Buscar

RESUMO DE FUNDAMENTOS GEOGRAFICOS DO TURISMO - AP1

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

FUNDAMENTOS GEOGRÁFICOS DO TURISMO – AP 1
AULA1
Centros Emissores
São as localidades onde residem os turistas. Os principais centros emissores são as grandes cidades, não apenas por concentrar grandes efetivos demográficos (volume de população residente), mas por oferecer melhores condições de emprego e renda, comportando, assim, elevado potencial consumidor.
Fisiografia - A fisiografia corresponde ao conjunto de elementos da geografia física reunidos em uma determinada localidade. Estes elementos são: solo, relevo, clima, vegetação, hidrografia etc. Na terceira aula de nosso curso, trataremos mais precisamente deste assunto.
Modalidade de transporte Corresponde ao tipo de transporte utilizado: aéreo, rodoviário, ferroviário, hidroviário, metroviário. Dentro de um mesmo modal, podemos utilizar diferentes veículos. Por exemplo, no modal aeroviário, temos o avião, o helicóptero, o balão, dentre outros. No modal hidroviário, existem o navio, o veleiro, a balsa etc. No rodoviário, também há grande variação de possibilidades: ônibus, caminhão, automóvel, motocicleta, dentre outros.
Hierarquia urbana A hierarquia urbana, ou hierarquia entre cidades, designa a inserção de cada cidade dentro do conjunto mais amplo das cidades que existem numa região ou país. Conforme o tamanho da cidade, quanto maior sua importância econômica, melhor será sua inserção na hierarquia urbana, tendendo a ocupar os postos mais elevados desta hierarquia. No Brasil, São Paulo ocupa o topo da hierarquia urbana, seguida pelo Rio de Janeiro. São centros urbanos de influência “nacional”. Não por acaso são respectivamente o primeiro e segundo centros emissores de turistas do país.
O espaço de fluxos, conforme explica o geógrafo Milton Santos, corresponde à intensidade da “vida de relações” no interior de uma região. O conceito de vida de relações, por sua vez, expressa o conjunto de transações entre indivíduos. Estas transações podem ser comerciais, governamentais, turísticas, de serviços etc. O fato é que estas transações implicam viagens, negócios, mobilizam os meios de transportes, acionam as vias de circulação, enfim, conferem à região maior densidade de relações sociais e, por isso, demandam uma infra-estrutura de circulação, de pessoas, de mercadorias e de informações.
O fator tempo de deslocamento
Linha isócrona É aquela que une localidades que distam de um ponto fi xo o mesmo volume de tempo. Iso = igual (do grego isos), e cronia refere-se a tempo.
Turistificação
O processo de turistificação compreende o conjunto de transformações através das quais uma localidade se torna um destino turístico. Tais transformações abrangem mudanças materiais e imateriais. No plano material, identificamos a criação e melhoria da infra-estrutura turística, o surgimento de serviços turísticos etc. No plano imaterial, nota-se a mudança na “imagem” do local perante a sociedade como um todo, tornando se um destino conhecido, divulgado, tendo seu nome associado a amenidades e aspectos raros, e que por isso suscita interesse de visitação.
Os recursos turísticos
É a matéria-prima da economia do turismo. Este recurso pode ser de ordem natural ou cultural.
Os recursos de ordem natural são aqueles proporcionados pela natureza: fauna, fl ora, cachoeiras, montanhas, grutas etc. Os recursos de ordem cultural são aqueles produzidos pela atividade humana: museus, edifícios históricos, danças folclóricas, artesanato, tradições culturais em geral.
Resumo
A atividade turística se realiza com plena dependência das vias e meios de transporte, e estes, por sua vez, variam conforme a densidade do espaço de fluxos. Neste sentido, regiões mais habitadas e desenvolvidas apresentam mais fluxos internos, e esta fluidez territorial se realiza a partir das vias e dos meios de transporte. A acessibilidade é, portanto, fundamental para o turismo, e para medi-la utilizamos o método da isocronia. Os atributos geográficos de um lugar (clima, relevo, hidrografia, espaço construído etc.) podem fazer dele um destino turístico em potencial. Todavia, tal é a dependência geográfica do turismo ao espaço de fluxos que mesmo lugares dotados de muitos recursos turísticos têm dificuldades de se turistificar, se não estiverem bem localizados, isto é, bem inseridos no espaço de fluxos. Em contrapartida, localidades situadas no cinturão turístico-recreativo, 
ou seja, nas proximidades das metrópoles, tornam-se destinos turísticos mesmo quando não dotados de amplos recursos para tal fi m, conforme apontamos em diversos exemplos. Por esta razão, o potencial turístico de um lugar deve sempre levar em conta sua acessibilidade em relação aos grandes centros emissores. O potencial turístico é geralmente considerado como o somatório dos recursos turísticos disponíveis numa localidade. Exemplificando, uma cidade dotada de patrimônio histórico preservado tem potencial turístico. Se esta cidade oferecer também um clima agradável, seu potencial aumenta. Se ela dispuser de bons museus e outras atividades culturais, além de hospitalidade, seu potencial turístico será ainda maior. E se, além de todos estes recursos, ela estiver inserida numa região dotada de grandes belezas naturais, cachoeiras, praias selvagens etc., esta cidade será considerada de altíssimo potencial turístico. Todavia, podemos verificar que o potencial turístico, nos termos acima definidos, não é sufi ciente para turistificar uma região ou localidade. É preciso, como vimos, que existam acessibilidade e proximidade dos grandes centros emissores, isto é, das grandes cidades povoadas de consumidores ávidos pelo lazer e turismo.
AULA2
Efeitos multiplicadores do turismo
O turismo é, incontestavelmente, um fenômeno econômico, político, social, cultural e ambiental dos mais expressivos da sociedade contemporânea, movimentando, em nível mundial, números espantosos.
Além disso, ele é considerado o maior gerador de empregos no mundo, dando oportunidade para um em cada nove trabalhadores.
O turismo tem, portanto, relevante papel na produção, na transformação e no consumo espacial, despertando o interesse da Geografia pelo estudo das repercussões produzidas pelo turismo no espaço.
