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Livro Avaliacao em Motricidade Orofacial

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Prévia do material em texto

AVALIAÇÃO EM MOTRICIDADE OROFACIAL 
DISCUSSÃO DE CASOS CLÍNICOS
ORGANIZADORES
Denise Klein 
Hilton Justino 
Irene Marchesan 
Izabella Andrade 
Lia Brasil 
Mércia Pinto
Adriana Tessitore
Copyright © 2013 by Pulso Editorial Ltda. ME
Avenida Anchieta, 885 (Jardim Nova América) 
São José dos Campos – SP. 
CEP 12242-280 - Telefone/Fax: (12) 3942-1302
e-mail: atendimento@pulsoeditorial.com.br
home-page: http://www.pulsoeditorial.com.br 
Impresso no Brasil/Printed in Brazil, com depósito legal na Biblioteca Nacional
conforme Decreto no. 1.825, de 20 de dezembro de 1907.
Todos os direitos reservados – É proibida a reprodução total ou parcial de qualquer 
parte desta edição. A violação dos direitos de autor (Lei no 5.988/73) é crime 
estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.
Editor responsável: Vicente José Assencio Ferreira
Diagramação e capa: Alexandre Marinho Vicente
Figura da Capa: Agência NIC
Impressão e acabamento: Prol Gráfica e Editora
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
 Avaliação em motricidade orofacial: discussão de casos clínicos /
 organizadores Denise Klein, Hilton Justino da Silva,
 Irene Queiroz Marchesan, Izabella Andrade, 
 Lia Brasil, Mércia Pinto, Adriana Tessitore. --
 São José dos Campos, SP : Pulso Editorial, 2013.
 
 
 Vários colaboradores.
 Bibliografia.
 ISBN 978-85-8298-000-2
 
 1. Boca - Músculos 2. Face - Músculos
 3. Fonoaudiologia - Terapia 4. Músculos -
 Motricidade I. Klein, Denise. II Silva, Hilton Justino da.
 III. Marchesan, Irene Queiroz. IV Andrade, Izabella.
 V. Brasil, Lia. VI. Pinto, Mércia. VII. Tessitore, Adriana.
 
 12-05775 CDD-616.885
Índices para catálogo sistemático:
1. Avaliação em Motricidade Orofacial 616.885
ORGANIZADORES
Adriana Tessitore
Fonoaudióloga clínica;
Especialista em Motricidade Orofacial;
Mestre em Ciências Médicas pela UNICAMP;
Doutora em Ciências Médicas pela UNICAMP;
Terapeuta e Mestre no Conceito de Reabilitação Orofacial e Corporal 
Castillo Morales;
Docente do CEFAC Pós-Graduação em Saúde e Educação.
Denise Klein
Fonoaudióloga clínica;
Mestre em Educação em Saúde UNIFOR;
Especialista em Motricidade Orofacial pela Sociedade Brasileira de 
Fonoaudiologia – SBFa;
Professora Adjunta do Curso de de graduação em Fonoaudiologia, 
coordenadora e professora do Curso de Especialização em Motricidade 
Orofacial UNIFOR;
Professora dos cursos em Ortodontia UFC e ABO – CE.
 
Hilton Justino da Silva
Fonoaudiólogo;
Doutor em Nutrição pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE);
Mestre em Morfologia/Anatomia pela UFPE;
Especialização em Motricidade Orofacial pelo CEFAC Pós-Graduação 
em Saúde e Educação;
Especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de 
Fonoaudiologia (CFFa);
Terapeuta no Conceito de Reabilitação Orofacial e Corporal Castillo 
Morales da Argentina;
Professor Adjunto III do Departamento de Fonoaudiologia da UFPE;
Líder do Grupo de Pesquisa Patofisiologia do Sistema Estomatognático 
UFPE/Diretório de Grupos de Pesquisa – CNPq.
Irene Queiroz Marchesan
Fonoaudióloga;
Docente e Diretora do CEFAC Pós-Graduação em Saúde e Educação;
Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas 
(UNICAMP).
Izabella Santos Nogueira de Andrade
Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade 
Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (2004);
Especialização em Motricidade Oral pelo CEFAC Pós-Graduação 
em Saúde e Educação (1999) e em Linguagem pela Universidade de 
Fortaleza-UNIFOR (1999); 
Aperfeiçoamento no Método Neuroevolutivo Bobath;
Graduação em Fonoaudiologia pela Universidade de Fortaleza (1994); 
Professor Assistente da Universidalde de Fortaleza;
Fonoaudióloga da Unidade Neonatal do HGF - Hospital Geral de 
Fortaleza.
Lia Maria Brasil de Souza Barroso
Fonoaudióloga clínica;
Doutoranda em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual do
Ceará;
Mestre em Fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (2000);
Graduada em Fonoaudiologia pela Universidade de Fortaleza (1993);
Especialista em Fonoaudiologia (1995);
Coordenadora e docente do curso de Graduação em Fonoaudiologia 
da Universidade de Fortaleza - UNIFOR;
Membro efetivo do Conselho Regional de Fonoaudiologia 8a. Região 
- CREFONO8. 
Mércia Maria Araújo Pinto
Graduação em Fonoaudiologia pela Universidade de Fortaleza (1989);
Especialização em Distúrbios da Comunicação;
Especialização em Motricidade Oral pelo CEFAC Pós-Graduação em 
Saúde e Educação;
Mestrado em Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade 
Federal de São Paulo – UNIFESP (2004);
Professora do Curso de graduação em Fonoaudiologia e Pós- graduação 
em Motricidade Orofacial da Universidade de Fortaleza – UNIFOR.
CORPO EDITORIAL
Denise Klein 
Giédre Felix 
Hilton Justino 
Irene Marchesan 
Izabella Andrade 
Lia Brasil 
Mércia Pinto 
PARECERISTAS
Adriana Rahal – rahal-carvalho@uol.com.br
Adriana Tessitore – adria@terra.com.br 
Andréa Rodrigues Motta – andreamota19@gmail.com 
Daniele Andrade da Cunha – dhanyfono@hotmail.com 
Giédre Félix – gfelix@usp.br 
Hilton Justino – hiltonfono@hotmail.com 
Irene Queiroz Marchesan – irene@cefac.br
Marileda Tomé – ledatome@uol.com.br
AGRADECIMENTOS
A todos os clínicos, pesquisadores e professores da área de Motri-
cidade Orofacial que a cada ano que se passa tem contribuído para o cresci-
mento e valorização de nossa especialidade.
COLABORADORES
Adriana Tessitore 
Fonoaudióloga clínica;
Especialista em Motricidade Orofacial;
Mestre em Ciências Médicas pela UNICAMP;
Doutora em Ciências Médicas pela UNICAMP;
Terapeuta e Mestre no Conceito de Reabilitação Orofacial e Corporal 
Castillo Morales;
Docente do CEFAC Pós-Graduação em Saúde e Educação.
Andréa Cavalcante dos Santos
Bolsista da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico 
e Tecnológico – FUNCAP;
Mestranda em Saúde Coletiva pela Universidade de Fortaleza; 
Membro da Comissão de Especialidades Associadas (COESAS) da 
Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM); 
Membro da Comissão de Fonoaudiologia da Revista Brasileira de 
Queimaduras; 
Fonoaudióloga membro do Núcleo do Obeso do Ceará (desde 2003); 
Fonoaudióloga Clínica graduada pela Universidade de Fortaleza.
Cynthia Meira de Almeida Godoy
Fonoaudióloga pela Universidade Católica de Pernambuco, Recife-PE 
(1990) e em Nutrição pela Universidade Potiguar, Natal-RN;
Atualmente é fonoaudióloga e nutricionista da UNICAD – Unidade de 
Nutrição e Cirurgia do Aparelho Digestivo e fonoaudióloga voluntária do 
SCODE – Serviço de Cirurgia da Obesidade e Doenças Correlacionadas 
do Hospital Dr. Onofre Lopes – UFRN – Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte, Natal/RN;
Mestranda em cirurgia pela UFPE;
Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Metabólica e Doenças 
Correlacionadas – COESAS (Comissão de Especialidades Associadas). 
Daniele Andrade da Cunha
Fonoaudióloga;
Doutorado e Mestrado em Nutrição pela Universidade Federal de 
Pernambuco (UFPE);
Especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de 
Fonoaudiologia (CFFa);
Pesquisadora Institucional da Faculdade Estácio do Recife;
Líder do Grupo de Pesquisa Patofisiologia do Sistema Estomatognático 
UFPE/Diretório de Grupos de Pesquisa – CNPq.
Daniele Fontes Ferreira Bernardes 
Graduação em Fonoaudiologia pela FATEA – (1994);
Mestrado em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de 
São Paulo (2008);
Especialista em Motricidade Orofacial pelo CFFa;
Professora do CEFAC Pós-Graduação em Saúde e Educação – módulo 
de Paralisia Facial Periférica;
Professora do Curso de Especialização em Fonoaudiologia Hospitalar 
IDE – Recife;
Professora Curso de Aperfeiçoamento em Fono&Estética método MZ; 
Atuação clínicana área de Motricidade Orofacial.
Esther Mandelbaum Gonçalves Bianchini
Fonoaudióloga;
Doutora em Ciências – Fisiopatologia Experimental – Faculdade de 
Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP);
Mestre em Educação: Distúrbios da Comunicação – Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo (PUCSP);
Especialista em Motricidade Orofacial – CFFa: 018/96;
Professora do CEFAC Pós Graduação em Sáude e Educação;
Professora Adjunta do Programa de Pós Graduação da Universidade 
Veiga de Almeida – Mestrado Profissional em Fonoaudiologia (UVA).
Eudes Paiva de Godoy
Cirurgião do Aparelho Digestivo / Cirurgia Bariátrica e Metabólica;
Coordenador da EQUIPE UNICAD – Unidade de Nutrição e Cirurgia do 
Aparelho Digestivo;
Chefe do SCODE (Serviço de Cirurgia da Obesidade e Doenças 
Correlacionadas localizado na Hospital Universitário Onofre Lopes da 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte);
Membro Titular e Delegado Estadual da SBCBM (Sociedade Brasileira 
de Cirurgia Bariátrica e Metabólica);
Membro Titular e Especialista em Nutrição pela SBNPE (Sociedade 
Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral);
Presidente da comissão de suporte nutricional do Hospital Universitário 
Onofre Lopes.
