Buscar

442972333-LIVRO-Terapia-Fonoaudiologica-Em-Motricidade-Orofacial-Desconhecido

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 208 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 208 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 208 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

TERAPIA FONOAUDIOLÓGICA 
EM MOTRICIDADE OROFACIAL
ORGANIZADORES
Irene Queiroz Marchesan
Hilton Justino da Silva
Giédre Berretin-Felix
Copyright © 2012 by Pulso Editorial Ltda. ME
Avenida Anchieta, 885 (Jardim Nova América) 
São José dos Campos – SP. 
CEP 12242-280 - Telefone/Fax: (12) 3942-1302
e-mail: atendimento@pulsoeditorial.com.br
home-page: http://www.pulsoeditorial.com.br 
Impresso no Brasil/Printed in Brazil, com depósito legal na Biblioteca Nacional
conforme Decreto no. 1.825, de 20 de dezembro de 1907.
Todos os direitos reservados – É proibida a reprodução total ou parcial de qualquer 
parte desta edição. A violação dos direitos de autor (Lei no 5.988/73) é crime 
estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.
Editor responsável: Vicente José Assencio Ferreira
Diagramação: Alexandre Marinho Vicente
Capa: David de Aguiar Felicino
Impressão e acabamento: Editora Parma Ltda.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
 Terapia fonoaudiológica em motricidade orofacial /
 organizadores Irene Queiroz Marchesan, Hilton
 Justino da Silva, Giédre Berretin-Felix. --
 São José dos Campos, SP : Pulso Editorial, 2012.
 
 
 Vários colaboradores.
 Bibliografia.
 ISBN 978-85-89892-91-9
 
 1. Boca - Músculos 2. Face - Músculos
 3. Fonoaudiologia - Terapia 4. Músculos -
 Motricidade I. Marchesan, Irene Queiroz. II. Silva,
 Hilton Justino da. III. Berretin-Felix, Giédre.
 
 12-05775 CDD-616.885
Índices para catálogo sistemático:
1. Terapia fonoaudiológica 616.885
ORGANIZADORES
IRENE QUEIROZ MARCHESAN
Fonoaudióloga
Docente e Diretora do CEFAC Pós-Graduação em Saúde e Educação
Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas 
(UNICAMP)
HILTON JUSTINO DA SILVA
Fonoaudiólogo
Doutor em Nutrição pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Mestre em Morfologia/Anatomia pela UFPE
Especialização em Motricidade Orofacial pelo CEFAC Pós-Graduação 
em Saúde e Educação
Especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de 
Fonoaudiologia (CFFa)
Terapeuta no Conceito de Reabilitação Orofacial e Corporal Castillo 
Morales da Argentina
Professor Adjunto III do Departamento de Fonoaudiologia da UFPE
Líder do Grupo de Pesquisa Patofisiologia do Sistema Estomatognático 
UFPE/Diretório de Grupos de Pesquisa – CNPq
GIÉDRE BERRETIN-FELIX
Fonoaudióloga
Pós-Doutorado em Distúrbios da Deglutição pela Universidade da 
Flórida
Doutora em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina de Botucatu 
(UNESP)
Docente do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de 
Odontologia da USP
CORPO EDITORIAL
Irene Queiroz Marchesan
Hilton Justino da Silva
Giédre Berretin-Felix
PARECERISTAS
Adriana Tessitore
Adriana Rahal
Andréa Rodrigues Motta 
Daniele Andrade da Cunha
Giédre Berretin-Felix
Hilton Justino da Silva
Irene Queiroz Marchesan
AGRADECIMENTOS
A Associação Brasileira de Motricidade Orofacial (ABRAMO), em 
nome dos seus organizadores, agradece a todos os palestrantes que trou-
xeram seu conhecimento ao V Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial 
realizado nos dias 15 e 16 de junho de 2012 na cidade de Curitiba - PR. É im-
portante que se saiba que todos os professores cederam de forma gratuita 
seu conhecimento, tanto para as palestras, como para os capítulos do livro 
que foi gerado nesse evento. A renda gerada no evento será utilizada para 
oficializar a ABRAMO e manter seu site.
Irene Queiroz Marchesan
COLABORADORES
Adriana Rahal
Mestrado em Ciências pela USP-SP (2001)
Doutorado em Ciências pela USP-SP (2009)
Fonoaudióloga Clínica desde 1987 
Chefe do Departamento de Eletromiografia do CEFAC-SP 
Professora do Curso de Graduação da Faculdade Santa Casa de SP 
Professora dos cursos de especialização em Motricidade Orofacial do 
CEFAC Pós-Graduação em Saúde e Educação
Email: rahal-carvalho@uol.com.br
Adriana Tessitore 
Fonoaudióloga clínica
Especialista em Motricidade Orofacial pelo CFFa
Mestre em Ciências Médicas pela UNICAMP
Doutora em Ciências Médicas pela UNICAMP
Terapeuta e Mestre no Conceito de Reabilitação Orofacial e Corporal 
Castillo Morales
Docente do CEFAC Pós-Graduação em Saúde e Educação
Email: adria@terra.com.br
Ana Maria Toniolo da Silva
Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana (Fonoaudiologia) 
pela Universidade Federal de São Paulo 
Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade 
Federal de Santa Maria-RS
Professora Adjunta do Departamento de Fonoaudiologia da 
Universidade Federal de Santa Maria-RS 
Email: amariatoniolo@gmail.com
Andréa Rodrigues Motta 
Especialista em Motricidade Orofacial pelo CFFa
Mestre em Fonoaudiologia pela PUC-SP
Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana pela UNIFESP
Professora Adjunto do Departamento de Fonoaudiologia da UFMG
Membro do Grupo de Motricidade Orofacial e Disfagia de Belo Horizonte
Membro da Associação Brasileira de Motricidade Orofacial ABRAMO
Email: andreamotta19@gmail.com
Angela Busanello-Stella
Fonoaudióloga Clínica
Especialização em Fonoaudiologia Hospitalar
Mestre em Distúrbios da Comunicação pela Universidade Federal de 
Santa Maria - RS
Doutoranda pelo mesmo programa 
Email: angelafonoaudiologia@yahoo.com.br
Cláudia Tiemi Mituuti
Fonoaudióloga
Especialista em Motricidade Orofacial pelo Hospital de Reabilitação de 
Anomalias Craniofaciais – USP
Mestre em Ciências pela Faculdade de Odontologia de Bauru – USP
Doutoranda do Programa de Ciências Odontológicas Aplicadas da 
Faculdade de Odontologia de Bauru – USP
Email: claudinhatm@usp.br
Cynthia Dacillo 
Licenciatura em Educação Especial com Especialização em Distúrbios 
da Comunicação pela UNIFÉ – Universidade Femenina del Sagrado 
Corazón de Lima – Perú. 
Especialista em Motricidade Orofacial pelo CPAL – Centro Peruano de 
Audición y Lenguaje de Lima – Perú – CEFAC 
Email: cynthia.dacillo@hotmail.com 
Daniele Andrade da Cunha
Fonoaudióloga
Doutorado e Mestrado em Nutrição pela Universidade Federal de 
Pernambuco (UFPE)
Especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de 
Fonoaudiologia (CFFa)
Pesquisadora Institucional da Faculdade Estácio do Recife
Líder do Grupo de Pesquisa Patofisiologia do Sistema Estomatognático 
UFPE/Diretório de Grupos de Pesquisa – CNPq
Email: dhanyfono@hotmail.com
Esther Mandelbaum Gonçalves Bianchini
Fonoaudióloga CRFa1773/SP
Especialista em Motricidade Orofacial CFFa 018/96
Mestre em Educação – Distúrbios da Comunicação, PUCSP
Doutora em Ciências – Fisiopatologia Experimental da Faculdade de 
Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP
Professora Adjunta do Programa de Pós-Graduação Mestrado em 
Fonoaudiologia da Universidade Veiga de Almeida, RJ
Professora do CEFAC Pós-Graduação em Saúde e Educação
Diretora da Clínica E. Bianchini Fonoaudiologia
Endereço para acessar CV: http://lattes.cnpq.br/9878104937562238 
Endereço eletrônico: www.estherbianchinifono.com.br
Email: esther@estherbianchinifono.com.br 
Franklin Susanibar
Fonoaudiólogo formado pela FAP – Faculdade Adventista Paranaense 
Docente da UNMSM – Universidade Nacional Mayor de San Marcos 
Lima-Perú y da UPCH 
Docente da Universidade Peruana Cayetano Heredia Lima - Perú
Autor do Dicionário Terminológico de Motricidade Orofacial
Encarregado da área de diagnóstico e intervenção em Motricidade 
Orofacial do Instituto Psicopedagógico EOS-Perú
Pertence a equipe de diagnóstico e intervenção em Motricidade 
Orofacial do Policlínico Peruano Japonés – Lima - Peru
Membro fundador da CMOL – Comunidade de Motricidade Orofacial 
Latinoamericana
Fundador da RevMOf Revista Digital Especializada em Motricidade 
Orofacial 
Email: frank_susanibar@yahoo.com.br
Giédre Berretin-Felix
Fonoaudióloga
Mestre em Odontologia – Faculdade de Odontologia de Piracicaba – 
UNICAMP
Doutora em Fisiopatologia em Clínica Médica – Faculdade de Medicina 
de Botucatu – UNESP
Pós-Doutora em Distúrbios da Deglutição – University of Florida
Professora Associada do Departamento de Fonoaudiologia da 
Faculdade de Odontologia de Bauru – USP
Email: gfelix@usp.brHilton Justino da Silva 
Fonoaudiólogo
Doutorado em Nutrição pela Universidade Federal de Pernambuco 
(UFPE)
Mestrado em Morfologia/Anatomia pela UFPE
Especialização em Motricidade Orofacial pelo CEFAC Pós-Graduação 
em Saúde e Educação
Especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de 
Fonoaudiologia (CFFa)
Terapeuta no Conceito de Reabilitação Orofacial e Corporal Castillo 
Morales - Argentina
Professor Adjunto III do Departamento de Fonoaudiologia da UFPE
Líder do Grupo de Pesquisa Patofisiologia do Sistema Estomatognático 
UFPE/Diretório de Grupos de Pesquisa – CNPq
Vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Saúde da 
Comunicação Humana - UFPE
E-mail: hiltonfono@hotmail.com
Irene Queiroz Marchesan
Fonoaudióloga pela Pontifícia Universidade Católica - SP (PUC-SP) em 
1977
Mestrado em Distúrbios da Comunicação PUC-SP em 1989
Doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas 
(UNICAMP) em 1998
Diretora do CEFAC Pós-Graduação em Saúde e Educação 
http://lattes.cnpq.br/3237385454152639 
Email: irene@cefac.br
Jaime Luiz Zorzi
Fonoaudiólogo pela Pontifícia Universidade Católica - SP (PUC-SP) em 
1976
Mestrado em Distúrbios da Comunicação PUC-SP em 1988
Doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas 
(UNICAMP) em 1997
Diretor do CEFAC Pós-Graduação em Saúde e Educação 
http://lattes.cnpq.br/1009139853780079 
Email: jaime@cefac.br 
Lúcia Dantas Giglio
Fonoaudióloga 
Especialista em Laboratório do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade 
de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-
USP)
Especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de 
Fonoaudiologia (CFFa)
Mestranda em Ciências Médicas pelo Departamento de Oftalmologia, 
Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da FMRP-USP
E-mail: lgiglio@fmrp.usp.br
Luciana Vitaliano Voi Trawitzki
Fonoaudióloga
Especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de 
Fonoaudiologia (CFFa)
Mestre em Fisiologia Oral pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba 
da Universidade Estadual de Campinas (FOP-UNICAMP)
Doutora em Biociências Aplicada à Clínica Médica pela Faculdade de 
Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP)
Docente do Curso de Fonoaudiologia e Pós-Graduação do Departamento 
de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço 
da FMRP-USP
E-mail: luvoi@fmrp.usp.br
Marcela Maria Alves da Silva
Fonoaudióloga
Mestre em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação Interunidades 
em Bioengenharia da Escola de Engenharia de São Carlos – USP
Doutoranda do Programa de Ciências Odontológicas Aplicadas da 
Faculdade de Odontologia de Bauru – USP
Email: marcelam@usp.br
Marileda Cattelan Tomé 
Graduação em Fonoaudiologia pela Universidade Federal de Santa 
Maria – UFSM-RS
Mestrado em Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade 
Federal de Santa Maria-RS
Doutorado em Ciências da Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação 
Humana pelo Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofacias – 
USP Bauru 
Professora do Curso de Graduaçao em Fonoaudiologia da Universidade 
do Vale do Itajaí – UNIVALI-SC 
Equipe técnica da Clínica SerFono – Joinville-SC
Email: ledatome@uol.com.br
Silvana Brescovici
Formada em Fonoaudiologia pela Universidade Federal de Santa Maria 
– UFSM-RS, em 1983
Mestrado em Ciências Médicas na Faculdade de Medicina pela 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 2004
Especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de 
Fonoaudiologia (CFFa) desde 2004
Trabalha em clínica privada e como docente na Universidade Luterana 
do Brasil – ULBRA desde 1994
Email: silvana@brescovici.com.br
Tais Helena Grechi
Fonoaudióloga
Especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de 
Fonoaudiologia (CFFa)
Assistente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de 
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP) pela 
Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência do HCFMRP-USP
Mestre e Doutoranda em Ciências Médicas pelo Departamento de 
Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço 
da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São 
Paulo (FMRP-USP)
E-mail: thgrechi@hotmail.com
Tatiana Vargas de Castro Perilo 
Fonoaudióloga
Especialista em Motricidade Orofacial pelo CFFa
Mestre e Doutoranda em Bioengenharia pela UFMG
Fonoaudióloga do Hospital das Clínicas da UFMG
Membro do Grupo de Motricidade Orofacial e Disfagia de Belo 
Horizonte.