Do patrimônio do produto turístico
Quando existem elementos presentes no espaço geográfico que apresentam condições de atrair turistas, tais como praias, montanhas, edificações históricas etc., temos o Patrimônio Turístico; ao identificarmos no patrimônio tais elementos, temos então Recursos Turísticos;
; quando viabilizamos o deslocamento de turistas para lugares que possuem recursos turísticos, por meio de vias de acesso e meios de transporte, temos então um Atrativo Turístico; a partir do momento em que esse atrativo turístico está vinculado a outros elementos relevantes para a atividade turística, tais como alojamentos, restaurantes, infra-estrutura de apoio turístico etc., o atrativo passa a integrar a Oferta Turística; e quando esse atrativo se encontra inserido no mercado turístico, propiciando aos turistas facilidades para consumir o atrativo turístico e a oferta a este vinculada, temos um Produto Turístico,
A relação turismo e espaço
Em relação ao consumo produtivo, há localidades que apresentam potencialidade turística, e a realização de pesquisas, planejamento e a intervenção humana possibilitam fazer daquela parcela do espaço um importante “produto turístico”.
“produto turístico”. Este seria o caso do município de Bonito, no Mato Grosso do Sul, cujas características fisiográficas, principalmente a transparência da água dos seus rios, somada à beleza e diversidade de seus peixes, indicavam grande potencialidade turística à localidade.
Mas as intervenções humanas no local, como a definição da capacidade de carga, a instalação de pousadas, hotéis e restaurantes, assim como a fiscalização e a melhoria no sistema de transportes, facilitaram o acesso dos turistas a Bonito, inserindo a localidade no mercado turístico. Mas as intervenções humanas no local, como a definição da capacidade de carga, a instalação de pousadas, hotéis e restaurantes,
assim como a fiscalização e a melhoria no sistema de transportes, facilitaram o acesso dos turistas a Bonito, inserindo a localidade no mercado turístico.
Apropriação do espaço pelo turismo
A atividade turística introduz no espaço geográfico seus objetos necessários ao desenvolvimento.
Modismo e abandono?
A apropriação dos espaços pelo turismo propicia a incorporação e o abandono, mesmo que parcial, de outros espaços, pois, entre os fatores que determinam a valorização dos espaços onde o turismo se insere, está o modismo. A análise do turismo no mundo nos mostra que praias, montanhas, campos e cidades têm se alternado como preferência dos fl uxos turísticos dominantes. Além disso, o turismo vem sendo percebido como uma nova necessidade introjetada na mente dos indivíduos.
Turístico Espaço
A dificuldade para se definir o espaço turístico está basicamente em captar a dimensão que esta atividade exerce na produção do espaço. É possível distinguir com certa facilidade os espaços que apresentam, a partir dos objetos presentes, condições de terem fluxos turísticos receptivos. Esses espaços são considerados de “vocação turística”, pois mesmo sendo o turismo uma atividade intensamente presente nesses espaços, não foi ele que produziu tal espaço.
O espaço turístico, como todo espaço geográfico, não pode ser definido por fronteiras rígidas, mesmo porque pelo menos um de seus elementos básicos lhe é exterior: a demanda, formada pelos consumidores ou possíveis consumidores do espaço turístico.
Espaço potencial
é o Espaço Potencial, quando se define e planeja para o futuro algum uso diferente do uso atual de uma determinada parcela do espaço.
o espaço potencial seria transformado em um Espaço Cultural, caracterizado como a parcela do espaço cuja ação humana teria modificado sua fisionomia original, sendo, portanto, consequência do trabalho humano.
De acordo com as tarefas exercidas pelo homem no espaço geográfico, teríamos o Espaço Natural Adaptado e o Espaço Artificial. O Espaço Natural Adaptado seriam as parcelas do espaço geográfico onde predominam os aspectos fisiográficos, tais como rios, florestas e relevo, além da fauna, sob as condições que o homem estabeleceu. Ao criar um parque nacional, o homem estabelece essas condições. Já o Espaço Artificial seria aquela parcela do espaço onde predominam os objetos construídos pelo homem, tendo como sua expressão máxima a cidade.
Forma e função
o espaço urbano é um produto das relações sociais que dão ao espaço uma forma, uma função, uma significação social.
A forma é o aspecto visível exterior de um objeto, seja visto isoladamente, seja considerando-se o arranjo de um conjunto de objetos, formando um padrão espacial, que no caso dos espaços do turismo pode vir a ser uma edificação, como o imponente Paço Imperial, localizado na praça XV de Novembro, no centro da cidade do Rio de Janeiro;
; uma cidade, como Ouro Preto (MG), com suas casas seculares; ou um monumento, como a Torre Eiffel (Figura 2.10). Estas seriam formas espaciais, cujas funções permanecem as mesmas ou adquiriram função turística.
O que é função?
Função é a atividade ou o papel a ser desempenhado pelo objeto criado, ou seja, a forma. Portanto, forma e função possuem uma relação direta e inseparável, não existindo forma sem função e função sem forma. No caso de formas nos espaços onde o turismo está inserido, percebemos funções turísticas, como hospedagem (Figura 2.11), alimentação, lazer etc.
Não podemos esquecer de destacar que as formas podem ter novas funções, diferentes daquelas relacionadas à sua criação, ou ter uma nova função agregada, ou seja, ter mais uma função além da estabelecida na sua criação.
Conclusão
Podemos concluir nesta aula que o turismo é um importante agente transformador do espaço, exigindo elementos que possuem função ou potencialidade turística para que novos fluxos (turísticos) sejam estabelecidos entre os fixos presentes, seja no centro emissor, seja no receptivo. Formas já existentes, objetos isolados como monumentos ou um arranjo espacial como um centro histórico podem ter sua função modificada para atender à demanda turística expressa nos fluxos. Novas formas podem surgir com função turística, com a finalidade de estabelecer, manter ou ampliar os fluxos turísticos direcionados aos centros turísticoreceptivos, onde propriamente o turismo acontece. Assim, o espaço se transforma a partir das ações que o turismo determina. Portanto, é ele um relevante agente produtor do espaço geográfico.
Resumo
O turismo é um dos mais relevantes fenômenos da sociedade contemporânea, agindo nas esferas social, econômica, ambiental, política e cultural, movimentando trilhões de dólares todos os anos e centenas de milhões de turistas, sendo também uma das atividades que mais empregam mão de obra no mundo. Uma atividade dessa magnitude tem imenso poder de transformar os lugares onde se insere, principalmente os núcleos receptores, propiciando novos fluxos junto aos fixos já existentes ou fazendo com que novos fi xos sejam instalados para suprir a demanda dos fluxos turísticos. Tais ações imprimem importantes mudanças no espaço geográfico, caracterizando o turismo como um relevante agente produtor do espaço geográfico.
