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REATORES NÃO IDEAIS Alessandra Luvizottia, Alessandra Secco Nesia. aUniversidade do Estado de Santa Catarina, Departamento de Engenharia de Alimentos e Engenharia Química, BR 282, Km 574, CEP: 89870-000, Pinhalzinho SC, Brasil ____________________________________________________________________________________ Resumo Os reatores tubulares (PFR) são tubos cilíndricos que normalmente operam em estado estacionário, onde os reagentes são continuamente consumidos a medida que escoam no reator. Em reatores reais, nem sempre é possível utilizar as hipóteses utilizadas para descrever reatores ideais por que existem alguns desvios de idealidade. Por causa dessas não idealidades torna-se necessário caracterizar o desempenho dos reatores reais. Para caracterizar um reator não ideal é muito utilizado a DTR que é uma característica da mistura que ocorre no interior do reator. A DTR pode ser determinada experimentalmente injetando um traçador na corrente de entrada do reator e medindo a sua concentração de saídas em função do tempo. Para uma perturbação do tipo pulso, o traçador deve ser todo injetado em um único instante de tempo. O objetivo deste trabalho foi obter a DTR de dois reatores tubulares e analisar o comportamento de escoamentos não ideais. Palavras chaves: PFR, DTR, Reatores reais. _____________________________________________________________________ Abstract Tubular reactors (PFR) are cylindrical tubes that normally operate at steady state, where reagents are continuously consumed as they flow into the reactor. In real reactors, it is not always possible to use the assumptions used to describe ideal reactors because there are some deviations from ideality. Because of these non-idealities, it is necessary to characterize the performance of real reactors. To characterize a non-ideal reactor DTR is widely used, which is a characteristic of the mixture that occurs inside the reactor. The DTR can be determined experimentally by injecting a tracer into the reactor input current and measuring its output concentration as a function of time. For a pulse-type disturbance, the tracer should all be injected in a single instant of time. The objective of this work was to obtain the RTD of two tubular reactors and to analyze the behavior of non-ideal flows. Keywords: PFR, RTD, Real reactors. _____________________________________________________________________ 1. Introdução Os reatores tubulares (PFR) consistem em tubos cilíndricos que normalmente são operados em estado estacionário. Nesses reatores os reagentes são continuamente consumidos a medida que escoam ao longo do reator, sendo assim, a concentração varia ao longo do reator (FOGLER, 2009). Em sistemas reais, nem sempre é possível utilizar as hipóteses adotadas para descrever reatores ideias, isso ocorre por causa de alguns desvios da idealidade, que normalmente podem ser resultados de formação de caminhos preferencias (by-pass), reciclagem de fluido ou regiões de estagnação. Por conta disso, podem ocorrer tempos de residência diferentes no reator (NAKAMA, 2016). A figura 1 mostra algumas idealidades encontradas em reatores não ideia. Figura 1. Não idealidades em reatores CSTR e PFR. As regiões de estagnação, são áreas onde ocorre a formação de bolsões de fluido onde a conversão aproxima-se do limite superior, mas o fluido contido nas zonas estagnadas não sai do reator, criando um volume morto. Assim, os reagentes alimentados fluem apenas no volume restante, diminuindo sua conversão média. O mesmo pode acontecer devido a formação de caminhos preferenciais, onde o reagente passa pelo reator por um caminho mais curto sem se misturar com o restante do fluido ali contido (ISHIDA, 2017). Por conta das não idealidades é necessário caracterizar o desempenho dos reatores reais, e para isso é necessário investigar a natureza do escoamento. Assim, torna-se necessário conhecer o tempo que cada parte do fluido passa dentro do reator. A distribuição de tempos de residência (DTR) de um reator é uma característica da mistura que ocorre no interior do reator (FOGLER, 2009). A DTR pode ser determinada experimentalmente através de um estimulo-resposta, onde uma substancia quimicamente inerte com concentração conhecida, chamada de traçador, é injetada na corrente de entrada do sistema, que