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Informativo 673-STJ (03/07/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
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Informativo 673-STJ 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
DEFENSORIA PÚBLICA 
▪ Havendo convênio entre a Defensoria e a OAB possibilitando a atuação dos causídicos quando não houver defensor 
público para a causa, os honorários podem ser executados nos próprios autos, mesmo se o Estado não tiver 
participado da ação de conhecimento. 
 
DIREITO AMBIENTAL 
CÓDIGO FLORESTAL 
▪ O art. 15 do Código Florestal não se aplica para situações consolidadas antes de sua vigência 
 
DIREITO CIVIL 
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 
▪ Não há condenação em honorários advocatícios em incidente de desconsideração da personalidade jurídica. 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
▪ O ato de vandalismo que resulta no rompimento de cabos elétricos de vagão de trem não exclui necessariamente a 
responsabilidade da concessionária/transportadora. 
 
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA 
▪ O prazo de 5 dias para pagamento da integralidade da dívida é material e, portanto, contado em dias corridos. 
 
AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE 
▪ O juiz deve adotar as medidas do art. 139, IV, do CPC para superar a resistência da pessoa que deveria fornecer o 
material para exame de DNA, mas está se recusando a fazê-lo. 
 
ALIMENTOS 
▪ É possível a realização de acordo com a finalidade de exonerar o devedor do pagamento de alimentos devidos e não pagos. 
▪ É cabível ação de exigir contas pelo alimentante contra a genitora guardiã do alimentado para obtenção de 
informações sobre a destinação da pensão paga, desde que proposta sem a finalidade de apurar a existência de 
eventual crédito 
 
PRISÃO CIVIL 
▪ Como fica a prisão civil do devedor de alimentos durante a pandemia da Covid-19? 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
TRANSPORTE AÉREO 
▪ A indenização decorrente de extravio de bagagem e de atraso de voo internacional está submetida à tarifação 
prevista na Convenção de Montreal? 
 
PLANO DE SAÚDE 
▪ É devida a cobertura, pelo plano de saúde, do procedimento de criopreservação de óvulos de paciente fértil, até a 
alta do tratamento quimioterápico, como medida preventiva à infertilidade. 
▪ Prazo prescricional para cobrar reembolso de plano de saúde (ou de seguro-saúde) é de 10 anos. 
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DIREITO EMPRESARIAL 
FALÊNCIA 
▪ A regra do art. 104, III, da atual Lei de Falências pode ser aplicada para as falências ocorridas antes da sua vigência. 
 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
COMPETÊNCIA 
▪ De quem é a competência para executar a verba honorária sucumbencial arbitrada pelo Juízo da Infância e 
Juventude? 
 
ASPECTOS CÍVEIS 
▪ Em ACP na qual se questiona acolhimento institucional de menor, não é admissível o julgamento de improcedência 
liminar ou o julgamento antecipado do pedido, especialmente quando não há tese jurídica fixada em precedente 
vinculante 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA 
▪ Ainda que citado pessoalmente na fase de conhecimento, é devida a intimação por carta do réu revel, sem 
procurador constituído, para o cumprimento de sentença. 
▪ O acréscimo de 10% de honorários advocatícios, previsto pelo art. 523, § 1º, do CPC/2015, quando não ocorrer o 
pagamento voluntário no cumprimento de sentença, não admite relativização. 
 
EXPROPRIAÇÃO 
▪ Compete ao juízo da execução realizar a alienação judicial eletrônica, ainda que o bem esteja situado em comarca 
diversa. 
 
DIREITO PENAL 
LEI DE DROGAS 
▪ Transportar folhas de coca: crime do art. 33, § 1º, I, da Lei nº 11.343/2006. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
COMPETÊNCIA 
▪ Em regra, compete à Justiça Estadual julgar habeas corpus preventivo destinado a permitir o cultivo e o porte de 
maconha para fins medicinais. 
▪ Os crimes relacionados com pirâmide financeira envolvendo criptomoedas são, em princípio, de competência da 
Justiça Estadual. 
 
PRISÃO 
▪ A Recomendação 62/2020 do CNJ não é aplicável ao acusado que não está privado de liberdade no sistema penal 
brasileiro. 
 
TRABALHO EXTERNO 
▪ Durante a pandemia da Covid-19, os apenados que tiveram suspenso o exercício do trabalho externo, possuem 
direito à prisão domiciliar? 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
PROCESSO TRIBUTÁRIO 
▪ O Secretário de Estado da Fazenda não está legitimado a figurar, como autoridade coatora, em mandados de 
segurança que visa evitar a prática de lançamento fiscal. 
 
 
 
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DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
DEFENSORIA PÚBLICA 
Havendo convênio entre a Defensoria e a OAB possibilitando a atuação dos causídicos quando 
não houver defensor público para a causa, os honorários podem ser executados nos próprios 
autos, mesmo se o Estado não tiver participado da ação de conhecimento 
 
Caso concreto: advogado atuou como defensor dativo em ação de alimentos. Esse advogado 
atuou porque na localidade não há Defensoria Pública e existe um convênio com a OAB para 
que esse serviço seja realizado por advogados que receberão honorários pagos pelo Estado. 
Na sentença, o magistrado arbitrou a verba honorária conforme disposto na tabela do 
convênio. Porém, o Estado pagou só uma parte. 
Neste caso, o STJ afirmou que o advogado poderá executar (cobrar) os honorários do Estado, 
nos próprios autos, mesmo o Estado não tendo participado da ação de conhecimento. 
Se for exigido que os advogados promovam uma ação específica contra a Fazenda Pública para 
poderem receber seus honorários, isso fará com que eles sejam muito resistentes em aceitar 
a função de advogado dativo, porque terão de trabalhar não só na ação para a qual foram 
designados, mas também em outra ação que terão de propor contra a Fazenda Pública. 
O fato de o Estado não ter participado da lide na ação de conhecimento não impede que ele seja 
intimado a pagar os honorários, que são de sua responsabilidade em razão de convênio celebrado 
entre a Defensoria Pública e a Ordem dos Advogados do Brasil, em cumprimento de sentença. 
STJ. Corte Especial. EREsp 1.698.526-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Rel. Acd. Min. Maria Thereza 
de Assis Moura, julgado em 05/02/2020 (Info 673). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Determinado advogado particular atuou como defensor dativo em uma ação de alimentos. 
Esse advogado atuou porque naquele Município não há Defensoria Pública instalada e existe um convênio 
com a OAB para que esse serviço seja realizado por advogados que receberão honorários pagos pelo Estado. 
Na sentença, o magistrado que julgou a ação de alimento arbitrou a verba honorária devida ao advogado 
dativo, conforme disposto na tabela do convênio. Porém, o Estado pagou só uma parte. 
 
Execução nos próprios autos 
Neste caso, o STJ afirmou que o advogado poderá executar (cobrar) os honorários do Estado, nos próprios 
autos, mesmo o Estado não tendo participado da ação de conhecimento (o Estado não era parte na ação 
de alimentos). 
 
Exigir ação específica iria desestimular a participação de dativos 
Se for exigido que os advogados promovam uma ação específica contra a Fazenda Pública para poderem 
receber seus honorários, isso fará com que eles sejam muito resistentes em aceitar a função de advogado 
dativo, porque terão de trabalhar não só na ação para a qual foram designados, mas também em outra 
ação que terão de propor contra a Fazenda Pública. 
O fato de o Estado não ter participado da lide na ação de conhecimento não impede que ele seja intimado 
a pagar os honorários, que são de sua responsabilidade em razão de convênio celebrado entre a 
Defensoria Pública e a Ordem dos Advogados do Brasil,em cumprimento de sentença. 
 
Em suma: 
Havendo convênio entre a Defensoria Pública e a OAB possibilitando a atuação dos causídicos quando 
não houver defensor público para a causa, os honorários advocatícios podem ser executados nos 
próprios autos, mesmo se o Estado não tiver participado da ação de conhecimento. 
STJ. Corte Especial. EREsp 1.698.526-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Rel. Acd. Min. Maria Thereza de 
Assis Moura, julgado em 05/02/2020 (Info 673). 
 
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DIREITO AMBIENTAL 
 
CÓDIGO FLORESTAL 
O art. 15 do Código Florestal não se aplica para situações consolidadas antes de sua vigência 
 
Importante!!! 
O art. 15 da Lei nº 12.651/2012, que admite o cômputo da área de preservação permanente 
no cálculo do percentual de instituição da reserva legal do imóvel, não retroage para alcançar 
situações consolidadas antes de sua vigência. 
Em matéria ambiental, deve prevalecer o princípio tempus regit actum, de forma a não se 
admitir a aplicação das disposições do novo Código Florestal a fatos pretéritos, sob pena de 
retrocesso ambiental. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.646.193-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria, 
julgado em 12/05/2020 (Info 673). 
 
