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CONSTITUIÇÃO TRABALHO PARCIAL cf 1824

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Sumário 
1. História do Brasil de 1500 a 1800 ....................................................................................... 3 
1.1 O Brasil em 1500 ....................................................................................................... 3 
1.3 Invasões Holandesas .................................................................................................. 5 
1.4 Governo de Maurício Nassau ..................................................................................... 6 
1.5 Insurreição Pernambucana ......................................................................................... 7 
1.6 A Crise do Antigo Regime ......................................................................................... 8 
1.9 Reinado de Dona Maria ........................................................................................... 10 
1.10 Os Movimentos de Rebeldia .................................................................................... 10 
1.11 Inconfidência Mineira .............................................................................................. 10 
2. Breve Historicidade Constitucional .................................................................................. 12 
2.1 Constituição Francesa e o Liberalismo .................................................................... 16 
2.2 Constituição Americana ........................................................................................... 18 
3. Primórdios da Estrutura Político-Econômica Brasileira ............................................... 20 
4. A Legislação Colonizadora e o Direito Nativo................................................................. 21 
5. A Administração da Justiça .............................................................................................. 22 
6. Contexto histórico de 1800-1824 ....................................................................................... 23 
7. Características da Constituição de 1824 ......................................................................... 25 
7.1 Classificação da Constituição Imperial .................................................................... 25 
7.2 Estrutura da Constituição de 1824 ........................................................................... 26 
7.5 Organização dos poderes ......................................................................................... 28 
7.5.1 O Poder legislativo ............................................................................................... 29 
7.5.2 O Poder executivo ................................................................................................ 29 
7.5.3 Poder judiciário .................................................................................................... 30 
7.5.4 Poder moderador .................................................................................................. 30 
7.6 Artigo 179 ................................................................................................................ 31 
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7.7 Controle de Constitucionalidade da Constituição de 1824. ..................................... 33 
7.8 Art. 178 de 1824....................................................................................................... 33 
8. Principais diferenças entre a Constituição de 1824 e 1988..................................... 35 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1. História do Brasil de 1500 a 1800 
1.1 O Brasil em 1500 
 Não sabemos ao certo, se o nascimento do Brasil se deu por acaso, mas não há 
dúvida de que foi cercado de grande pompa. A primeira nau de regresso da viagem 
de Vasco da Gama chegou a Portugal, produzindo grande entusiasmo, em julho de 
1499. Meses depois, a 9 de março de 1500, partia do Rio Tejo em Lisboa uma frota 
de treze navios, a mais aparatosa que até então tinha deixado o reino, aparentemente 
com destino às índias, sob o comando de um fidalgo de pouco mais de trinta anos, 
Pedro Álvares Cabral. A frota, após passar as Ilhas de Cabo Verde, tomou rumo 
oeste, afastando-se da costa africana até avistar o que seria terra brasileira a 21 de 
abril. Nessa data, houve apenas uma breve descida à terra e só no dia seguinte a frota 
ancoraria no litoral da Bahia, em Porto Seguro. (FAUSTO,1996, p. 16) 
 No dia 22 de abril de 1500, Pedro Álvares Cabral chegou onde atualmente está 
localizado o estado da Bahia. Esse fato ficou conhecido como descobrimento do Brasil, sendo 
um dos momentos mais marcante das grandes navegações. Nos primeiros anos, a participação 
portuguesa foi constante, embora pequena. A partir de 1530 iniciou-se o processo de 
colonização. (CARVALHO, 2011) 
 O Brasil começou a ser efetivamente colonizado em razão da preocupação que 
Portugal passou a ter com as ameaças de invasões das terras brasileiras por outras nações, 
como viriam a ocorrer décadas depois. Até o ano de 1530, a ocupação portuguesa ainda era 
bastante tímida, somente no ano de 1531, o monarca português Dom João III enviou Martin 
Afonso de Souza ao Brasil nomeado capitão-mor da esquadra e das terras coloniais, visando 
efetivar a exploração mineral e vegetal da região e a distribuição das sesmarias (lotes de 
terras). No litoral do atual estado de São Paulo, Martin Afonso de Souza fundou no ano de 
1532 os primeiros povoados do Brasil, as Vilas de São Vicente e Piratininga (atual cidade de 
São Paulo). No litoral paulista, o capitão-mor logo desenvolveu o plantio da cana-de-açúcar; 
os portugueses tiveram o contato com a cultura da cana-de-açúcar no período das cruzadas na 
Idade Média. As primeiras experiências portuguesas de plantio e cultivo da cana-de-açúcar e 
o processamento do açúcar nos engenhos aconteceram primeiramente na Ilha da Madeira 
(situada no Oceano Atlântico, a 978 km a sudoeste de Lisboa, próximo ao litoral africano). 
(CARVALHO, 2011) 
 Em razão da grande procura e do alto valor agregado a este produto na Europa, os 
portugueses levaram a cultura da cana-de-açúcar para o Brasil (em virtude da grande 
quantidade de terras, da fácil adaptação ao clima brasileiro e das novas técnicas de cultivo), 
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desenvolvendo os primeiros engenhos no litoral paulista e no litoral do nordeste (atual estado 
de Pernambuco), a produção do açúcar se tornou um negócio rentável. Para desenvolver a 
produção do açúcar, os portugueses utilizaram nos engenhos a mão de obra escrava, os 
primeiros a serem escravizados fôramos indígenas, posteriormente foi utilizada a mão de obra 
escrava africana, o tráfico negreiro neste período se tornou 
um atrativo empreendimento juntamente com os engenhos de açúcar. (CARVALHO, 2011) 
1.2 O Brasil em meados do século XVII (1600) 
 O século XVII seria o da consolidação da presença portuguesa no Brasil. Com o 
avanço de instituições colonizadoras em praticamente todo o país, seria necessário também 
tratar de remover de alguns pontos tentativas de fixação nas terras, iniciadas por outras 
Coroas, como foi o caso dos franceses no Rio de Janeiro e no Maranhão e principalmente dos 
holandeses no litoral da capitania de Pernambuco. (GOMES, 2016) 
 Os holandeses, que se fixaram em Pernambuco por volta de 1630, organizaram um 
tipo de colonização bem diferente do instalado por Portugal e, aos olhos de muitos, mais 
promissor por evitar certos ranços que dificultavam o desenvolvimento na colônia. O nobre 
Maurício de Nassau, colocado no comando da empreitada pela Companhia das Índias 
Ocidentais, empresa criada para a exploração colonial, desfrutava de bastante prestígio entre a 
população local e dava a aparência de que a vida naquela parte do país transcorria deforma 
harmônica, sobretudo porque havia um clima de certa liberdade religiosa. (GOMES, 2016) 
 Em 1643, no entanto, é deliberado seu retorno à Europa, e o modelo de exploração 
colonial que é imposto por seus substitutos não faz mais que reproduzir os quadros de 
autoritarismo e violência já conhecidos na colonização ibérica. O resultado foi a insatisfação 
geral por parte da população, o que criou o clima para insurreições e questionamento da 
ordem. Assim, o vigor recuperado pela Coroa portuguesa restaurada ajudaria para que a 
crença na possibilidade de expulsar os holandeses fosse cada vez maior. (GOMES, 2016) 
 Em 1654, após muitas e sangrentas guerras, já não havia mais muitos vestígios da 
presença holandesa no Brasil. Mas algumas consequências restaram dos anos em que os 
batavos se instalaram em Pernambuco, principalmente em função de uma certa simpatia, por 
parte da população daquela região do país, pelo tipo de colonização que foi implantado por 
ali. Os conflitos que quase simultaneamente ocorreram nas capitanias do Norte também 
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ajudaram para que se acendesse uma espécie de sinal vermelho quanto à insatisfação geral 
com os rumos da colonização. (GOMES, 2016) 
 Os conflitos que culminaram na expulsão dos holandeses aconteceram no rastro da 
Restauração portuguesa, em torno de 1640, quando Portugal derrota tropas da Espanha, 
recupera sua autonomia e as energias então se voltam para a preocupante presença batava em 
Pernambuco. Durante o tempo em que a Coroa espanhola exerceu sua soberania sobre 
Portugal, muitas questões referentes à colônia brasileira ficaram em segundo plano. Envolvida 
em muitas querelas durante aqueles tempos, os espanhóis minimizavam a ocupação holandesa 
no nordeste brasileiro. (GOMES, 2016) 
 A recuperação das possessões onde estavam instalados os holandeses passou pela 
revitalização da catequese, que buscou expandir-se mais, a fim de firmar a presença 
portuguesa e cristã. Nesse projeto, era necessário confirmar os ideais católicos para os índios 
e também para os africanos, pois muitos deles haviam lutado ao lado dos batavos, em troca de 
liberdade ou da promessa de melhores condições de vida. Os religiosos, naquele Brasil em 
turbulência, talvez tivessem percebido antes de todos que naturais da terra e africanos seriam 
uma realidade cada vez mais presente e inseparável daquela colônia que um dia se tornaria 
uma nação. (GOMES, 2016) 
1.3 Invasões Holandesas 
As invasões holandesas que ocorreram no século XVII foram o maior conflito político militar 
da Colônia. Embora concentradas no Nordeste, elas não se resumiram a um simples episódio 
regional. Ao contrário, fizeram parte do quadro das relações internacionais entre os países 
europeus, revelando a dimensão da luta pelo controle do açúcar e das fontes de suprimento de 
escravos. (FAUSTO, 1996, p. 51) 
 Antes de Portugal unir-se à Espanha, a relação comercial que os portugueses 
mantinham com os holandeses era amistosa e sem grandes confrontos. Com a União Ibérica, a 
Espanha, que, como nação católica, era uma ferrenha opositora política do protestantismo 
holandês, passou a determinar o modo como os portugueses passariam a gerir seus engenhos 
de açúcar e a comercializar esse produto. Entretanto, antes, o refinamento e a distribuição do 
açúcar português produzido no Brasil eram feitos pela Holanda. A rixa entre Espanha e 
Holanda provocou a reação violenta dessa última. Os holandeses, entre o fim do século XVI e 
o início do XVII, começaram a invadir e a pilhar as regiões da costa ocidental da África, então 
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pertencentes a Portugal, bem como a colônia americana desse país, o Brasil. (FERNANDES, 
2019) 
 Após a tentativa rechaçada de dominar a cidade de Salvador, os holandeses tentaram 
mais uma vez estabelecerem-se no nordeste brasileiro, mas, agora, na região de Pernambuco. 
Essa região era cobiçada principalmente em razão da sua ampla estrutura erguida em torno da 
economia açucareira. As novas investidas holandesas começaram em 1630, com um ataque 
contra a cidade de Olinda. Até o ano de 1637, portugueses e brasileiros procuraram de todas 
as formas resistir à pressão dos holandeses. Foi nesse período que se destacou a atuação de 
Domingos Fernandes Calabar, que foi morto pelos portugueses sob a acusação de tê-los traído 
ao fornecer informações precisas aos holandeses. (FERNANDES, 2019) 
 De 1637 a 1644, Maurício de Nassau governou a região de Pernambuco e realizou 
transformações grandiosas na infraestrutura e no sistema de produção açucareira. Data dessa 
época uma grande efervescência de atividades artísticas e científicas, sobretudo com a vinda 
de naturalistas europeus, patrocinados por Nassau, para estudar a fauna e a flora do Brasil. O 
“Brasil Holandês” teve fim após as “guerras de reconquista”, que caracterizaram o período 
entre 1645 e 1654. (FERNANDES, 2019) 
 