deve estar em estado estacionário. A concentração do traçador na corrente de saída, C, é medida em função do tempo. As técnicas mais utilizadas são a função de perturbação pulso e a função de perturbação degrau (FOGLER, 2009; LEVENSPIEL, 2000). A figura 2 mostra um esquema para a determinação da DTR. Figura 2. Esquema para determinação da DTR Em uma perturbação do tipo pulso, uma quantidade de traçador é injetada de uma só vez na corrente de alimentação do reator, em um tempo muito pequeno (o menor possível) (FOGLER, 2009). Segundo Levenspiel (2000) em uma injeção do tipo pulso, obtém-se diretamente a curva DTR. A função da DTR que descreve quantitativamente quanto tempo diferentes elementos do fluido permanecem no reator está descrita a seguir: 𝐸(𝑡) = 𝐶(𝑡) ∫ 𝐶(𝑡)𝑑𝑡 ∞ 0 A figura 3 representa a injeção em pulso e a resposta ao pulso. Figura 3. Gráficos representando a injeção e a resposta ao pulso Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi obter a distribuição de tempos de residência de dois reatores tubulares e analisar o comportamento de escoamentos não ideais. 2. Materiais e métodos Os materiais utilizados foram: Reatores tubulares de 1 m e 2 m de comprimento com 1,6 cm de diâmetro, água destilada, azul de metileno como traçador, mangueiras, seringa para a injeção do traçador e tubos de ensaio como coletores de amostra. O espectrofotômetro UV-VIS foi utilizado para a leitura das absorbâncias no comprimento de onda de 670nm. O experimento foi realizado com a vazão menor da alimentação nos 2 diferentes comprimentos do reator. Cada experimento foi feito em duplicata. Inicialmente foi calculado o volume de cada reator e estimado um tempo de residência. Em seguida foi montado o aparelho experimental, primeiro com o reator maior, de 2m, e foi estabilizada uma vazão pequena de 300 ml/min. A figura 4 mostra a vazão do reator estabilizada e a figura 5 mostra o aparato experimental montado. Figura 4. Vazão do reator. Figura 5. Aparato experimental com o reator maior. Posteriormente, no tempo zero, foi feita a injeção, no menor tempo possível, de 3ml de solução de azul de metileno por meio de uma seringa, a injeção foi feita em forma de pulso no reator. Em seguida foram coletadas amostras da saída do reator a cada quatro segundos durante dois minutos, totalizando 30 amostras. Finalmente a absorbância das amostras coletadas foi medida no espectrofotômetro a 670nm. A curva de calibração foi fornecida para realizar a conversão da absorbância em concentração. O mesmo procedimento foi repetido com o reator menor, de 1m, sendo estabilizada uma vazão de 270 ml/min. Os resultados obtidos foram comparados entre si e com os obtidos com uma vazão de alimentação maior. O modelo de tanques em série é um modelo de um único parâmetro utilizado para descrever reatores não-ideais e calcular a conversão (FOGLER, 2009). Este modelo é utilizado normalmente para descrever reatores tubulares não- ideais, ele consiste em determinar o número de reatores de misturaperfeita, do mesmo tamanho e associados em série, que obterá aproximadamente a mesma DTR do reator não-ideal. A figura 6 representa o modelo dos tanques em série (GOMES, 2005). Figura 6. Representação do modelo dos tanques em série. A generalização para o modelo de tanques em série de n CSTRs que fornece a DTR para n CSTRs em série está descrita a seguir: 𝐸(𝑡) = 𝑡𝑛−1 (𝑛 − 1)! 𝜏𝑖 𝑛 𝑒 −1/𝜏𝑖 O número de tanques em série pode ser calculado para equação a seguir: 𝑛 = 1 𝜎Θ 2 = 𝜏2 𝜎2 O modelo de dispersão também é utilizado para descrever reatores tubulares não ideias. Neste modelo, existe uma dispersão axial do material, que é governada pela lei da difusão de Fick. Assim, além do fluxo convectivo, considera-se também o fluxo difusivo (FOGLE, 2009; GOMES, 2005). Nessas condições, o balanço de maça unidirecional, na direção axial, de um reator na ausência do termo reativo é expresso pela equação a seguir: 𝐷𝑎 𝜕²𝐶𝑇 𝜕𝑧² − 𝜕(𝑈𝐶𝑇) 𝜕𝑧 = 𝜕𝐶𝑇 𝜕𝑡 Conhecendo as condições de contorno, a solução da equação anterior dará as curvas da concentração de saída do traçador – tempo (FOGLER, 2009). 