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Este é o primeiro caderno temático da disciplina Brinquedoteca e o Elemento Lúdico. Trata-se de uma disciplina fundamental na sua formação como educador ou educadora, pelas seguintes razões: a ludicidade faz parte de todas as manifestações sociais, culturais e antropológicas do ser humano, portanto, é também a linguagem primordial da criança; o elemento lúdico constitui fator que influencia diretamente os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança; e o estudo acerca da ludicidade constitui aspecto indispensável na formação do professor, já que este deve promovê-la por meio do planejamento educacional como um direito da criança. A partir dessas três razões, os objetivos a serem alcançados ao longo do estudo de todos os cadernos temáticos dessa disciplina são o de conhecer os fundamentos teóricos acerca da ludicidade e sua influência nos processos de ensino e aprendizagem, bem como os aspectos teóricos do universo da ludicidade, para ser capaz de refletir acerca das manifestações lúdicas da criança, aprendendo a compreendê-las e a promovê-las no seu planejamento educacional. Tema01: Análise do Aspecto Lúdico no Universo Infantil e sua Relação com a Educação Escolar Ser Criança e Ter Infância Reflita. Como foi sua infância? Você brincou bastante? Você acredita que as experiências que vivenciou durante a sua infância terão influência sobre a sua atuação como professor ou professora? Essas são perguntas importantes, pois no decorrer da ação docente realizamos nossas práticas e escolhemos nossas metodologias e discursos de acordo com aquilo que acreditamos e conhecemos bem. Por isso, revisitar as nossas experiências quando crianças é importante para refletir sobre quais imagens e concepções temos sobre o que é ser criança e ter infância. Acompanhe comigo a citação a seguir, escolhida para integrar essa reflexão sobre ser criança. Elas são o que nós fomos; elas são o que nós devemos tornar-nos novamente. Nós fomos natureza assim como elas, e nossa cultura, mediante a razão e a liberdade, deve conduzir-nos de volta para a natureza. Elas são, portanto, não só a representação da nossa infância perdida, mas também representações da nossa realização mais elevada no ideal. (SCHILLER apud KENNEDY, 1999, p. 76) Veja que interessantes as expressões usadas por Schiller (apud KENNEDY, 1999) e Friedman (2005): “voltar o olhar”, “conduzir-nos de volta para a natureza” e “infância perdida”. Certamente você está pensando: mas, o que isso pode representar para mim enquanto educador ou educadora em formação? Sem querer “fechar uma única resposta”, é possível afirmar que ao refletir sobre a infância despertarmos a necessária postura de tentar capturar a sua realidade concreta e a oportunidade que ela representa para transformar as nossas convicções e certezas. A criança é um ser concreto com características singulares que podem ser interpretadas pelos adultos como gerais ou universais. É a partir dessas características que criamos imagens, entendimentos e cuidados específicos voltados para ela. Assim, não existe uma maneira única de conceber ou entender a criança e a infância, como se pudéssemos dizer, com absoluta certeza, a essência desses conceitos. Em outras palavras, não podemos entender a criança como um sujeito unificado, reificado ou essencializado. Na verdade, ao observar as diferentes culturas em seus momentos sociais e históricos, chegamos à consideração de que temos múltiplas infâncias, com modos diferentes de compreendê-la e, mais ainda, de vivê-la. Para resumir essa partilha de informações, você deve ter em mente que: Cada criança deve ser vista no contexto de sua singularidade como única e marcada por suas histórias. É necessário um cuidado técnico quanto à distinção conceitual das palavras “criança” e “infância”. Para otimizar o estudo, organizaremos as informações em tópicos Ficou claro para você que ao nos referirmos à palavra “criança” estamos falando de sujeitos concretos e reais com suas singularidades sociais, psicológicas e culturais? E quanto à palavra “infância”? Você consegue entendê-la como uma categoria social que indica múltiplas formas de ser criança no contexto de um grupo social e em um determinado momento histórico? Se sua resposta for sim, com certeza você terá outro olhar sobre as crianças concretas que farão parte do seu trabalho pedagógico na escola. É importante reconhecer que por trás de cada aluno existe uma criança que experimenta a sua infância conforme as condições sociais, culturais e psicológicas lhe impõem. Veja o que o poeta Carlos Drummond de Andrade sabiamente disse sobre o brincar: Brincar com as crianças não é perder tempo, é ganhá-lo. Se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem. (ANDRADE apud BARROS, 2009, p. 13) Infância e Ludicidade Será que ludicidade tem a ver somente com o brincar e o jogar? Ao compreender a importância de refletir sobre a infância e o ser criança, podemos relacionar essas reflexões com o conceito de “lúdico”. Certamente, você deve estar se perguntando o porquê de não tratarmos diretamente do conceito de brincar, não é mesmo? Primeiramente, porque há distinções conceituais importantes sobre os termos “lúdico”, “brincar” e “jogar”. Em segundo lugar, porque muitos educadores associam o termo “lúdico” somente ao prazer, divertimento, jogar ou brincar. O filósofo Huizinga (1999) em seu livro Homo Ludens (título em latim, que significa “homem lúdico”) faz considerações importantes que indicam que o conceito de “lúdico” atrela-se à ideia de “festa, divertimento, comunicação por meio da participação numa alegria coletiva”. Afirma ainda que o “lúdico” relaciona-se: com os fatores culturais (individuais e coletivos), com o prazer de dominar o corpo (destreza), a vontade (risco, aventura), com questões de afetividade e de sensibilidade (expressão artística e literária), com a problemática do inconsciente individual e coletivo, com a eternidade do mito, a prática dos rituais, o exercício dos poderes mágicos, o passado do homem e o futuro do mundo (FRANCO, 2008). Huizinga (1999) ensina que ao experienciar a ludicidade, o homem desenvolveu três funções, conforme o esquema a seguir: De acordo com Almeida (2010, p. 13), não podemos relacionar “lúdico” apenas ao ato de brincar ou de jogar, pois: Se o termo tivesse ligado a sua origem, o lúdico estaria se referindo apenas ao jogo, ao brincar, ao movimento espontâneo, mas passou a ser conhecido como traço essencialmente psicofisiológico, ou seja, uma necessidade básica da personalidade do corpo, da mente, no comportamento humano. As implicações das necessidades lúdicas extrapolaram as demarcações do brincar espontâneo de modo que a definição deixou de ser o simples sinônimo do jogo. O lúdico faz parte das atividades essenciais da dinâmica humana, trabalhando com a cultura corporal, movimento e expressão. O universo lúdico: [...] refere-se a uma dimensão humana que evoca os sentimentos de liberdade e espontaneidade da ação, que abrange atividades despretensiosas, descontraídas e desobrigadas de toda e qualquer espécie de intencionalidade ou vontade alheia. (SÁ, 2004, p. 1) Podemos depreender das contribuições de Almeida (2010) e Sá (2004) que “lúdico” é algo muito mais amplo. Lúdico é o conjunto de manifestações sociais, culturais e antropológicas do ser humano. Por se constituir em uma linguagem com processos de simbolização, o lúdico se refere à dança, à música, às artes visuais, ao jogo e também ao brincar. Então, que relações podem ser estabelecidas entre ludicidade e infância? Veja a seguir: 1.Infância e ludicidade estão intimamente relacionadas, pois a presença do brincar e do jogar está na base da formação psicológica, social e cultural da criança. 2. A criança cria uma “cultura infantil” ao experienciar um conjunto de manifestações lúdicas mediadas pelos adultos. Como exemplo, podemos indicar as canções infantis, os jogos tradicionais, a dança e a linguagem oral. Muitos autores, tais como Gilles Brougère (1998), James, Jenks e Prout (1999), afirmam que a criança é um agente social que absorve elementos da cultura à qual pertence, mas ao mesmo tempo age sobre ela criando o que denominam de “cultura infantil”. Um dos elementos que fazem parte dessa cultura é o que Brougére (1998) denomina como “cultura lúdica”. A cultura lúdica é o resultado de todas as experiências vividas pela criança ao longo de sua infância por meio de suas interações com seus pares (adultos e outras crianças). Isso indica que todos os repertórios exercitados continuamente pelas crianças ao brincar, cantar, dançar, falar e jogar constituem a base da cultura lúdica. Segundo Brougére (1998, p. 106), “[...] dispor de uma cultura lúdica é dispor de um certo número de marcas de referência que permitam interpretar como jogo atividades que poderiam não parecer como tal a outras pessoas”. Ao entender o brincar e o jogar como elementos integrantes da cultura lúdica, devemos conceber que ambas as manifestações lúdicas não são “naturais” na criança. Em outras palavras, a criança não nasce sabendo brincar ou jogar. Aprende-se a brincar e a jogar por meio das interações com o meio, com os adultos e com outras crianças. Assim, “não existe na criança uma brincadeira natural. A brincadeira é um processo de relações interindividuais, portanto, de cultura” (BROUGÈRE, 1998, p. 93). Brincar e Jogar na Escola: isso pode? A escola deve garantir os direitos da criança recorrendo a ações concretas, de mudança de postura e de transformação (FRANCO; BATISTA, 2007). É na escola que começa a “aprendizagem da democracia e do saber” e que, portanto, é indispensável “repensar a forma como a organização das escolas e a formação e intervenção dos professores se devem entrosar com este movimento contemporâneo de reconhecimento dos direitos da criança” (DEROUET apud SARMENTO; ABRUNHOSA; SOARES, 2007, p. 63). Se entendemos que a criança é sujeito de direitos e, portanto, cidadã, então significa que reconhecemos “que tem direito à brincadeira, a não tomar conta de outras crianças, a não trabalhar, a não exercer funções que, em outras classes sociais, são exercidas por adultos” (KRAMER, 1996, p. 122-123). A defesa de uma escola promotora dos direitos da criança e de uma dimensão de cidadania para a infância terá que necessariamente repensar os contextos em que hoje em dia se desenvolvem os quotidianos infantis, sendo indispensável neste processo um investimento consistente na promoção de cultura de repeito para com as crianças. (DUBET apud SARMENTO; ABRUNHOSA; SOARES, 2007, p. 64, grifos dos autores) O artigo 15 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, BRASIL, 1990) determina quais são os direitos de liberdade da criança. O brincar é um desses direitos de liberdade. O direito de brincar na Constituição Federal de 1988 se depreende da conjugação dos direitos ao lazer, à convivência familiar e à convivência comunitária, e ao direito ao não trabalho, que é muito mais do que um “direito ao ócio”. Por ser extensão do direito à infância, deve ser considerado como tutela autêntica, completa e compartilhada entre a família, a sociedade civil e o Estado, pois assim afirma a Constituição Federal de 1988. (FRANCO, 2008, 78) Ao estabelecer no artigo 15 do ECA que as crianças são titulares de liberdade, respeito e dignidade como pessoas em processo de desenvolvimento, quis o legislador que a eles fossem garantidos direitos básicos de caráter moral como prioridade absoluta constitucional. O ECA estabelece neste artigo os direitos de personalidade, oponíveis a todos, erga omnes. Isso significa que quem se omite em situação concreta poderá ser responsabilizado. O direito de brincar está estabelecido no ECA em seu Livro I da Parte Geral, sob a égide do Título II que trata dos direitos fundamentais, mais especificamente artigo 16 do Capítulo II que elenca os direitos de liberdade, ao respeito e à dignidade da criança: artigo 16 – O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: IV – brincar, praticar esportes e divertir-se. O brincar como expressão do direito de liberdade da criança é um dos fundamentos do princípio da dignidade de sua pessoa. O reconhecimento do direito de brincar exposto no art.16, IV do ECA demonstra que a luta pelo reconhecimento da dignidade da infância venceu uma prova importante na aceitação dos ideais e da forma de vida infantil. O brincar consiste no direito de liberdade de ação da criança no sentido de que ela tem a possibilidade de escolha e de ação de acordo com suas motivações próprias. (FRANCO, 2008, p. 145-146) Segundo Machado (2003, p. 195), “o direito de brincar das crianças assume o contorno de essencialidade que o leva à condição de direito fundamental especial delas, na ótica de uma acepção radicalmente aberta aos direitos humanos”. Formação lúdica do Professor Nesta parte do estudo, será tematizado o olhar do educador sobre a ludicidade e como é importante a sua formação lúdica para assegurar e promover o brincar e o jogar em sala de aula. Articular a formação teórica e a prática educativa é fundamental. Essa articulação leva o educador a escolher e utilizar metodologias significativas direcionadas a atender às necessidades dos educandos. Por isso: A prática pedagógica por meio da ludicidade não pode ser considerada uma ação pronta e acabada que ocorre a partir da escolha de um desenvolvimento de jogo retirado de um livro. A ludicidade na educação requer uma atitude pedagógica por parte do professor, o que gera a necessidade do envolvimento com a literatura da área, da definição de objetivos, organização de espaços, da seleção e da escolha de brinquedos adequados e o olhar constante nos interesses e das necessidades do educando. (RAU, 2011, p. 30) A ludicidade tem sido vista, na formação do professor, como um recurso pedagógico que pressupõe que podemos ensinar melhor se dispusermos de recursos lúdicos. Além disso, temos extensa literatura pedagógica que indica que a criança aprende melhor quando está brincando. Para a formação de qualidade do educador, é preciso contemplar três aspectos O que esperar do educador? Deve-se esperar que ele desenvolva um olhar que considere a ludicidade como uma linguagem infantil. Isso significa que ele deve ser um promotor dos atos de brincar e jogar no processo de ensino e aprendizagem. As competências a serem desenvolvidas são: conhecer os fundamentos sociais, culturais e antropológicos da ludicidade, para ser capaz de perceber, identificar e valorizar a ludicidade no contexto da educação formal. Vejamos as contribuições de Santos a respeito da formação lúdica do educador. A formação lúdica se assenta em pressupostos que valorizam a criatividade, o cultivo da sensibilidade, a busca da afetividade, a nutrição da alma, proporcionando aos futuros educadores vivências lúdicas, experiências corporais, que se utilizam da ação, do pensamento e da linguagem, tendo no jogo sua fonte dinamizadora. (SANTOS, 1997, p. 14) Para Almeida (2010), o educador deve ser um promotor/facilitador dos jogos, das brincadeiras, da utilização dos brinquedos e principalmente da organização dos espaços lúdicos. Rego (1994) indica com maior clareza os papéis que o educador deve desempenhar. Veja a seguir quais são eles: 1. Ser um promotor/facilitadordas brincadeiras, planejando momentos pedagógicos nos quais orienta e dirige o jogar, bem como momentos nos quais a criança tem a liberdade de promover suas brincadeiras. 2. Saber observar, registrar e analisar as informações e dados que as brincadeiras/jogos oferecem, bem como relacioná-los com o processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança. 3. Enriquecer os jogos e as brincadeiras desenvolvendo a postura lúdica. 4. Planejar e organizar espaços lúdicos adequados aos interesses da criança. 5. Ser um sujeito brincante e com repertório lúdico capaz de mobilizar brincadeiras e jogos junto às crianças. De acordo com Rizzo (1996, p. 27-28), em seu livro Jogos Inteligentes, o educador lúdico precisa ter as seguintes posturas: Deve ser um líder democrático, que propicia, coordena e mantém um clima de liberdade para a ação do aluno, limitado apenas pelos direitos naturais dos outros. Deve atuar em sintonia com a criança para estabelecer a necessária cooperação mútua. Precisa ter antes construído a sua autonomia intelectual e segurança afetiva. Precisa aliar a teoria à prática e valorizar o conhecimento produzido a partir desta. Deve jogar com as crianças e participar ativamente de suas brincadeiras, talvez seja o caminho mais seguro para obter informações e conhecimentos sobre o mundo infantil. Resumidamente, a postura lúdica do educador diante do brincar e do jogar da criança é de reflexão e comprometimento de quem busca valorizar um direito muito maior: o direito de ser criança. AGORA É A SUA VEZ… Questão 1 Nessa atividade vamos focar a atitude pedagógica do educador diante das possibilidades de uso do brincar como um recurso pedagógico para ensinar. De acordo com Rau (2011, p. 38): Brincar propicia o trabalho com diferentes tipos de linguagens, o que facilita a transposição e a representação de conceitos elaborados pelo adulto para os educandos. Educar, nessa perspectiva, é ir além da transmissão de informações ou de colocar à disposição do educando apenas um caminho, limitando a escolha ao seu próprio conhecimento. A autora refere-se ao brincar como uma das linguagens da criança. a) O que é o brincar? b) É possível educar brincando? Questão 2 O brincar leva a criança a uma série de descobertas e soluções, que envolvem o conhecimento da própria história, da cultura e da sociedade em que vive. Desenvolve a capacidade de imaginação e de recriação da realidade. Qual das atitudes a seguir o educador que leva a sério a brincadeira da criança não deve ter? a) Conhecer os fundamentos teóricos, lúdicos e pedagógicos da ludicidade de forma contínua. b) Infantilizar-se ao participar das brincadeiras das crianças. c) Estreitar as relações com a criança por meio de uma postura lúdica. d) Ser atento, valorizar e promover as brincadeiras e jogos infantis no contexto escolar. e) Realizar mediações significativas durante o brincar, enriquecendo as experiências lúdicas da criança. Questão 3 O papel do educador em relação à brincadeira é muito importante, na medida em que ele promove e oportuniza às crianças o acesso e o enriquecimento do repertório lúdico. Qual das alternativas a seguir apresenta uma justificativa contrária à ideia de que o brincar é um momento lúdico voltado para a aprendizagem formal? a) Ao abrir espaço para a brincadeira e os jogos o educador demonstra conhecer e respeitar o processo de desenvolvimento infantil e os mecanismos da aprendizagem. b) O educador é quem oportuniza o enriquecimento social e cultural das brincadeiras na vida das crianças, oferecendo um repertório lúdico diversificado para que o brincar seja promovido como linguagem de aprendizagem. c) O educador pode observar e constituir, em meio aos momentos de brincadeira das crianças, uma visão dos seus processos de desenvolvimento e aprendizagem, recursos afetivos e uso da linguagem. d) Cabe ao educador garantir que as brincadeiras