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TERAPIA FONOAUDIOLÓGICA EM MOTRICIDADE OROFACIAL ORGANIZADORES Irene Queiroz Marchesan Hilton Justino da Silva Giédre Berretin-Felix Copyright © 2012 by Pulso Editorial Ltda. ME Avenida Anchieta, 885 (Jardim Nova América) São José dos Campos – SP. CEP 12242-280 - Telefone/Fax: (12) 3942-1302 e-mail: atendimento@pulsoeditorial.com.br home-page: http://www.pulsoeditorial.com.br Impresso no Brasil/Printed in Brazil, com depósito legal na Biblioteca Nacional conforme Decreto no. 1.825, de 20 de dezembro de 1907. Todos os direitos reservados – É proibida a reprodução total ou parcial de qualquer parte desta edição. A violação dos direitos de autor (Lei no 5.988/73) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal. Editor responsável: Vicente José Assencio Ferreira Diagramação: Alexandre Marinho Vicente Capa: David de Aguiar Felicino Impressão e acabamento: Editora Parma Ltda. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Terapia fonoaudiológica em motricidade orofacial / organizadores Irene Queiroz Marchesan, Hilton Justino da Silva, Giédre Berretin-Felix. -- São José dos Campos, SP : Pulso Editorial, 2012. Vários colaboradores. Bibliografia. ISBN 978-85-89892-91-9 1. Boca - Músculos 2. Face - Músculos 3. Fonoaudiologia - Terapia 4. Músculos - Motricidade I. Marchesan, Irene Queiroz. II. Silva, Hilton Justino da. III. Berretin-Felix, Giédre. 12-05775 CDD-616.885 Índices para catálogo sistemático: 1. Terapia fonoaudiológica 616.885 ORGANIZADORES IRENE QUEIROZ MARCHESAN Fonoaudióloga Docente e Diretora do CEFAC Pós-Graduação em Saúde e Educação Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) HILTON JUSTINO DA SILVA Fonoaudiólogo Doutor em Nutrição pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Mestre em Morfologia/Anatomia pela UFPE Especialização em Motricidade Orofacial pelo CEFAC Pós-Graduação em Saúde e Educação Especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa) Terapeuta no Conceito de Reabilitação Orofacial e Corporal Castillo Morales da Argentina Professor Adjunto III do Departamento de Fonoaudiologia da UFPE Líder do Grupo de Pesquisa Patofisiologia do Sistema Estomatognático UFPE/Diretório de Grupos de Pesquisa – CNPq GIÉDRE BERRETIN-FELIX Fonoaudióloga Pós-Doutorado em Distúrbios da Deglutição pela Universidade da Flórida Doutora em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP) Docente do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia da USP CORPO EDITORIAL Irene Queiroz Marchesan Hilton Justino da Silva Giédre Berretin-Felix PARECERISTAS Adriana Tessitore Adriana Rahal Andréa Rodrigues Motta Daniele Andrade da Cunha Giédre Berretin-Felix Hilton Justino da Silva Irene Queiroz Marchesan AGRADECIMENTOS A Associação Brasileira de Motricidade Orofacial (ABRAMO), em nome dos seus organizadores, agradece a todos os palestrantes que trou- xeram seu conhecimento ao V Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial realizado nos dias 15 e 16 de junho de 2012 na cidade de Curitiba - PR. É im- portante que se saiba que todos os professores cederam de forma gratuita seu conhecimento, tanto para as palestras, como para os capítulos do livro que foi gerado nesse evento. A renda gerada no evento será utilizada para oficializar a ABRAMO e manter seu site. Irene Queiroz Marchesan COLABORADORES Adriana Rahal Mestrado em Ciências pela USP-SP (2001) Doutorado em Ciências pela USP-SP (2009) Fonoaudióloga Clínica desde 1987 Chefe do Departamento de Eletromiografia do CEFAC-SP Professora do Curso de Graduação da Faculdade Santa Casa de SP Professora dos cursos de especialização em Motricidade Orofacial do CEFAC Pós-Graduação em Saúde e Educação Email: rahal-carvalho@uol.com.br Adriana Tessitore Fonoaudióloga clínica Especialista em Motricidade Orofacial pelo CFFa Mestre em Ciências Médicas pela UNICAMP Doutora em Ciências Médicas pela UNICAMP Terapeuta e Mestre no Conceito de Reabilitação Orofacial e Corporal Castillo Morales Docente do CEFAC Pós-Graduação em Saúde e Educação Email: adria@terra.com.br Ana Maria Toniolo da Silva Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana (Fonoaudiologia) pela Universidade Federal de São Paulo Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade Federal de Santa Maria-RS Professora Adjunta do Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal de Santa Maria-RS Email: amariatoniolo@gmail.com Andréa Rodrigues Motta Especialista em Motricidade Orofacial pelo CFFa Mestre em Fonoaudiologia pela PUC-SP Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana pela UNIFESP Professora Adjunto do Departamento de Fonoaudiologia da UFMG Membro do Grupo de Motricidade Orofacial e Disfagia de Belo Horizonte Membro da Associação Brasileira de Motricidade Orofacial ABRAMO Email: andreamotta19@gmail.com Angela Busanello-Stella Fonoaudióloga Clínica Especialização em Fonoaudiologia Hospitalar Mestre em Distúrbios da Comunicação pela Universidade Federal de Santa Maria - RS Doutoranda pelo mesmo programa Email: angelafonoaudiologia@yahoo.com.br Cláudia Tiemi Mituuti Fonoaudióloga Especialista em Motricidade Orofacial pelo Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais – USP Mestre em Ciências pela Faculdade de Odontologia de Bauru – USP Doutoranda do Programa de Ciências Odontológicas Aplicadas da Faculdade de Odontologia de Bauru – USP Email: claudinhatm@usp.br Cynthia Dacillo Licenciatura em Educação Especial com Especialização em Distúrbios da Comunicação pela UNIFÉ – Universidade Femenina del Sagrado Corazón de Lima – Perú. Especialista em Motricidade Orofacial pelo CPAL – Centro Peruano de Audición y Lenguaje de Lima – Perú – CEFAC Email: cynthia.dacillo@hotmail.com Daniele Andrade da Cunha Fonoaudióloga Doutorado e Mestrado em Nutrição pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa) Pesquisadora Institucional da Faculdade Estácio do Recife Líder do Grupo de Pesquisa Patofisiologia do Sistema Estomatognático UFPE/Diretório de Grupos de Pesquisa – CNPq Email: dhanyfono@hotmail.com Esther Mandelbaum Gonçalves Bianchini Fonoaudióloga CRFa1773/SP Especialista em Motricidade Orofacial CFFa 018/96 Mestre em Educação – Distúrbios da Comunicação, PUCSP Doutora em Ciências – Fisiopatologia Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP Professora Adjunta do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Fonoaudiologia da Universidade Veiga de Almeida, RJ Professora do CEFAC Pós-Graduação em Saúde e Educação Diretora da Clínica E. Bianchini Fonoaudiologia Endereço para acessar CV: http://lattes.cnpq.br/9878104937562238 Endereço eletrônico: www.estherbianchinifono.com.br Email: esther@estherbianchinifono.com.br Franklin Susanibar Fonoaudiólogo formado pela FAP – Faculdade Adventista Paranaense Docente da UNMSM – Universidade Nacional Mayor de San Marcos Lima-Perú y da UPCH Docente da Universidade Peruana Cayetano Heredia Lima - Perú Autor do Dicionário Terminológico de Motricidade Orofacial Encarregado da área de diagnóstico e intervenção em Motricidade Orofacial do Instituto Psicopedagógico EOS-Perú Pertence a equipe de diagnóstico e intervenção em Motricidade Orofacial do Policlínico Peruano Japonés – Lima - Peru Membro fundador da CMOL – Comunidade de Motricidade Orofacial Latinoamericana Fundador da RevMOf Revista Digital Especializada em Motricidade Orofacial Email: frank_susanibar@yahoo.com.br Giédre Berretin-Felix Fonoaudióloga Mestre em Odontologia – Faculdade de Odontologia de Piracicaba – UNICAMP Doutora em Fisiopatologia em Clínica Médica – Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP Pós-Doutora em Distúrbios da Deglutição – University of Florida Professora Associada do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru – USP Email: gfelix@usp.brHilton Justino da Silva Fonoaudiólogo Doutorado em Nutrição pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Mestrado em Morfologia/Anatomia pela UFPE Especialização em Motricidade Orofacial pelo CEFAC Pós-Graduação em Saúde e Educação Especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa) Terapeuta no Conceito de Reabilitação Orofacial e Corporal Castillo Morales - Argentina Professor Adjunto III do Departamento de Fonoaudiologia da UFPE Líder do Grupo de Pesquisa Patofisiologia do Sistema Estomatognático UFPE/Diretório de Grupos de Pesquisa – CNPq Vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Saúde da Comunicação Humana - UFPE E-mail: hiltonfono@hotmail.com Irene Queiroz Marchesan Fonoaudióloga pela Pontifícia Universidade Católica - SP (PUC-SP) em 1977 Mestrado em Distúrbios da Comunicação PUC-SP em 1989 Doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em 1998 Diretora do CEFAC Pós-Graduação em Saúde e Educação http://lattes.cnpq.br/3237385454152639 Email: irene@cefac.br Jaime Luiz Zorzi Fonoaudiólogo pela Pontifícia Universidade Católica - SP (PUC-SP) em 1976 Mestrado em Distúrbios da Comunicação PUC-SP em 1988 Doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em 1997 Diretor do CEFAC Pós-Graduação em Saúde e Educação http://lattes.cnpq.br/1009139853780079 Email: jaime@cefac.br Lúcia Dantas Giglio Fonoaudióloga Especialista em Laboratório do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP- USP) Especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa) Mestranda em Ciências Médicas pelo Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da FMRP-USP E-mail: lgiglio@fmrp.usp.br Luciana Vitaliano Voi Trawitzki Fonoaudióloga Especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa) Mestre em Fisiologia Oral pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas (FOP-UNICAMP) Doutora em Biociências Aplicada à Clínica Médica pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) Docente