Emal: tativcp@yahoo.com.br e tatiana_vargas@hotmail.com
PREFÁCIO
Prezados Colegas
Em 2004 um grupo entusiasta da Motricidade Orofacial (MO) se 
reuniu em São Paulo nos dias 20 e 21 de agosto para realizar a 1ª Reunião 
Científica do Comitê de MO da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia 
(SBFa). O evento denominado “Convergências e Divergências em MO” teve 
como coordenadores os fonoaudiólogos Irene Marchesan, Adriana Rahal, Lia 
Duarte, Lilian Krakauer, Silvia Pierotti e Patrícia Junqueira. Com 16 mesas e 
50 participantes entre palestrantes, debatedores e coordenadores, a reunião 
foi considerada de grande sucesso. Foram abordados todos os temas da MO 
e mais uma mesa central de discussão sobre terminologia e parâmetros em 
MO com a participação de fonoaudiólogos, neurologistas, dentistas e fisiote-
rapeutas. O evento gerou um livro “Motricidade Orofacial: como atuam os 
especialistas” organizado por Irene Marchesan e editado pela Pulso Editorial, 
com 36 capítulos os quais tratam das diversas opiniões sobre a avaliação e a 
terapia em MO, além de um breve histórico sobre o comitê de MO da SBFa. 
A renda da venda do livro é destinada, até os dias de hoje, ao Comitê de Mo-
tricidade Orofacial da SBFa.
Em 2005, durante o 1º Encontro Internacional de Deglutição reali-
zado em agosto na cidade de São Paulo, foi realizada a 2ª Reunião Científica 
do Comitê de MO da SBFa. Nesse encontro foi gerado um livro “Tratamento 
da Deglutição: a atuação do fonoaudiólogo em diferentes países”, organizado 
por Irene Marchesan, editado pela Pulso Editorial, constando de 21 capítu-
los. Nesse evento tivemos a participação de fonoaudiólogos brasileiros, ar-
gentinos, chilenos, americanos, peruanos, portugueses e venezuelanos. Na 2ª 
Reunião Científica do Comitê de MO da SBFa em conjunto com os palestran-
tes nacionais e estrangeiros mais os membros do CFFa e do CRFa 2ª região, 
ficou decidido que iniciaríamos encontros nacionais em diferentes regiões 
do Brasil, com a finalidade de divulgar a MO em diferentes partes de nosso 
país, assim como buscar especialistas nessa área que realizassem trabalhos 
inovadores e diferenciados em cada região brasileira.
Em 2008 foi realizado, no dia 7 de agosto, o I Encontro Brasileiro de 
MO na cidade de Goiânia-GO coordenado pela Fga. Mestre Christiane Tani-
gute. O objetivo dos encontros regionais, é o de atingir os profissionais da 
MO de determinada região permitindo que os mesmos tenham a oportuni-
dade de apresentar seus trabalhos e também se reciclarem.
Em 2009 foi realizado, no dia 22 de agosto, o II Encontro Brasileiro 
de MO na cidade de Recife-PE coordenado pelo Fgo. Dr. Hilton Justino. Nesse 
evento foram discutidos quais deveriam ser as ações para alavancar a MO do 
Brasil.
Ainda em 2009 ocorreu na cidade de São Paulo, nos dias 25 e 26 
de setembro, a 3ª Reunião Científica de MO. Estiverem presentes 62 fono-
audiólogos de 16 estados do Brasil, quatro fonoaudiólogos do Peru, uma da 
Argentina e uma da Espanha. A temática abordada foi a discussão sobre qual 
seria o melhor nome para a especialidade de MO, onde o Conselho Federal 
de Fonoaudiologia participou ativamente enviando a Fga. Carla Girodo. Em 
seguida foram apresentados protocolos utilizados em diferentes centros e fo-
ram apresentadas as pesquisas que estão sendo desenvolvidas pelos grupos 
de MO no Brasil. 
Resumidamente poderíamos dizer que o mais importante de cada 
Reunião Científica é o que se segue:
1ª Reunião Científica de MO – agosto de 2004 
– O evento foi organizado pelo Comitê de MO. Esse evento gerouum livro com 36 capítulos, editado pela Pulso Editorial, expondo a atuação 
dos especialistas nas diferentes áreas da MO. A renda da venda do livro des-
de 2004 é doada para o Comitê de MO da SBFa. 
2ª Reunião Científica de MO – agosto de 2005
– O foco dessa reunião foi a discussão da avaliação e da terapia da 
deglutição. Foram convidados para expor sua atuação com a deglutição 10 
fonoaudiólogos especialistas em MO do Brasil e 11 fonoaudiólogos de seis 
países: Estados Unidos da América (1), Argentina (3), Venezuela (1), Peru (2), 
Chile (3) e Portugal (1). Esse evento ocorreu em agosto de 2005 e culminou 
com um livro chamado “Tratamento da Deglutição – a atuação do fonoaudió-
logo em diferentes países” editado pela Pulso Editorial, contendo 21 capítulos 
sobre tratamento da deglutição.
3ª Reunião Científica de MO – setembro de 2009
– O foco dessa reunião foi a discussão sobre qual seria o melhor 
nome para a especialidade de MO seguida da apresentação dos protocolos 
utilizados pelos diferentes centros e apresentação das pesquisas que estão 
sendo desenvolvidas pelos grupos de MO no Brasil. Um documento foi ge-
rado nessa reunião e publicado na Revista Cefac, Vol.11, suplemento 3, 2009 
– O que os especialistas em Motricidade Orofacial têm feito no Brasil.
Em 2010 foi realizado, nos dias 18 e 19 de junho, o III Encontro Bra-
sileiro de MO na cidade de Belo Horizonte-MG coordenado pela Fga. Dra. 
Andréa Motta. 
Em 2011 foi realizado, nos dias 10 e 11 de junho, o IV Encontro Brasi-
leiro de Motricidade Orofacial na cidade de Natal-RN organizado pelos docen-
tes do curso de Fonoaudiologia da UFRN, professores Leandro Pernambuco, 
Renata Cavalcanti, Hipólito Magalhães e Lourdes Bernadete com o apoio dos 
discentes do curso. O evento, teve o objetivo de divulgar a Motricidade Oro-
facial e reunir os especialistas na área, contando com cerca de 300 inscritos, 
entre profissionais e estudantes de todo o país, que nesses dois dias puderam 
atualizar seus conhecimentos sobre terapia fonoaudiológica e avanços tecno-
lógicos na motricidade orofacial. Um marco importante do evento foi a criação 
oficial da Associação Brasileira de Motricidade Orofacial (ABRAMO), entidade 
formada pelos profissionais especialistas na área, que surge para fortalecer e 
lutar pelos interesses da Motricidade Orofacial no Brasil. A primeira reunião da 
ABRAMO foi realizada durante o evento e contou com representantes de diver-
sos estados do país. Nesse ano, o Encontro trouxe novidades como a exposi-
ção de 60 painéis e a instituição do Prêmio “Irene Marchesan” para premiar o 
“Destaque Científico”. Além disso, ocorreu o lançamento do livro “Atualidades 
em Motricidade Orofacial”, organizado pelos professores da UFRN que coorde-
naram o Encontro e pelo Prof. Hilton Justino da UFPE, editado pela Revinter. O 
livro reuniu capítulos escritos por todos os palestrantes presentes no Encontro. 
Em 2012 o V Encontro Brasileiro de Motricidade Orofacial será rea-
lizado na cidade de Curitiba-PR nos dias 15 e 16 de junho. Seguindo a tradição 
esse evento contará com pôsteres concorrentes ao Prêmio “Irene Marche-
san” e será lançado um livro com o conteúdo das palestras do evento.