AULA 16
O conceito de lugar na Geografia Humanística
A Geografia Humanística é antropocêntrica;
sendo antropocêntrica, é subjetiva, isto é, valoriza os sentimentos, emoções e valores humanos;
tal postura leva a enaltecer o lugar.
O conceito de lugar foi desenvolvido na Geografia Humanística de forma diferenciada do restante das correntes que alimentam o debate geográfico. Para os humanistas, o lugar se distingue do espaço não por razões de escala ou perspectiva. A distinção seria assim: o espaço é a dimensão física, material, objetiva, universal, medido em quantidades e ampla extensão. Isto quer dizer que o espaço é mesmo para toda a sociedade. Já o lugar seria a dimensão sentimental, única, subjetiva, isto é, varia para cada indivíduo. Vamos aos exemplos?
O lugar seria justamente o local onde as emoções humanas teriam sentido e expressão. Já o espaço, conceito desvalorizado para a Geografia Humanística, como bem notou P. C. Gomes, abrangeria a vasta dimensão de terras e locais que não dizem respeito à vida íntima do indivíduo.
a fenomenologia 
pressupõe que a forma de cada indivíduo perceber o mundo a sua volta é muito variável, a ponto de questionar se existiria mesmo um única realidade exterior, uma verdade objetiva, externa aos indivíduos. Melhor explicando, para a fenomenologia, a consciência humana elabora aquilo que percebe do mundo exterior, e esta elaboração interna, essa espécie de filtro individual, é mais importante que o mundo exterior, do qual apenas captamos poucos aspectos que nossos sentidos permitem. Por isso, alguns definem a fenomenologia como o estudo da consciência.
Enfim, digamos que cada ser humano vê o mundo de um jeito, e que esse jeito é tão particular e limitado que nós não vemos o mundo como ele é (o tal realismo, críticado pelo Humanismo).
A fenomenologia é uma reação à pretensão da ciência racional de compreender tudo o que existe.
O espaço vivido é identificado como o espaço total que reúne três dimensões: o conjunto dos lugares percorridos pelo sujeito (o próprio espaço da vida), as inter-relações sociais imbricadas e os valores psicológicos que são projetados e percebidos. Notar que para o Humanismo, em especial para a fenomenologia, não deve haver distinção hierárquica entre cientistas e demais seres humanos. Os cientistas possuem estudos e dominam métodos e conceitos que são importantes, mas a realidade é considerada algo quase inalcançável, portanto o conhecimento científico é pobre e limitado. Por outro lado, se cada indivíduo percebe o mundo de um jeito único, não existiria uma verdade única, mas tantas verdades quantos indivíduos. Desse modo, o conhecimento geográfico científico é apenas mais um conhecimento, nem melhor nem pior que o conhecimento geográfico de um indivíduo comum.
No caso do
turismo, o espaço vivido se mostra um conceito importante, pois a experiência turística é fortemente calcada na visão (as paisagens contempladas) e nas sensações (de euforia, descoberta, conforto etc.) humanas. Vide por exemplo o caso das cataratas do Iguaçu. Quando adentramos o parque, vamos pouco a pouco nos aproximando das fabulosas quedas-d´água, e as primeiras visões, mesmo a distância, causam forte impressão, fazem-nos sentir que nos aproximamos paulatinamente de algo verdadeiramente esplendoroso. Essa sensação nos causa excitação, faz-nos acelerar o passo, causa também euforia. Quando finalmente estamos diante das cachoeiras, sentindo o respingar daquele volume imenso de águas, ouvindo aquele estrondo, tendemos a vivenciar uma experiência única, inesquecível.
espaço topofílico, isto é, denso de registros pessoais de emoções, alegrias e tristezas.
Pode-se notar que a topofilia envolve sentimentos de toda natureza
Repertório imagético Corresponde ao conjunto de imagens que evocamos com mais frequência, isto é, ao repertório de imagens que povoam nossa consciência. Cinema e literatura são fontes de repertório de imagens.
Enfim, o conceito de lugar nesta corrente é algo individual e se volta inteiramente para a experiência humana. Se não há forte interação com o indivíduo, a localidade em questão nem merecerá o nome de lugar, será apenas espaço. Cada indivíduo tem seus lugares no mundo e com eles estabelece uma relação particular, uma topofilia.
O conceito de lugar na Geografia Crítica
a Geografia Crítica não leva em conta o indivíduo e seus sentimentos, mas de reconhecer que ela considera os interesses coletivos acima dos individuais. Não esqueça que o marxismo foi a fonte inspiradora do socialismo, e que este regime colocava sempre o coletivo acima do individual.
Mecanicismo marxista?
Corresponde a uma assimilação equivocada da proposta marxista de considerar as leis gerais de funcionamento da estrutura social. Marx identificou a presença de três níveis estruturais (ou 3 instâncias) na sociedade: a econômica (ou material), a jurídico-política e a ideológica (ou cultural). Tais instâncias funcionam de forma articulada, e não separadamente. Todos os fatos e ações humanas estariam, de alguma forma, condicionados pelo funcionamento dessas instâncias. Em outras palavras, Marx propôs uma análise em que tudo (mesmo os pequenos fatos e ações cotidianas) poderia ser incluído numa totalidade mais ampla. O perigo dessa proposta é simplificarmos demais essa relação entre o particular e o geral, incorrendo assim no mecanicismo. Por exemplo, achar que qualquer crime cometido por uma pessoa pobre se justifique apenas pelas desigualdades sociais do capitalismo, quando sabemos que cada caso é um caso, e que tudo é mais complexo que essas simplificações. Numa estrutura mecânica a (o motor de um automóvel), tudo funciona de forma previsível, repetida, o princípio de causa e efeito se repete sem alterações, mas a sociedade não funciona assim, tão mecanicamente. Em suma, o mecanicismo corresponde a uma abordagem precipitada da ação da totalidade sobre o particular.
Primeiramente, a Geografia Crítica recusa a extrema valorização do lugar (tal como fazem os humanistas), salientando, a partir do enfoque dialético, a necessidade de retomada da “escala local” justamente para enriquecer a abordagem holística, que jamais pode ser desprezada, sob o risco de cair no particularismo e no imediatismo de análises que pouco contribuem para compreender as grandes questões como a globalização.