3. Resultados e discussões Como resultados primeiramente foi obtido as curvas médias da concentração pelo tempo para os dois reatores. As figuras 7 e 8 demonstram esse comportamento. Figura 7. Curva da concentração pelo tempo para o reator menor. Figura 8. Curva de concentração pelo tempo de residência para o reator maior. A partir dos gráficos obtidos foi possível observar que o reator menor apresentou uma concentração máxima maior que o reator maior. A concentração de traçador atingiu um valor maior no reator menor devido ao menor tempo de residência esperado em tal reator. Figura 9. DTR’s para a) escoamento empistonado; b) escoamento empistonado com baixo grau de mistura; c) escoamento em mistura ideal; d) existência de espaço morto Fonte: Fogler (2009) -0,000005 0 0,000005 0,00001 0,000015 0,00002 0,000025 0,00003 0,000035 0 50 100 150 C o n ce n tr aç ão ( m o l/ L) Tempo (segundos) Reator Menor -0,000005 0 0,000005 0,00001 0,000015 0,00002 0,000025 0 50 100 150 C o n ce n tr aç ão ( m o l/ L) Tempo (segundos) Reator Maior Figura 10. DTR’s para os casos de escoamento real e ideal Fonte: Sassaki (2005) Um segundo resultado foi a obtenção das curvas da função DTR (E(t)) e calcular o tempo médio de residência das moléculas nos reatores. As figuras 11 e 12 mostram essas curvas. Figura 11. Curvas da função DTR para o reator menor. Figura 12. Curvas da função DTR para o reator maior. Analisando as figuras 11 e 12 e comparando com as figuras 9 e 10 é possível notar que os comportamentos das DTR’s obtidos se assemelham à curva real do escoamento não ideal. O escoamento empistonado é aquele em que as moléculas do fluido atravessam o equipamento com a mesma velocidade, movendo-se “alinhadas”. Não há mistura por dispersão axial. Já no escoamento de mistura perfeita, as moléculas do fluido se misturam obtendo-se composição homogênea no interior do tanque. (SASSAKI, 2005). Segundo Fogler (2009) alguns desvios da idealidade são atribuídos a caminhos preferenciais e zonas mortas, em que o traçador se difunde lentamente acarretando na saída do traçador em pequenas quantidades no final do reator. O comportamento nas curvas obtidas caracterizou um tempo morto, pois a concentração máxima não ocorreu logo no início do escoamento. O tempo médio de residência para o reator menor foi de 48,5 s e para o reator maior foi de 71,7 s. Os valores para o tempo de residência esperado (hipótese para um reator ideal) foram de 44,7 s e 80,425 s para os reatores menor e maior, respectivamente. Comparando os tempos de residência esperados com o tempo de residência médio, podemos dizer que eles são muito próximos, como o esperado. O pequeno desvio da -0,05 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0 50 100 150 E( t) Tempo (segundos) Reator Menor -0,05 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0 50 100 150 E( t) Tempo (segundos) Reator Maior idealidade pode ser atribuído à dificuldade em manter a vazão constante ao longo do escoamento, pois segundo Fogler (2009), o cálculo do tempo de residência teórico é atribuído para escoamentos com vazões constantes. Foi aplicado ao experimento, modelos matemáticos, sendo um deles o modelo de tanques em sério, as figuras 13 e 14 mostram o gráfico deste modelo. Figura 13. Modelo de reatores em série para o reator maior. Figura 14. Modelo de reatores em série para o reator menor. Analisando as figuras e comparado os modelos com o real, podemos dizer que este modelo pode ser aplicado para prever este caso. Para o reator maior, o melhor ajuste foi com um número de 27 reatores em série, já para o reator menor, o melhor ajuste foi visualizado com um número de 30 reatores em série. Um segundo modelo utilizado foi o da dispersão, as figuras 15 e 16 mostram este modelo. Figura 15. Modelo de dispersão para o reator maior. Figura 16. Modelo de dispersão para o reator menor. Analisando as figuras 15 e 16 é possível concluir que este modelo não se ajusta, e assim, não pode ser utilizado para prever um reator real funcionando como o do experimento. Analisando os resultados obtidos nos reatores de diferentes tamanhos podemos dizer que eles são equivalentes, pois o tempo de residência médio do 0 0,5 1 1,5 2 2,5 0 0,5 1 1,5 2 E) N ) e E( t) Teta Reator maior N=1 N=2 N=3 N=4 N=5 N=10 N=15 N=27 Real 0 0,5 1 1,5 2 2,5 0 1 2 3 E( N ) e (E (t ) Teta Reator menor N=1 N=2 N=3 N=4 N=5 N=10 N=30 -2E-83 0 2E-83 4E-83 6E-83 8E-83 1E-82 1,2E-82 1,4E-82 1,6E-82 0 0,05 0,1 0,15 E Teta Reator maior 0 1E-11 2E-11 3E-11 4E-11 5E-11 6E-11 0 0,1 0,2 0,3 E Teta Reator menor reator maior foi quase o dobro do menor (acredita-se que o valor não se aproximou mais do dobro pois as vazões não foram iguais), e como o seu comprimento é o dobro do menor, os valores do tempo de residência médio são coerentes. Uma das principais causas de desvio de idealidade seria a injeção pulso, que não é possível realiza-la em um único instante de tempo, sua injeção leva alguns segundos, e isso causa um erro na concentração de saída. Outro desvio de idealidade seria o perfil de velocidade não uniforme, que normalmente ocorre em um reator tubular real. A não idealidade de zona de mistura devido a turbulências não foi observado já que a vazão foi muito baixa. 