1.4 Governo de Maurício Nassau 
 O conde Maurício de Nassau consolidava e expandia as conquistas holandesas. No 
Nordeste, ocupou todo o litoral, até o Maranhão, faltando-lhe apenas a Bahia, e na África 
tomou São Jorge da Mina e as feitorias de Angola, assegurando o abastecimento dos 
engenhos do Nordeste holandês de escravos africanos. As principais características de seu 
governo foram: 
- Investimentos na infraestrutura de Recife como, por exemplo, construção de pontes, diques, 
drenagem de pântanos, canais e obras sanitárias. 
 - Estabelecimento de aliança política com os senhores de engenho de Pernambuco. 
 - Incentivo ao estudo e retratação da natureza brasileira, principalmente com a vinda de 
artistas e cientistas holandeses. 
 - Adoção de melhorias nos engenhos, visando o aumento da produção de açúcar. 
 - Criação do Jardim Botânico no Recife, assim como o Museu Natural e o Zoológico. 
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 - Melhoria da qualidade dos serviços públicos em Recife, investindo na coleta de lixo e nos 
bombeiros. 
 - Redução dos tributos cobrados dos senhores de engenho de Pernambuco. 
 - Estabelecimento da liberdade religiosa aos cristãos. 
 A política de Nassau, entretanto, entrou em choque como os interesses da W.I.C., que 
considerava a sua administração muito dispendiosa e personalista. Pressionado, o governador 
acabou saindo do poder em 1643, retirando-se para a Holanda. (RAMOS, 2006) 
1.5 Insurreição Pernambucana 
 A Insurreição Pernambucana ocorreu no contexto da ocupação holandesa na região 
Nordeste do Brasil, em meados do século XVII. Ela representou uma ação de confronto com 
os holandeses por parte dos portugueses, comandados principalmente por João Fernandes 
Vieira, um próspero senhor de engenho de Pernambuco. Nessa luta contra os holandeses, os 
portugueses contaram com o importante auxílio de alguns africanos libertos e também de 
índios potiguares. (PINTO, 2019) 
 A oposição dos portugueses aos holandeses ocorreu em decorrência da intensificação 
da cobrança de impostos e também da cobrança dos empréstimos realizados pelos senhores de 
engenho de origem portuguesa com os banqueiros holandeses e com a Companhia das Índias 
Ocidentais, empresa que administrava as possessões holandesas fora da Europa. Outro fato 
que acirrou a rivalidade entre portugueses e holandeses foi a questão religiosa. (PINTO, 2019) 
 Os conflitos iniciaram-se em maio de 1645, após o regresso de Maurício de Nassau à 
Holanda. As tropas comandadas por João Fernandes Vieira receberam o apoio de Antônio 
Felipe Camarão, índio potiguar conhecido como Poti que auxiliou no combate aos holandeses 
junto a centenas de índios sob seu comando. Outro auxílio recebido veio do africano liberto 
Henrique Dias. A Batalha do Monte Tabocas foi o principal enfrentamento ocorrido nesse 
início da Insurreição. Os portugueses conseguiram infligiruma retumbante derrota aos 
holandeses, garantindo uma elevação da moral para a continuidade dos conflitos. Além disso, 
os insurrectos receberam apoio de tropas vindas principalmente da Bahia. (PINTO, 2019) 
 No início de 1648, Holanda e Espanha selaram a paz, e os espanhóis aceitaram 
entregar aos holandeses as terras tomadas pelos insurrectos portugueses em Pernambuco. 
Frente a tal situação, o conflito continuou. Em Abril de 1648, ocorreu a primeira Batalha dos 
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Guararapes, em que os holandeses sofreram dura derrota, abrindo caminho para o 
ressurgimento do domínio português a partir de 1654. (PINTO, 2019) 
1.6 A Crise do Antigo Regime 
O modelo de monarquias absolutistas entrou em colapso dada a influência das ideias 
liberais em ascensão no cenário europeu (“pensamento ilustrado”). “Homens como 
Montesquieu, Voltaire, Diderot, Rousseau, apesar de divergirem muito entre si, 
tinham como ponto comum o princípio da razão. Segundo eles, pela razão atingem-
se os conhecimentos úteis ao homem e através dela podemos chegar às leis naturais 
que regem a sociedade. [...] “A missão dos governantes consiste em procurar a 
realização do bem-estar dos povos, pelo respeito às leis naturais e aos direitos 
naturais de que os homens são portadores. O não-cumprimento desses deveres 
básicos dá aos governados o direito à insurreição.” (FAUSTO, 1996, p. 66). 
A partir da nova forma de pensar, o homem passa a ser o centro de sua própria 
existência (antropocentrismo), com isso, a ordem até então vigente passa a ser questionada, a 
fim de alinhar a realidade social e política aos novos ideias filosóficos, “a doutrina liberal 
defende o direito de representação dos indivíduos, sustentando que neles, e não no poder dos 
reis, se encontra a soberania. Esta é entendida como o direito de organizar a nação a partir de 
uma lei básica - a Constituição.” (Boris Fausto, História do Brasil. 4. ed. São Paulo: Edusp, 
1996, p. 66). 
Dois grandes movimentos revolucionários concretizaram-se tendo como fundamento 
essa base ideológica, a Revolução Francesa (1789), que destituiu o poder monárquico vigente, 
e Guerra de Independência Norte Americana (1776), onde as treze colônias de organizaram 
em uma força unitária contra o país colonizador, a Inglaterra, que paralelamente já passava 
pela Revolução Industrial, reorganizando a economia mundial e abandonando o sistema 
mercantilista. 
1.7 A Crise do Sistema Colonial 
 O desenvolvimento econômico ocorrido na Inglaterra consolidou-a como a grande 
potência do período (ampliando os mercados e protegendo a si e suas colônias através de 
tarifas protecionistas), afastando o modelo comercial mercantilista diretamente ligado aos 
regimes absolutistas. A ascensão da economia inglesa afetou o todo o cenário colonial da 
américa espanhola e portuguesa, pois com o distanciamento do mercantilismo, onde a colônia 
dependia inteiramente da Metrópole, os comerciantes locais (do Brasil Colônia) e ingleses 
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passaram a estabelecer acordos e contrabandos sem o intermédio de Portugal, enfraquecendo 
o domínio do colonizador. 
A limitação da escravidão é outro ponto de fraqueza ao sistema colonial, movida por 
interesses econômicos, mas também ideológicos, “decorre também dos novos movimentos 
nascidos nos países mais avançados da Europa, sob a influência do pensamento ilustrado e 
mesmo religioso, como é o caso da Inglaterra. Acrescente-se a isso, no caso francês, a 
insurreição de negros libertos e escravos nas Antilhas. Em fevereiro de 1794, a França 
revolucionária decretou o fim da escravidão em suas colônias; a Inglaterra faria o mesmo em 
1807. Lembremos, porém, quanto à França, que Napoleão revogou a medida em 1802.” 
(Boris Fausto, História do Brasil. 4. ed. São Paulo: Edusp, 1996, p. 67) 
1.8 Administração Pombalina 
Portugal quando comparado a outros países europeus poderia ser visto como 
vulnerável e retrogrado, necessitava de proteção da Inglaterra perante a outras forças, como 
França e Espanha, simultaneamente, esforçava-se para manter o poder sobre a Colônia, 
amenizando a presença inglesa em terras colônias. 
A Administração Pombalina foi o período iniciado na ascensão do Rei Dom Jose I, 
quando seu ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo (posteriormente Marques de Pombal) 
desenvolveu e aplicou medidas visando equilibrar a “modernização” eminente e a estabilidade 
do modelo colonialista. 
Pombal pôs fim as capitanias hereditárias, desenvolveu maior controle fiscal em 
ralação a mineração e criou companhias de comercio das regiões norte e nordeste, sendo o 
último um plano que falhou consecutivamente, visto o período de depressão econômica que 
acometia a Colônia (crise do Açúcar e queda da produção de Ouro), o que afetou diretamente 
a renda da Metrópole. Como forma de melhorar os lucros e manter a estabilidade financeira 
de Portugal, buscou diversificar as fontes de renda portuguesas em seu próprio território 
enquanto na Colônia combatia o contrabando de ouro e melhorava a arrecadação de tributos, 
até que mais tarde a Coroa passaria a explorar diretamente as minas de diamante. 
Outra medida de Pombal foi a expulsão dos jesuítas de Portugal e seus domínios, 
centralizando a administração portuguesa e reduzindo possíveis influencias paralelas senão da 
Coroa e a Companhia de Jesus, sob pretexto do grupo ser uma influência política ameaçadora 
à Coroa. A expulsão da ordem desfalcou ainda mais o ensino precário da Colônia que como 
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forma de amenizar esse impacto, a Coroa criou um novo imposto (subsidio literário) que se 
destinariam a esse fim, apesar de que a formação intelectual não era uma preocupação que se 
tinha. 
Ainda visando a proteção do controle sobre a Colônia, a escravidão indígena foi 
extinta em 1757, e a miscigenação da população nascida no Brasil foi incentivada, afim de 
incentivar o apoio popular ao Governo Português. 
1.9 Reinado de Dona Maria 
Durante seu reinado, Dona Maria I (que sucedeu a Dom José após sua morte) revogou 
algumas das medidas econômicas do Período Pombalino, criando um cenário contrastante, 
chamado de “viradeira”, devido a atitudes mais conservadoras em relação a administração 
anterior. No entanto, ainda assim a Coroa tentava se equilibrar no poder, apesar do comércio 
da colônia ser novamente limitado, com a valorização do açúcar e algodão, o cenário global 
favoreceu o desenvolvimento das atividades agrícolas. 
 