ocorram de forma diversificada, para possibilitar às crianças escolherem os temas, papéis, objetos e companheiros, além de decidirem entre estabelecer ou seguir as regras dos jogos. e) O educador deve padronizar rigidamente a sua ação didática em momentos específicos que sejam diferentes dos momentos lúdicos, isto é, deve organizar momentos de aprendizagem formal e outros momentos lúdicos de forma separada, já que ao brincar a criança não está aprendendo nenhum conteúdo. Questão 4 Você aprendeu durante este estudo que existe uma relação muito próxima entre a ludicidade e a infância. Sendo assim, apresente duas justificativas que assegurem a importância da ludicidade e sua presença no espaço escolar como elemento fundamental para a aprendizagem e desenvolvimento infantil. Questão 5 Ser criança na sociedade contemporânea não é uma tarefa fácil. Temos múltiplas maneiras de viver a infância, assim como múl- tiplas maneiras de ser criança. A partir dessas considerações, apresente o conceito de infância. fiNAlizANDO Nesta aula, você teve a oportunidade de estudar a relação entre três grandes conceitos: infância, ludicidade e espaço escolar. Você se lembra da questão inicial desta aula: Será que ludicidade tem a ver somente com o brincar e o jogar? Ao final desse estudo, você, com certeza, já deve ser capaz de respondê-la. As construções sobre infância, ludicidade e espaço escolar são fundamentais, pois ao proporcionar o brincar ou o jogar no ambiente escolar, você estará promovendo para os alunos o direito de ser criança e de vivenciar importantes experiências, que farão da criança um adulto mais feliz e preparado para enfrentar os desafios do cotidiano. Tanto o brincar quanto o ato de jogar são fundamentais para o desenvolvimento e aprendizagem infantil. Partindo desse pressuposto, entendemos que a prática educativa deve garantir espaços efetivos para que o lúdico seja vivenciado em sua plenitude. Se o contexto social atual diz “não” ao brincar, ao tempo livre e ao ócio criativo, é dever do educador garantir o brincar, o jogar, o tempo livre e o ócio criativo, talvez como um dos últimos recursos de espontaneidade que a humanidade possui. GLOSSARIO Categoria social: refere-se a um determinado grupo de pessoas que faz parte de uma estrutura social. No contexto desse estudo, as crianças pertencem a uma categoria social sendo atores e produtores de uma cultura infantil. Cultura lúdica: conjunto de representações criadas no contexto de um grupo social. Consiste no resultado de todas as experiências sociais e culturais vividas pela criança ao longo de sua infância diante das suas interações com seus pares. Estatuto da Criança e do Adolescente: O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi instituído pela Lei nº 8.069, no dia 13 de julho de 1990, e regulamenta os direitos das crianças e dos adolescentes previstos na Constituição Federal de 1988. Lúdico: conjunto de manifestações humanas que vão além dos atos de brincar e jogar. Trata-se de um universo mais amplo, incluindo sentidos culturais, sociais e antropológicos de um determinado grupo social. Postura lúdica: conjunto de ações do educador frente ao universo da ludicidade, que entra em ação ao promover ou facilitar os atos de brincar ou jogar. Ela é construída a partir da formação pedagógica, teórica e lúdica no contexto da formação inicial do educador, bem como da formação continuada no exercício da profissão docente. GABARITO Questão 1 Resposta: a) O brincar é uma linguagem da criança e, como tal, é também uma forma de representar o mundo. Além disso, o brincar, por ser uma forma de representação, possibilita à criança apropriar-se da realidade segundo suas percepções. b) Sim, é possível educar brincando. Segundo Rau (2011), ao brincar a criança aprende transpondo conceitosapreendidos do real. A educação não é mera transmissão de informações ou a disposição de uma única visão da realidade. Educar vai além. É ampliar o universo de conhecimento de acordo com formas diferenciadas de experienciar a realidade. E uma das formas é brincando. Questão 2 Resposta: Alternativa B. A alternativa que indica um comportamento incorreto do professor é a alternativa “b”. O adulto não se “torna uma criança” durante a brincadeira, ou seja, não se infantiliza. O que o adulto deve ter é a postura lúdica de um adulto que promove a brincadeira e valoriza-a por meio da mediação. Para que a criança possa experimentar o mundo de forma lúdica, ela precisa de um adulto que a compreenda e disponha de um contexto rico em elementos lúdicos. No contexto da ludicidade, não se “negociam” os papéis sociais de adulto e criança. Questão 3 Resposta: Alternativa E. A alternativa “e” está incorreta, pois é possível ensinar brincando e aprender brincando todos os conteúdos previstos no currículo. Separar os momentos de atuação do professor dos momentos de brincadeira sugere a desvalorização do brincar como linguagem infantil. Questão 4 Resposta: Garantir que todas as crianças tenham uma infância é também garantir espaço para que experienciem o brincar e o jogar. O ofício da criança é brincar/jogar. A ludicidade como linguagem é o oposto do trabalho que faz parte do universo do adulto. Apesar de sabermos que nem todas as experiências da infância são constituídas de vivências felizes ou plenas de brincar/jogar, devemos, enquanto educadores, garantir a toda criança o acesso ao repertório lúdico. Até mesmo o ECA/1990 prevê o brincar como um direito de liberdade da criança. Questão 5 Resposta: Conforme estudado: a infância é uma categoria social e histórica que é produto e produtora de cultura. Varia conforme os costumes e valores do grupo social. Na aula anterior, você estudou o aspecto lúdico no universo infantil e sua relação com a educação escolar. Aprendeu ainda que o conceito de ludicidade é mais amplo do que apenas o ato de brincar ou de jogar, e que garantir a ludicidade no contexto escolar implica afirmar o direito à infância. Agora você irá estudar um dos elementos fundamentais do universo lúdico: o ato de brincar. Como você verá, o brincar é uma das linguagens da criança e, no contexto escolar, se constitui como um fator de desenvolvimento e de aprendizagem. Assim, a pergunta central que você terá condições de responder com segurança ao final desta aula é: como o ato de brincar interfere nos processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança? Nesta aula, você também aprenderá importantes conceitos, como o que é desenvolvimento infantil, o que é aprendizagem e como ambos os processos interferem no ato de brincar. TEMA 02: O ato de brincar como fator de desenvolvimento e aprendizagem Uma das questões amplamente discutidas na atualidade é a importância do brincar, especialmente no ambiente escolar. Muitos entendem que nesse espaço não se pode conceder tempo para tal atividade, pois brincar é perder tempo. Ao contrário, você aprenderá os fundamentos psicológicos e pedagógicos que lhe mostrarão que o brincar não é perda de tempo e não significa apenas divertir-se, mas constitui uma das formas mais complexas pelas quais a criança aprende a comunicar-se consigo mesma e com o mundo que a circunda. O brincar potencializa os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança. Ao falarmos em processo de desenvolvimento e aprendizagem logo você se lembra do que aprendeu de Psicologia Educacional, não é mesmo? Sendo assim, a primeira tarefa à qual você deve se dedicar é retomar e responder as duas questões indicadas na abertura desta aula: a) O que é desenvolvimento infantil? b) O que é aprendizagem? Parecem ser perguntas simples, que apresentam respostas rápidas e um tanto óbvias. Contudo, você deve ter muito cuidadoaorespondê- las, jáquenesseprocessodeconceituaçãoécomumcairemnoçõessimplistasedescontextualizadas da abordagem teórica que as sustenta. O primeiro pressuposto que você deve ter a respeito do desenvolvimento e aprendizagem é que ambos são processos distintos, mas que devem ocorrer simultaneamente. Isso significa: o processo de desenvolvimento impulsiona o processo de aprendizagem e vice-versa. Inclusive, o correto é dizer: processos de desenvolvimento e aprendizagem. Para nos ajudar nessa reflexão existe um livro bem interessante, denominado Construção da Inteligência pela Criança, da autora Maria da Glória Seber (2002). Nele há uma parte muito interessante que pode servir às nossas reflexões. A autora pauta-se na abordagem da Epistemologia Genética de Jean Piaget. Leia a citação atentamente e anote os pontos que considerar mais interessantes. O desenvolvimento psicológico é um processo histórico caracterizado por construções e reconstruções. As constantes ultrapassagens dos limites das aquisições, por causa das sucessivas conquistas, dão a esse desenvolvimento um caráter sequencial e integrativo. Sequencial porque pode-se distinguir nos vários momentos evolutivos certas características específicas, que se manifestam tanto nos arranjos espontaneamente feitos pelas crianças com os objetos diversos, como nas justificativas que elas fornecem. Cada conjunto dessas características expressa uma etapa de desenvolvimento que é extensão das precedentes. É exatamente essa sequência invariável que Piaget divide em quatro grandes períodos – sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e hipótese dedutivo. Apesar de essa sequência ser invariável, os períodos não são fixos em termos de idade cronológica, pois, dependendo da estimulação do meio e de fatores internos ligados ao ritmo individual, ocorrem defasagens de até muitos anos. O caráter integrativo é devido