Tudo isso mostra o grande avanço da Motricidade Orofacial do Bra-
sil e sua força no cenário nacional.
Dra. Irene Queiroz Marchesan
SUMÁRIO
Capítulo 1 ......................................................................................... 23
O Clínico Também é um Pesquisador
Irene Queiroz Marchesan
Jaime Luiz Zorzi
Capítulo 2 ......................................................................................... 31
Bases da Terapia de Motricidade Orofacial
Esther Mandelbaum Gonçalves Bianchini 
Capítulo 3 ............................................................................................. 43
Exercícios Utilizados na Terapia de Motricidade Orofacial (quando 
e porque utilizá-los?)
Adriana Rahal
Capítulo 4 ............................................................................................ 51
Aspectos Fisiológicos dos Receptores Estomatognáticos e sua 
Importância na Terapia de Motricidade Orofacial
Franklin Susanibar
Cynthia Dacillo
Capítulo 5 ............................................................................................ 87
Terapia Fonoaudiológica em Respiração Oral (como eu trato) 
Daniele Andrade da Cunha
Hilton Justino da Silva
Capítulo 6 ........................................................................................... 111
Terapia Fonoaudiológica em Ronco (como eu trato)
Adriana Tessitore
Capítulo 7 ............................................................................................. 123
Terapia Fonoaudiológica em Mastigação (como eu trato)
Luciana Voi Trawitzki
Tais Helena Grechi
Lúcia Dantas Giglio
Capítulo 8 ........................................................................................ 139
Terapia Fonoaudiológica em Mastigação (como eu trato)
Andréa Rodrigues Motta 
Tatiana Vargas de Castro Perilo
Capítulo 9 ......................................................................................... 147
Terapia Fonoaudiológica em Deglutição (como eu trato)
Giédre Berretin Félix 
Marcela Maria Alves da Silva
Cláudia Tiemi Mituuti
Capítulo 10 ........................................................................................ 163
Terapia Fonoaudiológica em Deglutição (como eu trato)
Silvana Brescovici
Capítulo 11 .................................................................................. 181
Terapia Fonoaudiológica na Fala (como eu trato)
Marileda Catellan Tomé
Capítulo 12 .................................................................................. 195 
Terapia Fonoaudiológica na Fala (como eu trato)
Angela Busanello-Stella
Ana Maria Toniolo da Silva
23
O
 C
lín
ic
o 
Ta
m
bé
m
 é
 u
m
 P
es
qu
is
ad
or
 –
 I
re
ne
 Q
ue
iro
z M
ar
ch
es
an
 &
 Ja
im
e 
Lu
iz 
Zo
rz
i
Capítulo 1 
O Clínico Também é um Pesquisador
 
Irene Queiroz Marchesan
Jaime Luiz Zorzi
Quando pensamos que temos todas as respostas, 
a vida vem e muda todas as perguntas.
autor desconhecido
Quando falamos de pesquisas na área das ciências da saúde, sem-
pre temos a sensação de que isso não é para os clínicos. Fonoaudiólogos, 
e mesmo outros profissionais, tendem a dividir o universo das ciências em 
duas partes: aqueles que fazem o dia a dia da profissão e aqueles que pes-
quisam. O clínico pode não estar muito consciente, mas ele também é um 
pesquisador, por natureza. Ele avalia, diagnostica e trata muitos casos seme-
lhantes, normalmente classificando-os, o que permite repetir e sistematizar 
conjuntos de ações e procedimentos os quais se mostraram eficazes ao longo 
do tempo. O clínico tem um grande conhecimento de técnicas que devem ou 
não ser utilizadas em diferentes casos. Ele adquire conhecimentos a respeito 
daquilo que dá certo e o que não dá. Porém, apesar de saber muito, aplica 
esse conhecimento em um círculo restrito, limitando-o à sua própria ativida-
de. Por que esse saber não se torna público? Talvez porque ainda não tenha 
se dado conta de que ao pensar, categorizar, juntar dados utilizando-os e os 
retestando também está fazendo ciência. O clínico se vê apenas como um 
bom profissional e nunca como alguém que, efetivamente, e em circunstân-
cias bastante específicas, exerce uma forma de pesquisa.
O que exatamente um pesquisador faz? 
E um clínico?
Vamos iniciar consultando o velho e bom dicionário que sempre 
nos faz refletir sobre o uso correto das palavras.
24
Ca
pí
tu
lo
 1 Segundo o dicionário Houaiss (p. 2200) pesquisa corresponde a um 
“conjunto de atividades que têm por finalidade a descoberta de novos co-
nhecimentos no domínio científico, literário, artístico, entre outros”. Pesqui-
sa é entendida como “a investigação ou indagação minuciosa, ou ainda exa-
me de laboratório”. Existe a pesquisa de mercado que faz o “levantamento e 
exame de dados relativos às tendências dos consumidorescom a finalidade 
de tornar mais racional e fácil a venda de produtos”. Existe a pesquisa de mo-
tivação, pesquisa de opinião, pesquisa operacional, pesquisa fundamental, 
que “serve para trabalho científico que não prevê aplicações práticas e ime-
diatas para suas propostas ou descobertas”. Pesquisa envolve o “buscar com 
cuidado, procurar por toda a parte, informar-se, inquirir, perguntar, indagar 
profundamente, aprofundar”. O pesquisador é “aquele que faz pesquisa”. 
Pesquisar, portanto, significa “procurar com aplicação, com diligência, tomar 
informações a respeito de algo”.
Para a palavra “clínico” no Dicionário Houaiss (p. 740) encontramos 
a seguinte definição: “Relativo a clínica ou ao tratamento médico; aquele que 
por observação direta, ou por exames laboratoriais, colhe informações sobre a 
doença”. Clinicar corresponde ao “exercício da profissão de clínico na medicina 
ou odontologia”, por exemplo. Ou seja, significa praticar a clínica, como também 
se faz na fisioterapia e na fonoaudiologia. Clínica pode ser definido como o “local 
onde o clínico faz a prática ou o exercício” de sua profissão, ou seja, ele “clinica”.
O que se espera, na área da saúde, de um bom pesquisador e/ou 
de um bom clínico? A expectativa é de que eles busquem, com toda a aten-
ção, informações a respeito de algo. Como é muito comum nesse campo de 
conhecimento, espera-se que ambos investiguem minuciosamente, e com 
muito cuidado, os sintomas de uma doença, suas causas, medicamentos, tra-
tamentos, uma vez que pertencem a área da saúde.
Onde então, pesquisadores e clínicos se diferenciam?
O clínico, a partir de seus estudos, sistematizações e sucessivos 
atendimentos, elenca os procedimentos que ele entende como os mais efi-
cazes para conseguir os objetivos que pretende atingir em sua avaliação e 
terapia. O clínico pode ter a oportunidade de dividir com seus colegas as 
ações que permitiram resultados mais efetivos e também pode pedir auxílio 
para seus pares quando não encontra caminhos para resolver os inúmeros 
problemas que surgem durante sua atividade terapêutica.
25
O
 C
lín
ic
o 
Ta
m
bé
m
 é
 u
m
 P
es
qu
is
ad
or
 –
 I
re
ne
 Q
ue
iro
z M
ar
ch
es
an
 &
 Ja
im
e 
Lu
iz 
Zo
rz
i
Quando o clínico, frente a tais desafios, busca soluções, tanto teóri-
cas quanto práticas, mais eficazes para atingir seus objetivos, está sistemati-
zando conhecimentos e procedimentos os quais, ao serem aplicados de forma 
repetitiva, podem produzir resultados que confirmem ou não se estão adequa-
dos. Envolvido com sua tarefa de atender e solucionar o problema do paciente, 
este profissional, da prática, dificilmente imagina que seu modo de agir pode-
ria ser parte de uma pesquisa científica mais formal, com uma metodologia 
bem planejada, envolvendo grupo controle, duplo cego, análise estatística e 
outras alternativas que garantam certos rigores que são fundamentais em tal 
tipo de pesquisa. 
Provavelmente não passa por sua cabeça o quanto que este tipo de 
ação pode ser importante para comprovar suas descobertas, ou seja, o co-
nhecimento que ele sistematicamente utiliza, e que, empiricamente, conduz 
a bons resultados. Aliás, por que deveria comprovar? O mais importante para 
o clínico é resolver o problema do paciente que está sob seus cuidados e que 
confia nele. Isto nos faz lembrar daquela antiga frase sempre citada por aque-
les que vivem com a mão na massa: “De acordo com a minha experiência 
clínica...”. Afirmações como esta, que em muitos momentos de nossa história 
soaram como uma comprovação praticamente incontestável de saber (só os 
clínicos com muita experiência podiam dizer isso), atualmente tem perdido 
seu prestígio. Considerando tendências atuais, somente procedimentos cien-
tificamente controlados são capazes de produzir conhecimentos confiáveis. 
De fato, não há como contestar os avanços que a ciência tem pro-
duzido em todos os campos do saber graças, principalmente, aos rigores e 
controles aplicados às pesquisas. O grande problema do clínico, porém, é 
que, com muita frequência, a ciência ainda não tem todas as respostas apro-
priadas para os problemas que a prática lhe impõe no dia a dia. Nem sempre 
os pesquisadores demonstram sensibilidade à demanda gerada por questões 
de ordem clínica ou prática elegendo, como foco de seus estudos, temas que 
dificilmente virão a ser aplicados no dia a dia dos atendimentos. 
Voltamos, novamente, à questão dos conhecimentos práticos e de 
como eles têm sido difundidos no decorrer dos tempos. Uma das formas 
muito valorizadas de ensino, ao longo dos tempos, tem sido a transmissão 
de experiências, ou seja, o conhecimento passado diretamente pelo mais 
“sábio” a seus “discípulos”. Nesta condição, os aprendizes colocam-se em 
volta do mestre para ouvi-lo e com ele aprender. Esta é uma das formas mais 
26
Ca
pí
tu
lo
 1 eficazes de ensino. Podemos nos lembrar, por exemplo, que cabia, quase que 
exclusivamente, às mães ensinar a suas filhas como deveriam proceder para 
cuidar de seus bebês e educá-los. Essas mulheres, quando na condição de 
avós, transmitiam não somente o que haviam aprendido com suas próprias 
mães, mas também tudo aquilo que elas mesmas vivenciaram na medida em 
que criaram seus filhos. Elas podiam oferecer uma experiência prática, resul-
tante de todo o conhecimento que foram adquirindo ao cuidar de suas pro-
les. Nestas situações, assim como em outras, a experiência dos mais velhos 
tendia a ser muito considerada: pais e avós serviam como fontes sistemáti-
cas de consulta. Nos dias de hoje as mães podem contar com outras fontes 
de orientação, de cunho científico, recorrendo a fonoaudiólogos, médicos, 
psicólogos e assim por diante. Todos eles têm a oferecer os conhecimentos 
científicos que adquiriram durante sua formação, assim como aquele saber 
que a prática lhes proporciona. 
