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Educação, Corpo e Arte E du ca çã o, C or po e A rt e Educação, Corpo e Arte Consuelo Alcioni Borba Duarte Schlichta Isis Moura Tavares Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-3610-3 Educação, Corpo e Arte Consuelo Alcioni Borba Duarte Schlichta Isis Moura Tavares IESDE BRASIL S.A Curitiba 2013 2.ª edição Edição revisada Capa: IESDE BRASIL S/A Imagem da capa: Shutterstock IESDE BRASIL S/A Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Todos os direitos reservados. © 2006-2008 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________________________ S37e Schlichta, Consuelo A. B. D. (Consuelo Alcioni Borba Duarte) Educação, corpo e arte / Consuelo Alcione Borba Duarte Schlichta, Isis Moura Tava- res. - 2 .ed., rev. - Curitiba, PR : IESDE BRASIL, 2013. 208 p. : 28 cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-3610-3 1. Arte na educação 2. Arte - Estudo e ensino. 3. Dança na educação. I. Tavares, Isis Moura, 1970-. II. Título. 13-1067. CDD: 707 CDU: 7(07) 19.02.13 21.02.13 042902 ________________________________________________________________________________ Sumário Ensinar Arte. Por quê? ...........................................................................................................5 A função dos objetos ..................................................................................................................................6 A necessidade da arte ...............................................................................................................................12 Linguagens artísticas ...............................................................................................................................13 Retomando algumas questões importantes ..............................................................................................15 Fazer e apreciar arte .............................................................................................................17 Objetivos do ensino de Arte .....................................................................................................................17 Organização dos conteúdos de dança e teatro .........................................................................................30 Vários jeitos de dançar .........................................................................................................35 Conteúdos de dança .................................................................................................................................35 Criar e seguir passos ................................................................................................................................39 Frevo ........................................................................................................................................................47 Salsa .........................................................................................................................................................48 Danças da moda ......................................................................................................................................49 O corpo em movimento .......................................................................................................51 Tipos de movimento ................................................................................................................................51 O movimento expressivo na dança ..........................................................................................................54 A música e a dança ..................................................................................................................................55 Corpo .......................................................................................................................................................56 Como podemos expressar determinada emoção por intermédio dos movimentos? ................................67 O movimento e o espaço .....................................................................................................69 O espaço na dança ...................................................................................................................................69 Formação e posição inicial ......................................................................................................................69 Dança solo ...............................................................................................................................................73 Salto e queda ............................................................................................................................................74 Rotação ....................................................................................................................................................76 Deslocamento ..........................................................................................................................................77 Caminho reto, curvo e angular .................................................................................................................79 Espaço alto, médio e baixo ......................................................................................................................80 Capoeira ...................................................................................................................................................80 O movimento e o tempo .......................................................................................................83 Todo mundo junto – andamento e sincronia ............................................................................................83 Dança de salão – sincronia a dois ............................................................................................................84 Movimento – sequência, repetição e simultaneidade ..............................................................................88 Dança étnica ou ritual – transe .................................................................................................................89 Islã – dervishes e o sufismo .....................................................................................................................91 Movimento contínuo e interrompido .......................................................................................................92 Danças com materiais ..............................................................................................................................92 A história da dança: a dança que conta uma história ...................................................................101 História da dança .....................................................................................................................................101 Dança artística ou de espetáculo ..............................................................................................................103 Balé – a dança que conta uma história ...................................................................................................104 A avaliação em dança/arte .......................................................................................................................114 Hora de representar ..............................................................................................................119 O teatro ....................................................................................................................................................119Conteúdos do teatro .................................................................................................................................120 Personagem ..............................................................................................................................................125 Diversos lugares para representar ........................................................................................137 Destinação ambiental ...............................................................................................................................137 Cenário/palco ...........................................................................................................................................138 Iluminação ...............................................................................................................................................142 Sonoplastia ...............................................................................................................................................143 Marcação ..................................................................................................................................................144 Profissionais do teatro ..............................................................................................................................144 Ação – improvisação ............................................................................................................151 Ação .........................................................................................................................................................151 Narração ...................................................................................................................................................153 Atos e cenas .............................................................................................................................................158 Improvisação ...........................................................................................................................................160 Ação – texto