Milton Santos afirma que devemos construir a necessária “teorização do lugar, que não é menos importante que a teorização do universo, esta mais ampla e mais fácil” (SANTOS, 1992, p. 242). Para Santos, o lugar é mais complexo que o mundo, pois contém este e mais as suas particularidades ali envolvidas em jogo denso de tensões e influências.
a macroestrutura do trade turístico governa nossa percepção do mundo e orienta nossos desejos e ações. A princípio, todos querem ser turistas, fazer parte dessa engrenagem global que movimenta anualmente 700 milhões de pessoas, bilhões de dólares e milhares de localidades.
 Embora os interesses capitalistas sejam os mesmos e a lógica do turismo de massa globalizado também uma só, em cada lugar verificaremos a ocorrência de processos específicos. O motivo é simples:
1) As culturas nativas e os meios geográficos não são os mesmos, variam de um lugar para outro.
2) O ritmo de penetração da ordem global no local também varia de intensidade.
3) As localidades não são passivas, ao contrário, muitas vezes as comunidades reagem, reivindicam direitos, e mesmo sem qualquer forma organizada de reivindicação, a própria interação cotidiana manifesta interesses locais
cada lugar é específico, é único, porem não poderá jamais ser compreendido sem levar em conta a totalidade, a macroestrutura, o nível da escala global. E nesse aspecto, a Geografia Crítica apresenta um método que as demais correntes ignoram.
Não lugar
Denominação dada à produção no espaço global de um lugar que nega o local, ou seja, refere-se à criação de diversos lugares comuns em localidades distintas, que segundo Rodrigues (1999) tem sua expressão nos resorts, que geram no turista a sensação de segurança e comodidade, porém, inibem a experiência pessoal de algo novo, dada a sua desconexão com relação a sua localização.
O correto é considerar que não existem, integralmente, nem o lugar puro nem o completo não lugar. Todos os lugares estão, de alguma forma, influenciados pela globalização, isto é, por fatores externos a eles. Do mesmo modo, mesmo os locais mais padronizados, como os resorts, haverão de conter algum aspecto local, algum resíduo de culturas nativas, por exemplo.
A corrente humanista prefere separar o conceito de lugar do de localidade, já que, para ela, cada indivíduo tem seus lugares, que não se confundem com as localidades. Para a Geografia Crítica, não há necessidade de separar estas palavras, tomando-as geralmente como sinônimos.
Ao contrário do que afirmam alguns, a Geografia Crítica valoriza também o indivíduo, mas não a ponto de isolá-lo da sociedade como um todo; a sociedade é o alvo principal de	qualquer estudo que se pretenda mais amplo, consistente e voltado para resolver problemas sociais, não o indivíduo em si.
“o homem não habita a metrópole, mas lugares da metrópole onde se desenrola a sua vida, marcada pelos trajetos cotidianos
Para o marxismo, o indivíduo, por mais que se considere seu livre-arbítrio, sua liberdade para escolher, está sempre condicionado por seu tempo, seu espaço e sua condição social.
Conclusão
O conceito de lugar se mostra aplicável aos estudos turísticos, posto que envolve tanto a relação da localidade com o mundo exterior quanto a relação do indivíduo com a localidade. Nesse sentido, para entender o processo de turistificação é importante considerar o lugar e sua inserção no mundo. Ao mesmo tempo, para analisar a qualidade da experiência turística, noções como topofilia se mostram de extrema relevância.
Resumo
O conceito de lugar apresenta pelo menos duas acepções na Geografia, bastante distintas. A primeira, da corrente humanística, valoriza o indivíduo e sua relação imediata com o ambiente no qual se localiza. Nesse sentido, o conceito de lugar se reveste de aspectos pessoais e psicológicos, portanto altamente subjetivos. A segunda, derivada da corrente crítica ou radical, sustenta que o lugar é uma porção da superfície terrestre dotada de traços identitários, e que se relaciona com o mundo exterior de forma intensa, seja ela conflituosa ou não. Esta segunda acepção se ampara na objetividade, e pensa o lugar num contexto amplo, voltado para a totalidade. Na primeira acepção, procuramos destacar o conceito de topofilia, isto é, a relação afetiva entre o indivíduo e o lugar. Essa relação pode ser de afeição, medo, entusiasmo, admiração, rejeição e outras, sempre envolvendo o lado emocional. Este conceito pode ser útil na análise de situações vividas pelo
turista, compreendendo o espaço vivido e suas ambiências. Na corrente radical, procuramos destacar a ação de agentes externos e seus possíveis embates com a comunidade nativa. Também demonstramos que a topofilia pode ser compreendida por outra abordagem, não individualista, mas social, considerando que nosso imaginário e nossa percepção são muito influenciados por processos alheios ao indivíduo, processos sociais de produção de simbolismo, sentidos e significados. Ambas as acepções são ferramentas valiosas para quem busca analisar a produção do espaço turístico ou mesmo a qualidade do destino turístico, considerando as vivências do turista no lugar.
AULA17
o território é um ator da vida social. O território não é apenas aquele quadro onde a sociedade registra os seus movimentos. O território é a própria sociedade em movimento; sem o território, a sociedade não pode ser explicada.
Do “território-nação” ao território em suas múltiplas for
	Território e turismo
Não são poucas as formas de associarmos o estudo da atividade turística com o conceito de território. Aqui priorizaremos para análise:
[1] O uso do território pelo turismo;
[2] a hegemonia do território turístico sobre outros territórios, quando este se torna a principal atividade econômica de determinada cidade ou região; e, por fim,
[3] o processo de segregação territorial ocasionado, por exemplo, pela urbanização turística, segregadora e pautada nos interesses da classe dominante.
Inicialmente, quase que como uma evidência, o turismo é uma atividade profundamente territorial, já que depende dos recursos naturais, culturais, históricos e urbanos para o seu estabelecimento.
Vale lembrar que, mesmo no turismo, há diferentes territórios: em uma mesma cidade, determinadas praias podem ser voltadas para um público economicamente mais seleto enquanto outras são mais frequentadas pelas camadas mais populares.
territórios turísticos se confrontam com outros territórios e que mesmo dentro dos próprios territórios turísticos surgem diferentes territorialidades, como a dos turistas, trabalhadores formais e informais, ambulantes, poder público etc.