Nossos comportamentos e crenças sofrem, cada vez mais inten-
samente, grande influência dos avanços que as pesquisas científicas pro-
movem, sendo que a área da saúde é uma grande testemunha desse fato. 
Buscamos na ciência a solução de muitos de nossos problemas. Nosso com-
portamento, enquanto profissionais, reflete essa realidade: precisamos, a 
todo o momento, sair à procura de novos conhecimentos. Porém, como an-
teriormente apontamos, nem sempre eles estão disponíveis ou acessíveis. 
Seria muito bom termos respostas prontas para todas as dúvidas e questões 
que nossa atuação nos impõe. Infelizmente não chegamos a este ponto e 
creio que sequer ele será atingido. A produção científica se, por um lado, gera 
respostas, por outro cria novas dúvidas e questões, num ciclo que podemos 
considerar interminável. Em outras palavras, conhecimentos gerados pela 
prática e, principalmente, a sistematização de procedimentos e o controle de 
seus resultados, ainda têm seu papel e valor em nosso fazer profissional. Po-
demos afirmar que deveria existir uma forte relação de reciprocidade entre 
a pesquisa científica formal, cujos resultados influenciam a prática clínica e a 
própria experiência clínica, a qual pode gerar novas pesquisas e até mesmo 
teorias, na medida em que constantemente lança novos desafios.
Um pouco de realidade, nem sempre interessante 
O que a maior parte de nossos estudantes, ao entrar em uma sala 
de aula cuja disciplina é “Metodologia Científica”, pensa sobre essa matéria? 
27
O
 C
lín
ic
o 
Ta
m
bé
m
 é
 u
m
 P
es
qu
is
ad
or
 –
 I
re
ne
 Q
ue
iro
z M
ar
ch
es
an
 &
 Ja
im
e 
Lu
iz 
Zo
rz
i
Literalmente, que é uma chatice. Pesquisar afinal não é com eles. Eles não se 
sentem preparados ou motivados para fazer isso com competência e serie-
dade: muito trabalho, muito estudo, muitas regras e muitos detalhes. Acredi-
tamos que para ser um pesquisador precisamos ter olhar científico, curioso, 
indagador e criativo, características estas que, infelizmente, não fazem parte 
de toda nossa formação educacional. Consequentemente, pesquisa não é 
para eles, talvez seja para os “nerds”. 
Alémdessas falhas típicas das distorções de nossa vivência acadêmi-
ca, podemos colocar mais um agravante que diz respeito à imagem que mui-
tos pesquisadores projetam ao se colocarem em um lugar que parece ser, aos 
simples mortais, impossível de alcançar. De uma forma geral, o distanciamento 
entre um pesquisador, sua forma de falar, de olhar, e as demais pessoas, parece 
algo muito difícil de superar. Por outro lado, o profissional com enfoque clínico, 
muitas vezes apresenta-se como menos “preocupado”, aparentemente menos 
formal, com ideias muito práticas e imediatas para resolver os problemas que 
ocorrem na clínica. E isso é bom? Seria bom, se houvesse algum controle, mais 
rígido e sistemático, daquilo que o clínico está fazendo.
Esta seria, para mim, uma grande mudança, a qual muito auxiliaria 
o fonoaudiólogo a caminhar mais seguramente e de uma forma mais “con-
trolada”, podendo apresentar resultados mais consistentes naquilo que faz. 
Neste sentido, uma postura mista entre ser clínico e pesquisador poderia ser 
bastante favorável para a profissão. Bons clínicos são essenciais para qual-
quer profissão da área da saúde. Ser clínico e coletar dados para um melhor 
controle de resultados não é tão impossível de ser feito. Tal procedimento 
pode gerar dados para que pesquisadores profissionais venham utilizar em 
seus estudos, em busca de respostas que podem, por sua vez, beneficiar a 
própria atividade clínica. 
De maneira em geral, todos nós adoramos coisas objetivas, eficien-
tes, eficazes, práticas além de rápidas. Vejamos alguns exemplos muito simples 
que poderiam ser “ensinados” e “estimulados” pelos professores para todos 
os seus alunos. Alguns desses alunos se tornariam melhores clínicos, e outros 
desenvolveriam a veia “curiosa” e “metódica” necessária para um bom pes-
quisador e, muito provavelmente, ambos seriam melhores profissionais nas 
duas categorias. O distanciamento entre eles diminuiria e aquela sensação de 
“muita inteligência e perspicácia” de um lado e “falta de organização e controle 
dos dados obtidos” do outro, poderia não desaparecer, mas diminuiria muito.
28
Ca
pí
tu
lo
 1 Quando um fonoaudiólogo formado, ainda nos dias de hoje, me 
pergunta, por exemplo, quais exercícios ele deve fazer com o paciente para 
colocar a língua na papila, eu sempre me pergunto – quem o formou e como? 
Onde estará o raciocínio clínico desse profissional? A minha resposta é: ele 
não tem culpa de fazer essa pergunta, quem o formou tem a culpa. E o pro-
cesso de ensino, muitas vezes, começa com a resposta que daremos para 
esse clínico, que está em busca de soluções aparentemente simples como 
essa. Devemos responder perguntando-lhe algumas coisas básicas, como por 
exemplo: Quem é o paciente? Quantos anos ele tem? Como é a oclusão dele? 
E o tônus? Ele tem problemas respiratórios? Qual é a sua hipótese do por que 
a língua dele estar se projetando para fora da boca?
Imagino que você, neste momento, está se perguntando onde está 
a relação entre clínicos e pesquisadores? A relação está exatamente aí: na 
postura analítica e reflexiva que ambos devem ter. Ensinar a pensar, ensinar 
a coletar dados, estimular o fazer relações entre os dados coletados em um 
bom exame clínico e assim por diante. Estas atitudes fazem toda a diferença. 
Transformando bons terapeutas em bons pesquisadores, ou 
seja, como produzir excelentes clínicos
Contando com a colaboração de um grupo de seis fonoaudiólogas 
especialistas em Motricidade Orofacial (MO), sendo que duas delas também 
eram especialistas em voz, decidimos realizar um trabalho de sistematização 
de procedimentos na área da MO. Nosso primeiro passo foi comprovar a im-
portância da utilização de protocolos totalmente preenchidos para todas as 
avaliações que eram realizadas no Instituto Cefac. Também mostramos que 
os dados inseridos no prontuário de cada paciente, se tratados isoladamente, 
somente poderiam servir para entender o problema daquele indivíduo em 
particular. Porém, se os dados obtidos com cada um desses pacientes fossem 
colocados em tabelas (Excel, por exemplo), o conjunto desses dados poderia 
nos trazer informações simples, mas de fundamental relevância como, por 
exemplo, a faixa etária, o gênero e, muito importante, as queixas mais co-
mumente encontradas entre eles. Também pudemos identificar quem nos 
enviava pacientes, de que locais eles vinham, por que procuravam por nós e 
não outras clínicas, entre outros. 
Quando a tabela já contava com uma grande diversidade de in-
formações provenientes de muitos de nossos pacientes, passamos a fazer 
29
O
 C
lín
ic
o 
Ta
m
bé
m
 é
 u
m
 P
es
qu
is
ad
or
 –
 I
re
ne
 Q
ue
iro
z M
ar
ch
es
an
 &
 Ja
im
e 
Lu
iz 
Zo
rz
i
perguntas sobre quais dados poderiam ser cruzados entre si. Tais cruzamen-
tos poderiam vir a elucidar muitas “crenças” presentes entre terapeutas, 
mas nem sempre comprovadas ou devidamente estudadas. Desta forma, 
começamos a buscar uma série de relações entre esses dados. Dentre uma 
enorme gama de possibilidade de análises tomemos, como exemplo, algu-
mas dessas questões: “Será verdade que quem chupa chupeta até tarde tem 
alteração de tônus?”, ou “Será que quem respira pela boca sempre tem alte-
ração de oclusão ou lábio inferior evertido?”.
Essa experiência foi muito frutífera e animadora para o grupo. A 
maior parte de nossos terapeutas, excelentes por sinal, nunca havia envia-
do trabalho para congressos porque, dentro de uma perspectiva clínica, isso 
parecia algo distante da realidade em que viviam. Submeter trabalhos para 
congressos ou escrever artigos para revistas científicas era algo para estudan-
tes ou pesquisadores experientes: eles eram “apenas” clínicos. 
Rompendo com tal mito, inicialmente produzimos pequenos traba-
lhos, com perguntas simples, apenas para incentivar a curiosidade de todos 
os que ali trabalhavam e que estavam envolvidos com o projeto. Começamos 
a correlacionar os achados que foram surgindo com dúvidas e questões li-
gadas ao próprio trabalho terapêutico que era realizado com os pacientes. 
Todos foram estimulados a refletir sobre suas práticas, a partir dos dados 
obtidos, visando a obtenção de melhores resultados terapêuticos. 
O que resultou dessa forma de pensar e agir por acreditar 
que clínicos também são pesquisadores e podem trazer respostas 
consistentes para a clínica e para a pesquisa científica?
Em oito anos foram apresentados, por nosso grupo, 79 trabalhos na 
área da Motricidade Orofacial em diferentes congressos do Brasil e também 
fora de nosso país. A maior parte dos trabalhos teve impacto na forma de 
agir na clínica. Somente alguns desses estudos foram publicados em revistas 
científicas. Infelizmente, a maior parte dos clínicos, ainda não tem a percep-
ção da importância de publicações técnicas, da divulgação de seus dados, 
principalmente quando os achados desmistificam formas questionáveis de 
atuação e trazem outras técnicas e maneiras de pensar.
No entanto, no nosso caso, a “veia de pesquisadores” passou a 
pulsar fortemente em todos eles. Dos seis profissionais participantes desse 
processo, apesar de todos permanecerem como clínicos, um fez mestrado e 
30
Ca
pí
tu
lo
 1 doutorado tornando-se professor universitário; outro fez mestrado com dis-
sertação realizada a partir de seus dados clínicos, resultando em publicação 
internacional e tornando-se professor de cursos de especialização; outro fez 
mestrado com publicação nacional; um está fazendo o mestrado; outro fez 
mais uma especialidade além das duas anteriores e o último permaneceu 
somente na clínica. Para completar a lista, alguns fonoaudiólogos de outras 
clínicas e que participaram de alguns dos trabalhos realizados por esse grupo, 
também buscaram o mestrado. 