dramático e gêneros teatrais ...........................................................................169 Texto dramático .......................................................................................................................................169 Gêneros teatrais .......................................................................................................................................176 Fantoches, máscaras e sombras ............................................................................................185 Teatro direto e teatro indireto...................................................................................................................185 A história do teatro indireto .....................................................................................................................185 Máscaras ..................................................................................................................................................188 Fantoches e marionetes ............................................................................................................................190 Teatro de sombras ....................................................................................................................................193 História do teatro .....................................................................................................................................194 Referências ...........................................................................................................................199 Referências das imagens ......................................................................................................201 Anotações.............................................................................................................................207 Ensinar Arte. Por quê? L embre-se do seu tempo de escola primária... Qual o número de aulas de Português e Mate-mática por semana? E de História, Geografia e Ciências? E quantas de Educação Artística e Edu- cação Física? Pois é...além disso, quando se fala em outras áreas do conhecimento ninguém pergunta: Mas por que estudar Português? Por que tantas aulas de Português na semana? Por que estudar Matemática, História ou Geografia? Parece que esses “porquês” são de fácil resposta: precisamos desses conhecimentos para concluir a es- colaridade, passar no vestibular, trabalhar e viver. Mas, e a arte? Quando se fala em arte e no seu ensino na escola sempre se tem que justificar, ex- plicar ou provar seu valor. E isso ocorre justamente porque as pessoas não percebem a presença da arte em suas vidas e, muitas vezes, nem percebem que necessitam dela para viver. Observe as imagens a seguir: Imagem 2: Dança da quadrilha. Imagem 1: Crianças japonesas em uma aula de violino. Ensinar Arte. Por quê? 6 Imagem 3: Cena do filme Homem-Aranha. Imagem 4: Os Muppets em Sesame Street. O que essas imagens estão nos mostrando? Você já presenciou um espetá- culo, filme ou teatro semelhantes aos mostrados nas imagens? Analisando essas imagens e estabelecendo relações com o nosso dia a dia podemos chegar à conclu- são que a arte pode estar mais presente em nossas vidas do que imaginamos. Para entender melhor qual a função da arte em nossa vida vamos pensar um pouco sobre os objetos que o homem constrói. A função dos objetos Inicialmente, observe a imagem do espetá- culo de dança EJM1-EJM2 e escreva, dando a sua opinião sobre qual a função do bule que a bailarina equilibra na cabeça. Agora, olhe com atenção ao seu redor. Liste os objetos que você está vendo, podem ser canetas, cadeiras, calendários, fotos, qualquer objeto feito pelo homem. Mesmo que pareça óbvio, escreva, a seguir, ao lado do nome do objeto, a sua fun- ção, isto é, por que foi criado. Ex.: caneta – escrever, desenhar, registrar símbolos graficamente. Imagem 5: Cena do espetáculo de dança EJM1-EJM2, de Fréderic Flamand. Ensinar Arte. Por quê? 7 O homem cria objetos para satisfazer suas necessidades. Por isso criou ar- mas, instrumentos musicais, recipientes, casas, roupas, sinais, sons, movimentos, tintas, computadores etc. Podemos analisar todos esses objetos de acordo com suas funções, como fizemos anteriormente, e classificá-los em diversos grupos: usados em casa, usados para comer, usados para escrever etc. Neste material, analisaremos os objetos de acordo com sua função, classifi- cando-os em quatro grandes grupos: objetos com função utilitária, com função de documento histórico, com função decorativa e com função artística. Função utilitária O bule da imagem anterior é um objeto utilitário: nós o usamos para colocar café, chá ou outro líquido. E o bule do es- petáculo EJM1-EJM2, qual a sua função em um espetáculo de dança? Sua função é utilitária? Um objeto com função utilitária é feito com a intenção de ser usado, tendo uma utilidade prática. Um sofá, uma cane- ta, um som de uma campainha ou de uma buzina, o gesto de “tchau” ou de “OK”, uma xícara etc., são exemplos de objetos com função utilitária. Já que estamos falando em arte, escolha, em revistas, vá- rias figuras de um mesmo objeto utilitário, por exemplo, vários relógios. Monte com essas figuras uma composição em uma fo- lha de papel. Pense em que lugar você vai colar cada relógio, se vai colar um por cima do outro etc. Nesse caso, estará trabalhando com a imagem de relógios como recursos utilizados para criar uma composição visual. Função de documento histórico Imagem 7: Utensílios da época renascentista. Imagem 6: Bule. Ensinar Arte. Por quê? 8 Muitas vezes, alguns objetos que foram feitos para serem usados com uma função meramente utilitária, ou até artística, podem, com o passar do tempo, ser- vir como testemunho de uma época ou lugar. Se pensarmos no exemplodo reló- gio, teremos como documentos históricos o primeiro relógio de pulso inventado, um relógio usado por uma grande personalidade mundial etc. O sino da primeira Maria Fumaça, a primeira roupa do balé clássico ou o chapéu que Chaplin usou no seu primeiro filme, também são exemplos de objetos usados como documentos históricos. Esses objetos já não são mais vistos de acordo com a sua funcionalida- de, mas como uma fonte de investigação de uma época, pessoa ou lugar. E na sua família? Existe algum objeto que pode ser considerado docu- mento histórico? Fotos, a primeira meia do seu avô, um grampo de cabelo da sua tataravó? Lembre-se da casa da sua mãe ou de pessoas mais velhas, quem sabe, da sua própria casa! Você ou essas pessoas possuem objetos com a função de documento histórico? Escreva sobre um desses objetos e o que ele representa para você ou sua família. Função decorativa Também existem aqueles obje- tos que são feitos ou utilizados para enfeitar e deixar um ambiente mais agradável. Podem ser objetos antigos, que até têm uma função de docu- mento histórico, mas são colocados no armário de vidro da sala para en- feitar. Taças de cristal, por exemplo, já não são mais usadas para tomar vinho e na verdade ninguém sabe de que época são ou a quem pertenceu, mas estão na cristaleira, arrumadas e enfileiradas, só para enfeitar. Ca- lendários, ímãs de geladeira, vasinhos, e até o próprio relógio. Aquele relógio cuco, que nem funciona mais, mas está na parede para enfeitar, pois suas formas são consideradas bonitas. Algumas vezes os objetos decorativos também têm uma função utilitária, mas são usados com o intuito de embelezar o ambiente. Faça uma lista de objetos que você tem em casa com a finalidade de enfeitar e deixar o ambiente mais agradável. Imagem 8: Enfeite para porta de recém-nascido. Ensinar Arte. Por quê? 9 Agora você deve estar confuso! Mas esses não seriam os objetos artísti- cos? Vamos ver o que consideramos objetos artísticos para que você tire suas próprias conclusões. Função artística Lembram da imagem ao lado? O bule, no espetáculo de dança é um exem- plo de um objeto que não cumpre uma função imediata: servir café. Ele, nesse caso, traduz ele- mentos fundamentais na dança: equilíbrio, movi- mento e simetria. Agora a coisa está complicando, não é? Pois normalmente, quando pensamos em arte, pensa- mos em beleza. Veja esse comentário de Kant so- bre o belo e a arte e reflita: “a beleza natural é uma coisa que é bela; a beleza artística é a bela repre- sentação de uma coisa.” O que você pensa sobre esse conceito de beleza? O que é o belo para você? Escreva um pouco sobre o que você considera belo. A arte pode ter muitas funções: questionar, homenagear, criticar, sensi- bilizar, mostrar a realidade e, inclusive, embelezar etc. Mas para cumprir essas funções, os objetos não precisam necessariamente serem “bonitos”. No caso da imagem do espetáculo em que aparece a dançarina com o bule na cabeça, o objeto é um elemento usado para mostrar as relações entre o movimento e o equilíbrio, pois esse espetáculo foi criado para homenagear um dos primeiros fotógrafos que trabalhou com o registro de movimentos. Pense um pouco sobre as músicas, quadros, fotografias, danças ou peças de teatro que você conhece. Tudo o que você já viu de arte é “bonito”, de acordo com o sentido que usamos essa palavra no dia a dia? Imagem 9: Cena do espetáculo de dança EJM1-EJM2, de Fréderic Flamand. Ensinar Arte. Por quê? 10 Cite um exemplo de uma manifestação artística que você viu e considerou bonita. Cite um exemplo de uma manifestação artística que você viu e não consi- derou bonita. Os objetos artísticos nos fazem refletir sobre nós mesmos, nos mostram a realidade humana e, de uma certa forma, nos fazem questionar ou analisar a nossa própria realidade. Cada objeto artístico pode conter todas essas funções ou priorizar uma delas. Mas o importante é que nós só entenderemos essas fun- ções se apreciarmos os objetos artísticos, compreendermos seus significados e códigos e entendermos o que o artista