do Curso de Fonoaudiologia e Pós-Graduação do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da FMRP-USP E-mail: luvoi@fmrp.usp.br Marcela Maria Alves da Silva Fonoaudióloga Mestre em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação Interunidades em Bioengenharia da Escola de Engenharia de São Carlos – USP Doutoranda do Programa de Ciências Odontológicas Aplicadas da Faculdade de Odontologia de Bauru – USP Email: marcelam@usp.br Marileda Cattelan Tomé Graduação em Fonoaudiologia pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM-RS Mestrado em Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade Federal de Santa Maria-RS Doutorado em Ciências da Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação Humana pelo Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofacias – USP Bauru Professora do Curso de Graduaçao em Fonoaudiologia da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI-SC Equipe técnica da Clínica SerFono – Joinville-SC Email: ledatome@uol.com.br Silvana Brescovici Formada em Fonoaudiologia pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM-RS, em 1983 Mestrado em Ciências Médicas na Faculdade de Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 2004 Especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa) desde 2004 Trabalha em clínica privada e como docente na Universidade Luterana do Brasil – ULBRA desde 1994 Email: silvana@brescovici.com.br Tais Helena Grechi Fonoaudióloga Especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa) Assistente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP) pela Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência do HCFMRP-USP Mestre e Doutoranda em Ciências Médicas pelo Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) E-mail: thgrechi@hotmail.com Tatiana Vargas de Castro Perilo Fonoaudióloga Especialista em Motricidade Orofacial pelo CFFa Mestre e Doutoranda em Bioengenharia pela UFMG Fonoaudióloga do Hospital das Clínicas da UFMG Membro do Grupo de Motricidade Orofacial e Disfagia de Belo Horizonte. Emal: tativcp@yahoo.com.br e tatiana_vargas@hotmail.com PREFÁCIO Prezados Colegas Em 2004 um grupo entusiasta da Motricidade Orofacial (MO) se reuniu em São Paulo nos dias 20 e 21 de agosto para realizar a 1ª Reunião Científica do Comitê de MO da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa). O evento denominado “Convergências e Divergências em MO” teve como coordenadores os fonoaudiólogos Irene Marchesan, Adriana Rahal, Lia Duarte, Lilian Krakauer, Silvia Pierotti e Patrícia Junqueira. Com 16 mesas e 50 participantes entre palestrantes, debatedores e coordenadores, a reunião foi considerada de grande sucesso. Foram abordados todos os temas da MO e mais uma mesa central de discussão sobre terminologia e parâmetros em MO com a participação de fonoaudiólogos, neurologistas, dentistas e fisiote- rapeutas. O evento gerou um livro “Motricidade Orofacial: como atuam os especialistas” organizado por Irene Marchesan e editado pela Pulso Editorial, com 36 capítulos os quais tratam das diversas opiniões sobre a avaliação e a terapia em MO, além de um breve histórico sobre o comitê de MO da SBFa. A renda da venda do livro é destinada, até os dias de hoje, ao Comitê de Mo- tricidade Orofacial da SBFa. Em 2005, durante o 1º Encontro Internacional de Deglutição reali- zado em agosto na cidade de São Paulo, foi realizada a 2ª Reunião Científica do Comitê de MO da SBFa. Nesse encontro foi gerado um livro “Tratamento da Deglutição: a atuação do fonoaudiólogo em diferentes países”, organizado por Irene Marchesan, editado pela Pulso Editorial, constando de 21 capítu- los. Nesse evento tivemos a participação de fonoaudiólogos brasileiros, ar- gentinos, chilenos, americanos, peruanos, portugueses e venezuelanos. Na 2ª Reunião Científica do Comitê de MO da SBFa em conjunto com os palestran- tes nacionais e estrangeiros mais os membros do CFFa e do CRFa 2ª região, ficou decidido que iniciaríamos encontros nacionais em diferentes regiões do Brasil, com a finalidade de divulgar a MO em diferentes partes de nosso país, assim como buscar especialistas nessa área que realizassem trabalhos inovadores e diferenciados em cada região brasileira. Em 2008 foi realizado, no dia 7 de agosto, o I Encontro Brasileiro de MO na cidade de Goiânia-GO coordenado pela Fga. Mestre Christiane Tani- gute. O objetivo dos encontros regionais, é o de atingir os profissionais da MO de determinada região permitindo que os mesmos tenham a oportuni- dade de apresentar seus trabalhos e também se reciclarem. Em 2009 foi realizado, no dia 22 de agosto, o II Encontro Brasileiro de MO na cidade de Recife-PE coordenado pelo Fgo. Dr. Hilton Justino. Nesse evento foram discutidos quais deveriam ser as ações para alavancar a MO do Brasil. Ainda em 2009 ocorreu na cidade de São Paulo, nos dias 25 e 26 de setembro, a 3ª Reunião Científica de MO. Estiverem presentes 62 fono- audiólogos de 16 estados do Brasil, quatro fonoaudiólogos do Peru, uma da Argentina e uma da Espanha. A temática abordada foi a discussão sobre qual seria o melhor nome para a especialidade de MO, onde o Conselho Federal de Fonoaudiologia participou ativamente enviando a Fga. Carla Girodo. Em seguida foram apresentados protocolos utilizados em diferentes centros e fo- ram apresentadas as pesquisas que estão sendo desenvolvidas pelos grupos de MO no Brasil. Resumidamente poderíamos dizer que o mais importante de cada Reunião Científica é o que se segue: 1ª Reunião Científica de MO – agosto de 2004 – O evento foi organizado pelo Comitê de MO. Esse evento gerouum livro com 36 capítulos, editado pela Pulso Editorial, expondo a atuação dos especialistas nas diferentes áreas da MO. A renda da venda do livro des- de 2004 é doada para o Comitê de MO da SBFa. 2ª Reunião Científica de MO – agosto de 2005 – O foco dessa reunião foi a discussão da avaliação e da terapia da deglutição. Foram convidados para expor sua atuação com a deglutição 10 fonoaudiólogos especialistas em MO do Brasil e 11 fonoaudiólogos de seis países: Estados Unidos da América (1), Argentina (3), Venezuela (1), Peru (2), Chile (3) e Portugal (1). Esse evento ocorreu em agosto de 2005 e culminou com um livro chamado “Tratamento da Deglutição – a atuação do fonoaudió- logo em diferentes países” editado pela Pulso Editorial, contendo 21 capítulos sobre tratamento da deglutição. 3ª Reunião Científica de MO – setembro de 2009 – O foco dessa reunião foi a discussão sobre qual seria o melhor nome para a especialidade de MO seguida da apresentação dos protocolos utilizados pelos diferentes centros e apresentação das pesquisas que estão sendo desenvolvidas pelos grupos de MO no Brasil. Um documento foi ge- rado nessa reunião e publicado na Revista Cefac, Vol.11, suplemento 3, 2009 – O que os especialistas em Motricidade Orofacial têm feito no Brasil. Em 2010 foi realizado, nos dias 18 e 19 de junho, o III Encontro Bra- sileiro de MO na cidade de Belo Horizonte-MG coordenado pela Fga. Dra. Andréa Motta. Em 2011 foi realizado, nos dias 10 e 11 de junho, o IV Encontro Brasi- leiro de Motricidade Orofacial na cidade de Natal-RN organizado pelos docen- tes do curso de Fonoaudiologia da UFRN, professores Leandro Pernambuco, Renata Cavalcanti, Hipólito Magalhães e Lourdes Bernadete com o apoio dos discentes do curso. O evento, teve o objetivo de divulgar a Motricidade Oro- facial e reunir os especialistas na área, contando com cerca de 300 inscritos, entre profissionais e estudantes de todo o país, que nesses dois dias puderam atualizar seus conhecimentos sobre terapia fonoaudiológica e avanços tecno- lógicos na motricidade orofacial. Um marco importante do evento foi a criação oficial da Associação Brasileira de Motricidade Orofacial (ABRAMO), entidade formada pelos profissionais especialistas na área, que surge para fortalecer e lutar pelos interesses da Motricidade Orofacial no Brasil. A primeira reunião da ABRAMO foi realizada durante o evento e contou com representantes de diver- sos estados do país. Nesse ano, o Encontro trouxe novidades como a exposi- ção de 60 painéis e a instituição do Prêmio “Irene Marchesan” para premiar o “Destaque Científico”. Além disso, ocorreu o lançamento do livro “Atualidades em Motricidade Orofacial”, organizado pelos professores da UFRN que coorde- naram o Encontro e pelo Prof. Hilton Justino da UFPE, editado pela Revinter. O livro reuniu capítulos escritos por todos os palestrantes presentes no Encontro. Em 2012 o V Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial será rea- lizado na cidade de Curitiba-PR nos dias 15 e 16 de junho. Seguindo a tradição esse evento contará com pôsteres concorrentes ao Prêmio “Irene Marche- san” e será lançado um livro com o conteúdo das palestras do evento. Tudo isso mostra o grande avanço da Motricidade Orofacial do Bra- sil e sua força no cenário nacional. Dra. Irene Queiroz Marchesan SUMÁRIO Capítulo 1 ......................................................................................... 23 O Clínico Também é um Pesquisador Irene Queiroz Marchesan Jaime Luiz Zorzi Capítulo 2 ......................................................................................... 31 Bases da Terapia de Motricidade Orofacial Esther Mandelbaum Gonçalves Bianchini Capítulo 3 ............................................................................................. 43 Exercícios Utilizados na Terapia de Motricidade Orofacial (quando e porque utilizá-los?) Adriana Rahal Capítulo 4 ............................................................................................ 