Em que consiste a área de reserva legal? 
Reserva legal é... 
- uma área (uma porção de terra) 
- localizada no interior de um imóvel rural 
- e dentro da qual o proprietário ou possuidor fica obrigado, por força de lei (Lei nº 12.651/2012), 
- a manter a cobertura de vegetação nativa, 
- com a função de: 
• assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, 
• auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos, 
• promover a conservação da biodiversidade e 
• assegurar abrigo e proteção da fauna silvestre e da flora nativa. 
 
Natureza 
A Área de Reserva Legal consiste em uma limitação ao direito de propriedade (limitação administrativa 
existente em função do princípio da função socioambiental da propriedade). 
Trata-se de obrigação “propter rem”, ou seja, é uma obrigação que acompanha a coisa e vincula todo e 
qualquer proprietário ou possuidor de imóvel rural, já que adere ao título de propriedade ou à posse. 
 
Quem tem o dever de preservar a área de reserva legal? Só o proprietário? 
NÃO. A Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação nativa não apenas pelo 
proprietário, como também pelo possuidor ou por qualquer outra pessoa que ocupe, a qualquer título, a 
área, seja ele uma pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado (art. 17, caput). 
 
Admite-se algum tipo de atividade econômica na área de reserva legal? 
SIM. Admite-se a exploração econômica da Reserva Legal mediante manejo sustentável, previamente 
aprovado pelo órgão competente do Sisnama (art. 17, § 1º). 
 
Qual é o tamanho da área de reserva legal? 
Será um percentual do imóvel baseado na região do país onde ele está situado e na natureza da vegetação. 
A Lei nº 12.651/2012 (Código Florestal) prevê os percentuais de cada imóvel rural que deverão ser 
separados e protegidos como área de reserva legal. Veja: 
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Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título 
de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação 
Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel, 
excetuados os casos previstos no art. 68 desta Lei: 
I — localizado na Amazônia Legal: 
a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas; 
b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado; 
c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais; 
II — localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento). 
 
Nos parágrafos do art. 12 estão previstas situações em que é possível alterar o percentual mínimo da área 
de reserva legal. A depender do grau de complexidade do concurso público que você está prestando, vale 
a pena fazer uma leitura desses dispositivos. 
 
Onde fica a área de reserva legal dentro do imóvel rural? Em outras palavras, em um sítio, por exemplo, 
como a pessoa sabe onde está a área de reserva legal? É o proprietário/possuidor que define isso? 
NÃO. A localização da área de Reserva Legal dentro da propriedade ou posse rural deverá ser aprovada 
pelo órgão estadual integrante do SISNAMA ou instituição por ele habilitada, conforme os critérios 
previstos no art. 14 do Código Florestal. 
 
Existem imóveis rurais que não precisam constituir área de reserva legal? 
SIM. Segundo prevê os §§ 6º a 8º do art. 12, não será exigida Reserva Legal para: 
• empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto; 
• áreas adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessão, permissão ou autorização para 
exploração de potencial de energia hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos de geração de 
energia elétrica, subestações ou sejam instaladas linhas de transmissão e de distribuição de energia 
elétrica; 
• áreas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de implantação e ampliação de capacidade de 
rodovias e ferrovias. 
 
Áreas de Preservação Permanente (APP) 
Área de Preservação Permanente (APP) é uma área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com 
a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a 
biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das 
populações humanas (art. 3º, III, da Lei nº 12.651/2012). 
 
Cômputo da APP no percentual da Reserva Legal 
O novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) autorizou que a APP fosse considerada para cálculo do 
percentual da Reserva Legal do imóvel. Veja: 
Art. 15. Será admitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do percentual 
da Reserva Legal do imóvel, desde que: 
I - o benefício previsto neste artigo não implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo 
do solo; 
II - a área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação, conforme 
comprovação do proprietário ao órgão estadual integrante do Sisnama; e 
III - o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no Cadastro Ambiental Rural 
- CAR, nos termos desta Lei. 
 
Essa previsão do art. 15 representou uma “redução de proteção ambiental. Isso porque a legislação 
revogada, em regra, não admitia o computo das áreas de preservação permanente no cálculo da reserva 
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legal, que deviam ser somadas, salvo expressas exceções.” (AMADO, Frederico. Sinopse de Direito 
Ambiental. Salvador: Juspodivm, 2020, p. 177). 
Explicando melhor: 
• legislação anterior: o proprietário teria que proteger a área da Reserva Legal e mais a APP; 
• art. 15 da Lei nº 12.651/2012: na contagem do que é Reserva Legal, já se pode utilizar a APP (diminui a 
área protegida). 
 
Alguns autores alegaram que esse art. 15 do novo Código Florestal seria inconstitucional porque 
implicaria um retrocesso na proteção do meio ambiente, afrontando, portanto, o art. 225 da CF/88. O 
STF acolheu esse argumento? 
NÃO. O STF declarou a constitucionalidade do art. 15 da Lei nº 12.651/2012 tendo em vista que ele está 
de acordo com o “desenvolvimento nacional” (art. 3º, II, da CF/88) e o “direito de propriedade” (art. 5º, 
XXII, da CF/88). 
Confira o trecho daementa do julgado na parte que trata sobre o art. 15 do Código Florestal: 
(...) As Áreas de Preservação Permanente são zonas específicas nas quais se exige a manutenção da 
vegetação, como restingas, manguezais e margens de cursos d´água. Por sua vez, a Reserva Legal é um 
percentual de vegetação nativa a ser mantido no imóvel, que pode chegar a 80% (oitenta por cento) deste, 
conforme localização definida pelo órgão estadual integrante do Sisnama à luz dos critérios previstos no 
art. 14 do novo Código Florestal, dentre eles a maior importância para a conservação da biodiversidade e 
a maior fragilidade ambiental. 
Em regra, consoante o caput do art. 12 do novo Código Florestal, a fixação da Reserva Legal é realizada 
sem prejuízo das áreas de preservação permanente. Entretanto, a incidência cumulativa de ambos os 
institutos em uma mesma propriedade pode aniquilar substancialmente a sua utilização produtiva. 
O cômputo das Áreas de Preservação Permanente no percentual de Reserva Legal resulta de legítimo 
exercício, pelo legislador, da função que lhe assegura o art. 225, § 1º, III, da Constituição, cabendo-lhe 
fixar os percentuais de proteção que atendem da melhor forma os valores constitucionais atingidos, 
inclusive o desenvolvimento nacional (art. 3º, II, da CRFB) e o direito de propriedade (art. 5º, XXII, da CRFB). 
Da mesma forma, impedir o cômputo das áreas de preservação permanente no cálculo da extensão da 
Reserva Legal equivale a tolher a prerrogativa da lei de fixar os percentuais de proteção que atendem da 
melhor forma os valores constitucionais atingidos; Conclusão: Declaração de constitucionalidade do artigo 
15 do Código Florestal; (...) 
STF. Plenário. ADC 42, Rel. Luiz Fux, julgado em 28/02/2018. 
 
Veja como o tema foi cobrado em prova: 
 (Juiz Federal TRF3 2018) Recentemente o Supremo Tribunal Federal concluiu o julgamento das Ações 
Diretas de Constitucionalidade 4901, 4902, 4903, 4937 e da Ação Declaratória de Constitucionalidade 42, 
as quais tratavam de diversos dispositivos da Lei nº 12.651/2012, denominada Código Florestal. De acordo 
com referido julgamento, marque verdadeiro ou falso: 
Embora tenha reconhecido a constitucionalidade da maior parte dos dispositivos do Código Florestal, o 
Supremo Tribunal Federal também admitiu que a redução da área de reserva legal prevista na norma 
estabeleceu um padrão de proteção ambiental inferior ao que existia antes de sua vigência, em afronta 
ao princípio da vedação ao retrocesso e em contrariedade ao artigo 225 da Constituição Federal. (errado) 
 
O art. 15 do Código Florestal pode ser aplicado para situações consolidadas antes de sua vigência? 
NÃO. 
O art. 15 da Lei nº 12.651/2012, que admite o cômputo da área de preservação permanente no cálculo 
do percentual de instituição da reserva legal do imóvel, não retroage para alcançar situações 
consolidadas antes de sua vigência. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.646.193-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria, 
julgado em 12/05/2020 (Info 673). 
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Em matéria ambiental, deve prevalecer o princípio tempus regit actum, de forma a não se admitir a 
aplicação das disposições do novo Código Florestal a fatos pretéritos, sob pena de retrocesso ambiental. 
Nesse sentido: 
(...) o novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, os direitos ambientais 
adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir de tal modo e sem as necessárias compensações 
ambientais o patamar de proteção de ecossistemas frágeis ou espécies ameaçadas de extinção, a ponto 
de transgredir o limite constitucional intocável e intransponível da incumbência do Estado de garantir a 
preservação e a restauração dos processos ecológicos essenciais (...) 
STJ. 2ª Turma. REsp 1728244/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 06/12/2018. 
 