quis nos dizer com ele. Quando temos essa compreensão, o prazer que sentimos com esse entendimento é o que costumamos chamar de satisfação estética. Tudo isso está parecendo complicado demais? Vamos explicar melhor. É importante ressaltar, nessa análise, que um gesto, uma canção, um vaso ou até um som são considerados como objetos. Por exemplo, o gesto de acenar que fazemos com as mãos, representando o “tchau” na nossa cultura, é um movimento convencional, feito, normalmente, com a intenção de nos despedir de alguém ou para sermos avistados. Um exemplo de gesto como documento histórico pode ser o sinal que faze- mos com a mão conhecido como “paz e amor”. Esse gesto mostra toda a filosofia do movimento hippie na década de 1960. Os movimentos das chamadas “chacretes” ou outras dançarinas de progra- mas de auditório, podem ser considerados movimentos decorativos, pois sua fun- ção é acompanhar a música e animar o programa para os telespectadores. Já os movimentos e gestos feitos em uma apresentação de balé clássico, por exemplo, são movimentos que refletem a realidade dos homens por meio de gestos que nada têm de utilitários. Esses movimentos podem ser considerados como documentos históricos atualmente, mostrando a forma como as pessoas da época concebiam os movimentos na dança. Mas a intenção original desse movimento é transcender o mero utilitarismo e expressar com o corpo uma rea- lidade que, para os dançarinos ou coreógrafos, não poderia ser expressa de outra forma. Esses movimentos, assim como os de diversas danças, são movimentos artísticos ou estéticos. Ensinar Arte. Por quê? 11 Na verdade, se pararmos para pensar um pouquinho, podemos nos pergun- tar: por que o homem sempre fez e faz arte? Justamente porque existem coisas que só a arte parece poder expressar. O homem, realmente, tem uma necessidade esté- tica, sente necessidade de fazer e apreciar arte porque tem coisas que sente, gosta, não gosta, admira ou quer mudar, quer mostrar ou esconder, que só por meio dos sons, dos gestos, das cores e formas, consegue. Leia um trecho de uma música chamada “Porque sim não é resposta”, de Hélio Ziskind. Porque sim não é resposta Helio Ziskind (...) Eu quero saber por quê que a gente grita Eu quero saber por quê Tem grito de chamar, Tem grito de avisar, Tem grito de bravo E grito de contente Tem grito de rock, Tem grito de ópera Tem grito de guerra Grito de gol, Tem grito de menina, Quando vê barata Aaaiii Grito de horror Quero saber por quê Quero saber Por que o galo grita, Araponga também grita, Ganso, macaco, elefante, baleia, Todo mundo grita Desde a idade da pedra Com os dinossauros uhhhrrauuuuu Quero saber por quê Quero saber por quê Quero saber por quê Tem grito de Tarzan, Tem grito karatê, Tem grito de mãe e grito de bebê Tem grito de dom Pedro no Ipiranga E tem grito de assustar Quero saber por quê Quero saber por quê Quero saber por quê A gente grita porque tem coisas que só o grito consegue dizer... en- tenderam o porquê? Você não acha que analisando o sentido que Ziskind dá ao grito poderíamos estabelecer um paralelo com a arte em nossas vidas? A gente faz e aprecia arte porque tem coisas que só por meio da arte se consegue dizer. Ensinar Arte. Por quê? 12 A necessidade da arte Imagem 10: Madonna, fenômeno musical dos anos 1980. Imagem 11: Pintura egípcia que mostra instru- mentos musicais usados na Antiguidade. Na verdade, esse é um dos pontos em que queríamos chegar, na necessidade estética e, consequentemente, na importância que a arte tem na vida das pessoas. Com certeza, você já disse para alguém “eu te amo”! Pois é, muitas pessoas já disseram essa frase, mas parece que ela nem sempre dá conta de expressar, real- mente, o amor que sentem. A resposta a esse anseio e a essa vontade do homem de dizer o que sente de um jeito diferente está na arte. Quantas músicas você conheceque falam de amor? Quantos artistas pintaram quadros de suas amadas? Quantas danças ou peças de teatro falam do amor entre as pessoas? Roberto Carlos com suas músicas românticas; Picasso com os vários retra- tos de suas diversas esposas; Shakespeare, com Romeu e Julieta; e o maravilhoso balé Daphnis et Chloé, de Maurice Ravel, são exemplos de obras de arte cujo tema é o amor. Podemos dizer que, essa necessidade existiu em todas as épocas, após o surgimento do homem na Terra e em todos os lugares do planeta. Desde o antigo Egito, e mesmo antes, o homem fez e faz arte, sente necessidade de fazê-la, de muitas maneiras, com muitos materiais. Fazer e apreciar arte, para o ser humano, é vital. Será que depois de toda essa explicação você vai considerar importante a luta dos artistas, apreciadores de arte e arte-educadores, para justificar a arte nos currículos escolares e fora deles? Ensinar Arte. Por quê? 13 Linguagens artísticas Inicialmente, vamos sistematizar e classificar todas as manifestações artísticas que conhecemos nas diferentes linguagens. O homem produz objetos artísticos usando inúmeras téc- nicas materiais e suportes, com um objetivo final que pode ser a elaboração de uma música, uma coreografia, um fantoche, uma pintura, uma fotografia etc. Para elaborar cada uma dessas com- posições ele vai trabalhar com determinadas linguagens: músi- ca, dança, teatro e artes visuais. Cada uma delas tem um objeto de estudo. Música Imagine um compositor ou intérprete. O que ele pro- duz? Música. Muito bem. Para elaborar música ele vai tra- balhar com os sons; portanto, o som é o objeto de estudo da música, é a matéria-prima básica com a qual o compositor trabalha. Pode ser que ele escolha o som de vozes, sons da natureza, de instrumentos musicais ou de todos esses elemen- tos juntos, mas seu objeto de estudo é sempre o som. Dessa forma, quando compomos ou analisamos uma música com nossos alunos, devemos ter como ponto de partida o som. A música e seu objeto → som. Pense nas músicas que você gosta de ouvir. Que tipo de sons são mais executados nessas músicas? Quais os ins- trumentos que você mais gosta de ouvir? Existe algum som que você não gosta? Por quê? Dança Já um coreógrafo ou dançarino terá como objeto de estudo, como matéria-prima básica, o movimento, mas não é qualquer movimento. Os movimentos expres- sivos ou estéticos são aqueles que são considerados ar- tísticos, lembra? Movimentos que transcendam o mero utilitarismo e expressem a realidade humana. Quando dançamos ou analisamos uma dança com nossos alunos, devemos prestar atenção nos aspectos que envolvem a elaboração dos movimentos expressivos. A dança e seu objeto → movimento expressivo. Imagem 12: Abstrato 235. Luiz Sacilotto – guache sobre papel. Imagem 13: Música da Nigéria (África). Imagem 14: Cena do balé A Bela Adormecida. Ensinar Arte. Por quê? 14 Teatro E em uma peça de teatro? O ator ou dramaturgo tem como objeto de estudo a representação, isto é, o momento em que deixamos de ser nós mesmos e representamos um perso- nagem. Essa representação, esse “ser outro ser” é o objeto do teatro, seja com fantoches ou máscaras, no Japão ou no Brasil. O teatro e seu objeto → representação. Você já viu alguma peça de teatro? O que mais chamou a sua atenção? Você já fez alguma encenação teatral? Quando? Que personagem representou? Artes visuais Nas artes visuais, os artistas lidam com a imagem, esta entendida como a re- presentação gráfica, fotográfica, pictórica de uma pessoa ou um objeto. As artes visuais e seu objeto → imagem. Você tem alguma pintura, desenho, fotografia ou quadro em casa? Qual? O que você gosta nele? O que não gosta? Composição artística Já vimos o que diferencia os objetos utilitários dos artísticos e quais as linguagens artísticas trabalhadas no ensino de Arte. As composições artísticas são o resultado das combinações e elaborações feitas com os objetos de es- tudo. Vamos entender isso melhor: por exemplo, o som de um apito, por si só, não é uma composição artística, pode ser um som utilitário ou apenas um som. No momento em que alguém utilizar esse som, trabalhá-lo, juntá-lo, ou não, a outros sons, repeti-lo e organizá-lo de alguma forma com a intenção de fazer música, criará uma composição artísti- ca. São essas composições, feitas nas diferentes linguagens artísticas, que vamos estudar com nossos alunos na escola. Nosso interesse é o som, o movimento, a representação e a imagem usados com a intenção de criar composições artís- ticas, e consequentemente, objetos artísticos. Imagem 15: Ator Ricardo Sawaya, em cena, na peça Las Muchachas, do grupo Folias D’Arte. Imagem 16: Artista carioca Ernesto Neto – escultura com blocos de espuma. Imagem 17: Pintura medieval, Minnesinger Heinrich von Meissen. Ensinar Arte. Por quê? 15 Retomando algumas questões importantes Depois de tantas informações sobre a arte, dividam-se em equipes e reto- mem essa primeira aula. Cada equipe deverá, dando exemplos, justificar as afir- mações colocadas a seguir. Vocês podem justificar as afirmações por meio de desenhos, rimas, músicas, representações, danças etc. Usem a criatividade! A arte faz parte da nossa vida. Um objeto utilitário tem como principal finalidade ser útil para alguma coisa, ser usado. Os objetos artísticos nem sempre são bonitos no sentido como usamos essa palavra normalmente. A música trabalha com o som, a dança com o movimento, o teatro com a representação e as artes visuais com a imagem. Existem alguns gestos que são o documento histórico de uma época ou lugar. Ensinar Arte. Por quê? 16 Fazer e apreciar arte V imos que a arte é importante e conhecemos um pouco das qua-tro grandes linguagens artísticas. Agora vamos analisar o ensino de Arte, seus objetivos e algumas propostas de como trabalhar com a arte na escola, isto é, propostas de encaminhamento metodológico. Objetivos do ensino de Arte Os objetivos do ensino da Arte podem ser muitos. Com certeza você, como educador(a), já tem ideia de quais são os seus objetivos ao dar aula de Arte. Vamos ver se são os mesmos que nos mostra o texto abaixo. Imagem 18: Teatro na escola. Objetivos do ensino da Arte (TAVARES, SCHLICHTA, 1988, p. 166-169) Os objetivos do ensino de Arte se sustentam sobre três pilares: formação dos sentidos, conhe- cimento artístico, atividade de apreciação e produção artística. A proposta de formação dos sentidos, de domínio do conhecimento artístico aliado à atividade de apreciação e produção artística, se constitui no núcleo central do ensino da Arte. A questão reside em trabalhar simultaneamente os três eixos. No entanto, em função da necessidade de ex- plicitar os pressupostos básicos de cada um, vamos abordá-los separadamente. Formação dos sentidos Nosso modo de ver e ouvir nos permite ordenar, transpor e interpretar por meio das di- ferentes linguagens nossa visão sobre a realidade. A experiência visual ou sonora não se reduz à experimentação de puras qualidades sensoriais, mas num meio de compreensão do nosso entorno, com o objetivo de que este se constitua num espaço familiar para quem aí está inserido. Queremos dizer com isso que, aprender a ver e ouvir se constitui no pon- to de partida do trabalho e deve incluir, além da observação da aparência e da função dos objetos, a percepção dos aspectos que traduzem os seus significados na vida cotidiana. Assim, a leitura das formas, dos sons, do modo como as pessoas se relacionam e se movimentam no espaço, é um meio indispensável para a compreensão do que acontece ao nosso redor. Isso porque nos permite perceber os objetos de acordo com sua forma, estrutura e significado, e não apenas de acordo com sua função prática. As linguagens artísticas – dança, artes visuais, teatro, música – são um meio indispensável de expressão e interpretação da realidade. Além da formação dos sentidos, o domínio do conhecimen- to artístico e a atividade de apreciação e produçãoartística são instrumentos importantes Fazer e apreciar arte 18 no processo de familiarização cultural. Dessa forma, o primeiro objetivo do ensino da Arte é formar e am- pliar os sentidos para uma efetiva compreensão da cultura visual, sonora, cênica e da dança, mediante o domínio do conhecimento artístico neces- sário para interpretar o significado dos objetos. Conhecimento artístico O segundo eixo se constitui no estudo dos diferentes modos de com- por com os elementos formais de cada linguagem, sem perder de vis- ta o contato com a cultura visual, sonora, cênica e da dança. Conside- ramos como cultura não apenas o conhecimento da história da arte, das técnicas artísticas e o contato com os objetos consagrados como obras de arte. Também consideramos fundamental ao aluno explorar o universo de imagens, sons e movimentos que fazem parte do nosso entorno: as imagens veiculadas pelos meios de comunicação, um jin- gle, um cartaz, um programa de rádio, um filme, uma ilustração, arte- fatos, a arquitetura, a fachada das casas, o desenho das cidades etc. É importante, também, o contato com a cultura de outros grupos, esta- belecendo relações entre o significado que possui para aquele grupo e para nós: as danças rituais ou folclóricas, as máscaras africanas, o teatro Nô, a pintura corporal indígena etc. As diferentes formas de expressão artística se constituem em lingua- gens que se organizam a partir de elementos formais específicos. No que se refere ao conhecimento artístico podemos tomar como ponto de partida as seguintes questões: O que é? Esta questão se refere às diferentes formas artísticas: uma pintura, uma canção, uma comédia, um balé etc. Num sentido mais amplo podemos empregar o termo gênero para designar um ramo ou uma categoria particular de forma artística. Quem fez? Quando? Onde? Este aspecto diz respeito a um período ou a um momento da história que reflete algumas características em comum. Por exemplo: arte da Pré-História, da Idade Média, Arte Moderna, Arte Contemporânea etc. Podemos também, nos referir a alguns movimentos: Barroco, Impressionista, Expressionista, Dodecafônico. Os períodos e movi- mentos estão inseridos num determinado contexto, assim podemos analisá-los tomando como referência o lugar: música da Mongólia, Expressionismo Alemão, arte Africana, teatro Nô japonês. Como? Esta questão se refere ao modo de expressão de um determinado ar- tista ou de um grupo em qualquer forma de arte, isto é, ao estilo. A compreensão do estilo inclui o conhecimento: da técnica de compo- sição, do material utilizado e do modo como os artistas organizam os elementos formais na composição, tendo em vista a função da arte. Fazer e apreciar arte 19 Nas artes visuais organizamos uma composição a partir da forma ou superfície, linha, cor e luz, e volume. Na música nos utilizamos dos seguintes elementos: timbre, intensidade, densidade, duração e altura. No teatro, a representação é estruturada a partir da ação, do personagem e do espaço cênico. Na dança, o movimento expressivo é trabalhado tendo como base o corpo, o tempo e o espaço. Por quê? Este ponto está relacionado com a função desse objeto, isto é, com o sentido da arte na vida humana. De fato, quanto mais amplo for o do- mínio dos conteúdos da arte por parte do aluno maior será a sua capa- cidade de compartilhar de toda a riqueza humana presente nas obras. Portanto, temos como segundo objetivo do ensino da Arte: possibilitar ao aluno, tomando como referência o seu olhar e o seu conhecimento, o do- mínio de diferentes formas de interpretação do significado dos objetos. Atividade de apreciação e produção artística A atividade artística inclui tanto a produção de desenhos, músicas, pinturas, coreografias, mímicas, gravuras, fantoches etc., quanto a apreciação da produção cultural. O trabalho do aluno inclui também a produção e apreciação de uma pintura a partir de um tema, um estilo, da própria técnica, da combi- nação de elementos formais, da utilização de diferentes materiais etc. O domínio prático sobre os elementos formais e sobre os diferentes modos de compor permite ao aluno perceber a técnica do artista, as convenções que usou, se rompeu com estilos já conhecidos, e se che- gou a um novo. Isso também permitirá ao aluno, tanto compreender quanto utilizar os sistemas de representação como meios de interpre- tação da realidade. A atividade artística exige tanto do aluno quanto do professor um exercício constante de pesquisa sobre as possibili- dades expressivas dos elementos formais de representação e de com- posição. É necessário experimentar diferentes formas de expressão com o objetivo de alcançar um bom domínio técnico e dos códigos das linguagens. O progresso não se dá isento de esforço e disciplina, porque a ati- vidade artística está fundamentada tanto no trabalho sistemático de formação dos sentidos quanto no domínio do conhecimento artístico. Neste sentido, educar esteticamente pressupõe uma metodologia que possibilite ao professor ensinar o aluno a ver, ouvir, criticar e inter- pretar a realidade a fim de ampliar suas possibilidades de apreciação e expressão artística. Desta forma, o terceiro objetivo do ensino de Arte é: possibilitar ao aluno, mediante a formação dos sentidos e do domínio do conhe- cimento artístico, construir estratégias de produção e apreciação (compreensão e interpretação) dos objetos que constituem a produ- ção cultural. Fazer e apreciar arte 20 Você concorda com esses três objetivos do ensino de Arte? Vamos analisar um pouquinho mais esse texto, respondendo as seguintes questões: 1. Pense um pouco mais e explique, com as suas palavras, o seguinte parágrafo: “A experiência visual ou sonora não se reduz à experimentação de puras qualidades sensoriais, mas num meio de compreensão do nosso entorno, com o objetivo de que este se constitua num espaço familiar para quem aí está inserido”. 2. Dê um exemplo de trabalho com a arte na escola, que você tenha feito, no qual a experiência visual ou sonora serviu como meio de compreensão do entorno do aluno. 3. Na sua opinião, o que significa perceber os objetos não apenas de acordo com sua função prática? 4. Você concorda que, no trabalho com arte, devemos incluir também as manifestações do nosso cotidiano e não apenas as obras consideradas “obras de arte”. Por quê? 5. Baseando-se no segundo objetivo colocado no texto anterior, imagine-se trabalhando com seus alunos e analisando uma peça de teatro qualquer. Além das perguntas colocadas no texto, quais você poderia fazer para levá-los a uma maior compreensão da linguagem teatral? Fazer e apreciar arte 21 6. Depois de ler novamente o terceiro objetivo do ensino de Arte colocado no texto, pense na sua história escolar e justifique a seguinte frase: “O progresso não se dá isento de esforço e disciplina”. Você concorda com essa afirmação? Por quê? Já teve alguma experiência na área de arte que comprova essa afirmação? Imagem 19: Criança brincando com más- cara. As composições artísticas na sala de aula Para compreender e trabalhar com as composições artísticas como forma de conhecer, compreender e representar a realidade humana e social e cumprir com os três grandes objetivos do ensino de Arte, temos um caminho complexo e cheio de detalhes. Para simplificar um pouco essa questão, vamos destacar em três pontos importantes: – a relação entre a atividade de apreciação e produção artística; – a realidade cultural da escola como ponto de partida do trabalho; – a articulação entre os conteúdos dos diversos grupos. A relação entre atividade de apreciação e produção artística Na apreciação artística pressupomos que o aluno deve ter acesso a diversas manifestações artísticas, como forma de se familiarizar com a arte e compreender que ela nos mostra a realidade e o modo de ver dos indivíduos em determinado contexto. Mas não podemos ter ideia errada de que basta o aluno ouvir uma música ouver um quadro para que o trabalho com arte esteja garantido. A ideia é