1.10 Os Movimentos de Rebeldia 
Com a crescente liberal e o próprio descontentamento regional, movimentos rebeldes 
surgiram pelo território, de forma pontual e não-homogênea, mas que afetariam a posterior 
formação do Estado Brasileiro. 
1.11 Inconfidência Mineira 
Após o declínio da extração do Ouro, a elite econômica e intelectual de Minas Gerais 
entrou em conflito com a Coroa, devido interesses econômicos e ideológicos, visto que 
diversos desses membros da bebiam das fontes ideológicas de grandes academias europeias. 
O Governo Português estabeleceu a arrecadação do quinto, uma forma de imposto que 
consistia em 20% da arrecadação do ouro provenientes do estado, posteriormente a captação 
foi substituída por uma taxa anual de 100 arrobas de ouro, a qual a sociedade mineira não 
conseguia alcançar, devido ao contrabando existente e a natural escassez do recurso. Por 
ordens da Coroa, o então governador Visconde de Barbacena foi autorizado a decretar a 
derrama, uma cobrança forçada dos quintos atrasados, que viria a confiscar todo o ouro 
encontrado. 
Tais medidas provocaram insatisfações na sociedade mineira, que se organizou e 
iniciou o movimento que seria denominado de Inconfidência Mineira, cujo o anseio era 
transformar Minas Gerais em uma república independente, baseadaem ideias liberais que 
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eram observados na Constituição dos Estados Unidos. “O Distrito Diamantino seria liberado 
das restrições que pesavam sobre ele; os devedores da Coroa, perdoados; a instalação de 
manufaturas, incentivada. Não haveria exército permanente. Em vez disso, os cidadãos 
deveriam usar armas e servir, quando necessário, na milícia nacional” (Boris Fausto, História 
do Brasil. 4. ed. São Paulo: Edusp, 1996, p. 73). A escravidão era um ponto conflituoso dentre 
do movimento, enquanto alguns defendiam a libertação dos escravos, outros preferiam manter 
a escravidão, já que eram donos de escravos e membros da elite colonial. 
Incitados pela expectativa da derrama, os conspiradores começaram a se organizar em 
1788, planejando decretar a nova república no dia em que a derrama se concretizasse, no 
entanto, ela não foi decretada e os inconfidentes delatados por Silvério de Reis (devedor da 
Coroa, que renegociou suas dívidas) acabaram presos e doze deles condenados à morte. 
“A partir daí, começou uma grande encenação da Coroa, buscando mostrar sua força e 
desencorajar futuras rebeldias. Só a leitura da sentença durou dezoito horas! Tiradentes e 
vários outros réus foram condenados à forca. Algumas horas depois, uma carta de clemência 
da Rainha Dona Maria transformava todas as penas em banimento, ou seja, expulsão do 
Brasil, com exceção do caso de Tiradentes.” (Boris Fausto, História do Brasil. 4. ed. São 
Paulo: Edusp, 1996, p.73). Tiradentes era um dos membros mais desfavorecidos do 
movimento, nunca negou a conspiração e assumiu a liderança da Inconfidência Mineira 
(mesmo não sendo uma verdade absoluta), sendo morto em 21 de abril de 1792. A Coroa 
exibiu o corpo esquartejado como demonstração da força que eventuais traidores seriam 
tratados. 
Mais tarde, com a proclamação da República, a Inconfidência Mineira ganhou um 
novo significado, assim como Tiradentes, “a proclamação da República favoreceu a projeção 
do movimento e a transformação da figura de Tiradentes em mártir republicano. Existia uma 
base real para isso. Há indícios de que o grande espetáculo, montado pela Coroa portuguesa 
para intimidar a população da Colônia, causou efeito oposto, mantendo viva a memória do 
acontecimento e a simpatia pelos inconfidentes. A atitude de Tiradentes, assumindo toda a 
responsabilidade pela conspiração, a partir de certo momento do processo, e o sacrifício final 
facilitaram a mitificação de sua figura, logo após a proclamação da República.” (Boris Fausto, 
História do Brasil. 4. ed. São Paulo: Edusp, 1996, p. 74) 
Conjuração Baiana 
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Organizada na Bahia em 1798, a Conjuração dos Baiana foi constituída 
majoritariamente por pessoas pouco favorecidas socioeconomicamente, mulatos, negros, 
soldados, artesãos (dentre eles vários alfaiates, atribuindo-se também o nome 
Conjuração/Revolta dos Alfaiates) e escravos, havendo algumas exceções, como o médico 
Cipriano Barata, que ao lado dos soldados Luís Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas, dos 
alfaiates Manuel Faustino dos Santos Lira e João de Deus Nascimento formavam a liderança 
do movimento. 
A conspiração se desenvolve a partir do cenário miserável onde se encontrava a 
população de Salvador, escassez de alimentos e altos impostos pairavam sobre a cidade desde 
a mudança da sede do governo para o Rio de Janeiro, Salvador fora “esquecida” pela Coroa 
quando deixou de ser a capital e nos últimos anos antes da revolta, houveram vários motins 
realizados pela população faminta. Inspirados pela Revolução Francesa, os conspiradores 
tinham como principais objetivos a Proclamação da República, liberdade comercial interna e 
também em relação ao comércio exterior, liberdade e igualdade entre as pessoas 
(consequentemente desejavam o fim da escravidão) e o aumento de salário dos militares. 
O movimento ruiu após a distribuição de panfletos pela cidade, chamando a atenção 
das autoridades que a partir de investigações e delações foram chegando até envolvidos, 
recebendo estes penas de prisão, banimento, e no caso dos líderes (Luís Gonzaga das Virgens, 
Lucas Dantas, Manuel Faustino dos Santos Lira e João de Deus Nascimento) foram 
enforcados e esquartejados no Largo da Piedade no dia 8 de novembro de 1799, com exceção 
do médico Cipriano Barata, possivelmente devido a sua condição financeira. 
Apesar de não ter se concretizado, assim como a Inconfidência Mineira, a Conjuração 
Baiana tem um significado muito maior que sua facticidade, pois representa as insatisfações e 
reivindicações da classe popular, daqueles que normalmente eram submetidos e coordenados 
conforme a vontade da Coroa e da elite. 
2. Breve Historicidade Constitucional 
Sabendo-se que o direito constitucional é a base do estudo jurídico dedicado ao 
ordenamento normativo básico, seu objetivo se torna a Constituição. Desse modo, a 
Constituição é a forma basilar onde se encontra maneiras de proteger o cidadão, promover 
valores, visando o aprimoramento constante e necessário das normas. Para que dessa forma, 
13 
 
os cidadãos encontrem a proteção e respeito do princípio da dignidade da pessoa humana, 
solidariedade social e da igualdade. (BRANCO; MENDES, 2012). 
Sendo assim, ao falar acerca da Constituição, têm-se a assertiva de que: 
[...] assume a missão de organizar racionalmente a sociedade, especialmente na sua 
feição política. É o estatuto do poder e o instrumento jurídico com que a sociedade 
se premune contra a tendência imemorial de abuso dos governantes. É também o 
lugar em que se expressam as reivindicações últimas da vida em coletividade e se 
retratam os princípios que devem servir de guia normativo para a descoberta e a 
construção do bem comum. (BRANCO, 2012, p. 57). 
 