Assim, a instituição da área de reserva legal deve ser feita de acordo com a legislação vigente ao tempo 
da infração ambiental, afastadas as disposições do art. 15 da Lei nº 12.651/2012 caso o fato tenha ocorrido 
antes da sua vigência. 
 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 
Não há condenação em honorários advocatícios em 
incidente de desconsideração da personalidade jurídica 
 
Importante!!! 
Em regra, não é cabível a condenação em honorários advocatícios em qualquer incidente 
processual, ressalvados os casos excepcionais. 
Tratando-se de incidente de desconsideração da personalidade jurídica, não cabe a 
condenação nos ônus sucumbenciais em razão da ausência de previsão legal. Logo, é 
irrelevante apurar quem deu causa ou foi sucumbente no julgamento final do incidente. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.845.536-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, 
julgado em 26/05/2020 (Info 673). 
 
Princípio da autonomia patrimonial 
As pessoas jurídicas são sujeitos de direitos. Isso significa que possuem personalidade jurídica distinta de 
seus instituidores. Assim, por exemplo, não é porque o sócio morreu que, obrigatoriamente, a pessoa 
jurídica será extinta. 
De igual modo, o patrimônio da pessoa jurídica é diferente do patrimônio de seus sócios. 
Ex.1: se uma sociedade empresária possui um veículo, esse automóvel não pertence aos sócios, mas sim 
à própria pessoa jurídica. 
Ex.2: se uma sociedade empresária possui uma dívida, este débito deverá ser pago com os bens da própria 
sociedade, não podendo, para isso, em regra, ser utilizado o patrimônio pessoal dos sócios. 
Vigora, portanto, o princípio da autonomia patrimonial entre os bens do sócio e da pessoa jurídica. 
 
Desconsideração da personalidade jurídica 
O ordenamento jurídico prevê algumas situações em que essa autonomia patrimonial pode ser afastada. 
Tais hipóteses são chamadas de “desconsideração da personalidade jurídica” (disregard of legal entity ou 
teoria do superamento da personalidade jurídica). 
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Quando se aplica a desconsideração da personalidade jurídica, os bens particulares dos administradores 
ou sócios são utilizados para pagar dívidas da pessoa jurídica. 
 
Desconsideração da personalidade jurídica no CC-2002 
A desconsideração da personalidade jurídica, no âmbito das relações civis gerais, está disciplinada no art. 
50 do CC. 
 
Regras processuais sobre a desconsideração da personalidade jurídica 
O CPC/2015, de forma inovadora, trouxe regras para disciplinar o procedimento para a decretação ou não 
da desconsideração da personalidade jurídica no processo. 
O Código previu que essa desconsideração poderá ser postulada de duas formas: 
a) em caráter principal, quando o pedido é formulado já na petição inicial; 
b) em caráter incidental, quando o pedido é feito no curso do processo. 
 
DESCONSIDERAÇÃO REQUERIDA NA INICIAL 
Desconsideração pedida na petição inicial 
O autor, ao ingressar com a ação contra o réu, já requer, na petição inicial, a desconsideração da 
personalidade jurídica. 
Neste caso, não será necessária a instauração de um incidente. 
 
Se o pedido for para desconsideração direta 
Isso significa que a ação é proposta contra a “empresa” (pessoa jurídica), mas o autor já pede, desde logo, 
que seja afastada a autonomia patrimonial e se atinjam os bens dos sócios. 
Logo, a ação é proposta contra a pessoa jurídica e contra os sócios. 
O autor pedirá a citação: 
• da pessoa jurídica, afirmando que ela é a devedora (a pessoa jurídica é que é a devedora “originária”); e 
• dos sócios, argumentando que eles, apesar de não serem devedores da obrigação (não participaram da 
relação obrigacional),são responsáveis pelo pagamento do débito, ou seja, pede-se para atingir o 
patrimônio pessoal dos sócios, mesmo eles não tendo participado da relação obrigacional (ex: quem 
assinou o contrato foi a pessoa jurídica – e não as pessoas físicas). 
 
Veja algumas importantes observações da doutrina: 
“A inicial deve deixar claro que o débito é da empresa e que a pretensão de cobrança está 
direcionada contra ela. O que se pretende em relação ao sócio não é a sua condenação ao 
pagamento do débito, mas o reconhecimento de que ele é responsável patrimonial, uma vez que 
estão preenchidos os requisitos do direito material para a desconsideração da personalidade 
jurídica. Serão dois os pedidos formulados na inicial: o condenatório, de cobrança, dirigido contra 
o devedor; e o de extensão da responsabilidade patrimonial, direcionado contra o sócio e fundado 
no preenchimento dos requisitos do art. 50 do Código Civil ou do art. 28 do CDC. 
(...) 
O sócio será citado, na condição de corréu, para oferecer resposta no prazo de 15 dias (observado o 
art. 229, do CPC). Em sua contestação, deverá defender-se do pedido contra ele direcionado, isto é, 
o de extensão da responsabilidade patrimonial pelo débito da empresa.” (GONÇALVES, Marcus 
Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 257). 
 
Se o pedido na Inicial for para desconsideração “inversa” 
Isso significa que a ação é proposta contra um(uns) do(s) sócio(s), mas o autor já pede, desde logo, que 
seja afastada a autonomia patrimonial e se atinjam os bens da pessoa jurídica. 
Logo, a ação é proposta contra o sócio e contra a pessoa jurídica. 
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O autor pedirá a citação: 
• do sócio (que era o devedor “originário”); e 
• da pessoa jurídica, sob o argumento de que ela, mesmo não tendo participado da relação de direito 
material, deverá responder pelo débito. 
 
Não é necessária intervenção de terceiros 
Vale esclarecer que o sócio (no caso de desconsideração direta) ou a pessoa jurídica (desconsideração 
inversa) não serão considerados “terceiros”, mas sim réus, tendo sido citados desde o início. 
Logo, a desconsideração da personalidade jurídica pedida na petição inicial não acarreta a intervenção de 
terceiros. 
 
O que se alega na contestação? 
Enunciado 248-FPPC: Quando a desconsideração da personalidade jurídica for requerida na petição inicial, 
incumbe ao sócio ou à pessoa jurídica, na contestação, impugnar não somente a própria desconsideração, 
mas também os demais pontos da causa. 
 
Pedido decidido na sentença 
As pessoas citadas deverão apresentar contestação refutando os argumentos do autor e, ao final, na 
própria sentença, o juiz decidirá se é procedente ou não o pedido de desconsideração. 
Trata-se, portanto, de um dos pedidos da ação. 
Se o juiz acolher, significa que, além de condenar a pessoa jurídica reconhecendo que ela é devedora da 
relação jurídica de direito material, também condenará o(s) sócio(s) como responsável(eis) pelo débito da 
pessoa jurídica. 
Vale ressaltar que o pedido de desconsideração formulado na petição inicial não acarreta a suspensão do 
processo. 
 
Recurso 
O sócio ou pessoa jurídica atingidos pela desconsideração, caso não se conformem com a decisão, deverá 
interpor apelação. 
Enunciado 390 FPPC: Resolvida a desconsideração da personalidade jurídica na sentença, caberá apelação. 
 
Previsão no CPC/2015 
O Código dedicou um único dispositivo para tratar sobre o tema: 
Art. 134 (...) 
§ 2º Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade jurídica for 
requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica. 
 
 (Analista Judiciário TRF2 2019 FCC) Renato ajuizou ação de cobrança contra ZWXY Construções Ltda., 
requerendo, na própria petição inicial, a desconsideração da sua personalidade jurídica, com a 
demonstração preliminar do preenchimento dos pressupostos legais específicos. Nesse caso, de acordo 
com o Código de Processo Civil, dispensa-se a instauração do incidente de desconsideração da 
personalidade jurídica e o processo não será suspenso. (certo) 
 
INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE DA PESSOA JURÍDICA 
Processo em curso 
Algumas vezes, o processo já está em curso quando, então, o credor percebe que não irá conseguir receber 
o valor pretendido do devedor e que estão presentes os requisitos para a desconsideração da 
personalidade jurídica. 
Neste caso, o pedido de desconsideração será formulado como um incidente do processo. 
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Haverá uma intervenção de terceiros provocada, considerando que o credor pedirá para trazer à lide uma 
pessoa que originalmente não figurava no polo passivo. 
 
Quem pode iniciar o incidente 
O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será sempre instaurado a pedido. 
Este pedido poderá ser feito: 
• pela parte; ou 
• pelo Ministério Público (quando lhe couber intervir no processo). 
 
Obs: o juiz não pode instaurar de ofício. 
 
Pressupostos 
O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específicos para 
desconsideração da personalidade jurídica. 
Esses pressupostos estão previstos no “direito material” (art. 50 do Código Civil, art. 28 do CDC, art. 34 da 
Lei nº 12.529/2011 etc.). 
 
 (Analista Judiciário TRF4 2019 FCC) Tereza ajuizou ação de indenização contra a empresa “XPTO 
Comércio de Produtos de Informática Ltda”. Ainda na fase instrutória do processo, requereu a instauração 
de incidente de desconsideração da personalidade jurídica. Nesse caso, o juiz deverá deferir o pedido, 
suspendendo o processo, desde que o requerimento tenha demonstrado o preenchimento dos 
pressupostos legais específicos para a desconsideração da personalidade jurídica. (certo) 
 
Admitido em todas as espécies de processo 
O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no 
cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial. 
 