outra! Nessa apreciação deve-se garantir que o aluno ouça uma música, por exem- plo, mas também que analise, obtenha informações, discuta sobre ela, goste ou não, identifique a qual período da história da música pertence, quais os instrumentos musicais executados etc. É um contato “regado” a conhecimentos, sensações, inda- gações, busca de significados. Uma apreciação que permite um diálogo entre o que o aluno está vendo ou ouvindo, sua vida e os conhecimentos específicos sobre arte. A partir desse trabalho de apreciação, o aluno pode perceber o significado dos objetos artísticos, mas essa percepção depende do quanto sabemos sobre o que apreciamos. Fazer e apreciar arte 22 Conhecer o significado do que se aprecia é fundamental, mas não podemos perder de vista o ato de apreciar a arte como prazer estético. Magnani afirma so- bre isso: É lógico, portanto, que a razão se sinta impelida a refletir em torno do fato estético, fixan- do limites e criando normas. Quando isto se dá, ao ato estético per se se sobrepõe uma atitude filosófica, nobre e, ao mesmo tempo delicada; de fato, pode ela potenciar o ato estético, fazendo com que este invada – por assim dizer- todos os componentes da perso- nalidade e todas as atividades do espírito; mas pode também viciar a fruição estética com indevidas interferências, turvando as águas do irrepetível milagre que a obra de arte sus- cita em nosso espírito. O objetivo de uma bem orientada reflexão estética é, justamente, o de levar a razão a potenciar a emoção estética. (MAGNANI, 1996, p. 19) Forquin e Gagnard também ressaltam a importância do conhecimento para a fruição artística e complementam a afirmação de Magnani. Para Forquin: Desmentindo a ilusão do gozo estético puro, despojado de qualquer escória de conhecimen- to histórico ou técnico, cabe precisar, com efeito, que essa atitude de deleite absoluto e pseu- dodistinto nunca se manifesta em pessoas que não possuem referenciais histórico-culturais, mas sim, frequentemente, em pessoas que interiorizaram esses referenciais a tal ponto que podem fazer como se os tivessem esquecido, investindo-o de modo perfeitamente integrado e homogêneo no seu gozo estético.(FORQUIN; GAGNARD in PORCHER, 1977, p. 80) Leia novamente esses dois trechos de textos, pense um pouco sobre o assunto, volte à unidade “A necessidade da arte”, e faça as seguintes reflexões: 1. Explique com suas palavras: “O objetivo de uma bem orientada reflexão estética é, justamente, o de levar a razão a potenciar a emoção estética”. 2. Você acha que alguém que não tem conhecimento nenhum sobre arte pode, realmente, sentir o prazer estético a que se referem Forquin e Gagnard? Fazer e apreciar arte 23 3. Você concorda com a afirmação de Forquin e Gagnard de que é possível que os indivíduos na apreciação incorporem a tal ponto seus conhecimentos sobre a arte que “podem fazer como se os tivessem esquecido, investindo-o de modo perfeitamente integrado e homogêneo no seu gozo estético”? Por quê? Para conseguir trabalhar com a apreciação, o professor que vai dar aula de Arte deve estar munido de sons, imagens, vídeos etc., e conhe- cimentos, no mínimo básicos, sobre tudo isso. Sabemos que nem sempre esses materiais estão disponíveis, mas aí vale a pesquisa, a busca de novos conhecimentos e também a criatividade. Revistas, jornais, programas de rádio gra- vados em fitas cassete, folders de divulgação de peças teatrais, aqueles CDs que se ouve em casa...tudo pode fazer parte do seu kit de arte. Além disso, a escola pode ter uma caixa coletiva com diversos materiais. Com a colaboração de todos vai ficar mais fácil proporcionar esse con- tato efetivo com as produções artísticas. A produção artística é considerada o fazer: pintar, cantar, dançar, represen- tar, confeccionar fantoches, desenhar, modelar. Na realidade, a produção inclui tudo aquilo que se costuma chamar de atividade de artes. Dentro dessa nossa proposta, não podemos esquecer que a apreciação também é considerada uma ati- vidade de arte, e que a produção também é uma forma do indivíduo conhecer e se familiarizar, cada vez mais, com a arte. Um dos pontos importantes do trabalho é ressaltar a relação direta entre as atividades de produção e apreciação artística. O trabalho com arte na escola, muitas vezes, é reduzido a “fazer atividades de pintura”, ou, ainda, dançar, cantar, desenhar, tocar etc. Esse, como vimos no texto sobre os objetivos do ensino de Arte, é só um lado da moeda. Outras vezes, principalmente com as crianças maiores, o trabalho com arte resume-se a ler so- bre a história da arte ou ver obras de pintores famosos. A atividade de apreciação que propomos neste material não se resume a isso, dentro desta proposta, apreciar é mais do que ver, é ver ou ouvir, analisando, compreendendo, questionando. Na verdade, o fazer e o apreciar estão presentes em qualquer trabalho com arte na escola e um deve ter relação com o outro. Por exemplo, dentro dessa pro- posta não teria nexo o professor apreciar uma imagem de um bailarino clássico, dando as informações sobre essa forma de dança, seu figurino, a época em que surgiu, os tipos de movimentos característicos dessa época, e depois dançar “Ci- randa, cirandinha”. É claro que, com maior domínio do conteúdo de dança, o professor poderá estabelecer relações entre, praticamente, qualquer apreciação e Imagem 20: Dança das Três Raparigas da Bretanha, 1888. Gauguin. Fazer e apreciar arte 24 qualquer produção em dança, mas a ideia é que essa relação seja clara, direta e perceptível à criança. Dessa forma, fazendo e apreciando a arte, o indivíduo tem a possibilidade de compreender o significado humano contido nos objetos artísticos e se expres- sar por meio das linguagens artísticas. Cada vez que nossos alunos apreciam uma música, uma imagem, uma dança ou uma representação, analisando, sentindo, buscando informações, justificando suas opiniões, entendendo as questões técni- cas e estilísticas da composição artística, estão se alimentando, conhecendo mais e ampliando suas possibilidades de se expressar, por meio das linguagens de forma coerente com o que foi apreciado. Por outro lado, cada vez que pintam, cantam, dançam, estão utilizando tudo aquilo que analisaram nas atividades de apreciação e, dessa forma também compreenderão melhor o trabalho do artista. Quantas pessoas você conhece que aprenderam a cozinhar “olhando suas mães cozinharem”? E outras que aprenderam a costurar, tocar ou até dirigir “olhando” os outros executarem essas ações? O princípio é o mesmo. Mas, como podemos encaminhar esse trabalho de apreciação e produção? Algumas dicas para o trabalho de apreciação e produção Muitos autores já escreveram sobre esse assunto, dando dicas sobre o pro- cesso de apreciação, principalmente de pinturas, entre eles Michael J. Parsons, dos Estados Unidos, que em seu livro, Compreender a Arte, analisa a maneira como as pessoas entendem as obras de arte. Neste material colocamos alguns exemplos de indagações que podem fa- cilitar e garantir que a apreciação seja, realmente, coerente com nossa proposta de trabalho, lembrando que temos que abordar aspectos relacionados ao conheci- mento artístico e a relação do objeto apreciado com a experiência e vida do alu- no. As indagações estão divididas por algumas das turmas da Educação Infantil, faixa etária que desperta mais dúvidas em relação ao trabalho de apreciação, mas nada impede que as perguntas sugeridas possam ser usadas no trabalho com alu- nos de outras idades. Apreciação de imagens no maternal Fazer e apreciar arte 25 Imagem 21: Fandango paranaense, Grupo Fogaça, Maringá (PR). As imagens devem estar, preferencialmente, coladas em papelão duro e plastificadas com papel contact transparente ou com cola, para que as crianças possam manuseá-las. Apreciando as imagens que mostra o fandango paranaense, por exemplo, podemos levantar asseguintes questões com uma turma de maternal: – Olhem essas figuras. O que estas pessoas estão fazendo? Elas estão dan- çando? O que elas estão fazendo com as mãos? Vejam, elas estão batendo palmas! Quem sabe bater palmas? Vamos bater palmas? Todo mundo junto. Agora só os meninos. Agora só as meninas... Vamos bater palmas andando? Quem consegue bater palmas bem rápido como eu!! Vamos bater palmas bem fraquinho? Não, mais fraquinho ainda... E agora, bem forte! – O que esses homens estão usando no pescoço? É um lenço, isso mesmo! Por que será que eles estão com lenços no pescoço? Será que estão resfriados?! Quando é que usamos lenço? Vocês já viram alguém com lenço no pescoço? Quem era? E as moças, por que elas estão com lenço no cabelo? Acho que nessa dança as pessoas se vestem um pouco diferente para ficarem mais bonitas. Será? Vamos colocar uns lenços no pescoço ou no cabelo (podem ser faixas de tecido ou até de papel crepom). E agora, vamos dançar como eles, com lenços e batendo palmas? Vamos dançar ouvindo uma música? (de preferência uma música de fandango). Foi possível perceber que o trabalho de produção está intimamente ligado ao de apreciação? Quanto menor a faixa etária da turma, menor será o tempo de apreciação, pois as crianças não conseguem ficar paradas, sentadas, só olhando. A criança observa, questiona, recebe informações e produz, muitas vezes, sem nem se dar conta. Obviamente, muitas das perguntas que o professor faz não terão respostas, mas são feitas para direcionar o olhar do aluno para a imagem, na ver- dade as respostas serão dadas pelo próprio professor como fonte de informações relevantes para os alunos. Fazer e apreciar arte 26 Agora, observando a imagem a seguir, faça uma sequência de perguntas, respostas e propostas de atividades para as crianças de uma turma que você dá aula. Siga o exemplo da dança do fandango, mas crie sua forma de encaminhar esse trabalho. Imagem 22: Espetáculo Borandá, da Fraternal Com- panhia de Artes e Malas-Artes. A