Fabiane Kayamori
Graduação em Fonoaudiologia pela Faculdade de Odontologia de 
Bauru/USP;
Especialização em Motricidade Orofacial pelo CEFAC Pós-Graduação 
em Saúde e Educação;
Pós-graduanda: Doutorado em andamento pela Universidade de São 
Paulo – USP.
Gerlane Karla Bezerra Oliveira Nascimento
Fonoaudióloga pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE; 
Doutoranda em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento UFPE;
Mestrado em Patologia Humana pela Universidade Federal de 
Pernambuco-UFPE; 
Especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de 
Fonoaudiologia (CFFa); 
Especialista em Motricidade Orofacial com ênfase em Disfagia pela 
FUNESO; 
Fonoaudióloga do setor de Neurologia da FUNAD – Secretaria de Saúde 
do Estado da Paraíba; 
Integrante do Grupo de Pesquisa Patofisiologia do Sistema 
Estomatognático – UFPE.
Giédre Berretin-Felix
Fonoaudióloga pela Faculdade de Odontologia de Bauru – FOB/USP;
Mestre em Odontologia pela Universidade Estadual de Campinas- 
UNICAMP;
Doutora em Fisiopatologia em Clínica Médica pela Universidade 
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP;
Pós-doutora em Distúrbios da Deglutição pela Universidade da Flórida;
Professora Associada do Departamento de Fonoaudiologia da 
Faculdade de Odontologia de Bauru – FOB/USP.
Hilton Justino da Silva
Fonoaudiólogo;
Doutorado em Nutrição pela Universidade Federal de Pernambuco 
(UFPE);
Líder do Grupo de Pesquisa Patofisiologia do Sistema Estomatognático 
UFPE/Diretório de Grupos de Pesquisa – CNPq.
Irene Queiroz Marchesan
Fonoaudióloga;
Docente e Diretora do CEFAC Pós-Graduação em Saúde e Educação;
Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas 
(UNICAMP).
Letícia Korb da Silva
Fonoaudióloga pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI;
Mestre e Doutoranda em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação 
em Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru – FOB/USP.
Lucas Carvalho Aragão Albuquerque
Fonoaudiólogo pela UFPE;
Mestrando em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento.
Luciana Studart
Fonoaudióloga;
Especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de 
Fonoaudiologia – CFFa;
Mestre em Ciências da Linguagem pela Universidade Católica de 
Pernambuco – UNICAP;
Doutoranda em Saúde da Criança e do Adolescente pela Universidade 
Federal de Pernambuco – UFPE.
Luiz Gonzaga de Moura Júnior
Cirurgião do Aparelho Digestivo do Núcleo do Obeso do Ceará.
Mariana da Rocha Salles Bueno
Fonoaudióloga pela Faculdade de Odontologia de Bauru – FOB/USP;
Mestranda em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em 
Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru – FOB/USP.
Pia Villanueva
Fonoaudióloga;
Especialista em Motricidade Orofacial (CEFAC);
Mestre em Ciências Odontológicas pela Universidad de Chile;
Doutora em Psicologia pela Universidad de Granada; 
Profesora associada a Faculdade de Medicina da Facultad de 
Odontología – Universidad de Chile;
Raquel Rodrigues Rosa 
Fonoaudióloga pela Faculdade de Odontologia de Bauru – FOB/USP;
Mestre e Doutoranda em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação 
em Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru – FOB/USP;
Fonoaudióloga da Clínica de Fonoaudiologia da Faculdade de 
Odontologia de Bauru – FOB/USP.
Renata Resina Migliorucci
Fonoaudióloga pela Universidade de Marília;
Mestre em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em 
Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru – FOB/USP;
Pesquisadora Colaboradora pela Clínica de Fonoaudiologia da 
Faculdade de Odontologia de Bauru – FOB/USP.
Silvia Benevides
Professora do Departamento de Fonoaudiologia – UFBA; 
Especialista em Motricidade Orofacial pelo CFFa; 
Mestre em Fisiologia pela UFPE; 
Doutoranda em Processos Interativos de Órgãos e Sistemas, pelo 
Instituto de Ciências da Saúde – UFBA.
Prefácio
Muito já se fez pela Motricidade Orofacial no Brasil. Como registros 
ressaltam-se as Reuniões Científicas em São Paulo e Encontros Brasileiros em 
Goiânia-GO, Recife-PE e Belo Horizonte-MG.
Contudo, a Associação Brasileira de Motricidade Orofacial – ABRAMO, 
foi criada no IV Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial, em Natal-RN, em ju-
nho de 2011, por profissionais que, “por amor” abraçaram a causa da MO. Como 
missão e objetivo, naquela oportunidade, a ABRAMO assumiu o propósito de 
difundir, ainda mais, a área de MO a todas as Regiões do Brasil, e conhecer os 
trabalhos e iniciativas que estão sendo realizados nas mesmas. Em seguida, foi 
realizado o V Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial, em junho de 2012, 
desta vez em Curitiba-PR, sendo discutido o tema “Terapia Fonoaudiológica em 
Motricidade Orofacial”. 
Nesse maio de 2013, estamos aqui em Fortaleza para mais um mar-
co na história da MO: a realização do VI Encontro Brasileiro de Motricidade 
Orofacial. Essa conquista é fruto do empenho de muitos fonoaudiólogos de-
terminados e persistentes que, com conhecimento, experiência e determina-
ção, dedicam-se à área, na convicção de que só o melhor é suficiente, e que 
sempre poderemos fazer mais pela ciência. 
Parte do resultado desse empenho está na obra científica, “Avalia-
ção em Motricidade Orofacial: Discussão de Casos Clínicos”, que tenho o pra-
zer em prefaciar. Escrita por autores especialistas discorre sobre temas como 
avaliação clínica e instrumental da motricidade orofacial, apneia e ronco do 
sono, paralisia facial, cirurgia bariátrica, cirurgia ortognática e disfunção tem-
poromandibular.
Estamos conscientes que a Motricidade Orofacial vem crescendo 
a passos largos nessa última década. Tal constatação foi muito bem aponta-
da quando em Curitiba-PR, durante o V Encontro Brasileiro de Motricidade 
Orofacial, Dra. Irene Marchesan resgatou com maestria o fazer fonoaudiológi-
co ao longo desse período, mostrando “o grande avanço da Motricidade Orofa-
cial do Brasil e sua força no cenário nacional”. Corroborando com tal afirmativa, 
acredito que não só no nacional, mas também no cenário internacional. 
Portanto, este livro nos presenteia com uma leitura estimulante, 
por se tratar da experiência de profissionais comprometidos, particularmen-
te com a MO, e nos convida a integrar, junto à ABRAMO, no crescimento de 
uma Fonoaudiologia em movimento constante, capaz de edificar, cada vez 
mais, sua identidade científica. 
Denise Klein Antunes
Presidente do VI Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial
SUMÁRIO 
CAPÍTULO 1 ......................................................................................... 21
AVALIAÇÃO EM MOTRICIDADE OROFACIAL:
Casos Clínicos - Onde foi que eu errei?
Irene Queiroz Marchesan 
CAPÍTULO 2 .........................................................................................37
AVALIAÇÃO CLÍNICA DA MOTRICIDADE OROFACIAL 
Giédre Berretin-Felix
Renata Resina Migliorucci
Mariana da Rocha Salles Bueno
Raquel Rodrigues Rosa
Letícia Korb da Silva 
CAPÍTULO 3 ......................................................................................... 53
AVALIAÇÃO INSTRUMENTAL EM MOTRICIDADE OROFACIAL 
Hilton Justino da Silva 
Lucas Carvalho Aragão Albuquerque 
Gerlane Karla Bezerra Oliveira Nascimento 
Giédre Berretin Félix 
Daniele Andrade da Cunha 
CAPÍTULO 4 ......................................................................................... 69
AVALIAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NA APNEIA OBSTRUTIVA
DO SONO E RONCO
Fabiane Kayamori 
CAPÍTULO 5 ......................................................................................... 89
EVALUACION FONOAUDIOLÓGICA EN FUNCIONES OROFACIALES
Pia Villanueva 
CAPÍTULO 6 ......................................................................................... 97
AVALIAÇÃO FUNCIONAL DA PARALISIA FACIAL
Adriana Tessitore 
CAPÍTULO 7 ......................................................................................... 107
A ELETROMIOGRAFIA DE SUPERFÍCIE COMO INSTRUMENTO 
DE AVALIAÇÃO NA PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA
Daniele Fontes Ferreira Bernardes 
CAPÍTULO 8 ......................................................................................... 117
ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NA CIRURGIA BARIÁTRICA 
E METABÓLICA
Andréa Cavalcante dos Santos 
Luiz Gonzaga de Moura Júnior 
CAPÍTULO 9 ......................................................................................... 129
AVALIAÇÃO E ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA EM PACIENTE
EM PREPARO PARA CIRURGIA BARIÁTRICA
Cynthia Meira de Almeida Godoy 
Eudes Paiva Godoy 
CAPÍTULO 10......................................................................................... 141
AVALIAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NA CIRURGIA ORTOGNÁTICA 
Silvia Benevides 
CAPÍTULO 11 ......................................................................................... 157
AVALIAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NA CIRURGIA ORTOGNÁTICA 
Luciana Studart 
CAPÍTULO 12 ......................................................................................... 173
AVALIAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NA CIRURGIA ORTOGNÁTICA: 
reflexões e procedimentos fonoaudiológicos
Esther Mandelbaum Gonçalves Bianchini
21
Capítulo 1
AVALIAÇÃO EM MOTRICIDADE OROFACIAL
Casos Clínicos - Onde foi que eu errei?
