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kkkk DIRECIONADORES JURÍDICOS Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 2 SUMÁRIO 1. PROPÓSITO ...................................................................................................................................... 4 2. CONCEITUAÇÃO DE SEGURO ........................................................................................................... 4 3. SEGURO DPVAT ............................................................................................................................... 5 3.1. FUNÇÃO SOCIAL .......................................................................................................................... 5 4. TEMAS RELEVANTES ........................................................................................................................ 7 4.1. ATO ILÍCITO .................................................................................................................................. 7 4.1.1. ESPÉCIES DE ATO ILÍCITO ......................................................................................................... 7 4.1.1.1. EMBRIAGUEZ ....................................................................................................................... 7 4.1.1.1.1. ESTRUTURA DA CONTESTAÇÃO ........................................................................................ 10 4.1.1.2. RACHA ............................................................................................................................... 11 4.1.1.2.1. ESTRUTURA DA CONTESTAÇÃO ........................................................................................ 11 4.1.1.3. FURTO/ROUBO .................................................................................................................. 12 4.1.1.3.1. ESTRUTURA DA CONTESTAÇÃO ........................................................................................ 13 4.1.1.4. DIRIGIR SEM HABILITAÇÃO CAUSANDO PERIGO DE DANO .............................................. 13 4.1.1.4.1. ESTRUTURA DA CONTESTAÇÃO ........................................................................................ 15 4.2. PROPRIETÁRIO INADIMPLENTE ................................................................................................. 15 4.2.1. IDENTIFICAÇÃO DO PROPRIETÁRIO ...................................................................................... 15 4.2.2. DA INEXISTÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR ............................................................................... 16 4.2.3. ENUNCIADO Nº 257, DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA ...................................................... 17 4.2.3.1 TEORIA CONSTITUCIONAL DO DISTINGUISHING ....................................................................... 18 4.2.4. ESTRUTURA DA CONTESTAÇÃO ............................................................................................ 19 4.3. PRESCRIÇÃO .............................................................................................................................. 20 4.3.1. CAUSAS INTERRUPTIVAS E SUSPENSIVAS DO PRAZO PRESCRICIONAL ................................. 20 4.3.2. MARCO INICIAL NOS SINISTROS DE INVALIDEZ PERMANENTE ............................................. 21 4.3.3. PRESCRIÇÃO DO INCAPAZ ..................................................................................................... 23 4.3.4. ESTRUTURA DA CONTESTAÇÃO ............................................................................................ 25 4.4. HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA ............................................................................................. 25 4.4.1. INOBSERVÂNCIA DO ART. 85 §2º .......................................................................................... 25 4.4.2. IMPERTINÊNCIA DA CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS NAS AÇÕES DE PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS .................................................................................................. 28 4.4.3. ARTIGO 99, §5º, DO CPC – INTERESSE EXCLUSIVO DO ADVOGADO E GRATUIDADE DE JUSTIÇA 29 4.4.4. ESTRUTURA DA CONTESTAÇÃO ............................................................................................ 31 4.5. REEMBOLSO DE DAMS .............................................................................................................. 32 Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 3 4.5.1. PREVISÃO LEGAL E LIMITE MÁXIMO INDENIZÁVEL............................................................... 32 4.5.2. ANÁLISE SEMÂNTICA DA EXPRESSÃO “REEMBOLSO” ........................................................... 33 4.5.3. INTERPRETAÇÃO EQUIVOCADA DA LEI ................................................................................. 33 4.5.4. DOCUMENTOS OBRIGATÓRIOS PARA REEMBOLSO .............................................................. 34 4.5.5. DESPESAS NÃO COBERTAS .................................................................................................... 35 4.5.6. VEDAÇÃO DA CESSÃO DE DIREITOS ...................................................................................... 36 4.5.7. ESTRUTURA DA CONTESTAÇÃO ............................................................................................ 36 4.6. CORREÇÃO MONETÁRIA ........................................................................................................... 37 4.6.1. DA NÃO INCIDÊNCIA DE CORREÇÃO MONETÁRIA ................................................................ 38 4.6.2. ESTRUTURA DA CONTESTAÇÃO ............................................................................................ 39 4.7. AUSÊNCIA DE COBERTURA ........................................................................................................ 40 4.7.1 ACIDENTE SEM PARTICIPAÇÃO ATIVA DO VEÍCULO .............................................................. 40 4.7.1.1 ESTRUTURA DA CONTESTAÇÃO ............................................................................................ 41 4.7.2 VEÍCULOS NÃO SUJEITOS AO LICENCIAMENTO .................................................................... 41 4.7.3 VEÍCULO ESTRANGEIRO ......................................................................................................... 42 4.7.3.1 ESTRUTURA DA CONTESTAÇÃO ............................................................................................ 42 4.7.4 TRATOR/COLHEITADEIRA/CARRO DE RALLY ......................................................................... 43 4.7.4.1 ESTRUTURA DA CONTESTAÇÃO ............................................................................................ 43 4.7.5 CICLOMOTOR/BICICLETA ELÉTRICA/SIMILARES .................................................................... 44 4.7.5.1 ESTRUTURA DA CONTESTAÇÃO ............................................................................................ 44 4.8 FALTA DE INTERESSE DE AGIR ...................................................................................................44 4.8.1 ESTRUTURA DA CONTESTAÇÃO ............................................................................................ 46 5. Matérias com entendimentos favoráveis ..................................................................................... 47 5.1 APLICAÇÃO DA TABELA ................................................................................................................... 47 5.2 INCIDÊNCIA DE JUROS A PARTIR DA CITAÇÃO ................................................................................ 47 5.3 INAPLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ...................................................... 47 Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 4 1. PROPÓSITO O presente estudo foi elaborado em parceria entre os escritórios prestadores de serviço e as Gerências Jurídicas do Contencioso e Corporativa com o escopo de possibilitar a atuação unificada, estabelecendo uma identidade em assuntos estratégicos para o Seguro DPVAT, e consolidar os entendimentos no judiciário acerca das matérias contidas nos Direcionadores Jurídicos. 