 Nesse sentido abordado, a Constituição é a lei maior que vem de modo a garantir a 
proteção dos cidadãos, contra a tendência imemorial de abuso dos governantes que possa 
ocorrer tanto na sociedade atual, ou principalmente como foi o caso ocorrido com a primeira 
Constituição brasileira com o imperador D. Pedro I, pois, o princípio é a égide da construção 
do bem comum, assim como reivindicações da sociedade para a vida coletiva. 
 Destarte, há uma valoração que acontece sobre a Constituição e há primordialmente, o 
entendimento de que a Constituição é uma norma, mas também é a norma suprema do 
ordenamento jurídico isto, devido à influência de outras constituições no decorrer das etapas 
da História. No que tange inspiradas na Revolução Francesa e Americana do século XVIII. 
(BRANCO; MENDES, 2012). 
 Sendo assim, será abordado as influências de outros países e os contextos para a 
elaboração da constituição de 1824. Com isso, o prestígio da Constituição como norma 
vinculante, torna-se ensombrecido por conta do parlamento e da supremacia da lei que foram 
enfatizados. Também ocorreu por causa da delonga na Europa em comparação com a da 
América. (BRANCO; MENDES, 2012). 
 A Constituição brasileira para ser elaborada, apoia-se numa série de matizes teóricas 
como a Revolução Francesa e Americana. Contudo, é necessário conhecer e compreender o 
contexto das ideias jurídicas e políticas que auxiliaram nos conceitos do constitucionalismo. 
 Partindo desse princípio, na Europa esta ideia começa a se formar com Jean Bodin 
(1529-1596). Para Bodin, após escrever seus “Seis livros da República” desenvolveu a teoria 
de que o poder absoluto do soberano é uno, inalienável, perpétuo e absoluto. Isto se deve ao 
fato de que o poder não pode ser revogado, pois não se deriva de outro poder. Logo, é 
14 
 
absoluto por não se submeter a nenhum outro tipo de ‘poder’ e nem ao controle dos mesmos. 
(BRANCO; MENDES, 2012). 
 Desse modo, conforme Branco; Mendes (2012) o poderé absoluto, contudo não é 
ilimitado, dividindo-se em dois limites. O primeiro relacionado a diferença entre a coroa e o 
rei, onde o rei não poderia tocar nos bens da fazenda pública e nem alterar os bens de 
sucessão. De dispor dos bens dos súditos para que não se confunda com um tirano. 
 Assim, após a visão de Bodin, Hobbes em 1651, escreve o “Leviatã”. Dessa forma, 
Hobbes entende que o soberano deveria ser individualizado, de maneira a se precaver da 
dissolução do Estado. Nesse sentido, Hobbes concorda com a assertiva de Bodin, onde o 
soberano precisa dos poderes básicos, sendo eles o absoluto e perpétuo para a forma de 
organização. Mas ainda assim, o soberano precisava ser individualizado juntamente com seus 
poderes irrevogáveis, por meio de uma lei fundamental necessário. Pois, sem essa lei 
fundamental não haveria forma do Estado subsistir. (BRANCO; MENDES, 2012). 
Contudo, a diferença existente entre o pensamento de Bodin e Hobbes para Branco; 
Mendes, (2012), encontra-se para Hobbes no originário do poder. Onde por meio deste, os 
indivíduos entregariam seus direitos dispostos em seu estado de natureza para proteger seus 
bens e as suas vidas, sendo este, o poder soberano comum. Esta visão, desse modo, afasta-se 
de Bodin e “assume um feitio contratualista”. (BRANCO; MENDES, 2012 p. 61). 
 Por outro lado, Locke discorre acerca dos indivíduos em seu estado de natureza, onde 
as pessoas já eram capazes de ter propriedade, porém, a preservação da mesma não poderia 
dispensar uma sociedade política. Tendo em mira desfrutar da propriedade em paz e 
segurança. Assim, o poder deveria visar o bem geral da comunidade, só dessa forma, haveria 
o desfrute da propriedade e as condições necessárias à paz. (BRANCO; MENDES, 2012). 
Tomando forma nesse sentido, para a Constituição de uma sociedade política a 
presença de um legislador, um juiz e um poder executivo, garantindo as decisões tomadas na 
prática. (BRANCO; MENDES, 2012). 
Conforme Fioravanti (2001), a relevância de Locke está justamente relacionada à 
distinção de um poder absoluto e um poder moderado. O poder absoluto se constituiria do 
poder executivo e legislativo, pertencentes a uma única pessoa ou assembleia. Já no poder 
moderado, ambos os poderes pertenceriam a sujeitos diferentes. Logo, com essa distinção 
15 
 
existente entre os poderes Legislativo e Executivo, a dois sujeitos diferentes, necessitaria a 
formação de um poder absoluto que não colocasse em risco a situação dos direitos do 
indivíduo, sendo esta a tarefa da Constituição. 
Contudo, Locke faz apenas a divisão dos poderes entre o Legislativo e o Executivo e o 
poder Federativo, isto, na era moderna. Ao poder Executivo, caberia a função de julgar e 
reuniria a execução da lei em seus limites, de forma, igual a todos que se encontrem dentro 
desses limites. E ao Federativo a segurança e o interesse da comunidade. Sendo reunido nas 
mãos de uma pessoa os dois poderes. (FIORAVANTI, 2001). 
Neste prisma, Locke não faz uma separação dos poderes com uma igualdade 
hierárquica. Mesmo afirmando que a supremacia pertence ao povo, faz a divergência no que 
tange o poder Legislativo. Pois, a supremacia verdadeira é evidenciada e pertencente àqueles 
que produzem as leis. Segundo Branco: 
Durante o século XVIII, difunde-se a ideia de que a Constituição inglesa representa 
o ideal de configuração política da sociedade, com o seu sistema de convivência 
entre os Poderes Legislativo e Executivo, característico da fórmula do “king in 
Parliament”. O Parlamento legisla, mas tem presente a possibilidade de o rei vetar o 
diploma. No entanto, o rei atua, executa, mas sabendo que pouco pode sem a prévia 
autorização de gastos, dada pelo Parlamento. (BRANCO, 2012, P. 63) 
 
 Isto é, o rei continua detendo o poder de legislar e executar as leis em sociedade. No 
entanto, o Parlamento detém o soberano se este não der a prévia autorização de gastos. Assim, 
o modelo de Constituição inglesa era visto como o ideal a ser seguido pela razão de conter o 
poder Legislativo e Executivo dentro de um Parlamento, de forma a conviverem juntos. A 
atuação parlamentar elaboraria as leis, porém o rei tinha como vetar as mesmas. 
 Para Mostequieu, havia um tipo de poder predileto escolhido por si; sendo este, o 
poder moderado. Esta decisão vinha de modo com a qual estava evoluindo a arquitetura da 
divulgação dos poderes. Escrevendo o livro “O Espírito das Leis” em 1748, onde o que lhe 
aprouvera foi à definição de Constituição, esta conteria os poderes diferenciados, contudo, 
haveria harmonia. Acreditando que só haveria uma liberdade política sob um regime 
moderado. (BRANCO; MENDES, 2012). 
 A liberdade política seria e precisava, segundo Montesquieu apud Branco, ser 
assegurado por meio de uma Constituição, para prevenir o abuso de poder. Pois, “todo 
homem que tem poder é tentado a abusar dele, vai até onde encontra limites” (BRANCO, 
16 
 
MENDES, 2012, p.64). E a sociedade só se preveniria desses abusos se a “disposição das 
coisas” fosse própria a ter um “poder que freie o poder” (BRANCO, MENDES, 2012, p. 64). 
Advindo então, a separação dos poderes, para que um policie o outro assim só existiria o 
poder Legislativo e o Executivo que depende de direito das gentes e o outro que depende do 
artigo civil. Mas, dessa forma o último englobava o poder de julgar e o outro (Executivo 
direito das gentes) era o poder do Estado. De acordo, Branco; Mendes, (2012, p.64) “A 
separação dos Poderes tem por objetivo político reparti-los entre pessoas distintas, para, por 
esse meio, impedir a concentração, adversária potencial da liberdade.” 
 Havia um constitucionalismo que inibia povo e constrangia os poderes públicos. 
Rousseau vem de forma contrária a este pensamento, extraindo ideias revolucionárias como: a 
soberania vem da decisão do indivíduo que compõe a sociedade. Por se tratar de um tema 
forte, seus escritos foram queimados, pois, tamanha foi a sua motivação conseguida, por meio 
do “Contrato Social” de 1762. Porque, Rousseau sustentava que o poder soberano pertencia 
diretamente ao povo. 
 Por este motivo, para Rousseau no pacto social, os indivíduos entregariam sua 
liberdade natural, tornando-se um corpo político, para serem “governados por uma lei 
genérica, fruto da totalidade do corpo soberano” (FIORAVANTI, 2001, apud BRANCO 
2012, P.64). 
 Por este prisma, Rousseau desconfiava sempre dos governos e por esta razão, 
acreditava que os mesmos deveriam ser limitados. Pois, só assim, poderia haver a precaução 
dos direitos do povo e não a busca apenas, de seus próprios interesses. Reiterando que o povo 
sempre poderia retomar aquilo que havia delegado aos governantes. Sendo por este motivo, a 
visão de Rousseau que a Constituição cuidaria só dos poderes instituídos e não tinha como 
função fornecer garantia ou limites ao povo, nem restringir a vontade do povo soberano. 
(BRANCO; MENDES, 2012). 
 Sabendo-se um pouco do aporte histórico acerca das Constituições e suas principais 
influências filosóficas e seus precursores até o século XVIII, abordar-se-á a respeito das 
revoluções que incitaram e inspiraram a formulação da Constituição, em principal a Brasileira 
de 1824. 
 
2.1 Constituição Francesa e o Liberalismo 
 Segundo Vasconcelos (2008), ratifica o contexto histórico do liberalismo marcou forte 
presença na modernidade da Europa com o desenvolvimento das ideias filosófico presente. 
17 
 
Segundo Guerra (2014), o liberalismo é influenciado pelo iluminismo europeu e as revoluções 
burguesas, datada do século XVII, para se opor ao Estado absoluto. Indo até a metade do 
século XIX, conforme Vasconcelos (2008), assumindo características individualista ligada a 
propriedade. O liberalismonasce de uma classe que está em ascensão na sociedade, a classe 
burguesa que aspira subir no social e no âmbito político. 
No Estado absolutista e teocrático, cuja hierarquia social dava-se por titulação 
nobiliárquica e a única noção de constância era a superioridade da vontade real, o 
liberalismo torna-se necessário para a classe burguesa, que almejava liberdade, 
certeza e segurança jurídica, além da possibilidade de contínuo crescimento de sua 
influência política no âmbito de poder do Estado. (VASCONCELOS, 2008 p. 15). 
 