 (Analista Ministerial MPC/PA 2019 CEBRASPE) Com vistas a suspender episodicamente a eficácia do ato 
constitutivo de determinada empresa, João, credor de um dos sócios do empreendimento, ajuizou 
incidente de desconsideração da personalidade jurídica para tentar atingir a cota-parte do sócio devedor. 
Caso a ação de cobrança de João esteja em fase de cumprimento de sentença, o juiz deverá inadmitir o 
incidente. (errado) 
 
Importante destacar que o incidente de desconsideração da personalidade jurídica aplica-se também a 
processos de competência dos juizados especiais (art. 1.062 do CPC/2015) 
 
Enunciado 247 FPPC: Aplica-se o incidente de desconsideração da personalidade jurídica no processo 
falimentar. 
 
Incidente instaurado originariamente perante o Tribunal 
Vale ressaltar que o incidente de desconsideração pode ser pedido tanto em processos que tramitam na 
1ª instância como também pode ser requerido originalmente no Tribunal. 
Se a desconsideração for pedida em processo que está tramitando no Tribunal, ela será decidida 
monocraticamente pelo Relator: 
Art. 932. Incumbe ao relator: 
(...) 
VI - decidir o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, quando este for instaurado 
originariamente perante o tribunal; 
 
 
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Suspensão do processo 
A instauração do incidente suspenderá o processo.Assim, com o pedido de instauração, suspende-se o processo, suspensão esta que perdurará até a decisão 
que resolver o incidente. 
 
Procedimento 
1) A instauração do incidente é pedida pela parte ou pelo Ministério Público. 
2) O juiz admite a instauração e determina a suspensão do processo. 
3) No caso de desconsideração direta, será realizada a citação do sócio. Em se tratando de 
desconsideração inversa, será determinada a citação da pessoa jurídica. 
4) Depois da citação, o sócio ou a pessoa jurídica terão 15 dias para se manifestar e requerer as provas 
que entender necessárias. 
5) Havendo necessidade, será realizada instrução probatória (oitiva de testemunhas, perícia etc.). 
6) Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória. 
 
A instauração do incidente de desconsideração gera, por si só, a necessidade de oitiva do MP? 
NÃO. É desnecessária a intervenção do Ministério Público, como fiscal da ordem jurídica, no incidente de 
desconsideração da personalidade jurídica, salvo nos casos em que deva intervir obrigatoriamente, 
previstos no art. 178 do CPC/2015 (Enunciado 123 do FPPC). 
 
Recurso 
• Se o incidente tramitou em 1ª instância (pedido foi decidido pelo juiz de 1º grau): a parte prejudicada 
poderá interpor agravo de instrumento (art. 1.015, IV). 
• Se o incidente tramitou originalmente no Tribunal (pedido foi decidido monocraticamente pelo Relator): 
cabe agravo interno (art. 136, parágrafo único). 
 
Acolhimento da desconsideração e alienação ou oneração de bens 
Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens ocorrida em fraude de execução 
será ineficaz em relação ao requerente (art. 137). 
 
INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João ajuizou ação de cobrança contra a empresa FS Ltda. 
A sentença julgou o pedido procedente, condenando a ré a pagar R$ 100 mil. 
Em cumprimento de sentença, não foram localizados bens penhoráveis da empresa. 
Diante disso, João requereu a instauração do incidente de desconsideração da personalidade jurídica a 
fim de que fossem alcançados os bens pessoais dos sócios da empresa, Fernando e Sandra. 
Os sócios foram citados e se manifestaram. 
Foram ouvidas testemunhas. 
Concluída a instrução, o juiz entendeu que as alegações de João não foram provadas e rejeitou o pedido 
de desconsideração. 
 
Fernando e Sandra tiveram que contratar advogado para se defenderem no incidente. Indaga-se: João, 
que foi sucumbente no incidente, será condenado a pagar honorários advocatícios? 
NÃO. Isso porque não há condenação em honorários advocatícios em incidente de desconsideração da 
personalidade jurídica. Vamos entender. 
 
O art. 85 do CPC/2015, ao tratar sobre os honorários advocatícios, afirma: 
Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. 
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O caput do art. 136 do CPC, por sua vez, prevê expressamente que o incidente de desconsideração da 
personalidade jurídica é resolvido por decisão interlocutória, e não sentença: 
Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória. 
 
No § 1º do art. 85, o legislador excepcionou alguns casos em que são devidos honorários, embora não se 
trate de sentença. Assim, quando o legislador quis, previu honorários para algumas decisões 
interlocutórias: 
Art. 85 (...) 
§ 1º São devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumprimento de sentença, 
provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos interpostos, 
cumulativamente. 
 
Nesse rol não está incluído o incidente de desconsideração da personalidade jurídica. Logo, não cabe a 
condenação em honorários advocatícios. 
 
Em suma: 
Não há condenação em honorários advocatícios em incidente de desconsideração da personalidade jurídica. 
Em regra, não é cabível a condenação em honorários advocatícios em qualquer incidente processual, 
ressalvados os casos excepcionais. 
Tratando-se de incidente de desconsideração da personalidade jurídica, não cabe a condenação nos 
ônus sucumbenciais em razão da ausência de previsão legal. Logo, é irrelevante apurar quem deu causa 
ou foi sucumbente no julgamento final do incidente. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.845.536-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado 
em 26/05/2020 (Info 673). 
 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
O ato de vandalismo que resulta no rompimento de cabos elétricos de vagão de trem não exclui 
necessariamente a responsabilidade da concessionária/transportadora 
 
Importante!!! 
Caso concreto: houve uma explosão elétrica no vagão de trem durante o transporte, o que 
gerou tumulto e pânico entre os passageiros. Essa explosão decorreu de ato de vandalismo. 
Mesmo que o dano tenha sido decorrente de uma conduta de terceiro, persiste a 
responsabilidade da concessionária. Isso porque a conduta do terceiro, neste caso, está 
inserida no risco do transportador, relacionando-se com a sua atividade. Logo, configura o 
chamado fortuito interno, que não é capaz de excluir a responsabilidade. 
O contrato de transporte de passageiros envolve a chamada cláusula de incolumidade, 
segundo a qual o transportador deve empregar todos os expedientes que são próprios da 
atividade para preservar a integridade física do passageiro, contra os riscos inerentes ao 
negócio, durante todo o trajeto, até o destino final da viagem. 
Assim, o ato de vandalismo que resulta no rompimento de cabos elétricos de vagão de trem 
não exclui a responsabilidade da concessionária/transportadora, pois cabe a ela cumprir 
protocolos de atuação para evitar tumulto, pânico e submissão dos passageiros a mais 
situações de perigo. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.786.722-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/06/2020 (Info 673). 
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Imagine a seguinte situação: 
João estava indo para o trabalho em um trem da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), na 
cidade de São Paulo/SP. 
Um vândalo conseguiu arremessar um cabo de aço sobre o trem. Isso gerou o rompimento dos cabos 
elétricos do vagão, causando curto-circuito e explosões elétricas no vagão em que João estava. 
Não houve explicações aos passageiros acerca da gravidade da situação e das medidas de segurança a 
serem adotadas. 
João e os demais passageiros entraram em pânico, forçaram a abertura das portas de emergência e 
saltaram para fora do vagão, de uma altura superior a 1m e 70cm, no trajeto entre duas estações. 
Com a queda, João ficou imobilizado por causa de uma grave dor no quadril, com isso, no meio da 
confusão, várias pessoas o pisotearam, além de ter que sentir o cheiro de fumaça e ouvir pedidos de 
socorro desesperados. 
Diante disso, João ajuizou ação de indenização por danos morais contra a CPTM. 
A concessionária contestou a demanda alegando que o evento danoso foi causado por ato doloso de 
terceiro, estranho ao seu quadro de funcionários, tendo sido um ato de vandalismo. 
Argumentou que essa situação configura fortuito externo que não se inclui no risco inerente da prestação 
do serviço. 
 
O que o STJ decidiu sobre o caso? A concessionária deverá indenizar o passageiro? 
SIM. 
 
Contrato de transporte de pessoas 
O transporte de pessoas consiste em contrato pelo qual o transportador se obriga a transportar, com 
segurança e presteza, pessoas e suas bagagens, de um ponto a outro, mediante o pagamento da 
passagem. 
 
Cláusula de incolumidade 
Existe uma cláusula que está implícita nos contratos de transporte. Trata-se da chamada“cláusula de 
incolumidade”, segundo a qual se impõe ao transportador, mesmo que implicitamente, o dever de zelar 
pela incolumidade do passageiro, levando-o, a salvo e em segurança, até o local de destino. 
Conforme explica Sérgio Cavalieri Filho, “a característica mais importante do contrato de transporte é a 
cláusula de incolumidade que nele está implícita. A obrigação do transportador não é apenas de meio, e 
não só de resultado, mas também de segurança. Não se obriga ele a tomar as providências e cautelas 
necessárias para o bom sucesso do transporte; obriga-se pelo fim, isto é, garante o bom êxito” (Programa 
de Responsabilidade Civil. São Paulo: Atlas, 12ª ed., 2015, p. 398). 
 