realidade cultural da escola e o interesse do aluno como ponto de partida do trabalho Todas as crianças e todos os professores têm uma vivência em arte que deve ser considerada e que pode ser o ponto de partida para o trabalho. Quando pensamos na quantidade de conteúdos e na infinidade de manifes- tações artísticas com as quais podemos e devemos trabalhar na escola, nos colo- camos diante de um impasse: mas por onde vou começar o trabalho? Por quais conteúdos? Por qual período da história da arte? Essa é uma pergunta difícil de ser respondida. Na verdade, o problema maior não reside em por onde começar, mas em como continuar. Mas, vamos por partes. Uma das saídas para responder à primeira pergunta (Por onde começar?) é justamente levar a realidade, a cultura primeira do aluno em consideração, e a partir dela iniciar o trabalho. Leia a seguir o trecho de um texto de Snyders (1992, p. 23-24) sobre os vá- rios tipos de cultura e sua importância: Há formas de cultura que são adquiridas fora da escola, fora de toda autoformação metódica e teorizada, que não são o fruto do trabalho, do esforço, nem de nenhum plano: nascem da experiência direta da vida, nós a absorvemos sem perceber; vamos em direção a elas seguin- do a inclinação da curiosidade e dos desejos; eis o que chamarei de cultura primeira. Fazer e apreciar arte 27 [...] Queria evocar alegrias da vida quotidiana, alegrias da cultura de massa: essas são verdadeiras alegrias; não tenho absolutamente a intenção de enfraquecê-las, mas tentarei dizer no que elas me parecem insuficientes e isso em relação às suas próprias promessas. Sustentarei que é a cultura elaborada que pode, melhor que a cultura primeira, atingir seus objetivos, isto é, finalmente as satisfações da cultura primeira. A cultura primeira visa a valores reais, fundamentais: em parte, ela os atinge, em parte, não o consegue: a cultura elaborada é uma chance muito maior de viver esses mesmos valores com plenitude [...]. Poderíamos discutir e analisar muitas questões referentes ao texto de Snyders, mas nesse caso vamos apenas salientar que essa cultura primeira na qual o aluno está inserido é importante, deve ser trabalhada e compreendida, mas não é suficiente. Pode ser o ponto de partida, mas não deve acabar em si mesma. Por exemplo, muitos alunos do Ensino Fundamental adoram axé, ou- vem, dançam e cantam axé. Estudar o axé, conhecer os diferentes grupos da cidade e do Brasil, analisar os instrumentos musicais, os passos da dança e seus significados de acordo com as letras, é um ótimo início de trabalho. Mas será suficiente? A partir daí poderemos buscar a origem do axé em outras formas musicais brasileiras, estabelecer paralelos entre os passos do axé e de outras danças folclóricas, o balé e as danças étnicas. E então chegar ao que Snyders chama de “cultura elaborada”. Também temos que pensar diretamente no interesse do aluno. Na Educa- ção Infantil é muito mais fácil envolver os alunos. Se bem direcionado, qualquer conteúdo, com recortes acessíveis à faixa etária, será bem aceito e facilmente trabalhado. No Ensino Fundamental, nem sempre as coisas são tão simples, e com adolescentes o trabalho se torna ainda mais difícil. O professor pode, por exemplo, chegar com um trecho do texto de Shakespeare, Romeu e Julieta, para trabalhar em uma turma de segunda ou terceira série. Provavelmente, a turma vai rir e resistir ao trabalho, mas se os alunos assistem filmes atuais baseados em Romeu e Julieta, que mostram a contemporaneidade do tema, com certeza o texto será apreciado e “descoberto” pelas crianças. Em relação ao interesse do aluno, também podemos dar o seguinte exem- plo: o professor quer trabalhar com máscaras de teatro e tem um circo famoso na cidade. As crianças querem ir ao circo, veem outdoors sobre o circo e pro- pagandas na TV. Nesse caso, por que “remar contra a maré”? Conversem sobre o circo, estudem a sua origem e suas manifestações artísticas. Trabalhem com os inúmeros conteúdos de teatro, dança e música contidos em um espetáculo de circo que,“o conteúdo a máscara” terá seu lugar nesse mesmo trabalho. Isso não quer dizer que o professor de Arte sempre deverá partir das músicas de massa ou do cotidiano do aluno, mas essa é uma opção. O que queremos deixar claro é que de nada adianta escolher um conteúdo e deixá-lo “cair de paraquedas” na sala de aula. Na verdade, é importante que o conteúdo seja escolhido de acordo com a faixa etária, interesse e cultura do grupo, e que seja explorado e articulado com outros conteúdos dentro de cada uma das linguagens, e, se possível, entre as qua- tro linguagens artísticas, como analisaremos a seguir. Fazer e apreciar arte 28 Articulação entre os conteúdos dos diversos grupos Os conteúdos básicos de Educação Artística, a serem trabalhados na escola, em teatro e dança, estão organizados a partir de grupos: elementos formais, técnicas, gêneros e movimentos ou períodos da história da arte e formas de composição. Esses conteúdos deverão ser detalhados e aprofundados gradualmente de acordo com cada faixa etária ou série. Ao organizar seu planejamento, o professor poderá partir de qualquer um dos grupos de conteúdos (elementos formais, técni- cas, gêneros, movimentos ou períodos ou formas), como falamos na unidade ante- rior, e abarcar todos os outros no desenvolvimento de uma etapa do trabalho. Por exemplo, um trabalho pode ser iniciado a partir de um período da dança. Nesse período, o professor irá escolher determinado gênero para estudar e priorizar uma técnica para aprofundar o trabalho com esse gênero e esse período. Obviamente, dentro desse período e desse gênero e com essa técnica irá trabalhar com deter- minado princípio de composição ressaltando um dos elementos formais do mo- vimento que caracterize determinada forma de composição em dança. Portanto, qualquer um dos conteúdos de qualquer grupo pode ser o início do trabalho, mas para garantir um mínimo de continuidadee profundidade no trabalho é importan- te que todos os outros grupos sejam abordados. Conhecendo um pouco da história da arte e compreendendo com mais pro- fundidade os grupos de conteúdos das quatro linguagens, o professor fará recortes desses conteúdos coerentes com a faixa etária de sua turma e usará técnicas mais condizentes com o desenvolvimento das crianças. Nada impede que qualquer período, gênero, técnica, elemento formal ou forma de composição sejam trabalhados com qualquer faixa etária. A quantidade de informações sobre os conteúdos, os recortes da história da arte e as técnicas é que irão variar de acordo com a turma em questão. Por exemplo, confeccionar ins- trumentos musicais como chocalhos de latinhas pode ser monótono para alunos de 4.a série, no entanto, para uma turma de 1.a série será uma atividade bastante interessante e com muitas possibilidades de aprofundamento. Porém, a confecção de instrumentos musicais pode ser desenvolvida em qualquer faixa etária. Apenas o estudo dos conteúdos e das atividades de produção da apreciação artística poderão subsidiar o professor para que ele faça as escolhas mais adequa- das às faixas etárias. O que não podemos é correr o risco que apenas um grupo de conteúdos seja trabalhado durante todo o ano, ou que um conteúdo nunca seja visto durante um ano de trabalho com arte. Passando por todos os grupos, o pro- fessor poderá garantir um trabalho mais uniforme e organizado. Se você não entendeu nada sobre essa história de grupos de conteúdos se acalme, essa aula Fazer e apreciar arte 29 está pertinho de você. Releia os textos sobre o encaminhamento metodológico, justifique as afirma- ções e responda as questões: 1. “Não podemos ter uma ideia errada de que basta que o aluno ouça uma música ou veja um qua- dro que nosso trabalho estará garantido. A ideia é outra.” Por quê? 2. O trabalho com arte na escola muitas vezes é confundido com o “fazer atividades de pintura”, ou ainda com dançar, cantar, desenhar, tocar etc. Você concorda com essa firmação? Por quê? Já vivenciou alguma situação em que essa afirma- ção foi comprovada? 3. “Queria evocar alegrias da vida quotidiana, alegrias da cultura de massa: essas são verdadeiras ale- grias; não tenho absolutamente a intenção de enfraquecê-las, mas tentarei dizer no que elas me pare- cem insuficientes e isso em relação às suas próprias promessas. Sustentarei que é a cultura elaborada que pode, melhor que a cultura primeira, atingir seus objetivos, isto é, finalmente as satisfações da cultura primeira. A cultura primeira visa a valores reais, fundamentais: em parte, ela os atinge, em parte, não o consegue: a cultura elaborada é uma chance muito maior de viver esses mesmos valores com plenitude”. Mesmo sem fazer análises mais profundas sobre esse autor, na sua opinião, qual a diferença entre a cultura primeira e a cultura elaborada que ele nos coloca? Discuta com outros colegas sobre esse assunto e comente esse trecho do texto. Fazer e apreciar arte 30 4. Dê um exemplo que confirme a seguinte afirmação: O que queremos deixar claro é que de nada adianta escolher um conteúdo e deixá-lo “cair de paraquedas” na sala de aula. 5. Dê um exemplo que confirme a seguinte informação: a quantidade de informações sobre os conteúdos, os recortes da história da arte e as técnicas é que irão variar de acordo com a turma em questão. Organização dos conteúdos de dança e teatro Cada uma das linguagens artísticas possui um grande número de conteúdos para serem trabalhados. Imagine uma dança qualquer. Na sua criação e execução estão envolvidos uma série de aspectos: Quem vai dançar? Que movimentos vai utilizar? Que roupas vai usar para dançar? Em que local essa dança poderá ser executada? Que passos irão ser repetidos na dança? Várias pessoas vão dançar juntas? Que tipo de música vai ser o estímulo para essa dança? São muitas ques- tões, não? E são exatamente as respostas a essas questões, e