Irene Queiroz Marchesan
No atendimento das alterações encontradas na área de Motrici-
dade Orofacial (MO), o fonoaudiólogo, a partir da anamnese, da avaliação 
clínica e do diagnóstico, faz o planejamento terapêutico. No geral, a fono-
terapia em MO é baseada na realização de exercícios, principalmente, iso-
tônicos e isométricos, em associação ao trabalho com as funções orofaciais 
que se encontrem alteradas. A isso, se soma o trabalho desenvolvido com 
a conscientização do paciente daquilo que ele tem, do que ele deve mudar 
e do porquê ele deverá fazer as mudanças propostas. Em geral os profissio-
nais acreditam que a junção dessa tríade, “exercícios, mais o trabalho com 
a função, somados à conscientização” é um bom caminho para a terapia 
ter sucesso. Na verdade, esse caminho é até considerado como ideal por 
muitos profissionais.
Tudo seria perfeito se o final da terapia fosse sempre de sucesso, 
dando tudo certo, mas, como bem sabemos, e infelizmente, em algum mo-
mento de nossa vida já vivenciamos os insucessos. Falar de insucessos é sem-
pre muito raro, e também difícil. Porém, optei por escrever sobre os casos 
mais difíceis, e que muitas vezes nos causam angústia, já que sabemos que é 
possível aprender com erros e falhas. Essa opção é para que os profissionais 
mais jovens saibam que quase todos os profissionais, sem importar o tempo 
de formado ou a experiência que tenham, podem passar por situações cons-
trangedoras, situações de não saber como agir, ou mesmo errar.
Posto isso, discutiremos alguns casos difíceis ou de insucessos, tan-
to meus, como de outros colegas que às vezes me procuram para auxiliá-los 
a resolver “aquele caso” que não está caminhando como ele havia planejado. 
Em casos que não caminham conforme o planejamento realizado, 
a frustração do terapeuta, a busca do culpado pelo insucesso, somados com 
a vontade enorme de que o paciente abandone a terapia é sempre grande. 
22
Ca
pí
tu
lo
 1 Para um terapeuta não há nada mais desagregador do que ver-se perdido 
sem saber para onde ir.
Uma prova inconteste dos “culpados pelo insucesso” ficou clara 
para mim durante o ano de 1996, quando eu estava realizando a coleta de 
dados para o meu doutorado. Nessa época elaborei um questionário para 
perguntar aos fonoaudiólogos de quem seria a culpa quando “as coisas” 
não dão certo na terapia. Nos resultados obtidos pude constatar que a cul-
pa foi atribuída em primeiro lugar para a família (em torno de 60%), em 
seguida para o paciente (em torno de 30%) e, por último, para o próprio 
fonoaudiólogo que atribuiu a ele algo em torno de 10%, ou seja, ele não 
acredita muito que ele mesmo possa ser o “autor” do insucesso das suas 
terapias. Por que será que isso acontece? Talvez seja pela simples razão de 
que acreditamos (na maior parte das vezes) que estamos seguindo o me-
lhor caminho para aquele paciente; acreditamos ainda que nós sabemos 
muito sobre o assunto que estamos tratando, e talvez ainda por sermos 
um “pouquinho” onipotentes. E a quê isso leva? A perda de muito tempo 
até que possamos organizar, em nossa cabeça, do o quê estamos fazendo 
que não está surtindo o efeito que esperaríamos que surtisse. O pior de 
tudo é que essa constatação leva muitas vezes, meses de terapia em vão. 
Esses meses estão sendo desperdiçados com repetições de práticas inúteis, 
e muitas vezes sem sentido, levando pais, pacientes e profissionais a uma 
grande insatisfação.
A partir dessas reflexões vou narrar casos onde a terapia não estava 
evoluindo. Também levantarei hipóteses das possíveis causas que poderiam 
estar interferindo no insucesso. Iniciarei com o relato de dois casos meus, 
sendo que o insucesso e a frustração de não ter podido solucionar o caso 
foram tão marcantes, que me lembro deles até hoje.
Caso nº 1
Formei-me na graduação em 1977, e já no inicio de 1978 me matri-
culei em dois cursos para aprender mais sobre a produção da fala, uma vez 
que tinha claro para mim: que ao auxiliar as pessoas a falarem melhor daria a 
elas maiores chances de bons empregos. Além disso, eu acreditava que, tam-
bém na vida pessoal e social, elas seriam mais felizes. Nada melhor então, do 
que estudar a gagueira e as afasias, já que pessoas que têm essas alterações 
não falam bem, sendo as causas diversas. 
23
Av
al
ia
çã
o
 E
m
 M
o
tr
ic
id
ad
e 
O
ro
fa
ci
al
 –
 Ir
en
e 
M
ar
ch
es
anEvidentemente que os meus primeiros pacientes foram os portado-
res de gagueira e os afásicos. Hoje me pergunto, por que razão eu iniciei por 
algo tão difícil e frustrante para um profissional que mal começa sua carreira.
Meu primeiro paciente gago era um rapaz de 15 anos com uma 
gagueira extremamente grave. Ele raramente conseguia dizer seu próprio 
nome. Sendo assim, mesmo fazendo o curso, e tendo supervisão do caso, as 
terapias eram recheadas pelo meu falar contínuo, não deixando espaço vazio 
para que ele pudesse tentar se expressar. Isso ocorria pelo fato da minha 
angústia ser enorme com a dificuldade dele em falar fluentemente. Lembro-
-me ainda, de forma muito nítida, de ter fortes dores de cabeça e de estô-
mago nos dias em que estava prevista a sessão desse rapaz. Eu rezava para 
chover muito forte, para eu, ou ele, ficarmos doentes e assim a sessão não 
acontecer, e também rezava com todas as minhas forças para ele desistir de 
algo que não estava dando certo. Se ele abandonasse a terapia, a “culpa” 
pela desistênciado trabalho, não seria minha. Para piorar as coisas, a cada 
dia que passava eu me afeiçoava mais e mais a ele, e ele a mim, e assim con-
tinuávamos juntos. A terapia durou em torno de dois anos, que era o tempo 
do curso. No entanto, até hoje eu não sei se foi ele quem me abandonou, ou 
se fui eu quem o abandonou, ou se pelo fato do curso ter terminado ele foi 
enviado para outro terapeuta. Nem preciso contar, que até hoje me lembro 
dele e me pergunto, será que ele pôde encontrar alguém que de fato pudesse 
ajudá-lo a falar melhor? 
Tenho certeza de que vocês agora estão se perguntando, os casos a 
serem aqui discutidos não deveriam ser de MO?
Escolhi esse caso porque quero mostrar que além das técnicas que 
aprendemos na faculdade e/ou nos cursos de especialização, existe algo muito 
forte e perturbador que é a relação entre terapeuta e paciente, e também a 
frustração por não conseguirmos “curar” ou sequer melhorar o caso que está 
em atendimento. Esses sentimentos de incompetência, frustração, falta de co-
nhecimentos necessários, pena, raiva, amor e tantos outros, podem ocorrer em 
todo e qualquer atendimento. Será que estamos preparados para essa enxurra-
da de sentimentos que tanto nos mobilizam? Será que a partir de sentimentos 
negativos pelo insucesso postos à nossa frente, não descontamos no paciente 
e/ou em sua família, levando a que eles se sintam os culpados pelo insucesso? 
Quando fazemos isso ficamos “aparentemente” livres da “culpa” por não ter-
mos realizado bem a “lição de casa”, que seria resolver a queixa do paciente.
24
Ca
pí
tu
lo
 1 Caso nº 2
No curso de afasia tínhamos que realizar estágio em um hospital 
público, onde muitos pacientes de classe econômica bastante desfavorecida 
estavam internados. Além do hospital onde o estágio ocorria estar sempre 
lotado, com até oito leitos por quarto, os auxiliares de enfermagem eram 
poucos e, por mais que se esforçassem, não davam conta sequer de manter 
os pacientes limpos, sem estarem vomitados, sem estarem encharcados de 
urina ou até mesmo sujos com as próprias fezes. Chegávamos ao hospital 
para dar terapia para aqueles que tinham “perdido a fala” e encontrávamos 
essa triste realidade. Além disso, como o meu horário estipulado pela super-
visora era atender das 11 as 12 horas da manhã, eu chegava quando o almoço 
era servido aos pacientes. O almoço vinha em pratos feitos os quais eram 
colocados sobre o peito do paciente, já que eles se moviam muito pouco e 
ficavam o tempo todo no leito. Se o paciente não podia sentar, usava a mão 
boa para tirar a comida do prato e levá-la à boca, mesmo estando deitado. 
Nem preciso dizer que a comida caía fora da boca, que eles engasgavam, e 
isso quando o prato não ia parar no chão logo no inicio da refeição. Fiquei 
nesse estágio durante um ano. O que eu mais fiz durante esse estágio? Dei 
de comer a todos que eu consegui, mantive-os limpos quando estavam sujos, 
ajudei as auxiliares de enfermagem em outras atividades como medicar, por 
exemplo. Terapia de fala? Bem, conversava o tempo todo que estava com 
eles seja alimentando-os, cuidando. Raramente pude colocar em prática o 
que minha supervisora solicitava que fosse feito.
Mais uma vez fiquei frustrada com o trabalho fonoaudiológico o 
qual não desenvolvi na sua plenitude, mas pelo menos nesse estágio fiquei 
feliz por poder dar um pouco de conforto a esses pacientes os quais nem o 
básico tinham naquele local.
O que podemos aprender com esse episódio, cujos pacientes tam-
bém não tinham alterações de MO? O que aconteceu durante aquele ano, 
me mostrou que quando não sabemos o que fazer, ou quando temos outras 
coisas mais fáceis e/ou mais prazerosas para fazer, fazemos. Isso ocorre nas 
terapias de MO com grande frequência. Saímos do nosso planejamento, es-
quecemos nossos objetivos e mantemos o paciente fazendo atividades que 
os agradam. Ficamos de bem com eles e isso faz com que sejamos adorados. 
Sem acusar ou criticar ninguém, pergunto: será que você tem o controle do 
que está fazendo na sua terapia? Será que você segue o que você mesmo 
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anplanejou para fazer ou, na menor dificuldade, muda de atividade e esquece 
o que deveria fazer? O problema é que fazer coisas gostosas é bem mais 
agradável do que fazer coisas que expõe a dificuldade do paciente, o que, 
evidentemente, não agrada, principalmente a ele. Nesses casos muitas vezes 
o paciente começa a querer ir embora e, é nesse momento que cedemos, e 
passamos a fazer só coisas “bacanas” na terapia, mesmo que não “úteis”para 
aquele caso.
Caso nº 3
A fonoaudióloga me trouxe um caso de MO (finalmente um caso 
de MO) onde a queixa dela era que não conseguia automatizar a fala cor-
reta embora a criança já soubesse falar corretamente o som em questão. 
Mostrou-me na filmagem a criança produzindo o som corretamente. Pedi a 
ela que me contasse o que havia feito desde o início da fonoterapia, e o que 
estava fazendo naquele momento. O paciente havia chegado com a queixa 
de substituição dos sons (k) por (t) e do som (g) por (d). Aparentemente um 
caso simples já que ele tinha cinco anos e meio e nessa idade esses sons já 
deveriam estar adquiridos e sendo utilizados sem problemas. A terapia até 
aquele momento havia passado pelos seguintes passos: a fonoterapeuta ha-
via solicitado que o paciente fizesse vários exercícios de dorso de língua para 
que o mesmo elevasse e tivesse força de tocar o palato duro. Depois disso, 
com a espátula segurava a ponta da língua no assoalho da boca e pedia para 
ele falar o (t) ou o (d). Nessa técnica, como a ponta da língua fica presa e não 
pode elevar-se, teoricamente o dorso eleva-se e o som do (k) e do (g) são 
emitidos. Enfim, ensinou o próprio garoto a segurar a ponta da língua e a fa-
zer o som. Pediu para ele treinar em casa. Para isso chamou a mãe e, também 
mostrou a técnica para ela. A mãe ficou feliz, pois com essa manobra ele fa-
lava o som. Deu várias espátulas para que a mãe e o pai o treinassem. Depois 
foi diminuindo a pressão da espátula na parte anterior da língua até que ele 
pudesse fazer o som sem a espátula e, a pedidos, ele fazia os dois sons sem 
ajuda da espátula. Entendeu que a terapia estava terminada, pois ele tinha a 
capacidade de fazer o som, embora ainda não o usasse na fala espontânea. 
Então ela fez uma lista de palavras com esses sons, para que o paciente as 
repetisse sistematicamente em casa. Usando o mesmo procedimento, deu 
a lista para a mãe treinar em casa. Mesmo assim, embora ele repetisse as 
palavras corretamente continuava não automatizando os tais dos sons, que 
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 1 segundo ela, eram “tão simples”. Por que ele não automatizava? O que fal-
tava fazer? Bem, usei uma “técnica” simples para que ela compreendesse o 
que faltava. Pedi a ela para me repetir dois sons o (s) e o (x). Evidentemente 
ela o fez de forma correta. Então eu disse: bem agora que você já “adquiriu” 
os sons vamos treinar em algumas palavras, e eu dei a seguinte lista de pala-
vras para ela ler e treinar comigo: xapo; xebola; seiro; sicote; xigarro; xorvete; 
save; xemente; xilvia; xopa; sicara; xorvete; xandália; seguar; suva, dentre 
muitas outras. Aí eu disse a ela: perfeito! Viu como você consegue fazer di-
reitinho o (s) e o (x); viu como você lê com perfeição as palavras aqui escritas 
sem errar nenhuma? O próximo passo, da nossa breve terapia, será você me 
contar suas férias utilizando os sons corretos, ou seja, todas as vezes que a 
palavra for com (s) você vai usar o (x) e quando o (x) aparecer você vai usar o 
(s). Não foi fácil fazer isso nas palavras isoladas? Então vamos lá, pode come-
çar a me contar suas férias. Gostaria que você que está lendo esse capítulo 
antes de continuar fizesse isso. Ou seja, conteem voz alta para alguém, ou 
para você mesma, qualquer fato fazendo essa inversão de sons. Depois volte 
a ler o capítulo, mas não deixe de tentar fazer o que peço, senão você não vai 
compreender o que vem a seguir. 
Muito bem, em primeiro lugar vamos nos lembrar que você não 
precisou adquirir os sons em questão, pois já os tem, ou seja, está em vanta-
gem sobre o paciente. Além disso, você sabe como fazer a mudança do som 
e se tiver que falar palavras isoladas utilizando essa mudança fará rapida-
mente sem se atrapalhar. Por que então, ao tentar contar um fato sequencial 
teve tanta dificuldade? Sei bem que, se você tentou fazer a atividade que 
solicitei, para não cometer o “erro” e, fazer a troca solicitada, teve que ir 
pensando,como se estivesse lendo a palavra, para que, quando o som apare-
cesse, conseguisse fazer a troca. Isso fez com que você tivesse que falar bem 
devagar chegando a perder a continuidade do que queria contar. A primeira 
explicação para o paciente não automatizar é que ensinar a qualquer ser hu-
mano a repetir um som não quer dizer que aquilo fez sentido para ele. Ouvi-
mos crianças, e mesmo adultos, cantando uma música que ele ouviu muitas 
vezes em outra língua, sem compreender o que está dizendo, só repetindo 
o que ouviu e memorizou. Podemos fazer diferentes sons com a boca, mo-
vendo a língua e os lábios de maneiras diversas, porém, esses sons podem 
não ter significado nenhum; são apenas repetições puras de sons. Para que 
eu use um novo som em uma palavra, esse som tem que significar algo, ele 
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antem que diferenciar uma palavra da outra, por exemplo. Quando uma pessoa 
faz uma substituição de um som, pode ser, ou pelo fato de não conseguir 
fisicamente produzir o som, mesmo percebendo que não o está produzindo; 
ou não o produz porque o som não tem significado, embora a pessoa tenha a 
condição física de reproduzi-lo. Treinar a produção do som de forma isolada, 
em geral não leva a lugar nenhum, a não ser que o paciente não produzisse 
o som por não ter condições físicas, e aí, quando lhe é propiciada a condição 
física, ele mesmo perceberá quando não produz o som alvo e passa a usá-lo 
de forma correta rapidamente. “Colocar sons” implica em dar condições de 
produção e, dar significado a ele. Portanto, mais do que “ensinar a produzir o 
som” é necessário que ele seja utilizado com significado em palavras, frases e 
em conversas espontâneas. É necessário mostrar ao paciente que quando ele 
fala “vaca” refere-se ao bicho, e quando ele fala “faca”, é o objeto que corta 
e, por essa razão terá que prestar atenção ao falar utilizando o “f” e o “v” de 
forma correta, já que o uso dos diferentes sons pode implicar em mudança 
de significado. Produzir de forma correta e errada ajuda a perceber a existên-
cia dos dois sons e a importância da escolha de um deles. Inicialmente essa 
escolha é consciente, até que se automatize. Na fala, temos indivíduos que 
apresentam desvios fonológicos, outros que apresentam desvios fonéticos e 
também desvios fonológicos e fonéticos ao mesmo tempo. Diferenciar qual 
é o problema de base poderá ajudar a fazer com que a terapia caminhe mais 
rapidamente. Identificar a causa da omissão ou substituição do som a ser 
trabalhado, também auxiliará o melhor caminho a ser tomado na terapia.
Caso nº 4
Menino de 11 anos, em tratamento fonoaudiológico há dois anos 
por distorção dos grupos consonantais (tr) e (dr), sem melhora. A própria 
criança pediu para a mãe levá-lo na “fono” do amigo dele, pois o amigo, que 
também falava errado, tinha aprendido a falar rapidamente. Na avaliação o 
menino contou para a nova profissional que ele também queria aprender a 
dar beijo de “língua”, pois não conseguia colocar a língua direito para fora. 
Também disse que falar errado não era um grande problema, pois quase nin-
guém percebia o erro e ele já sabia escrever as palavras com os sons que 
não pronunciava direito. No exame clínico, durante a inspeção visual, soma-
da à queixa de fala e da dificuldade em protrair a língua, ficou evidenciado 
que ele tinha a velha e boa “língua presa”. Após a cirurgia, ele até mudou 
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 1 de opinião sobre a sua própria fala e quis treinar a maneira correta de falar 
o que conseguiu em três meses. Minha pergunta é: como uma profissional 
consegue trabalhar durante dois anos seguidos com o mesmo problema sem 
obter melhora e acha isso normal? Vamos lembrar que a criança tinha mais 
do que sete anos, ou seja, a época de aquisição dos sons já havia terminado. 
Além disso, a criança não tinha alterações intelectuais e nem neurológicas, 
e o problema era muito pontual. Nesse caso, ao contrário do caso anterior,a 
causa do problema era bastante visível. Frênulos linguais quando estão com 
a fixação muito anteriorizada impedem a língua de se elevar e de protrair 
adequadamente. Vamos pensar também, que o ponto de articulação do (t) e 
do (r) “fraco” é no mesmo local, sendo que o (t) é plosivo e o (r) é um vibrante 
simples. Se os dois estão juntos (tr), a dificuldade de produção aumenta, e 
a língua tem que ser muito hábil para produzir esse grupo consonantal sem 
distorção, o mesmo ocorrendo com o (dr). Nenhum paciente que não tenha 
alterações intelectuais e ou neurológicas pode passar dois anos em terapia 
com essa queixa. Se o indivíduo for trabalhado durante três meses, e o pro-
blema continuar, temos a obrigação de pensar que nosso diagnóstico inicial 
está errado, que algo se passou e não percebemos.
Caso nº 5
Uma fonoaudióloga do interior de São Paulo me pediu para ajudá-
-la em um caso que estava meio sem solução. Era um menino de 10 anos 
que havia sido encaminhado pelo pediatra com queixa de engasgos frequen-
tes, principalmente com alimentos sólidos. Por mais que ela trabalhasse com 
ele para que engolisse de forma adequada, não estava conseguindo, então 
me enviou o paciente para que eu pudesse clarear um pouco o que estava 
faltando fazer na terapia. Ao avaliar o menino fiquei surpresa, pois ele era 
respirador oral, Classe III de Angle e ainda apresentava anquiloglossia, que é 
a verdadeira língua presa, totalmente fixada no assoalho da boca. Em segui-
da conversei com a mãe, que me disse que o pediatra o qual acompanhava 
o menino desde pequeno, assim como o dentista que também tratava dos 
dentes dele desde pequeno, nunca haviam dito nada disso para ela. Telefonei 
para a fonoaudióloga que o atendia e ela me disse que sabia que ele tinha a 
língua presa, alteração de oclusão e respirava pela boca, mas como ele tinha 
pediatra e dentista não achou que seria necessário comentar com os pais 
esses problemas, já que eram de ordem médica e odontológica. Continuei 
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aninsistindo na conversa com a fonoaudióloga e perguntei a ela se seria possível 
alguém ter uma boa deglutição respirando pela boca e não podendo elevar a 
língua para deglutir. Também perguntei se o bolo alimentar poderia ser bem 
formado com uma oclusão tão alterada como aquela. A resposta dela me 
surpreendeu, pois foi a que se segue. “Sabe que nunca pensei nisso? Será 
que interfere mesmo nos engasgos que ele tem?”
Enfim, orientei os pais a fazerem a cirurgia do frênulo para que o 
menino pudesse levar os alimentos de um lado para outro dentro da boca 
durante a mastigação, e depois do bolo melhor formado, pudesse elevar a 
língua para engolir. Também expliquei que seria interessante ter uma língua 
livre que permitisse fazer a limpeza da boca após as refeições, independente-
mente da escovação. Mostrei ainda como seria fundamental ter uma língua 
que pudesse se mover melhor para que a fala fosse realizada de maneira maisclara com maior abertura da boca. Pedi para que fosse a um Otorrinolaringo-
logista, que indicou a cirurgia de adenoide e de amígdalas, que estavam mui-
to aumentadas. Nessa mesma cirurgia o frênulo foi liberado. Evidentemente, 
após essas cirurgias os engasgos desapareceram e ele foi encaminhado para 
tratamento ortodôntico, talvez preparatório para, se necessário no futuro, se 
submeter até a cirurgia ortognática, uma vez que a alteração oclusal era gran-
de e hereditária. Suspendi a fonoterapia que não era mais necessária, já que 
sem condições físicas, como as aqui relatadas, ficaria impossível comer de 
forma adequada. Os engasgos eram decorrentes da forma como mastigava e 
engolia, mas não haveria fonoterapia que pudesse resolver tal problema sem 
antes retirar os empecilhos mecânicos existentes. Chamei a fonoaudióloga 
do caso para explicar isso a ela e para que ela, em conjunto comigo, fizesse as 
orientações aos pais e ao paciente; dessa forma não tirei sua autoridade do 
caso e a auxiliei a compreender melhor as relações entre forma e função. Em 
que momento a formação dessa jovem fonoaudióloga, bem intencionada, 
ficou falha?
Caso nº 6
Recebemos um paciente adulto encaminhado por um ortodontista. 
Ele mantinha a boca aberta, pois tinha dificuldade de respirar pelo nariz. Ele 
estava em fonoterapia há um ano e meio. Quando iniciou a terapia a queixa 
do ortodontista era quanto à sua deglutição que ocorria com projeção da 
língua para anterior e, também pelo fato do posicionamento inadequado da 
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 1 língua, que permanecia baixa na cavidade oral. Telefonamos para o ortodon-
tista que disse que o caso estava no final, quase na hora de remover o apare-
lho fixo passando para a contenção móvel. O ortodontista temia pela possível 
recidiva já que o rapaz continuava com a língua fora de posição e ainda de-
glutindo de forma “atípica” apesar de estar em tratamento fonoaudiológico. 
Por essa razão, encaminhou o caso para nós, para saber se haveria alguma 
solução, e se ainda demoraria muito para que ele fechasse a boca. 
Na anamnese estávamos presentes eu e a minha assistente. Per-
guntamos ao rapaz o que ele já havia feito na fonoterapia. Ele nos deu uma 
excelente aula de conhecimentos sobre a importância de manter a boca fe-
chada e a língua “na papila” para evitar possíveis recidivas. Também nos mos-
trou que era capaz de fazer com perfeição muitos exercícios de língua, lábios 
e bochechas. Nesse momento, pediu um copo de água e bebeu, inicialmente, 
gole a gole mostrando onde a língua deveria ficar durante a deglutição e, 
ainda nos informou sobre a importância da língua não ir para frente, para 
não “mover os dentes de lugar” que haviam sido “arrumados” pelo dentista. 
Ficamos impressionadas com tudo que ouvimos. O rapaz já poderia ganhar 
o diploma de fonoaudiólogo. Onde então estaria o problema? O que você 
que lê esse capítulo, pensa sobre esse caso? Pare e pense um pouco antes de 
continuar a ler. 
Se ele sabia tanto sobre os exercícios, sabia também sobre como 
mastigar, engolir e posicionar bem a língua na cavidade oral, porque não au-
tomatizava tudo isso e usava no dia a dia? 
Perguntamos a ele sobre a boca aberta e aí ele nos respondeu: “bem 
isso é porque eu não posso respirar pelo nariz”. Nesse momento, quero que 
você tape seu nariz, e tome um copo inteiro de água, com o nariz tapado, e me 
diga se consegue engolir de forma correta. Em seguida, mantenha o nariz tapa-
do, e feche a boca mantendo a língua no local correto. É difícil? Ou é impossí-
vel? Perguntamos a ele se era alérgico, tinha desvio de septo ou algo assim e, 
pasmem senhores, ele não sabia a razão, pois era assim desde pequeno.
Informamos ao paciente que o que havia aprendido na fonotera-
pia tinha sido muito bem dado e que essa fase estava terminada. Dissemos 
ainda que quase todo o caminho havia sido percorrido, mas que faltava um 
“pequeno detalhe” para que pudéssemos encerrar com “chave de ouro” o 
caso dele. Aplicamos algumas provas simples de respiração e constatamos 
pelo exame fonoaudiológico, que não parecia haver impedimentos mecânicos 
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anpara que a respiração ocorresse pelo nariz. A partir disso, solicitamos uma 
avaliação médica. Precisávamos ter a certeza de que a passagem aérea es-
tava livre para que o ensinássemos a usar o nariz, fechando a boca. Após 
os resultados médicos, onde nada foi constatado que o impedisse de usar o 
nariz, iniciamos a fonoterapia com o único objetivo de fechar a boca e usar o 
nariz para respirar. Em exatos três meses ele estava ótimo e feliz, pois agora 
podia manter a língua no lugar e engolir melhor. Pergunta: devemos começar 
a construir uma casa pelo telhado ou pelos alicerces? Ou seja, a fonoterapia 
deveria ter sido iniciada pela boca e língua ou pelo nariz? Não é possível man-
ter a língua na “papila”, ou mesmo deglutir de forma correta, se a boca está 
constantemente aberta. 
Caso nº 7
Paciente adulto com 30 anos encaminhado pelo dentista com di-
ficuldade em pronunciar os sons sibilantes e com pouca abertura de boca 
ao falar. Durante a anamnese soubemos que ele havia realizado tratamento 
ortodôntico quando criança porque tinha arcada dentária estreita. Com 11 
anos, fez terapia fonoaudiológica porque tinha ceceio lateral, tendo recebido 
alta. Por questões de trabalho morou em outro país onde a língua oficial era 
o espanhol. Pelo fato de ter que aprender uma nova língua acabou por notar 
que o som do [s] não estava tão bom como imaginava. Voltou ao seu dentista 
imaginando que se o som do [s] estava pior seria porque a oclusão havia tido 
algum problema. Iniciou reabilitação oral e após algum tempo novamente a 
fonoterapia, a qual suspendeu após alguns meses por não perceber resul-
tados positivos. O próprio paciente não gostava da maneira como falava e 
percebia que as pessoas prestavam mais atenção na sua boca do que exa-
tamente no que ele estava falando. Evidentemente, isso o incomoda muito. 
Em nosso exame clínico nos pareceu que a língua parecia ser grande para a 
cavidade oral. Quando falava podíamos ver a parte central da língua baixa 
e as laterais altas. Parecia que a língua estava “apertada” na cavidade oral 
principalmente quando permanecia no assoalho da boca. Quando a língua 
vinha para fora e para baixo quase alcançava o queixo. Durante a produção 
da fala, era visível o uso excessivo dos lábios e a menor abertura da boca. 
Quando falava palavras com [s] os movimentos dos lábios aumentavam mui-
to e também ficavam assimétricos, além de diminuir a abertura da boca ex-
cessivamente. Ao pedir para que falasse com a boca mais aberta o [s] tendia 
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 1 a virar [t]. Muito provavelmente as pessoas prestavam atenção em sua boca 
durante a fala por causa da movimentação excessiva que os lábios, princi-
palmente o superior, faziam na tentativa de uma melhor produção de fala. É 
possível que ele tenha desenvolvido essa movimentação excessiva na tenta-
tiva de melhora da produção do [s], fechando mais a boca e usando mais os 
lábios para falar. O mais interessante foi o final da consulta, quando ele tirou 
do seu bolso umas quatro folhas de papel recheadas de exercícios os quais, 
mesmo tendo deixado de fazer fonoterapia, continuava a fazer. Qual seria a 
razão disso? Evidentemente as profissionais que trabalharam com ele garan-
tiram que fazendo exercícios de lábios, língua e bochechas ele falaria melhor. 
Ele acreditou e continuava a fazer. Após nossos exames, laudos e explicações, 
ele iniciou a terapia e no final da primeira sessão perguntou se não iríamos 
dar a ele uma nova lista de exercícios para ele praticar em casa e no serviço, já 
que as sessões propostas eram semanais. Como nossa resposta foi negativa 
e, ainda dissemosque não haveria mais necessidade de fazer nenhum exercí-
cio, ele nos perguntou: - E agora o que eu vou fazer então?
A muleta do fonoaudiólogo é o exercício. Não sabendo o que fazer 
durante a sessão fatalmente serão introduzidos muitos exercícios. Se bem 
não faz, mal também não fará. 
As sessões iniciaram com o aumento da percepção de como os sons 
eram produzidos por ele comparando com os produzidos pela fonoaudió-
loga e por outras pessoas. Ele passou a prestar atenção em como ele fazia 
cada som, o que ele tinha que mexer, quais estruturas participavam durante 
a produção do som alvo e, ainda, tinha que fazer várias tentativas de movi-
mentos com os órgãos fonoarticulatórios para verificar o que acontecia com 
o som quando esses órgãos trabalhavam de maneira diferente. Nem preciso 
comentar que a surpresa dele a cada novidade sobre a produção do som 
era enorme. Não preciso dizer também, que ao ver seus filmes coletados na 
avaliação ficou impressionado com o tanto de movimentos desnecessários 
que seus lábios faziam e entendeu perfeitamente a razão das pessoas olha-
rem tanto para sua boca durante as conversas. Ficou impressionado quando 
percebeu que ele mesmo poderia controlar melhor os movimentos da boca, 
apenas sabendo o que as estruturas estavam fazendo e como ficaria se o 
fizesse de outra forma. Finalmente, esqueceu dos exercícios. Em quatro me-
ses de fonoterapia ele se tornou outra pessoa apesar da língua grande e da 
cavidade oral ser estreita.
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anFinalizando
Errar, não saber, ter dúvidas, ter conflitos, perceber contradições, 
fazem parte do existir. Isso não ocorre só na nossa profissão. O imobilismo de 
qualquer profissional, principalmente da área da saúde, frente às situações, 
aparentemente insolúveis, é o problema. As aparentes contradições na ma-
neira de avaliar e tratar serão saudáveis se não perpetuarmos a maneira cris-
talizada de agir sem repensar práticas adquiridas e muitas vezes solidificadas, 
sem ao menos perceber que em determinados casos elas não se aplicam. 
Exercemos uma profissão que, por lidar com um objeto tão complexo como 
o ser humano, carrega na sua essência a possibilidade do erro. Isso significa 
que nossos conhecimentos, como base de nossas práticas, podem ser insu-
ficientes, ineficientes ou, até mesmo inadequados. As contradições surgem 
quando as práticas, postas em ação, não se adaptam à realidade, não dão 
conta de superar os problemas a que se propõem. 
O crescimento de uma profissão se dá no confronto com as contradi-
ções e no investimento de esforços no sentido de sua superação. Para que pos-
samos solucionar, ou melhorar nossas contradições e nossas práticas, muitas 
vezes solidificadas, é necessário que nos mantenhamos em dia com os novos 
conhecimentos e para isso nada melhor do que a educação continuada.
O que viria a ser a educação continuada e qual seria a 
importância dela em nossa prática clínica?
A educação continuada é uma necessidade em qualquer profissão, 
porém na área da saúde ela tem uma importância maior, uma vez que os 
profissionais da saúde lidam diretamente com a vida e muitas vezes traba-
lham em condições de grande pressão. A educação continuada diz respeito à 
aquisição e renovação de conhecimentos os quais terão ação direta não so-
mente no atendimento como também no ambiente de trabalho. Ela promove 
o crescimento pessoal e profissional. A partir de novos conhecimentos, o pro-
fissional poderá aperfeiçoar seu trabalho em todos os sentidos. Diagnosticar 
com maior propriedade, se apropriar de novas técnicas, diminuir o tempo 
de atendimento, enfim ser mais assertivo naquilo que faz no seu dia a dia. 
O efeito da educação continuada não se faz somente sobre o cliente. Seus 
efeitos são percebidos também sobre o profissional que, ao ficar mais seguro 
no que faz, diminui o estresse e aumenta sua segurança. Trabalhos realiza-
dos com eficiência e eficácia levam o profissional a ser admirado entre seus 
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 1 pares e clientes levando a que a troca de informações entre eles seja mais 
frequente. A troca de informações e de conhecimento favorece não somen-
te o profissional, mas todos aqueles que estão em seu entorno. A educação 
continuada propicia uma nova visão sobre o fazer, estimula a observação e 
a reflexão sobre as ações realizadas, modificando o ambiente e as relações 
interpessoais. Não podemos confundir educação continuada apenas como 
a aquisição específica de conhecimentos de uma única área. Preocupar-se 
com as políticas de saúde e com os demais integrantes da equipe de traba-
lho faz parte das competências adquiridas por quem quer se aperfeiçoar 
e transformar não somente a si, mas todos e tudo o que está a sua vol-
ta. A educação continuada acaba por ser uma ferramenta para promover o 
desenvolvimento das pessoas e assegurar a qualidade do atendimento aos 
clientes. O cliente no mundo atual sabe o que quer, aumentou sua exigência 
com relação a todo e qualquer atendimento, tem melhores condições de 
obter conhecimento sobre o que procura e o profissional tem que saber 
disso, já que muitos clientes chegam até ele não somente com perguntas, 
mas também com um grande número de respostas e alternativas para seu 
próprio tratamento. O mundo vive em constantes mudanças, isso afeta não 
somente o indivíduo, mas todos os processos de trabalho e forma de pensar. 
Isso faz com que a educação continuada tenha que buscar o autodesenvol-
vimento, além de influenciar as pessoas ao redor que também busquem 
novos conhecimentos, para que todo o grupo de trabalho, ao compartilhar 
novas ideias e ações, cresça em conjunto. A fonoaudiologia que praticamos 
hoje não é a mesma que nos foi ensinada na faculdade, assim como a que 
faremos amanhã não será a mesma que fazemos hoje. Estar em contato 
constante com os avanços é obrigação de todo e qualquer fonoaudiólogo. 
Lembrar ainda que, o fazer de hoje, diferentemente do de ontem, tem que 
estar apoiado em evidências científicas.
Somente dessa forma, os “Pedros e Marias” que temos a oportu-
nidade de tratar, não sofrerão mais com nosso desconhecimento permane-
cendo em terapia durante tanto tempo sem muitas vezes solucionarmos o 
problema central.
Escolhemos uma profissão onde teremos que estudar sempre. Es-
colhemos uma profissão onde o outro depende de nós. Escolhemos uma pro-
fissão onde a troca é essencial. Troca de conhecimento, troca de afeto, troca 
de compreensão, troca de dúvidas e acertos.
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anMudar a nossa visão fará com que mudemos a Fonoaudiologia 
como um todo, e consequentemente, a nós mesmos, nos tornando melhores 
profissionais e pessoas nesse mundo em que habitamos.
Leitura Recomendada
1. Bianchini EMG. Mastigação e ATM – avaliação e terapia. In: Marchesan 
IQ. (Org.) Fundamentos em Fonoaudiologia – Aspectos Clínicos da 
Motricidade Oral. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005. cap. 5, 
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2. Bianchini PV, Montenegro HP. Motricidade Orofacial. Fundamentos 
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Chile: Universitaria; 2011.
3. Campanha SMA. Fonoterapia respiratória. Abordagem fonoaudiológica 
em pacientes com doenças respiratórias. São José dos Campos-SP: Pulso; 
2012.
4. Jakubovicz R, Basbaum FT. Avaliação e tratamento em Fonoaudiologia – 
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5. Marchesan IQ, Silva MR. Anatomofisiologia do sistema estomatognático 
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Anatomofisiologia e Desenvolvimento. São José dos Campos-SP: Pulso 
Editorial; 2011. cap 8, p.113-27
6. Marchesan IQ, Junqueira P. Atípicaou Adaptada: Como considerar 
os problemas da deglutição? In: Junqueira P, Dauden ATBC. Terapia 
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7. Marchesan IQ. Atuação Fonoaudiológica nas Funções Orofaciais: Desen-
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noaudiologia em Pediatria. São Paulo-SP: Sarvier; 2003. cap 1, p.3-22 
8. Marchesan IQ. Como avalio e trato as alterações da deglutição. In: Marche-
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diferentes países. São José dos Campos-SP: Pulso; 2005. cap 10, p.149- 98
9. Marchesan, IQ. Comparando as diferentes formas de atuar na deglutição. 
In: Marchesan IQ. (Org). Tratamento da deglutição – a atuação do fono-
audiólogo em diferentes países. São José dos Campos-SP: Pulso; 2005. 
cap 21 p.341- 60
10. Marchesan IQ. Intervenção Fonoaudiológica nas Alterações de Mastiga-
ção e Deglutição. In: Fernandes FDM, Mendes BCA, Navas ALPGP. Tratado 
de Fonoaudiologia. São Paulo-SP: Roca; 2009. cap 51, p.471-6
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 1 11. Marchesan IQ. Prática Baseada na Evidência (PBE): desafios da Motrici-
dade Orofacial. In: Pernambuco LA et al (Org.) Atualidades em Motricida-
de Orofacial. Rio de Janeiro – RJ:Revinter; 2011. cap 1, p.1-11
12. Marchesan IQ. Uma visão compreensiva das práticas fonoaudiológicas: 
a influência da alimentação no crescimento e desenvolvimento craniofa-
cial e nas alterações miofuncionais. São Paulo-SP: Pancast; 1998. 238p.
13. Marchesan IQ, Silva HJ, Berretin-Felix. Terapia Fonoaudiológica em 
Motricidade Orofacial. São José dos Campos-SP: Pulso; 2012.
14. Marchesan IQ, Zorzi JL. O clínico também é um pesquisador. In: Marchesan 
IQ, Silva HJ, Berretin-Felix. Terapia Fonoaudiológica em Motricidade 
Orofacial. São José dos Campos-SP: Pulso; 2012. cap 1, p.23-30
15. Marchesan IQ, Oliveira LR. Terapia em grupo na Motricidade Orofacial. 
In: Berberian AP, Santana AP. Fonoaudiologia em contextos grupais. São 
Paulo – SP: Plexus; 2012. cap 5, p.101-11
16. Pernambuco LA. Terapia fonoaudiológica em motricidade orofacial. 
Distúrb Comun, São Paulo, 24(3): 447-8, dezembro, 2012. Resenha19.
indd 447
37
Capítulo 2
AVALIAÇÃO CLÍNICA EM MOTRICIDADE OROFACIAL
Giédre Berretin-Felix
Renata Resina Migliorucci
Mariana da Rocha Salles Bueno
Raquel Rodrigues Rosa
Letícia Korb da Silva
Introdução
O sistema estomatognático é compreendido por componentes ósse-
os, arcadas dentárias, tecidos moles e articulações temporomandibulares. Tais 
estruturas encontram-se inter-relacionadas e, quando em função, visam alcan-
çar o máximo de eficiência com a proteção de todos os tecidos envolvidos1. 