2. CONCEITUAÇÃO DE SEGURO O conceito de seguro pode ser analisado por dois vieses: o jurídico e o técnico. Do ponto de vista jurídico, o seguro é um contrato oneroso, uma vez que há transferência do risco de um agente a outro. Do ponto de vista técnico, a atividade do seguro é regida por mutualismo, ou seja, a divisão dos efeitos danosos causados por um são suportados dentro de um grupo de pessoas. A conceituação técnica do seguro pode ser observada na definição de seguro de Manes apud Ferreira (1985) “mútuo auxílio financeiro, em caso de possíveis e fortuitas necessidades, avaliáveis num grande número de existências econômicas ameaças por análogos casos. ”. Pedro Alvim, por sua vez, conceitua o seguro por numa mescla desses vieses: “ O seguro é uma operação pela qual a seguradora recebe dos segurados uma prestação, chamada prêmio, para a formação de um fundo comum por ele administrado e que tem por objetivo garantir o pagamento de uma soma em dinheiro àqueles que foram afetados por um dos riscos previstos. ” (ALVIM, Pedro. O contrato de seguro. Ed. Forense. Rio de Janeiro. 1ª edição, p.64, 2001) Alvim aborda o viés jurídico do seguro ao mencionar o prêmio. Por definição do artigo 757 do Código Civil de 2002, o seguro é um contrato no qual o segurado paga o prêmio e garante que o segurador garanta seu interesse legítimo contra riscos determinados. O estabelecimento de uma relação contratual subentende a obrigação de fazer ou prestar um serviço. O objeto contratual do seguro é a garantia de que eventuais prejuízos serão ressarcidos monetariamente. Há de se pontuar em quais hipóteses o segurador responderá pelos prejuízos oriundos do dano sofrido. Sabe-se que o seguro obrigatório contém regras específicas para cobertura e se faz necessário interpretá-lo sistematicamente com as normas gerais. Não deve ser aplicado de forma isolada, pois funciona como sistema: ordenado e com certa sincronia das características do contrato de um seguro facultativo. As regras gerais devem ser aplicadas – também – ao seguro obrigatório DPVAT. Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 5 O princípio da boa-fé objetiva norteia todo sistema jurídico e deve orientar a interpretação dos contratos. As relações jurídicas devem cingir-se de comportamentos éticos, honestos e leais. Como disposto no artigo 765 do Código Civil, “o segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes ”. Notadamente, a função social está fortemente ligada a esta expectativa de confiança. O objetivo é equilibrar o contrato para que não haja uso indevido ou subtração de direitos. Aliado à premissa da função social, temos que o Seguro DPVAT foi criado para auxiliar vítimas e garantir a segurança jurídica na sociedade como um todo. A lei 6.194/74 dispõe sobre a cobertura de acidentes causados por veículos e/ou sua carga, a pessoas transportadas ou não. Resta claro que, a institucionalização deste conceito é objetivo da sua própria atividade. Pela relevância na dinâmica social, o âmbito de sua atuação é ampliado de forma a ajustar-se com os demais princípios. 3. SEGURO DPVAT O Seguro DPVAT é reconhecido como um relevante instrumento de proteção social, pois oferece cobertura abrangente para todas as vítimas de acidentes de trânsito registrados em território nacional. A Lei 6.194/74 regulamenta o Seguro DPVAT e estabelece as diretrizes para o pagamento das indenizações de sinistros de morte, invalidez permanente e reembolso de despesas médicas e suplementares (DAMS), causados por veículos automotores de via terrestre. Em seu artigo 12, determina a competência do Conselho Nacional de Seguros Privados para expedir normas e disciplinar a matéria. Nesse sentido, a principal regulamentação complementar a ser observada no Seguro DPVAT é a Resolução CNSP nº 332, de 2015. 3.1. FUNÇÃO SOCIAL Os riscos gerados pela circulação de veículos motivaram o legislador a estabelecer uma espécie de seguro, cuja finalidade seria garantir uma indenização mínima às vítimas de acidentes automobilísticos, independente de perquirição acerca de culpa. A Lei 6.194/1974 instituiu no sistema jurídico brasileiro o Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre – DPVAT. Na lição de Sergio Cavalieri Filho, o seguro obrigatório deixou de ser caracterizado como um seguro de responsabilidade civil do proprietário para se transformar em um seguro Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 6 social em que o segurado é indeterminado, só se tornando conhecido quando da ocorrência do sinistro, ou seja, quando assumir a condição de vítima de um acidente automobilístico. Segundo o autor, o proprietário do automóvel, ao contrário do que ocorre no seguro de responsabilidade civil, não é o segurado, mas sim o estipulante em favor de terceiro. Sob esta interpretação, pode-se dizer ainda, conforme o precitado autor, que não há um contrato de seguro propriamente dito, mas uma obrigação legal. Um seguro de responsabilidade social imposto por lei para cobrir os riscos da circulação dos veículos em geral. O seguro obrigatório tem uma conotação social muito elevada, em razão de fazer frente as despesas urgentes das vítimas de acidentes de trânsito. É o seguro que ampara todas as vítimas de acidentes de trânsito ocorridos no Brasil, sejam pedestres, passageiros ou motoristas. O benefício funciona como uma espécie de ajuda para as vítimas de acidentes de trânsito retomarem o curso de suas vidas, o que dá um forte viés social a este seguro. O Seguro DPVAT também é uma importante fonte de custeio do Sistema Único de Saúde (SUS), correspondente a 45% do volume de prêmios apurado pela Seguradora Líder- DPVAT. Essa soma é repassadapor instituição financeira diretamente para o Fundo Nacional de Saúde após o pagamento do seguro pelos proprietários de veículos. Reafirma-se nesse ato que a relevante função social que o Seguro DPVAT cumpre, visto que tais repasses são essenciais para o atendimento às vítimas de acidentes no trânsito nos hospitais públicos ou em unidades privadas que têm convênio com o SUS. De 2008 a 2018 foram repassados ao SUS a quantia expressiva de R$33.370.836.743 (trinta e três bilhões trezentos e setenta milhões oitocentos e trinta e seis mil setecentos e quarenta e três reais). Além disso, 5% da receita do Seguro DPVAT também é repassada pelos bancos diretamente para o Denatran, que por determinação legal deve investir tais valores em campanhas de prevenção de acidentes. Essas campanhas são de extrema importância para conscientização sobre acidentes. Na prática, apenas 50% do valor pago pelos donos de veículos fica com a seguradora para a gestão do seguro e pagamento de indenizações. Pode-se concluir, portanto, que o pagamento do prêmio é fundamental para possibilitar o funcionamento do Seguro DPVAT, auxiliar o tão precário Sistema de Saúde público e realizar estudos e campanhas a fim de evitar novos acidentes de trânsito. Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 7 4. TEMAS RELEVANTES 4.1. ATO ILÍCITO A prática de ato que apresenta atitude contrária ao dever legal de conduta, exonera ao titular do direito violado o dever de indenizar, pois não se mostra razoável que a prática delituosa seja geradora do pagamento da indenização. Como disposto no art. 762 do Código Civil: Art. 762 “ Nulo será o contrato para garantia de risco proveniente de ato doloso do segurado, do beneficiário, ou de representante de um ou de outro”. A resolução nª 332/2015 do Conselho Nacional de Seguros Privados, aborda esta exclusão ao trazer a regra em seu art.2 §3ª: Art. 2º “Os danos pessoais cobertos compreendem as indenizações por morte e por invalidez permanente e o reembolso de Despesas de Assistência Médica e Suplementares – DAMS, observados os valores máximos das Importâncias Seguradas (IS) estabelecidas em Lei. (...) “§ 3º As coberturas a que se refere o caput não incluem danos pessoais causados ao motorista do veículo quando constatada a existência de dolo”. (CONSELHO NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS, Resolução SUSEP nº332/2015) Como qualquer seguro, o DPVAT só ampara riscos lícitos e não decorrentes de atos dolosos, pois o causador do dano não poderá se beneficiar da própria torpeza. 