51 Aspectos Fisiológicos dos Receptores Estomatognáticos e sua Importância na Terapia de Motricidade Orofacial Franklin Susanibar Cynthia Dacillo Capítulo 5 ............................................................................................ 87 Terapia Fonoaudiológica em Respiração Oral (como eu trato) Daniele Andrade da Cunha Hilton Justino da Silva Capítulo 6 ........................................................................................... 111 Terapia Fonoaudiológica em Ronco (como eu trato) Adriana Tessitore Capítulo 7 ............................................................................................. 123 Terapia Fonoaudiológica em Mastigação (como eu trato) Luciana Voi Trawitzki Tais Helena Grechi Lúcia Dantas Giglio Capítulo 8 ........................................................................................ 139 Terapia Fonoaudiológica em Mastigação (como eu trato) Andréa Rodrigues Motta Tatiana Vargas de Castro Perilo Capítulo 9 ......................................................................................... 147 Terapia Fonoaudiológica em Deglutição (como eu trato) Giédre Berretin Félix Marcela Maria Alves da Silva Cláudia Tiemi Mituuti Capítulo 10 ........................................................................................ 163 Terapia Fonoaudiológica em Deglutição (como eu trato) Silvana Brescovici Capítulo 11 .................................................................................. 181 Terapia Fonoaudiológica na Fala (como eu trato) Marileda Catellan Tomé Capítulo 12 .................................................................................. 195 Terapia Fonoaudiológica na Fala (como eu trato) Angela Busanello-Stella Ana Maria Toniolo da Silva 23 O C lín ic o Ta m bé m é u m P es qu is ad or – I re ne Q ue iro z M ar ch es an & Ja im e Lu iz Zo rz i Capítulo 1 O Clínico Também é um Pesquisador Irene Queiroz Marchesan Jaime Luiz Zorzi Quando pensamos que temos todas as respostas, a vida vem e muda todas as perguntas. autor desconhecido Quando falamos de pesquisas na área das ciências da saúde, sem- pre temos a sensação de que isso não é para os clínicos. Fonoaudiólogos, e mesmo outros profissionais, tendem a dividir o universo das ciências em duas partes: aqueles que fazem o dia a dia da profissão e aqueles que pes- quisam. O clínico pode não estar muito consciente, mas ele também é um pesquisador, por natureza. Ele avalia, diagnostica e trata muitos casos seme- lhantes, normalmente classificando-os, o que permite repetir e sistematizar conjuntos de ações e procedimentos os quais se mostraram eficazes ao longo do tempo. O clínico tem um grande conhecimento de técnicas que devem ou não ser utilizadas em diferentes casos. Ele adquire conhecimentos a respeito daquilo que dá certo e o que não dá. Porém, apesar de saber muito, aplica esse conhecimento em um círculo restrito, limitando-o à sua própria ativida- de. Por que esse saber não se torna público? Talvez porque ainda não tenha se dado conta de que ao pensar, categorizar, juntar dados utilizando-os e os retestando também está fazendo ciência. O clínico se vê apenas como um bom profissional e nunca como alguém que, efetivamente, e em circunstân- cias bastante específicas, exerce uma forma de pesquisa. O que exatamente um pesquisador faz? E um clínico? Vamos iniciar consultando o velho e bom dicionário que sempre nos faz refletir sobre o uso correto das palavras. 24 Ca pí tu lo 1 Segundo o dicionário Houaiss (p. 2200) pesquisa corresponde a um “conjunto de atividades que têm por finalidade a descoberta de novos co- nhecimentos no domínio científico, literário, artístico, entre outros”. Pesqui- sa é entendida como “a investigação ou indagação minuciosa, ou ainda exa- me de laboratório”. Existe a pesquisa de mercado que faz o “levantamento e exame de dados relativos às tendências dos consumidorescom a finalidade de tornar mais racional e fácil a venda de produtos”. Existe a pesquisa de mo- tivação, pesquisa de opinião, pesquisa operacional, pesquisa fundamental, que “serve para trabalho científico que não prevê aplicações práticas e ime- diatas para suas propostas ou descobertas”. Pesquisa envolve o “buscar com cuidado, procurar por toda a parte, informar-se, inquirir, perguntar, indagar profundamente, aprofundar”. O pesquisador é “aquele que faz pesquisa”. Pesquisar, portanto, significa “procurar com aplicação, com diligência, tomar informações a respeito de algo”. Para a palavra “clínico” no Dicionário Houaiss (p. 740) encontramos a seguinte definição: “Relativo a clínica ou ao tratamento médico; aquele que por observação direta, ou por exames laboratoriais, colhe informações sobre a doença”. Clinicar corresponde ao “exercício da profissão de clínico na medicina ou odontologia”, por exemplo. Ou seja, significa praticar a clínica, como também se faz na fisioterapia e na fonoaudiologia. Clínica pode ser definido como o “local onde o clínico faz a prática ou o exercício” de sua profissão, ou seja, ele “clinica”. O que se espera, na área da saúde, de um bom pesquisador e/ou de um bom clínico? A expectativa é de que eles busquem, com toda a aten- ção, informações a respeito de algo. Como é muito comum nesse campo de conhecimento, espera-se que ambos investiguem minuciosamente, e com muito cuidado, os sintomas de uma doença, suas causas, medicamentos, tra- tamentos, uma vez que pertencem a área da saúde. Onde então, pesquisadores e clínicos se diferenciam? O clínico, a partir de seus estudos, sistematizações e sucessivos atendimentos, elenca os procedimentos que ele entende como os mais efi- cazes para conseguir os objetivos que pretende atingir em sua avaliação e terapia. O clínico pode ter a oportunidade de dividir com seus colegas as ações que permitiram resultados mais efetivos e também pode pedir auxílio para seus pares quando não encontra caminhos para resolver os inúmeros problemas que surgem durante sua atividade terapêutica. 25 O C lín ic o Ta m bé m é u m P es qu is ad or – I re ne Q ue iro z M ar ch es an & Ja im e Lu iz Zo rz i Quando o clínico, frente a tais desafios, busca soluções, tanto teóri- cas quanto práticas, mais eficazes para atingir seus objetivos, está sistemati- zando conhecimentos e procedimentos os quais, ao serem aplicados de forma repetitiva, podem produzir resultados que confirmem ou não se estão adequa- dos. Envolvido com sua tarefa de atender e solucionar o problema do paciente, este profissional, da prática, dificilmente imagina que seu modo de agir pode- ria ser parte de uma pesquisa científica mais formal, com uma metodologia bem planejada, envolvendo grupo controle, duplo cego, análise estatística e outras alternativas que garantam certos rigores que são fundamentais em tal tipo de pesquisa. Provavelmente não passa por sua cabeça o quanto que este tipo de ação pode ser importante para comprovar suas descobertas, ou seja, o co- nhecimento que ele sistematicamente utiliza, e que, empiricamente, conduz a bons resultados. Aliás, por que deveria comprovar? O mais importante para o clínico é resolver o problema do paciente que está sob seus cuidados e que confia nele. Isto nos faz lembrar daquela antiga frase sempre citada por aque- les que vivem com a mão na massa: “De acordo com a minha experiência clínica...”. Afirmações como esta, que em muitos momentos de nossa história soaram como uma comprovação praticamente incontestável de saber (só os clínicos com muita experiência podiam dizer isso), atualmente tem perdido seu prestígio. Considerando tendências atuais, somente procedimentos cien- tificamente controlados são capazes de produzir conhecimentos confiáveis. De fato, não há como contestar os avanços que a ciência tem pro- duzido em todos os campos do saber graças, principalmente, aos rigores e controles aplicados às pesquisas. O grande problema do clínico, porém, é que, com muita frequência, a ciência ainda não tem todas as respostas apro- priadas para os problemas que a prática lhe impõe no dia a dia. Nem sempre os pesquisadores demonstram sensibilidade à demanda gerada por questões de ordem clínica ou prática elegendo, como foco de seus estudos, temas que dificilmente virão a ser aplicados no dia a dia dos atendimentos. Voltamos, novamente, à questão dos conhecimentos práticos e de como eles têm sido difundidos no decorrer dos tempos. Uma das formas muito valorizadas de ensino, ao longo dos tempos, tem sido a transmissão de experiências, ou seja, o conhecimento passado diretamente pelo mais “sábio” a seus “discípulos”. Nesta condição, os aprendizes colocam-se em volta do mestre para ouvi-lo e com ele aprender. Esta é uma das formas mais 26 Ca pí tu lo 1 eficazes de ensino. Podemos nos lembrar, por exemplo, que cabia, quase que exclusivamente, às mães ensinar a suas filhas como deveriam proceder para cuidar de seus bebês e educá-los. Essas mulheres, quando na condição de avós, transmitiam não somente o que haviam aprendido com suas próprias mães, mas também tudo aquilo que elas mesmas vivenciaram na medida em que criaram seus filhos. Elas podiam oferecer uma experiência prática, resul- tante de todo o conhecimento que foram adquirindo ao cuidar de suas pro- les. Nestas situações, assim como em outras, a experiência dos mais velhos tendia a ser muito considerada: pais e avós serviam como fontes sistemáti- cas de consulta. Nos dias de hoje as mães podem contar com outras fontes de orientação, de cunho científico, recorrendo a fonoaudiólogos, médicos, psicólogos e assim por diante. Todos eles têm a oferecer os conhecimentos científicos que adquiriram durante sua formação, assim como aquele saber que a prática lhes proporciona. Nossos comportamentos e crenças sofrem, cada vez mais inten- samente, grande influência dos avanços que as pesquisas científicas pro- movem, sendo que a área da saúde é uma grande testemunha desse fato. Buscamos na ciência a solução de muitos de nossos problemas. Nosso com- portamento, enquanto profissionais, reflete essa realidade: precisamos, a todo o momento, sair à procura de novos conhecimentos. Porém, como an- teriormente apontamos, nem sempre eles estão disponíveis ou acessíveis. Seria muito bom termos respostas prontas para todas as dúvidas e questões que nossa atuação nos impõe. Infelizmente não chegamos a este ponto e creio que sequer ele será atingido. A produção científica se, por um lado, gera respostas, por outro cria novas dúvidas e questões, num ciclo que podemos considerar interminável. Em outras palavras, conhecimentos gerados pela prática e, principalmente, a sistematização de procedimentos e o controle de seus resultados, ainda têm seu papel e valor em nosso fazer profissional. Po- demos afirmar que deveria existir uma forte relação de reciprocidade entre a pesquisa científica formal, cujos resultados influenciam a prática clínica e a própria experiência clínica, a qual pode gerar novas pesquisas e até mesmo teorias, na medida em que constantemente lança novos desafios. Um pouco de realidade, nem sempre interessante O que a maior parte de nossos estudantes, ao entrar em uma sala de aula cuja disciplina é “Metodologia Científica”, pensa sobre essa matéria? 