Urbanização turística
Conforme diálogo pautado na Aula 15, corresponde basicamente à constatação da existência de formas específicas de produção do espaço urbano engendradas a partir da atividade turística, sobretudo quando esta se impõe como dominante na economia local, em uma modalidade peculiar de produzir e estruturar o espaço. As cidades turísticas dedicam-se quase exclusivamente ao consumo, e mais precisamente ao consumo de artigos e serviços de diversão, prazer, relaxamento e recreação, e não ao consumo de necessidades básicas
Por fim, podemos relacionar o estudo do território com o processo de urbanização turística, que, segundo Gilmar Mascarenhas (2004), pode ser sintetizado em quatro características principais:
[1] o consumo prevalece sobre as atividades produtivas;
[2] o crescimento demográfico e econômico tende a ultrapassar as taxas médias, tanto regionais quanto a nacional;
[3] mesmo com maior dinamismo econômico que a média, o subemprego, a precarização dos contratos, o baixo índice de sindicalização e a baixa remuneração consistem na tônica dominante das cidades turísticas;
[4] a existência de camadas médias (artesãos, donos de pousadas, restaurantes, lojas e bares) numericamente expressivas e atuantes.
Conclusão
O conceito geográfico de território é fundamental para o entendimento das atividades turísticas. Em sua expressão mais contemporânea, com maior autonomia em relação ao Estado e ao poder público em geral, torna-se importante ferramenta para a compreensão da realidade cotidiana. Assim como não há dúvidas da incorporação do território como recurso, que envolve desde a beleza dos mares até um possível catálogo de edificações históricas, o turismo é responsável por um profundo processo de encontro de territorialidades: entre turistas mais abastados e turistas com menos possibilidades financeiras; entre trabalhadores formais e informais; entre a população local e as comunidades tradicionais em relação aos visitantes sazonais. Discutir o conceito de território em sua plenitude é uma obrigação de todo aquele que se debruça no estudo da atividade turística.
Resumo
O território é um dos conceitos mais importantes da ciência geográfica. Da mesma maneira que a Geografia viveu um período de eloquente transformação teórica, seus conceitos também receberam melhor tratamento e adequação à realidade contemporânea. Assim, o território deixou de ser discutido apenas como expressão de um Estado-Nação e passou a ser utilizado de maneira mais rica e dinâmica, sendo vinculado a diferentes grupos sociais, como articulação do exercício de poder dos mesmos e pressuposto de identidade social.
Logo, o conceito de território, agora amplificado, também se desdobrou em outras variações, como territorialização (o processo de criação de um território) e desterritorialização (a destruição dos vínculos territoriais, ou melhor, o estranhamento pela não inserção em um território); e ainda a reterritorialização (adequação, em geral lenta e gradual, a um novo território) e as territorialidades (características, ideias, mercadorias, histórias, tradições de um grupo social territorializado). Por ser o entendimento do território algo tão dinâmico, estas concepções complementares surgem para auxiliar na compreensão da transformação territorial cotidiana do espaço geográfico.
Por fim, o turismo é eminentemente uma atividade territorial, pois, além de utilizar o território enquanto recurso, sua prática é extremamente territorialista: afinal, as atividades turísticas se sobrepõem a outros territórios (que vão desde as comunidades tradicionais até a população local como um todo), e ainda proporcionam, em grande medida, um processo de segregação territorial, com a eleição de determinadas áreas para o investimento na forma em detrimento de outras que permanecem excluídas dos roteiros turísticos e do desenvolvimento urbano como um todo.
AULA4
O que é Geografia Cultural?
dedica-se ao estudo das relações entre o homem e o meio.
Esta ação humana sobre a superfície terrestre remonta à pré-história e resulta na criação de pastagens, plantações, habitações diversas etc. Com a evolução técnica, o homem passou a construir estradas, sistemas de irrigação, templos, monumentos. Mais tarde, com a Revolução Industrial, a capacidade humana de transformar o meio (e eventualmente destruí-lo) se multiplicou, gerando as grandes cidades, os sistemas de transporte, as gigantescas usinas hidrelétricas etc.
a “cultura material”. Por cultura material devemos entender o conjunto de artefatos construídos pelo homem. Artefatos que lhe servem para os mais diversos momentos da vida cotidiana: morar, comer, vestir-se. Nesse sentido, a cultura material envolve os utensílios de cozinha, o vestuário, as formas de habitação.
A nova Geografia Cultural
A nova Geografia Cultural valoriza a imaterialidade, o que significa que se dedica menos ao estudo dos artefatos e das técnicas de produção,
a Geografia Cultural se modificou e passou a valorizar mais a dimensão imaterial da cultura.
Geossímbolo
Um lugar, um itinerário, uma extensão que, por razões religiosas, políticas ou culturais, aos olhos de certas pessoas ou grupos étnicos, assume uma dimensão simbólica que os fortalece em sua identidade.
Turismo e Geografia Cultural
Pouco a pouco, foi criando as técnicas de sobrevivência, desenvolvendo formas peculiares de habitação, vestuário, alimentação, plantio, domesticação de animais etc. Esse conjunto de técnicas, cuja extensão geográfica tende a corresponder ao território no qual predominam determinadas condições ambientais, forma uma região cultural.
Regiões Culturais são: Áreas habitadas em qualquer período determinado, por comunidades humanas caracterizadas por culturas específicas, identificadas com base na combinação de traços culturais, materiais ou não-materiais que tendem a formar uma paisagem cultural.
 O exótico, por
sua vez, desperta interesse ao turista, de forma que as regiões culturais tendem a atrair a visitação turística.
as regiões culturais “apresentam geossímbolos, fixos, que, por serem dotados de significados identitários, fortalecem a identidade cultural dos grupos que as habitam”.
O não-lugar não é a simples negação do lugar (...) [dele se diferencia] pelo seu processo de constituição, nesse caso produto da indústria turística que com sua atividade produz simulacros ou constroem simulacros de lugares, através da não-identidade, mas não pára por aí, pois também se produzem comportamentos e modos de apropriação desses lugares.
“turistas diversionários
o turista tradicional, de massa, que se contenta com uma fotografia do geossímbolo, postando-se, é claro, diante dele para garantir a todos que realmente esteve ali.
Resumo
A Geografia Cultural apresenta-se como um ramo do conhecimento geográfico que pode auxiliar na compreensão do turismo, sobretudo no que se refere ao turismo cultural. Ela nos ajuda a perceber o quanto aspectos culturais diversos podem se transformar em atrativos turísticos. Ao mesmo tempo, nos desperta o espírito crítico, pois uma representação estereotipada de uma região ou de um povo pode exercer grande atração de consumidores externos, preocupados apenas em consumir exotismos, e não em ter uma experiência cultural mais autêntica.
AULA5
O que é Geografia Histórica?
Em síntese, a paisagem geográfica é composta por objetos e técnicas oriundos de diferentes períodos históricos, e a convivência de ambos fornece maior riqueza e diversidade ao espaço geográfico, além de expressar os diferentes modos de vida, resultado de diferenças econômicas e culturais no seio da sociedade local.
