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Mateus Oliveira - UniFG 1 SP 3.3 – REGISTRO DE REUNIÃO Objetivos: 1- Conceituar intoxicação e interação medicamentosa. 2- Descrever o mecanismo de ação farmacológica dos antitérmicos e analgésicos. 3- Descrever o mecanismo de ação tóxico da substância ingerida. (Paracetamol) 4- Descrever o processo de biotransformação hepática (citocromo P450). 5- Citar as formas de tratamento empregadas nos casos de intoxicação medicamentosa. 6- Descrever o papel da vigilância sanitária no controle dos medicamentos. 1- Conceituar intoxicação e interação medicamentosa. “A intoxicação é a manifestação dos efeitos tóxicos. É um processo patológico causado por substâncias químicas endógenas ou exógenas e caracterizado por desequilíbrio fisiológico, em consequência das alterações bioquímicas no organismo. Esse processo é evidenciado por sinais e sintomas ou mediante exames laboratoriais.” Interações medicamentosas é evento clínico em que os efeitos de um fármaco são alterados pela presença de outro fármaco, alimento, bebida ou algum agente químico ambiental. Constitui causa comum de efeitos adversos. Quando dois medicamentos são administrados, concomitantemente, a um paciente, eles podem agir de forma independente ou interagirem entre si, com aumento ou diminuição de efeito terapêutico ou tóxico de um ou de outro. O desfecho de uma interação medicamentosa pode ser perigoso quando promove aumento da toxicidade de um fármaco. Por exemplo, pacientes que fazem uso de varfarina podem ter sangramentos se passarem a usar um antiinflamatório não-esteróide (AINE) sem reduzir a dose do anticoagulante. Algumas vezes, a interação medicamentosa reduz a eficácia de um fármaco, podendo ser tão nociva quanto o aumento. Por exemplo, tetraciclina sofre quelação por antiácidos e alimentos lácteos, sendo excretada nas fezes, sem produzir o efeito antimicrobiano desejado. Há interações que podem ser benéficas e muito úteis, como na co-prescrição deliberada de anti- hipertensivos e diuréticos, em que esses aumentam o efeito dos primeiros por diminuírem a pseudotolerância dos primeiros. Supostamente, a incidência de problemas é mais alta nos idosos porque a idade afeta o funcionamento de rins e fígado, de modo que muitos fármacos são eliminados muito mais lentamente do organismo. Classificação das interações medicamentosas: Interações farmacocinéticas são aquelas em que um fármaco altera a velocidade ou a extensão de absorção, distribuição, biotransformação ou excreção de outro fármaco. Isto é mais comumente mensurado por mudança em um ou mais parâmetros cinéticos, tais como concentração sérica máxima, área sob a curva, concentração-tempo, meia-vida, quantidade total do fármaco excretado na urina etc. Como diferentes representantes de mesmo grupo farmacológico possuem perfil farmacocinético diferente, as interações podem ocorrer com um fármaco e não obrigatoriamente com outro congênere. As interações farmacocinéticas podem ocorrer pelos mecanismos: 1-Na absorção: • Alteração no pH gastrintestinal. • Adsorção, quelação e outros mecanismos de complexação. • Alteração na motilidade gastrintestinal. • Má absorção causada por fármacos. 2-Na distribuição: • Competição na ligação a proteínas plasmáticas. • Hemodiluição com diminuição de proteínas plasmáticas. 3-Na biotransformação: • Indução enzimática (por barbituratos, carbamazepina, glutetimida, fenitoína, primidona, rifampicina e tabaco). • Inibição enzimática (alopurinol, cloranfenicol, cimetidina, ciprofloxacino, dextropropoxifeno, dissulfiram, eritromicina, fluconazol, fluoxetina, idrocilamida, isoniazida, cetoconazol, metronidazol, fenilbutazona e verapamil). 