia e da política governa-
mental.
• Liberdade de escolha entre opção política e ideológica.
2. Fatores de
ordem institucional
• criação do mercado e euromoedas.
• Instabilidade gerada pelo fim do sistema de Bretton
Woods.
• Desenvolvimento de novos instrumentos financeiros.
3. Desenvolvimento
tecnológico
• Redução dos custos operacionais e custos de transa-
ção em escala global.
• Operações financeiras mais baratas.
• Redução do custo da coleta de informação.
4. Mudanças das estratégias
dos investidores e das
empresas transnacionais
• Mudança na diversificação dos seus recursos.
• Penetração em mercado de capitais de países em
desenvolvimento.
5.Políticas econômicas
adotadas por países em
desenvolvimento.
• Política monetária restritiva.
• Processo de financiarização das empresas transna-
cionais.
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6. Ordem sistêmica • menor potencial de crescimento de países desenvol-
vidos.
• Processo de reestruturação produtiva com fortes
movimentos de fusão, aquisição de empresa.
Quadro 3 - Fatores determinantes da globalização financeira
Fonte: adaptado de Gonçalves et al. (1998).
2. Globalização Produtiva
Vejamos agora a globalização produtiva, na qual o processo é semelhante
ao da globalização financeira. Assim, pode-se dizer que envolve a intera-
ção de três processos distintos:
a. O avanço no processo da internacionalização da produção: consiste
no acesso a bens e serviços de residentes com produtos de origem de
outros países. Isso ocorre devido ao comércio internacional, ao inves-
timento externo direto ou, ainda, às relações contratuais.
b. O acirramento da concorrência internacional: refere-se à importância
crescente da competitividade internacional na agenda política dos países.
c. Maior integração das estruturas produtivas das economias nacionais:
consiste na integração produtiva das economias domésticas.
Estes são os processos da globalização produtiva, os quais permitem a inserção
produtiva dos países nas economias internacionais.
Para conhecer mais sobre a globalização econômica, acesse o link a seguir. Refe-
re-se a um texto de Reinaldo Gonçalves sobre a trajetória da palavra globaliza-
ção. Também aborda os principais atores econômicos nesse cenário, as formas
de processo, a ideologia e os interesses que são movidos pela globalização:
<http://www.ie.ufrj.br/intranet/ie/userintranet/hpp/arquivos/texto_no._1_
globalizacao_economica.pdf>.
Fonte: a autora.
COMÉRCIO INTERNACIONAL E O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
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VU N I D A D E200
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao final da unidade e com novos conhecimentos sobre a economia
internacional. Esta unidade tratoude estudar as teorias de desenvolvimento eco-
nômico, especialmente, voltadas ao comércio internacional e os efeitos sobre
os países em desenvolvimento, por exemplo, as economias latino-americanas.
Observamos que há dois principais pensadores com esse enfoque que são
os chamados Prebisch-Singer e o argumento sobre a deterioração dos termos
de troca e o argumento de Ragnar Nurkse sobre o comércio como motor do
desenvolvimento. Estudamos, também, o comércio e a industrialização como
dinâmicas que proporcionam o crescimento econômico.
Vimos dois modelos que possuem forte argumento no comércio interna-
cional, que é a teoria do ciclo do produto, desenvolvida por R. Vernon, a teoria
dos gansos voadores, desenvolvida por K. Akamatsu. Vimos que os países con-
siderados periféricos pela teoria CEPALINA adotaram um modelo alternativo
para crescimento e desenvolvimento econômico, modelo este conhecido como
“Processo de Substituição de Importações”. Esse modelo foi adotado por diver-
sos países latino-americanos e perdurou até a década de 80.
Aliado a estes modelos de desenvolvimento, estudamos alternativas como a
integração econômica, que definimos na unidade como sendo a união de econo-
mias que ultrapassa as fronteiras geográficas, com o intuito de reduzir as barreiras
ao comércio. E vimos as fases da integração econômica que são: áreas de livre
comércio, união aduaneira, mercado comum e união monetária.
Estudamos, também, como forma de expandir o comércio com vistas ao
desenvolvimento, o regionalismo, que pode ser entendido como uma forma de
integração econômica ou política de uma determinada região, originando os blo-
cos regionais, e o multilateralismo, que é termo usado de forma mais comum nas
relações internacionais e se refere à participação de vários países que se esfor-
çam para atingir um objetivo comum.
E, por fim, abordamos a globalização financeira e produtiva, que consiste
em avanços tanto na área de capital financeiro como também no setor produ-
tivo. Assim, chegamos ao final da unidade! Desejo um ótimo estudo!