A inércia espacial e as rugosidades
as rugosidades:
São o espaço construído, o tempo histórico que se transformou em paisagem (...) restos de uma divisão de trabalho internacional, manifestada localmente por combinações particulares de capital, de técnicas e do trabalho utilizados
As rugosidades existem não apenas devido à constante modernização das técnicas, que tornam determinados objetos “envelhecidos”. Elas existem também porque determinados objetos geográficos, devido a seu porte físico, demandaram elevado investimento para serem construídos, e igualmente demandariam altos investimentos para serem reformados, modernizados.
Portanto, chamamos rugosidade a um objeto geográfico que persiste na paisagem como algo arcaico, como uma herança do passado. E tanto sua obsolescência, quanto sua existência, ou sua permanência, se devem a fatores de natureza técnica e também geográfica.
Turismo e Geografia Histórica (a paisagem-marca)
a paisagem-marca é aquela que contém elementos que são representativos de uma determinada cultura. Em outras palavras, é aquela paisagem cuja contemplação permite a percepção de um determinado modo de vida, de um conjunto de valores e crenças compartilhado por uma dada comunidade ou pelos habitantes do lugar
podemos citar os inúmeros terreiros que estão disseminados pelas cidades brasileiras, e que expressam a difusão das religiões afro-brasileiras. Este tipo de paisagem não seria encontrado na Índia, na China ou em outros países, pois a cultura em questão não comporta tal religiosidade.
Uma paisagem-marca é produzida historicamente, pois é expressão de um modo de vida singular. Ela representa a persistência de uma cultura, a força de uma tradição, traduzida em formas espaciais visíveis. São por isso muito apreciadas pelos turistas, em especial pelo segmento interessado em produtos autênticos do turismo cultural.
As paisagens-marca são quase sempre objeto de interesse turístico, pois revelam traços típicos de um povo, de uma cultura. No caso do turismo rural, certamente ele ocorre em áreas agrícolas tradicionais, e não em áreas de agricultura moderna e mecanizada.
Enfi m, o turismo cultural autêntico é aquele que busca os sentidos e signifi cados mais profundos de uma cultura nacional, local ou regional, e não aquele que se conforma em visitar os ícones mais famosos e muitas vezes em experiências superfi - ciais.
Resumo
A Geografi a Histórica compreende o resgate de processos pretéritos para o entendimento do espaço geográfi co, por meio de conceitos como idade dos objetos, rugosidade e inércia espacial, demonstrando o quanto este é dotado de elementos históricos. Para o turismo, este ramo da Geografi a ajuda a perceber o processo de produção e preservação do patrimônio histórico e arquitetônico. E por meio do conceito de paisagem-marca, contribui para a elaboração de roteiros turísticos que permitam uma experiência cultural mais autêntica, pois visam alcançar as verdadeiras tradições, crenças e valores de uma determinada comunidade.
AULA6
A Geografia Política e sua relação com o imperialismo
“determinismo geográfico”. Esta teoria pressupõe que o meio natural exerce 
grande influência sobre o comportamento do homem, isto é, sobre as comunidades. Fatores como o clima poderiam determinar o comportamento de todo um grupo humano.
. O evolucionismo pressupunha que todas as sociedades existentes no planeta tenderiam a passar pelas mesmas etapas em sua longa evolução civilizatória. Em outras palavras, haveria um único caminho evolutivo a ser percorrido historicamente pelas sociedades humanas. Neste percurso, estariam alguns povos em estágio avançado de evolução e outros em estágio mais atrasado. O mais curioso é que, mais uma vez, justamente os europeus se viram a si mesmos como os povos mais adiantados.
Uma nova Geografia Política
E assim, o Estado deixa de ser o assunto central ou exclusivo, para dar lugar a outros agentes e instituições, como as entidades civis ligadas a interesses e movimentos sociais diversos (ecológicos, feministas, homossexuais, antirracistas, sindicais, associações de bairro etc.). O indivíduo e os distintos grupos sociais se tornam assim um foco de atenção privilegiado para a Geografia Política.
Outra mudança significativa nos estudos de Geografia Política foi a renovação do conceito de território, que antes estava atrelado exclusivamente à figura do Estado, e que passou a ser tomado em diversas escalas. Nesse sentido, a casa, a rua, a escola, o bairro, o parque, são todos esses espaços passíveis de se considerar como um território, e não mais apenas o clássico território nacional.
Turismo e Geografia Política
turismo e Geografia Política: a visão que se tem dos lugares, e dos povos. Se produzimos uma Geografia que inferioriza ambientes e povos tropicais, bem como árabes e orientais, essas imagens e narrativas estarão presentes em nossa visão de mundo, e, por conseguinte, no turismo. Vejamos alguns exemplos.
Existe um estereótipo acerca do baiano, como um indivíduo alegre, despreocupado, sensual e preguiçoso. O turismo procura se aproveitar dessa imagem, para explorar o produto turístico “Bahia”, endossando se tratar de um povo alegre, hospitaleiro, acolhedor, dançante etc.
turismo tropical: a busca pelo sexo, que gera um alto grau de prostituição. O nordeste brasileiro fi gura no cenário internacional como oferta abundante e barata de mulheres que não apenas satisfazem desejos sexuais dos turistas, como também prestam amplo conjunto de serviços, conforme aponta a geógrafa Luzianeide Coriolano (1999, p. 131). A seguir, breves palavras sobre um tema também importante, as fronteiras.
A presença de uma fronteira indica a existência de dois países e que seus dois territórios são vizinhos. A fronteira contorna toda a área pertencente a um país, limitando seu território com o território de outros países ou com mares e oceanos. A área a que acabamos de nos referir se chama território nacional.
elas podem ser duras ou maleáveis, conforme o grau de dificuldade para serem atravessadas.
Observamos também outros casos de urbanização turística no espaço fluminense, e percebemos que, em Búzios, a política local é fortemente afetada pelo interesses do grupo de empresários associados ao turismo. De um modo geral, nas cidades turísticas, este empresariado
é atuante, pois para ele é fundamental que a cidade se mantenha limpa e conservada, sendo este bom aspecto da paisagem urbana um ingrediente do produto turístico que é vendido. Entretanto, o problema é que a reivindicação desta elite se volta apenas para os espaços turísticos, permanecendo os outros espaços abandonados.