Responsabilidade objetiva do transportador 
O art. 734 do Código Civil estabelece, inclusive, a responsabilidade objetiva do transportador pelos danos 
causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força maior: 
Art. 734. O transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas 
bagagens, salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da 
responsabilidade. 
Parágrafo único. É lícito ao transportador exigir a declaração do valor da bagagem a fim de fixar o 
limite da indenização. 
Art. 735. A responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro não é 
elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva. 
 
 
 
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Teoria do risco criado 
O transportador possui responsabilidade civil objetiva, com base na chamada teoria do risco criado, que 
está prevista no art. 927, parágrafo único, do Código Civil: 
Art. 927. (...) 
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos 
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano 
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 
 
Fato de terceiro como excludente do nexo de causalidade 
Apesar de a responsabilidade ser objetiva, é possível que o fato de terceiro seja uma causa excludente de 
responsabilidade quando houver rompimento do nexo causal. 
Vale ressaltar, no entanto, que o fato de terceiro somente será caracterizado como excludente de 
responsabilidade quando ele for inteiramente independente ao transporte em si, afastando-se, com isso, 
a responsabilidade da empresa transportadora por danos causados aos passageiros. 
Assim, no que concerne à culpa de terceiro, a doutrina e a jurisprudência são unânimes no sentido de 
somente reconhecer o rompimento do nexo causal quando a conduta praticada pelo terceiro não 
apresentar qualquer relação com a organização do negócio e os riscos da atividade desenvolvida pelo 
transportador. Diz-se, nessa hipótese, que o fato de terceiro se equipara ao fortuito externo, apto a elidir 
a responsabilidade do transportador. Veja: 
Fortuito INTERNO Fortuito EXTERNO 
Está relacionado com a organização da empresa. 
É um fato ligado aos riscos da atividade 
desenvolvida pelo fornecedor. 
Não está relacionado com a organização da 
empresa. 
É um fato que não guarda nenhuma relação de 
causalidade com a atividade desenvolvida pelo 
fornecedor. 
É uma situação absolutamente estranha ao 
produto ou ao serviço fornecido. 
Ex1: o estouro de um pneu do ônibus da empresa 
de transporte coletivo; 
 
Ex2: racker invade o sistema do banco e consegue 
transferir dinheiro da conta de um cliente; 
 
Ex3: durante o transporte da matriz para uma das 
agências, ocorre um roubo e são subtraídos 
diversos talões de cheque (trata-se de um fato que 
se liga à organização da empresa e aos riscos da 
própria atividade desenvolvida). 
Ex1: assalto à mão armada no interior de ônibus 
coletivo (não é parte da organização da empresa 
de ônibus garantir a segurança dos passageiros 
contra assaltos); 
 
Ex2: um terremoto faz com que o telhado do 
banco caia, causando danos aos clientes que lá 
estavam. 
O fortuito interno NÃO exclui a obrigação do 
fornecedor de indenizar o consumidor. 
O fortuito externo é uma causa excludente de 
responsabilidade. 
 
Desse modo, o fato de terceiro pode ser: 
• fortuito externo: apto à exclusão do dever de indenizar do transportador; 
• fortuito interno: quando se insere dentre os riscos inerentes à prestação do serviço, atraindo a 
responsabilidade da empresa de transportes. 
 
A análise é casuística, sendo necessário avaliar, na hipótese trazida a julgamento, se o dano sofrido pelo 
passageiro extrapola ou não os limites da cláusula de incolumidade do contrato. 
 
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Exemplos nos quais o STJ reconheceu que o fato de terceiro era causa excludente da responsabilidade 
(fortuito EXTERNO): 
• dano sofrido pelo passageiro em virtude de uma pedra que foi arremessada contra o ônibus ou trem 
(AgInt nos EREsp 1.325.225/SP, DJe de 19/09/2016); 
• assalto a mão armada no interior do veículo de transporte coletivo (AgRg no REsp 620.259/MG, DJe de 
26/10/2009); 
• assalto a mão armada nas dependências da estação metroviária (REsp 974.138/SP, DJe de 09/12/2016); 
• morte de usuário do transporte coletivo, vítima de “bala perdida” (AgRg no REsp 1.049.090/SP, DJe de 
19/08/2014); 
• danos decorrentes de explosão de bomba em composição de trem (AgRg nos EDcl nos EREsp 
1.200.369/SP, DJe de 16/12/2013). 
 
Caso concreto 
Para o STJ, o ato de vandalismo não foi a causa única e exclusiva da ocorrência do abalo moral sofrido pelo 
autor, pois outros fatores, como o tumulto decorrente da falta de informações sobre a causa, gravidade e 
precauções a serem tomadas pelos passageiros diante das explosões elétricas no vagão de trem que os 
transportava, aliada à falta de socorro às pessoas que se jogavam às vias férreas, contribuíram para o 
abalo psicológico. 
Assim, o suposto ato de vandalismo foi apenas um dos fatores causais relacionados ao dano moral sofrido. 
 
Não confundir 
O caso acima explicado é diferente da hipótese na qual o ato de terceiro é a exclusiva causa do dano, 
caracterizando causa absolutamente independente do risco envolvido na prestação do serviço de 
transporte. Exemplos nos quais o STJ já reconheceu que se trata de fortuito externo e, portanto, causa 
excludente de responsabilidade: 
• passageiro que é atingido por objeto arremessado por terceiro, de fora trem (AgInt nos EREsp 
1.325.225/SP); 
• usuário do transporte coletivo que é vítima de “bala perdida” (AgRg no Resp 1.049.090/SP); 
• danos decorrentes de explosão de bomba em composição de trem (AgRg nos EDcl nos EREsp 
1.200.369/SP). 
 
Em suma: 
Mesmo que o dano tenha sido decorrente de uma conduta de terceiro, persiste a responsabilidade da 
concessionária. Isso porque a conduta do terceiro, neste caso, está inserida no risco do transportador, 
relacionando-se com a sua atividade. Logo, configura o chamado fortuito interno, que não é capaz de 
excluir a responsabilidade. 
O contrato de transporte de passageiros envolve a chamada cláusula de incolumidade, segundo a qual 
o transportador deve empregar todos os expedientes que são próprios da atividade para preservar a 
integridade física do passageiro, contra os riscos inerentes ao negócio, durante todo o trajeto, até o 
destino final da viagem. 
Assim, o ato de vandalismo que resulta no rompimento de cabos elétricos de vagão de trem não exclui 
a responsabilidade da concessionária/transportadora, pois cabe a ela cumprir protocolos de atuação 
para evitar tumulto, pânico e submissão dos passageiros a mais situações de perigo. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.786.722-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/06/2020 (Info 673).Informativo 
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ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA 
O prazo de 5 dias para pagamento da integralidade da dívida é material 
e, portanto, contado em dias corridos 
 
Importante!!! 
O prazo de cinco dias para pagamento da integralidade da dívida, previsto no art. 3º, § 2º, do 
Decreto-Lei nº 911/1969, deve ser considerado de direito material, não se sujeitando, assim, 
à contagem em dias úteis, prevista no art. 219, caput, do CPC/2015. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.770.863-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/06/2020 (Info 673). 
 
Alienação fiduciária 
“A alienação fiduciária em garantia é um contrato instrumental em que uma das partes, em confiança, 
aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira, em 
regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a ocorrência de 
determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: 
Método, 2012, p. 565). 
 
Regramento 
O Código Civil de 2002 trata de forma genérica sobre a propriedade fiduciária em seus arts. 1.361 a 1.368-
B. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o tema: 
• alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei nº 9.514/97; 
• alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de capitais: Lei nº 4.728/65 e 
Decreto-Lei nº 911/69. É o caso, por exemplo, de um automóvel comprado por meio de financiamento 
bancário com garantia de alienação fiduciária. 
 
Nas hipóteses em que houver legislação específica, as regras do CC aplicam-se apenas de forma subsidiária: 
Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade fiduciária submetem-
se à disciplina específica das respectivas leis especiais, somente se aplicando as disposições deste 
Código naquilo que não for incompatível com a legislação especial. 
 