27 O C lín ic o Ta m bé m é u m P es qu is ad or – I re ne Q ue iro z M ar ch es an & Ja im e Lu iz Zo rz i Literalmente, que é uma chatice. Pesquisar afinal não é com eles. Eles não se sentem preparados ou motivados para fazer isso com competência e serie- dade: muito trabalho, muito estudo, muitas regras e muitos detalhes. Acredi- tamos que para ser um pesquisador precisamos ter olhar científico, curioso, indagador e criativo, características estas que, infelizmente, não fazem parte de toda nossa formação educacional. Consequentemente, pesquisa não é para eles, talvez seja para os “nerds”. Alémdessas falhas típicas das distorções de nossa vivência acadêmi- ca, podemos colocar mais um agravante que diz respeito à imagem que mui- tos pesquisadores projetam ao se colocarem em um lugar que parece ser, aos simples mortais, impossível de alcançar. De uma forma geral, o distanciamento entre um pesquisador, sua forma de falar, de olhar, e as demais pessoas, parece algo muito difícil de superar. Por outro lado, o profissional com enfoque clínico, muitas vezes apresenta-se como menos “preocupado”, aparentemente menos formal, com ideias muito práticas e imediatas para resolver os problemas que ocorrem na clínica. E isso é bom? Seria bom, se houvesse algum controle, mais rígido e sistemático, daquilo que o clínico está fazendo. Esta seria, para mim, uma grande mudança, a qual muito auxiliaria o fonoaudiólogo a caminhar mais seguramente e de uma forma mais “con- trolada”, podendo apresentar resultados mais consistentes naquilo que faz. Neste sentido, uma postura mista entre ser clínico e pesquisador poderia ser bastante favorável para a profissão. Bons clínicos são essenciais para qual- quer profissão da área da saúde. Ser clínico e coletar dados para um melhor controle de resultados não é tão impossível de ser feito. Tal procedimento pode gerar dados para que pesquisadores profissionais venham utilizar em seus estudos, em busca de respostas que podem, por sua vez, beneficiar a própria atividade clínica. De maneira em geral, todos nós adoramos coisas objetivas, eficien- tes, eficazes, práticas além de rápidas. Vejamos alguns exemplos muito simples que poderiam ser “ensinados” e “estimulados” pelos professores para todos os seus alunos. Alguns desses alunos se tornariam melhores clínicos, e outros desenvolveriam a veia “curiosa” e “metódica” necessária para um bom pes- quisador e, muito provavelmente, ambos seriam melhores profissionais nas duas categorias. O distanciamento entre eles diminuiria e aquela sensação de “muita inteligência e perspicácia” de um lado e “falta de organização e controle dos dados obtidos” do outro, poderia não desaparecer, mas diminuiria muito. 28 Ca pí tu lo 1 Quando um fonoaudiólogo formado, ainda nos dias de hoje, me pergunta, por exemplo, quais exercícios ele deve fazer com o paciente para colocar a língua na papila, eu sempre me pergunto – quem o formou e como? Onde estará o raciocínio clínico desse profissional? A minha resposta é: ele não tem culpa de fazer essa pergunta, quem o formou tem a culpa. E o pro- cesso de ensino, muitas vezes, começa com a resposta que daremos para esse clínico, que está em busca de soluções aparentemente simples como essa. Devemos responder perguntando-lhe algumas coisas básicas, como por exemplo: Quem é o paciente? Quantos anos ele tem? Como é a oclusão dele? E o tônus? Ele tem problemas respiratórios? Qual é a sua hipótese do por que a língua dele estar se projetando para fora da boca? Imagino que você, neste momento, está se perguntando onde está a relação entre clínicos e pesquisadores? A relação está exatamente aí: na postura analítica e reflexiva que ambos devem ter. Ensinar a pensar, ensinar a coletar dados, estimular o fazer relações entre os dados coletados em um bom exame clínico e assim por diante. Estas atitudes fazem toda a diferença. Transformando bons terapeutas em bons pesquisadores, ou seja, como produzir excelentes clínicos Contando com a colaboração de um grupo de seis fonoaudiólogas especialistas em Motricidade Orofacial (MO), sendo que duas delas também eram especialistas em voz, decidimos realizar um trabalho de sistematização de procedimentos na área da MO. Nosso primeiro passo foi comprovar a im- portância da utilização de protocolos totalmente preenchidos para todas as avaliações que eram realizadas no Instituto Cefac. Também mostramos que os dados inseridos no prontuário de cada paciente, se tratados isoladamente, somente poderiam servir para entender o problema daquele indivíduo em particular. Porém, se os dados obtidos com cada um desses pacientes fossem colocados em tabelas (Excel, por exemplo), o conjunto desses dados poderia nos trazer informações simples, mas de fundamental relevância como, por exemplo, a faixa etária, o gênero e, muito importante, as queixas mais co- mumente encontradas entre eles. Também pudemos identificar quem nos enviava pacientes, de que locais eles vinham, por que procuravam por nós e não outras clínicas, entre outros. Quando a tabela já contava com uma grande diversidade de in- formações provenientes de muitos de nossos pacientes, passamos a fazer 29 O C lín ic o Ta m bé m é u m P es qu is ad or – I re ne Q ue iro z M ar ch es an & Ja im e Lu iz Zo rz i perguntas sobre quais dados poderiam ser cruzados entre si. Tais cruzamen- tos poderiam vir a elucidar muitas “crenças” presentes entre terapeutas, mas nem sempre comprovadas ou devidamente estudadas. Desta forma, começamos a buscar uma série de relações entre esses dados. Dentre uma enorme gama de possibilidade de análises tomemos, como exemplo, algu- mas dessas questões: “Será verdade que quem chupa chupeta até tarde tem alteração de tônus?”, ou “Será que quem respira pela boca sempre tem alte- ração de oclusão ou lábio inferior evertido?”. Essa experiência foi muito frutífera e animadora para o grupo. A maior parte de nossos terapeutas, excelentes por sinal, nunca havia envia- do trabalho para congressos porque, dentro de uma perspectiva clínica, isso parecia algo distante da realidade em que viviam. Submeter trabalhos para congressos ou escrever artigos para revistas científicas era algo para estudan- tes ou pesquisadores experientes: eles eram “apenas” clínicos. Rompendo com tal mito, inicialmente produzimos pequenos traba- lhos, com perguntas simples, apenas para incentivar a curiosidade de todos os que ali trabalhavam e que estavam envolvidos com o projeto. Começamos a correlacionar os achados que foram surgindo com dúvidas e questões li- gadas ao próprio trabalho terapêutico que era realizado com os pacientes. Todos foram estimulados a refletir sobre suas práticas, a partir dos dados obtidos, visando a obtenção de melhores resultados terapêuticos. O que resultou dessa forma de pensar e agir por acreditar que clínicos também são pesquisadores e podem trazer respostas consistentes para a clínica e para a pesquisa científica? Em oito anos foram apresentados, por nosso grupo, 79 trabalhos na área da Motricidade Orofacial em diferentes congressos do Brasil e também fora de nosso país. A maior parte dos trabalhos teve impacto na forma de agir na clínica. Somente alguns desses estudos foram publicados em revistas científicas. Infelizmente, a maior parte dos clínicos, ainda não tem a percep- ção da importância de publicações técnicas, da divulgação de seus dados, principalmente quando os achados desmistificam formas questionáveis de atuação e trazem outras técnicas e maneiras de pensar. No entanto, no nosso caso, a “veia de pesquisadores” passou a pulsar fortemente em todos eles. Dos seis profissionais participantes desse processo, apesar de todos permanecerem como clínicos, um fez mestrado e 30 Ca pí tu lo 1 doutorado tornando-se professor universitário; outro fez mestrado com dis- sertação realizada a partir de seus dados clínicos, resultando em publicação internacional e tornando-se professor de cursos de especialização; outro fez mestrado com publicação nacional; um está fazendo o mestrado; outro fez mais uma especialidade além das duas anteriores e o último permaneceu somente na clínica. Para completar a lista, alguns fonoaudiólogos de outras clínicas e que participaram de alguns dos trabalhos realizados por esse grupo, também buscaram o mestrado. A partir de experiências como essa relatada, não tenho dúvidas ao afirmar que todo clínico, a partir de reflexões sobre seu trabalho, a partir da percepção que seus dados podem, e devem fazer parte de estudos e de pu- blicações científicas,também é capaz de ser um pesquisador, contribuindo, com sua experiência, para o fortalecimento da prática clínica e, ao mesmo tempo, lançando temas e desafios para nossos pesquisadores profissionais. Poderemos ter, desta forma, uma grande parceria, com benefícios para am- bas as partes. Referência Houaiss A. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Obje- tiva, 2004. Bibliografia recomendada Assencio-Ferreira VJ. Artigo Científico. São José dos Campos: Pulso, 2003. Goldenberg M. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em ciên- cias sociais. Rio de Janeiro: Record, 1997. Goldenberg M. Noites de Insônia. Cartas de uma antropóloga a um jovem pesquisador. Rio de Janeiro: Record, 2008. Volpato LP. Dicas para redação científica. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. 31 Ba se s da T er ap ia d e M ot ri ci da de O ro fa ci al – E st he r M an de lb au m G on ça lv es B ia nc hi ni Capítulo 2 Bases da Terapia de Motricidade Orofacial Esther Mandelbaum Gonçalves Bianchini Introdução A Motricidade Orofacial é uma área da Fonoaudiologia que muito se desenvolveu nos últimos anos, atualmente dividindo-se em muitas outras sub-áreas. Nesse universo, o objetivo central da reabilitação fonoaudiológi- ca volta-se para a obtenção organizada das funções estomatognáticas, inde- pendente das causas que levaram às alterações encontradas. Esse trabalho estabelece interfaces principalmente com a Odontologia e a Medicina, Fisio- terapia, Psicologia, entre outras, associado a situações como hábitos deleté- rios, respiração oral, alterações das funções estomatognáticas que levem a pressões atípicas ou condições interferentes na organização estrutural, assim como alterações da articulação da fala. Alguns problemas específicos envolvem a atuação fonoaudiológica integrada a equipes interdisciplinares ainda mais completas tais como nos casos de: problemas funcionais do paciente idoso, doenças neuromusculares evolutivas, má formação e síndromes que incluam alterações craniofaciais, bebês de risco, alterações e disfunções da articulação temporomandibular (ATM), problemas associados a deformidades dentofaciais ou secundários aos traumas de face, paralisia facial, apneia e ronco, ressecções por câncer de cabeça e pescoço, paralisia facial, dentre outros. 32 Ca pí tu lo 2 A terapia miofuncional orofacial é um processo que tem como obje- tivo a adequação ou viabilização das funções orais em pacientes de todas as faixas etárias e nas mais diversas disfunções orofaciais. Sem dúvida a principal base da terapia em Motricidade Orofacial é um diagnóstico preciso no qual não apenas se constate a alteração, mas principalmente se estabeleçam as causas ou fatores determinantes da alte- ração que está sendo vista. As análises de quais músculos estão envolvidos no problema e o vínculo, primário ou secundário do comportamento desses músculos, é que irão determinar o que deverá ser feito em terapia. Não se pode deixar de mencionar que muitos pacientes têm estruturas de tecidos duros, musculatura e praxia neuromotora relativamente organizadas, porém realizam as funções estomatognáticas de maneira alterada ou fora do espe- rado, interferindo negativamente no desenvolvimento ou na estabilidade das bases ósseas e da oclusão. Nesse processo, o inverso também deve ser considerado. Muitas vezes um padrão genético desfavorável determina má proporção entre as bases ósseas, sendo o comportamento miofuncional uma resposta adap- tativa, uma forma compensada de comportamento funcional muitas vezes favorável, pois possibilita a realização das funções estomatognáticas. O que muda nesses casos é a hierarquia dos tratamentos envolvidos e o prognósti- co. Conseguiremos modificar uma adaptação para outra, mais benéfica, mas não conseguiremos trazê-la para um dito “padrão esperado” ou “normal”. Portanto quando existirem muitos fatores estruturais interferentes, esses de- vem ser tratados antes da reabilitação miofuncional fonoaudiológica. Entramos aí no primeiro ponto controverso do diagnóstico e conse- quentemente das bases da terapia em Motricidade Orofacial. Muitas vezes o que vemos são aplicações de excelentes protocolos de avaliação que irão mesmo determinar o que e por que o paciente tem determinada alteração funcional. Entretanto o que ainda pode ser constatado é que o planejamento terapêutico nem sempre leva em conta os dados dessa completa avaliação. Os procedimentos realizados em terapia são quase sempre os mesmos para todos, como se os dados do exame fossem esquecidos ou deixados em se- gundo plano em função da ânsia em “dar a terapia”. Os modelos terapêuticos que enfatizam as listas de exercícios fazem parte de nossa história. Materiais ditos facilitadores para a realização de exercí- cios existem aos montes. O próprio paciente diz que vai ao Fonoaudiólogo fazer 33 Ba se s da T er ap ia d e M ot ri ci da de O ro fa ci al – E st he r M an de lb au m G on ça lv es B ia nc hi niexercícios, até porque quem indicou o tratamento fonoaudiológico, seja o orto- dontista, cirurgião e/ou médico, informou isso ao paciente. É uma pena que as coisas não sejam assim tão fáceis. Apenas exercícios não mantém a musculatu- ra por muito tempo e ninguém vai fazer exercícios para sempre. Nesse sentido, voltamos ao diagnóstico e sua aplicação clínica tera- pêutica. Algo realmente grandioso que exige habilidade, perspicácia e muita atenção do terapeuta em perceber se o indivíduo em tratamento tem as ca- racterísticas básicas para o desenrolar satisfatório da terapia. Poderíamos elencar alguns pontos fundamentais a serem conside- rados na elaboração do plano terapêutico, que definem as bases da terapia em MO, com alguns exemplos ilustrativos. 1. A existência real de disfunção, como por exemplo, postura inade- quada de lábios e de língua com a possibilidade estrutural e espa- cial de organização. Um problema funcional. 2. A percepção do paciente em relação ao motivo que o levou a pro- curar atendimento. A verificação da queixa é fundamental afinal, grande parte dos pacientes relata, por exemplo, que “a língua em- purra os dentes”, mas nunca percebeu nem mesmo a existência da língua, quanto mais onde ela apoia. O que ocorre é que nem sempre a queixa é do paciente, mas sim do profissional que o en- caminhou. Alguns pacientes não reconhecem essa queixa e sem essa não há o que ser tratado. Nesses casos será preciso direcionar a percepção para gerar uma queixa. 3. A atenção e interesse do paciente em relação ao problema. Mui- tas vezes pacientes adultos narram o motivo da consulta ao Fo- noaudiólogo, com distorções importantes na fala, e mencionam que não se importam com esse padrão. Por outro lado, existem aqueles que atribuem aos distúrbios miofuncionais suas outras di- ficuldades. Os esclarecimentos quanto ao que é importante e por que tratar deve ser explorado. 4. A determinação dos músculos modificados funcionalmente, pela manutenção sistemática da função alterada, e quais músculos são esses especificamente. Esse é o papel do terapeuta, mas o pacien- te deve ser esclarecido em relação à musculatura e suas atribui- ções funcionais. 34 Ca pí tu lo 2 5. A dependência entre as funções estomatognáticas, em especial da respiração, que possibilitará ou não a mudança da postura habitu- al, do padrão mastigatório, de deglutição e de fala. Outros trata- mentos associados podem ser necessários. 6. Querer mudar ou melhorar. Não basta ter consciência do proble- ma – é preciso estar incomodado com ele para conseguir direcio- nar ou descobrir outro modelo funcional e automatizá-lo. Apesar de que muitos desses pontos dependam do interesse e ade- são do paciente ao processo terapêutico, cabe ao terapeuta criar condições para isso. A motivação para o tratamento e principalmente para as mudanças funcionais que são almejadas deve ser enfocada durante todo o processo, re- petidas vezes. Para isso, o papel dofonoaudiólogo é decisivo e deve ser calca- do em reforços positivos. A constante apresentação dos ganhos e mudanças que vão sendo obtidas, mesmo as pequenas, deve ser relevada. O entrosamento terapeuta/paciente também é crucial. Nesse senti- do a empatia é importante, mas alguns valores pessoais devem ser deixados de lado num processo terapêutico. Por exemplo: com crianças não se deve reproduzir o papel familiar – os limites na terapia devem ser impostos, mas com foco profissional. Ilustrando, podemos citar a criança que sempre vem à terapia com as mãos, boca e dentes sujos. Esse fato merece ser abordado diretamente, pois se não há incômodo, observação e cuidado nem quanto à higiene, imagine como será a percepção e estimulação da região oral. Seja direto. Leve o paciente para se lavar e escovar os dentes aproveitando a si- tuação para explicar a importância dos estímulos. Aproveite a situação de higiene para direcionar um exercício ou treino funcional – por exemplo, por onde respira quando escova os dentes, e assim por diante. A família deverá ser igualmente orientada com relação a isso, sem deixar que pareça uma crí- tica ou intromissão quanto aos hábitos de higiene. De maneira geral, a base da motivação encontra-se na compreen- são do problema e do que realmente pode ser obtido. Esses pontos devem ser continuamente explicados durante o processo terapêutico, desde o pri- meiro encontro, ainda na avaliação. Devem ser checados, também conti- nuamente, para que o terapeuta possa acompanhar o que realmente foi compreendido e para que tenha como retomar os pontos que não estão claros ao paciente. 