 Ou seja, a classe burguesa aspira ascender em sociedade, ter liberdade e segurança 
jurídica para permanecer influente no âmbito político do Estado. Assim sendo, a Burguesia 
almejava crescer pelo poder econômico e controlar a superestrutura de poder. Enfatizando 
valores de liberdade e igualdade individuais, portanto, o liberalismo é individualista, pois, o 
indivíduo está acima do coletivo. (GUERRA, 2014; SOUSA 2019). 
 A posse de propriedade leva a conceitos de divisão de classe dos cidadãos, por meio, 
do critério de acúmulo de riquezas. Por quanto o indivíduo estava acima do coletivo. Desse 
modo, o Regime Absolutista não é capaz de garantir a liberdade, haja vista que é comandado 
pela vontade de um soberano. E esta vontade suprimiria a vontade do grupo majoritário dos 
cidadãos sob esse Estado Monárquico. Com isso, os princípios de liberdade, fraternidade e 
igualdade seriam impedidos. (SOUSA, 2019). 
 Assim sendo, a ideologia liberal, estava disseminada na economia, em questões 
religiosas e na política. Conforme Vasconcelos, 2000, p. 15: 
As novas doutrinas teológicas, chamadas protestantes, desde as guerras do século 
XVII, traziam consigo a ideia da libertação para aquisição patrimonial, de segurança 
para sua manutenção, de legalidade, direito de resistência ao poder do estado e 
severas críticas à suposição de uma origem divina do poder monárquico [...]. 
 Na religião, o liberalismo veio criticar de forma severa, o poder do rei que advinha da 
gênese divina. Além disso, precisava de uma fé que exortasse o acúmulo de bens em 
sociedade e o trabalho. Haja vista, que os burgos eram comerciantes e viviam dessa atividade 
e o Papa condenando o lucro, não condizia com a nova realidade que estava surgindo dos 
burgueses. Assim, deveria ser aceito o lucro e a ascensão dos burgos como uma recompensa 
material tanto em vida, como no pós-vida. Saindo da esfera pecaminosa e significando um 
novo caminho de graça aos fiéis. (VASCONCELOS, 2008). 
18 
 
 Neste prisma, a Constituição Francesa tinha a Forma e Regime de Governo como; a 
monarquia e este seria o regime de governo, mas passaria a ser constitucional. A família 
Bourbon continuaria reinando e Luís XVI seguiria no trono. O rei tinha poder de veto, era o 
Chefe das Forças Armadas e declarava guerra e paz. (BEZERRA, 2018). 
 A Constituição estabelecia a divisão de poderes, tal como os iluministas defendiam. 
Assim, a França passou a ter: 
• Poder Executivo: exercido pelo rei 
• Poder Legislativo: 745 deputados 
• Poder Judiciário: juízes eleitos pelos cidadãos 
 Houve a abolição do feudalismo e foi proclamada a igualdade civil, ou seja, foram 
suprimidos os privilégios e as ordens sociais. Ainda assim, a escravidão foi mantida nas 
colônias. (BEZERRA, 2018). 
 Estabeleceu-se a forma de voto censitário baseado no critério econômico. Os cidadãos 
foram divididos em ativos, aqueles que poderiam votar; e passivos, que não participavam das 
eleições, como as mulheres, judeus e ex-escravizados. Somente poderiam votar os homens, 
maiores de 25 anos, estabelecidos no mesmo endereço durante um ano e que pagassem um 
imposto equivalente a três dias de trabalho. Votava-se para deputados nacionais, assembleias 
locais, juízes, chefes da guarda nacional e padres. Por sua vez, para se candidatar era preciso 
ter uma renda equivalente a cinquenta dias de trabalho. (BEZERRA, 2018). 
 No quesito trabalho, os grêmios e corporações de ofícios foram suprimidos, assim 
como o direito de associação e de greve dos trabalhadores. 
 Em 1790 foi aprovada a Constituição Civil do Clero, no qual os padres passaram a ser 
funcionários civis subordinados e pagos pelo Estado. Igualmente, os padres deveriam prestar 
um juramento à Constituição. Também foram confiscados os bens da Igreja, declarado o fim 
dos votos perpétuos e suprimidas as ordens religiosas. Esse conjunto de leis foi ratificado pela 
Assembleia Constituinte de 1791 e incorporado à Constituição. (BEZERRA, 2018). 
 
2.2 Constituição Americana 
 A Constituição Americana foi promulgada em 1787 e ratificada em 1789 pelos 13 
Estados americanos. O Governo americano adotou o regime confederado, após a declaração 
de Independência dos Estados Unidos. Havia um Governo central, porém, este permitia que 
19 
 
cada Estado fosse autônomo tanto em termos políticos quanto em termos jurídicos. 
(BEZERRA, 2018). 
 Fizeram uma reunião na cidade da Filadélfia, por medo de uma invasão britânica ou 
que houvesse uma guerra civil entre os Estados. Assim, reuniram-se e discutiram propostas 
que deram origem aos Estados Unidos e seu sistema político. Apenas Rhode Island, esteve 
ausente na Convenção Constitucional, por meio dos 55 delegados. (BEZERRA, 2018). 
 Iniciou-se dessa forma, um embate entre Federalistas e Anti-Federalistas. Pois, em 
sequência, o primeiro era os comerciantes das grandes cidades que apoiavam um Governo 
central para arrecadar impostos e fornecer a paz entre os Estados. Já o segundo, era formado 
por proprietários de terras que não queriam pagar impostos a um Governo que não se 
importasse com eles e tinha o temor de que um Governo central não respeitasse os direitos 
individuais dos cidadãos. (BEZERRA, 2018). 
 Contudo, os Federalistas impuseram sua vontade e acrescentaram uma Carta de 
Direitos na Constituição, para que o novo Governo que assumisse realizasse o que ali 
continha. A Constituição não foi acordada pelo Estado de Rhode Island e nem pelo Estado da 
Carolina do Norte. Porém, todos os 13 Estados ratificaram a Constituição. (BEZERRA, 
2018). 
 A Constituição americana é considerada a menor Constituição do mundo, contendo 7 
artigos e 27 emendas, contidas em cinco páginas. Os Principais Artigos que contêm a 
Constituição americana são: 
• Determinou que a forma de governo fosse uma república presidencialista federativa. O 
poder estaria dividido em Executivo, Legislativo e Judiciário, 
• Unificou o sistema monetário e de medidas que seria utilizado, 
• Os estados deveriam respeitar os direitos individuais dos cidadãos, 
• Estabeleceu o sistema bicameral: Congresso dos Deputados e Senado, 
• Criou-se a Suprema Corte, 
• O Chefe de Estado e do Governo seria eleito pelos cidadãos livres, através do Colégio 
Eleitoral. 
Já a Carta de Direitos (Bill of Rights) continha: 
 O Bill of Rights (Carta de Direitos) foi acrescentado à Constituição americana em 
1791 a fim de garantir alguns direitos básicos ao cidadão comum. Deste modo estava 
garantido o direito de: 
• Liberdade de expressão: todo o cidadão tem o direito de expor livremente suas ideias, 
20 
 
• Praticar sua religião livremente, 
• Manter o silêncio durante uma interpelação policial, 
• Incluir acréscimos (emendas) à Constituição quando fosse necessário. 
 
3. Primórdios da Estrutura Político-Econômica Brasileira 
Nos primeiros períodos seguidos a invasão do Brasil pelos portugueses, vê-se os 
reflexos dos interesses econômicos de Portugal no Brasil Colônia, que formava sua economia 
sob a luz do mercantilismo lusitano. O Brasil foi colonizado por um processo de exploração, 
centrando-se economicamente em torno da agricultura tropical para o fornecimento de 
produtosprimários aos centros europeus.1 Portanto, o Brasil Colônia se estabeleceu como 
uma sociedade agrária, que existia em função de Portugal e para Portugal, não possuindo 
características singulares. 
A estruturação política brasileira surgiu sem identidade nacional, já que era totalmente 
despida dos objetivos da população local e da sociedade como um todo. Como apontado por 
Wolkmer, em função das necessidades metropolitanas, o Brasil tinha que articular-se, ou seja, 
a estrutura política brasileira surgiu como uma extensão do poder de Portugal. Esta instância 
de poder que surgia no Brasil colonial era uma burocracia patrimonialista legitimada pelos 
donatários, senhores de escravo e proprietários de terras.2 Antonio Carlos Mendes lembra que 
o cenário de dominação política é contraditório: “de um lado, a pulverização do poder na mão 
dos donos das terras e dos engenhos, seja pelo profundo quadro de divisão de classes, seja 
pelo vulto da extensão territorial; de outra parte, o esforço centralizador que a Coroa impunha, 
através dos governadores-gerais e da administração legalista...” . Assim, evidencia-se o fato 
de a ordem jurídica vigente tender no sentido da preeminência do direito público em relação 
ao privado. 
Ademais, a estruturação administrativa estabelecida no Brasil colonial foi em primeiro 
plano o sistema de capitanias hereditárias, no qual não logrou êxito. Posteriormente, criou-se 
em 1548, o governo-geral como forma de centralizar a administração da colônia e garantir os 
interesses de Portugal. O governador era a autoridade máxima, e contava com o auxílio do 
provedor-mor, capitão-mor e ouvidor-mor. Respectivamente, essas funções eram designadas 
 