4. Conclusão Este experimento foi de muita utilidade, pois serviu para que o funcionamento de um reator real fosse visualizado na prática. A partir dele foi possível calcular os tempos de residência médios e comparar com os valores esperados (hipótese de reatores ideais), onde os valores reais se aproximaram dos valores esperados, indicando que não tivemos muitos desvios de idealidade. Com o experimento foi possível também, aplicar modelos matemáticos para simulação de reatores reais, onde um deles, o modelo de reatores em série,obteve um bom ajuste, confirmando a sua aplicabilidade. Já o segundo modelo, o modelo da dispersão, não obteve bons ajustes, não podendo ser aplicado para esse reator nestas condições. 5. Referências Bibliográficas FOGLER, Scott H. Elementos de Engenharia das Reações Químicas. 4 ed. Editora LTC. Rio de Janeiro-RJ. 2009. GOMES, Carlos Felipe Barros. Análise dinâmica de um forno rotativo piloto contínuo para a produção de gesso beta com GLP. 2005. 97 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Química, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2005. ISHIDA, Sabrina Pereira. ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DE UM REATOR TUBULAR (PFR) SUBMETIDO A DIFERENTES MODOS DE ALIMENTAÇÃO. 2017. 64 f. TCC (Graduação) - Curso de Engenharia Química, Universidade Tecnológica Federal do Paraná., Ponta Grossa, 2017. Levenspiel, O. Engenharia das reações químicas. São Paulo, Edgard Blücher Ltda., 2000. NAKAMA, Caroline Satye Martins. Modelagem estocástica da dispersão axial: aplicação em um reator tubular de polimerização. 2016. 68 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Química, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. SASSAKI, R. A.; Distribuição de tempos de residência em sistemas alimentados com vazão variável. 2005. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Riode Janeiro, Rio de Janeiro, 2002. 6. Anexos 6.1 Memória de cálculo Para calcular o tempo de residência esperado foi utilizado a formula a seguir: 𝑡 = 𝑉 𝑣0 Onde v0 é a vazão volumétrica na entrada do reator e V é o volume do reator, que foi calculado pela equação a seguir: 𝑉 = 𝜋 × 𝑟² × ℎ Onde r é o raio do reator e h o comprimento. Para calcular o tempo médio de residência utilizou-se a equação abaixo: 𝑡𝑚 = ∫ 𝑡𝐸(𝑡) 𝑑𝑡 ∞ 0 6.2 Problemas propostos 1. Compare os resultados obtidos pelos grupos que utilizaram diferentes vazões de alimentação. Analise quais os efeitos do aumento de vazão de alimentação sobre a distribuição de tempos de residência. Os tempos médios de residência para as vazões de alimentação maiores foram de 32 s para o reator menor e 46 s para o reator maior. Segundo Fogler (2009), o tempo de residência é dado pela razão do volume do reator pela vazão volumétrica. Comparando a diferença dos valores devido ao tamanho do reator, para um maior volume (maior comprimento) espera-se um tempo de residência maior. Da mesma maneira, comparando a diferença dos valores devido à vazão da alimentação, para maiores vazões são esperados tempos de residência menores. Sendo assim os comportamentos para ambos casos foram válidos. 2. Quais foram as fontes de erro que mais influenciaram os resultados? Como elas poderiam ter sido evitadas? Acredita-se que a principal fonte de erro é a injeção pulso, que não é possível injetar todo o traçador em um único instante de tempo, levando alguns segundos para que todo o traçador fosse injetado, e isso influencia na medida da concentração que sai do reator em função do tempo. Neste caso, não tem muito para ser feito, a única maneira de reduzir esse erro, seria a troca da injeção manual do traçador por um equipamento que injetasse em menos tempo.
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