ao fato de cada período reconstruir, no seu próprio plano, as construções do período anterior, integrando-as como conteúdo necessário à elaboração de novas formas de conhecimento, ao mesmo tempo em que abre possibilidades para o aparecimento do próximo. Sintetizando o que foi dito sobre o caráter sequencial e integrativo do desenvolvimento, depreende-se que no processo do conhecimento, nada aparece sem uma ligação com as conquistas que precederam a que está sendo alcançada aqui e agora, e que toda aquisição nova prepara o caminho para os progressos subsequentes. (SEBER, 2010, p. 15-16, grifos da autora) Desta citação podem-se depreender, de forma esquemática, as seguintes informações: a) O processo de desenvolvimento é uma das fontes de construção de conhecimento. Ele é caracterizado por construções e reconstruções de conhecimentos que se manifestam por meio de etapas com características específicas. b) O tempo é marcado pelos estímulos do meio e dos fatores ligados ao ritmo individual. Isso quer dizer que as crianças, com necessidades especiais ou não, percorrem as mesmas etapas de desenvolvimento; contudo, cada criança tem o seu ritmo de aprendizagem e de desenvolvimento, de acordo com suas potencialidades. É importante lembrar que o professor terá como parâmetro o padrão de desenvolvimento normal da criança, mas cabe também ressaltar que se trata de um parâmetro, e não de um elemento de comparação para rotular a criança. Assim, é preciso considerar os limites da criança, ou seja, esperar dela aquilo que pode realmente oferecer. c) Cada etapa de desenvolvimento relaciona-se com a etapa anterior, já que a etapa do período pré-operatório nada mais é do que a extensão da etapa sensório-motor, e assim por diante. d) Cada etapa é marcada por características específicas que se manifestam nas ações da criançaem interação com o meio. Essas características não são determinadas pelo critério de idade. Ao contrário, dependem da estimulação do meio e dos fatores ligados ao ritmo individual. e) Podem ocorrer defasagens em uma etapa de desenvolvimento, devido à baixa ou inadequada estimulação do meio. f) Nenhum dos aspectos do desenvolvimento e da aprendizagem da criança ocorre sem um elo com construções anteriores já alcançadas pela criança. Além da necessidade de sabermos diferenciar conceitualmente os significados de desenvolvimento e aprendizagem, é preciso também ter claro que esses significados situam-se no contexto de abordagens teóricas diferentes. Isso significa dizer que, de acordo com cada autor que tomamos como referência, teremos uma forma de conceituar tanto um quanto o outro processo. Leia agora as próprias palavras de Piaget (1964) sobre o que se entende por desenvolvimento e aprendizagem na abordagem teórica da Epistemologia Genética. Primeiro, eu gostaria de esclarecer a diferença entre dois problemas: o problema do desenvolvimento e o da aprendizagem. [...] desenvolvimento é um processo que diz respeito à totalidade das estruturas de conhecimento. Aprendizagem apresenta o caso oposto. Em geral, a aprendizagem é provocada por situações – provocada por psicólogos experimentais; ou por professores em relação a um tópico específico; ou por uma situação externa. Em geral, é provocada e não espontânea. Além disso, é um processo limitado – limitado a um problema único ou a uma estrutura única. Assim, eu penso que desenvolvimento explica aprendizagem, e essa opinião é contrária à opinião amplamente difundida de que o desenvolvimento é uma soma de experiências discretas de aprendizagem. (PIAGET, 1964, p. 176) O que você extraiu dessa citação? Certamente que o processo de desenvolvimento é, para Piaget (1964), um processo relacionado à construção de conhecimento e das estruturas cognitivas que o compõem. Já o processo de aprendizagem é construído a partir da realidade externa, ou seja, das situações. Interessante notar que o processo de desenvolvimento é um processo interno e o da aprendizagem é um processo externo. Outro ponto importante da fala de Piaget (1964) é a seguinte afirmação: “eu penso que desenvolvimento explica aprendizagem”. O que isso significa? Significa que o processo de desenvolvimento orienta as possibilidades de como o sujeito aprende. A criança aprende o que a realidade exterior coloca para ela se as estruturas cognitivas (processo de desenvolvimento) estiverem previamente desenvolvidas. Então, é o processo de desenvolvimento que dá o suporte necessário para a aprendizagem da criança. O processo de desenvolvimento potencializa a aprendizagem. Como se dá a relação desses conceitos piagetianos com o ato de brincar? Sem querer adiantar um tópico específico da discussão, esses conceitos implicam o entendimento de que, segundo essa abordagem, o ato de brincar da criança está intimamente ligado às suas construções cognitivas, isto é, ao seu processo de desenvolvimento. De acordo com Vygotsky, temos outra visão sobre o desenvolvimento e a aprendizagem. Segundo este pesquisador, “o único bom ensino é o que se adianta ao desenvolvimento” (VYGOTSKY, 2010, p. 115). Analisemos diretamente as suas palavras: A aprendizagem não é, em si mesma, desenvolvimento, mas uma correta organização da aprendizagem da criança conduz ao desenvolvimento mental, ativa todo um grupo de processos de desenvolvimento, e esta ativação não poderia produzir-se em aprendizagem. Por isso, a aprendizagem é um momento intrinsecamente necessário e universal para que se desenvolvam na criança essas características humanas não naturais, mas formadas historicamente. (VYGOTSKY, 2010, p. 115) Oliveira (1005) complementa a ideia de Vygotsky sobre a aprendizagem, afirmando: É um processo pelo qual o indivíduo adquire informações, habilidades, atitudes, valores, etc. a partir de seu contato com a realidade, o meio ambiente, as outras pessoas. É um processo que se diferencia dos fatores inatos (a capacidade de digestão, por exemplo, que já nasce com o indivíduo) e dos processos de maturação do organismo, independentes da informação do ambiente. Em Vygotsky, justamente por sua ênfase nos processos sócio-históricos, a ideia de aprendizado inclui a interdependência dos indivíduos envolvidos no processo. O termo que ele utiliza em russo (obuchenie) significa algo como “processo de ensino aprendizagem”, incluindo sempre aquele que aprende, aquele que ensina e a relação entre essas pessoas. (OLIVEIRA, 1995, p. 57) Ao comparar a visão dos dois pensadores, você verá que para Piaget (1964) é o desenvolvimento que impulsiona a aprendizagem. Já para Vygotsky (2010), é o processo de aprendizagem que impulsiona o desenvolvimento. O ato de brincar, na visão de Vygotsky (2010), relaciona-se com o contexto social e histórico, bem como o pressuposto de que as mediações sociais (aprendizagem) da criança com o meio é que influenciarão diretamente no seu processo de desenvolvimento. Pare um pouco agora e reflita: até aqui ficaram claros os conceitos de aprendizagem e de desenvolvimento segundo os autores que apresentamos? Você conseguiu perceber o cuidado que devemos ter ao conceituar esses dois termos tendo como referência uma abordagem teórica? Volte às citações diretas feitas anteriormente, de Piaget (1964) e de Vygotsky (2010), e sublinhe a ideia que mais lhe chamou atenção. Ter acesso a conceitos diretamente das fontes originais dos pensadores ajudará você a ter mais segurança em seus estudos. O ato de brincar com os processos de desenvolvimento e aprendizagem O que é o brincar na sua concepção? Você acredita que brincando a criança potencializa a sua aprendizagem e desenvolvimento? O que caracteriza o brincar? Para ampliar o universo conceitual você estudará a visão de alguns estudiosos sobre o tema. Ao ler e refletir acerca das contribuições deles, gostaria que você tomasse a posição de uma pessoa que está dialogando com esses autores, certo? Para isso, veja a seguir o conjunto de citações em sequência, para depois refletir a partir delas. a) Citação 1: O brincar é uma linguagem infantil e: Nenhuma criança brinca só para passar o tempo, sua escolha é motivada por processos íntimos, desejos, problemas, ansiedades. O que está acontecendo com a mente da criança determina suas atividades lúdicas; brincar é sua linguagem secreta, que devemos respeitar mesmo se não a entendemos. (GARDNEI apud FERREIRA; MISSE; BONADIO, 2004) b) Citação 2: Para Oliveira (1995), o brincar e o brinquedo fundem-se e ambos criam: [...] uma Zona de Desenvolvimento Proximal na criança, lembrando do que ela afirma que a aquisição do conhecimento se dá através das zonas de desenvolvimento: a real e a proximal, a zona de desenvolvimento real é a do conhecimento já adquirido, é o que a pessoa traz consigo, já a proximal só é atingida, de início, com o auxílio de outras pessoas que já tenham adquirido esse conhecimento. (OLIVEIRA, 1995, p. 67) c) Citação 3: Para Vygotsky (1984, p. 56), brincar proporciona a aprendizagem: [...] a criança ao brincar de faz-de-conta, cria uma situação imaginária podendo assumir diferentes papéis, como o papel de um adulto. A criança passa a se comportar como se realmente fosse mais velha, seguindo as regras que esta situação propõe. Ao ler as citações anteriores, o que mais despertou a sua atenção? Alguma palavra ou frase? Na citação 1, o brincar é uma linguagem infantil. De um modo bem amplo, podemos entender a linguagem como processos de simbolização. Simbolizar significa criar representações de algo que observamos e percebemos da realidade. Ao dizer que o brincar é uma linguagemda criança, estamos dizendo que por meio desse ato a criança