1 WOLKMER, Antonio Carlos – história do direito no Brasil. 9 ed. Rio De Janeiro: Forense. Pg 52. 
2 WOLKMER, Antonio Carlos – história do direito no Brasil. 9 ed. Rio De Janeiro: Forense. Pg 53. 
21 
 
para garantia do recolhimento dos impostos, defesa do litoral brasileiro, e aplicar as leis e 
resolver conflitos. 
4. A Legislação Colonizadora e o Direito Nativo 
Analisando as raízes culturais da legislação brasileira, A. L Machado Neto sustenta 
que o direito brasileiro surgiu sob a influência do direito lusitano, e enquanto os negros e 
nativos foram fatores ativos na formação cultural do Brasil, se mostraram agentes passivos na 
formação do direito brasileiro. Os primórdios desse direito essencialmente particular se 
assentavam na autoridade interna dos donatários, que administravam seus domínios como 
feudos particulares, assim como aponta Wolkmer. As primeiras disposições legais surgiram 
no primeiro momento da colonização brasileira que vai de 1520 a 1549, em que o Brasil era 
organizado por estruturas denominadas capitanias hereditárias, em forma de cartas de doação 
e forais.3 No dizer de Isidoro Martins Júnior, as cartas de doação eram um “... maquinismo 
inventado pela metrópole para o povoamento e enriquecimento da possessão brasileira”, 
enquanto as cartas de foral complementavam as cartas de doação, já que estabeleciam a 
legitimidade da posse da terra, bem como os direitos e deveres ao adquiri-la. 
Contudo, como foi dito anteriormente na análise dos primórdios da estrutura político-
econômica, o sistema de capitanias hereditárias não logrou êxito, estabelecendo-se o sistema 
de governadores-gerais. Surgiu, assim, a utilização de certo número de prescrições decretadas 
em Portugal, reunindo desde Cartas de Doação e Forais das capitanias até Cartas-Régias, 
Alvarás, Regimentos dos governadores gerais, legislação canônica, ius Commune e, 
finalmente, a mais importante compilação que veio unificar o Direito lusitano, as Ordenações 
Reais.4 De fato, o Direito vigente no Brasil-Colônia foi transferência da legislação portuguesa 
contida nas compilações de leis e costumes conhecidos como Ordenações Reais5 (englobando 
as Ordenações Afonsinas, Ordenações Manuelinas e Ordenações Filipinas). Entretanto, essas 
ordenações eram insuficientes para a resolução das necessidades do Brasil-Colônia dado que 
o Direito lusitano foi trazido para a colônia sem qualquer alteração, desse modo muitas 
normas perderam o sentido, pois eram relevantes apenas para o contexto histórico português, 
e não para o brasileiro. E como aponta Konrad Hesse, uma constituição não pode direcionar 
uma sociedade se não estiver de acordo com as leis sociais, culturais, políticas e econômicas; 
 
3 WOLKMER, Antonio Carlos – história do direito no Brasil. 9 ed. Rio De Janeiro: Forense. Pg 61. 
4 WOLKMER, Antonio Carlos – história do direito no Brasil. 9 ed. Rio De Janeiro: Forense. Pg 61. 
5 WOLKMER, Antonio Carlos – história do direito no Brasil. 9 ed. Rio De Janeiro: Forense. Pg 61. 
22 
 
assim o direito trazido pelos portugueses não era consoante à realidade brasileira, portanto era 
lacunoso. 
Assim, tendo em vista a insuficiência das Ordenações para resolver todas as 
necessidades da Colônia, criou-se a “Lei da Boa Razão” no século XVΙΙΙ, com as reformas 
pombalinas. A Lei da Boa Razão visava preencher as lacunas das Ordenações de acordo com 
o contexto colonial, e ao mesmo tempo garantir os intentos da metrópole. A partir desta 
situação jurídico-pluralista, Antonio Manuel Hespanha defende a existência de um “Direito 
colonial brasileiro”, ou seja, a “autonomia de um direito (que) não decorria principalmente da 
existência de leis próprias, mas, muito mais, da capacidade local de preencher os espaços 
jurídicos de abertura ou indeterminação existentes na própria estrutura do direito comum”.6 
Portanto, observa-se que houve um implante do direito luso no Brasil-Colônia, mas houve 
também ajustes e adequações desse direito em razão da realidade da Colônia. 
Quanto à especificação do modelo jurídico hegemônico durante os primeiros dois 
séculos de colonização, foi, ainda que não tenha sido o único e exclusivo sistema legal em 
vigência, marcado pelas diretrizes formalistas do Direito comum alienígena- segregador e 
discricionário com relação à própria população nativa-, revelando, mais do que nunca, as 
intenções e comprometimento da estrutura elitista de poder. 7 
5. A Administração da Justiça 
Na primeira fase da colonização os poderes jurisdicional e administrativo se 
confundiam. José Reinaldo De Lima Lopes chama a justiça dessa época de “justiça 
senhorial”, isso aponta que os donatários foram as primeiras autoridades do Brasil Colônia.8 
Porém, com a chegada do primeiro governador-geral, Tomé De Souza, a estrutura judiciária 
do Brasil colonial começa a tomar outros rumos, e os antigos ouvidores, que eram 
subordinados aos donatários, agora passaram a ser ouvidores-gerais. O novo cargo de 
ouvidor-geral passou a ser um dos cargos mais importantes da segunda fase da colonização, 
ademais, esses ouvidores já não eram mais subordinados aos donatários diminuindo-lhes o 
poder. 
Neste sentido, a organização judiciária do Brasil Colônia reproduzia a estrutura 
portuguesa, apresentando em primeiro plano juízes singulares, juízes ordinários e juízes 
 
6 WOLKMER, Antonio Carlos – história do direito no Brasil. 9 ed. Rio De Janeiro: Forense. Pg 63. 
7 WOLKMER, Antonio Carlos – história do direito no Brasil. 9 ed. Rio De Janeiro: Forense. Pg 64. 
8 MEDINA, Paulo Roberto - a organização judiciária do Brasil Colônia: Revista brasileira de direito comparado. 
23 
 
especiais. Por sua vez, estes se desdobravam em juízes de vintena, juízes de fora, juízes de 
órfãos, juízes de sesmarias, etc. 9 Em segundo plano, a organização judiciária também era 
composta por Tribunais. Inegavelmente, a administração da justiça no Brasil Colônia atuou 
sempre como instrumento de dominação colonial. 
Ainda, o direito e a administração da justiça implantados no Brasil na época colonial 
ganharamum perfil excludente e discriminador, negando radical e arbitrariamente o 
pluralismo jurídico nativo. Justificando, desta forma, o fato de os Indígenas e os africanos 
terem sido fatores ativos no aspecto cultural brasileiro, mas totalmente passivos na formação 
do direito. 
6. Contexto histórico de 1800-1824 
 A vinda da família real para o Brasil trouxe reorganizações administrativas e criaram 
uma estrutura autônoma, dando ares de metrópole à então colônia. Criando, assim, uma ideia, 
de império, ou seja, um sentimento de nacionalidade. 
 Entretanto, para abrigar a corte e sua estrutura burocrática faziam-se necessárias 
sensíveis modificações na colônia. O primeiro passo foi abertura dos portos às “nações 
amigas” pela Carta Régia de 28 de janeiro de 1808, que contrariava o princípio colonialista do 
monopólio comercial. As forças militares da colônia também mereceram a atenção da coroa 
portuguesa, D. João procurou reorganizar as forças da colônia. Em dezembro de 1815 foi 
assinado pelo rei D. João VI uma Carta Régia que elevava o Brasil a Reino Unido a Portugal, 
formando um só corpo político (VASCONCELOS, 2008). 
As transformações geradas pela transferência da sede da monarquia não foi igual por 
todo o território brasileiro, privilegiando a sede da Corte, São Paulo e Minas-Gerais. Sendo 
assim, o Nordeste ficou à margem do processo de modernização, o que gerou muita 
insatisfação e revolta contra a Coroa. Por sua vez o Sudeste tornou-se a nova metrópole em 
detrimento de todo o norte, que apesar de pagar alta carga tributária e de sua boa fase 
econômica através do novo ciclo do açúcar e do algodão, não percebia qualquer forma de 
investimentos governamentais para sua adequação à nova ordem político-social, o que, 
somados à criação de impostos específicos para essa região em 1812, à queda na produção de 
seus principais itens comerciais e ao agravamento da seca de 1816, culminaria na Revolução 
Pernambucana de 1817 (VASCONCELOS, 2008). 
 
9 WOLKMER, Antonio Carlos - história do direito no Brasil. 9 ed. Rio De Janeiro: Forense. P 74. 
24 
 
Pode-se dizer que a Revolução Pernambucana de 1817 foi um início de movimento 
constitucional no Brasil, tendo em vista que os participantes do movimento (clérigos, 
militares, profissionais liberais, funcionários públicos, segmentos da classe média) estavam 
revoltados com a forma da família real governar. Dessa forma, as ideais iluministas de 
liberdade, igualdade e fraternidade se propagavam pelo território pernambucano e 
influenciaram os líderes do movimento a fazer críticas ao sistema absolutista (BONAVIDES, 
2000). 
 Esse movimento constitucional foi se espalhando pelo país e a busca por uma criação 
de uma constituição escrita que levasse em consideração o liberalismo e assegurasse os 
direitos individuais e a divisão dos poderes foi crescendo. Ressalta-se que a nobreza do Brasil 
constituída nos vários séculos da colonização graduou-se em universidades europeias e 
disseminou pelo território pensamentos políticos que estavam mudando o cenário europeu: 
liberalismo, democracia, constitucionalismo, parlamentarismo e a república. 
 Com a chegada da Revolução do Porto, em abril de 1821, D. João foi obrigado a 
retornar à Portugal, sendo assim, deixou seu filho, D. Pedro I, em seu lugar no Brasil. Em 
1822 Portugal ordenou a volta imediata do príncipe, contudo D. Pedro se recusou a cumprir a 
ordem. Em 1822 os laços entre Brasil e Portugal já se desatavam. Os principais deputados 
brasileiros reagiam às pressões das Cortes. A tentativa de aniquilação da autonomia da 
administração brasileira desanimava os liberais da antiga colônia. Nesse sentido, os liberais 
brasileiros já buscavam outra alternativa para o Brasil que não fosse condicionada à união 
com Portugal. O clima de incerteza política levou D. Pedro, por influência de José Bonifácio 
de Andrada, em decreto de 16 de fevereiro de 1822, a convocar um conselho de “procuradores 
geraes das províncias do Brazil” que tinha por objetivo elaborar o sistema constitucional 
brasileiro (VASCONCELOS, 2008). 
Nesse contexto D. Pedro I emancipou o Brasil de Portugal, convocando a Assembleia 
Constituinte para redigir a primeira Constituição Brasileira. O Brasil se tornou independente 
em 07 de setembro de 1822 e, para sua estruturação, bem como defesa de seus direitos 
fundamentais, precisava de sua Carta Magna (BONAVIDES, 2000). 
Foram eleitos 90 deputados, muitos dos quais não chegaram a tomar posse. Os 
representantes das províncias eram eleitos indiretamente. Quase todos que compuseram a 
assembléia seriam mais tarde os grandes homens do primeiro período imperial, ao exemplo 
de: Antônio Carlos de Andrada Machado, Antônio Diogo Feijó, Felisberto Caldeira Brant, 
25 
 