As funções orofaciais são dependentes da ação de um conjunto de 
músculos esqueléticos, sob comando do sistema nervoso central, a partir do 
planejamento determinado junto ao gerador de padrão central. As condições 
morfológicas dos constituintes deste sistema e o processo de maturação 
neuromuscular acarretam implicações significativas sobre o padrão funcional 
que será aprendido2. 
O equilíbrio desse sistema pode ser influenciado por diversos fato-
res, como as desarmonias estruturais, que podem ser ósseas e/ou dentárias, 
além das alterações relacionadas ao tônus, sensibilidade e mobilidade oro-
facial, aos distúrbios neuromusculares, quadros de disfunções temporoman-
dibulares, dentre outras. Para que sejam reconhecidos os fatores etiológicos 
das disfunções oromiofuncionais é necessário que seja realizado um minu-
cioso exame clínico. 
Por isso, a avaliação clínica é uma etapa fundamental no processo 
de diagnóstico dos distúrbios miofuncionais orofaciais, possibilitando a com-
preensão das relações entre as condições anatômicas e funcionais do siste-
ma estomatognático, além de permitir estabelecer o raciocínio terapêutico 
e a necessidade de encaminhamentos, fornecendo, ainda, dados quanto ao 
prognóstico do caso3. 
Neste capítulo serão abordados protocolos clínicos utilizados para 
a avaliação miofuncional orofacial, bem como o processo de avaliação e 
investigação, com raciocínio voltado às relações de causa e efeito entre os 
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 2 achados, com ênfase nas disfunções e adaptações relacionadas às alterações 
dento-oclusais e desproporções maxilomandibulares, no que diz respeito à 
atuação interdisciplinar entre a Fonoaudiologia e a Odontologia.
Protocolos de Avaliação Miofuncional Orofacial
Tendo em vista a importância da avaliação clínica do sistema es-
tomatognático, alguns protocolos foram publicados, tais como: a Versão 
Brasileira do The Nordic Orofacial Test - Screening - NOT-S4, o Protocolo de 
Avaliação Miofuncional Orofacial com Escores - AMIOFE5,6,7,8 e a Avaliação 
Miofuncional Orofacial - Protocolo MBGR3. Tais instrumentos contemplam a 
atribuição de pontuações ou escores, os quais contribuem não apenas para 
reduzir a subjetividade do exame clínico, como também facilitam o acompa-
nhamento da evolução do caso ao longo do processo de tratamento.
De acordo com Felício (2010)7, o uso de um protocolo tem por fina-
lidade estabelecer alguns padrões e parâmetros que permitam o estudo do 
caso para a definição das metas e condutas terapêuticas e, posteriormente, a 
verificação dos resultados à medida que o processo terapêutico se desenvolve.
Nesse sentido, o Protocolo NOT-S foi traduzido e adaptado para a 
língua portuguesa e validado para aplicação em indivíduos a partir de três 
anos de idade. Tem por objetivo identificar indivíduos que possam apresen-
tar alguma alteração do sistema estomatognático, podendo ser utilizado por 
profissionais de diferentes áreas de formação. Consiste em entrevista e exa-
me clínico, além de acompanhar um manual ilustrado facilitando as instru-
ções ao paciente e a compreensão das tarefas contidas no exame clínico4. 
O Protocolo MBGR, em processo de validação, foi elaborado para 
que Fonoaudiólogos possam avaliar, diagnosticar e estabelecer tratamento 
adequado, bem como prognóstico em relação aos distúrbios miofuncionais 
orofaciais. Este protocolo também é dividido em história clínica e exame mio-
funcional orofacial, incluindo a proposta a documentação a ser realizada, en-
volvendo fotografias e filmagens, para análise posterior3. 
Já o Protocolo AMIOFE foi desenvolvido e validado para aplicação 
em crianças5, tendo a primeira versão sido expandida (AMIOFE-E)6 e posterior-
mente adaptada e validada para jovens e adultos7, além de idosos (AMIOFE-I)8. 
Aborda os aspectos relacionados à aparência, postura e mobilidade de lábios, 
língua, bochechas e mandíbula; respiração; mastigação e deglutição, sendo 
que o protocolo adaptado para idosos também contempla a função de fala. 
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aRessalta-se que, além dos protocolos citados nesse capítulo, é pos-
sível encontrar outros instrumentos de avaliação clínica para questões espe-
cíficas como frênulo lingual, disfunção temporomandibular, paralisia facial, 
disfunção velofaríngea, dentre outros.
Avaliação Miofuncional Orofacial
Para diagnosticar uma alteração miofuncional orofacial é preciso 
examinar os constituintes do sistema estomatognático e as funções orofa-
ciais, identificando as alterações morfológicas e funcionais, bem como a rela-
ção de causa e efeito entre elas. Além do exame presencial junto ao pacien-
te, análises mais refinadas ou detalhadas podem ser realizadas por meio de 
fotos, no que diz respeito às estruturas estáticas, como também por meio de 
filmagens, para os aspectos dinâmicos.
Considerar aspectos posturais globaisé o primeiro passo do pro-
cesso de avaliação, uma vez que a postura corporal exerce influência sobre 
o desempenho das funções orofaciais. A anteriorização da cabeça provoca 
alte rações da postura da mandíbula, do osso hioide e da língua, trazendo 
consequências para o cresci mento orofacial e para a oclusão, além de inter-
ferir na competência das funções de alimentação e comunicação oral9. 
Qualquer interferência no período de crescimento ativo das estru-
turas da face pode alterar a morfologia, prejudicando o desenvolvimento 
dentofacial normal e resultando em adaptações miofuncionais orofaciais10.
Ao analisarmos a face, verifica-se a presença ou não de assime-
trias entre os lados, bem como a proporção entre os terços médio e inferior 
da face, possibilitando realizar análises em relação à simetria e ao equilí-
brio facial. Em relação às estruturas ósseas, deve ser considerado o plano 
infraorbitário, região zigomática, asas do nariz, mento, mandíbula (corpo 
e ramo). Enquanto estruturas musculares, o exame deve considerar as bo-
chechas, sulco nasolabial, lábio superior e inferior, comissura dos lábios e 
músculos masseteres. 
Assimetrias musculares podem estar relacionadas principamente 
à mastigação unilateral crônica, cuja possível etiologia relaciona-se à pre-
sença de mordida cruzada posterior, dor em dentes, falhas dentárias ou 
contato dentário prematuro. Mesmo após o tratamento destas alterações 
dentárias o indivíduo pode manter o padrão mastigatório unilateral devido 
à memória neuromuscular11. 
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 2 Por outro lado, a presença de assimetrias ósseas está relacionada à 
quadros de deformidade dentofacial, definida como uma desarmonia estru-
tural da face que se caracteriza por desvios dos padrões normais, no que se 
refere às proporções esqueléticas faciais e às relações dentárias, como tam-
bém dos tecidos moles12. As alterações no plano transversal podem ocorrer 
nos lados direito e/ou esquerdo, manifestando a mordida cruzada posterior 
bilateral ou unilateral, como também as constrições e as assimetrias dos ar-
cos dentários, além do apinhamento dentário13.
A tipologia e o padrão facial organizam a variação das estruturas ós-
seas e musculares, dentro da normalidade, sendo que cada tipo facial apre-
senta características estéticas, ósseas, musculares e funcionais próprias14. A 
compreensão de tais características é fundamental para o processo de avalia-
ção em motricidade orofacial, em especial no que se refere à atuação junto 
a casos odontológicos.
Quanto ao padrão facial, os indivíduos podem ser classificados em 
padrão I, II e III. O padrão I é considerado normal quanto às proporções fa-
ciais, sendo a má oclusão, quando presente, apenas dentária. Os padrões II e 
III apresentam discrepâncias sagitais, em relação à maxila e mandíbula. O Pa-
drão II apresenta perfil convexo e ângulo nasolabial agudo (<90°), enquanto 
no Padrão III o perfil é côncavo e o ângulo nasolabial obtuso (>90°)15. 
Na presença de padrão facial II ou III a respiração pode apresen-
tar-se de modo oronasal ou oral, sendo que os padrões de mastigação, de-
glutição e fala serão adaptados à má oclusão esquelética apresentada pelo 
paciente16, 17, 18.
Já os tipos de face longa ou curta são caracterizados pelo excesso 
e/ou deficiência no crescimento vertical quando comparado com o cresci-
mento transversal da face, podendo haver equilíbrio entre os terços médio 
e inferior da face, proporcionando bom prognóstico quando na presença de 
um distúrbio miofuncional16. 
Na avaliação de pacientes com face longa, a desproporção entre o 
terço médio e inferior da face resulta em impossibilidade de oclusão labial pas-
siva; o aumento da dimensão vertical intraoral favorece a interposição de língua 
na deglutição e na fala10,16,18, enquanto a respiração frequentemente oral agrava 
as condições musculares, prejudicando, também a função mastigatória9,16,18. Na 
face curta, a desproporção entre o terço médio e inferior da face resulta em 
vedamento labial com tensão, as características da musculatura mastigatória 
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apossibilita boa trituração dos alimentos, enquanto o espaço intraoral redu-
zido determina a ocorrência de interposição de língua na deglutição e fala16.
A classificação das oclusões deve ser realizada de acordo com a re-
lação molar proposta por Angle (1899), ou seja: Classe I, Classe II, Classe II 
divisão 1, Classe II divisão 2 e Classe III19. A associação entre os achados do 
padrão facial e da relação molar traz importante informação sobre a pre-
sença de alterações dentárias ou dentofaciais (esqueléticas). As alterações 
oromiofuncionais relacionadas às más oclusões de origem dentária acom-
panham casos com padrão facial I, enquanto as alterações esqueléticas são 
identificadas nos padrões II e III. Os distúrbios miofuncionais encontrados na 
presença de más oclusões poderão ser abordados após o tratamento odon-
tológico pertinente, sendo ortodôntico para casos dentários e ortopédico/
cirúrgico para alterações esqueléticas.
