Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Sociologia O TRABALHO NA OBRA DE MARX: CLASSES SOCIAIS E EXPLORAÇÃO 1 Sumário Introdução ...........................................................................................................................................2 Objetivos ..............................................................................................................................................2 1. A luta de classes ..........................................................................................................................2 1.1. Os modos de produção ............................................................................................................2 1.2. O capitalismo ............................................................................................................................4 1.3 A exploração da força de trabalho .........................................................................................6 Exercícios .............................................................................................................................................8 Gabarito ............................................................................................................................................ 10 Resumo ............................................................................................................................................. 11 2 Introdução Para o autor Karl Marx, as relações sociais são permeadas de contradições. Nesta aula temos por objetivo destacar os principais elementos da teoria da luta de classes, central na sua percepção das contradições presentes nos sistemas de produção – formas pelas quais a sociedade se reproduz, ou seja, produz mercadorias necessárias para sua sobrevivência. Para isso, compreenderemos sua percepção evolucionista sobre os modos de produção da sociedade: o comunismo primitivo, o modo de produção asiático, o modo de produção antigo, o feudalismo e o atual capitalismo. Além dos modos de produção existentes, Marx propõe, como veremos, a superação do modo de produção capitalisto, do qual é crítico ferrenho, pelo modo de produção comunista a partir de uma revolução da classe proletária. Para entendermos as formas pelas quais o modo de produção capitalista se reproduz estudaremos a concepção de exploração de Marx, bem como o desenvolvimento dos conceitos de valor de uso, valor de troca, mais-valia e lucro, centrais em sua compreensão e análises econômica e social do modo de produção capitalista, considerado injusto pelo autor. Objetivos • Identificar diferentes modos de produção ao longo da história da humanidade a partir da teoria marxista. • Elencar e analisar as principais características do modo de produção capitalista. 1. A luta de classes 1.1. Os modos de produção Como vimos nas aulas anteriores, Karl Marx foi um dos maiores estudiosos do capitalismo, entendendo que o motor da história é a luta de classes. Essas classes sociais se referem a dois grupos socioeconômicos antagonistas dentro de um modo de produção, a burguesia e o proletariado. De acordo com Quintaneiro (2010, p. 76), Marx elenca 5 modos de produção distintos de acordo com a linha do desenvolvimento histórico: “o comunismo primitivo, o antigo, o feudal, o capitalista e o comunista”. Podemos acrescentar a esses o modo de produção asiático também elencado por ele. Assim, caracterizamos esses modos de produção da seguinte forma: 3 Comunismo primitivo – considerado o modo de produção inicial da humanidade, prévio ao surgimento do dinheiro/moeda de troca e do Estado modern. Nesse sistema a propriedade era coletiva, ou seja, de todos os membros da comunidade, bem como responsabilidade era de todos. Asiático – neste modo de produção temos presentes proprietários de grandes porções de terra, camponeses forçados a trabalhos pesados, implicando a perda da maioria de seus direitos e, por fim, pessoas escravizadas e submetidas a trabalhos ainda mais pesados que os camponeses. Esse modo de produção foi vigente em países hoje conhecidos como Índia, China e Egito. Antigo – marcado por grandes latifúndios dominados por poucos senhores da terra. Esse modo de produção também ficou conhecido como modo de produção escravista em que havia o domínio e escravização por parte dos senhores da terra sobre as pessoas escravizadas, que eram submetidas a trabalhos forçados, humilhações e condições sub-humanas de sobrevivência. Feudalismo – aqui podemos enfatizar a divisão das grandes propriedades privadas de posse dos senhores feudais (os feudos) e alguns reinos administrados por reis – principalmente na Baixa Idade Média. Nesse sistema, a exploração do trabalho era servil. Capitalismo – atual modo de produção vigente na grande maioria dos Estados-nação modernos, caracterizado pelo controle e posse dos meios de produção (fábricas, máquinas, grandes empresas, etc.) por parte da burguesia (capitalistas) e