José Bonifácio de Andrada, José da Silva Lisboa, Martim Francisco Ribeiro de Andrada e 
Pedro de Araújo Lima, dentre outros grandes nomes da nossa história. Antônio Carlos era o 
mais destacado dos constituintes. Membro de uma família ilustre, também contava com a 
experiência em assuntos políticos (VASCONCELOS, 2008). 
Antônio Carlos rejeitou todos os anteprojetos apresentados na Assembleia, redigiu 
outro em quinze dias. Esse projeto era essencialmente de inspiração liberal, desvinculava a 
Igreja do Estado, garantia a plena liberdade religiosa, descentralizava a administração do 
Estado atribuindo certa autonomia às províncias, além disso, diminuía a competência do 
Imperador e acumulava-as no Gabinete, instituía três poderes e dava grandes atribuições ao 
Parlamento. 
 Contudo, a elaboração da Constituição não foi pacífica. D. Pedro I, em novembro de 
1823, apoiado pelo Partido Português (constituído por ricos comerciantes portugueses e altos 
funcionários públicos) dissolveu a Assembleia Constituinte. Esse episódio foi denominado de 
“noite da agonia”, onde os militares por ordem de D. Pedro I invadiram a sede da Assembleia 
para dissolve-la, porém, houve resistência por parte de seus membros, que acabou gerando 
prisão e exílio de alguns deputados (SANTOS, 2013). 
A Constituição que estava sendo elaborada pelos deputados limitava o poder do 
imperador. Dessa forma, D. Pedro I convocou alguns ministros e políticos de sua confiança 
para escrever a nova Constituição Brasileira. O imperador I também participou da redação do 
texto constitucional, garantindo, assim, a manutenção de seu poder de imperador (SANTOS, 
2013). 
7. Características da Constituição de 1824 
7.1 Classificação da Constituição Imperial 
A Constituição Política do Império do Brasil, também chamada de Constituição de 
1824, foi a primeira e única constituição do Brasil Imperial. Foi outorgada pelo imperador D. 
Pedro I em 25 de março de 1824. Uma Constituição outorgada é aquela imposta pelo governo, 
não é democrática, as leis são elaboradas segundo a vontade de um ou de alguns detentores do 
poder. Essa foi a Constituição com duração mais longa na história do país (65 anos) até o 
momento (NOGUEIRA, 1999). 
26 
 
Quanto à origem, é classificada como outorgada pelo imperador. Ressalta-se que que 
inicialmente foi convocada uma Assembleia Constituinte, com influência do liberalismo, que 
em seguida foi dissolvida pelo imperador. 
Quanto à forma, a Constituição foi escrita, tendo em vista a sistematização em um 
único documento. Em relação ao conteúdo é considerada formal, ou seja, são normas 
codificadas que são hierarquicamente superiores as demais normas infraconstitucionais. 
É entendida quanto à extensão como analítica, possui 179 artigos prevendo vários 
temas e não apenas princípios como geralmente acontece nas constituições sintéticas. 
Considerada, em relação a sua possibilidade de alteração, como semirrígida, pois algumas 
normas para seremalteradas precisava de um sistema mais dificultoso, e outras poderiam ser 
alteradas por um processo ordinário. 
Sua elaboração se deu de forma dogmática, tendo em vista que refletia os dogmas da 
época e foi criada de maneira sistematizada por um órgão constituinte. 
7.2 Estrutura da Constituição de 1824 
Foi dividida em 8 títulos: primeiramente trata do Império, território, governo, dinastia 
e religião; segundo título “Dos cidadãos brasileiros”; terceiro denomina-se “ Dos poderes e 
representação nacional”; Posteriormente, fala do Poder Legislativo; Após, sobre o Imperador; 
O sexto trata do Poder Judiciário; o sétimo se relaciona com a administração e a economia das 
províncias; finalmente, o último título fala das garantias dos direitos civis e políticos do 
cidadão brasileiro (CONSTITUIÇÃO IMPERIAL, 1824). 
7.3 Preâmbulo da Constituição 
A doutrina majoritária entende que não há preâmbulo na Constituição de 1824. 
Entretanto, levando em considerações os aspectos formais, menciona-se a parte introdutória: 
DOM PEDRO PRIMEIRO, POR GRAÇA DE DEOS, e Unanime Acclamação 
dos Povos, Imperador Constitucional, e Defensor Perpetuo do Brazil : Fazemos 
saber a todos os Nossos Subditos, que tendo-Nos requeridos o Povos deste Imperio, 
juntos em Camaras, que Nós quanto antes jurassemos e fizessemos jurar o Projecto 
de Constituição, que haviamos offerecido ás suas observações para serem depois 
presentes á nova Assembléa Constituinte mostrando o grande desejo, que tinham, de 
que elle se observasse já como Constituição do Imperio, por lhes merecer a mais 
plena approvação, e delle esperarem a sua individual, e geral felicidade Politica : 
27 
 
Nós Jurámos o sobredito Projecto para o observarmos e fazermos observar, como 
Constituição, que dora em diante fica sendo deste Imperio a qual é do theor seguinte. 
7.4 Outras Características 
Com a primeira Constituição outorgada, por D. Pedro I, ficou determinado que: 
O texto constitucional considerou como cidadãos os libertos nascidos no Brasil, os 
filhos de pai brasileiro, os ilegítimos de mãe brasileira nascidos no exterior que fixassem 
domicílio no Império e os filhos de pai brasileiro em serviço em país estrangeiro, ainda que 
não se estabelecessem no Brasil, além de todos os nascidos em Portugal e suas possessões que 
residissem no país por ocasião da Independência (CONSTITUIÇÃO, 1824, art. 6º). 
 Em relação à opção religiosa, o art. 5º prevê expressamente que a religião católica 
ficou estabelecida como oficial do Brasil: 
A Religião Catholica Apóstólica Romana continuará a ser a Religião do Império. 
Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular em 
casas para isso destinadas, sem forma algum exterior do Templo. 
 Observa-se que a Constituição assegurou a liberdade religiosa, todavia, limitou à 
cultos domésticos, proibindo, portanto, a liberdade de culto público. O Brasil não era um país 
laico, tendo em sua dedicatória inicial “EM NOME DA SANTÍSSIMA TRINDADE”. 
No que diz respeito ao direito de voto, considera-se como censitário. Só homens livres 
e ricos podiam votar, pois o voto era de acordo com seu nível de renda, fixado na quantia 
líquida anual de cem mil réis por bens de raiz, indústria, comércio ou empregos. Para ser 
eleito, o cidadão também tinha que comprovar renda mínima proporcional ao cargo 
pretendido. Este sistema eleitoral excluiu a maioria da população brasileira do direito de 
escolher seus representantes. 
As eleições eram indiretas, ficando definidos dois tipos de eleitores, os de paróquia e 
os de província. Os eleitores de paróquia elegiam os de província, que votavam nos deputados 
à Assembleia Geral. A Constituição qualificou os eleitores, bem como os que poderiam ser 
votados, segundo o critério censitário. Podiam votar os maiores de vinte e cinco anos, com 
renda líquida anual de cem mil réis para as eleições paroquiais, e de duzentos mil réis para as 
de província. No caso do limite de idade imposto para o voto, de 21 anos, abria-se exceção 
aos que fossem casados, bem como para militares e bacharéis formados. Podiam votar nas 
eleições de paróquias os libertos, desde que nascidos no Brasil e obedecendo ao critério 
28 
 
censitário. Ficavam excluídos do direito ao voto os criados e religiosos, as mulheres, os 
escravos, os índios e os filhos que viviam na companhia dos pais, isto é, dependentes 
economicamente. 
Quanto à organização do território e do Estado, a Carta Imperial prevê a divisão 
territorial em províncias. Essas províncias surgiram da transformação das capitanias existentes 
na época (art. 2º da Constituição de 1824). O governo era um presidente nomeado pelo 
Imperador (art. 165). 
A forma de governo adotada foi o regime político monárquico, sendo que o poder 
seria transmitido de forma hereditária. A figura de D. Pedro I era exaltada como “Defensor 
Perpetuo do Brazil” (art. 4º). Além disso, a Carta Magna possuía quatro poderes: Executivo, 
Judiciário, Legislativo e Moderador. Destaca-se o fortalecimento do poder pessoal do 
imperador com a criação do quarto poder. 
7.5 Organização dos poderes 
Segundo Bedin e Spengler, primeira constituição vigente trazia em seus artigos o 
reconhecimento e a admissão de que a divisão dos poderes em regime imperial era de extrema 
importância e necessária para a harmonia entre todos, tendo em vista um recente processo de 
independência que desencadeou na constituição em questão que tinha como um de seus 
pilares para se justificar o seguinte Art. 
Art. 9. A Divisão, e harmonia dos Poderes Políticos é o princípio conservador dos 
Direitos dos Cidadãos, e o mais seguro meio de fazer efetivas as garantias, que a 
Constituição oferece. 
Levando em consideração parte as ideias apresentadas pelo suíço Benjamin Constant 
que já citava a divisão dos poderes em mais de três, juntamente aos ideais liberais. Houve 
necessidade de o imperador em conjunto com a assembleia dividir os poderes pelo que 
conhecemos por quadripartite, que nada mais e que a divisão dos poderes em quatro sendo 
eles: o poder legislativo, poder judiciário, poder executivo e o poder moderador. 
“Art. 10. Os poderes políticos reconhecidos pela constituição do império do brasil 
são quatro: O poder legislativo, o poderá moderador, o poder executivo e o poder 
judicial” 
Essa divisão de poderes dava uma sensação de melhor organização e disposição dos 
poderes sendo que um não poderia em teoria desordenar decisões tomadas e possuíam uma 
relação de dependência. 
29 
 