4-Na excreção: • Alteração no pH urinário. • Alteração na excreção ativa tubular renal. • Alteração no fluxo sangüíneo renal. • Alteração na excreção biliar e ciclo êntero- hepático. Mateus Oliveira - UniFG 2 Interações farmacodinâmicas ocorrem nos sítios de ação dos fármacos, envolvendo os mecanismos pelos quais os efeitos desejados se processam. O efeito resulta da ação dos fármacos envolvidos no mesmo receptor ou enzima. Um fármaco pode aumentar o efeito do agonista por estimular a receptividade de seu receptor celular ou inibir enzimas que o inativam no local de ação. A diminuição de efeito pode dever-se à competição pelo mesmo receptor, tendo o antagonista puro maior afinidade e nenhuma atividade intrínseca. Um exemplo de interação sinérgica no mecanismo de ação é o aumento do espectro bacteriano de trimetoprima e sulfametoxazol que atuam em etapas diferentes de mesma rota metabólica. Interações de efeito ocorrem quando dois ou mais fármacos em uso concomitante têm ações farmacológicas similares ou opostas. Podem produzir sinergias ou antagonismos sem modificar farmacocinética ou mecanismo de ação dos fármacos envolvidos. Por exemplo, álcool reforça o efeito sedativo de hipnóticos e anti-histamínicos. Interações farmacêuticas, também chamadas de incompatibilidade medicamentosa, ocorrem in vitro, isto é, antes da administração dos fármacos no organismo, quando se misturam dois ou mais deles numa mesma seringa, equipo de soro ou outro recipiente. Devem-se a reações fisicoquímicas que resultam em • Alterações organolépticas – evidenciadas como mudanças de cor, consistência (sólidos), opalescência, turvação, formação de cristais, floculação, precipitação, associadas ou não a mudança de atividade farmacológica. • Diminuição da atividade de um ou mais dos fármacos originais. • Inativação de um ou mais fármacos originais. • Formação de novo composto (ativo, inócuo, tóxico). • Aumento da toxicidade de um ou mais dos fármacos originais. A ausência de alterações macroscópicas não garante a inexistência de interação medicamentosa. 2- Descrever o mecanismo de ação farmacológica dos antitérmicos e analgésicos. ➔ Antitérmico Os agentes capazes de desencadear febre são denominados de pirógenos exógenos, e podem ser classificados como infecciosos (vírus, fungos, bactérias e toxinas) e não—infecciosos (complexos antígeno- anticorpo e antígenos resultantes da destruição celular, como a que ocorre na reabsorção de hematomas, necrose tumoral, cicatrização tissular, etc. Quando os pirógenos exógenos entram em contato com os macrófagos teciduais, induzem a produção dos pirógenos endógenos representados, principalmente, pelas interleucinas (IL) 1 e IL-6 e o Fator de Necrose Tumoral Alfa (TNF-α), entre outros, que ganham a corrente sanguínea e se dirigem ao SNC (Sistema Nervoso Central) onde ativam o centro termorregulador localizado na região pré-óptica do hipotálamo para produzir a prostaglandina E2 (PgE2), elemento responsável pela elevação do ponto de termorregulação. Mecanismo de ação de todos antitérmicos é o mesmo: inibem a ação das enzimas cicloxigenases COX1 e COX2 de modo não seletivo. Com isso reduzem a produção da PgE2, a prostaglandina responsável pela elevação da temperatura no termostato hipotalâmico. Mateus Oliveira - UniFG 3 ➔ Analgésico PROSTAGLANDINAS Todos os AINEs atuam inibindo a síntese das PGs. Assim, para entender os AINEs, é preciso compreender a biossíntese e as ações das PGs derivadas de ácidos graxos insaturados que contêm 20 carbonos e incluem uma estru- tura cíclica anelar. (Nota: algumas vezes, esses compostos são denomina- dos eicosanoides; “eicosa” se refere aos 20 átomos de carbono.) A. Papel das prostaglandinas como mediadores locais As PGs e os compostos relacionados são produzidos em quantidades mínimas por praticamente todos os tecidos. Em geral, elas atuam localmente nos tecidos, onde são sintetizadas, sendo rapidamente metabo- lizadas em produtos inativos em seus locais de ação. Portanto, as PGs não circulam em quantidades significativas no sangue. Tromboxanose leucotrienos são lipídeos relacionados sintetizados a partir dos mesmos precursores que as PGs. B. Síntese de prostaglandinas O ácido araquidônico é o principal precursor das PGs e dos compostos relacionados. Ele é componente dos fosfolipídeos das membranas celulares. O ácido araquidônico livre é liberado dos fosfolipídeos teci- duais pela ação da fosfolipase A2 por um processo controlado por hormônios e outros estímulos. Existem duas vias principais para a síntese de eicosanoides a partir do ácido araquidônico: a via da cicloxigenase e a da lipoxigenase. 