venda da mão-de-obra do proletariado, classe trabalhadora. Comunismo – para Marx seria o estágio final dos modos de produção em que haveria o fim da propriedade privada, sendo essa de posse de todo o proletariado. No comunismo, haveria o fim das classes sociais, de forma que os meios de produção e os lucros seriam socializados, permitindo a igualdade socioeconômica. O Socialismo se trata, para Marx, de uma fase intermediária entre o capitalismo e o comunismo. Nesta etapa, há a tomada dos meios de produção pelo proletariado e a concentração de poder político, econômico e social nas mãos dos trabalhadores – é a chamada “ditadura do proletariado”. Ela ocorre com a finalidade de consolidar a vitória sobre o capitalismo e o avanço para a implementação do comunismo, uma sociedade sem Estado, sem classes e de bem comum. 4 IMPORTANTE! Com a análise da evolução dos modos de produção, Marx não quis dizer que todas as sociedades passaram pelos mesmos estágios, mas que as especificidades de cada sociedade geraram suas contradições e que estas gerariam uma nova síntese, transformando o modo de produção anterior no modo de produção seguinte. Sua visão era evolucionista porque o fim da evolução dos modos de produção levaria ao comunismo inevitavelmente, ao estágio final, mais justo e aprimorado da reprodução social. 1.2. O capitalismo A maior parte da obra de Marx e Engels é dedicada ao estudo científico do capitalismo. Antigamente, o que era produzido pelos seres humanos era assim feito para satisfazer suas necessidades imediatas, ou seja, não havia acumulação de bens e mercadorias. Dessa forma, havia o trabalho dividido de acordo com a faixa etária e com o gênero (crianças, mulheres, homens, idosos), conceituado na Sociologia como divisão natural do trabalho. Marx acreditava que o socialismo e o comunismo emergiriam primeiro em países com o nível de capitalismo em desenvolvimento mais avançado, como Inglaterra e Alemanha, o que acabou não acontecendo. São, portanto, experiências de influência comunista ou socialista de extrema relevância na história da política global a Revolução Russa com a criação da União Soviética, a Revolução Cubana e a Revolução Cultural Chinesa. Inclusive, até hoje muitos partidos politicos se inspiram no socialismo ou no comunismo para buscar uma sociedade maisigualitária. 5 Com a crescente industrialização e de maneira decorrente, a crescente urbanização, se torna possível a exploração da mão-de-obra dos trabalhadores por parte dos donos dos meios de produção. Através desta, ocorre a acumulação de bens e mercadorias por meio do lucro gerado. A acumulação do considerado “extra” produzido pelos trabalhadores é um dos marcos do capitalismo. 01 Uma das características da acumulação do capitalista provinda do lucro da exploração da mão- de-obra da classe trabalhadora é a concentração de grandes riquezas nas mãos de poucas pessoas, conforme a imagem. Para Marx, um dos aspectos que condicionam a luta de classes no capitalismo é a “(...) apropriação por não-produtores (pessoas, empresas ou Estado) de uma parcela do que é produzido socialmente.” (QUINTANEIRO, 2010, p. 78). Essa apropriação não deve ser naturalizada e em seu trabalho o autor busca fazer com que o trabalhador perceba o seu lugar histórico nessa divisão social do trabalho e se rebele contra a ordem estabelecida através de estruturas da luta de classes formadas historicamente. A desigualdade e as classes sociais, portanto, são criadas pelos seres humanos (criadas socialmente) e passíveis de superação pelos mesmos, em especial da classe interessada nessa superação, a classe trabalhadora, ou seja, o proletariado. O conceito de luta de classes não significa necessariamente luta corporal ou explícita entre as classes, mas a subordinação constante de uma classe sobre outra por diversos mecanismos, sendo o mais importante deles, a estrutura econômica. Além desse domínio material, também é exercido pela classe dominante e opressora o domínio ideológico, de maneira que os próprios trabalhadores passam a aceitar sua condição de subordinados como natural. 6 ANOTE AÍ! Como vimos na aula anterior, além do domínio material (infraestrutura), a classe dominante exerce seu domínio através da propagação de uma ideologia e de outras formas culturais (artes, educação, política) em sua superestrutura. No capitalismo, o que define alguém como parte da classe burguesa, como dito anteriormente, são os meios de produção do capital, incluindo matéria prima, objetos de trabalho, como máquinas e ferramentas, as instalações de trabalho, a água, a energia, etc. São definidores no esquema de reprodução capitalista a acumulação do capital e a exploração da mão-de-obra (GIDDENS, 2005). Segundo Quintaneiro (2010, p. 88), o capital “(...)é uma forma historicamente determinada de distribuição das condições de produção resultante de um processo de expropriação e concentração da propriedade.”