Resumindo: 
Alienação fiduciária de 
bens MÓVEIS fungíveis e 
infungíveis quando o credor 
fiduciário for instituição 
financeira 
Alienação fiduciária de 
bens MÓVEIS infungíveis 
quando o credor fiduciário for 
pessoa natural ou jurídica (sem 
ser banco) 
Alienação fiduciária de 
bens IMÓVEIS 
Lei nº 4.728/65 
Decreto-Lei nº 911/69 
Código Civil de 2002 
(arts. 1.361 a 1.368-B) 
Lei nº 9.514/97 
 
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS MÓVEIS NO DL 911/69 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Antônio quer comprar um carro de R$ 30.000,00, mas somente possui R$ 10.000,00. Antônio procura o 
Banco “X”, que celebra com ele contrato de financiamento com garantia de alienação fiduciária. 
Assim, o Banco “X” empresta R$ 20.000,00 a Antônio, que compra o veículo. Como garantia do pagamento 
do empréstimo, a propriedade resolúvel do carro ficará com o Banco “X” e a posse direta com Antônio. 
Em outras palavras, Antônio ficará andando com o carro, mas, no documento, a propriedade do automóvel 
é do Banco “X” (constará “alienado fiduciariamente ao Banco X”). Diz-se que o banco tem a propriedade 
resolúvel porque, uma vez pago o empréstimo, a propriedade do carro pelo banco “resolve-se” (acaba) e 
o automóvel passa a pertencer a Antônio. 
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O que acontece em caso de inadimplemento do mutuário (em nosso exemplo, Antônio)? 
Havendo mora por parte do mutuário, o procedimento será o seguinte (regulado pelo DL 911/69): 
 
Notificação do devedor 
O credor deverá fazer a notificação extrajudicial do devedor de que este se encontra em débito, 
comprovando, assim, a mora. Essa notificação é indispensável para que o credor possa ajuizar ação de 
busca e apreensão. Confira: 
Súmula 72-STJ: A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado 
fiduciariamente. 
 
Súmula 245-STJ: A notificação destinada a comprovar a mora nas dívidas garantidas por alienação 
fiduciária dispensa a indicação do valor do débito. 
 
Como é feita a notificação do devedor? Essa notificação precisa ser realizada por intermédio do Cartório 
de Títulos e Documentos? 
NÃO. Essa notificação é feita por meio de carta registrada com aviso de recebimento. Logo, não precisa 
ser realizada por intermédio do Cartório de RTD. 
 
O aviso de recebimento da carta (AR) precisa ser assinado pelo próprio devedor? 
NÃO. Não se exige que a assinatura constante do aviso de recebimento seja a do próprio destinatário (§ 
2º do art. 2º do DL 911/69). 
Para a constituição em mora por meio de notificação extrajudicial, é suficiente que seja entregue no 
endereço do devedor, ainda que não pessoalmente. 
 
Ajuizamento de ação contra o devedor 
Após comprovar a mora, o mutuante (Banco “X”) terá duas opções: 
1) poderá ingressar com uma ação de busca e apreensão requerendo que lhe seja entregue o bem (art. 3º 
do DL 911/69). Essa busca e apreensão prevista no DL 911/69 é uma ação especial autônoma e 
independente de qualquer procedimento posterior; ou 
2) ajuizar uma ação de execução (arts. 4º e 5º do DL 911/69). 
 
Vale ressaltar que as ações de busca e apreensão e de execução não podem ser ajuizadas 
concomitantemente (STJ REsp 576.081/SP). Caberá, portanto, ao credor fiduciário optar pelo ajuizamento 
de apenas uma delas. 
Na esmagadora maioria dos casos, o mutuante prefere ingressar com a ação de busca e apreensão porque 
é muito mais vantajosa e eficiente do que propor uma execução. 
Vamos assim imaginar que o Banco “X” ingressou com uma ação de busca e apreensão contra Antônio. 
Vejamos abaixo o que acontece: 
 
Concessão da liminar 
O juiz concederá a busca e apreensão de forma liminar (sem ouvir o devedor), desde que comprovada a 
mora ou o inadimplemento do devedor (art. 3º do DL 911/69). 
 
Possibilidade de pagamento integral da dívida 
No prazo de 5 dias após o cumprimento da liminar (apreensão do bem), o devedor fiduciante poderá pagar a 
integralidade da dívida pendente, segundo os valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese 
na qual o bem lhe será restituído livre do ônus (§ 2º do art. 3º do DL 911/69). Veja o dispositivo legal: 
Art. 3º (...) 
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§ 1º Cinco dias após executada a liminar mencionada no caput, consolidar-se-ão a propriedade e 
a posse plena e exclusiva do bem no patrimônio do credor fiduciário, cabendo às repartições 
competentes, quando for o caso, expedir novo certificado de registro de propriedade em nome 
do credor, ou de terceiro por ele indicado, livre do ônus da propriedade fiduciária. (Redação dada 
pela Lei 10.931/2004) 
§ 2º No prazo do § 1º, o devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da dívida pendente, 
segundo os valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese na qual o bem lhe será 
restituído livre do ônus. (Redação dada pela Lei 10.931/2004) 
 
O art. 219 do CPC/2015 trouxe a seguinte regra: 
Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão 
somente os dias úteis. 
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se somente aos prazos processuais. 
 
Diante disso, indaga-se: esse prazo de cinco dias previsto no art. 3º, § 1º do DL 911/69 é contado em 
dias ÚTEIS ou CORRIDOS? 
Em dias corridos. 
O prazo de cinco dias para pagamento da integralidade da dívida, previsto no art. 3º, § 2º, do Decreto-
Lei nº 911/1969, deve ser considerado de direito material, não se sujeitando, assim, à contagem em dias 
úteis, prevista no art. 219, caput, do CPC/2015. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.770.863-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/06/2020(Info 673). 
 
A doutrina afirma que determinado prazo tem natureza processual quando o ato a ser praticado produz 
consequências endoprocessuais, modificando a posição da parte na relação jurídica processual e 
impulsionando o procedimento à fase seguinte. 
O pedido da ação de busca e apreensão é: 
a) reipersecutório (o autor é o proprietário do bem que aciona o Poder Judiciário para buscar a coisa que 
se encontra na mão de terceiro); e 
b) declaratório da consolidação da propriedade; 
 
O pagamento da integralidade da dívida, previsto no art. 3º, § 2º, do DL 911/69 é ato jurídico não 
processual, pois não se relaciona a ato que deve ser praticado no processo ou em razão do processo. 
Não se trata de prazo que interfira na relação processual ou mesmo na sucessão de fases do procedimento 
da ação de busca e apreensão, não gerando consequências endo-processuais para as partes envolvidas. 
Logo, trata-se de prazo material e, portanto, contado em dias corridos. 
 
 
AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE 
O juiz deve adotar as medidas do art. 139, IV, do CPC para superar a resistência da pessoa que 
deveria fornecer o material para exame de DNA, mas está se recusando a fazê-lo 
 
O juiz deve adotar todas as medidas indutivas, mandamentais e coercitivas, como autoriza o 
art. 139, IV, do CPC, com vistas a refrear a renitência de quem deve fornecer o material para 
exame de DNA, especialmente quando a presunção contida na Súmula 301/STJ se revelar 
insuficiente para resolver a controvérsia. 
STJ. 2ª Seção. Rcl 37.521-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/05/2020 (Info 673). 
 
 
 Informativo 
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Informativo 673-STJ (03/07/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Lucas ajuizou ação de investigação de paternidade contra João pedindo para ser reconhecido como seu filho. 
O pedido foi julgado improcedente, sentença que transitou em julgado. 
Anos depois, João faleceu e deixou como único herdeiro seu filho Ricardo. 
Lucas ingressou novamente ação de investigação de paternidade, desta vez post mortem, contra Ricardo, 
pedindo para ser reconhecido como filho de João. 
Na ação, Lucas trouxe indícios que houve fraude no primeiro exame e, portanto, pediu a realização de 
novo DNA. 
 
Isso, em tese, é possível? É possível o processamento desta nova ação mesmo já existindo coisa julgada 
anterior? 
SIM. 
A existência de dúvida razoável sobre possível fraude em teste de DNA anteriormente realizado é 
suficiente para reabrir a discussão acerca da filiação biológica, admitindo-se a redução das exigências 
probatórias quando, não sendo possível a prova irrefutável da fraude desde logo, houver a produção de 
prova indiciária apta a incutir incerteza no julgador, aliada a possibilidade de exaurimento da atividade 
instrutória no grau de jurisdição originário. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1632750/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. p/ Acórdão Min. Nancy Andrighi, julgado 
em 24/10/2017. 
 
Na petição inicial, Lucas pediu que Ricardo e Manoel (irmão de João) fossem intimados para fornecerem 
material genético para a realização do exame. 
O juiz deferiu essa medida como a primeira e única medida de instrução. 
Ocorre que, na data designada para a coleta do material genético, somente Lucas compareceu ao 
laboratório. Ricardo e Manoel não foram nem apresentaram qualquer justificativa. 
Diante disso, o juiz extinguiu o processo sem resolução do mérito afirmando que a recusa dos envolvidos 
em fornecer material genético não pode induzir à presunção de paternidade estampada na Súmula 301 
do STJ: 
Súmula 301-STJ: Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz 
presunção juris tantum de paternidade. 
 
Neste caso, é possível aplicar a Súmula 301 do STJ para julgar o pedido procedente reconhecendo que 
Lucas é filho de João? 
Neste momento processual, sem o término da instrução, não. 
Em regra, a Súmula 301 do STJ aplica-se também para a situação na qual o sucessor do suposto pai (já 
falecido) se recusa a fazer o DNA. Assim, em tese, diante da recusa de Ricardo, o juiz poderia aplicar a 
presunção da Súmula 301 do STJ: 
A presunção de paternidade enunciada pela Súmula nº 301/STJ não está circunscrita à pessoa do 
investigado, devendo alcançar, quando em conformidade com o contexto probatório dos autos, os 
herdeiros consanguíneos que opõem injusta recusa à realização do exame. 
STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 1201311/RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 16/08/2016. 
 