1. Via da cicloxigenase: Todos os eicosanoides com estrutura anelar (PGs, tromboxanos e prostaciclinas) são sintetizados pela via da cicloxigenase. Foram descritas duas isoformas relacionadas das enzimas cicloxigenases: a cicloxigenase-1 (COX-1) é responsável pela produção fisiológica de prostanoides, e a COX-2 provoca o aumento da produção de prostanoides em locais de doença e inflamação crônicas. A COX-1 é uma “enzima constitutiva” que regula os processos celulares normais, como a citoproteção gástrica, a homeostase vascular, a agregação plaquetária e as funções re- produtiva e renal. A COX-2 é expressa de maneira constitutiva em tecidos, como cérebro, rins e ossos. Sua expressão em outros locais aumenta durante os estados inflamatórios crônicos. Diferenças na forma dos locais de ligação permitiram o desenvolvimento de inibidores COX-2 seletivos (Fig. 36.2). Outra característica diferencial da COX-2 é que sua expressão é induzida por mediadores inflamatórios como o FNT-α e a IL-1, mas pode também ser inibida por glicocorticoides (Fig. 36.3), o que pode contribuir para os efeitos anti-inflamatórios significativos desses fármacos. 2. Via da lipoxigenase: Alternativamente, várias lipoxigenases podem atuar no ácido araquidônico formando leucotrienos (Fig. 36.3). Fármacos antileucotrienos como zileutona, zafirlucaste e montelucaste são opções de tratamento da asma (ver Cap. 29). Mateus Oliveira - UniFG 4 Ações das prostaglandinas Várias das ações das PGs são mediadas por sua ligação a uma ampla variedade de distintos receptores de membrana celular que operam via proteínas G acopladas. As PGs e seus metabólitos, produzidos endogenamente nos tecidos, atuam como sinalizadores locais que fazem o ajuste fino da resposta de um tipo celular específico. Suas funções variam amplamente, dependendo do tecido e das enzimas específicas daquela via e que estão disponíveis naquele local específico. Usos terapêuticos das prostaglandinas As PGs têm seu papel principal na modulação da dor, da inflamação e da febre. Elas também controlam várias funções fisiológicas, como a secreção ácida e a produção de muco no trato gastrintestinal (TGI), a contração uterina e o fluxo de sangue nos rins. As PGs também estão entre os mediadores químicos liberados nos processos alérgicos e infla- matórios. ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDES Os AINEs são um grupo de fármacos quimicamente heterogêneos que se diferenciam na sua atividade antipirética, analgésica e anti-inflamatória. A classe inclui derivados do ácido salicílico (ácido acetilsalicílico [AAS], difluni- sal e salsalato), do ácido própriônico (ibuprofeno, fenoprofeno, flurbiprofeno, cetoprofeno, naproxeno e oxaprozina), do ácido acético (diclofenaco, etodo- laco, indometacina, cetorolaco, nabumetona, sulindaco e tolmetina), do ácido enólico (meloxicam e piroxicam), de fenamatos (ácido mefenâmico e me- clofenamato) e do inibidor COX-2 seletivo (celecoxibe). Eles atuam, principalmente, inibindo as enzimas cicloxigenase que catalisam o primeiro estágio da biossíntese de prostanoides. Isso leva à redução da síntese de PGs, com efeitos desejados e indesejados. (Nota: diferenças na segurança e na eficácia dos AINEs podem ser explicadas pela seletividade relativa das enzimas COX-1 ou COX-2. A inibição da COX-2 parece levar aos efeitos anti-inflamatório e analgésico dos AINEs, ao passo que a inibição da COX-1 é responsável pela prevenção dos eventos cardiovasculares e pela maioria dos eventos adversos. O AAS é diferenciado dos outros AINEs, frequentemente, por ser um inibidor irreversível da atividade da cicloxigenase. 