A partir de experiências como essa relatada, não tenho dúvidas ao 
afirmar que todo clínico, a partir de reflexões sobre seu trabalho, a partir da 
percepção que seus dados podem, e devem fazer parte de estudos e de pu-
blicações científicas,também é capaz de ser um pesquisador, contribuindo, 
com sua experiência, para o fortalecimento da prática clínica e, ao mesmo 
tempo, lançando temas e desafios para nossos pesquisadores profissionais. 
Poderemos ter, desta forma, uma grande parceria, com benefícios para am-
bas as partes.
Referência
Houaiss A. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Obje-
tiva, 2004.
Bibliografia recomendada
Assencio-Ferreira VJ. Artigo Científico. São José dos Campos: Pulso, 2003.
Goldenberg M. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em ciên-
cias sociais. Rio de Janeiro: Record, 1997. 
Goldenberg M. Noites de Insônia. Cartas de uma antropóloga a um jovem 
pesquisador. Rio de Janeiro: Record, 2008.
Volpato LP. Dicas para redação científica. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010.
31
Ba
se
s 
da
 T
er
ap
ia
 d
e 
M
ot
ri
ci
da
de
 O
ro
fa
ci
al
 –
 E
st
he
r M
an
de
lb
au
m
 G
on
ça
lv
es
 B
ia
nc
hi
ni
Capítulo 2
Bases da Terapia de Motricidade Orofacial
Esther Mandelbaum Gonçalves Bianchini
Introdução
A Motricidade Orofacial é uma área da Fonoaudiologia que muito 
se desenvolveu nos últimos anos, atualmente dividindo-se em muitas outras 
sub-áreas. Nesse universo, o objetivo central da reabilitação fonoaudiológi-
ca volta-se para a obtenção organizada das funções estomatognáticas, inde-
pendente das causas que levaram às alterações encontradas. Esse trabalho 
estabelece interfaces principalmente com a Odontologia e a Medicina, Fisio-
terapia, Psicologia, entre outras, associado a situações como hábitos deleté-
rios, respiração oral, alterações das funções estomatognáticas que levem a 
pressões atípicas ou condições interferentes na organização estrutural, assim 
como alterações da articulação da fala. 
Alguns problemas específicos envolvem a atuação fonoaudiológica 
integrada a equipes interdisciplinares ainda mais completas tais como nos 
casos de: problemas funcionais do paciente idoso, doenças neuromusculares 
evolutivas, má formação e síndromes que incluam alterações craniofaciais, 
bebês de risco, alterações e disfunções da articulação temporomandibular 
(ATM), problemas associados a deformidades dentofaciais ou secundários 
aos traumas de face, paralisia facial, apneia e ronco, ressecções por câncer 
de cabeça e pescoço, paralisia facial, dentre outros. 
32
Ca
pí
tu
lo
 2 A terapia miofuncional orofacial é um processo que tem como obje-
tivo a adequação ou viabilização das funções orais em pacientes de todas as 
faixas etárias e nas mais diversas disfunções orofaciais. 
Sem dúvida a principal base da terapia em Motricidade Orofacial 
é um diagnóstico preciso no qual não apenas se constate a alteração, mas 
principalmente se estabeleçam as causas ou fatores determinantes da alte-
ração que está sendo vista. As análises de quais músculos estão envolvidos 
no problema e o vínculo, primário ou secundário do comportamento desses 
músculos, é que irão determinar o que deverá ser feito em terapia. Não se 
pode deixar de mencionar que muitos pacientes têm estruturas de tecidos 
duros, musculatura e praxia neuromotora relativamente organizadas, porém 
realizam as funções estomatognáticas de maneira alterada ou fora do espe-
rado, interferindo negativamente no desenvolvimento ou na estabilidade das 
bases ósseas e da oclusão. 
Nesse processo, o inverso também deve ser considerado. Muitas 
vezes um padrão genético desfavorável determina má proporção entre as 
bases ósseas, sendo o comportamento miofuncional uma resposta adap-
tativa, uma forma compensada de comportamento funcional muitas vezes 
favorável, pois possibilita a realização das funções estomatognáticas. O que 
muda nesses casos é a hierarquia dos tratamentos envolvidos e o prognósti-
co. Conseguiremos modificar uma adaptação para outra, mais benéfica, mas 
não conseguiremos trazê-la para um dito “padrão esperado” ou “normal”. 
Portanto quando existirem muitos fatores estruturais interferentes, esses de-
vem ser tratados antes da reabilitação miofuncional fonoaudiológica.
Entramos aí no primeiro ponto controverso do diagnóstico e conse-
quentemente das bases da terapia em Motricidade Orofacial. Muitas vezes 
o que vemos são aplicações de excelentes protocolos de avaliação que irão 
mesmo determinar o que e por que o paciente tem determinada alteração 
funcional. Entretanto o que ainda pode ser constatado é que o planejamento 
terapêutico nem sempre leva em conta os dados dessa completa avaliação. 
Os procedimentos realizados em terapia são quase sempre os mesmos para 
todos, como se os dados do exame fossem esquecidos ou deixados em se-
gundo plano em função da ânsia em “dar a terapia”. 
Os modelos terapêuticos que enfatizam as listas de exercícios fazem 
parte de nossa história. Materiais ditos facilitadores para a realização de exercí-
cios existem aos montes. O próprio paciente diz que vai ao Fonoaudiólogo fazer 
33
Ba
se
s 
da
 T
er
ap
ia
 d
e 
M
ot
ri
ci
da
de
 O
ro
fa
ci
al
 –
 E
st
he
r M
an
de
lb
au
m
 G
on
ça
lv
es
 B
ia
nc
hi
niexercícios, até porque quem indicou o tratamento fonoaudiológico, seja o orto-
dontista, cirurgião e/ou médico, informou isso ao paciente. É uma pena que as 
coisas não sejam assim tão fáceis. Apenas exercícios não mantém a musculatu-
ra por muito tempo e ninguém vai fazer exercícios para sempre.
Nesse sentido, voltamos ao diagnóstico e sua aplicação clínica tera-
pêutica. Algo realmente grandioso que exige habilidade, perspicácia e muita 
atenção do terapeuta em perceber se o indivíduo em tratamento tem as ca-
racterísticas básicas para o desenrolar satisfatório da terapia.
Poderíamos elencar alguns pontos fundamentais a serem conside-
rados na elaboração do plano terapêutico, que definem as bases da terapia 
em MO, com alguns exemplos ilustrativos.
1. A existência real de disfunção, como por exemplo, postura inade-
quada de lábios e de língua com a possibilidade estrutural e espa-
cial de organização. Um problema funcional. 
2. A percepção do paciente em relação ao motivo que o levou a pro-
curar atendimento. A verificação da queixa é fundamental afinal, 
grande parte dos pacientes relata, por exemplo, que “a língua em-
purra os dentes”, mas nunca percebeu nem mesmo a existência 
da língua, quanto mais onde ela apoia. O que ocorre é que nem 
sempre a queixa é do paciente, mas sim do profissional que o en-
caminhou. Alguns pacientes não reconhecem essa queixa e sem 
essa não há o que ser tratado. Nesses casos será preciso direcionar 
a percepção para gerar uma queixa. 
3. A atenção e interesse do paciente em relação ao problema. Mui-
tas vezes pacientes adultos narram o motivo da consulta ao Fo-
noaudiólogo, com distorções importantes na fala, e mencionam 
que não se importam com esse padrão. Por outro lado, existem 
aqueles que atribuem aos distúrbios miofuncionais suas outras di-
ficuldades. Os esclarecimentos quanto ao que é importante e por 
que tratar deve ser explorado. 
4. A determinação dos músculos modificados funcionalmente, pela 
manutenção sistemática da função alterada, e quais músculos são 
esses especificamente. Esse é o papel do terapeuta, mas o pacien-
te deve ser esclarecido em relação à musculatura e suas atribui-
ções funcionais.
34
Ca
pí
tu
lo
 2 5. A dependência entre as funções estomatognáticas, em especial da 
respiração, que possibilitará ou não a mudança da postura habitu-
al, do padrão mastigatório, de deglutição e de fala. Outros trata-
mentos associados podem ser necessários.
6. Querer mudar ou melhorar. Não basta ter consciência do proble-
ma – é preciso estar incomodado com ele para conseguir direcio-
nar ou descobrir outro modelo funcional e automatizá-lo.
Apesar de que muitos desses pontos dependam do interesse e ade-
são do paciente ao processo terapêutico, cabe ao terapeuta criar condições 
para isso. A motivação para o tratamento e principalmente para as mudanças 
funcionais que são almejadas deve ser enfocada durante todo o processo, re-
petidas vezes. Para isso, o papel dofonoaudiólogo é decisivo e deve ser calca-
do em reforços positivos. A constante apresentação dos ganhos e mudanças 
que vão sendo obtidas, mesmo as pequenas, deve ser relevada. 
O entrosamento terapeuta/paciente também é crucial. Nesse senti-
do a empatia é importante, mas alguns valores pessoais devem ser deixados 
de lado num processo terapêutico. Por exemplo: com crianças não se deve 
reproduzir o papel familiar – os limites na terapia devem ser impostos, mas 
com foco profissional. Ilustrando, podemos citar a criança que sempre vem 
à terapia com as mãos, boca e dentes sujos. Esse fato merece ser abordado 
diretamente, pois se não há incômodo, observação e cuidado nem quanto à 
higiene, imagine como será a percepção e estimulação da região oral. Seja 
direto. Leve o paciente para se lavar e escovar os dentes aproveitando a si-
tuação para explicar a importância dos estímulos. Aproveite a situação de 
higiene para direcionar um exercício ou treino funcional – por exemplo, por 
onde respira quando escova os dentes, e assim por diante. A família deverá 
ser igualmente orientada com relação a isso, sem deixar que pareça uma crí-
tica ou intromissão quanto aos hábitos de higiene. 
De maneira geral, a base da motivação encontra-se na compreen-
são do problema e do que realmente pode ser obtido. Esses pontos devem 
ser continuamente explicados durante o processo terapêutico, desde o pri-
meiro encontro, ainda na avaliação. Devem ser checados, também conti-
nuamente, para que o terapeuta possa acompanhar o que realmente foi 
compreendido e para que tenha como retomar os pontos que não estão 
claros ao paciente. 
35
Ba
se
s 
da
 T
er
ap
ia
 d
e 
M
ot
ri
ci
da
de
 O
ro
fa
ci
al
 –
 E
st
he
r M
an
de
lb
au
m
 G
on
ça
lv
es
 B
ia
nc
hi
niNesse sentido, um protocolo básico de tratamento fonoaudiológico 
miofuncional orofacial deve ser seguido, com controle de objetivos e princi-
palmente de prazos. 
Em nossos estudos e acompanhamentos clínicos temos verificado 
que para pacientes com alterações miofuncionais associadas a encaminha-
mento ortodôntico, otorrinolaringológico e/ou busca própria do indivíduo, os 
resultados da terapia fonoaudiológica miofuncional podem ser obtidos com 
média de tempo de terapia semanal de 4 meses (mínimo de dois meses e 
meio e máximo de seis meses, aproximadamente). O acompanhamento após 
o tratamento é mantido, visando verificar a eficácia da terapêutica institu-
ída e manutenção dos resultados. Os resultados dos tratamentos e dessas 
revisões têm mostrado a fala como a função mais estável. O acompanha-
mento longitudinal tem mostrado que a respiração, mastigação e deglutição 
são funções de mais difícil estabilidade após a alta inicial, necessitando de 
manutenção cuidadosa. As revisões e acompanhamentos a médio e longo 
prazo favorecem esse tipo de reforço e verificação.
Processo Terapêutico em Motricidade Orofacial
O tratamento é um processo que envolve o preparo dos músculos 
(geralmente feito com exercícios), o desenvolvimento da percepção do que 
está alterado e o treinamento funcional corretivo dirigido. O planejamento 
terapêutico é sempre individual e direcionado para as dificuldades específi-
cas constatadas. 
O atendimento de Motricidade Orofacial segue basicamente um 
protocolo que inclui: 
1. Avaliação inicial
2. Documentação inicial 
3. Planejamento terapêutico
a. Definição da frequência das terapias
b. Planejamento específico muscular
c. Planejamento específico funcional
4. Reavaliações periódicas com documentação completa 
5. Alta ou finalização assistida do processo
Cada um desses itens deve ser revisado e analisado constantemen-
te. Podemos sintetizar alguns pontos importantes de cada um deles:
36
Ca
pí
tu
lo
 2 1. Avaliação inicial: anamnese e o exame clínico. A partir dessa 
avaliação serão definidos os pontos fundamentais do caso 
tais como: necessidade ou não de exames complementares 
(eletromiografia de superfície, exames de imagens ou diag-
nóstico de outros profissionais); diagnóstico e prognóstico 
miofuncionais; planejamento terapêutico quanto ao número 
e frequência das terapias. Desde o início da avaliação já deve 
ser iniciado o processo de motivação para o tratamento. Além 
da cuidadosa verificação da queixa, deve-se questionar so-
bre o conhecimento do paciente (e/ou da família) sobre esse 
tipo de terapêutica fonoaudiológica. Pergunte diretamente: 
o que você acha que o fonoaudiólogo tem a ver com isso? 
Você verá quantas respostas surpreendentes irão surgir. Ex-
plique em seguida as relações: o que será realizado e porque, 
certificando-se que foi compreendido. Durante o exame os 
procedimentos e achados deverão ser apontados e imediata-
mente explicados. Todo esse cuidado busca a compreensão 
do que será tratado.
2. Documentação inicial: O exame será fotografado e filmado 
para complementar o processo de avaliação clínica e possi-
bilitar revisões. Após a avaliação deverá ser feito um relatório 
com os resultados do exame e associações, a conduta e as in-
dicações necessárias. Na primeira terapia esse material deverá 
ser mostrado ao paciente para despertar a percepção, mas já 
com foco explicativo e com reprodução voluntária do compor-
tamento funcional que está sendo mostrado.
3. Planejamento terapêutico
a. Frequência das terapias: depende da idade do paciente e 
da gravidade do problema diagnosticado na avaliação. É co-
mum eleger-se uma vez por semana, eventualmente duas. 
Existem ainda casos que podem realizar um processo tera-
pêutico mais flexível, desde que se conte com apoio familiar 
ou com revisões e direcionamento à distância (web).
b. Planejamento específico muscular: definição quanto à ne-
cessidade de exercícios e quais, dependendo estritamente 
37
Ba
se
s 
da
 T
er
ap
ia
 d
e 
M
ot
ri
ci
da
de
 O
ro
fa
ci
al
 –
 E
st
he
r M
an
de
lb
au
m
 G
on
ça
lv
es
 B
ia
nc
hi
nidos dados de avaliação e dos objetivos a serem alcançados. 
Nesse ponto, especial atenção deve ser dada à situação fun-
cional que o paciente apresenta e ao que quer ser alcan-
çado. Por exemplo: situação funcional com língua projetada 
anteriormente e exame da musculatura mostrando muscu-
latura extrínseca de língua propulsora prevalente, associa-
da à intrínseca (transversos) em hipotonia funcional. Nesse 
exemplo não devem ser realizados exercícios de contração 
dos transversos ou afilamento de língua com essa projeta-
da para fora da boca, pois manteríamos a valorização dos 
extrínsecos propulsores, reproduzindo o modelo funcional 
que se quer retirar. O foco em apenas um grupo muscular 
pode não ser adequado para o outro.É apropriado mostrar 
desenhos ou fotos dos músculos, vídeos ou qualquer outro 
apoio que torne o exercício escolhido compreensível para 
o paciente. Ele deve compreender por que deve fazer 
determinado exercício e qual a relação desse com o ob-
jetivo funcional almejado. Nenhum exercício deve ser 
solicitado sem vínculo com os objetivos funcionais. Os 
exercícios deverão ser distribuídos e associados à rotina 
do dia a dia. Não recomendamos que faça os exercícios em 
uma única etapa ou em horários específicos. Os exercícios 
deverão ser realizados várias vezes ao dia, principalmente 
associados com suas atividades normais como ao escovar 
os dentes, voltar da escola, etc. Assim a musculatura será 
estimulada o dia todo e o paciente se lembrará de que deve 
estar atento à postura e funcionalidade orofacial. 
c. Planejamento específico funcional: definição dos treinos 
funcionais que serão trabalhados em terapia e como serão 
solicitados em casa. Os treinos são divididos em perceptuais 
e corretivos. Os treinos perceptuais referem-se à realização 
do modelo que o paciente tem, por meio de reprodução 
voluntária do que faz automaticamente. Solicita-se então a 
descrição dos apoios usuais, contatos das estruturas – quais 
estruturas e onde se tocam – em cada uma das funções. 
Dessa forma, busca-se que o paciente sinta o que faz e 
38
Ca
pí
tu
lo
 2 descreva detalhadamente.O terapeuta deverá conseguir 
fazer como o paciente após suas narrações. A cada tenta-
tiva, por tratar-se de controle voluntário, é esperado que o 
paciente modifique gradativamente o que e como faz de-
terminada função.
d. Os treinos corretivos devem ser direcionados pelo tera-
peuta e orientados de maneira facilitadora inicialmente. 
Por exemplo: para possibilitar a percepção dos movimen-
tos desenvolvidos durante a mastigação pode-se direcionar 
mastigação unilateral. Cada porção deverá ser mastigada 
apenas de um lado, alternando-o na próxima porção. Des-
sa forma, os movimentos labiais, de bucinadores, de língua 
e de mandíbula podem ser percebidos mais facilmente, as-
sim como a migração do bolo alimentar para região pos-
terior da boca pela ação associada de sucção. A variação 
do tipo de alimento oferecido em cada terapia também 
mostrará as diferenças quanto ao número de ciclos mas-
tigatórios, número de deglutições por porção e tempo de 
mastigação. Durante as terapias deverá ser explicado qual 
grupo muscular está sendo trabalhado e por que, tanto nos 
exercícios quanto na realização dos treinos funcionais. Se o 
paciente compreender o que propomos, a realização do ex-
ercício e dos treinos fará mais sentido. Explicar sempre, que 
só o exercício não é eficaz. Fazer terapia fonoaudiologia de 
Motricidade Orofacial significa mudar e reprogramar algo 
que não está adequado e está automático, portanto terá 
que treinar essas mudanças. O apoio de vídeos, realizados 
e analisados numa mesma sessão de terapia, auxilia muito. 
Por exemplo: o paciente acaba de deglutir corretamente, 
pois estava realizando a deglutição passo a passo sob o 
comando do terapeuta e em seguida realiza uma segunda 
deglutição, na maioria das vezes imediata, no padrão inad-
equado que se encontra automatizado. Tendo sido filmado, 
mostra-se ao paciente o comportamento recém-realizado 
e é ele quem deverá constatar a segunda deglutição fora 
do que foi direcionado.Direcionar instruções funcionais, e 
39
Ba
se
s 
da
 T
er
ap
ia
 d
e 
M
ot
ri
ci
da
de
 O
ro
fa
ci
al
 –
 E
st
he
r M
an
de
lb
au
m
 G
on
ça
lv
es
 B
ia
nc
hi
nisolicitar os treinos de como faz usualmente (treino percep-
tual) e do que deve fazer (treino corretivo) de forma inter-
calada. Usar as situações funcionais propícias do dia a dia: 
enquanto estuda, no computador, enquanto se alimenta, 
entre outras. Dessa forma é possível fazer o que foi solicita-
do mesmo que o paciente não tenha tempo para parar suas 
atividades, embora sejam necessárias percepção e atenção 
constante até o padrão adequado ser automatizado. Isso é 
o que irá permitir a estabilidade final do trabalho.
4. Reavaliação e nova documentação completa. Para trabalhar 
com controle de resultados e de prazos devem ser realizadas 
reavaliações periódicas após o início das terapias (em torno 
de seis a oito semanas), dependendo do tipo de problema e 
dos objetivos propostos. A reavaliação deve ser analisada pelo 
terapeuta, retomando-se a queixa, a documentação anterior 
e os objetivos que tiverem sido elencados na definição do 
caso. Essa análise, comparada com a documentação da aval-
iação inicial deve ser apresentada ao paciente para que ele 
aponte as mudanças, o que melhorou e o que falta. Portanto, 
esse processo serve para o paciente e para o terapeuta verifi-
car os ganhos e o que falta. Acostuma-se com a característica 
do paciente, compreende-se facilmente o que ele diz e assim 
pode-se perder a real evolução do tratamento. Afinal as sema-
nas passam rapidamente e nem se nota quantas sessões foram 
realizadas. O paciente por sua vez vai perdendo a motivação 
se não vir os resultados. As faltas e atrasos devem ser com-
putadas e apresentadas nessa reavaliação, pois podem definir 
perdas na obtenção dos objetivos e, consequentemente, no 
tempo do tratamento. Porém, mais que isso deve ser cuida-
dosamente analisado. Atrasos e faltas constantes, mesmo que 
“justificados” podem indicar desinteresse e nesse caso uma 
parada, para analisar todo o processo, deve ser realizada.
5. Alta ou finalização assistida. O término do tratamento é ba-
seado sempre nas análises das reavaliações realizadas a cada 
seis ou oito semanas. Quando definido (juntamente com o pa-
ciente) que os objetivos foram alcançados e, principalmente, 
que se encontram estáveis, o tratamento está terminado. Essa 
40
Ca
pí
tu
lo
 2 finalização deverá ser acompanhada em revisões periódicas, 
com frequência mensal, seguindo-se para bimestral. Assim, o 
paciente deve retornar algumas vezes para verificação da esta-
bilidade dos resultados. 
A proposta aqui delineada refere-se aos princípios básicos da terapia 
em Motricidade Orofacial. Vale ressaltar que a linguagem terapêutica deve 
respeitar faixa etária, nível cultural e viabilidade da proposta dependendo do 
tipo de distúrbio e doença. 
Com crianças, por exemplo, o foco também é direto, porém precisa-
mos criar situações e atividades que interessem a elas. As explicações sobre a 
musculatura e funções orofaciais serão realizadas de forma lúdica, por meio 
de brincadeiras, utilização de softwares próprios e valorização das conquistas. 
As verificações dos vídeos das avaliações e das reavaliações, com repetições 
das cenas que se quer trabalhar, são usualmente bem aceitas e interessantes 
mesmo às crianças menores. Uma grande diferença é também a necessidade 
do envolvimento da família auxiliando o tratamento por meio de ajuda em 
casa. Não se espera que, sozinha, uma criança queira fazer os exercícios e trei-
nos em casa. A família precisa participar do processo, lembrá-la não apenas 
de fazer os treinos, mas principalmente criar condições em casa de melhora 
funcional e seguir as orientações profissionais. 
Com idosos, o fundamental é lembrar-se que eles não são crianças. 
Nunca use diminutivos – é comum ver terapeutas usando-os para falar com 
idosos. A abordagem deve ser respeitosa e não infantil. Pode ser necessário 
ajuda familiar, porém os direcionamentos devem ser pontuais e com as devi-
das explicações buscando o necessário envolvimento. 
Apesar de que a proposta deva sempre ter foco direto, uma tera-
pêutica baseada em motivação e detalhamentos explicativos ficará restrita ou 
inviável para pacientes com deficiência cognitiva. Nesses casos, assim como 
para várias doenças ou alterações estruturais que reflitam em alterações mio-
funcionais orofaciais, outros tipos de processos diretivos específicos podem 
ser necessários. 
 
41
Ba
se
s 
da
 T
er
ap
ia
 d
e 
M
ot
ri
ci
da
de
 O
ro
fa
ci
al
 –
 E
st
he
r M
an
de
lb
au
m
 G
on
ça
lv
es
 B
ia
nc
hi
niBibliografia recomendada
Beurskens CHG, Heymans PG. Positive effects of mime therapy on sequelae 
of facial paralysis: stiffness, lip mobility, and social and physical aspects of 
facial disability. Otol. Neurotol. 2003; 24:677-681. 
Bianchini, EMG. A ajuda fonoaudiológica. In: Bianchini EMG (organizadora) 
Articulação Temporomandibular, Implicações, Limitações e Possibilida-
des Fonoaudiológicas. Carapicuíba/SP: Pró-Fono, 2010. p. 321-61.
Bianchini EMG. Results and efficiency of the orofacial treatment – longitudi-
nal study. Int J of Orofacial Myology, 2010; 36:61
Bianchini EMG, Luz JGC. Nossos casos especiais In Bianchini EMG. Articulação 
Temporomandibular: Implicações, Limitações e Possibilidades Fonoau-
diológicas, Carapicuíba: Pró-Fono, 2010. p.363-401
Felicio CM; Melchior M; Silva MAMR. Effects of orofacial myofunctional ther-
apy on temporomandibular disorders. Cranio. Journal of Craniomandibu-
lar Practice, 2010; 28:249-59.
Marchesan, IQ. Intervenção fonoaudiológica nas alterações da mastigação e 
deglutição. In: Fernandes FDM, Mendes BCA, Navas ALPGP (organizado-
res) Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo/SP: Roca; 2010. p.471-76.
Marchesan IQ, Sanseverino NT. Fonoaudiologia e Ortodontia/ Ortopedia Fa-
cial. Esclarecendo dúvidas sobre o trabalho conjunto. São José dos Cam-
pos – SP. Pulso, 2004. 
Tanrikulu R, Erol B, Görgün B, Söker M. Thecontribution to success of various 
methods of treatment of temporomandibular joint ankylosis (a statistical 
study containing 24 cases). Turk J Pediatr. 2005; 47(3):261-265.
42
Ca
pí
tu
lo
 2
43
Ex
er
cí
ci
os
 U
til
iz
ad
os
 n
a 
Te
ra
pi
a 
de
 M
ot
ri
ci
da
de
 O
ro
fa
ci
al
 (q
ua
nd
o 
e 
po
r 
qu
e 
uti
liz
á-
lo
s)
 –
 A
dr
ia
na
 R
ah
al
Capítulo 3
Exercícios Utilizados na Terapia de Motricidade Orofacial 
(quando e por que utilizá-los)
Adriana Rahal
Introdução
Inicio este capítulo introduzindo e diferenciando duas linhas de ra-
ciocínio dentro da Área de Motricidade Orofacial, as quais têm como objetivo 
o restabelecimento das funções orofaciais. 
A primeira destas, que é utilizada desde os primórdios da Motrici-
dade Orofacial, é a mioterapia, a qual visa modificar o comportamento mus-
cular por meio da execução de exercícios. A segunda linha, terapia miofun-
cional, começou a ser utilizada para atuar na modificação muscular por meio 
do restabelecimento das funções orofaciais. Ambas têm um objetivo comum: 
adequar tais funções, como respiração, sucção, mastigação, deglutição e fala. 
É, no entanto, importante esclarecer que são linhas terapêuticas completa-
mente diferentes; é necessário que, ao eleger uma destas, o terapeuta tenha 
total conhecimento do porquê dessa escolha. 
Antes de o terapeuta escolher os exercícios que trabalhará, é funda-
mental que se realize a avaliação fonoaudiológica que compreende anamne-
se e exame clínico. Atualmente, faz-se uso de protocolos específicos de ava-
liação na área de Motricidade Orofacial, como o protocolo MBGR (Genaro et 
al., 2009) que auxiliam muito o diagnóstico clínico e também o planejamento 
terapêutico. Além disso, recentemente na Fonoaudiologia, têm se realizado 
44
Ca
pí
tu
lo
 3 exames complementares, como a eletromiografia de superfície (EMG), que é 
um exame considerado objetivo, uma vez que quantifica a atividade elétrica 
de um músculo durante a contração muscular (Rahal e Goffi-Gomez, 2009). 
O exame clínico, em conjunto com os dados eletromiográficos, auxilia o fono-
audiólogo em seu diagnóstico.
O sistema estomatognático é formado por estruturas ósseas, den-
tárias, vasculares, articulares e músculos orofaciais, dentre os quais estão os 
mastigatórios, supra-hioideos, infra-hioideos, língua, palato mole, faringe e 
todos da expressão facial. Como todo sistema, tem características que lhe 
são próprias, mas depende de um bom funcionamento de outros sistemas, 
como o nervoso e o circulatório, pois é parte integrante do organismo. Para o 
fonoaudiólogo que trabalha na área de Motricidade Orofacial, é de extrema 
importância o conhecimento de todo o sistema estomatognático para que 
possa identificar quando há uma inadequação e assim trabalhar adequada-
mente.
Considero importante que conversemos sobre isso, pois percebo 
que muitos terapeutas utilizam os exercícios como um meio de preencher 
o vazio da terapia, sem uma meta determinada. O exercício não deve ser o 
objetivo da terapia, mas sim uma maneira para que possibilite ao paciente 
melhorar sua percepção e adequar seu tônus. Quando se começa a realizar 
exercícios diversos sem se saber a razão e trabalhar com todos os músculos 
simultaneamente, com certeza se está no caminho errado.
 
Aplicabilidade dos Exercícios na Clínica
Antes de se pensar na realização de exercícios, fazem-se necessá-
rias algumas considerações:
• O terapeuta deve ter conhecimento anatômico e fisiológico de todos 
os músculos orofaciais.
• A realização de exercícios e/ou massagens deve seguir sempre a direção 
de contração das fibras musculares quando se pretende aumentar o tô-
nus e, na direção oposta, quando a intenção é alongar a musculatura.
• A terapia miofuncional não deve ser preenchida com exercícios, uma 
vez que, para o músculo sofrer transformações, será necessário reali-
zar exercícios diários, duas ou três vezes ao dia, durante um período de 
três meses (é um tempo suficiente para que o músculo sofra mudança 
em seu estado, comprovado por meio da eletromiografia de superfície)
45
Ex
er
cí
ci
os
 U
til
iz
ad
os
 n
a 
Te
ra
pi
a 
de
 M
ot
ri
ci
da
de
 O
ro
fa
ci
al
 (q
ua
nd
o 
e 
po
r 
qu
e 
uti
liz
á-
lo
s)
 –
 A
dr
ia
na
 R
ah
al• Não é necessário solicitar ao paciente que faça vários tipos de exercícios 
para um único músculo. A mudança constante de exercícios leva a uma 
resposta mais lenta das fibras musculares e de suas unidades motoras. 
Dessa maneira, é prudente manter os mesmos exercícios por um perío-
do que compreende dois a três meses. 
• A escolha de exercícios deve estar relacionada aos músculos orofaciais 
que serão importantes para adequar determinada função orofacial.
• É necessário que o paciente compreenda por que realizar determinado 
exercício, pois isso pode garantir que ele o fará no seu dia a dia.
• É fundamental que os exercícios comecem a fazer parte das ativida-
des de vida diária do paciente. Como sugestão, pode-se associá-los aos 
momentos de escovação dentária.
• Sempre que há uma assimetria entre os lados da face, um lado com tô-
nus melhor, devem ser feitos exercícios seguindo a proporção dois para 
um, isto é, duas vezes para o lado pior e uma vez para o lado melhor.
• É importante orientar o paciente a deglutir no final da série de exercí-
cios para que relaxe sua musculatura.
Neste momento, é fundamental diferenciar os tipos de exercícios 
que podem ser utilizados. Existem exercícios isotônicos, que têm como ob-
jetivo melhorar a mobilidade do músculo e são indicados para aumentar a 
oxigenação e o aumento da amplitude dos movimentos. Normalmente são 
realizados com maior velocidade; exercícios isométricos, que têm como ob-
jetivo aumentar a força dos músculos e são efetuados de modo mais lento 
e, muitas vezes, mantendo a contração; exercícios isocinéticos, que são co-
nhecidos como exercícios de contra resistência, isto é, resistência contrária ao 
movimento, fazendo com que ocorra um trabalho mais intenso na ativação 
das unidades motoras e, consequentemente, há um aumento da força e tam-
bém da mobilidade. É importante ressaltar que todos os músculos orofaciais 
têm possibilidade de serem trabalhados das três maneiras. É fundamental es-
colher o tipo de exercício de acordo com as necessidades do paciente. Cabe 
ressaltar que quando há necessidade de fazer os três tipos de exercícios, é 
interessante iniciar pelo isotônico, seguido pelo isométrico e, por fim, o isoci-
nético. Esta ordem está relacionada ao grau de dificuldade, afinal, não é indi-
cado solicitar a um paciente realizar um exercício isocinético se seu músculo 
46
Ca
pí
tu
lo
 3 está flácido. Será preciso que antes ele trabalhe com exercícios isométricos 
para melhorar seu tônus. 
As massagens podem ser indicadas com objetivos distintos. Para 
aumentar o tônus muscular, devem ser feitas, externamente, no sentido da 
contração das fibras musculares. Visando ainda o fortalecimento muscular, 
podem-se fazer as massagens indutoras, isto é, realizadas com o músculo 
em contração. Por exemplo, para fortalecimento do músculo bucinador, 
mantém-se os lábios abertos retraídos e realizam-se massagens com os de-
dos externamente, iniciando nas comissuras labiais e seguindo em direção as 
orelhas. Para alongar o músculo, podem ser feitas dois tipos de massagens 
sempre no sentido contrário a contração do músculo. O primeiro externa-
mente e o segundo de modo bi-digital, ou seja, um dos dedos é colocado 
na fibra muscular que se pretende alongar internamente e o outro segue na 
mesma direção só que externamente. 
Para se obter resultados positivos, a terapia miofuncional deve 
seguir alguns passos. O primeiro a ser trabalhado é a conscientização, isto 
é, o terapeuta deve explicar ao paciente qual seu problema, quais funções 
orofaciais estão alteradas, qual será seu prognóstico e quanto tempo deverá 
permanecer em terapia. Além disso, o paciente precisa entender o proces-
so fisiológico normal de uma determinadafunção orofacial. Por exemplo, é 
fundamental que um paciente respirador oral entenda o que significa ser um 
respirador nasal, quais as diferenças entre ser respirador oral e nasal e o que 
isso pode acarretar em seu desenvolvimento ósseo e/ou muscular. Além do 
mais, é crucial que o terapeuta esclareça os limites do tratamento. Digo isso 
porque muitas vezes o fonoaudiólogo não tem condições de curar o paciente 
por uma série de variáveis, mas pode minimizar suas alterações, auxiliando-
-o muito. Em seguida, deve-se trabalhar com a percepção, que a meu ver, 
é o passo mais difícil e mais importante para o sucesso terapêutico. Difícil 
porque o paciente precisa perceber e sentir o que faz errado para que possa 
começar a se corrigir. Este é um processo que ocorre inicialmente nas ses-
sões terapêuticas para que possa gradativamente ser transferido para seu 
dia a dia. Costuma ser demorado e muitas vezes o fonoaudiólogo abandona 
esta etapa. Simultaneamente ao trabalho com percepção, devem-se realizar 
exercícios que auxiliam o trabalho com a percepção. Desta forma, o pacien-
te vai aos poucos percebendo as diferenças na musculatura que está sendo 
trabalhada. E por fim, o trabalho com a automatização. Neste momento, o 
47
Ex
er
cí
ci
os
 U
til
iz
ad
os
 n
a 
Te
ra
pi
a 
de
 M
ot
ri
ci
da
de
 O
ro
fa
ci
al
 (q
ua
nd
o 
e 
po
r 
qu
e 
uti
liz
á-
lo
s)
 –
 A
dr
ia
na
 R
ah
alpaciente já tem condições para realizar determinada função adequadamente 
e deve ser capaz de espontaneamente se auto corrigir.
Poderia ter escrito um capítulo com uma lista enorme de exercícios, 
mas antes de dar qualquer um deles, julguei melhor esclarecer esses aspec-
tos, que considero muito mais importantes do que passar exercícios que na 
maioria das vezes não faz sentido algum para o paciente. Que fique claro: 
não sou contra os exercícios, desde que eles façam sentido para o tratamento 
miofuncional. É ainda mais importante discutir que cada paciente é único, 
com uma alteração específica e que jamais se pode generalizar os exercícios. 
Tudo está relacionado às condições estruturais e funcionais de cada paciente.
A seguir vou exemplificar para, alguns grupos musculares, dois ti-
pos de exercícios:
Músculos levantadores da mandíbula (temporal, masseter e pteri-
goideo medial):
•	 Objetivo de fortalecer: lábios para dentro com massagem in-
dutora no sentido da contração muscular (oito repetições).
•	 Objetivo de alongar: dentes entreabertos realizar massagens 
externas no sentido contrário a contração muscular (10 vezes).
Músculo bucinador:
•	 Objetivo de fortalecer: com os dentes fechados, o paciente deve 
colocar o dedo indicador na região interna da bochecha e forçá-la 
para fora. Em seguida deverá forçar o fechamento da bochecha 
fazendo um bico com os lábios. (cinco vezes de cada lado). 
•	 Objetivo de alongar: massagens bi-digitais no sentido con-
trário à contração, isto é da orelha em direção a comissura 
labial ( cinco vezes de cada lado).
Músculo orbicular da boca:
•	 Objetivo de fortalecer: lábios para dentro, manter três segun-
dos e estalar (repetir oito vezes).
•	 Objetivo de alongar: com massagens bi-digitais alongar o 
filtro e orbicular da boca, iniciando na região do nariz para 
baixo (8-10 vezes).
48
Ca
pí
tu
lo
 3 Músculos supra-hioideos:
•	 Objetivo de fortalecer: varredura com a ponta da língua 
primeiro com a boca aberta e em seguida com a boca fecha-
da (10 repetições).
•	 Objetivo de fortalecer: forçar ponta da língua na região 
da papila palatina durante três segundos e relaxar (8-10 
repetições). O tempo de contração pode ir aumentando gra-
dativamente, podendo chegar até dez segundos.
Musculatura extrínseca da língua:
•	 Objetivo de fortalecer: língua sugada em palato, manter três 
segundos e estalar (8-10 repetições). O tempo de contração 
pode ir aumentando gradativamente, podendo chegar até 10 
segundos.
•	 Objetivo de fortalecer: forçar com a ponta do dedo indica-
dor o terço anterior da língua dentro da boca manter três 
segundos e relaxar (5-8 repetições). O tempo de contração 
pode ir aumentando gradativamente, podendo chegar até 
oito segundos.
Musculatura intrínseca da língua:
•	 Objetivo de fortalecer: língua afilada manter três segundos 
e relaxar (5-8 repetições). O tempo de contração pode ir au-
mentando gradativamente, podendo chegar até oito segun-
dos.
•	 Objetivo de fortalecer: levar a língua afilada para as comis-
suras labiais lentamente sem encostar em dentes incisivos e 
lábio inferior (cinco vezes para cada lado). 
Considerações finais
É importante que o fonoaudiólogo antes de pensar em exercício te-
nha em mãos o planejamento terapêutico que só poderá ser realizado depois 
de seu diagnóstico clínico. E, jamais se esquecer de que cada paciente é único 
com suas particularidades e limitações. Portanto, não é admissível realizar o 
mesmo tipo de exercício com todos os pacientes. Vale sempre lembrar isso.
49
Ex
er
cí
ci
os
 U
til
iz
ad
os
 n
a 
Te
ra
pi
a 
de
 M
ot
ri
ci
da
de
 O
ro
fa
ci
al
 (q
ua
nd
o 
e 
po
r 
qu
e 
uti
liz
á-
lo
s)
 –
 A
dr
ia
na
 R
ah
alReferências bibliográficas
Berretin-Felix G, Araújo ES. Fisiologia da contração do músculo esquelético 
e do exercício aplicada à Motricidade Orofacial. In: Silva HJ, Cunha DA. 
(org.). O Sistema Estomatognático: anatomofisiologia e desenvolvimen-
to. São José dos Campos: Pulso Editorial; 2011.
Bianchini EMG. A cefalometria nas alterações miofuncionais orais – diagnós-
tico e tratamento fonoaudiológico. São Paulo: Pró-Fono Departamento 
Editorial; 1993.
Cattoni DM. Alterações da mastigação e da deglutição. In: Ferreira LP, Befi-
Lopes DM, Limongi SCO.Org do Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo: 
Roca;. 2004. p. 277-92.
Genaro KF, Berretin-Felix G, Rehder MIBC, Marchesan IQ. Avaliação miofun-
cional orofacial – protocolo MBGR. Rev CEFAC. 2009 Abr-Jun;11(2):237-25.
Goldberg S. Descomplicando Fisiologia. Porto Alegre: Artes Médicas: 1997.
Marchesan IQ. Motricidade Oral – visão clínica do trabalho fonoaudiológico 
integrado com outras especialidades. São Paulo: Pancast; 1993.
Marchesan IQ. Fundamentos em Fonoaudiologia – Aspectos Clínicos da Mot-
ricidade Oral. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005.
McArdle WD, Katch FI, Katch VL. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e 
desempenho humano. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998.
Rahal A, Goffi-Gomez, MV. Clinical and electromyographic study of lateral 
preference in mastication in patients with longstanding peripheral facial 
paralysis. International Journal of Orofacial Myology. 2009 Nov; 35: 19-
32.
50
Ca
pí
tu
lo
 3
51
As
pe
ct
os
 F
is
io
ló
gi
co
s 
do
s 
Re
ce
pt
or
es
 E
st
om
at
og
ná
tic
os
 e
 s
ua
 Im
po
rt
ân
ci
a 
na
 T
er
ap
ia
 d
e 
M
ot
ric
id
ad
e 
O
ro
fa
ci
al
 –
 Fr
an
kl
in
 S
us
an
ib
ar
 &
 C
yn
th
ia
 D
ac
ill
o
Capítulo 4
Aspectos Fisiológicos dos Receptores Estomatognáticos e 
sua Importância na Terapia de Motricidade Orofacial
Franklin Susanibar 
Cynthia Dacillo
Introdução
A harmonia das funções orgânicas estão regidas e reguladas pelo 
sistema nervoso, graças à informação que o recebe dos diversos receptores 
como da visão, tato, olfato, gustação, movimento, audição, dor, entre ou-
tros1-7. Estes informarão o estado externo e interno do organismo frente às 
demandas fisiológicas exercidas, produzindo reações reflexas imediatas ou 
armazenadas (“memorizadas”)1-3, como, por exemplo, a fome, que deman-
dará a escolha dos alimentos, que posteriormente serão mastigados, deglu-
tidos, digeridos, entre outros processos que acontecerão na alimentação. O 
sistema nervoso controlará e coordenará estas funções pelo fenômeno de 
reflexos armazenados pela experiência3. Além de facilitar as demandas fisio-
lógicas, os receptores também contribuirão para que o sistema nervoso crie 
adaptações frente às dificuldades que se apresentem durante um processo 
fisiológico ou patológico; por exemplo, no primeiro

Outros materiais