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Documento Norberto Boobio

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O pensamento jurídico de Norberto Bobbio Norberto Bobbio nasceu em 1909. Foi filósofo e cientista político, professor universitário e senador vitalício do Parlamento italiano. Da sua ampla obra intelectual, destacamos a mais utilizada no meio acadêmico que é o seu “Dicionário de Política”, escrito juntamente com Nicola Matteucci e Gianfranco pasquino.
Bobbio foi um ator importante no combate intelectual que conduziu ao confronto entre as três principais ideologias do século XX, a saber: o nazi-fascismo, o comunismo e a democracia liberal.
O seu pensamento, durante grande parte da maturidade de sua carreira, esteve circunscrito ao restrito círculo dos meios intelectuais italianos, mas ao logo dos últímos anos vem se tornando gradualmente conhecido em todo o mundo, primeiramente, por força dos seus estudos de Filosofia do Direito - com enfoque para temas fundamentais como o jusnaturalismo e positivismo jurídicos -, e também em razão de sua dedicação à temática sobre a construção dos sistemas constitucionais. Bobbio escreveu sobre muitos temas em seus ensaios, dos quais podemos citar: a democracia representativa, o ofício dos intelectuais, a natureza e as múltiplas dimensões do poder, a díade esquerda-direita, o futuro de um sociaistmo não-marxista e democrático, e finalmente, sobre os problemas da relação truculenta entre ética e política.
No campo da Filosofia do Direito, Bobbio incorpora-se na corrente dos que identificam no corpo doutrinal três áreas de discussão: 1) uma área ontológica, da Teoria do Direito, que se preocupa com o direito em si, procurando alcançar uma compreensão consensualizada dos resultados da Ciência Jurídica, da Sociologia Jurídica, da História do Direito e outras abordagens complementares; 2) uma área metodológica que compreende uma Teoria da Ciência do Direito e que recai no estudo da metodologia e dos procedimentos lógicos usados na argumentação jurídica e no trabalho de aplicação do Direito; e, por fim, 3) uma área filosófica materializada numa Teoria da Justiça como análise que determina a valoração ideológica da interpretação e aplicação do Direito, no sentido da valorização crítica do direito positivo.
Bobbio entende o fenômeno jurídico por meio de um método científico, capaz de isolar o seu objeto (o Direito) das questões filosóficas ou ideológicas, centrando na norma jurídica a sua investigação, assim como fez Kelsen. No entanto, diferentemente de Kelsen, o que Bobbio procura é observar a norma jurídica em sua essência de permitir, proibir ou obrigar.
Em sua obra “Teoria da norma jurídica”, Bobbio faz um panorama e uma crítica das diversas teorias que pretendem entender o conceito de direito, concluindo que, embora as teorias se integrem, a teoria normativista prevalece no sentido de constituir pressuposto de validade para as outras.
Bobbio vislumbra três formas de valoração da norma jurídica, de acordo com três critérios distintos para investigação do objeto que, conforme a perspectiva que se adote, apontando caminhos de análise diferentes.
A primeira forma de valoração é se a norma é vista pelo aspecto do justo, identificando o valor e o fim. O segundo aspecto que prevalece é o da validade, assim, a análise fica a cargo da Teoria Geral do Direito. E, finalmente, ele se questiona se a eficácia da norma é preocupação da investigação, dizendo que o campo de investigação é o da Sociologia Jurídica.
Nos capítulos terceiro e quarto Bobbio se dedica ao estudo da estrutura da norma jurídica, buscando nos fundamentos da lingüística, os instrumentos para entender a norma como proposição prescritiva, um fazer-fazer.
No quinto capítulo, a preocupação de Bobbio está em distinguir as normas jurídicas das normas morais e sociais, chegando à conclusão de que o critério de distinção entre as normas é a resposta à violação. Em outras palavras, a diferença entre as normas está na sanção que o indivíduo que violou a prescrição deverá receber.
Como ele afirma, é da natureza de toda prescrição ser violada, enquanto exprime não o que é, mas o que “deve ser”. Assim, se a possibilidade de transgressão da prescrição é esperada, faz-se necessária a criação de um mecanismo que elimine ou minimize as consequências danosas da violação. Esse mecanismo é a sanção, e a diferença entre as normas está na natureza dela.
Ao tratar da sanção, Bobbio diferencia a sanção moral (que é puramente interior, caracterizada pelo arrependimento e remorso, e que possui pouca eficácia porque apenas os sujeitos que respeitam a norma moral podem sentir qualquer insatisfação ao desrespeitá-la), da sanção social (caracterizada como externa, pois quem a aplica é o grupo social e pode ser, de acordo com a gravidade, reprovação, eliminação, isolamento, expulsão ou até mesmo linchamento, padecendo da falta de proporção entre violação e resposta, o que significa que um mesmo ato pode ter punição diferente conforme a circunstância ou humor do grupo social).