35 Ba se s da T er ap ia d e M ot ri ci da de O ro fa ci al – E st he r M an de lb au m G on ça lv es B ia nc hi niNesse sentido, um protocolo básico de tratamento fonoaudiológico miofuncional orofacial deve ser seguido, com controle de objetivos e princi- palmente de prazos. Em nossos estudos e acompanhamentos clínicos temos verificado que para pacientes com alterações miofuncionais associadas a encaminha- mento ortodôntico, otorrinolaringológico e/ou busca própria do indivíduo, os resultados da terapia fonoaudiológica miofuncional podem ser obtidos com média de tempo de terapia semanal de 4 meses (mínimo de dois meses e meio e máximo de seis meses, aproximadamente). O acompanhamento após o tratamento é mantido, visando verificar a eficácia da terapêutica institu- ída e manutenção dos resultados. Os resultados dos tratamentos e dessas revisões têm mostrado a fala como a função mais estável. O acompanha- mento longitudinal tem mostrado que a respiração, mastigação e deglutição são funções de mais difícil estabilidade após a alta inicial, necessitando de manutenção cuidadosa. As revisões e acompanhamentos a médio e longo prazo favorecem esse tipo de reforço e verificação. Processo Terapêutico em Motricidade Orofacial O tratamento é um processo que envolve o preparo dos músculos (geralmente feito com exercícios), o desenvolvimento da percepção do que está alterado e o treinamento funcional corretivo dirigido. O planejamento terapêutico é sempre individual e direcionado para as dificuldades específi- cas constatadas. O atendimento de Motricidade Orofacial segue basicamente um protocolo que inclui: 1. Avaliação inicial 2. Documentação inicial 3. Planejamento terapêutico a. Definição da frequência das terapias b. Planejamento específico muscular c. Planejamento específico funcional 4. Reavaliações periódicas com documentação completa 5. Alta ou finalização assistida do processo Cada um desses itens deve ser revisado e analisado constantemen- te. Podemos sintetizar alguns pontos importantes de cada um deles: 36 Ca pí tu lo 2 1. Avaliação inicial: anamnese e o exame clínico. A partir dessa avaliação serão definidos os pontos fundamentais do caso tais como: necessidade ou não de exames complementares (eletromiografia de superfície, exames de imagens ou diag- nóstico de outros profissionais); diagnóstico e prognóstico miofuncionais; planejamento terapêutico quanto ao número e frequência das terapias. Desde o início da avaliação já deve ser iniciado o processo de motivação para o tratamento. Além da cuidadosa verificação da queixa, deve-se questionar so- bre o conhecimento do paciente (e/ou da família) sobre esse tipo de terapêutica fonoaudiológica. Pergunte diretamente: o que você acha que o fonoaudiólogo tem a ver com isso? Você verá quantas respostas surpreendentes irão surgir. Ex- plique em seguida as relações: o que será realizado e porque, certificando-se que foi compreendido. Durante o exame os procedimentos e achados deverão ser apontados e imediata- mente explicados. Todo esse cuidado busca a compreensão do que será tratado. 2. Documentação inicial: O exame será fotografado e filmado para complementar o processo de avaliação clínica e possi- bilitar revisões. Após a avaliação deverá ser feito um relatório com os resultados do exame e associações, a conduta e as in- dicações necessárias. Na primeira terapia esse material deverá ser mostrado ao paciente para despertar a percepção, mas já com foco explicativo e com reprodução voluntária do compor- tamento funcional que está sendo mostrado. 3. Planejamento terapêutico a. Frequência das terapias: depende da idade do paciente e da gravidade do problema diagnosticado na avaliação. É co- mum eleger-se uma vez por semana, eventualmente duas. Existem ainda casos que podem realizar um processo tera- pêutico mais flexível, desde que se conte com apoio familiar ou com revisões e direcionamento à distância (web). b. Planejamento específico muscular: definição quanto à ne- cessidade de exercícios e quais, dependendo estritamente 37 Ba se s da T er ap ia d e M ot ri ci da de O ro fa ci al – E st he r M an de lb au m G on ça lv es B ia nc hi nidos dados de avaliação e dos objetivos a serem alcançados. Nesse ponto, especial atenção deve ser dada à situação fun- cional que o paciente apresenta e ao que quer ser alcan- çado. Por exemplo: situação funcional com língua projetada anteriormente e exame da musculatura mostrando muscu- latura extrínseca de língua propulsora prevalente, associa- da à intrínseca (transversos) em hipotonia funcional. Nesse exemplo não devem ser realizados exercícios de contração dos transversos ou afilamento de língua com essa projeta- da para fora da boca, pois manteríamos a valorização dos extrínsecos propulsores, reproduzindo o modelo funcional que se quer retirar. O foco em apenas um grupo muscular pode não ser adequado para o outro.É apropriado mostrar desenhos ou fotos dos músculos, vídeos ou qualquer outro apoio que torne o exercício escolhido compreensível para o paciente. Ele deve compreender por que deve fazer determinado exercício e qual a relação desse com o ob- jetivo funcional almejado. Nenhum exercício deve ser solicitado sem vínculo com os objetivos funcionais. Os exercícios deverão ser distribuídos e associados à rotina do dia a dia. Não recomendamos que faça os exercícios em uma única etapa ou em horários específicos. Os exercícios deverão ser realizados várias vezes ao dia, principalmente associados com suas atividades normais como ao escovar os dentes, voltar da escola, etc. Assim a musculatura será estimulada o dia todo e o paciente se lembrará de que deve estar atento à postura e funcionalidade orofacial. c. Planejamento específico funcional: definição dos treinos funcionais que serão trabalhados em terapia e como serão solicitados em casa. Os treinos são divididos em perceptuais e corretivos. Os treinos perceptuais referem-se à realização do modelo que o paciente tem, por meio de reprodução voluntária do que faz automaticamente. Solicita-se então a descrição dos apoios usuais, contatos das estruturas – quais estruturas e onde se tocam – em cada uma das funções. Dessa forma, busca-se que o paciente sinta o que faz e 38 Ca pí tu lo 2 descreva detalhadamente.O terapeuta deverá conseguir fazer como o paciente após suas narrações. A cada tenta- tiva, por tratar-se de controle voluntário, é esperado que o paciente modifique gradativamente o que e como faz de- terminada função. d. Os treinos corretivos devem ser direcionados pelo tera- peuta e orientados de maneira facilitadora inicialmente. Por exemplo: para possibilitar a percepção dos movimen- tos desenvolvidos durante a mastigação pode-se direcionar mastigação unilateral. Cada porção deverá ser mastigada apenas de um lado, alternando-o na próxima porção. Des- sa forma, os movimentos labiais, de bucinadores, de língua e de mandíbula podem ser percebidos mais facilmente, as- sim como a migração do bolo alimentar para região pos- terior da boca pela ação associada de sucção. A variação do tipo de alimento oferecido em cada terapia também mostrará as diferenças quanto ao número de ciclos mas- tigatórios, número de deglutições por porção e tempo de mastigação. Durante as terapias deverá ser explicado qual grupo muscular está sendo trabalhado e por que, tanto nos exercícios quanto na realização dos treinos funcionais. Se o paciente compreender o que propomos, a realização do ex- ercício e dos treinos fará mais sentido. Explicar sempre, que só o exercício não é eficaz. Fazer terapia fonoaudiologia de Motricidade Orofacial significa mudar e reprogramar algo que não está adequado e está automático, portanto terá que treinar essas mudanças. O apoio de vídeos, realizados e analisados numa mesma sessão de terapia, auxilia muito. Por exemplo: o paciente acaba de deglutir corretamente, pois estava realizando a deglutição passo a passo sob o comando do terapeuta e em seguida realiza uma segunda deglutição, na maioria das vezes imediata, no padrão inad- equado que se encontra automatizado. Tendo sido filmado, mostra-se ao paciente o comportamento recém-realizado e é ele quem deverá constatar a segunda deglutição fora do que foi direcionado.Direcionar instruções funcionais, e 39 Ba se s da T er ap ia d e M ot ri ci da de O ro fa ci al – E st he r M an de lb au m G on ça lv es B ia nc hi nisolicitar os treinos de como faz usualmente (treino percep- tual) e do que deve fazer (treino corretivo) de forma inter- calada. Usar as situações funcionais propícias do dia a dia: enquanto estuda, no computador, enquanto se alimenta, entre outras. Dessa forma é possível fazer o que foi solicita- do mesmo que o paciente não tenha tempo para parar suas atividades, embora sejam necessárias percepção e atenção constante até o padrão adequado ser automatizado. Isso é o que irá permitir a estabilidade final do trabalho. 4. Reavaliação e nova documentação completa. Para trabalhar com controle de resultados e de prazos devem ser realizadas reavaliações periódicas após o início das terapias (em torno de seis a oito semanas), dependendo do tipo de problema e dos objetivos propostos. A reavaliação deve ser analisada pelo terapeuta, retomando-se a queixa, a documentação anterior e os objetivos que tiverem sido elencados na definição do caso. Essa análise, comparada com a documentação da aval- iação inicial deve ser apresentada ao paciente para que ele aponte as mudanças, o que melhorou e o que falta. Portanto, esse processo serve para o paciente e para o terapeuta verifi- car os ganhos e o que falta. Acostuma-se com a característica do paciente, compreende-se facilmente o que ele diz e assim pode-se perder a real evolução do tratamento. Afinal as sema- nas passam rapidamente e nem se nota quantas sessões foram realizadas. O paciente por sua vez vai perdendo a motivação se não vir os resultados. As faltas e atrasos devem ser com- putadas e apresentadas nessa reavaliação, pois podem definir perdas na obtenção dos objetivos e, consequentemente, no tempo do tratamento. Porém, mais que isso deve ser cuida- dosamente analisado. Atrasos e faltas constantes, mesmo que “justificados” podem indicar desinteresse e nesse caso uma parada, para analisar todo o processo, deve ser realizada. 