1. Mecanismo de ação: O AAS é um ácido orgânico fraco que acetila irreversivelmente e, assim, inativa a cicloxigenase (Fig. 36.7). Todos os outros AINEs são inibidores reversíveis da cicloxigenase. Os AINEs, inclusive o AAS, realizam três ações terapêuticas principais: reduzem a inflamação (afeito anti-inflamatório), a dor (efeito analgésico) e a febre (efeito antipirético) (Fig. 36.8). Entretanto, como será explicado mais adiante, nem todos os AINEs são igual- mente potentes em cada uma dessas ações. a. Ação anti-inflamatória: A inibição da cicloxigenase diminui a formação de PGs e, assim, modula os aspectos da inflamação nos quais as PGs atuam como mediadoras. Os AINEs inibem a inflamação na artrite, mas não evitam o avanço da doença nem induzem remissão. b. Ação analgésica: Acredita-se que a PGE2 sensibiliza as terminações nervosas à ação da bradicinina, da histamina e de outros mediadores químicos liberados localmente pelo processo inflamatório. Assim, diminuindo a síntese de PGE2, a sensação de dor pode diminuir. Como a COX-2 é expressa durante inflamações e lesões, parece que a inibição dessa enzima é responsável pelo efeito analgésico dos AINEs. Nenhum AINE demonstrou eficácia superior aos demais (a eficácia de todos eles é considerada, em geral, equivalente). Os AINEs são usa- dos, principalmente, para combater dores de leves a moderadas originadas de distúrbios musculosqueléticos. Uma exceção é o cetorolaco, que pode ser usado contra dores mais graves, mas por um curto período. c. Ação antipirética: A febre ocorre quando o “ponto de referência” do centro termorregulador hipotalâmico anterior é aumentado. Isso pode ser causado pela síntese da PGE2, que é estimulada quando agentes endógenos causadores de febre (pirógenos), como as citocinas, são liberados pelos leucócitos ativados por infecção, hipersensibilidade, câncer ou inflamação. Os AINEs diminuem a temperatura corporal em pacientes febris, impedindo a síntese e a liberação da PGE2. Esses fármacos, essencialmente, recolocam o “termostato” no normal. Isso rapidamente baixa a temperatura corporal de pacientes febris, aumentando a dissipação do calor como resultado da vasodilatação periférica e da sudoração. Os AINEs não têm efeito sobre a temperatura normal do organismo. OPIOIDES A propriedade analgésica dos opioides é mediada pri- mariamente pelos receptores μ(mi), que modulam respostas nociceptivas térmicas, mecânicas e químicas. Os receptores κ(kappa) no corno dorsal também contribuem para a analgesia modulando a resposta à nocicepção química e térmica. As encefalinas interagem mais seletivamente com os receptores δ(delta) na periferia. Os três receptores opioides são Mateus Oliveira - UniFG 5 membros da família de receptores acoplados à proteína G e inibem a adenililciclase. Eles também estão associados a canais iônicos, aumentando o efluxo pós-sináptico de K+ (hiperpolarização) ou reduzindo o influxo pré-sináptico de Ca2+, impedindo, assim, o disparo neuronal e a liberação do transmissor (Fig. 14.4) AGONISTAS OPIOIDES A morfina é o principal fármaco analgésico presente no ópio bruto, sendo o protótipo do agonista μ potente. A codeína também está presente no ópio bruto, em menores concentrações, e é menos potente, o que a torna protótipo dos agonistas opioides fracos. Os opioides atualmente disponíveis têm várias diferenças na afinidade pelo receptor, no perfil farmacocinético, nas vias de administração disponíveis e nos efeitos adversos. Mecanismo de ação: A morfina e outros opioides exercem seus efeitos principais interagindo estereoespecificamente com os receptores opioides nasmembranas de certas células no SNC e em outras estruturas anatômicas, como o trato gastrintestinal (TGI) e a bexiga. A morfina atua também em receptores κ na lâmina I e II do corno dorsal da medula espinal. Ela diminui a liberação de substância P que modula a percepção da dor na medula espinal. A morfina também parece inibir a liberação de vários transmissores excitatórios dos terminais nervosos que levam a estímulos nociceptivos(dolorosos). Alguns usos terapêuticos da morfina e outros opioides estão relacionados na Figura Ações: a. Analgesia: A morfina e outros opioides causam analgesia (alívio da dor sem perda de consciência) e aliviam a dor, aumentando o seu limiar no nível da medula espinal e, de forma mais importante, alterando a percepção da dor no cérebro. Os pacientes tratados com opioides continuam conscientes da presença da dor, mas a sensação não é desagradável. A