 
7.5.1 O Poder legislativo 
Sendo apresentado na constituição de 1824 a partir do 13°Art o poder legislativo era 
constituído pela câmara dos deputados e por senadores. Os deputados eram escolhidos por 
meio de eleições indiretas, nas quais apenas homens com idade superior a 25 anos e que 
tivessem uma certa renda anual comprovada poderiam votar. 
 Já os senadores eram escolhidos diretamente pelo imperador e seu mandato era 
vitalício. A reunião desses políticos constituía a assembleia geral, que tinha como um de seus 
principais objetivos a apresentação, a elaboração, mudanças em leis e a autorização para que o 
império pudesse contrair dívidas e até mesmo autorizar que o imperador pudesse permanecer 
mais de 90 dias fora do território brasileiro. 
Art. 13. O Poder Legislativo é delegado á Assembléa Geral com a Sancção do 
Imperador. 
Art. 14. A Assembléa Geral compõe-se de duas Camaras: Camara de Deputados, e 
Camara de Senadores, ou Senado. 
Art. 15. E’ da attribuição da Assembléa Geral 
Tomar Juramento ao Imperador, ao Principe Imperial, ao Regente, ou Regencia. 
 Eleger a Regencia, ou o Regente, e marcar os limites da sua autoridade. 
Reconhecer o Principe Imperial, comoSuccessor do Throno, na primeira reunião 
logo depois do seu nascimento. 
Nomear Tutor ao Imperador menor, caso seu Pai o não tenha nomeado em 
Testamento. 
Resolver as dúvidas, que occorrerem sobre a successão da Corôa 
 
7.5.2 O Poder executivo 
Tal poder era chefiado pelo próprio imperador através dos ministros de estado sendo 
sua figura inviolável (BRASIL,1824), este poder nada mais era do que uma extensão de 
poderes do imperador que lhe atribuía juntamente os seus ministros funções como: nomear 
bispos, magistrados, comandantes das forças de terra e mar, embaixadores entre outros cargos 
e funções políticas, comerciais e de segurança que representasse o Brasil, além de ter a 
liberdade de aceitar e vetar leis propostas pelo poder legislativo. 
30 
 
 Art. 102. O Imperador é o Chefe do Poder Executivo, e o exercita pelos seus 
Ministros de Estado. 
São suas principais atribuições: 
(...) 
XII. Expedir os Decretos, Instrucções, e Regulamentos adequados á boa execução 
das Leis. 
7.5.3 Poder judiciário 
O poder judiciário era bem influenciável por outros poderes, uma vez que o mesmo 
ficava a mercê do poder executivo, que tinha como função nomear os juízes, mesmo que, 
dentro da constituição outorgada tivesse a indicação de que era um poder independente. 
“Art. 151. O Poder Judicial independente, e será composto de Juizes, e jurados, os 
quaes terão logar assim no Civel, como no Crime nos casos, e pelo modo, que os 
Codigos determinarem.” 
Tal poder já tinha um sistema onde era organizado com uma instância a menos 
comparado ao que temos atualmente. A outorgada era dividida em duas estancias sendo elas: 
Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça que ficava em responsabilidade de juízes de 
direito, juízes de paz e ao júri respectivamente. Sendo que cada um deles possuía suas 
atribuições, já em segunda instância estava prevista em constituição a criação de um tribunal 
da relação nas províncias onde respectivamente funcionaria o Supremo Tribunal de Justiça 
que ficava encarregado de conceder ou negar permissões de revista nas causas, jugar delitos, 
erros que pudessem colocar os ministros em risco e até mesmo jugar os presidentes das 
províncias. 
7.5.4 Poder moderador 
Conhecido popularmente como 4° poder, o moderador foi instituído pelo imperador 
que era responsável pelo comando do mesmo. Tal poder tinha como principal função, no 
sistema de organização dos poderes, o controle e o equilíbrio entre todos de forma que tal 
poder pudesse supervisionar tudo o que acontecia em outros níveis do sistema sem que a sua 
soberania fosse colocada em risco. Esse312 poder era previsto em constituição e foi uma ideia 
vista como viável pelo imperador que se viu em meio a pressão dos liberais e de toda a elite 
que ali estava para que todos os interesses fossem defendidos. 
“Art. 98. O Poder Moderador é a chave de toda organização política, e é 
delegado privativamente ao imperador, como Chefe Supremo da Nação, e seu 
31 
 
Primeiro Representante, para que incessantemente vele sobre a manutenção 
da Independência, equilíbrio, e harmonia dos mais Poderes Políticos” 
O que de fato não acontecia uma vez que tal poder tinha total autonomia para o 
imperador tomar decisões e vetar leis, julgamentos e outras decisões tomadas pelos outros 
poderes. Deixando assim os outros poderes sem opção a não ser ficarem submissos a outro 
poder, ou seja, independentemente de qualquer situação ou empasse a decisões ainda eram do 
imperador. 
Art. 101. O imperador exerce o Poder Moderador 
 (...) 
II. Convocando a Assembléa Geral extraordinariamente nos intervallos das 
Sessões, quando assim o pede o bem do Imperio. 
III. Sanccionando os Decretos e Resoluções da Assembléa Geral para que 
tenham força de Lei. 
IV. Approvando e suspendendo interinamente as Resoluções dos Conselhos 
Provinciaes. 
V. Prorrogando, ou adiando a Assembléa Geral e dissolvendo a Camara dos 
Deputados, nos casos que o exigir a salvação do Estado; convocando 
immediatamente outra que a substitua. 
7.6 Artigo 179 
O artigo 179 da encontrava-se englobado no título 8 da CF/1824 sendo retrato fiel dos 
ideais liberais que marcaram a Constituição de 1824, dada pela seguinte redação: “Artigo 179. 
A inviolabilidade dos Direitos Civis, Políticos dos Cidadãos Brasileiros, que tem por base a 
liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, 
pela maneira seguinte.” 
Tal artigo contém trinta e cinco incisos, e para melhor aproveitarmos nosso tempo de 
apresentação, citaremos apenas alguns para fins explicativos neste trabalho: No inciso XIII, 
por exemplo, há previsão compatível com a isonomia formal sem qualquer ressalva, dada pela 
seguinte redação: “XIII. A Lei será igual para todos, quer proteja, quer castigue, o 
recompensará em proporção dos merecimentos de cada um”.10 
 
10 Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao24.htm> acesso: 25 set. 2019 
32 
 
A partir desse inciso podemos chegar a conclusão de que acabam-se os privilégios de 
nascimento e fixa-se a ideia de que a lei deve ser igual para todos, isto é, as pessoas são iguais 
na lei e perante a lei. Outro inciso que traz tal ideia é o XIV, qual traz a isonomia como 
parâmetro para admissão de cidadãos em cargos públicos, conforme redação: “XIV. Todo o 
cidadão pode ser admitido aos Cargos Públicos Civis, Políticos, ou Militares, sem outra 
diferença, que não seja dos seus talentos, e virtudes”. Sobre esse reconhecimento da igualdade 
perante a lei, Bobbio (1996) afirma que é a única premissa de proclamação da igualdade 
universalmente aceita. O princípio é bastante antigo e não pode deixar de ser relacionado com 
a ideia da isonomia, ideal primário do pensamento político grego. Entretanto, apesar de aceito 
pelos ordenamentos jurídicos mais diversos, também não é um princípio revestido de total 
clareza, sendo realizadas diversas intepretações. Para a teoria jurídica o que se pode afirmar é 
que serve de base para outros regramentos, como prescrição da imparcialidade do julgador. 
 Agora no inciso XIX, foram proibidas a prática da tortura, os açoites, a marca de 
ferro quente, e todas as mais penas cruéis, conferindo traço de direito à vida com dignidade. 
Todavia, apesar dessa previsão, o Estado mantinha uma sociedade escravocrata, sendo os 
negros tomados como propriedade privada pela elite branca. Esta discordância entre o texto 
constitucional e a realidade social gradativamente foi se atenuando, começando pela Lei do 
Ventre Livre de 28 de setembro de 1871, e concluindo-se com a Lei Aurea de 13 de maio de 
1888. Nas palavras de PEDRO LENZA: 
“não podemos, contudo, deixar de excretar a triste manutenção da escravidão, por 
força do regime que se baseava na ‘monocultura latifundiária e escravocrata’, como 
mancha do regime até13 de maio de 1888, data de sua abolição, quando da 
assinatura da Lei Aurea pela Princesa Isabel”. (p. 118) 
Pedro Lenza Observa que: 
Muito embora não previa a garantia do habeas corpus, cabe lembrar que o Decreto n. 
114, de 23.05.1821, alvará de D. Pedro I, antes do texto, já proibia prisões 
arbitrárias. A constituição de 1824, por si, tutelou a liberdade de locomoção (art. 
179, VI, VIII e IX) e também vedou qualquer hipótese de prisão arbitrária. (2017, 
p.118) 
A garantia do habeas corpus, como se verá, constitucionaliza-se somente no texto da 
Constituição de 1891. 
33 
 
O rol de garantias, sem dúvidas representou um grandioso avanço para o povo 
“brazileiro”, havendo disposições ali inseridas que desde a sua previsão nunca mais deixaram 
de incidir em nossas outras Constituições, como é o caso dos postulados da liberdade,

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