expressa, comunica, representa as suas percepções da realidade. Portanto, o brincar expressa todo o conteúdo simbólico que a criança guarda dentro de si. A criança brinca com o “material”, o conteúdo que apropriou da realidade. Por isso, o educador deve ter um olhar especial para as brincadeiras infantis. Na citação 2, a autora relaciona o brincar com a abordagem de Vygotsky. Como você já aprendeu, segundo esse autor, o processo de aprendizagem e desenvolvimento ocorre por meio da zona de desenvolvimento proximal. Na citação 3, complementar à citação 2, o brincar enriquece a aprendizagem e impulsiona o desenvolvimento infantil. Resumindo, “a capacidade de brincar e a capacidade de simbolização são interdependentes” (FORTUNA, 2012, p. 21). O ato de brincar cria uma ponte entre a realidade interna e a externa, mantendo a integridade da criança (WINNICOTT, 1982). AGORAÉASUAVEZ Questão 1 Sabemos que o brincar é uma das linguagens da criança. Como esse ato interfere nos processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança? Questão 2 Analise a afirmativa a seguir: “O brinquedo associado ao ato de brincar compõe um rico e prazeroso processo de entendimento do mundo real que a criança ainda desconhece”. Diante dessa afirmativa, analise as seguintes proposições: I. A brincadeira envolve o prazer e constitui-se como uma das linguagens essenciais da infância. II. A brincadeira tem um papel fundamental na aprendizagem, porque contribui para a inserção da criança no mundo real. III. A brincadeira é válida para que a criança tenha contato com a cultura lúdica na qual está inserida. IV. A brincadeira é capaz de desenvolver na criança somente noções de lateralidade, coordenação motora e entendimento de regras. Está correto o que se afirma em: a) Os itens I, II e III estão corretos. b) Os itens II e IV estão corretos. c) Os itens I e III estão corretos. d) Os itens I, II e IV estão corretos. e) Os itens II e III estão corretos. Questão 3 O brincar é considerado um elemento fundamental no processo de desenvolvimento e aprendizagem infantil porque: a) Por meio do brincar as crianças podem reconstruir elementos do mundo que as cerca com novos significados, tecer novas relações, repensando e recriando os conhecimentos sobre si mesmas e os outros. b) No momento de brincar é impossível que a criança mergulhe num mundo imaginário que é só dela, esquecendo os problemas cotidianos a que está sujeita. c) As brincadeiras e os jogos são a única forma de aquisição de conhecimentos. d) A criança não distingue o universo da brincadeira do mundo real, agindo dentro do universo lúdico inconscientemente. e) Apesar de não caracterizar-se como uma linguagem infantil, permite que a criança manifeste suas emoções, medos e fantasias. Questão 4 Vygotsky e Piaget encaram o desenvolvimento e aprendizagem de formas diferentes. Diga de forma concisa em que consiste essa diferença. Questão 5 De acordo com Piaget e Vygotsky, a brincadeira ocupa um importante papel no desenvolvimento e aprendizagem da criança. Com base nesta aula e na aula anterior, dê dois motivos que justificam a importância da brincadeira. FINALIZANDO Para finalizar o estudo, vamos retomar a nossa pauta e sistematizar, de forma resumida, o que alcançamos. Acerca do que entendemos por desenvolvimento infantil: é um processo interno que segue leis biológicas e que interfere diretamente no processo de construção do conhecimento. Esse conceito deve ser extraído de cada abordagem teórica. A respeito do que estudamos sobre a aprendizagem: é um processo externo que ocorre por meio de mediações sociais e que influencia diretamente o processo de desenvolvimento. Trata-se da apropriação pelo sujeito da realidade que o cerca. Para finalizar, sintetizamos que os dois processos interferem no ato de brincar, na medida em que são responsáveis pela formação do seu “conteúdo”. Ou seja, a criança brinca de acordo com o repertório que tem internamente e que foi construído a partir do seu desenvolvimento e de suas aprendizagens. Agora você tem maiores argumentos para responder a nossa pergunta inicial: Sabemos que o brincar é uma das linguagens da criança, mas como esse ato interfere nos processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança? GLOSSÁRIO Processo: significa, no contexto de nosso estudo, um sistema com regras próprias. Epistemologia genética: teoria criada por Jean Piaget que entende que o conhecimento é construído a partir de estruturas cognitivas do sujeito. Estruturas cognitivas: é o conjunto de elementos que são usados nos processos mentais superiores de cognição. Simbolizar: é a capacidade de representar e exprimir-se por meio de símbolos. Representações: é a ação de apresentar algo por meio de símbolos. Podemos entender também que “representar” é algo que está substituindo outra coisa, que pode ser uma ideia ou um objeto GABARITO Questão 1 Resposta: O brincar é uma linguagem infantil. De um modo bem amplo, podemos entender a linguagem como processos de simbolização. Simbolizar significa criar representações de algo que observamos e percebemos da realidade. Ao dizer que o brincar é uma linguagem da criança estamos dizendo que por meio desse ato a criança expressa, comunica, representa as suas percepções da realidade. Portanto, o brincar expressa todo o conteúdo simbólico que a criança guarda dentro de si. A criança brinca com o “material”, o conteúdo que apropriou da realidade. Por isso, o educador deve ter um olhar especial para as brincadeiras infantis. Na abordagem de Vygotsky, o brincar enriquece a aprendizagem e impulsiona o desenvolvimento infantil. Resumindo, “a capacidade de brincar e a capacidade de simbolização são interdependentes” (FORTUNA, 2012, p. 21). O ato de brincar cria uma ponte entre a realidade interna e a externa, mantendo a integridade da criança (WINNICOTT, 1982). Questão 2 Resposta: Alternativa A. A alternativa “a” está correta, pois o brincar é uma das linguagens da criança que favorece o enriquecimento cultural e constitui-se, portanto, em uma fonte de desenvolvimento e aprendizagem, além de desempenhar um papel preponderante no desenvolvimento e aprendizagem infantil. O item III está correto, pois o brincar é parte da cultura lúdica. Questão 3 Resposta: Alternativa A. A alternativa “a” está correta, pois o brincar, enquanto linguagem, propicia à criança a ampliação de seu repertório, além de aumentar qualiativamente suas interações consigo mesma, com o outro e com o mundo social. Questão 4 Resposta: Ao comparar a visão dos dois pensadores, temos que, para Piaget, é o desenvolvimento que impulsiona a aprendizagem. Já para Vygotsky, é o processo de aprendizagem que impulsiona o desenvolvimento. Questão 5 Resposta: Dentre outros motivos, o aluno poderá responder: • A brincadeira é uma linguagem indispensável ao equilíbrio afetivo e intelectual da criança, seja para satisfazer seus interesses e necessidades, como também para aprender conteúdos escolares de uma forma lúdica e prazerosa. • A brincadeira possibilita o desenvolvimento da capacidade de simbolização da criança ao lidar com situações imaginárias, bem como conduz ao desenvolvimento da vontade, da capacidade de escolha e do autocontrole. Na aula anterior você aprendeu sobre a importância do brincar para o desenvolvimento da criança e para sua aprendizagem. Além disso, você compreendeu que ambos são considerados processos distintos, a depender da perspectiva teórica adotada. Como futuro professor, você já deveestar convencido do quanto é fundamental assumir a ludicidade como estratégia no processo de ensino-aprendizagem da criança. Nesta aula, você aprenderá sobre o conceito de criatividade e como ela pode ser identificada no comportamento da criança. Verá também como utilizar o jogo, a brincadeira e o brinquedo como eficientes recursos de estímulo à criatividade da criança, desde a educação infantil até o ensino fundamental. Conhecerá ainda algumas pesquisas atuais a respeito de um tema que interessa a todos, pois quem não quer ser criativo? Independentemente da área em que se atua – na área educacional, na empresarial, na artística e em quaisquer outras –, a criatividade é um diferencial desejável e deve ser estimulada desde a infância. Por isso, anime-se para esta aula! TEMA 03: A Brincadeira como Instrumento de Desenvolvimento da Criatividade 1. O conceito de criatividade Pense por um momento: o que significa ser criativo? Significa saber fazer obras artísticas, como pintar um quadro, fazer uma escultura, fazer um trabalho manual? Saber decorar a casa, combinar cores e estilos de roupas? É criativo quem consegue propor novas soluções para velhos problemas? Ou seja, quando a pessoa apresenta um jeito novo de fazer alguma coisa, com um olhar inovador e prático, ela está sendo criativa? A criatividade é um dom ou se aprende a ser criativo? O estudo da criatividade é relativamente recente (cf. PEARSON, 2011) e teve início no campo da psicologia cognitiva. Em 1926, o inglês Graham Wallas elaborou o que pode ser considerado como o primeiro modelo do pensamento criativo. Segundo esse modelo, a criação de uma nova ideia seria um processo formado por quatro etapas: 1. Preparação: diz respeito ao momento em que a pessoa coleta as informações necessárias para conhecer o problema em questão. 2. Incubação: diz respeito ao período de “descanso mental”, em que a pessoa deixa o problema de lado temporariamente. 3. Iluminação: diz respeito ao momento em que a pessoa tem uma espécie de “insight” ou inspiração, chegando, finalmente, à solução criativa. 