eficácia analgésica máxima de agonistas opioides representativos é mostrada na Figura 14.7. Mateus Oliveira - UniFG 6 3- Descrever o mecanismo de ação tóxico da substância ingerida. (Paracetamol) Farmacocinética O paracetamol é rapidamente absorvido no TGI. Nas células luminais dos intestinos e nos hepatócitos, ocorre significativa biotransformação de primeira passagem. Em circunstâncias normais, o paracetamol é conjugado no fígado, formando metabólitos glicuronizados ou sulfatados inativos. Uma parte do paracetamol é hidroxilada, gerando N-acetil-p-benzo- quinoneimina (NAPQI), um metabólito altamente reativo que pode reagir com grupos sulfidrila e causar lesão hepática. Em dosagens normais de paracetamol, a NAPQI reage com o grupo sulfidrila da glutationa, que é produzida no fígado, formando uma substância não tóxica (Fig. 36.16). O paracetamol e seus metabólitos são excretados na urina. O fármaco também está disponível em formulações de uso retal. - Efeitos adversos Em dosagens terapêuticas normais, o paracetamol é praticamente livre de efeitos adversos significativos. Em dosagens altas, a glutationa disponível no fígado se esgota, e a NAPQI reage com o grupo sulfidrila das proteínas hepáticas, formando ligações covalentes (Fig. 36.16). Pode ocorrer necrose hepática, uma condição muito grave e potencialmente fatal. Os pacientes com doença hepática, hepatite viral ou história de alcoolismo correm mais riscos de hepatotoxicidade induzida pelo paracetamol. (Nota: a N-acetilcisteína, que contém grupos sulfidrila aos quais os metabólitos tóxicos podem se fixar, é um antídoto em casos de dosagem excessiva [ver Cap. 48].) O paracetamol deve ser evitado em pacientes com insuficiência hepática grave. 4- Descrever o processo de biotransformação hepática (citocromo P450). Os citocromos P450 são heme-proteínas envolvidas nas biotransformações de vários compostos de origem endógena e exógena. Biologicamente estas enzimas promovem a modificação química de várias moléculas exógenas lipofílicas, que após isso se tornam mais solúveis e de fácil excreção pelo organismo humano. Porém uma conseqüência é que muitas moléculas, após sofrerem estas modificações (biotransformação), tornam-se muito reativas, podendo causar danos teciduais, além disso, como alguns xenobióticos têm a capacidade de induzir ou inibir a produção de certos citocromos P450, a exposição ou a utilização simultânea de múltiplas drogas na terapêutica podem ter várias conseqüências, como a perda total ou parcial do efeito farmacológico desejado e danos teciduais no parênquima hepático justificado pelo fato de ser o tecido onde estão presentes os principais citocromos processadores de xenobióticos e por ser um dos locais mais ativos de biotransformação farmacológica. Mateus Oliveira - UniFG 7 Como a maioria desses compostos são lipofílicos, ou seja, insolúveis em água, tem-se a necessidade de convertê-los em espécies químicas hidrossolúveis para que assim possam seguir as vias de excreção. Para isso, existe um sistema enzimático altamente especializado que inclui uma ampla família de proteínas chamadas Citocromos P450. Estas enzimas estão diretamente envolvidas na conversão de compostos insolúveis como fármacos ou outras moléculas em substâncias hidrossolúveis, facilitando assim sua excreção por via urinária, bile, suor, leite ou saliva. Como a solubilização envolve modificações químicas na molécula, uma consequência da biotransformação de xenobióticos é a ativação ou inativação de agentes terapêuticos, aumentando ou diminuindo sua eficácia, bem com a conversão de moléculas inertes em espécies químicas altamente reativas que podem causar dano celular/tecidual indesejado As reações metabólicas do processamento de fármacos são classificadas como: reações de fase I (via assintética) e as reações da fase II (via sintética). Normalmente essas reações têm por objetivo a conversão da molécula do fármaco em metabólitos mais hidrossolúveis, que são mais facilmente excretados do que a molécula original. Nas reações de fase I o aumento da hidrossolubilidade se faz pela incorporação de grupos