muitas outras, os conteúdos de dança para serem trabalhados na escola. Como são muitos e cheios de detalhes, assim como os das outras linguagens artísticas, nós organizamos esses conteúdos em blocos, isto é, em grupo de conteúdos. A maioria deles será aprofundado nas próximas aulas. Obviamente, todos são trabalhados conjuntamente na escola, mas podemos elaborar um planejamento em que alguns conteúdos sejam priorizados em determinada aula e outros em outras, para que não esqueçamos de trabalhar com uma gama bem variada de manifestações artísticas. É como se organizássemos uma cozinha: na gaveta do “grupo de talheres” temos o subgrupo das facas, o subgrupo dos garfos, das colheres de sopa, de so- Fazer e apreciar arte 31 bremesa, de café. Na prateleira do “grupo de pratos” colocaremos o subgrupo dos pratos fundos, o subgrupo dos pratos rasos, dos pratos de sobremesa, dos pratos de crianças etc. Essa mesma organização foi feita com os conteúdos de teatro e dança neste material: grupos e subgrupos. Portanto, os conteúdos de dança e teatro estão divididos para facilitar a compreensão e o planejamento do professor, em seis grandes grupos, sendo que cada um desses grupos possui alguns subgrupos: gêneros da dança e do teatro, história da dança e do teatro, elementos formadores e princípios de composição da dança e do teatro, técnicas de execução em dança e teatro e formas de dança e teatro. Não existe um muro de concreto separando esses grupos e subgrupos. Poderemos encontrar manifestações artísticas que fazem parte de mais de um gênero ou formas de dança que estiveram presentes em vários períodos da his- tória da arte. Esses nomes parecem um pouco complicados, mas vamos analisar um a um, e vocês verão que fazem parte das nossas vidas. Gêneros – os gêneros constituem a primeira grande classificação das manifestações artísticas. Se analisarmos todas as danças e represen- tações que existem e começarmos a separá-las em grupos, de acordo com quem as executa e por que elas são executadas, chegaremos nos seus gêneros. História – a história da dança e do teatro deve ser trabalhada para que o aluno perceba que a arte tem relação com o contexto no qual é produzida e apreciada. A história da arte não precisa ser trabalhada de forma crono- lógica e linear, mas por meio de comparações entre estilos com diferen- ças marcantes, pois a criança de Educação Infantil e Ensino Fundamental ainda está construindo sua noção de tempo. Nada impede que os movi- mentos e períodos da história sejam citados para que ela se familiarize com os termos, mas não podemos cobrar datas de início e fim dos perío- dos, nomes importantes etc. Essas informações são relevantes, mas não apropriadas para a faixa etária em questão. Elementos formadores – como vimos, cada linguagem artística possui seus objetos de estudo. Esses objetos de estudo são constituídos de alguns elementos, isto é, todo movimento expressivo, por exemplo, é constituí- do de três elementos que o forma, que ao serem unidos e organizados de acordo com alguns princípios caracterizarão o movimento expressivo e, consequentemente, a forma de dança. Técnicas de execução – as técnicas de execução são as maneiras pelas quais pode-se produzir nas linguagens artísticas. Forma de composição – são os vários tipos de dança e teatro: rock, val- sa, mímica, comédia, balé etc. Fazer e apreciar arte 32 1. Quais são as linguagens artísticas e seus objetos de estudo? 2. Quais os grupos de conteúdos de teatro e dança? Fazer e apreciar arte 33 3. Escolha um desses grupos e explique com suas palavras aquela que entender ser a melhor definição. Preparados para continuar a conhecer mais dos conteúdos sobre dança e teatro? Você já tinha ima- ginado que na arte existiam tantos conteúdos para se trabalhar com as crianças? Então, mãos à obra! Fazer e apreciar arte 34 Vários jeitos de dançar C omo vimos anteriormente, os conteúdos de dança e teatro estão estruturados em grupos. Começaremos a analisar, primeiramen-te, os conteúdos de dança. Conteúdos de dança Dança – movimento expressivo Grupo de conteúdos: Gêneros. Religioso – danças ligadas a qualquer religião. Profano – danças sem ligação com religião. História da dança. Elementos formadores. Técnicas. Composição em dança. Dança pura – apenas a composição do movimento é importante. Dança descritiva – dança que descreve uma imagem ou poesia, conta uma história etc. Vamos analisar esses grupos de conteúdos: Gêneros. Dança étnica – dança de raiz, feita há séculos da mesma forma, normalmente com um sentido ritual. Ligada aos deuses e à religiosidade de povos primitivos. Algumas vezes também são executadas por divertimento. Frequentemente são dirigidas por um mentor espiritual do grupo, como um pajé ou xamã. Exemplo: dança dos índios, de povos africanos e povos primitivos. Imagem 23: Cena do espetáculo Le Jardin Io Io Ito Ito, do coreógrafo José Montalvo. Vários jeitos de dançar 36 Dança folclórica – executada pelas comunidades rurais, litorâneas ou interioranas. São criadas e dançadas pelo povo, normalmente em fes- tas importantes para essas comunidades. Originalmente não têm um criador e todos podem aprender e dançar juntos. Exemplo: cirandas, fandango, tarantela, chula, quadrilha etc. Dança de salão – também conhecida como dança social. É uma dan- ça para ser executada, normalmente, por casais, em lugares fechados (salões). Possui passos específicos. Exemplo: valsa, rumba, salsa, merengue, tango etc. Danças criadas pela indústria cultural – são danças que têm o apoio da mídia e são características dos centros urbanos. Muitas vezes, são passageiras e consideradas de massa, isto é, de consumo alienado da população. Outras vezes se consolidam e passam a fazer parte da cul- tura do povo. Exemplo: algumas coreografias de grupos de axé e pagode, street dance, rap etc. Dança de espetáculo – dança que apresenta uma clara e rígida dis- tinção entre o público e os dançarinos. Normalmente, profissionais treinam para apresentar para um público. Exemplo: balé, ópera chinesa, jazz etc. História da dança. Vários são os períodos e movimentos da história da dança que podem ser trabalhados: dança primitiva, dança egípcia, dança medieval, balé clássico, balé moderno etc. Exemplo: balé, saltarelo (dança medieval), minueto (dança barroca), is- tanpitta (dança renascentista) etc. Elementos formadores. Corpo – é o corpo que se movimenta para realizar o movimento ex- pressivo. Não existe dança sem um corpo em movimento. Exemplo: – simetria/assimetria corporal; – força e fluência; – pontos e superfícies do corpo; – estabilidade/instabilidade; – flexibilidade; – ponto de apoio; – descanso; – oscilação/equilíbrio. Espaço – o corpo em movimento utiliza o espaço de forma expressiva e o espaço influencia no movimento. Vários jeitos de dançar 37 Exemplo: – espaços alto, médio e baixo; – utilização parcial e/ou total do espaço; – direção/sentido; – alinhamento; – deslocamento; – lateralidade; – movimentos paralelo e oposto; – linhas reta e curva; – salto e queda; – rotação; – formação. Tempo – todo movimento expressivo tem um ritmo e se dá de acordo com organizações temporais. Exemplo: – movimento contínuo e/ou interrompido; – andamentos – acelerando/retardando; – simultaneidade; – sequência; – estímulo sonoro. Técnicas. Improvisação – pode-se dançar de improviso, isto é, criando esponta- neamente os movimentos no momento da execução. Exemplo: – improvisação livre; – improvisação dirigida – com ou sem materiais. Coreografia – uma coreografia é uma sequência de movimentos de uma dança, organizada previamente à sua execução. Também se cha- ma de coreografia a escrita dos movimentos de uma dança. Muitas danças possuem coreografias que devem ser seguidas: balé, tango, fandango, danças indígenas etc. Exemplo: – coreografia verbal; – coreografia grafada ou escrita. Formas de composição em dança. Dependendo da época, do gênero, da organização dos elementos for- mais etc., teremos diferentes formas de dança, que recebem nomes específicos. Exemplo: rock, salsa, balé, jazz, street dance, capoeira etc. E agora? Depois de tantas informações sobre a dança você ainda não teve Vários jeitos de dançar 38 vontade de dançar? Levante-se da sua cadeira, estique seu corpo, movimente seus braços, espreguice-se... Podemos continuar? Antes de passarmos para um maior aprofundamento de alguns conteúdos de dança, que tal revisarmos os conteúdos apresentados? 1. Complete as frases abaixo com os conteúdos correspondentes. a) A dança indígena pertence ao gênero da dança _______. b) Quando o dançarino cria, no momento de suas execuções, os movimentos, ele está traba- lhando com a técnica da ______________. c) Se eu trabalhar com uma dança medieval em sala de aula, estarei trabalhando com a _______________. d) Sequência de passos preestabelecidos para uma dança _____________. e) ___________________ são os elementos formadores do movimento. f) O balé é uma dança ______________________, ele conta uma história por meio dos movi- mentos. g) Ao se trabalhar com a flexibilidade corporal, o professor estará enfatizando qual elemento formador? ________________. h) O ritmo de um movimento está relacionado ao elemento formador ___________. i) O salto e a queda fazem parte especificamente do trabalho com o ___________. j) O gênero de dança que é passageiro, ou seja, fica na moda por um tempo e depois desaparece é o gênero: _____________________________. 2. Com certeza você já trabalhou dança com seus alunos. Formem equipes de três pessoas, esco- lham uma das atividades de dança que vocês já fizeram em sala, descrevam-na para o resto do grupo e tentem relacionar os conteúdos trabalhados nessas atividades. 