Considerações Finais
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202
1. O comércio internacional é entendido como instrumento que proporciona o
desenvolvimento econômico. Sobre o desenvolvimento, assinale a alternativa
correta:
a) Desenvolvimento econômico possui o mesmo significado que o crescimen-
to econômico.
b) O estudo sobre o desenvolvimento econômico se restringe à escola clássica.
c) Trata-se do aumento da capacidade produtiva e melhoria na qualidade de
vida dos indivíduos de uma sociedade.
d) As estratégias para alcançar o desenvolvimento econômico são as mesmas
para os países avançados e países periféricos.
e) Não há relação entre o comércio e o desenvolvimento econômico.
2. Tanto o comércio quanto o progresso técnico estão associados à economia
internacional como formas alternativas de desenvolvimento econômico. Sobre
o comércio e o progresso técnico, assinale a alternativa correta.
a) As diferenças de desenvolvimento e as tecnologias explicam os fluxos co-
merciais.
b) A teoria do ciclo do produto explicam as inovações, mas não o comércio
internacional.
c) A teoria dos gansos voadores tem como argumento que o comércio é o re-
sultado das tecnologias.
d) Na teoria do ciclo do produto, os fluxos comerciais de produtos operam em
mercados de concorrência imperfeita.
e) Para a teoria dos gansos voadores, a produção regional deve se organizar
baseada somente na intensidade tecnológica.
3. O processo de substituição de importações (PSI) é adotado por vários países
latino-americanos como estratégia de crescimento econômico. Sobre o PSI, as-
sinale a alternativa correta:
a) Teve como ponto de partida a crise política dos anos 60.
b) Foi caracterizado por ruptura na estrutura da economia brasileira, em razão
da expansão do modelo primário agroexportador.
c) O PSI foi um novo modelo de desenvolvimento baseado na industrialização.
d) É conhecido como industrialização fechada.
e) O PSI origina-se com o estrangulamento externo, ou seja, um esgotamento
externo que resultou em expansão de divisas.
203
4. Integração econômica é a união de economias que ultrapassa as fronteiras ge-
ográficas com o intuito de reduzir as barreiras ao comércio. Sobre integração
econômica, assinale a alternativa correta:
a) A integração segue uma fase da implementação em todos os tipos de países.
b) Não há problema com relação à capacidade dos governos nacionais em ava-
liar as pressões econômicas e criar mecanismo para resisti-las, de modo que
permaneça os benefícios do processo de integração.
c) O processo de integração envolve apenas os mercados no sentido pura-
mente econômico.
d) Deve-se levar em conta apenas o processo político que afeta os diversos
agentes sociais e afeta de forma geral toda a gestão das políticas nacionais.
e) As motivações para o processo de integração são de natureza econômica e
induzem os países a formação de blocos que garantam benefícios ou vanta-
gens maiores que os seus custos.
5. O termo globalização é utilizado para mostrar um processo de estreitamento
entre os países, ou seja, é um processo de integração econômica, política, so-
cial e cultural. Sobre a globalização financeira e produtiva, assinale a alternati-
va correta:
a) A globalização refere-se à forma acelerada de investimentos em um deter-
minado país, excluindo os empréstimos.
b) O crescimento dos fluxos internacionais, por meio da globalização financeira,
atingiu somente países desenvolvidos.
c) A globalização produtiva consiste no acesso a bens de residentes com pro-
dutos de origem de outros países.
d) Na globalização financeira, percebe-se um processo de maior disputa pelas
transações financeiras internacionais envolvendo por um lado os bancos e
do outro lado as instituições financeiras não monetárias (são instituições
que não recebem depósitos à vista).
e) O acirramento da concorrência internacional, por meio da globalização pro-
dutiva, refere-se ao declínio da competitividade internacional na agenda
política dos países.
204
O INTERESSE E A REGRA: ENSAIOS SOBRE O MULTILATERALISMO
O conjunto de ensaios sobre o multilate-
ralismo reunido pelo embaixador Gelson
Fonseca Jr em “O interesse e a regra” reve-
lam as preocupações do autor sobre o
papel a ser cumprido pela Organização das
Nações Unidas na ordem internacional do
século XXI. O livro é dividido em um artigo
central, inédito, escrito depois de o autor ter
deixado suas funções na ONU, e outro cinco
artigos escritos há mais tempo, já publica-
dos, que dialogam com o texto principal na
medida em que tratam de temas que mui-
tas vezes se cruzam e se complementam.
O artigo central discute a importância da
referência de legitimidade emanada das
Nações Unidas na dinâmica de contraposi-
ção constante que existe entre os interesses
particulares dos Estados nacionais e o con-
junto de regras e normas construído na
arena multilateral. A busca pela legitimi-
dade das ações internacionais dos estados
nacionais no palco global é que faria a
mediação entre o particular e o univer-
sal, entre a vontade individual e a norma
multilateral. No texto, rico em exemplos his-
tóricos, fruto da vasta experiência do autor
enquanto diplomata e estudioso das rela-
ções internacionais, o autor esquiva-se de
se referenciar exclusivamente a uma linha
teórica para entender o fenômeno do mul-
tilateralismo onusiano. Embora parte do
artigo seja dedicada a desenvolver as idéias
de John Ruggie, perspectivas funcionalis-
tas, construtivistas e realistas alternam-se
ao longo do texto. Frente à complexidade
e à diversidade dostemas analisados, essa
escolha se converte em um trunfo do artigo.
O autor reconhece que a ONU forja seu
lugar em meio às influências políticas e
econômicas dos Estados, que condicio-
nam a oferta dos serviços prestados pela
instituição. O fórum multilateral, mais do
que resolver, expressa as desigualdades
intrínsecas ao sistema internacional con-
temporâneo, revelando-as. A capacidade
multilateral dos países é distinta, sendo
que o recurso ao soft power é importante
para prevalecer na ONU, principalmente
na articulação da identificação do argu-
mento individual com o interesse da
comunidade internacional. Assim, mesmo
quando se está de acordo quanto aos fins,
a ONU enfrente problemas para articular
os meios necessários à sua implementa-
ção. E a irregularidade passa a ser uma
marca constante da sua oferta multilateral.
A ONU, contudo, conforme assinala o autor,
dispõe de uma oferta ampla e consolidada
de serviços que, embora seja de presta-
ção irregular e não exclusivo da instituição,
continuam sendo a referência de legitimi-
dade para a comunidade internacional. Os
estados a usariam tanto na construção dos
argumentos no fórum multilateral, na inten-
ção de transmutar o interesse particular em
O texto de leitura complementar foi escolhido por trazer um assunto abordado de
importância para as negociações internacionais. Trata-se de uma resenha do livro O
interesse e a regra: ensaios sobre o multilateralismo, em que o autor mostra a preocupa-
ção quanto ao papel da Organização das Nações Unidas para a ordem mundial.
205
vontade multilateral, como considerariam
os constrangimentos que surgiriam a par-
tir de uma atuação que contrariasse suas
orientações, resoluções ou normas.
Nisso, há outro importante ponto do argu-
mento do autor, de que há graus diferentes
de legitimidade que podem ser empresta-
das pela ONU. Desde uma resolução sem
voto da Assembléia Geral, de consenso
fluido até normas mais firmes e precisas
de tradução imediata ao comportamento
dos Estados. Analisando as transforma-
ções da legitimidade, o autor investiga
três temas: a atuação do Conselho de
Segurança, a importância da ONU para o
processo de descolonização africana e a
atuação da instituição em temas relacio-
nados ao desenvolvimento.
Completam a obra um artigo sobre a
governabilidade democrática na ordem
internacional e os seus reflexos sobre os
graus de legitimidade das Nações Uni-
das, dois artigos com foco regional, um a
respeito das articulações de posições da
América Latina e Europa na ONU e outro
sobre as possibilidades da CPLP no mul-
tilateralismo contemporâneo, além de
um artigo que discute como uma ordem
multipolar afetaria o funcionamento do
multilateralismo. Fecha o livro o texto de
introdução à obra Rousseau e as Relações
Internacionais (2005).
Nada pode indicar que a ONU deixará de
ser um ator importante na ordem inter-
nacional que atualmente se engendra. O
maior risco à ONU, apontado por Gelson
Fonseca, é justamente de perder a refe-
rência de legitimidade, principalmente no
“quase” monopólio que detém para pro-
mover a paz. As utopias políticas regem
os atores. Na falta delas, o interesse parti-
cular é o norte. Uma ONU forte, ainda que
imperfeita, mas referência de legitimidade
na cena internacional, é uma utopia válida
aos dias atuais de renovação do espírito
multilateral, o que confere a pertinência e
a relevância ao livro de Gelson Fonseca Jr.
Fonte: Couto (2009, on-line).
Para ter acesso ao material completo, acesse ao link: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0034-73292009000200011>.
MATERIAL COMPLEMENTAR
A nova economia internacional: uma perspectiva brasileira
Reinaldo Gonçalves et al.
Editora: Campus
Sinopse: um dos traços importantes do livro refere-se às relações entre o
Brasil e o sistema econômico internacional. Outro aspecto importante diz
respeito a temas de debates atuais, tais como globalização e as formas de
integração econômica.
Integração Regional: uma introdução
Paulo Roberto de Almeida
Editora: Saraiva
Sinopse: trata-se do primeiro livro que tem por objeto os processos de
integração regional, ou seja, de formação de blocos comerciais. De forma
sintética e objetiva, o livro consolida um itinerário bastante longo de
estudos, pesquisas dirigidas, atividades práticas e escritos publicados
sobre o assunto, em suas diferentes variantes institucionais e em suas múltiplas manifestações
geográfi cas e políticas.
REFERÊNCIAS
207
BALASSA, B. Teoría de la integración económica. Union Tipografica Editorial His-
pano-Americana, 1964.
CHESNAIS, F (Org.). A mundialização financeira. São Paulo: Xamã, 1996.
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DREIFUSS, R. Os códigos do admirável mundo novo (1996). In: URANI, A. et al. Lições
de mestres: entrevistas sobre globalização e desenvolvimento econômico. Rio de
Janeiro: ABDE, 1998.
GONÇALVES, R. et al. A nova economia internacional: uma perspectiva brasileira.
Rio de Janeiro: Campus, 1998.
GREMAUD, A.; VASCONCELLOS, M. A. S; TONETO JÚNIOR., R. Economia Brasileira
Contemporânea. São Paulo: Atlas, 2002.
MACHADO, J. B. Mercosul: Processo de Integração - Origem, evolução e crise. São
Paulo: Aduaneiras, 2000.
MORE, R. F. Integração econômica internacional. Revista Jus Navigandi. Teresina,
ano 7, n. 59, 1 out. 2002. <https://jus.com.br/artigos/3307/integracao-economica-
-internacional>. Acesso em: 29 jun. 2018.
OLIVEIRA, O. M. Velhos e novos regionalismos. Ijuí: Unijui, 2009.
SABATINI, R. Multilateralismo, regionalismo e o Mercosul. Revista Eletrônica FEE. v.
29, n. 1., 2001. Disponível em: <https://revistas.fee.tche.br/index.php/indicadores/
article/view/1285>. Acesso em: 29 jun. 2018.
GABARITO
1. C
2. A
3. C
4. E
5. D
CONCLUSÃO
Chegamos ao final de nossa disciplina de Economia Internacional I. Esperamos que
tenham ampliado seus conhecimentos e percebido como são as interações entre as
economias.
A disciplina procurou abordar de forma teórico-prática, no sentido de visualização
atual do comércio mundial. Logo no início, estudamos as transações de forma bas-
tante arcaica, sem uso de tecnologias e com diversos obstáculos ao comércio. No
entanto, ao longo dos tempos, percebemos que mudanças significativas acontece-
ram e trouxeram novo cenário para as transações comerciais.
Vimos as teorias do comércio internacional que, apesar de terem sido elaborados há
anos, ainda estão presente em algumas situações. E, por meio delas, novos conheci-
mentos são formados, como vimos desde a escola clássica até as modernas teorias
do comércio, passando a uma economia de escala.
Como o comércio mudou, as políticas de comércio exterior também. Assim, as na-
ções tomaram novas posições no mercado mundial. Houve o aprofundamento das
relações comerciais por meio de acordos bilaterais, formação de blocos econômicos
com vistas a tornar os países membros mais fortes e com maior poder de barganha.
Isso foi viável em algumas situações devido à proximidade geográfica das nações,
outras simplesmente por acordo multilaterais.
Esses acordos passaram a ter importância em razão das medidas protecionistas de
países. Assim, os acordos, sejam bilaterais ou multilaterais, bem como a formação de
blocos, amenizam essa situação. Os acordos reduzem consideravelmente as barrei-
ras, sejam tarifárias ou burocráticas, impostas a outros países.
Não podemos nos esquecer que houve mudança no padrão de comércio. Houve
maior participação dos países em desenvolvimentoem comercializar produtos ma-
nufaturados, já que sempre sua maior participação era com referência aos produtos
agrícolas.
Enfim, foi possível perceber que, com o comércio, houve maior concorrência, resul-
tando na melhora da qualidade dos produtos, diferenciação dos produtos e preços,
gerando bem-estar à sociedade. Percebemos também que, com o comércio inter-
nacional, é possível a troca de tecnologia e conhecimento na produção, serviços,
além de permitir maior mobilidade do trabalho.
Em suma, finalizamos nossa disciplina com clareza dos ganhos oriundos do comér-
cio internacional. Desejamos bom estudo a você!