5. Alta ou finalização assistida. O término do tratamento é ba- seado sempre nas análises das reavaliações realizadas a cada seis ou oito semanas. Quando definido (juntamente com o pa- ciente) que os objetivos foram alcançados e, principalmente, que se encontram estáveis, o tratamento está terminado. Essa 40 Ca pí tu lo 2 finalização deverá ser acompanhada em revisões periódicas, com frequência mensal, seguindo-se para bimestral. Assim, o paciente deve retornar algumas vezes para verificação da esta- bilidade dos resultados. A proposta aqui delineada refere-se aos princípios básicos da terapia em Motricidade Orofacial. Vale ressaltar que a linguagem terapêutica deve respeitar faixa etária, nível cultural e viabilidade da proposta dependendo do tipo de distúrbio e doença. Com crianças, por exemplo, o foco também é direto, porém precisa- mos criar situações e atividades que interessem a elas. As explicações sobre a musculatura e funções orofaciais serão realizadas de forma lúdica, por meio de brincadeiras, utilização de softwares próprios e valorização das conquistas. As verificações dos vídeos das avaliações e das reavaliações, com repetições das cenas que se quer trabalhar, são usualmente bem aceitas e interessantes mesmo às crianças menores. Uma grande diferença é também a necessidade do envolvimento da família auxiliando o tratamento por meio de ajuda em casa. Não se espera que, sozinha, uma criança queira fazer os exercícios e trei- nos em casa. A família precisa participar do processo, lembrá-la não apenas de fazer os treinos, mas principalmente criar condições em casa de melhora funcional e seguir as orientações profissionais. Com idosos, o fundamental é lembrar-se que eles não são crianças. Nunca use diminutivos – é comum ver terapeutas usando-os para falar com idosos. A abordagem deve ser respeitosa e não infantil. Pode ser necessário ajuda familiar, porém os direcionamentos devem ser pontuais e com as devi- das explicações buscando o necessário envolvimento. Apesar de que a proposta deva sempre ter foco direto, uma tera- pêutica baseada em motivação e detalhamentos explicativos ficará restrita ou inviável para pacientes com deficiência cognitiva. Nesses casos, assim como para várias doenças ou alterações estruturais que reflitam em alterações mio- funcionais orofaciais, outros tipos de processos diretivos específicos podem ser necessários. 41 Ba se s da T er ap ia d e M ot ri ci da de O ro fa ci al – E st he r M an de lb au m G on ça lv es B ia nc hi niBibliografia recomendada Beurskens CHG, Heymans PG. Positive effects of mime therapy on sequelae of facial paralysis: stiffness, lip mobility, and social and physical aspects of facial disability. Otol. Neurotol. 2003; 24:677-681. Bianchini, EMG. A ajuda fonoaudiológica. In: Bianchini EMG (organizadora) Articulação Temporomandibular, Implicações, Limitações e Possibilida- des Fonoaudiológicas. Carapicuíba/SP: Pró-Fono, 2010. p. 321-61. Bianchini EMG. Results and efficiency of the orofacial treatment – longitudi- nal study. Int J of Orofacial Myology, 2010; 36:61 Bianchini EMG, Luz JGC. Nossos casos especiais In Bianchini EMG. Articulação Temporomandibular: Implicações, Limitações e Possibilidades Fonoau- diológicas, Carapicuíba: Pró-Fono, 2010. p.363-401 Felicio CM; Melchior M; Silva MAMR. Effects of orofacial myofunctional ther- apy on temporomandibular disorders. Cranio. Journal of Craniomandibu- lar Practice, 2010; 28:249-59. Marchesan, IQ. Intervenção fonoaudiológica nas alterações da mastigação e deglutição. In: Fernandes FDM, Mendes BCA, Navas ALPGP (organizado- res) Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo/SP: Roca; 2010. p.471-76. Marchesan IQ, Sanseverino NT. Fonoaudiologia e Ortodontia/ Ortopedia Fa- cial. Esclarecendo dúvidas sobre o trabalho conjunto. São José dos Cam- pos – SP. Pulso, 2004. Tanrikulu R, Erol B, Görgün B, Söker M. Thecontribution to success of various methods of treatment of temporomandibular joint ankylosis (a statistical study containing 24 cases). Turk J Pediatr. 2005; 47(3):261-265. 42 Ca pí tu lo 2 43 Ex er cí ci os U til iz ad os n a Te ra pi a de M ot ri ci da de O ro fa ci al (q ua nd o e po r qu e uti liz á- lo s) – A dr ia na R ah al Capítulo 3 Exercícios Utilizados na Terapia de Motricidade Orofacial (quando e por que utilizá-los) Adriana Rahal Introdução Inicio este capítulo introduzindo e diferenciando duas linhas de ra- ciocínio dentro da Área de Motricidade Orofacial, as quais têm como objetivo o restabelecimento das funções orofaciais. A primeira destas, que é utilizada desde os primórdios da Motrici- dade Orofacial, é a mioterapia, a qual visa modificar o comportamento mus- cular por meio da execução de exercícios. A segunda linha, terapia miofun- cional, começou a ser utilizada para atuar na modificação muscular por meio do restabelecimento das funções orofaciais. Ambas têm um objetivo comum: adequar tais funções, como respiração, sucção, mastigação, deglutição e fala. É, no entanto, importante esclarecer que são linhas terapêuticas completa- mente diferentes; é necessário que, ao eleger uma destas, o terapeuta tenha total conhecimento do porquê dessa escolha. Antes de o terapeuta escolher os exercícios que trabalhará, é funda- mental que se realize a avaliação fonoaudiológica que compreende anamne- se e exame clínico. Atualmente, faz-se uso de protocolos específicos de ava- liação na área de Motricidade Orofacial, como o protocolo MBGR (Genaro et al., 2009) que auxiliam muito o diagnóstico clínico e também o planejamento terapêutico. Além disso, recentemente na Fonoaudiologia, têm se realizado 44 Ca pí tu lo 3 exames complementares, como a eletromiografia de superfície (EMG), que é um exame considerado objetivo, uma vez que quantifica a atividade elétrica de um músculo durante a contração muscular (Rahal e Goffi-Gomez, 2009). O exame clínico, em conjunto com os dados eletromiográficos, auxilia o fono- audiólogo em seu diagnóstico. O sistema estomatognático é formado por estruturas ósseas, den- tárias, vasculares, articulares e músculos orofaciais, dentre os quais estão os mastigatórios, supra-hioideos, infra-hioideos, língua, palato mole, faringe e todos da expressão facial. Como todo sistema, tem características que lhe são próprias, mas depende de um bom funcionamento de outros sistemas, como o nervoso e o circulatório, pois é parte integrante do organismo. Para o fonoaudiólogo que trabalha na área de Motricidade Orofacial, é de extrema importância o conhecimento de todo o sistema estomatognático para que possa identificar quando há uma inadequação e assim trabalhar adequada- mente. Considero importante que conversemos sobre isso, pois percebo que muitos terapeutas utilizam os exercícios como um meio de preencher o vazio da terapia, sem uma meta determinada. O exercício não deve ser o objetivo da terapia, mas sim uma maneira para que possibilite ao paciente melhorar sua percepção e adequar seu tônus. Quando se começa a realizar exercícios diversos sem se saber a razão e trabalhar com todos os músculos simultaneamente, com certeza se está no caminho errado. Aplicabilidade dos Exercícios na Clínica Antes de se pensar na realização de exercícios, fazem-se necessá- rias algumas considerações: • O terapeuta deve ter conhecimento anatômico e fisiológico de todos os músculos orofaciais. • A realização de exercícios e/ou massagens deve seguir sempre a direção de contração das fibras musculares quando se pretende aumentar o tô- nus e, na direção oposta, quando a intenção é alongar a musculatura. • A terapia miofuncional não deve ser preenchida com exercícios, uma vez que, para o músculo sofrer transformações, será necessário reali- zar exercícios diários, duas ou três vezes ao dia, durante um período de três meses (é um tempo suficiente para que o músculo sofra mudança em seu estado, comprovado por meio da eletromiografia de superfície) 45 Ex er cí ci os U til iz ad os n a Te ra pi a de M ot ri ci da de O ro fa ci al (q ua nd o e po r qu e uti liz á- lo s) – A dr ia na R ah al• Não é necessário solicitar ao paciente que faça vários tipos de exercícios para um único músculo. A mudança constante de exercícios leva a uma resposta mais lenta das fibras musculares e de suas unidades motoras. Dessa maneira, é prudente manter os mesmos exercícios por um perío- do que compreende dois a três meses. • A escolha de exercícios deve estar relacionada aos músculos orofaciais que serão importantes para adequar determinada função orofacial. • É necessário que o paciente compreenda por que realizar determinado exercício, pois isso pode garantir que ele o fará no seu dia a dia. • É fundamental que os exercícios comecem a fazer parte das ativida- des de vida diária do paciente. Como sugestão, pode-se associá-los aos momentos de escovação dentária. • Sempre que há uma assimetria entre os lados da face, um lado com tô- nus melhor, devem ser feitos exercícios seguindo a proporção dois para um, isto é, duas vezes para o lado pior e uma vez para o lado melhor. • É importante orientar o paciente a deglutir no final da série de exercí- cios para que relaxe sua musculatura. Neste momento, é fundamental