3. Leia esse pequeno trecho de um texto de Paulina Ossona (1988, p. 22) e responda as questões. “A arte do dançarino vê-se limitada às possibilidades de seu corpo, ao lugar que este ocupa no espaço, ao tempo do desenvolvimento de sua obra e às leis da física”. a) A que grupo de conteúdos Ossona está se referindo nesse texto? Vários jeitos de dançar 39 b) Se você tivesse que escolher um dos elementos formadores do movimento como o principal, qual seria? Por quê? c) Mesmo que nós não tenhamos comentado nada sobre as leis da física, por que você acha que Ossona colocou essa questão como parte do movimento expressivo? Conversem um pouco em grupo sobre esse assunto e justifiquem a conclusão a que vocês chegaram. Criar e seguir passos Vimos anteriormente uma lista detalhada dos conteúdos de dança que po- dem ser trabalhados na escola. Com certeza, você já imaginou muitas atividades para fazer com seus alunos. Como já foi visto, existem duas técnicas de execução no trabalho com dança, a improvisação e a coreografia. Obviamente, muitas vezes as duas estão juntas em muitas formas de dança, mas em outras pode-se valorizar mais a improvisação do que a coreografia. Imagem 24: Desenho, da época do Renascimento, mostrando passos de dança. Normalmente, quando se trabalha com dança na escola, ou se prioriza radi- calmente a improvisação, deixando as crianças brincarem e dançarem livremente as músicas infantis da moda, ou se criam coreografias com movimentos estere- otipados para que as crianças executem nas festas de datas comemorativas. Os dois exemplos de atividades podem ser aproveitados em um bom planejamento de dança, desde que organizados de forma coerente com nossa proposta. Vários jeitos de dançar 40 Coreografia A coreografia1 é a arte de compor os movimentos e os passos de uma dança. Imagem 25: Passos do samba para o homem. O termo coreografia também pode ser usado para designar a representação gráfica de movimentos e passos de várias formas de dança. A origem dessa pa- lavra vem do termo grego khoros, que quer dizer dança, e grapho, que significa escrita, pois no início do séculoXVIII o coreógrafo era a pessoa responsável por “anotar” a dança. Uma coreografia pode ser escrita por meio de palavras, símbolos e dese- nhos. No ano de 1468, em manuscritos catalães, encontrou-se registros de passos de dança. Esses desenhos são uma complicada combinação de traços verticais e horizontais, unidos a símbolos que parecem os números 3 e 9. Desses manuscri- tos, foi possível identificar cinco passos específicos e direções do movimento. A partir desse exemplo percebemos como é importante para o ser humano deixar registrada sua dança para que ela transcenda os limites de espaço e tempo. O coreógrafo é aquele que, além de criar as sequências dos movimentos e grafá-las, se for o caso, coordena a dança, escolhe os figurinos e o cenário, sele- ciona os dançarinos, podendo trabalhar em conjunto com o compositor musical, figurinista, cenógrafo, roteirista etc., para desenvolver suas funções. Tanto por profissionais como pelo povo, que dança músicas folclóricas, de salão ou criadas por grupos da moda, as coreografias de danças são decoradas pelos executantes. Você já viu algum dançarino com um papelzinho na mão, “co- lando” os movimentos que deve fazer? A repetição dos movimentos e de suas se- quências, iniciadas de acordo com momentos facilmente identificáveis na música e a marcação rítmica, são os elementos que garantem o trabalho dos dançarinos para decorar as coreografias. 1 “Coreografia. 1. A arte de compor bailados. 2. A arte de anotar, sobre pa- pel, os passos e as figuras dos bailados. 3. A arte da dança”. (Novo Dicionário Básico da Língua Portuguesa – Folha/ Aurélio – Editora Nova Fron- teira – p. 179). Vários jeitos de dançar 41 Normalmente, uma coreografia é criada a partir do número de dançarinos, do espaço do palco, da música, da emoção que se deseja passar com o espetáculo etc. Na verdade, qualquer um desses elementos pode ser o norteador ou pode se adaptar ao desejo do coreógrafo, e tudo vai depender da forma de dança que ele vai estar coreografando. A utilização de letras e palavras nas coreografias é bastante difundida atualmente. Veja um exemplo: Posição inicial da dança. – em roda – R – em fila única – FU – em duas filas, uma de homens e uma de mulheres frente a frente – DF Tipo de deslocamento. – passos – PAS – corrida – COR – saltos – SAL Direção do deslocamento. – direita – D – esquerda – E – trás – T – frente – F – diagonal direita frente – DDF – diagonal direita trás – DDT – diagonal esquerda frente – DEF – diagonal esquerda trás – DET Partes do corpo. – pé direito – PD – pé esquerdo – PE Tendo essas abreviaturas como referência, é possível criar uma série de coreografias. Procure desenvolver a pequena sequência de movimentos descrita abaixo e depois crie outra, usando essas abreviaturas. ER/ PD F/ PD T/PD F/PD T/ 5PAS F / 2 SAL T Também existem outras formas de grafia de dança, como a usada normal- mente no ensino de danças de salão. De acordo com regras desse gênero de dança, PE significa pé esquerdo e PD, pé direito. Vários jeitos de dançar 42 Imagem 27: Passos de valsa para homens. . Com essas fotos e as indicações escritas, você acha que é possível realizar os passos dessa dança? Por quê? Analise, agora, uma outra forma de grafia de coreografia, com desenhos, flechas, abreviações e números. Imagem 28: Posição inicial para a prática da valsa. Vários jeitos de dançar 43 Imagem 28 (continuação): Posição inicial para a prática da valsa. . Você conseguiria dançar uma coreografia grafada dessa maneira? Por quê? Na sua opinião, qual a melhor forma de ensinar uma coreografia para alguém? Por quê? Justifique sua resposta. Agora que você já sabe mais profundamente o que é uma coreografia, pense um pouco em como ela é trabalhada na escola. Você já criou uma coreografia com seus alunos? Para que situação? Como eram os passos dessa coreografia? Como você ensinou-a aos seus alunos? Para se trabalhar com a coreografia na escola, o professor deve estar atento a uma série de questões. Inicialmente, é preciso ressaltar que a necessidade da coreografia deve ser real, isto é, tanto o professor como as crianças devem sentir necessidade de a organizar os movimentos e repeti-los sempre da mesma forma. Essa necessidade, normalmente, surge quando a turma vai fazer uma apresenta- ção ou quando todas as crianças querem dançar, juntas, a mesma sequência de movimentos. No caso de a necessidade vir diretamente da turma, o trabalho terá um maior significado e a organização dos movimentos será feita, em grande parte, pelas próprias crianças, pois a necessidade é delas e isso facilitará a organização. Nesse caso, o professor atuará auxiliando e relembrando a sequência dos movi- mentos para as crianças. Sentir-se parte de um grupo, dançar junto com outros, experimentar a sen- sação da sincronia e vivenciar o mesmo ritmo é uma atividade encantadora para as crianças. Quanto menor a faixa etária, mais simples devem ser as sequências dos passos e, até pelo nível de desenvolvimento motor da criança, apenas alguns trechos da música podem ser coreografados. As danças e brincadeiras folclóricas são um ótimo exercício para o trabalho com a coreografia, pois todos devem rea- lizar os movimentos sugeridos na brincadeira. Vários jeitos de dançar 44 No caso de a necessidade de coreografar uma dança surgir por uma apre- sentação na escola, o cuidado do professor deve ser ainda maior. Muitas vezes, essa situação ocorre em virtude das festas comemorativas: Dia das Mães, Dia dos Pais, Páscoa, Festa Junina etc. O comum é que o professor escolha a música, crie os passos e que as crianças, muitas vezes vestidas de forma pouco confortável, depois de exaustivos ensaios, apresentem-se os familiares. Nesses casos, os passos e gestos acabam apenas reforçando a letra e são estereotipados, não tendo significado nenhum para as crianças, que por falta de opção acabam até gostando da atividade. Imaginem, por exemplo, o gesto de colocar as mãos na altura do coração no momento da música que diz: “Mamãe eu te amo”. Será que a criança faz a relação de que naquela altura do seu peito está o coração, que o coração é considerado o órgão do corpo humano que manifesta o amor e que por isso está com as mão- zinhas fechadas, daquela maneira? Esse é um típico exemplo de movimento que não faz sentido para ela. Se deixássemos que elas escolhessem um movimento que expressasse o amor por suas mães, talvez abraçassem-se, mandassem beijos ou gritassem euforicamente. Para que esse trabalho seja uma atividade de arte na escola é necessário que as crianças participem da escolha das músicas e criem os movimentos, mesmo que o professor considere esses movimentos sem graça ou sem sentido de acordo com a letra da música. É claro que o professor estará presente, dando sugestões e organizando o trabalho, pois as turmas de Educação Infantil, por exemplo, não têm autonomia para trabalhar sozinhas. Improvisação Improvisar em dança significa fazer os mo- vimentos de forma espontânea, sem planejá-los anteriormente. A improvisação pode ser uma parte de um espetáculo, ou uma dança em si, uma dança livre. Na maioria das vezes, quando se dança livremente em boates, festas e dancete- rias, se está improvisando. A improvisação pode ser realizada livremente, sobre um tema ou com alguns materiais. Nos dois últimos casos, existe um limite imposto pelo tema ou pelas possibili- dades de manipulação ou de movimento que os materiais sugerem. Além disso, a improvisação pode ser de forma dependente, isto é, quando não se improvisa sozinho e o grupo tem que estar integrado mesmo que executan- do movimentos de forma improvisada. Quando os passos não são improvisados obedecem a uma coreografia, como já vimos anteriormente. Você já viu alguém dançando de improviso? Quando? Em que situações você dança de improviso? Imagem 29: Festa junina – quadrilha. Vários jeitos de dançar 45 Nos momentos em que as crianças dançam livremente,
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