4. Verificação: diz respeito ao momento de ajuste e implementação da solução de um problema. Neste modelo, a ideia criativa depende de um processo inconsciente, incontrolável, isto é, de um “clique”. A criatividade passa a ser vista e estudada como uma mistura de esforço e imaginação. Em momento posterior, pesquisadores perceberam que eram necessários certos passos antes da “iluminação” ou do “clique”, e começaram a se dedicar à preparação de roteiros objetivos predefinidos, os quais as pessoas deveriam seguir para conseguirem ser mais criativas. Esse modo de ver a emergência da criatividade era muito centrado na pessoa, no indivíduo, como se dependesse apenas do talento pessoal, ignorando a influência de um ambiente estimulante e/ou da interação com outras pessoas (amigos, familiares, colegas de trabalho e de escola etc.). Um dos pioneiros em perceber e estudar essa inter-relação foi o psicólogo Mel Rhodes, para o qual a: [...] criatividade é um fenômeno em que uma pessoa comunica um novo conceito – o produto. A pessoa chega até esse produto por meio de um processo mental. Como nenhum ser humano vive ou opera num vácuo, precisamos considerar também o ambiente. (apud PEARSON, 2011, p. 7) De acordo com essa visão, a criatividade não acontece espontaneamente; ela emerge durante as interações da pessoa com o ambiente e surge a partir dos efeitos que essas interações têm sobre a própria pessoa e os grupos sociais dos quais ela faz parte. A criatividade é, portanto, um fenômeno de natureza individual e social. A criatividade1 pode, então, ser conceituada como: 2. Infância, imaginação e criatividade Dentro de uma perspectiva histórico-cultural sobre o desenvolvimento humano, sobretudo com base nas reflexões de Vygotsky, considera-se que, apesar de a ação criadora se manifestar ao longo de todo o desenvolvimento do indivíduo, é na infância que ela assume contornos específicos. Daí a importância de o professor estar atento e motivar seus alunos nesse sentido, pois as crianças configuram suas expressões criativas por meio de brincadeiras, narrativas, desenhos etc., os quais evidenciam, muitas vezes, não somente o modo como pensam o real, mas também como o sentem e interpretam. Você, como futuro professor, irá perceber que quando uma criança ou um grupo de crianças decide brincar, ocorre o despertamento de sua imaginação. Rau (2011) descreve como isso acontece. Veja: Inicialmente, elas não sabem exatamente do que brincar, então trocam ideias e elaboram o tema de suas brincadeiras. A partir desse momento, definem espaços e objetos que servirão de suporte para elas. No começo não há intencionalidade em relação às ações que serão desenvolvidas. Assim, quando dialogam e interagem, as crianças problematizam e representam os cenários de seu cotidiano. Nesse sentido, o brincar se distingue de qualquer outra forma de atividade, pois nele a criança cria uma situação imaginária. (RAU, 2011, p. 171) Você deve ter percebido, por essa descrição, que a maneira como se manifesta a criatividade da criança está ligada à imaginação, a qual, segundo Silva (2012, p. 20), é “a capacidade do homem de criar, mesmo que se baseando na experiência passada, elementos novos”. Você com certeza já observou crianças brincando de casinha, de super-herói, de médico, e deve ter reparado que elas sempre agregam algo novo ou inusitado à brincadeira de faz de conta. Usam diferentes objetos a elas acessíveis, como telefone, estetoscópio, panela ou copo etc. A brincadeira estimula a criatividade ao permitir a construção de novas possibilidades de ação e formas inéditas de arranjar os elementos do ambiente. 1 Veja como a ministra de Inovação e Cultura de Santa Fé (Argentina), "Chiqui" González, define criatividade no vídeo indicado a seguir. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_sRJ5NndPTg>. Acesso em: 11 maio 2015. A experiência cultural da criança, isto é, as experiências que ela tem em diferentes contextos e situações influenciam a composição de sua imaginação. Assim, a imaginação não deve ser considerada um devaneio ou uma simples ilusão infantil, pois ela é a base para o pensamento, a criatividade e o conhecimento de mundo. Para Vygotsky (apud SILVA, 2012), a necessidade do indivíduo de adaptar-se ao meio que o rodeia é o principal fator psicológico do desenvolvimento da imaginação. Segundo o estudioso russo, se o ambiente não oferece nenhum obstáculo ao seu desenvolvimento natural, não existe base para o surgimento de uma ação criadora. Dessa forma, pode-se afirmar que a inadaptação é a condição principal para o desenvolvimento humano, pois faz emergir a necessidade de transformação do ambiente. Assim, vê-se que o ambiente tem papel fundamental tanto para a emergência quanto para a repressão da criatividade. Os fatores de bloqueio à criatividade podem ser agrupados em categorias, como barreiras perceptivas, culturais, “[...] um conjunto de capacidades que permitem a uma pessoa comportar-se de modos novos e adaptativos em determinados contextos” (MOUCHIRD; LUBART, 2002 apud BRITO; VANZIM; ULBRICHT, 2011, p. 205). “[...] a capacidade de criar uma solução que é ao mesmo tempo inovadora e apropriada” (STERNBERG; LUBART, 1999 apud BRITO; VANZIM; ULBRICHT, 2011, p. 205). ambientais, emocionais, intelectuais e expressivas ou então de ordem social, ligadas a valores, normas e pressupostos existentes na sociedade. (ALENCAR; MARTINEZ, 1998 apud BRITO; VANZIM; ULBRICHT, 2011, p. 206) Como você já estudou nas aulas anteriores, o lúdico é fundamental para a emergência do pensamento abstrato, da capacidade de representação e simbolização, e, portanto, da elaboração e ampliaçãodas competências tanto imaginativas quanto linguísticas das crianças. Nesse processo de aprendizagem e desenvolvimento, a figura do mediador – o professor – é essencial. Infelizmente, a formação tradicional de professores tem privilegiado os processos de ensinar e aprender pelo enfoque disciplinar e controlador. Planejamentos e avaliações estão pautados neste objetivo instrucional e a concepção de aula está fundada nesses princípios. Imagine a seguinte situação em uma sala de educação infantile O que você acha dessa situação? A professora está dando chance à criatividade de seus alunos ou a está cerceando? Neste caso, ela está dando valor ao produto e não ao processo, negligenciando os aspectos da atividade imaginativa da criança. A mestra poderia aproveitar a oportunidade e permitir que as crianças falassem de suas experiências, relatassem se já tinham visto algum coelho de perto, de que cor eles eram, se comiam apenas cenoura ou algum outro alimento, entre outros questionamentos, para que a partir da realidade as crianças imaginassem novas situações e pudessem expressar suas emoções e impressões. Em vez disso, a professora predetermina a estética do desenho, destacando apenas uma forma de categorizar a realidade, como se fosse a única possível. A professora do nosso exemplo parece ignorar que os ovos de chocolate não são vendidos com a cor exposta, mas vêm em embalagens coloridas e chamativas. Ao direcionar as escolhas das crianças, denota uma postura autoritária e centralizadora, e ocorre uma espécie de intimidação do desenvolvimento criativo da criança de qualquer faixa etária. Você, como futuro profissional da educação infantil, deve cuidar para que o espaço da aula não se configure de modo que impeça e limite os processos criativos, mas que funcione como cenário de expansão e de apropriação de novos modos de compreender, representar e expressar o real. Segundo Oliveira (2011), a criatividade deve permear também o ensino e, por isso, deve-se repensar o modelo de escolarização atual, que prioriza certos rituais, lições de casa, suspensões, e a metodologia de trabalho centrada no professor, que propõe tarefas iguais para todos, para serem realizadas ao mesmo tempo, de uma mesma maneira. A autora salienta: Em vez de um método único de ensino, baseado em um processo cognitivo que se julga perfeito, homogêneo e irreversível, propomos o encorajamento da familiaridade das crianças com novas situações, a legitimação, para elas, de um espaço de participação amplo e diversificado nas atividades propostas. (OLIVEIRA, 2011, p. 185) O RCNEI - Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil - afirma caber ao professor a organização de situações para que Logo depois de contar a história do Coelho da Páscoa, a professora distribui folhas de sulfite e giz de cera para seus alunos, com o desenho de um coelho comendo uma cenoura e de alguns ovinhos de chocolate ao redor do animal. Ela, então, os orienta a pintar o coelho de amarelo, a cenoura de laranja e os ovinhos de marrom. Uma das crianças pergunta se não poderia pintar o seu coelho de preto, pois na chácara do avô havia um desta cor. A mestra responde que não, pois o coelho da páscoa era amarelinho e todos deveriam pintá-lo do mesmo jeito. Outra criança pergunta se não poderia colorir os ovos com outras cores, ao que a professora também se opõe, dizendo que deveria ser marrom, pois é a cor do chocolate. as brincadeiras ocorram da maneira mais diversificada possível, a fim de propiciar às crianças a possibilidade de escolherem os temas, os objetos, os papéis e os companheiros com quem brincar, bem como os jogos, para assim elaborarem de forma pessoal e independente seus sentimentos, emoções, conhecimentos e regras sociais (BRASIL, 1998b, p. 29). O professor, que quase sempre tem o controle sobre os materiais utilizados na escola, é quem define o que será oferecido à criança no momento da brincadeira. Por isso, além de oferecer objetos diferentes dos que ela provavelmente possui fora da escola, também pode orientar a escolha dos objetos e brinquedos que poderão estimular e desafiar a criatividade da criança, em função do ritmo e estágio de desenvolvimento em que ela se encontra. 