Alterações dento-oclusais verticais e transversais também influen-
ciam o desempenho das funções orofaciais. Na presença de mordida aberta 
anterior há interposição de língua entre os dentes durante a deglutição e fala, 
além de deficiência mastigatória devido ao enfraquecimento da musculatura 
elevadora da mandíbula16,17. Na mordida aberta lateral a língua também ocu-
pa o espaço existente na deglutição e fala. Quando unilateral, a mastigação 
tende a ser realizada do lado oposto à mordida aberta, onde há contato entre 
os dentes superiores e inferiores17,20. Na mordida cruzada unilateral há uma 
diminuição do espaço vertical e a impossibilidade de realizar o movimento de 
balanceio deste lado, levando o indivíduo a mastigar do lado cruzado21.
Outras alterações anatômicas também devem ser consideradas no 
processo de avaliação, uma vez que as mesmas influenciam o desempenho 
das funções orofaciais. 
Nesse sentido, na avaliação dos lábios deve-se observar presença 
de lábio inferior evertido e superior curto, identificando as relações com o 
tipo e o padrão faciais anteriormente citadas, além de considerar a medida 
do comprimento do lábio superior e do lábio inferior. Tal análise possibilitará 
ao especialista em Motricidade Orofacial direcionar a intervenção para a re-
solução desses aspectos ou não. 
É necessário, ainda, verificar a presença de cicatrizes nos lábios 
como sequelas de cirurgias para reparo de fissuras ou retirada de tumores, 
além de possíveis traumas, investigar se os lábios estão ressecados pela res-
piração oral, ou ainda, se há presença de marcas ou lesões na mucosa jugal 
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 2 e vestibular decorrentes de hábitos orais deletérios ou má oclusão3. É impor-
tante, também, observar o frênulo labial, pois na presença de hipertrofia as 
fibras penetram no osso alveolar, podendo causar diastema entre os incisivos 
centrais e pouca mobilidade de lábios, dificultando a articulação dos fonemas 
bilabiais22.
A língua pode apresentar-se adequada, larga, estreita, volumosa ou 
grande para a cavidade oral. Pode apresentar aspecto normal, ser geográfica 
ou fissurada. Estando volumosa, alargada e com marcas dentárias é sugestivo 
de que há diminuição do tônus muscular, enquanto o aspecto volumoso in-
terfere na relação maxilomandibular e dentária23. A presença de microglossia 
ou macroglossia está associada a síndromes, sendo que a última pode ser 
congênita ou adquirida, dividida em verdadeira (quando há um aumento ex-
cessivo da língua em casos de sindromes,malformações vasculares e tumo-
res) e relativa (quando o espaço da cavidade oral é insuficiente para o órgão 
tendo como uma das principais causas a Sindrome de Down)24. 
É importante observar a postura da língua durante o repouso e du-
rante as funções, podendo estar apoiada no palato duro, atrás dos dentes 
incisivos superiores, interposta entre as arcadas dentárias, pressionada late-
ralmente contra as arcadas dentárias ou no assoalho da boca. Quando esta 
posição se encontra anteriorizada ou entre os dentes, costuma ser associada 
às alterações dento-oclusais ou dentofaciais, com a respiração oral e, em al-
guns casos, com a hipertrofia das tonsilas palatinas18 .
O frênulo lingual também deve ser avaliado, podendo ser classi-
ficado quanto sua extensão e fixação. O indivíduo com frênulo curto pode 
apresentar dificuldade na mobilidade de língua, dificultando a lateralidade 
do bolo alimentar durante a mastigação, bem como na fala, principalmente 
na produção do fonema /r/25. 
Há, ainda, que se considerar o estado de contração dos músculos 
orofaciais em repouso, bem como o desempenho da musculatura durante a 
realização de movimentos específicos, tendo em vista que alterações de tais 
aspectos também implicarão em prejuízos nas funções de respiração, masti-
gação, deglutição e fala; ao passo que as funções orofaciais alteradas com-
prometem o equilíbio muscular, numa relação de retro-alimentação. 
Quanto aos tônus, verificar a normalidade diz respeito a um dos 
passos mais difíceis na área de Motricidade Orofacial, tendo em vista a 
subjetividade da avaliação, que consiste em observação visual e palpação. 
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aOs resultados encontrados serão determinados principalmente pelo tipo e 
padrão facial, como também pelo padrão respiratório apresentado pelo in-
divíduo.
Na mobilidade são solicitados movimentos de lábios, língua e man-
díbula e analisado se o paciente produz corretamente, realiza com dificulda-
de ou não realiza, bem como se há tremor durante a execução3. Dificuldades 
na execução das provas propostas ou a não execução podem ser decorrentes 
de tônus alterado, prejuízos na lateralização do bolo alimentar, alteração de 
sensibilidade, frênulo curto, dentre outros. No processo terapêutico, a abor-
dagem de movimentos isolados deverá ser proposta somente quando tal mo-
vimento se faz necessário para a função adequada da estrutura em repouso, 
mastigação, deglutição e/ou fala.
No que diz respeito à mobilidade mandibular verificamos os mo-
vimentos de abertura, fechamento, lateralidade e protrusão. O movimento 
de abertura da boca limitado pode ser decorrente de contratura muscular 
e/ou deslocamento de disco articular sem redução. Além disso, a assimetria 
da musculatura mastigatória e facial ou as disfunções intrarticulares podem 
provocar desvio na abertura para o lado hipertrofiado e/ou da ATM afetada23. 
A lateralidade está relacionada ao movimento lateral para o lado de trabalho 
durante a mastigação, sendo que interferências oclusais e ausência de guia 
para a desoclusão dos dentes posteriores interferem no movimento execu-
tado. A protrusão mandibular pode estar limitada pela impossibilidade dos 
côndilos realizarem o movimento de translação, podendo ocorrer, também, 
desvio na execução por alteração articular unilateral, interferências oclusais 
ou desalinhamento dos dentes anteriores, que alteram a guia incisal23,26.
A dor à palpação é investigada nos músculos mastigatórios, cervi-
cais e também nas ATMs. Por meio desse exame pode-se verificar como os 
músculos estão reagindo ao desequilíbrio oclusal e/ou funcional, bem como 
emocional23. Através da palpação, verifica-se a tensão muscular e os pontos 
doloridos e desencadeantes de dor na musculatura. Diante os dados obser-
vados na mobilidade mandibular, ausculta durante os movimentos e dor à 
palpação, é possível identificar a presença de quadro sugestivo de Disfunção 
Temporomandibular (DTM) para posterior aplicação de protocolo de avalia-
ção específico para esta alteração26. 
Indivíduos com DTM apresentam alterações miofuncionais carac-
terizadas por mastigação unilateral crônica, deglutição com apertamento 
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 2 dentário ou projeção de língua entre os dentes, desvios de mandíbula na 
fala, além de padrão articulatório fechado e impreciso26,27. O tratamento do 
quadro de DTM é crucial para a modificação das disfunções miofuncionais 
orofaciais apresentadas por tais pacientes, da mesma forma que a adequa-
ção ou adaptação favorável das funções proporcionará equilíbrio ao sistema 
estomatognático, possibilitando o controle do quadro.
Por fim, faz-se importante considerar a realização de testes que 
possibilitam a avaliação da coordenação neuromuscular, por meio de provas 
de diadococinesia (DDC), que consiste na avaliação do desempenho motor 
oral e laríngeo envolvendo a função de estruturas como lábios, língua, véu 
palatino e pregas vocais, cuja realização possibilita a compreensão das carac-
terísticas fonoarticulatórias do indivíduo28, além de mostrar relação com as 
funções de mastigaçã29 e deglutição30. 
Pode-se concluir que os distúrbios miofuncionais orofaciais são al-
terações que destoam da normalidade esperada ao sistema estomatognáti-
co, podendo ser de origem estrutural ou funcional, decorrentes de quadros 
de disfunções temporomandibular ou ainda neuromusculares. 
Dessa forma, até o momento buscou-se elucidar o processo pelo 
qual a condição dentofacial e oclusal modula as funções e demais aspectos 
musculares relacionados, sendo que os casos clínicos apresentados a seguir 
exemplificarão os aspectos teóricos apresentados.
Casos Clínicos
1 – Caso Clínico com Desequilíbrio Facial
Identificação e queixa: V.A.B.F.C., gênero masculino, 17 anos, en-
caminhado para a Clínica de Fonoaudiologia pelo ortodontista ao final do 
tratamento ortodôntico, utilizando a placa Hawley com recordatório, pois 
apresentava interposição lingual durante a fonação e deglutição.
Dados da avaliação: na avaliação, por meio do Exame Miofuncional 
Orofacial MBGR foi observado que o paciente apresentava importante altera-
ção de postura corporal, com cabeça inclinada à esquerda e anteriorizada, om-
bros com rotação anterior, além de tipo facial longo com terço inferior aumen-
tado, padrão facial II (convexo) e ângulo nasolabial obtuso. No exame extraoral, 
observou-se lábios ora entreabertos ora selados com tensão no repouso e com 
a mucosa externa ressecada, lábio superior em “asa de gaivota” e curto, lábio 
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ainferior com eversão discreta. A língua apresentava largura aumentada e mar-
cas dentárias, sendo que durante o repouso o paciente mantinha a postura de 
língua no assoalho da boca. O palato duro possuía profundidade aumentada e 
largura adequada. Quanto aos dentes, o paciente apresenta dentadura perma-
nente, boa relação entre os arcos dentários, relação molar Classe I de Angle, 
sem falhas dentárias e com uso da contenção fixa. O tônus de lábios, língua e 
bochechas estava diminuído e de mento aumentado, não tendo sido obser-
vada alteração de mobilidade e sensibilidade orofacial. Quanto às funções, o 
paciente apresentou respiração modo nasal diurno, apesar de ser ruidosa, e 
oronasal noturno (segundo informação do paciente).

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