Os moradores das periferias das cidades turísticas, além de não contarem com serviços públicos essenciais, sofrem com a carestia, pois sabemos que nessas localidades os custos são mais elevados, da terra urbana ao lanche mais ordinário.
Conclusão
Em suma, a Geografia Política oferece alguns elementos que nos permitem examinar o fenômeno turístico por determinados ângulos. Três aspectos foram aqui apontados: o direito à livre circulação dos indivíduos, nem sempre respeitado; o direito à cidade, ofendido pelo grau de exclusão social na urbanização brasileira e em especial nas cidades turísticas; e por fim a questão da participação popular na gestão do território que enfrenta obstáculos pela tradição autoritária em nossa sociedade. Todos esses aspectos se fundem em torno da cidadania. Mas de que cidadania estamos falando? Não falamos da cidadania da Antiga Grécia, que inventou o cidadão como aquele que tem direitos políticos de pensar livremente, poder expor suas opiniões, debatê-las e assim participar ativamente da vida pública. Na sociedade contemporânea, o conceito de cidadania se expandiu, abarcando hoje novos direitos para além do voto e do debate político. São novos direitos, dentre os quais o acesso à moradia digna, à educação, à saúde, ao lazer, a um meio ambiente equilibrado. No âmbito da Geografia Política, o estudo das condições de exercício da cidadania envolve verificar o direito à livre circulação pelos espaços públicos, a qualidade do espaço habitado e a possibilidade de interferir na gestão do território por parte do individuo, por meio dos canais institucionais. Portanto, diante de um espaço turístico, munidos dessa perspectiva oferecida pela Geografia Política, devemos indagar sobre as condições de moradia da população nativa, em que medida essa população tem acesso aos serviços públicos e a todos os espaços públicos, e por fim em que grau se realiza sua participação nas decisões governamentais tomadas para aquele espaço. Tais indagações vão na direção do estudo que averigua a qualidade do espaço turístico, considerando que esta qualidade não deve ser somente para o turista que por ali passa algumas horas ou dias, mas para o conjunto da população que ali passa o ano inteiro, onde constrói sua vida e suas esperanças.
Resumo
A Geografia Política é o ramo da ciência geográfica que pode ser definido como aquele que se dedica ao estudo da incidência das relações de poder sobre o espaço. Tal estudo pode ser realizado segundo diferentes perspectivas teóricas. Tentamos apresentar aqui duas perspectivas opostas. A primeira foi construída a partir de doutrinas e teorias do século XIX e ajudaram a fundar a própria Geografia Política. A segunda se refere a teorias e reflexões recentes, das ultimas décadas do século XX, e que ajudaram a Geografia Política a sair do ostracismo em que se encontrava, pois vista como expressão de ideologias conservadoras e autoritárias, tais como o nazismo e o fascismo. A abordagem tradicional serviu como suporte científico para a grande expansão imperialista, ao valorizar a raça europeia e menosprezar os demais povos, condenados por razões climáticas ao atraso. Ao mesmo tempo, suas teorias legitimavam a atuação forte do Estado, menosprezando os demais atores políticos. A nova Geografia Política, por sua vez, considera o conjunto dos atores políticos, sem centralizar a abordagem exclusivamente no Estado. E se ampara em concepções democráticas, que valorizam a cidadania, criticando as formas de autoritarismo exclusão. Esta nova abordagem nos permite estudar o turismo sob ângulos relevantes para a qualidade de vida da população residente em espaços turísticos, ao indagar sobre o acesso deste segmento social aos espaços e serviços oferecidos aos turistas.
AULA19
O que significa falarmos em desenvolvimento?
O termo “desenvolvimento” não combina com inércia: ao contrário, parece significar movimento, mudança, transformação constante, força para vencer.
É justamente por este poder tão sedutor que é importante discutirmos aqui o significado de “desenvolvimento” no âmbito do sistema capitalista. Neste sistema político-econômico, o termo “desenvolvimento” se assemelha a progresso econômico-tecnológico, ou ainda torna-se similar à concepção de modernização, e sempre objetiva, em primeiro lugar, o lucro das classes dominantes.
. Atende ao Objetivo 1
O desenvolvimento sustentável é um modelo que desponta atualmente como novo padrão de organização econômico-social para todos os países (centrais e periféricos), baseado na proposta de uso racional dos recursos naturais para a satisfação das necessidades das gerações presente e futura (OLIVEIRA, 2006). Devido à capacidade destrutiva do desenvolvimento capitalista, este novo modelo pretende evitar o esgotamento dos recursos naturais do planeta Terra, suavizar os problemas referentes à poluição e ainda construir um ideal de “defesa da natureza” por um mundo melhor, com investimento em soluções tecnológicas para os problemas ambientais do mundo.
Por que, no sistema capitalista, o desenvolvimento sustentável é uma impossibilidade de construção em sua plenitude?
 A Na primeira resposta, você deve constatar que o desenvolvimento capitalista, ainda que se pretenda mais ecologicamente saudável, tem natureza destrutiva, pois obedece à velocidade do lucro e, assim, da produção do maior número de mercadorias possíveis. Não dá para pensar nas necessidades presentes e tampouco nas futuras: somente interessa ao sistema capitalista o atendimento das necessidades do capital.
Explique por que o desenvolvimento sustentável pode ser considerado ideológico.
Logo, na segunda resposta, o desenvolvimento sustentável tem caráter ideológico, pois emerge como “plataforma de proteção à natureza”, criando a impressão de que promoverá melhorias em nossas vidas, quando na verdade somente pretende reabilitar o conceito de “desenvolvimento” enquanto progresso, investindo em dispositivos tecnológicos em prol da suposta despoluição ambiental.
A natureza do Desenvolvimento Geográfico Desigual e Combinado
pelo estudo do Desenvolvimento Geográfico Desigual e Combinado, que permite compreender as diferenças geográficas do capitalismo mundial e perceber, segundo as palavras de Neil Smith (1998), a desigualdade social estampada na paisagem
O desenvolvimento de uma nação historicamente atrasada conduz, necessariamente, a uma combinação original das diversas fases do processus histórico. A órbita descrita toma, em seu conjunto, um caráter irregular, complexo, combinado [...] A desigualdade do ritmo, que é a lei mais geral do processus histórico, evidencia-se com maior vigor e complexidade nos destinos dos países atrasados. Sob o chicote das necessidades externas, a vida retardatária vê-se na contingência de avançar aos saltos. Desta lei universal da desigualdade dos ritmos decorre outra lei que, por falta de denominação apropriada, chamaremos de lei do desenvolvimento combinado, que significa aproximação das diversas etapas, combinação das fases diferenciadas, amálgama das formas arcaicas com as mais modernas. Sem esta lei, tomada, bem entendido, em todo o seu conjunto material, é impossível compreender a história da Rússia, como em geral a de todos os países chamados à civilização em segunda, terceira ou décima linha.
