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Heterosídeos cardiotônicos Conceito, estruturas químicas e biossíntese dos heterosídeos cardiotônicos são encontrados na natureza, em plantas da família das angiospermas, e em alguns anfíbios e lepidópteros, na produção de toxinas ou venenos contra predadores. Uma das plantas mais conhecidas pela presença de heterosídeos cardiotônicos é a dedaleira (Digitalis lanata e Digitalis purpúrea). Heterosídeos cardiotônicos ou glicosídeos cardiotônicos possui a capacidade de se ligar a superfície extracelular da bomba sódio potássio. Quimicamente → são compostos glicosilados com um núcleo esteroidal, uma lactona na posição 17 e açúcar ligado ao carbono 3. Sua estrutura química é constituída por moléculas de açúcares ligadas à aglicona esteroidal, por meio da hidroxila β-posicionada em C-3, sendo que a maioria apresenta de um a quatro hexoses, em ligações 1,4- β-glicosídicas. Todas as geninas apresentam duas hidroxilas β-posicionadas, uma secundária em C-3 e uma terciária em C-14; um hidrogênio ou uma hidroxila em C-5; metila em C-13. um anel lactônico α ou β, insaturado na posição C-17 β. Geninas podem ser separadas em duas classes de heterosídeos cardiotônicos → Cardenolídeos → Bufadienolídeos São classificados em primários e secundários. Os primários são encontrados, geralmente, em plantas frescas e apresentam uma molécula de glicose que pode ser, facilmente, eliminada por hidrólise durante o procedimento de secagem, formando os heterosídeos secundários. Todas as agliconas têm em comum o esqueleto tetracíclico característico dos esteroides. Os heterosídeos são mais potentes que as geninas correspondentes, mas os efeitos tóxicos são similares. A aglicona do heterosídeo retém a atividade cardíaca e a parte osídica confere solubilidade, o que é importante na absorção e distribuição dessas moléculas. A epimerização, que ocorre na ligação C-17, elimina a atividade cardiotônica, à medida que a saturação da lactona diminui. As geninas livres são absorvidas mais rapidamente do que os glicosídeos e são armazenadas, em maior extensão, no Sistema Nervoso Central (SNC) e são com facilidade metabolizadas em epímeros C-3α OH menos ativo. Os resíduos de oses protegem a hidroxila em C-3β de reações de biotransformação, e os 6-desoxiaçúcares conferem maior potência, enquanto a presença de uma OH equatorial em C-4 é importante para a atividade biológica. O precursor da genina esteroidal é o esqualeno. Todos os cardenolídeos são 5β configurados a 5β-redução estereoespecífica da progesterona, que é requerida como etapa para a biossíntese dos glicosídeos cardíacos, em plantas como a dedaleira. As reações estereoespecíficas determinam que todos os cardenolídeos Digitalis são β-configurados C3, C5, C14 e C17. O papel terapêutico dos cardenolídeos é baseado, não só, na estrutura das agliconas, mas também, no tipo e número de unidades de açúcares ligados ao C3. Os cardenolídeos secundários (agliconas) são, ativamente, transportados pelo vacúolo na glicosideotranslocase primária, após a glicosilação por glicosiltransferases citoplasmáticas. Propriedades físico-químicas, extração e análise Os heterosídeos cardiotônicos são substâncias solúveis em água e, ligeiramente, solúveis em etanol e clorofórmio. A presença ou ausência de hidroxilas determina a polaridade da molécula, grau de lipofilia. Os heterosídeos apresentam baixo teor nas plantas e, para seu isolamento, os extratos devem ser concentrados e purificados. Extração dos heterosídeos primários, utilizar plantas frescas ou estabilizadas por congelamento, a inativação enzimática ajuda a manter as cadeias glicosídicas. Extração dos heterosídeos secundários, realizar a secagem da planta que contribui para a perda da molécula de açúcar terminal. Propriedades farmacológicas dos heterosídeos cardiotônicos Entre os heterosídeos cardiotônicos, a digoxina e o lanatosídeo C são utilizados, na prática clínica, para o tratamento da Insuficiência Cardíaca (IC) e controle da taxa de resposta ventricular, em pacientes com fibrilação arterial crônica. O lanatosídeo C pode ser empregado por via intravenosa, digoxina costuma ser associada ao uso de diuréticos, inibidores da enzima conversora de angiotensina, β-bloqueadores ou antagonistas de cálcio. OS heterosídeos cardiotônicos, como a digitoxina e digoxina, são, frequentemente, recomendados para aumentar a força de contração sistólica e prolongar a duração da fase diastólica, em caso de insuficiência cardíaca congestiva. A digoxina é indicada em casos de pacientes com insuficiência. Os heterosídeos cardiotônicos, ainda, são empregados porque melhoram a qualidade de vida e reduzem a taxa de internação. No entanto, são contraindicados em casos de fibrilação ventricular, bloqueio atrioventricular e na idiossincrasia aos digitálicos. Mecanismo de ação na IC, heterosídeos cardiotônicos aumentam o débito cardíaco, melhoram o retorno venoso e reduzem a resistência à ejeção. Com isso, o débito renal e a diurese aumentam, o consumo de oxigênio diminui e a frequência cardíaca é retardada. Estes compostos exercem uma ação inotrópica positiva sobre os músculos cardíacos, aumentando sua força contrátil. A ação inotrópica deriva de uma ligação específica e com alta afinidade à subunidade α da enzima Na+/ K+ ATPase que, uma vez ocupada, provoca a paralisação da bomba Na+/K+. A ação inotrópica deriva de uma ligação específica e com alta afinidade à subunidade α da enzima Na+/ K+ ATPase que, uma vez ocupada, provoca a paralisação da bomba Na+/K+. Quanto mais grupamentos hidroxila houver, mais rapidamente inicia-se a ação e a eliminação dos heterosídeos no organismo. Os efeitos adversos estão, geralmente, relacionados ao uso crônico, também, alguns fatores, como idade avançada, infarto do miocárdio, miocardite, insuficiência renal, hipotassemia, hipercalcemia, entre outras condições podem predispor à toxicidade. A principal toxicidade, mediada por heterosídeos cardiotônicos, é a intoxicação por digoxina, que pode causar arritmias e, também, anormalidades gastrointestinais e do sistema nervoso central.