4.1.1. ESPÉCIES DE ATO ILÍCITO 4.1.1.1. EMBRIAGUEZ O art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro contempla o crime denominado “embriaguez ao volante”. A tipificação passou por diversas alterações em detrimento da não aceitação da combinação direção x ingestão de bebida alcóolica. A norma legal tem amparo no rol do Capítulo XIX- Dos Crimes de Trânsito: Art. 306. “Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência: Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor”. (BRASIL. Lei n. 10.406, 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 jan. 2002.) A tipificação do crime passou a ocorrer pela condução de veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa, pouco importando a quantidade no organismo. A tolerância passou a ser zero para Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 8 este tipo de conduta. O assunto vem sendo amplamente divulgado pelas autoridades através de políticas em combate e conscientização da população. Em levantamento divulgado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, ficou demonstrado que o Brasil é considerado o 4ª país com mais mortes no trânsito no mundo. Desta forma, o descumprimento desta norma legal afronta diretamente a segurança jurídica, o direito à vida e a segurança da coletividade, não podendo o Poder Judiciário ratificar e ser omisso quanto a esta prática ilícita. Neste contexto, não há como dissociar a embriaguez ao volante da função social do Seguro DPVAT, que visa minimizar os danos experimentados por vítimas de acidentes. A sociedade não poderá ser lesada diante dos reflexos da prática de um crime. O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento majoritário no sentido da presunção do agravamento do risco quando o condutor do veículo estiver sob a influência de álcool, exceto nos casos em que a vítima comprovar que o sinistro ocorreria independentemente do estado de embriaguez. A jurisprudência: RECURSO ESPECIAL. CIVIL. SEGURO DE AUTOMÓVEL. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. TERCEIRO CONDUTOR (PREPOSTO). AGRAVAMENTO DO RISCO. EFEITOS DO ÁLCOOL NO ORGANISMO HUMANO. CAUSA DIRETA OU INDIRETA DO SINISTRO. PERDA DA GARANTIA SECURITÁRIA. CULPA GRAVE DA EMPRESA SEGURADA. CULPA IN ELIGENDO E CULPA IN VIGILANDO. PRINCÍPIO DO ABSENTEÍSMO. BOA- FÉ OBJETIVA E FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO DE SEGURO. 1. Cinge-se a controvérsia a definir se é devida indenização securitária decorrente de contrato de seguro de automóvel quando o causador do sinistro foi terceiro condutor (preposto da empresa segurada) que estava em estado de embriaguez. 2. Consoante o art. 768 do Código Civil, "o segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato". Logo, somente uma conduta imputada ao segurado, que, por dolo ou culpa grave, incremente o risco contratado, dá azo à perda da indenização securitária. 3. A configuração do risco agravado não se dá somente quando o próprio segurado se encontra alcoolizado na direção do veículo, mas abrange também os condutores principais (familiares, empregados e prepostos). O agravamento intencional de que trata o art. 768 do CC envolve tanto o dolo quanto a culpa grave do segurado, que tem o dever de vigilância (culpa in vigilando) e o dever de escolha adequada daquele a quem confia a prática do ato (culpa in eligendo). 4. A direção do veículo por um condutor alcoolizado já representa agravamento essencial do risco avençado, sendo lícita a cláusula do contrato de seguro de automóvel que preveja, nessa situação, a exclusão da cobertura securitária. A bebida alcoólica é capaz de alterar as condições físicas e psíquicas do motorista, que, combalido por sua influência, acaba por aumentar a probabilidade de produção de acidentes e danos no trânsito. Comprovação científica e estatística. 5. O seguro de automóvel não pode servir de estímulo para a assunção de riscos imoderados que, muitas vezes, beiram o abuso de direito, a exemplo da embriaguez ao volante. A função social desse tipo contratual torna-o instrumento de valorização da segurança viária, colocando-o em posição de harmonia com as leis penais e administrativas que criaram ilícitos justamente para proteger a incolumidade pública no trânsito. Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City TowerCentro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 9 6. O segurado deve se portar como se não houvesse seguro em relação ao interesse segurado (princípio do absenteísmo), isto é, deve abster-se de tudo que possa incrementar, de forma desarrazoada, o risco contratual, sobretudo se confiar o automóvel a outrem, sob pena de haver, no Direito Securitário, salvo-conduto para terceiros que queiram dirigir embriagados, o que feriria a função social do contrato de seguro, por estimular comportamentos danosos à sociedade. 7. Sob o prisma da boa-fé, é possível concluir que o segurado, quando ingere bebida alcoólica e assume a direção do veículo ou empresta-o a alguém desidioso, que irá, por exemplo, embriagar-se (culpa in eligendo ou in vigilando), frustra a justa expectativa das partes contratantes na execução do seguro, pois rompe-se com os deveres anexos do contrato, como os de fidelidade e de cooperação. 8. Constatado que o condutor do veículo estava sob influência do álcool (causa direta ou indireta) quando se envolveu em acidente de trânsito - fato esse que compete à seguradora comprovar -, há presunção relativa de que o risco da sinistralidade foi agravado, a ensejar a aplicação da pena do art. 768 do CC. Por outro lado, a indenização securitária deverá ser paga se o segurado demonstrar que o infortúnio ocorreria independentemente do estado de embriaguez (como culpa do outro motorista, falha do próprio automóvel, imperfeições na pista, animal na estrada, entre outros). 9. Recurso especial não provido.1 Na mesma linha de raciocínio, a Ministra Nancy Andrighi se posicionou da seguinte maneira: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. DENUNCIAÇÃO DA LIDE À SEGURADORA. LITISCONSÓRCIO PASSIVO. AUSÊNCIA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. AUSÊNCIA. MAJORAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. JUROS DE MORA. MARCO INICIAL. SÚMULA 54/STJ. SEGURADORA. RESPONSABILIDADE. CLÁUSULA DE EXCLUSÃO. O propósito recursal é julgar acerca da eficácia da cláusula de exclusão da cobertura securitária na hipótese de o acidente de trânsito ser causado pelo segurado em estado de embriaguez e, ainda, da possibilidade de condenar a seguradora direta e solidariamente ao pagamento da indenização. Tem-se nesse julgamento duas lides distintas: a principal, onde se deve decidir acerca da responsabilidade do autor em reparar a vítima pelo dano causado e a lide secundária, decorrente da denunciação do réu, para decidir sobre a existência de direito de regresso do segurado em face da seguradora. Diante da denunciação da lide à seguradora por parte do segurado, pode a denunciada: (i) aceitar a denunciação e contestar o pedido autoral ou (2) se contrapor à própria existência de direito de regresso do segurado. A aceitação da denunciação da lide e a contestação dos pedidos autorais por parte da seguradora fazem com que esta assuma posição de litisconsorte passivo na demanda principal, podendo ser condenada direta e solidariamente a pagar os prejuízos, nos limites contratados na apólice para a cobertura de danos causados a terceiros. O mesmo raciocínio não se aplica, entretanto, quando a seguradora contesta a existência de direito de regresso do segurado. Nesse contexto, deve o Tribunal julgar a questão em lide secundária. Na espécie se conclui por não ser possível a cobrança direta e solidária da seguradora. É legítima a cláusula que exclui cobertura securitária na hipótese de dano causado por segurado dirigir em estado de embriaguez. A ingestão de álcool conjugada à direção viola a moralidade do contrato de seguro, por ser manifesta ofensa à boa-fé contratual, necessária para devida administração do mutualismo, manutenção do equilíbrio econômico do contrato e, ainda, para que o seguro atinja sua finalidade precípua de minimizar os riscos aos quais estão sujeitos todos os segurados do fundo mutual. A 1 REsp 1485717/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/11/2016, DJe 14/12/2016 Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 10 nocividade da conduta do segurado se intensifica quando há também violação da própria literalidade do contrato, em manifesto descumprimento à pacta sunt servanda, imprescindível para a sustentabilidade do sistema securitário. Contratos de seguro tem impactos amplos em face da sociedade e acabam influenciando o comportamento humano. Por isso mesmo, o objeto de um seguro não pode ser incompatível com a lei. Não é possível que um seguro proteja uma prática socialmente nociva, porque esse fato pode servir de estímulo para a assunção de riscos imoderados, o que contraria o princípio do absenteísmo, também basilar ao direito securitário. A revisão da compensação por danos morais só é viável em recurso especial quando o valor fixado for exorbitante ou ínfimo. Há incidência da Súmula 7/STJ, impedindo o acolhimento do pedido. Parcial provimento.2 Sendo assim, há exclusão da cobertura para o próprio segurado quando restar configurado o estado de embriaguez atestado pela autoridade policial. No entanto, tal isenção não atinge o terceiro prejudicado envolvido no sinistro. 