químicos polares, tais como, hidroxila (OH), e carboxila (COOH). Esses grupamentos caracterizam-se por apresentarem uma distribuição desigual de elétrons em suas ligações interatômicas que acarreta uma carga real ou parcial na molécula, permitindo assim sua interação com a molécula de água (SOLOMONS, 2005). Além da incorporação de grupos polares nas reações assintéticas, pode-se haver o desmascaramento de grupos polares por hidrólise (clivagem heterolítica). Nas reações da fase II ocorre a combinação do fármaco com um composto orgânico que juntos formam um produto altamente polar chamado conjugado. Um exemplo é o metabolismo dos ácidos carboxílicos aromáticos, que são conjugados com o aminoácido glicina, formando um conjugado hipúrico facilmente excretado pelos rins. (THOMAS, 2002; SANTIAGO,2002). BIOTRANSFORMAÇÃO DE DROGAS PELO CITOCROMOS P450 Os citocromos P450 (P450 ou CYP) são uma família de enzimas pertencente ao grupo das hemes-proteína que estão presentes primariamente ancorados na bicamada lipídica do retículo endoplasmático liso dos hepatócitos e que participam da metabolização de drogas, esteróides e carcinógenos. Por conseguinte o fígado é o principal local de biotransformação farmacológica no organismo humano, por conter os principais citocromos processadores de xenobióticos. A função biológica destas enzimas é a de promover a monoxigenação de uma grande variedade de compostos químicos estruturalmente diversos. As moléculas sobre as quais essas enzimas atuam podem ser de origem endógena como ácidos graxos, colesterol e hormônios esteróides, bem como compostos exógenos como drogas, pesticidas, aditivos de alimentos e outros compostos químicos que são inalados, ingeridos ou absorvidos pela camada epidérmica da pele. A atividade dos citocromos P450 referente aos xenobióticos tem por objetivo facilitar a excreção destes compostos pela inserção de um átomo do oxigênio molecular, porém uma conseqüência dessa modificação química é: a) Ativação ou inativação de agentes terapêuticos, b) Conversão de produtos químicos em moléculas de extrema reatividade que podem formar adulctos em estruturas supramoleculares e (ou) causar danos celulares indesejáveis, c) Indução ou inibição enzimática que altera a metabolização das drogas resultando consequentemente em efeitos adversos bem como a interação droga-droga. (DEVLIN, 2002; GALLI & FEIJOO, 2002). A reação geral de oxidação catalisada pelo citocromo P450 pode ser representada conforme o seguinte esquema: NADPH + H + O2 +RH→ NADP + H2O + ROH Onde, RH representa um substrato oxidável (droga), e ROH é o metabólitohidroxilado, cuja reação final é sempre catalisada por uma enzima P450. O sistema microssomal dos citocromos P450 são metabolizadores de uma ampla variedade de compostos característicamente lipofílicos, de origem endógena ou exógena. O processamento químico efetuado por essas enzimas envolve hidroxilação de um átomo de carbono de um grupo metil, hidroxilação de um carbono metileno de um hidrocarboneto alcano, hidroxilação de um anel aromático para produzir um fenol, bem como a adição de um átomo de oxigênio em uma ligação dupla para formar um epóxido. Também podem promover reações de desalquilação onde o grupo alquila ligado a átomos de oxigênio, enxofre ou nitrogênio são removidos. Oxidação de átomos de nitrogênio, enxofre e fósforo e desalogenização também são catalisadas por essas formas de enzimas. (BIBI, 2008 apud NELSON, 1993; SANTIAGO,2003) EFEITO DOS CITOCROMOS P450 SOBRE A FÁRMACOS ATIVIDADE DOS FÁRMACOS A metabolização de drogas pelos citocromos faz-se mecanisticamente pela inserção de 1 átomo Mateus Oliveira - UniFG 8 proveniente do oxigênio molecular (monoxigenação) na molécula do fármaco com o objetivo de hidrossolubilizar o composto para facilitar sua excreção. A reação é iniciada quando o substrato se liga ao ferro heme da enzima. Isso leva a uma alteração conformacional na enzima que consequentemente leva a um aumento no potencial de redução permitindo assim que esta seja reduzida pelo recebimento inicial de um elétron em sua molécula. (DEVLIN, 2002). Elétrons não podem ser transferidos quando o substrato se encontra ausente porque o potencial de redução é termodinamicamente desfavorável. O recebimento deste elétron faz com que o íon férrico do grupo heme seja reduzido para íon ferroso, o que permite a fixação do oxigênio molecular, facilitando a transferência de um segundo elétron. O recebimento de um segundo elétron leva a ativação do oxigênio molecular, este se cliva, permitindo assim que um átomo de oxigênio seja inserido no substrato, e o outro se combine com prótons e dois elétrons para formar água. Os dois elétrons requeridos pela enzima para a reação de monoxigenação são doados pela coenzima Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo Fosfato em seu estado reduzido (NADPH) conforme figura1. Embora o processo de biotransformação tenha por função facilitar a excreção de compostos lipofílicos, muitas vezes esse processamento traz certos efeitos à molécula referida já que houve uma modificação química na estrutura desta, que podem eventualmente levar a sérias consequências biológicas relevantes, sendo: inativação, ou ativação de drogas, formação de metabólito tóxico, e alterações no padrão de indução de enzimas que podem ter impacto na metabolização de outras drogas. (DEVLIN, 2002; GALLI & FEIJOO, 5- Citar as formas de tratamento empregadas nos casos de intoxicação medicamentosa. Mateus Oliveira - UniFG 9 Manejo específico com antídoto PARACETAMOL: N-acetilcisteína é um antídoto para intoxicação por paracetamol. Este fármaco é precursor da glutationa, diminuindo a toxicidade do paracetamol por elevar o depósito de glutationa hepática e também, possivelmente, por outros mecanismos. Ajuda a prevenir a hepatoxicidade desativando o metabólito tóxico NAPQI do paracetamol (N-acetil-p-benzoquinona imina) antes de que cause dano às células hepáticas. No entanto, ela não reverte o dano já causado às células hepáticas. 6- Descrever o papel da vigilância sanitária no controle dos medicamentos. VIGILÂNCIA SANITÁRIA A área de medicamentos atua na coordenação, acompanhamento e assessoramento às Regionais de Saúde nas ações de Vigilância Sanitária de Medicamentos, monitorando e executando em caráter complementar as ações de vigilância sanitária na área de fiscalização de farmácias, drogarias, distribuidoras e transportadoras de medicamentos. Atua também na coordenação e execução de inspeções em indústrias e comércio de medicamentos. Realiza inspeções sanitárias nos estabelecimentos acima referidos, com o intuito de verificar o cumprimento das Boas Práticas de Fabricação, Distribuição, Manipulação, Dispensação e Comercialização de Medicamentos, para concessão do Alvará Sanitário Estadual, Autorização de Funcionamento e Certificado de Boas Práticas pela ANVISA. As normas de Boas Práticas são estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e devem ser adotadas pelos estabelecimentos de modo que no final de todas as etapas da cadeia farmacêutica possa garantir a segurança, qualidade e eficácia dos medicamentos que estarão disponíveis ao consumidor no comércio varejista. Também compete a vigilância de medicamentos realizar a investigação in loco e encaminhar providências relativas às denúncias feitas pelo Ministério Público do Estado, Polícia Federal, Polícia Civil, Militar, ANVISA e por cidadãos no que concerne as infrações sanitárias nos estabelecimentos farmacêuticos de produção e comércio. Atua no controle de substâncias sujeitos a controle especial por meio da divulgação e esclarecimento das regulamentações e ações da Vigilância Sanitária, junto ao setor regulado de farmácias e drogarias, assim como aos profissionais envolvidos com a prescrição, dispensação e comércio destes produtos. A Portaria SVS/MS nº 344/98 aprova o Regulamento Técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial, onde são estabelecidos procedimentos visando o combate ao uso indevido de produtos controlados, que pode levar a dependência física ou psíquica entre outros agravos à saúde da população. Referências: Farmacologia ilustrada-6°Ed ............
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