A sanção também sofre de incerteza e inconstância na sua aplicação, pois se é o grupo social quem pune, por vezes em razão de comportamentos hipócritas, pode não querer aplicar a sanção a determinado indivíduo ou a uma violação específica, ou seja, a sanção social não é institucionalizada, sua aplicação é variável.
A sanção jurídica, por sua vez, é externa e institucionalizada, ou seja, distingue-se respectivamente das sanções morais e sociais. Além disso, ela é regulamentada, tanto em sua medida quanto em sua forma de aplicação, e está a cargo de órgãos institucionalizados da sociedade.
Para Bobbio, é o ordenamento, enquanto conjunto de normas, que impõe a qualidade da norma. Assim, a norma será jurídica se pertencer ao ordenamento jurídico, pois é este que determina a sanção. Isto significa que, verificada a violação de determinada norma, o ordenamento ao qual ela pertence indicará a sanção aplicável. E tanto mais força terá quanto maior for sua eficácia.
No último capítulo, Bobbio pretende classificar as normas jurídicas. Para isso, elege como critério a estrutura lógica das proposições prescritivas, ou seja, a indicação do destinatário da prescrição e a ação prescrita.
Quanto ao destinatário, a prescrição pode ser geral ou individual, e quanto à ação prescrita, abstrata ou concreta. Dessa forma, as normas jurídicas podem ser gerais se dirigidas a uma classe de pessoas, a vários destinatários. Serão abstratas, se universais a respeito do comportamento. Individuais, se restringirem o seu destinatário (como as sentenças). E, concretas, se regularem uma ação particular.
De forma geral, o direito, como uma das partes do sistema social, é considerado por Bobbio em função do todo, detendo uma função positiva primária, já que é instrumento de conservação por excelência, apesar de poder mudar a ordem vigente, adaptando-a às mudanças sociais. E sua função deve ser distributiva, conferindo a membros do grupo social recursos econômicos e não-econômicos.
Como vimos, Bobbio simplifica o conceito de Direito ao dizer que a norma jurídica é aquela cuja execução é garantida por sanção externa e institucionalizada. A existência do Direito pressupõe um sistema normativo composto por três tipos básicos de norma: as que permitem determinada conduta, as que proíbem e as que obrigam determinada conduta.
Bobbio define norma jurídica como aquela cuja execução é garantida por uma sanção externa e institucionalizada, devendo obedecer a uma série de requisitos: validade, vigência, eficácia e vigor.
Ao definir o direito através da noção de sanção organizada e institucionalizada, distinta das sanções morais e sociais, Bobbio pressupõe um complexo orgânico de normas que forma o ordenamento jurídico.
Outro tema que lhe é muito caro e de suma importância, é a sua dedicação à análise dos direitos humanos. Num texto intitulado “Sobre os fundamentos dos direitos do homem”, Bobbio discute a questão da definição e dos fundamentos dos direitos
do homem, dizendo tratar-se de direitos históricos, pertencentes a uma época e lugar, nascidos em certas circunstâncias, de modo gradual, “não todos de uma vez e nem de uma vez por todas”, como ele diz.
Para ele os direitos do homem constituem uma classe variável, como a história dos últimos séculos demonstra, pois o elenco de direitos do homem se modificou, e continua a se modificar, com a mudança das condições históricas. Portanto, além de mal definível e variável, a classe de direitos do homem é também heterogênea.
Bobbio traz pelo menos três teses básicas ao tratar dos direitos do homem: 1. Os direitos naturais são direitos históricos; 2. Nascem no início da era moderna, juntamente com a concepção individualista da sociedade; 3. Tornam- se um dos principais indicadores do progresso histórico.
Já sobre a questão dos fundamentos dos direitos do homem, Bobbio é claro na medida em que se posiciona asseverando que não há um fundamento absoluto. São direitos que variam conforme a época e a cultura. Prova de que não são direitos fundamentais por natureza.
De tempos em tempos vai se ampliando o rol de direitos, o que impossibilita atribuir fundamento absoluto a direitos historicamente relativos. Assim, Bobbio diz que não se deveria falar em fundamento dos direitos do homem e sim em fundamentos, de diversos fundamentos conforme o direito cujas boas razões se deseja defender. Bobbio ainda afirma que o problema fundamental em relação aos direitos do homem hoje, não é tanto o de justificá-los, mas o de protegê- los. Trata-se de um problema não filosófico, mas político.
Para Bobbio, a efetivação da maior proteção dos direitos do homem está ligada ao desenvolvimento global da civilização humana, que ao mesmo tempo não pode ser tratada de forma isolada, sob pena de nem sequer compreender o problema em sua real dimensão.

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