3. Sugestões de atividades para estimular a criatividade da criança 3.1 Criatividade por meio da expressão oral (narrativa) O professor escolhe uma história já conhecida pelos alunos, como por exemplo, um conto de fadas (Chapeuzinho Vermelho, Os Três Porquinhos, Rapunzel, João e o Pé de Feijão etc.), faz uma roda no chão e conta a narrativa às crianças. Em seguida, sugere que a história seja recontada, isto é, que cada um vá fazendo mudanças em seu enredo, seja alterando acontecimentos, seja inserindo novos personagens. O professor serve de mediador, para dar sequência aos fatos narrados pelas crianças e “alinhavar” a contribuição que cada criança dá à história. 3.2 Criatividade por meio da expressão gráfica Aproveitando a história já contada e recontada pelas crianças, pede-se então a cada uma delas que crie um desenho em função da nova história, recriada a partir dos novos detalhes e personagens inventados na roda de história. Você deve deixá-las produzir livremente, sem interferências, seja quanto aos personagens que ela irá escolher retratar, seja quanto às cores que irá utilizar. Nesta atividade, o professor só irá definir o que a criança usará para produzir o desenho (sulfite, papel manilha, cartolina, lápis de cor, tinta guache, giz de cera). 3.3 Criatividade por meio da expressão cênica (teatro) Finalmente, aproveitando-se do que foi realizado nas duas atividades anteriores – expressão oral e expressão gráfica –, parte-se então para a expressão cênica, por meio da encenação da nova história criada na roda. Se a escola não tiver fantasias para as crianças, aproveite a sua criatividade e a das crianças e crie fantasias você mesmo em sala de aula. Você pode usar material reciclável, diferentes tipos de papel, placas de EVA e tecido tipo TNT de várias cores. É só dar asas à imaginação! Para se inspirar ainda mais, leia a seguir uma experiência bastante inovadora que a professora de Artes Marisa Szpigel, da Escola da Vila, em São Paulo (SP), propôs aos seus alunos: O desenho já faz parte da rotina do 1º ano da EMEB Edson Danillo Dotto, em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo. A professora Daniella Corrêa Bezerra promove atividades de Arte combinadas à leitura pedindo que as crianças desenhem após ouvir as histórias. Ela notou, porém, que elas tendem a copiar o que veem nos livros. Nessa idade, os alunos querem produzir o desenho considerado correto, mais próximo à representação do real. Pensando nisso, Marisa Szpigel, a Zá, coordenadora de Arte da Escola da Vila, em São Paulo, propôs uma atividade que retoma o desenho de imaginação, mais usual na Educação Infantil. Os alunos fazem as ilustrações de um livro sem ver as imagens dele, só com as informações do texto. Depois, com a apreciação de obras de vários artistas e das suas próprias, eles refletem sobre as possibilidades de representação de uma mesma coisa. A obra escolhida foi O Grúfalo (Julia Donaldson e Axel Scheffler, 32 págs., Ed. Brinque-Book), que descreve um animal imaginário. Primeiramente, Zá anunciou que faria a leitura do livro e avisou que as crianças fariam o trabalho de ilustrá- lo. Para isso, precisariam prestar muita atenção às partes com descrições do personagem. Depois da leitura, em grupos, cada criança recebeu caneta, lápis de cor e um papel. Zá explicou que eles deveriam fazer a cabeça do animal na metade superior do papel e o corpo na metade inferior. Com os desenhos prontos, a formadora mostrou à turma o Grúfalo imaginado pelo ilustrador da obra, comparando-ocom as produções dos alunos. Zá mostrou, então, o livro Bichos Que Existem e Bichos Que Não Existem (Arthur Nestrovski, 56 págs., Ed. Cosac Naify) para ampliar as referências que as crianças têm de imagens desse tema. Zá, Daniella e a coordenadora pedagógica Carla Freschi de Araújo destacaram a cooperação entre as crianças. Elas se ajudaram na hora de desenhar, ao recordar a descrição do livro, e na apreciação, ao mostrar quais elementos chamaram a atenção. As educadoras também comentaram a importância de validar a produção dos alunos que saem do que é convencionalmente esperado e como é necessário um repertório de Arte e de conhecimentos didáticos para que isso seja encaminhado a fim de alimentar o percurso criador de todos. Fonte: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/video-amplie-criatividade-turma-producao-desenhos- 777187.shtml>. Acesso em: 11 maio 2015. AGORA É A SUA VEZ Questão 1 Você aprendeu a importância de o professor estimular em seus alunos a criatividade, desde o início da escolarização. Com base no que você estudou nesta aula, defina com suas próprias palavras o que é criatividade e cite as quatro dimensões da criativida- de, segundo Mel Rhodes. Questão 2 Leia a seguir o trecho de uma reportagem da revista Nova Escola, intitulada Pequenos Artistas, de Tatiana Achcar: Crianças de 4 anos geralmente já têm noção de espaço e desenham dentro do limite da folha, mas ainda não estabelecem uma escala de tamanho nem conhecem bem as cores. Uma árvore inteira pode ser pintada de verde e ser do tamanho de uma flor. (ACHAR, 2006, s.p.) Para que as crianças ampliem seu universo pictórico e percebam a diversidade de tons, formas e tamanhos, o professor ou a professora deve: a) Pedir aos alunos que prestem atenção nos detalhes das folhas, das flores, do tronco e da raiz e no tamanho da árvore em relação a outras plantas. b) Pedir aos alunos que olhem em livros e revistas como são as folhas, flores, tronco, raiz e tamanho da árvore para tentar reproduzir tudo fielmente por meio do desenho. c) Desenhar folhas, flores, tronco e raiz na lousa e pedir aos alunos que copiem tudo e pintem com as cores indicadas pela professora. d) Pedir aos alunos que desenhem e pintem tudo livremente, sem necessidade de orientação alguma, para que deixem a criatividade flui Questão 3 Julgue as afirmações a seguir como V (Verdadeiras) ou F (Falsas). 1. ( ) A literatura infantil é grande auxiliar no desenvolvimento das crianças, pois estimula o imaginário próprio da infância. Contos de fadas e fábulas materializam e traduzem todo um mundo de desejos, sonhos, emoções, brincadeiras, fantasias e criativi- dade. 2. ( ) O único papel do professor de educação infantil é auxiliar as crianças em seu processo de maturação, e isto se faz apenas pela valorização do imaginário, estimulando os processos criativos delas. 3. ( ) Ao brincar, a criança desenvolve sua imaginação, mas é preciso limitar esses momentos e inserir o quanto antes na edu- cação infantil atividades de transmissão de conteúdos escolares, preparando a criança para o ensino fundamental. 4. ( ) Em seu desenvolvimento, através da situação imaginária, a criança é levada a organizar seus pensamentos, pois o brin- quedo cria uma relação entre o significado e a percepção visual, ou seja, entre o pensamento e a situação real. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta: a) F, F, V, F. b) V, V, F, V. c) V, F, F, V. d) F, V, F, V. Questão 4 “A brincadeira permite a construção de novas possibilidades de ação e formas inéditas de arranjar os elementos do ambiente.” (OLIVEIRA, 2011, p. 164) Relacione a afirmação de Oliveira à definição de criatividade que você aprendeu nesta aula. Questão 5 Leia o trecho a seguir sobre a imaginação na infância: A imaginação tem ainda uma função importante na regulação das próprias emoções e das ações. Aqueles que tiveram tolhida na infância a possibilidade de imaginar, em geral, apresentam a dificuldade de controlar os impulsos na vida adulta. A imaginação é um jeito de concretizar um pensamento sem a necessidade da ação. (MOÇO, 2010, s.p.) Agora leia o caso a seguir: Em uma sala de aula com crianças de cinco anos, na educação infantil, a professora conta a história dos três porquinhos e, em seguida, distribui um desenho dos três personagens e suas respectivas casas. A mestra, então, pede às crianças que pintem os porquinhos de rosa claro e cada casinha de uma cor predeterminada: amarelo, cinza e azul, com telhados na cor marrom. Com base no que você aprendeu nesta aula sobre criatividade e imaginação, discuta se a metodologia utilizada pela professora cumpre a função de dar condições à criança de desenvolver a função imaginativa. fiNAlizANDO Você aprendeu nesta aula que a criatividade não é um “clique” ou um dom especial que poucos privilegiados possuem, mas sim uma capacidade que pode ser desenvolvida. Para isso, é fundamental, desde a mais tenra infância, que a criança esteja em um ambiente que a estimule e favoreça ações criativas, principalmente por meio da imaginação, quando ela será capaz de simbolizar e representar. Assim, a escola e você, como futuro professor da educação infantil, devem cuidar para que o espaço da aula, o ambiente em que a criança passa boa parte de seu dia, não seja um impedimento aos processos criativos, mas sim um cenário de expansão e de apropriação de novas formas de compreensão, representação e expressão do real. GLOSSARIO Criatividade: um conjunto de capacidades que permitem a uma pessoa comportar-se de modos novos e adaptativos em determinados contextos; a capacidade de criar uma solução que é ao mesmo tempo inovadora e apropriada. Imaginação: a capacidade do homem de criar elementos novos, mesmo que se baseando na experiência passada. Representação: a capacidade que temos para evocar verbalmente objetos e acontecimentos ausentes, isto é, somos capazes de pensar e/ou falar sobre coisas, pessoas e acontecimentos sem que os estejamos vendo ou vivenciando no momento. Simbolização: é a capacidade de representar, reconhecer e exprimir-se por meio de símbolos. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil: constituído de três volumes, integra a série de documen- tos dos Parâmetros Curriculares Nacionais elaborados pelo Ministério da Educação e do Desporto, e visa subsidiar o trabalho educativo diário dos educadores da Educação Infantil nas creches e entidades equivalentes e nas pré-escolas. GABARITO Questão 1 Resposta: Diz respeito à capacidade de criar coisas novas, nas mais diversificadas áreas (artística, empresarial, financeira, científica). Também pode se apresentar como novas soluções para problemas já existentes. As quatro dimensões da criatividade são a pressão do ambiente, a própria pessoa, o produto e o processo. Questão 2 Resposta: Alternativa A. Como o objetivo é ampliar o universo pictórico da criança para que ela aprenda a diferenciar cores, formas e tamanhos, a ação mais adequada do professor está expressa na alternativa A. As demais alternativas apresentam ações inadequadas do professor, pois não favorecem a livre expressão da criança, ainda que necessariamente monitorada, em função de objetivos pedagógicos que visam ao desenvolvimento da percepção e observação da criança. Questão 3 Resposta: Alternativa C. O item 2 está incorreto, pois auxiliar as crianças em seu processo de maturação não é o único papel do professor de educação infantil. O item 3 está incorreto, pois a transmissão de conteúdos escolares não é o objetivo da educação infantil. Questão 4 Resposta: Inventar novas formas de brincar, novas regras para um jogo, novos personagens ou criar novas ações para personagens já existentes;usar um objeto para representar outro, atuar como se fosse outro etc.; todas essas ações requerem capacidade simbólica. Portanto, a imaginação contribui para o desenvolvimento da capacidade criativa da criança. Questão 5 Resposta: A professora está tolhendo a capacidade criativa da criança, que não tem a oportunidade de refletir sobre a história ouvida, imaginar seus personagens a sua maneira, desenhá-los como os teria imaginado, inclusive escolhendo as cores, tanto dos porcos, como das casinhas, com base em seus conhecimentos prévios. A mestra deveria não só contar a história, mas fazer perguntas às crianças sobre os personagens e suas ações, além de verificar o que as crianças já conhecem sobre porcos, lobos e outros elementos da história. Depois disso, então, poderia pedir que eles produzissem um desenho com base na história que ouviram, sem especificar outros aspectos. Os conceitos a respeito do brincar, jogar, brinquedo e brincadeira estão presentes na “fala” de todo educador que pretende criar um espaço educativo que favoreça a ludicidade como manifestação da linguagem infantil. Saber diferenciar bem esses conceitos e os seus sentidos certamente ajudará você a planejar aulas mais lúdicas que contemplem essas ações. Para tornar nosso estudo mais direcionado, a pergunta que nos orientará será a seguinte: você percebe a distinção conceitual e, ao mesmo tempo, as relações entre os termos “jogo”, “brinquedo”, “brincadeira” e “brincar”? Esses conceitos possuem o mesmo sentido? Com base nessas questões, ao final desse estudo você deverá ser capaz de diferenciar os conceitos de “jogo”, “brinquedo”, “brincadeira” e “brincar”; além de compreender esses conceitos do ponto de vista teórico a partir das contribuições dos autores que estudam a temática. TEMA04: As relações entre o brincar, o jogar e o brinquedo Você aprendeu anteriormente que a ludicidade é um conjunto de manifestações sociais, culturais e antropológicas do ser humano. A ludicidade não está presente em um único momento de nossas vidas, mas ao longo de todo processo de evolução humana. Em cada etapa do nosso desenvolvimento o lúdico tem um sentido diferente. Segundo Rau (2011, p. 47, grifos da autora) “[...] o lúdico se manifesta por meio do jogo, do brinquedo e da brincadeira, termos que, conceitualmente, apresentam diferenças”. O lúdico tem sua origem na palavra latina “ludus” que quer dizer “jogo”. Se achasse confinado a sua origem, o termo lúdico estaria se referindo apenas ao jogar, ao brincar, ao movimento espontâneo. A evolução semântica da palavra “lúdico”, entretanto, não parou apenas nas suas origens e acompanhou as pesquisas de Psicomotricidade. O lúdico passou a ser reconhecido como traço essencial de psicofisiologia do comportamento humano, de modo que a definição deixou de ser o simples sinônimo de jogo. As implicações da necessidade lúdica extrapolaram as demarcações do brincar espontâneo. (FREITAS; SALVI, 2010, p. 4-5) Para você, quais seriam essas diferenças? Segundo Kishimoto (2011, p. 4), o jogo é “[...] uma ação voluntária da criança, um fim em si mesmo, não pode criar nada, não visa um resultado final [sic]”. Huizinga (2001), por sua vez, nos aponta que o jogo possui as seguintes características: a) O prazer demonstrado pelo jogador. b) O caráter “não sério” da ação. c) A liberdade do jogo. d) A sua separação dos fenômenos do cotidiano. e) A existência de regras. f) O caráter fictício ou representativo. g) A limitação do jogo no tempo e no espaço. A primeira característica refere-se ao elemento “prazer”. Associa-se comumente ao jogo a ideia de que ele dá prazer ao jogador. Contudo, nem sempre é assim, pois “embora predomine, na maioria das situações, o prazer como distintivo do jogo, há casos em que o desprazer é o elemento que caracteriza a situação lúdica” (KISHIMOTO, 2011, p. 4). Um exemplo para ilustrar é a situação vivenciada pela criança que perde o jogo. Nesta situação, ela se sente frustrada por não atingir o objetivo do jogo. Definir o brinquedo como uma atividade que dá prazer à criança é incorreto por duas razões. Primeiro, muitas atividades dão à criança experiências de prazer muito mais intensas do que o brinquedo, como, por exemplo, chupar chupeta, mesmo que a criança não se sacie. E, segundo, existem jogos nos quais a própria atividade não é agradável, como, por exemplo, predominantemente no fim da idade pré-escolar, jogos que só dão prazer à criança se ela considera o resultado interessante. (VYGOSTKY, 2007, p. 107) O segundo elemento - o caráter “não sério” - significa que o jogo contrapõe-se à seriedade (ao trabalho), sendo concebido como algo menos importante. Por relacionar-se ao ócio, ao riso, ao engraçado etc., é tido como algo destituído de seriedade. A liberdade à qual Huizinga (2001) refere-se é entendida como algo voluntário e espontâneo do sujeito que joga Na sociedade contemporânea, só possuem valor as atividades que geram lucro. Como o jogo não é produtivo, do ponto de vista do capital, ele passou a ser considerado um simples passatempo, atividade que se opõe ao trabalho. Isso fez com que ele fosse desprezado também na escola, onde o trabalho, para a criança, nada mais é do que o estudo [...]. (BARBATO, 1995, p. 30) O quarto elemento é a separação do jogo dos elementos que fazem parte do cotidiano. Nesse ponto, o autor alega que o jogo pertence ao mundo do imaginário, isto é, à possibilidade de pensar a realidade de uma nova forma, uma forma transformada pelo jogador. Por exemplo, quando a criança atribui a um cabo de vassoura a representação de um cavalo. No sentido do cotidiano ou da realidade, o cabo de vassoura tem a finalidade de sustentar a base que é capaz de varrer e de juntar o lixo. Entretanto, para uma criança, esse objeto pode ter um sentido diferente, atribuindo-lhe um novo valor e uma nova função. O quinto elemento é a presença de regras predeterminadas, e esta é a sua principal característica, pois sem as regras o jogo não acontece. O caráter fictício refere-se aos sentidos que a criança atribui ao jogo. A limitação do jogo no espaço e no tempo nos indica que o jogo possui natureza improdutiva, já que o jogador, quando envolvido na situação lúdica, não deseja intencionalmente produzir um efeito ou um resultado. Sendo assim, conceituamos o jogo como uma situação lúdica na qual o jogador desempenha a sua conduta conforme as características anteriormente descritas. É fundamental, portanto, entender que o jogo se difere do ato de brincar, porque as regras já estão predeterminadas e não podem ser modificadas. Tomemos como exemplo o jogo do futebol. Se desobedecermos às regras do jogo, esta situação lúdica poderá ser tudo, menos um jogo de futebol. Vamos aproveitar esse momento de conceituação do jogo para aprender o que Piaget (1946) entende sobre os jogos. Na obra “A formação do símbolo na criança”, Piaget (1946) dedica-se ao estudo da função simbólica, com base na imitação e no jogo como atividades propulsoras do desenvolvimento da inteligência, estabelecendo relações entre mecanismos de acomodação e assimilação e os conceitos de jogo e imitação. “Se o ato de inteligência culmina num equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, enquanto que a imitação prolonga a última por si mesma, poder-se-á dizer, inversamente, que o jogo é essencialmente assimilação, ou assimilação predominando sobre a acomodação” (PIAGET, 1946, p. 115). (SANTOS, 2012, p. 48) Esse autor classifica os jogos conforme ilustra a Figura 4.1 a seguir: Conforme Piaget (1946), os primeiros jogos que a criança realiza são os jogos de exercício, que não contêm nenhum simbolismo e consistem no prazer da repetição de comportamentos que ela já aprendeu. Esse tipo de jogo situa-se
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