diferenciar os tipos de exercícios que podem ser utilizados. Existem exercícios isotônicos, que têm como ob- jetivo melhorar a mobilidade do músculo e são indicados para aumentar a oxigenação e o aumento da amplitude dos movimentos. Normalmente são realizados com maior velocidade; exercícios isométricos, que têm como ob- jetivo aumentar a força dos músculos e são efetuados de modo mais lento e, muitas vezes, mantendo a contração; exercícios isocinéticos, que são co- nhecidos como exercícios de contra resistência, isto é, resistência contrária ao movimento, fazendo com que ocorra um trabalho mais intenso na ativação das unidades motoras e, consequentemente, há um aumento da força e tam- bém da mobilidade. É importante ressaltar que todos os músculos orofaciais têm possibilidade de serem trabalhados das três maneiras. É fundamental es- colher o tipo de exercício de acordo com as necessidades do paciente. Cabe ressaltar que quando há necessidade de fazer os três tipos de exercícios, é interessante iniciar pelo isotônico, seguido pelo isométrico e, por fim, o isoci- nético. Esta ordem está relacionada ao grau de dificuldade, afinal, não é indi- cado solicitar a um paciente realizar um exercício isocinético se seu músculo 46 Ca pí tu lo 3 está flácido. Será preciso que antes ele trabalhe com exercícios isométricos para melhorar seu tônus. As massagens podem ser indicadas com objetivos distintos. Para aumentar o tônus muscular, devem ser feitas, externamente, no sentido da contração das fibras musculares. Visando ainda o fortalecimento muscular, podem-se fazer as massagens indutoras, isto é, realizadas com o músculo em contração. Por exemplo, para fortalecimento do músculo bucinador, mantém-se os lábios abertos retraídos e realizam-se massagens com os de- dos externamente, iniciando nas comissuras labiais e seguindo em direção as orelhas. Para alongar o músculo, podem ser feitas dois tipos de massagens sempre no sentido contrário a contração do músculo. O primeiro externa- mente e o segundo de modo bi-digital, ou seja, um dos dedos é colocado na fibra muscular que se pretende alongar internamente e o outro segue na mesma direção só que externamente. Para se obter resultados positivos, a terapia miofuncional deve seguir alguns passos. O primeiro a ser trabalhado é a conscientização, isto é, o terapeuta deve explicar ao paciente qual seu problema, quais funções orofaciais estão alteradas, qual será seu prognóstico e quanto tempo deverá permanecer em terapia. Além disso, o paciente precisa entender o proces- so fisiológico normal de uma determinadafunção orofacial. Por exemplo, é fundamental que um paciente respirador oral entenda o que significa ser um respirador nasal, quais as diferenças entre ser respirador oral e nasal e o que isso pode acarretar em seu desenvolvimento ósseo e/ou muscular. Além do mais, é crucial que o terapeuta esclareça os limites do tratamento. Digo isso porque muitas vezes o fonoaudiólogo não tem condições de curar o paciente por uma série de variáveis, mas pode minimizar suas alterações, auxiliando- -o muito. Em seguida, deve-se trabalhar com a percepção, que a meu ver, é o passo mais difícil e mais importante para o sucesso terapêutico. Difícil porque o paciente precisa perceber e sentir o que faz errado para que possa começar a se corrigir. Este é um processo que ocorre inicialmente nas ses- sões terapêuticas para que possa gradativamente ser transferido para seu dia a dia. Costuma ser demorado e muitas vezes o fonoaudiólogo abandona esta etapa. Simultaneamente ao trabalho com percepção, devem-se realizar exercícios que auxiliam o trabalho com a percepção. Desta forma, o pacien- te vai aos poucos percebendo as diferenças na musculatura que está sendo trabalhada. E por fim, o trabalho com a automatização. Neste momento, o 47 Ex er cí ci os U til iz ad os n a Te ra pi a de M ot ri ci da de O ro fa ci al (q ua nd o e po r qu e uti liz á- lo s) – A dr ia na R ah alpaciente já tem condições para realizar determinada função adequadamente e deve ser capaz de espontaneamente se auto corrigir. Poderia ter escrito um capítulo com uma lista enorme de exercícios, mas antes de dar qualquer um deles, julguei melhor esclarecer esses aspec- tos, que considero muito mais importantes do que passar exercícios que na maioria das vezes não faz sentido algum para o paciente. Que fique claro: não sou contra os exercícios, desde que eles façam sentido para o tratamento miofuncional. É ainda mais importante discutir que cada paciente é único, com uma alteração específica e que jamais se pode generalizar os exercícios. Tudo está relacionado às condições estruturais e funcionais de cada paciente. A seguir vou exemplificar para, alguns grupos musculares, dois ti- pos de exercícios: Músculos levantadores da mandíbula (temporal, masseter e pteri- goideo medial): • Objetivo de fortalecer: lábios para dentro com massagem in- dutora no sentido da contração muscular (oito repetições). • Objetivo de alongar: dentes entreabertos realizar massagens externas no sentido contrário a contração muscular (10 vezes). Músculo bucinador: • Objetivo de fortalecer: com os dentes fechados, o paciente deve colocar o dedo indicador na região interna da bochecha e forçá-la para fora. Em seguida deverá forçar o fechamento da bochecha fazendo um bico com os lábios. (cinco vezes de cada lado). • Objetivo de alongar: massagens bi-digitais no sentido con- trário à contração, isto é da orelha em direção a comissura labial ( cinco vezes de cada lado). Músculo orbicular da boca: • Objetivo de fortalecer: lábios para dentro, manter três segun- dos e estalar (repetir oito vezes). • Objetivo de alongar: com massagens bi-digitais alongar o filtro e orbicular da boca, iniciando na região do nariz para baixo (8-10 vezes). 48 Ca pí tu lo 3 Músculos supra-hioideos: • Objetivo de fortalecer: varredura com a ponta da língua primeiro com a boca aberta e em seguida com a boca fecha- da (10 repetições). • Objetivo de fortalecer: forçar ponta da língua na região da papila palatina durante três segundos e relaxar (8-10 repetições). O tempo de contração pode ir aumentando gra- dativamente, podendo chegar até dez segundos. Musculatura extrínseca da língua: • Objetivo de fortalecer: língua sugada em palato, manter três segundos e estalar (8-10 repetições). O tempo de contração pode ir aumentando gradativamente, podendo chegar até 10 segundos. • Objetivo de fortalecer: forçar com a ponta do dedo indica- dor o terço anterior da língua dentro da boca manter três segundos e relaxar (5-8 repetições). O tempo de contração pode ir aumentando gradativamente, podendo chegar até oito segundos. Musculatura intrínseca da língua: • Objetivo de fortalecer: língua afilada manter três segundos e relaxar (5-8 repetições). O tempo de contração pode ir au- mentando gradativamente, podendo chegar até oito segun- dos. • Objetivo de fortalecer: levar a língua afilada para as comis- suras labiais lentamente sem encostar em dentes incisivos e lábio inferior (cinco vezes para cada lado). Considerações finais É importante que o fonoaudiólogo antes de pensar em exercício te- nha em mãos o planejamento terapêutico que só poderá ser realizado depois de seu diagnóstico clínico. E, jamais se esquecer de que cada paciente é único com suas particularidades e limitações. Portanto, não é admissível realizar o mesmo tipo de exercício com todos os pacientes. Vale sempre lembrar isso. 49 Ex er cí ci os U til iz ad os n a Te ra pi a de M ot ri ci da de O ro fa ci al (q ua nd o e po r qu e uti liz á- lo s) – A dr ia na R ah alReferências bibliográficas Berretin-Felix G, Araújo ES. Fisiologia da contração do músculo esquelético e do exercício aplicada à Motricidade Orofacial. In: Silva HJ, Cunha DA. (org.). O Sistema Estomatognático: anatomofisiologia e desenvolvimen- to. São José dos Campos: Pulso Editorial; 2011. Bianchini EMG. A cefalometria nas alterações miofuncionais orais – diagnós- tico e tratamento fonoaudiológico. São Paulo: Pró-Fono Departamento Editorial; 1993. Cattoni DM. Alterações da mastigação e da deglutição. In: Ferreira LP, Befi- Lopes DM, Limongi SCO.Org do Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo: Roca;. 2004. p. 277-92. 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International Journal of Orofacial Myology. 2009 Nov; 35: 19- 32. 50 Ca pí tu lo 3 51 As pe ct os F is io ló gi co s do s Re ce pt or es E st om at og ná tic os e s ua Im po rt ân ci a na T er ap ia d e M ot ric id ad e O ro fa ci al – Fr an kl in S us an ib ar & C yn th ia D ac ill o Capítulo 4 Aspectos Fisiológicos dos Receptores Estomatognáticos e sua Importância na Terapia de Motricidade Orofacial Franklin Susanibar Cynthia Dacillo Introdução A harmonia das funções orgânicas estão regidas e reguladas pelo sistema nervoso, graças à informação que o recebe dos diversos receptores como da visão, tato, olfato, gustação, movimento, audição, dor, entre ou- tros1-7. Estes informarão o estado externo e interno do organismo frente às demandas fisiológicas exercidas, produzindo reações reflexas imediatas ou armazenadas (“memorizadas”)1-3, como, por exemplo, a fome, que deman- dará a escolha dos alimentos, que posteriormente serão mastigados, deglu- tidos, digeridos, entre outros processos que acontecerão na alimentação. O sistema nervoso controlará e coordenará estas funções pelo fenômeno de reflexos armazenados pela experiência3. Além de facilitar as demandas fisio- lógicas, os receptores também contribuirão para que o sistema nervoso crie adaptações frente às dificuldades que se apresentem durante um processo fisiológico ou patológico; por exemplo, no primeiro
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