Ocorre que, no caso concreto, não é possível aplicar a referida súmula porque essa segunda ação 
representa, na verdade, uma tentativa de relativização da coisa julgada e não foi exaurida a atividade 
instrutória acerca da existência ou não de fraude no exame de DNA realizado na primeira ação 
investigatória. Logo, não se pode aplicar a presunção prevista na súmula decorrente da negativa de 
fornecimento do material biológico. 
 
O juiz poderia ter determinado a condução coercitiva de Ricardo e Manoel para realizarem o exame? 
NÃO. 
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Informativo 673-STJ (03/07/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
Não é possível a condução do investigado (ou de quem lhe faça as vezes) “debaixo de vara” para a coleta 
do material genético necessário ao exame de DNA, por se tratar de medida sub-rogatória que viola a 
liberdade de locomoção do suposto genitor. Nesse sentido: 
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal repudia a determinação compulsória ou condução 
coercitiva ao fornecimento de material genético. 
STF. 1ª Turma. RHC 95183, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 09/12/2008. 
 
O que fazer então nesses casos? Agiu corretamente o juiz ao extinguir o processo sem resolução do mérito? 
NÃO. 
A parte ou o terceiro não pode colocar o magistrado de “mãos atadas”, desrespeitando injustificadamente 
a ordem judicial de comparecimento ao local da perícia. Nesse caso, considerando que não é possível a 
presunção da Súmula 301 do STJ, deverá ser permitida a utilização de algum instrumento eficaz para 
superar a renitência da pessoa que está adotando a postura anticooperativa e anticolaborativa. 
Assim, o juiz não apenas pode, como deve, de forma criativa e inovadora, adotar todas as medidas 
indutivas, mandamentais e coercitivas para resolver a situação e superar a resistência do indivíduo que 
não quer fornecer o material. Isso está autorizado pelo art. 139, IV, do CPC: 
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: 
(...) 
IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias 
necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por 
objeto prestação pecuniária; 
 
Em suma: 
O juiz deve adotar todas as medidas indutivas, mandamentais e coercitivas, como autoriza o art. 139, 
IV, do CPC, com vistas a refrear a renitência de quem deve fornecer o material para exame de DNA, 
especialmente quando a presunção contida na Súmula 301/STJ se revelar insuficiente para resolver a 
controvérsia. 
STJ. 2ª Seção. Rcl 37.521-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/05/2020 (Info 673). 
 
Obs: o STJ não deu exemplos de quais seriam essas medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-
rogatórias que deveriam ser adotadas. O Tribunal determinou “a reabertura e exaurimento da fase 
instrutória para apuração da alegada fraude ocorrida no primeiro exame de DNA e para que se esgotem 
as possibilidades de realização de novo exame de DNA”. 
 
O juiz poderá adotar essas medidas também em relação a Manoel, mesmo ele não sendo réu na ação? 
SIM. 
Aplicam-se aos terceiros que possam fornecer material genético para a realização do novo exame de DNAas mesmas diretrizes anteriormente formuladas, pois, a despeito de não serem legitimados passivos para 
responder à ação investigatória (legitimação ad processum), esses terceiros são legitimados para a prática 
de determinados e específicos atos processuais (legitimação ad actum), observando-se, por analogia, o 
procedimento em contraditório delineado nos art. 401 a 404, do CPC, que, inclusive, preveem a 
possibilidade de adoção de medidas indutivas, coercitivas, sub-rogatórias ou mandamentais ao terceiro 
que se encontra na posse de documento ou coisa que deva ser exibida. 
 
 
 
 
 
 
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Informativo 673-STJ (03/07/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
ALIMENTOS 
É possível a realização de acordo com a finalidade de exonerar 
o devedor do pagamento de alimentos devidos e não pagos 
 
Importante!!! 
É irrenunciável o direito aos alimentos presentes e futuros (art. 1.707 do Código Civil). O 
credor pode, contudo, renunciar aos alimentos pretéritos devidos e não prestados. Isso 
porque a irrenunciabilidade atinge o direito, e não o seu exercício. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.529.532-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 09/06/2020 (Info 673). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Ana, criança de 5 anos de idade, representada por sua mãe Carla, ingressou com execução de alimentos 
contra Pedro (pai da autora) cobrando R$ 5 mil de parcelas atrasadas. 
Algumas semanas após ter início o processo, as partes fizeram um acordo extrajudicial e o advogado da 
exequente apresentou uma petição ao juiz na qual Carla declarava que estava renunciando os R$ 5 mil 
cobrados na execução. 
Diante disso, o magistrado extinguiu o processo com resolução do mérito, nos termos do art. 487, III, “c”, 
do CPC: 
Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: 
(...) 
III - homologar: 
(...) 
c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção. 
 
O Promotor de Justiça que estava atuando no processo como fiscal da ordem jurídica não concordou e 
interpôs apelação alegando que a obrigação alimentar possui caráter irrenunciável e personalíssimo e, 
portanto, não seria possível que a genitora tivesse renunciado a verba alimentar da qual sua filha, 
absolutamente incapaz, é credora. 
O Tribunal de Justiça manteve a sentença e a questão chegou até o STJ. 
 
O STJ acolheu a tese do Ministério Público? 
NÃO. 
 
Não se pode renunciar alimentos presentes e futuros 
O art. 1.707 do Código Civil prevê a seguinte regra: 
Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo 
o respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora. 
 
O STJ, ao interpretar esse dispositivo, afirma que: 
• o direito aos alimentos presentes e futuros é irrenunciável; 
• essa proibição de renúncia não se aplica para as prestações vencidas; 
• assim, o credor pode deixar de cobrar as prestações vencidas mesmo que já esteja na fase executiva. 
 
A proibição de que haja renúncia do direito aos alimentos decorre da natureza protetiva do instituto dos 
alimentos. Contudo, essa irrenunciabilidade atinge tão somente o direito, e não o seu exercício. 
“(...) A irrenunciabilidade atinge o direito, não seu exercício. Se de um lado, não é possível a 
renúncia ao direito a alimentos, de outro não se pode obrigar o beneficiário a exercer esse direito. 
(...) 
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Informativo 673-STJ (03/07/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
A irrenunciabilidade diz com o direito a alimentos e não com as prestações vencidas e não pagas. 
Não alcança o débito alimentar. Mesmo quando o credor é incapaz, é admissível transação 
reduzindo o valor da dívida. 
Ou seja, o credor não pode renunciar ao direito de pleitear alimentos. Mas, em sede de cobrança, 
a transação perdoando ou reduzindo débitos pretéritos pode ser homologado judicialmente.” 
(DIAS, Maria Berenice. Alimentos: direito, ação, eficácia e execução. 2ª ed. São Paulo: RT, 2017, 
págs. 38-39) 
 
Assim, repetindo: a irrenunciabilidade e a proibição de transação só se aplicam para os alimentos 
presentes e futuros, não havendo qualquer obstáculo para que isso ocorra quanto aos alimentos 
pretéritos. 
 
Em suma: 
É irrenunciável o direito aos alimentos presentes e futuros (art. 1.707 do Código Civil). 
O credor pode, contudo, renunciar aos alimentos pretéritos devidos e não prestados. Isso porque a 
irrenunciabilidade atinge o direito, e não o seu exercício. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.529.532-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 09/06/2020 (Info 673). 
 
No caso, a extinção da execução em virtude da celebração de acordo em que o débito foi exonerado não 
resultou em prejuízo, pois não houve renúncia aos alimentos vincendos, indispensáveis ao sustento da 
alimentanda. 
As partes transacionaram somente o crédito das parcelas específicas dos alimentos executados (alimentos 
pretéritos). Para isso, não existe óbice legal. 
Vale ressaltar, ainda, que, especialmente no âmbito do Direito de Família, é salutar o estímulo à autonomia 
das partes para a realização de acordo, de autocomposição, como instrumento para se alcançar o 
equilíbrio e a manutenção dos vínculos afetivos. 
 
 
ALIMENTOS 
É cabível ação de exigir contas pelo alimentante contra a genitora guardiã do alimentado para 
obtenção de informações sobre a destinação da pensão paga, desde que proposta sem a 
finalidade de apurar a existência de eventual crédito 
 
Importante!!! 
Mudança de entendimento! 
O alimentante não-guardião tem o direito de averiguar se os valores que paga a título de 
pensão alimentícia estão sendo realmente dirigidos ao beneficiário e voltados ao pagamento 
de suas despesas e ao atendimento dos seus interesses básicos fundamentais. Essa 
possibilidade decorre do exercício pleno do poder familiar e tem previsão expressa no § 5º do 
art. 1.538 do CC: 
§ 5º A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os interesses 
dos filhos, e, para possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores sempre será parte 
legítima para solicitar informações e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em 
assuntos ou situações que direta ou indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a 
educação de seus filhos. 
Vale ressaltar, no entanto, que o legítimo interesse processual em ação dessa natureza é 
exclusivamente a finalidade protetiva da criança ou do adolescente beneficiário dos 
alimentos, diante da sua possível malversação. Esta ação não pode buscar eventual 
 Informativo 
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Informativo 673-STJ (03/07/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
acertamento de contas, perseguições ou picuinhas com a(o) guardiã(ao), ficando vedada a 
possibilidade de apuração de créditos ou preparação de revisional pois os alimentos são 
irrepetíveis. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.814.639-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Moura Ribeiro, 
julgado em 26/05/2020 (Info 673). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João é pai de Lucas (10 anos), pessoa com síndrome de Down e que necessita cuidados específicos. 
Todos os meses, ele paga R$ 15 mil de pensão alimentícia ao filho, que reside com a mãe da criança 
(Letícia), ex-esposa de João. 
Essa situação já perdura há 2 anos. 
Determinado dia, João ingressou com ação de exigir contas (“ação de prestação de contas”) contra Letícia 
pedindo para que seja informado como está sendo empregada a pensão alimentícia paga a seu filho. 
 
Esse pedido é admitido pela jurisprudência? Existe viabilidade jurídica na ação de exigir contas ajuizada 
pelo alimentantecontra a guardiã do menor/alimentado para obtenção de informações acerca da 
destinação da pensão paga mensalmente? 
SIM. O tema deve ser analisado sob a ótica: 
• do princípio da proteção integral e do melhor interesse da criança e do adolescente; e 
• do legítimo exercício da autoridade parental. 
 
Com base nisso, pode-se concluir que é juridicamente viável a ação de exigir contas ajuizada por genitor(a) 
alimentante contra a(o) guardiã(o) e representante legal de alimentado incapaz. Isso porque essa 
pretensão está relacionada com a saúde física e psicológica do menor. 
 
§ 5º do art. 1.583 do CC 
Vale ressaltar, ainda, a expressa previsão do § 5º do art. 1.583 do Código Civil, inserido pela Lei nº 
13.058/2014. Veja o que ele diz: 
Art. 1.583 (...) 
§ 5º A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os interesses dos 
filhos, e, para possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores sempre será parte legítima para 
solicitar informações e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em assuntos ou situações 
que direta ou indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a educação de seus filhos. 
 
O objetivo da norma consiste em assegurar a obtenção de informações e/ou prestação de contas sobre o 
destino da verba prestada mensalmente por quem não detém a guarda do alimentado. Essa previsão foi 
inserida no nosso ordenamento jurídico com o objetivo de assegurar maior proteção aos filhos menores. 
Essa “função supervisora” a respeito do modo pelo qual a verba alimentar está sendo empregada, além 
de ser um dever imposto pelo legislador, é um mecanismo que dá concretude ao princípio do melhor 
interesse e da proteção integral da criança ou do adolescente. 
Segundo explica Rolf Madaleno, o § 5º do art. 1.583 do CC 
“(...) consagra a possibilidade sempre negada pela jurisprudência brasileira da ação de prestação 
de contas do pagamento da pensão alimentícia, atribuindo, expressamente, legitimidade ativa ao 
genitor não guardião para solicitar informações ou prestação de contas sobre assuntos ou 
situações que reflitam sobre a saúde física e psicológica e educação dos filhos e, obviamente, neste 
espectro de incidências, a pensão alimentícia se apresenta como fundamental direito a ser 
fiscalizado, pois ainda que os alimentos não possam ser restituídos, ao menos a readequação dos 
fatos pode ser redirecionada.” (MADALENO, Rolf. (Direito de Família. 10ª ed., Rio de Janeiro: 
Forense, 2020, p. 1.023). 
 Informativo 
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Informativo 673-STJ (03/07/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
 
Desse modo, não se pode negar ao alimentante não-guardião o direito de averiguar se os valores que paga 
a título de pensão alimentícia estão sendo realmente dirigidos ao beneficiário e voltados ao pagamento 
de suas despesas e ao atendimento dos seus interesses básicos fundamentais, sob pena de se impedir o 
exercício pleno do poder familiar. 
Não há apenas interesse jurídico, mas também o dever legal do genitor alimentante de acompanhar os 
gastos com o filho alimentado que não se encontra sob a sua guarda, fiscalizando o atendimento integral 
de suas necessidades, materiais e imateriais, essenciais ao seu desenvolvimento físico e psicológico, 
aferindo o real destino do emprego da verba alimentar que paga mensalmente, pois ela é voltada para 
esse fim. 
O que justifica o legítimo interesse processual em ação dessa natureza é exclusivamente a finalidade 
protetiva da criança ou do adolescente beneficiário dos alimentos, diante da sua possível malversação, e 
não o eventual acertamento de contas, perseguições ou picuinhas com a(o) guardiã(ao), devendo ela ser 
dosada, ficando vedada a possibilidade de apuração de créditos ou preparação de revisional, pois os 
alimentos são irrepetíveis. 
 
Deve ser feita, contudo, uma ponderação: 
Conforme vimos acima, é juridicamente viável a ação de exigir de contas ajuizada pelo alimentante, em 
nome próprio, contra a genitora guardiã do alimentado para obtenção de informações sobre a destinação 
da pensão paga mensalmente. No entanto, o STJ explicou que isso somente é possível caso a ação seja 
proposta sem a finalidade de apurar a existência de eventual crédito, pois os alimentos prestados são 
irrepetíveis. 
Em outras palavras, a pessoa pode ajuizar a ação de exigir contas, mas não com o objetivo de obter o 
reconhecimento de eventual crédito. Assim, mesmo que fique demonstrado que a mãe não estava 
empregando todo o dinheiro para o filho, isso não gerará um crédito em favor do pai. 
O objetivo, portanto, é resguardar os interesses do alimentando, corrigindo os rumos caso ele esteja sendo 
desassistido. 
 
Em suma: 
É cabível ação de exigir de contas ajuizada pelo alimentante, em nome próprio, contra a genitora guardiã 
do alimentado para obtenção de informações sobre a destinação da pensão paga mensalmente, desde 
que proposta sem a finalidade de apurar a existência de eventual crédito. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.814.639-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Moura Ribeiro, 
julgado em 26/05/2020 (Info 673). 
 
 
PRISÃO CIVIL 
Como fica a prisão civil do devedor de alimentos durante a pandemia da Covid-19? 
 
Importante!!! 
Como fica a prisão civil do devedor de alimentos durante a pandemia da Covid-19? 
4ª Turma do STJ e CNJ: prisão domiciliar 
Durante a pandemia de Covid-19, deve-se assegurar prisão domiciliar aos presos em 
decorrência de dívidas alimentícias. 
O contexto atual de gravíssima pandemia devido ao chamado coronavírus desaconselha a 
manutenção do devedor em ambiente fechado, insalubre e potencialmente perigoso. 
 Informativo 
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Informativo 673-STJ (03/07/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25 
Assim, diante do iminente risco de contágio pelo Covid-19, bem como em razão dos esforços 
expendidos pelas autoridades públicas em reduzir o avanço da pandemia, é recomendável o 
cumprimento da prisão civil por dívida alimentar em prisão domiciliar. 
STJ. 4ª Turma. HC 561.257-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 05/05/2020 (Info 671). 
 
3ª Turma do STJ: suspensa 
Durante a pandemia de Covid-19, deve-se suspender a prisão civil dos devedores (e não 
assegurar a prisão domiciliar). 
Em virtude da pandemia causada pelo coronavírus (covid-19), admite-se, excepcionalmente, 
a suspensão da prisão dos devedores por dívida alimentícia em regime fechado. 
Assegurar aos presos por dívidas alimentares o direito à prisão domiciliar é medida que não 
cumpre o mandamento legal e que fere, por vias transversas, a própria dignidade do 
alimentando. 
Por esse motivo, não é plausível substituir o encarceramento pelo confinamento social, o que, 
aliás, já é a realidade da maioria da população, isolada em prol do bem-estar de toda a 
coletividade. 
A excepcionalidade da situação emergencial de saúde pública permite o diferimento 
provisório da execução da obrigação cível enquanto pendente a pandemia. 
A prisão civil suspensa terá seu cumprimento no momento processual oportuno, já que a 
dívida alimentar remanesce íntegra, pois não se olvida que, afinal, também está em jogo a 
dignidade do alimentando, em regra, vulnerável. 
STJ. 3ª Turma. HC 574.495-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/05/2020 (Info 673). 
 
Depois das decisões acima expostas, foi sancionada a Lei nº 14.010/2020, que adotou a mesma solução 
jurídica da 4ª Turma do STJ e do CNJ e previu a seguinte regra: 
Art. 15. Até 30 de outubro de 2020, a prisão civil por dívida alimentícia, prevista no art. 528, § 
3º e seguintes da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), deverá ser 
cumprida exclusivamente sob a modalidade domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade das 
respectivas

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