4.1.1.1.1. ESTRUTURA DA CONTESTAÇÃO Demonstrar que, por mais específico seja o Seguro DPVAT, é necessário interpretá- lo em consonância com os demais princípios gerais do Seguro ressaltando a importância da boa-fé objetiva; Ratificar a importância no combate às práticas incompatíveis quando do descumprimento de regras normativas e sociais, e que, de maneira geral, os atos dolosos não podem ser fatos geradores do pagamento do Seguro DPVAT; Chamar atenção para as políticas públicas de tolerância zero na combinação direção x álcool; Ressaltar a função social do Seguro DPVAT; Alegar a tese somente quando a conduta for tipificada no boletim de ocorrência pela autoridade policial; Evidenciar a conduta tipificada no art. 306 do CTB; Destacar o posicionamento do STJ; Fundamentar a impossibilidade de cobertura de acordo com o art. 762 do Código Civil; Corroborar ausência de cobertura para o condutor do veículo e afirmar que a indenização somente é devida para terceiros prejudicados. 2 REsp 1441620/ES, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Rel. p/ Acórdão Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/06/2017, DJe 23/10/2017 Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 11 4.1.1.2. RACHA Prevê o artigo 308 do CTB que participar em via pública de corrida, disputa ou competição na direção de veículo automotor constituiu ato ilícito: Art. 308. “Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente, gerando situação de risco à incolumidade pública ou privada: Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. ”Por se tratar de ato ilícito doloso, a prática de “rachas” afasta a cobertura do Seguro DPVAT conforme decisão exarada pela 5ª Câmara Cível do Tribunal do TJ/RS: “AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DPVAT. INVALIDEZ PERMANENTE. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO OCORRIDO DURANTE A PRÁTICA DE ATO ILÍCITO. RACHA. INDENIZAÇÃO INDEVIDA. I. O seguro obrigatório DPVAT foi criado pela Lei n° 6.194/74 com o fim de ressarcir as vítimas de acidentes de trânsito, sejam elas motoristas, passageiros ou pedestres. No entanto, embora o art. 5°, caput, da aludida lei preveja que a indenização será devida independentemente da apuração de culpa, o seguro DPVAT não alcança as situações em que o acidente decorre da prática de um ato ilícito doloso pela própria vítima. II. No caso concreto, não é devida a indenização do seguro DPVAT, uma vez que o acidente automobilístico do qual resultaram as supostas lesões permanentes ocorreu durante a prática de um racha (disputa automotiva), situação que é considerada crime pelo Código de Transito Brasileiro (art. 308). Aliás, tal alegação sequer foi refutada pelo autor na réplica e nas contrarrazões de apelação. III. Consequentemente, deve ser julgada improcedente a ação, com a inversão do ônus sucumbenciais. APELAÇÃO PROVIDA”. 3 Desta forma, indevida a indenização. Entretanto, a exclusão é ineficaz quanto ao terceiro prejudicado. 4.1.1.2.1. ESTRUTURA DA CONTESTAÇÃO Demonstrar que por mais específico seja o Seguro DPVAT, é necessário interpretá- lo em consonância com os demais princípios gerais do Seguro, ressaltando a importância da boa-fé objetiva; Ratificar a importância no combate às práticas incompatíveis quando do descumprimento de regras normativas e sociais, e que, de maneira geral, os atos dolosos não podem ser fatos geradores do pagamento do Seguro DPVAT; 3 Apelação Cível Nº 70078801412, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge André Pereira Gailhard, Julgado em 26/09/2018 Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 12 Alegar a tese somente quando a conduta for tipificada no boletim de ocorrência pela autoridade policial; Evidenciar a conduta tipificada no art. 308 do CTB; Colacionar decisão do Tribunal local ou afim; Corroborar ausência de cobertura para o condutor do veículo e afirmar que a indenização somente é devida para terceiros prejudicados. 4.1.1.3. FURTO/ROUBO Preceituam sobre os atos ilícitos, respectivamente, os artigos 155 e 157 do Código Penal Brasileiro. O art. 155 define o furto em seu caput: Art. 155 “Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa”. O art. 157 define o roubo, quando há maior potencial ofensivo, também em seu caput: Art.157 “Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa”. De acordo com entendimento do STJ, a prática de ato doloso exclui a cobertura do Seguro DPVAT: CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. INDENIZAÇÃO SECURTIÁRIA. SEGURO OBRIGATÓRIO – DPVAT. FILHOS MENORES DA VÍTIMA QUE PLEITEAM O RECEBIMENTO DA INDENIZAÇÃO. VÍTIMA QUE SE ENVOLVEU EM ACIDENTE DE TRÂNSITO NO MOMENTO DA PRÁTICA DE ILÍCITO PENAL. TENTATIVA DE ROUBO A CARRO-FORTE. 1. Ação ajuizada em 08/04/2011. Recurso especial concluso ao gabinete em 26/08/2016. Julgamento: CPC/73. 2. O propósito recursal é determinar se os recorrentes fazem jus ao recebimento da indenização relativa ao seguro obrigatório – DPVAT, em virtude de acidente de trânsito – ocorrido no momento de prática de ilícito penal (tentativa de roubo a carro-forte) – que teria vitimado seu pai. 3. Não é obstáculo ao conhecimento do recurso o fato de o recorrente ter interposto o recurso especial com fundamento na alínea “c”, e fundamentado a insurgência na ofensa à lei federal, demonstrando ter apenas se equivocado na indicação da alínea fundamentadora do recurso. Precedentes. 4. Embora a Lei 6.194/74 preveja que a indenização será devida independentemente da apuração de culpa, é forçoso convir que a lei não alcança situações em que o acidente provocado decorre da prática de um ato doloso (como, na hipótese, em que o acidente de trânsito ocorreu em meio a tentativa de roubo a carro-forte). 5. Recurso especial conhecido e não provido.4 4 RECURSO ESPECIAL Nº 1.661.120 – RS, Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, Relator: Ministra Nancy Andrighi, j: 09/05/2017 Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 13 Portanto, resta excluída a indenização para os envolvidos no furto/roubo, sendo certo que a exclusão é ineficaz quanto ao terceiro prejudicado. 4.1.1.3.1. ESTRUTURA DA CONTESTAÇÃO Demonstrar que, por mais específico seja o Seguro DPVAT, é necessário interpretá- lo em consonância com os demais princípios gerais do Seguro, ressaltando a importância da boa-fé objetiva; Ratificar a importância no combate às práticas incompatíveis quando do descumprimento de regras normativas e sociais, e que de maneira geral, os atos dolosos não podem ser fatos geradores do pagamento do Seguro DPVAT; Alegar a tese somente quando a conduta for tipificada no boletim de ocorrência pela autoridade policial; Evidenciar a conduta tipificada nos arts. 155 ou 157 do CP; Colacionar decisão do Tribunal local ou do STJ; Corroborar ausência de cobertura para os envolvidos no furto/roubo e afirmar que a indenização somente é devida para terceiros prejudicados, exceto o carona, caso também tenha participado do ilícito. 4.1.1.4. DIRIGIR SEM HABILITAÇÃO CAUSANDO PERIGO DE DANO A conduta de dirigir sem habilitação possui duas previsões no Código de Trânsito Brasileiro. A tipificação varia de acordo com o risco oferecido por consequência dessa conduta. Se o comportamento do motorista não oferece risco a terceiros, trata-se de infração meramente administrativa prevista no art.162, I do CTB. Quando esse comportamento oferece risco concreto à própria segurança ou a segurança alheia, sendo esse risco evidenciado no boletim de ocorrência, torna-se fato típico a constituir infração de trânsito conforme preceitua o art. 309 do CTB: Art. 309. “Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano: Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa”. O Superior Tribunal de Justiça se manifestou quanto ao tema: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. FALTA DE HABILITAÇÃO. MERA INFRAÇÃO. COBERTURA SECURITÁRIA. OBRIGATORIEDADE. TRANSFERÊNCIA DOS SALVADOS. CONSEQUÊNCIA LÓGICA. PARCIAL PROVIMENTO. Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 14 1. Nos termos da jurisprudência desta Corte, a falta de habilitaçãopara dirigir veículos caracteriza-se como mera infração administrativa não configurando, por si só, o agravamento intencional do risco por parte do segurado apto a afastar a obrigação de indenizar da seguradora. Precedentes.5 No XXI Encontro do FONAJE foi aprovado o Enunciado 98, segundo o qual “os crimes previstos nos artigos 309 e 310 da Lei 9.503/1997 são de perigo concreto”. Neste sentido seguem os Tribunais do Rio Grande do Sul e Santa Catarina: AÇÃO DE COBRANÇA. COMPLEMENTAÇÃO DE SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT) POR ACIDENTE DE TRÂNSITO. INVALIDEZ PERMANENTE. RECURSO PRINCIPAL. PRELIMINARES. I - CERCEAMENTO DE DEFESA. AUSÊNCIA DE PROVA SOLICITADA PELA RÉ. DESNECESSIDADE. II - ACIDENTE DE TRÂNSITO. AUSÊNCIA DE HABILITAÇÃO (CNH) DO SEGURADO. FALTA DE LIAME CAUSAL ENTRE A FALTA DE DOCUMENTO AUTORIZADO E O SINISTRO EM QUESTÃO. AGRAVAMENTO DO RISCO. NÃO CONFIGURAÇÃO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. III - RECURSO COM INTUITO PROTELATÓRIO. CONDENAÇÃO DA APELANTE ÀS PENAS DA LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. I - Não importa cerceamento de defesa o julgamento antecipado da lide, quando o feito, apesar versar sobre matéria de fato e de direito, está satisfatoriamente instruído, para quantificação da invalidez permanente nas causas de complementação do seguro obrigatório por acidente de trânsito. II - O fato de o segurado conduzir veículo automotor sem a habilitação necessária prevista pela legislação de trânsito (Lei n. 9.503/97, art. 140) não constitui, por si só, fundamento para ensejar a negativa de repasse do capital previsto na apólice quando não restar cabalmente comprovado o nexo causal entre a ausência do documento e o evento danoso. III - Manifesto o caráter meramente protelatório do recurso, deve a apelante ser condenada às penas da litigância de má-fé, ante sua conduta temerária. Providência tomada de ofício, em atenção ao disposto no art. 18 do CP.6 “Apelação cível. Seguros. DPVAT. Ação de cobrança. Não cobertura securitária, em razão da falta de habilitação para dirigir. Descabimento. O fato do motorista não possuir habilitação constitui infração administrativa, não podendo se presumir em absoluto culpa do condutor. Dever de indenizar configurado. Veículo não licenciado. Descabimento. Súmula 257 do STJ. À unanimidade, negaram provimento ao apelo”.7 5 STJ – AgRg no AREsp 1193207, 4ª t., rel. Min Maria Isabel Galloti, j. em 1.9.2015, DJe 9.9.2015 6 TJSC, Apelação Cível n. 2009.056456-3, de Brusque, rel. Des. Henry Petry Junior, Terceira Câmara de Direito Civil, j. 13-10-2009. 7 Apelação Cível Nº 70078215530, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luís Augusto Coelho Braga, Julgado em 25/10/2018 Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 15 Sem dúvida, o simples fato do autor conduzir veículo automotor sem a devida habilitação não é elemento suficiente para atribuir responsabilidade pela ocorrência do acidente de trânsito. Por este motivo, somente haverá exclusão da cobertura quando a conduta for tipificada no art.309 do CTB. Ficando esclarecido que a ausência da cobertura não atinge terceiros. 4.1.1.4.1. ESTRUTURA DA CONTESTAÇÃO Demonstrar que, por mais específico seja o Seguro DPVAT, é necessário interpretá- lo em consonância com os demais princípios gerais do Seguro ressaltando a importância da boa-fé objetiva; Ratificar a importância no combate a práticas incompatíveis quando do descumprimento de regras normativas e sociais, e que de maneira geral, os atos dolosos não podem ser fatos geradores do pagamento do Seguro DPVAT; Explicar a diferença entre a infração administrativa prevista no art. 162, I e o crime de trânsito tipificado no art. 309 do CTB; Alegar a tese somente quando a conduta do art. 309 do CTB for tipificada pela autoridade policial através do boletim de ocorrência; Colacionar decisão favorável do Tribunal local ou afim; Corroborar ausência de cobertura para o condutor do veículo e afirmar que a indenização somente é devida para terceiros prejudicados. 4.2. PROPRIETÁRIO INADIMPLENTE 4.2.1. IDENTIFICAÇÃO DO PROPRIETÁRIO Para identificação da condição de inadimplência do proprietário, devem ser observadas as seguintes regras: Acessar o site do Seguro DPVAT (https://www.seguradoralider.com.br); Clicar no link “consulta a pagamentos efetuados” (https://www.seguradoralider.com.br/Pages/Consulta-a-Pagamentos- Efetuados.aspx); Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 16 Verificar calendário de pagamento para que seja observado a data do adimplemento (https://www.seguradoralider.com.br/Seguro-DPVAT/Calendario-de-Pagamento); Conferir o banco de dados e verificar se o prêmio relativo à época do sinistro encontra-se quitado. Constatado que o proprietário deixou de liquidar o prêmio do Seguro DPVAT, deve ser utilizada a tabela abaixo: 1- PAGOU ATÉ O VENCIMENTO Independentemente da data do sinistro Cobertura integral 2- NÃO PAGOU DURANTE TODO ANO CIVIL, logo foi reclamado no(s) ano(s) seguinte(s) Independentemente da data do sinistro Indenização compensada (proprietário não recebe indenização) 3- PAGOU APÓS O VENCIMENTO, mas dentro do ano civil 3.1 - Sinistro anterior ao vencimento Cobertura integral 3.2 - Sinistro após o vencimento e após o pagamento do prêmio Cobertura integral 3.3 - Sinistro após o vencimento, mas ANTERIOR ao pagamento do prêmio Indenização compensada (proprietário não recebe indenização) 4- NÃO PAGOU, COM EXERCÍCIO EM CURSO 4.1 - Sinistro anterior ou igual ao vencimento Cobertura integral 4.2 - Sinistro após o vencimento Indenização compensada (proprietário não recebe indenização) 4.2.2. DA INEXISTÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR O seguro obrigatório, apesar de regido por legislação específica, possui relação contratual e figuras comuns ao instituto do seguro, tais como beneficiário, apólice, pagamento de prêmio e etc. Nessa linha, é totalmente inadmissível que aquele que deveria contratar e pagar pelo seguro o deixe de fazer e continue sendo beneficiado por ele. O artigo 763 preceitua expressamente que “não terá direito a indenização o segurado que estiver em mora no pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro antes de sua purgação”. Por sua vez, o artigo o art. 7º, §1º da Lei 6194/74, estabelece que a cobertura securitária somente é possível mediante pagamento do prêmio do seguro DPVAT pelo proprietário do veículo: Art. 7. “A indenização por pessoa vitimada por veículo não identificado, com seguradora não identificada, seguro não realizado ou vencido, será paga nos mesmos valores, condições e prazos dos demais casos por um consórcio constituído, obrigatoriamente, por todas as sociedades seguradoras que operem no seguro objeto desta lei. § 1. O consórcio de que trata este artigo poderá haver regressivamente do proprietário do veículo os valores que desembolsar, ficando o veículo, desde logo, como garantia da obrigação, ainda que vinculada a contrato de alienação fiduciária, reserva de domínio, leasing ou qualquer outro”88 Redação dada pela Lei nº 8.441, de 1992. Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 17 O dispositivo é expresso ao afirmar que a Seguradora pode cobrar diretamente do proprietário inadimplente o valor que pagar pela indenização nesses casos. Logo, não faria sentido efetuar pagamento ao proprietário inadimplente e posteriormente ajuizar ação de regresso para reaver o referido valor. Importante ressaltar que o pagamento das indenizações deve observar as regras estabelecidas pelo CNSP, conforme preconiza o art. 7º, §2º da Lei 6194/74: § 2º “O Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) estabelecerá normas para atender ao pagamento das indenizações previstas neste artigo, bem como a forma de sua distribuição pelas Seguradoras participantes do Consórcio”. Em sua função regulamentadora, o CNSP, por meio do art. 17, §2º da Resolução nº 332/2015 ratifica a necessidade de recolhimento do prêmio para o pagamento da indenização ao proprietário do veículo: §2º. “Se o proprietário do veículo causador do sinistro não estiver com prêmio do Seguro DPVAT pago no próprio exercício civil, e a ocorrência do sinistro for posterior ao vencimento do Seguro DPVAT, não terá direito à indenização”. Ademais, conceder indenização para o proprietário inadimplente é o mesmo que retirar o caráter obrigatório do instituto, bem como estimular a inadimplência do prêmio do seguro DPVAT. Tal conduta poderia, ainda, comprometer futuramente a arrecadação dos prêmios e a finalidade social do Seguro DPVAT, pois tornaria seu pagamento desnecessário, beneficiando o inadimplente em detrimento de toda a coletividade. Repisa-se que, nas hipóteses de inadimplência com o prêmio do Seguro DPVAT, apenas o proprietário do veículo não fará jus ao recebimento da indenização, uma vez que os terceiros que tenham sido vítimas não serão prejudicados e receberão as indenizações, caso preencham todos os requisitos previstos na Lei 6.194/74. 4.2.3. ENUNCIADO Nº 257, DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Nota-se que o enunciado vago da súmula 257 não pode ser aplicado à hipótese aqui tratada, pois a referida súmula não foi editada para abarcar os casos onde o proprietário inadimplente é a própria vítima a ser indenizada. Pelo contrário, a Súmula acima transcrita foi editada após o julgamento de três recursos especiais em que as ações foram propostas por terceiros que não eram proprietários dos veículos envolvidos nos acidentes de trânsito, hipótese diversa do presente caso. Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 18 A simples leitura dos acórdãos que originaram a referida súmula não deixa dúvidas a respeito do tema. No REsp 200838/GO e no REsp 67763/RJ, a demanda foi ajuizada por terceiros envolvidos no acidente e não proprietários do veículo, enquanto que no REsp 144583/SP a ação foi proposta pela beneficiária de indenização por morte, que também não era proprietária do veículo. Portanto, levando em consideração a distinção dos precedentes citados com o caso dos autos, resta evidente a inaplicabilidade do verbete sumular. A esse respeito, confiram-se os precedentes do TJDFT e TJRN, respectivamente: PROCESSO CIVIL. DIREITO CIVIL. APELAÇÃO. SEGURO OBRIGATÓRIO. DPVAT. VÍTIMA - CONDUTOR. INADIMPLENTE. EXCEÇÃO AO ENUNCIADO 257 DA SÚMULA DO STJ. INDENIZAÇÃO INCABÍVEL. SENTENÇA REFORMADA. 1. Nos termos do enunciado no 257 da súmula do STJ, a falta de pagamento do prêmio do seguro obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT) não é motivo para a recusa ao pagamento da indenização. 2. Depreende-se do inteiro teor dos precedentes relacionados ao enunciado sumular que em nenhum dos casos o proprietário inadimplente foi a vítima e o postulante da ação de reparação. 3. Necessário adotar a técnica de distinção (distinguinshing) para estabelecer a tese de que, se o postulante da ação de reparação for o próprio condutor do veículo, em caso de falta de pagamento do prêmio do seguro obrigatório, não lhe será devido o pagamento da indenização. 4. Se a falta de pagamento do prêmio nunca for obstáculo ao recebimento de indenização, o DPVAT perderá seu caráter obrigatório, pois não haverá motivo para pagá-lo. 5. Apelação conhecida e provida.9 DIREITO CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DPVAT. (...) NÃO PAGAMENTO DO PRÊMIO. INADIMPLÊNCIA. BENEFICIÁRIO PROPRIETÁRIO DO VEÍCULO CAUSADOR DO SINISTRO. SÚMULA 257/STJ. RESTRIÇÃO AOS CASOS EM QUE A VÍTIMA É TERCEIRO NÃO RESPONSÁVEL PELO PAGAMENTO DO PRÊMIO. INAPLICABILIDADE À HIPÓTESE DOS AUTOS. CONTEXTO FÁTICO NÃO COINCIDENTE. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 7º, CAPUT E § 1º DA LEI Nº. 6.194/74. IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS. PROVIMENTO DO RECURSO10 Pelo exposto, conclui-se que a Súmula 257/STJ NÃO é aplicável nas hipóteses em que a vítima for o proprietário e se encontrar inadimplente com o pagamento do prêmio. 4.2.3.1 TEORIA CONSTITUCIONAL DO DISTINGUISHING O Código de Processo Civil de 2015, em seus artigos 926 e 927, trata sobre a uniformização de jurisprudência, por meio da teoria dos precedentes. Dentre as técnicas aplicadas na Teoria dos Precedentes, encontra-se o dintinguishing, que tem previsão expressa 9 Acórdão n.1164690, 0738775-78.2017.8.07.0001APC, Relator: SEBASTIÃO COELHO, 5ª TURMA CÍVEL 10 APC 0852029-04.2017.8.20.5001, Relator Des. Ibanez Monteiro, 2ª Câmara Civel Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 19 nos arts.489, §1º, artigo 1037, §§ 9º e seguintes, artigo 1042, §1º, II, artigo 1029, §§ 1º e 2º do Código de Processo Civil. A Teoria Constitucional do Distinguishing é conceituada por Fredie Didier Jr. da seguinte maneira: “Fala-se em distinguishing (ou distinguish) quando houver distinção entre o caso concreto (em julgamento) e o paradigma, seja porque não há coincidência entre os fatos fundamentais discutidos e aqueles que serviram de base à ratio decidendi (tese jurídica) constante no precedente, seja porque, a despeito de existir uma aproximação entre eles, algumas peculiaridades no caso em julgamento afasta a aplicação do precedente”. Nesse sentido, inclusive, temos a lição de Marinoni (Fls. 325), ao afirmar em sua obra que “O distinguishing expressa a distinção entre casos para o efeito de se subordinar, ou não, o caso sob julgamento a um precedente.”11 É de incumbência da parte cotejar os fundamentos determinantes dos julgados apontados como precedente em confronto com sua adequação ao caso concreto e, ao julgador, cabe fundamentar sua decisão para afastar o procedente aplicando o distinguishing. Desta forma, através da aplicação do distinguishing, deve-se buscar a interpretação correta da súmula 257 do STJ, ressaltando que não resta configurado o dever de indenizar o proprietário inadimplente. 4.2.4. ESTRUTURA DA CONTESTAÇÃO Destacar que além da especificidade do Seguro DPVAT, aplicam-se as regras e princípios gerais dos Seguros; Informar que o DPVAT é um segurosocial, e como social, o não pagamento do prêmio, gera impactos nos repasses para o FNS, DENATRAN e nas reservas para liquidação das indenizações e, indenizar o proprietário inadimplente, acaba indiretamente fomentando a inadimplência; Demonstrar que o pagamento do seguro ao proprietário inadimplente viola as normas editadas pelo CNSP, que, por determinação legal, é o órgão regulador do Seguro DPVAT; 11 MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes Obrigatórios. 3ª ed. Ver. Atual. E ampliada – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013 Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 20 Fundamentar a necessidade de pagamento do prêmio de acordo com a legislação vigente: art. 763 do CC, art. 7º, §1º da Lei 6.194,74 e art. 17, §2º da Resolução CNSP nº 332/2015 (esclarecendo a função regulamentadora do CNSP) Demonstrar que os precedentes utilizados para a edição da súmula 257/STJ não envolvem o proprietário do veículo, e sim, a terceiros prejudicados, abordando a teoria do distinguishing; Abordar que a negativa da cobertura é relativa apenas ao proprietário do veículo; Colacionar decisões favoráveis. 4.3. PRESCRIÇÃO A prescrição pode ser definida como a perda de pretensão da reparação do direito violado por inércia do titular do direito no prazo legal. O prazo prescricional das ações de cobrança de seguro de responsabilidade civil obrigatório é trienal, e está previsto no art. 206 do Código Civil. Importante observar a regra de transição prevista no art. 2028 do Código Civil: Art. 2.028 “Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada”. O marco inicial da contagem do prazo prescricional varia de acordo com a natureza do acidente, conforme quadro abaixo: Natureza Termo inicial Morte Data do óbito – desde que haja nexo de causalidade entre o acidente e o óbito DAMS Data do acidente Invalidez permanente notória Data do acidente Invalidez permanente de difícil percepção Data de elaboração do laudo do IML ou de laudo médico particular 4.3.1. CAUSAS INTERRUPTIVAS E SUSPENSIVAS DO PRAZO PRESCRICIONAL O aviso de sinistro suspende o prazo prescricional, que volta a correr no momento da negativa/cancelamento do sinistro. Ressalta-se que a cada novo pedido administrativo haverá um novo marco de suspensão. O entendimento sobre a suspensão do prazo prescricional em razão do pedido administrativo está consolidado no STJ conforme súmula 229: Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 21 Súmula 229. “O pedido do pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo de prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão”. A interrupção da prescrição ocorre em duas hipóteses: havendo citação válida ou pagamento administrativo da indenização. Importante destacar que, diferentemente da suspensão, essa somente pode ocorrer uma vez de acordo com o disposto no art. 202 do Código Civil: “Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se- á: I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; (...) VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor”. Cabe destacar o posicionamento do STJ, no recurso especial n º 1.418.347 representativo de controvérsia: RECURSO ESPECIAL. REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO OBRIGATÓRIO. DPVAT. COMPLEMENTAÇÃO DE VALOR. PRESCRIÇÃO. PRAZO TRIENAL. SÚMULA Nº 405/STJ. TERMO INICIAL. PAGAMENTO PARCIAL. 1. A pretensão de cobrança e a pretensão a diferenças de valores do seguro obrigatório (DPVAT) prescrevem em três anos, sendo o termo inicial, no último caso, o pagamento administrativo considerado a menor. 2. Recurso especial provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução/STJ nº 8/2008.12 4.3.2. MARCO INICIAL NOS SINISTROS DE INVALIDEZ PERMANENTE O entendimento acerca prazo prescricional nos pedidos de indenização por invalidez permanente deve ser analisado em conformidade com o entendimento da súmula 573 do STJ: “Nas ações de indenização decorrente de seguro DPVAT, a ciência inequívoca do caráter permanente da invalidez, para fins de contagem do prazo prescricional, depende de laudo médico, exceto nos casos de invalidez permanente notória ou naqueles em que o conhecimento anterior resulte comprovado na fase de instrução”. A súmula em análise abrange duas situações distintas: invalidez que depende de laudo médico e invalidez notória. Na primeira hipótese, para fins de contagem de prazo deve ser considerado o laudo (particular/IML) que constatou a lesão permanente. Em laudos elaborados 12 STJ – REsp 1.418347/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/04/2015, DJe 15/04/2015. Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 22 após o prazo prescricional, a vítima deve comprovar que esteve em tratamento médico, conforme julgados a seguir: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA - DPVAT - PRESCRIÇÃO - OCORRÊNCIA - SENTENÇA CASSADA - PROCESSO EXTINTO COM RESOLUÇÃO DE MÉRITO - RECURSO PROVIDO. Não sendo demonstrado nos autos que o autor esteve em tratamento médico após o acidente, não deve ser considerado como termo inicial para fluência do prazo prescricional a data do laudo pericial do IML.13 SEGURO DPVAT. INVALIDEZ PERMANENTE. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. DATA DA CIÊNCIA INEQUÍVOCA. SÚMULA 278 DO STJ. LAUDO DO IML. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE TRATAMENTO APÓS ACIDENTE. I - O prazo prescricional para pleitear o pagamento do seguro obrigatório DPVAT é de 03 anos, consignado no art. 206, § 3º, IX do Código Civil de 2002, iniciando-se a fluência da prescrição a partir da data da ciência inequívoca da invalidez permanente, constatada por perícia médica. II - Não sendo demonstrado nos autos que a autora esteve em tratamento médico após o acidente, não deve ser considerado como termo inicial para fluência do prazo prescricional a data do laudo pericial do IML, que atestou a invalidez, pois não é crível que a parte somente tenha tomado ciência da invalidez quase 05 anos após o acidente.14 Na ausência dos documentos comprovando a continuidade do tratamento médico, a prescrição deve ser contada da data do sinistro, pois não se pode permitir que o instituto da prescrição fique à mercê da parte autora elaborar o respectivo laudo. Na hipótese de invalidez notória, o prazo prescricional começa a fluir no momento de sua constatação, que, via de regra, ocorre no momento do sinistro ou logo após, a exemplo da amputação de membro. O entendimento da jurisprudência é pacífico quanto a esta tese, como se pode observar em diversos julgados,a exemplo do Agravo em REsp Nº 1.621.021: AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. SEGURO DPVAT. AÇÃO DE COBRANÇA. 1. OMISSÃO NÃO CONFIGURADA. INVALIDEZ PERMANENTE NOTÓRIA. PRESCRIÇÃO RECONHECIDA. 2. TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO. CIÊNCIA INEQUÍVOCA DO CARÁTER DA INVALIDEZ PERMANENTE QUE DEPENDE DE LAUDO MÉDICO, EXCETO SE A INVALIDEZ FOR NOTÓRIA 3. ALTERAÇÃO DA DECISÃO A QUE CHEGOU O TRIBUNAL ESTADUAL QUANTO AO CASO DOS AUTOS SER DE INVALIDEZ NOTÓRIA. SÚMULA N. 7 DO STJ. 4. AGRAVO INTERNO IMPROVIDO. 1. afasta-se a violação do art. 535 do CPC/73 quando o decisório está claro e suficientemente fundamentado, decidindo integralmente a controvérsia. 2. A jurisprudência deste Tribunal Superior, inclusive firmada em Recurso especial representativo de controvérsia (REsp n.1.388.030/MG), é no sentido de que o termo inicial do praz prescricional, na ação de indenização fundada no Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT), é a data em que o segurado teve ciência inequívoca do caráter Permanente da invalidez. 3. Exceto nos casos de invalidez permanente notória, ou naqueles em que o conhecimento 13AC 0010.11.707890-6/RR, Rel. Des. MAURO CAMPELLO, Câmara Única, j:17/03/2015, DJe 24/03/2015, p. 23-24 14AC: 10338130065240001/MG, Relator: João Câncio, j: 29/04/2014, Câmaras Cíveis/18ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 07/05/2014 Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 23 anterior resulte comprovado na fase de instrução, a ciência inequívoca do caráter permanente da invalidez depende de laudo médico. 4. A reforma do julgado demandaria o reexame do contexto fático-probatório, procedimento vedado na estreita via do recurso especial, a teor da Súmula n. 7 do STJ. 5. Agravo interno improvido.15 As regras acima devem ser observadas para resguardar a finalidade do instituto da prescrição, qual seja, manter a segurança jurídica. 4.3.3. PRESCRIÇÃO DO INCAPAZ O Código Civil, no art. 198, impede a ocorrência de prescrição contra os absolutamente incapazes: “Art. 198. Também não corre a prescrição: I - Contra os incapazes de que trata o art. 3º” Nesse sentido, importante ressaltar que, após as alterações trazidas pela Lei nº 13.146, de 2015 apenas os menores de 16 anos são considerados absolutamente incapazes. A alteração legislativa traz relevante impacto para as ações de indenização por invalidez permanente no que se refere ao prazo prescricional, pois os incisos II e III foram revogados. Art. 3o “São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) I - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) II - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) III - (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) Portanto, não há causa impeditiva de prazo prescricional para as seguintes pessoas: os que por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; e, os que mesmo por causa transitória não puderem exprimir sua vontade. Desta forma, as regras de prescrição devem ser aplicadas sem ressalvas. Uma particularidade a se observar é a situação do menor que era absolutamente incapaz à época do sinistro – quando o prazo prescricional era vintenário - e se tornou relativamente incapaz após transcorridos mais da metade do prazo – passando a ser trienal. Nesse sentido, o STJ reviu seu posicionamento e considera que deve ser observado o prazo vigente à época do sinistro, conforme julgado do STJ: 15 STJ – REsp 1728771/MT 2018/0054092-7, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/03/2018, DJe 18/04/2018. Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 24 RECURSO ESPECIAL. CIVIL. SEGURO DPVAT. BENEFICIÁRIO. MENOR IMPÚBERE. ÉPOCA DO SINISTRO. PRESCRIÇÃO. CONTAGEM. NOVO CÓDIGO CIVIL. PRAZO. REDUÇÃO. REGRA DE TRANSIÇÃO. DIREITO INTERTEMPORAL. TERMO INICIAL. REGRA PROTETIVA. MENORIDADE ABSOLUTA. PREJUÍZO. INAPLICABILIDADE. FINALIDADE DA NORMA. PRESERVAÇÃO. INCOERÊNCIA JURÍDICA. AFASTAMENTO. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. A questão controvertida na presente via recursal consiste em saber se ocorreu a prescrição da ação de cobrança de indenização securitária advinda de seguro obrigatório (DPVAT), considerando a situação do autor, menor impúbere à época do sinistro, ocorrido sob a égide do CC/1916, e as novas regras de prescrição surgidas com a aprovação do CC/2002. 3. Na vigência do Código Civil de 1916, o prazo prescricional para a propositura de ação objetivando a cobrança do seguro obrigatório DPVAT era de 20 (vinte) anos, pois, tratando-se de pretensão de natureza pessoal, aplicava-se o prazo do art. 177 do CC/1916 (Súmula nº 124/TFR). A partir da entrada em vigor do novo Código Civil, o prazo passou a ser trienal, nos termos do art. 206, § 3º, IX, do CC/2002 (Súmula nº 405/STJ). Como houve diminuição do lapso atinente à prescrição, para efeitos de cálculo, deve ser observada a regra de transição de que trata o art. 2.028 do CC/2002 (Enunciado nº 299 da IV Jornada de Direito Civil). 4. Na hipótese, o autor era menor impúbere quando sucedeu o sinistro (acidente de trânsito de seu genitor), de modo que a prescrição não poderia correr em seu desfavor até que completasse a idade de 16 (dezesseis) anos, já que era absolutamente incapaz (art. 169 do CC/1916 e art. 198 do CC/2002). Em outras palavras, seria, em tese, beneficiado com tal norma que prevê uma causa impeditiva do prazo prescricional. 5. Ocorre que, no caso, a aplicação do art. 169 do CC/1916 (art. 198 do CC/2002), norma criada para proteger o menor impúbere, no lugar de lhe beneficiar, vai, na realidade, ser-lhe nociva. Como sabido, a finalidade de tal dispositivo legal é amparar, em matéria de prescrição, os absolutamente incapazes, visto que não podem exercer, por si próprios, ante a tenra idade, os atos da vida civil. 6. O intérprete não deve se apegar simplesmente à letra da lei, mas deve perseguir o espírito da norma, inserindo-a no sistema como um todo, para extrair, assim, o seu sentido mais harmônico e coerente com o ordenamento jurídico. Além disso, nunca se pode perder de vista a finalidade da lei (ratio essendi), isto é, a razão pela qual foi elaborada e os resultados ao bem jurídico que visa proteger (art. 5º da LINDB). De fato, a exegese não pode resultar em um sentido contraditório com o fim colimado pelo legislador. 7. A norma impeditiva do curso do prazo de prescrição aos menores impúberes deve ser interpretada consoante sua finalidade para não gerar contradições ou incoerências jurídicas. É dizer, o intuito protetivo da norma relacionada aos absolutamente incapazes não poderá acarretar situação que acabe por lhes prejudicar, fulminando o exercício de suas pretensões, sobretudo se isso resulta em desvantagem quando comparados com os considerados maiores civilmente. 8. Não pode o autor, menor impúbere àépoca do sinistro, ser prejudicado por uma norma criada justamente com o intuito de protegê- lo, sendo de rigor o afastamento, no caso concreto, do art. 169, I, do CC/1916 (art. 198 do CC/2002), sob pena de as suas disposições irem de encontro à própria mens legis. Precedente da Quarta Turma. 9. Recurso especial não provido.16 Desta forma, considerando a natureza social do Seguro DPVAT e a o intuito protetivo da norma que visa resguardar os interesses do menor, a prescrição não deve ser alegada nesta hipótese. 16 STJ – REsp 1.458694/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/02/2019, DJe 15/02/2019. Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 25 4.3.4. ESTRUTURA DA CONTESTAÇÃO Verificar o prazo prescricional de acordo com a natureza do sinistro; Destacar a data em que a vítima teve ciência inequívoca da invalidez alegada; Caso o lapso temporal entre o laudo e o acidente seja extenso, verificar ser o autor conseguiu comprovar a continuidade tratamento médico; Verificar as causas suspensivas e interruptivas do prazo prescricional; Fundamentar as alegações de acordo com as jurisprudências favoráveis aplicáveis ao caso. 4.4. HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA Os honorários sucumbenciais constituem o montante devido pela parte vencida em ação judicial ao procurador de seu oponente. O arbitramento dos honorários sucumbenciais pauta-se pela justa remuneração dos serviços de advocacia prestados em cada caso específico, e pela garantia da dignidade da profissão, observados os critérios determinados pela legislação processual civil vigente. 4.4.1. INOBSERVÂNCIA DO ART. 85 §2º A matéria referente aos honorários advocatícios sucumbenciais está regulamentada nos artigos 85 e 86 do CPC. O Código de Processo Civil, no art. 85, estabelece que “a sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor” e a regra geral para fixação, entre 10% e 20% sobre o valor da condenação está prevista no § 2º do referido artigo: Art. 85. “§ 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos: I - o grau de zelo do profissional; II - o lugar de prestação do serviço; III - a natureza e a importância da causa; IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço”. O Código de Processo Civil de 1973 previa a fixação dos honorários apenas com base no valor da condenação, mas o Novo Código previu outras bases de cálculo para a fixação dos honorários. Além da “condenação”, deve ser observado, ainda, o proveito econômico ou o valor da causa atualizado, se imensurável. Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 26 Assim, deparando-se com uma condenação liquida, o magistrado deverá se valer do próprio valor da condenação para fixação dos honorários, utilizando a regra geral. Não sendo o caso, deverá o juiz observar o proveito econômico obtido pela parte vencedora. Subsidiariamente, caso as hipóteses acima sejam inviáveis, deverá ser fixado pelo valor atualizado da causa, observados sempre os valores mínimos e máximo (10% e 20%). Por sua vez, o §6º indica que os parâmetros do artigo 85, §2º, devem ser observados independentemente do conteúdo da decisão, consignando, expressamente, as hipóteses de improcedência ou de sentença de extinção, sem resolução de mérito. Ademais, o §8º do artigo 85, permite o arbitramento dos honorários advocatícios pelo critério da equidade, a partir de três hipóteses: causa de proveito econômico inestimável, causa de proveito econômico irrisório ou valor da causa muito baixo. Assim, significa dizer que o instituto da atribuição equitativa (§8º), é restrito apenas as hipóteses verdadeiramente excepcionais, devendo ser aplicado apenas na ausência de qualquer das hipóteses do §2º. Importante lembrar que conforme previsto no rol dos direitos, deveres e responsabilidades do juiz, somente é permitido a aplicação da equidade quando expressamente prevista no Código de Processo Civil: Art. 140 “O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico. Parágraf0o único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei”. Em que pese a aplicação do §8º, do artigo 85, do CPC, em ações de cobrança de indenização do seguro obrigatório DPVAT, a fixação equitativa dos honorários sucumbenciais trata-se de regra subsidiária, tendo cabimento apenas nas hipóteses nas quais a regra do §2º não seja observada. Também há de ser observada a norma prevista no artigo 86 do CPC: “Art. 86. Se cada litigante for, em parte, vencedor e vencido, serão proporcionalmente distribuídas entre eles as despesas. Parágrafo único. Se um litigante sucumbir em parte mínima do pedido, o outro responderá, por inteiro, pelas despesas e pelos honorários”. Nesse sentido, há reiterado entendimento jurisprudencial, inclusive do STJ: Seguradora Líder do Consórcio do Seguro DPVAT S.A. Tel.: (21) 3861-4600 – www.seguradoralider.com.br Rua da Assembleia, 100 / 26º andar – Edifício City Tower Centro, Rio de Janeiro/RJ – CEP 20011-904 27 “Configurada a sucumbência recíproca (art. 86 do CPC/2015), as despesas e o valor total dos honorários devidos aos advogados deverão ser suportados na proporção do decaimento das partes, apurando-se os respectivos valores em liquidação”.17 Trata-se, portanto, de correta aplicação do princípio da sucumbência, imputando-se a cada parte sua responsabilidade por arcar com os ônus sucumbenciais, inclusive os honorários advocatícios, na proporção em que sucumbiu na pretensão deduzida. O STJ já confirmou o entendimento de que os honorários advocatícios só podem ser fixados com base na equidade de forma subsidiária, quando não for possível o arbitramento pela regra geral ou quando inestimável ou irrisório o valor da causa, conforme REsp - 1.746.072: RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. JUÍZO DE EQUIDADE NA FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA. NOVAS REGRAS: CPC/2015, ART. 85, §§ 2º E 8º. REGRA GERAL OBRIGATÓRIA (ART. 85, § 2º). REGRA SUBSIDIÁRIA (ART. 85, § 8º). PRIMEIRO RECURSO ESPECIAL PROVIDO. SEGUNDO RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. 1. O novo Código de Processo Civil - CPC/2015 promoveu expressivas mudanças na disciplina da fixação dos honorários advocatícios sucumbenciais na sentença de condenação do vencido. 2. Dentre as alterações, reduziu, visivelmente, a subjetividade do julgador, restringindo as hipóteses nas quais cabe a fixação dos honorários de sucumbência por equidade, pois: a) enquanto, no CPC/1973, a atribuição equitativa era possível: (a.I) nas causas de pequeno valor; (a.II) nas de valor inestimável; (a.III) naquelas em que não houvesse condenação ou fosse vencida a Fazenda Pública; e (a.IV) nas execuções, embargadas ou não (art. 20, § 4º); b) no CPC/2015 tais hipóteses são restritas às causas: (b.I) em que o proveito econômico for inestimável ou
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