. Já a mão de obra é compreendida por Marx como a força de trabalho que o trabalhador vende como mercadoria em troca de um salário que vai proporcionar sua sobrevivência. 1.3. A exploração da força de trabalho Um dos pontos fundamentais e bem fundamentados na teoria de Marx e Engels sobre a reprodução do capital é a exploração da burguesia sobre a força de trabalho. Veremos agora alguns dos conceitos fundamentais dessa teoria: o valor de uso, o valor de troca e a mais-valia. O valor de uso é definido pela utilidade da mercadoria. O valor de troca é o tempo e a matéria-prima necessária na produção de uma mercadoria. O valor de troca não é, portanto, essencial, variando de acordo com seu valor de mercado e suas condições de produção. Aqui podemos observar uma tabela que explicita a divisão de classes ao longo da História: Período/ Sistema Classe dominante Classe oprimida Antiguidade Patrícios Escravizados Feudalismo Senhores feudais Servos Capitalismo Burgueses Proletários 7 Mais-valia é um conceito existente previamente a Marx e reutilizado por ele para explicar como ocorre a relação entre valor de uso, valor de troca e a extração da mais-valia do trabalhador, cerne da exploração capitalista. Como isso acontece? Imaginemos uma produção de cadeiras: um trabalhador leva 5 dias para produzir 5 cadeiras, sendo que cada cadeira tem o custo de 10 reais para o burguês (em matéria-prima, instalações, etc.) e paga 10 reais por dia ao trabalhador como parte de seu salário, tendo custo total (matéria prima + instalações + salário) de 20 reais. Em 10 dias, portanto, será gasto no total 200 reais. Esse é o valor de troca dessa produção. Se o valor dessas cadeiras for cobrado igualmente ao seu valor de troca, não haverá lucro para o burguês, que investiu na produção dessa mercadoria, não havendo acúmulo de capital. Para a obtenção do lucro, é realizado um acordo compulsório entre o burguês e o trabalhador (que o aceita por sua sobrevivência) em que o trabalhador precisa trabalhar 10 dias a mais para receber seu salário, por exemplo. Neste excedente de trabalho por parte do proletário é que está o lucro do burguês, podendo ser calculado ao subtrair o valor do salário do trabalhador do valor produzido pelo total dos dias de trabalho desse trabalhador. Essa mais-valia é chamada por Marx e Engels de mais-valia absoluta. Já a mais-valia relativa se dá ao mesmo tempo em que há inovações tecnológicas que proporcionam a possibilidade do burguês de produzir mais em menor tempo, mantendo, no entanto, o mesmo valor do salário do proletário e mantendo o tempo de trabalho dele. A mais-valia é, portanto, um dos mecanismos principais de manutenção do poder da burguesia e da desigualdade social. DICA DE VÍDEO A história das coisas. 2007. Dirigido por Louis Fox. O fetichismo da mercadoria e a alienação de Marx são usados para designar o processo de distanciamento dos trabalhadores do processo total de produção. Assista ao documentário “A história das coisas” para entender melhor como esse processo ocorre na atualidade. 8 Exercícios 1. (Uema, 2011) As sociedades modernas são complexas e multifacetadas. Mas é com o capitalismo que as divisões sociais se tornam mais desiguais e excludentes. Marx já observara que só o conflito entre as classes pode mover a história. Assim sendo, para o referido autor, em qual das opções se evidencia uma característica de classe social? a) O status social e cultural dos indivíduos. b) A função social exercida pelos indivíduos na sociedade. c) A ação política dos indivíduos nas sociedades hierarquizadas. d) A identidade social, cultural e coletiva. e) A posição que os indivíduos ocupam nas relações de produção. 2. (Uenp, 2013) “Tá vendo aquele edifício, moço, ajudei a levantar. Foi um tempo de aflição, eram quatro condução, Duas pra ir, duas pra voltar. Hoje depois dele pronto, olho pra cima e fico tonto, Mas chega um cidadão e me diz desconfiado: Tu tá aí admirado, ou tá querendo roubar. Meu domingo tá perdido, vou pra casa entristecido, Dá vontade de beber E pra aumentar o meu tédio, eu nem posso olhar pro prédio, Que eu ajudei a fazer. Tá vendo aquele colégio, moço, eu também trabalhei lá. Lá eu quase me arrebento, pus massa, fiz cimento, Ajudei a rebocar. Minha filha, inocente, vem pra mim toda contente Pai quero estudar. Mas me diz um cidadão: Criança de pé no chão aqui não pode estudar. Esta dor doeu mais forte. Porque eu deixei o Norte, eu me pus a me dizer. Lá a seca castigava, mas o pouco que eu plantava, Tinha direito de comer. Tá vendo aquela Igreja, moço, onde o padre diz amém. 9 Pus o sino e o badalo, enchi minha mão de calo, Lá eu trabalhei também. Lá sim, valeu a pena, tem quermesse, tem novena, E o padre me deixa entrar. Foi lá que Cristome disse: Rapaz, deixe de tolice, não se deixe amedrontar. Fui eu que criei a terra, enchi os rios, fiz a serra, não deixei nada faltar. Hoje o homem criou asas, e na maioria das casas, Eu também não posso entrar”. (Música “Cidadão”, escrita por Zé Geraldo em 1981.) Sobre a Mais-Valia, conceito de Karl Marx, o que é correto afirmar? a) Karl Marx não tematizou a mais-valia e, sim, afirmou que ela era própria do período medieval, quando as pessoas viviam nos feudos medievais. b) A mais-valia é o lucro que o burguês tem no final do mês, diferença entre receitas e despesas. c) A mais-valia depende da capacidade administrativa de um proletário, que administra as rendas obtidas através da exploração do seu empregado burguês. d) Karl Marx nunca falou em mais-valia e, sim, os marxistas que, equivocadamente, atribuem a Marx o termo. e) É a diferença entre o valor da força de trabalho e o valor do produto do trabalho, sem a qual não existiria o capitalismo. 2. (UNESP SP/2016) A condição essencial da existência e da supremacia da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos dos particulares, a formação e o crescimento do capital; a condição de existência do capital é o trabalho assalariado. […] O desenvolvimento da grande indústria socava o terreno em que a burguesia assentou o seu regime de produção e de apropriação dos produtos. A burguesia produz, sobretudo, seus próprios coveiros. Sua queda e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis. (Karl Marx e Friedrich Engels. “Manifesto Comunista”. Obras escolhidas, vol. 1, s/d.) Entre as características do pensamento marxista, é correto citar: 10 a) A caracterização da sociedade capitalista como jurídica e socialmente igualitária. b) O reconhecimento da importância do trabalho da burguesia na construção de uma ordem socialmente justa. c) A celebração do triunfo da revolução proletária europeia e o desconsolo perante o avanço imperialista. d) O princípio de que a história é movida pela luta de classes e a defesa da revolução proletária. e) O temor perante a ascensão da burguesia e o apoio à internacionalização do modelo soviético. Gabarito 1. e) A posição que os indivíduos ocupam nas relações de produção. Justificativa: Para Marx, as classes sociais estão divididas de acordo com as posições nas relações sociais, sendo na Antiguidade divididas entre patrícios e escravizados, no Feudalismo entre senhores feudais e servos e no capitalismo entre burgueses e proletários. 2. e) É a diferença entre o valor da força de trabalho e o valor do produto do trabalho, sem a qual não existiria o capitalismo. Justificativa: A mais-valia é o tempo excedente que o trabalhador trabalha para receber seu salário. É um valor que exacerba o valor da matéria prima somado às instalações e ao salário do trabalhador gastos para produzir uma mercadoria, gerando assim o lucro do burguês. 3. d) O princípio de que a história é movida pela luta de classes e a defesa da revolução proletária. Justificativa: A partir de sua análie da realidade, Marx percebe que a desigualdade social é promovida pelas classes dominantes ao longo da história em que há exploração do ser humano pelo ser humano. Ele coloca- se assim, contrário a essa desigualdade, sendo defensor de uma revolução da classe oprimida, no caso de sua época o capitalismo vigente, essa classe era o proletariado que ele acreditava que devia se rebelar contra a burguesia. 11 Resumo Nesta aula pudemos ter contato com o significado da teoria de conflito de Marx e Engels a partir da história da luta de classes, em que, de acordo com os autores, há sempre a divisão de classes em exploradores e explorados. Conhecemos diferentes modos de produção elencados por Marx como o comunismo primitivo (sociedade anterior ao desenvolvimento das classes sociais), o modo de produção asiático (dividido em grandes proprietários e escravizados) e, o modo de produção antigo (dividido em patrícios e escravizados), o feudalismo (dividido em senhores feudais e servos), o capitalismo (dividido em burguesia e proletariado) e o comunismo (sociedade sem classes em que o poder está nas mãos da classe proletária). Também aprendemos conceitos básicos relacionados à economia para Marx. Para ele, as mercadorias têm valor de uso (relacionada à sua utilidade) e valor de troca (valor relacionado a quanto vale a mercadoria em relação a outras mercadorias disponíveis no mercado). De acordo com Marx, a acumulação de capital feita pela burguesia se daria pela apropriação da mais-valia – mão-de-obra excedente realizada pelo proletário e não-remunerada – gerando assim, o lucro. 12 Referências bibliográficas GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005. QUINTANEIRO, Tânia. Um toque de clássicos. 2 ed. Belo Horizonte: UFMG, 2010. MARX, Karl. O Capital. Vol. 2. 3ª edição, São Paulo: Nova Cultural, 1988. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O Manifesto Comunista. 3ª edição, São Paulo: Global, 1988. MARX, Karl. O Dezoito Brumário e Cartas a Kugelmann. 5ª edição, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. Referências imagéticas Figura 01. DEDUCA. Disponível em: https://delinea.deduca.com.br/mediabank/432 Acessado em 02/02/2019 às 02h01min.
Compartilhar