“Para desenvolver a Inglaterra, foi necessário o planeta inteiro. O que seria necessário para desenvolver a Índia?” (GANDHI apud PORTO-GONÇALVES, 2006, p. 48). Essa indagação foi proferida pelo Mahatma Gandhi, importante líder político-religioso da Índia na primeira metade do século XX. Explique-a sob a perspectiva do Desenvolvimento Geográfico Desigual e Combinado.
R Você poderá responder, inicialmente, que só foi
possível o desenvolvimento da Inglaterra através de suas políticas imperialistas, e assim pela colonização de outros territórios, ou seja, à custa do atraso de outros territórios. Poderá ainda relacionar a restrita probabilidade de desenvolvimento da Índia, já que os países periféricos (e seu atraso econômico, tecnológico e social) são fundamentais para a manutenção dos países centrais, que desta maneira inibem qualquer possibilidade de desenvolvimento.
O Desenvolvimento Geográfico Desigual e Combinado nas atividades turísticas
Como foi anteriormente estudado, a própria dinâmica econômica do sistema capitalista pressupõe um Desenvolvimento Geográfico Desigual e Combinado, que significa profundas diferenciações constituídas espacialmente sob o aspecto do desenvolvimento/subdesenvolvimento. Com a produção das atividades turísticas não é diferente, e podemos observar estas desigualdades do desenvolvimento turístico no espaço geográfico quando, por exemplo:
notamos a dissonância de lugares demarcados para classes sociais antagônicas e diversas (ricos e pobres);
percebemos as exigências internacionais para a mobilidade de turistas – é muito mais fácil ser turista proveniente de país central rumo a país periférico! –;
analisamos a imagem que se constrói das nações menos desenvolvidas, que ficam estigmatizadas como fonte de diversão para turistas ricos, que usufruem de suas belezas e amenidades e, por vezes, tratam a população local como subalternas econômica, cultural e até mesmo intelectualmente.
Não há dúvida de que o Desenvolvimento Geográfico Desigual e Combinado se manifesta espacialmente com a coexistência de lugares mais desenvolvidos – com resorts, praias privativas e uma rede de objetos e serviços com altos valores cobrados – e lugares menos desenvolvidos – com menos amenidades, praias em geral mais povoadas e serviços mais baratos e menos qualificados.
Explique por que, segundo a teoria do Desenvolvimento Geográfico Desigual e Combinado, em países periféricos, é comum se criar esta imagem de exotismo e, por que não, de inferioridade cultural e intelectual.
Resposta Comentada Você deve lembrar que o Brasil, mesmo reconhecido como um país de belezas estonteantes, tem sua imagem atrelada às mulheres desnudas, à corrupção em suas diversas formas, a violência urbana e até mesmo à incivilidade da população. Tais características acabam por construir um perfil de inferioridade em relação às nações centrais e cria-se assim uma perspectiva para o turista oriundo de países centrais de um ambiente de liberdades gerais, onde a promiscuidade e a desobediência às leis são plenamente permitidas e aceitas. O Desenvolvimento Geográfico Desigual e Combinado se manifesta na crença em uma superioridade, já que o território brasileiro carrega o signo do subdesenvolvimento e do atraso. E a própria noção de “desenvolvimento”, no sistema capitalista, traz consigo uma noção de maior capacidade e de superioridade de maneira geral.
Conclusão
O sistema capitalista é eminentemente marcado por contradições: burguesia e proletariado, ideologias dominantes e lutas, países centrais e países periféricos. Destarte, o Desenvolvimento Geográfico Desigual e Combinado é a espacialização do modo de produção capitalista, que necessita de que existam, perenemente, áreas ricas, industrializadas, modernas e desenvolvidas, e outras que sejam pobres, agrárias, atrasadas e subdesenvolvidas. Isto se deve à necessidade de centralização nas decisões políticas e econômicas, às exigências de obediência aos ritmos de acumulação (isto requer exército de reserva de lugares para produção!) e, entre outros motivos, devido à possibilidade de exploração econômica lenta e contínua das populações mais pobres das áreas mais atrasadas. No turismo, o Desenvolvimento Geográfico De sigual e Combinado se mostra presente, criando uma profunda segregação entre territórios desenvolvidos e subdesenvolvidos, como uma necessidade de seu próprio desenvolvimento.
Resumo
O estudo do Desenvolvimento Geográfico Desigual e Combinado é fundamental para o entendimento espacial do sistema capitalista e, assim, das atividades turísticas em escala local, nacional e mundial. O Desenvolvimento Geográfico Desigual e Combinado é uma teoria baseada nos escritos de Leon Trotsky, onde se destaca a natureza contraditória do capitalismo em bases territoriais. Neste sistema, é mister que existam profundas discrepâncias entre áreas modernas e atrasadas, ricas e pobres. Não é possível, no âmbito do capitalismo, a existência de um só ritmo de desenvolvimento, já que é esta diferenciação que move a exploração dos homens, a adequação do território às diferentes missões produtivas (produzir matéria-prima ou transformá-la em mercadoria) e ainda à submissão dos interesses gerais aos objetivos das classes dominantes dos países centrais. Isto porque o termo “desenvolvimento”, no modo de produção capitalista, de forma alguma está atrelado às melhorias sociais da população como um todo. Outrossim, “desenvolvimento” acaba por confundir-se com “progresso” e “modernização”, ideias que significam, antes de tudo, aumento na capacidade de obtenção de lucros. Este modelo de desenvolvimento tão claramente voltado para as classes mais abastadas necessita de um revestimento ideológico, que significa ocultar que seu objetivo é servir unicamente para o aumento dos lucros, de maneira a despontar como bem comum. No que se refere ao turismo, o Desenvolvimento Geográfico Desigual e Combinado significa uma perspectiva de dialética entre moderno e atrasado, na efetivação de áreas voltadas para visitantes mais ricos e outras para turistas mais pobres. Por fim, a face mais cruel desta perspectiva de diferenciação capitalista territorial é o fato de que o desenvolvimento traz em seu bojo uma noção de superioridade, e assim o Desenvolvimento Geográfico Desigual e Combinado se mostra, concomitantemente, ainda mais bárbaro e efetivo.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais