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Processo de desenvolvimento motor 1 Processo de desenvolvimento motor Professora Priscilla Ferronato Processo de desenvolvimento motor 2 SUMÁRIO Desenvolvimento 3 As definições 3 Área de Pesquisa 3 O Estudo do Desenvolvimento no Brasil 5 O fenômeno “desenvolvimento motor 6 Abordagens Metodológicas para o Estudo do Desenvolvimento 8 Periodo Precursor (1787-1928) 8 Periodo Maturacional (1928-1946) 9 Período Normativo/Descritivo (1946-1970) 10 Período Orientado ao Processo (1970 até os dias atuais) 12 Abordagens teóricas para o desenvolvimento 15 Abordagem Maturacionista 15 Abordagem Cognitivista 17 Fase 1 : A concepção de realidade da criança mediada através da linguagem e interação social 17 Fase 2: Estágios no Desenvolvimento Sensório-Motor. A Teoria da Adaptação 18 1.4.2.3 Fase 3: O Período Estruturalista. Modelo lógico matemáticos e operações concretas e formais. 19 Fase 4. Retorno ao Funcionalismo. Pensamento Pré Operacional, Estratégias, Lógica Intencional e Teoria do Significado. 20 1.4.3 Abordagem dos Sistemas Dinâmicos 21 Os Graus de Liberdade 21 A Multicausalidade do Desenvolvimento 23 Atratores 25 Exploração e Seleção 26 Percepção-Ação 27 Abordagem dos Sistemas de Acão 29 Sistema de Orientação Básica 31 Sistema Investigativo 31 Sistema Locomotor 31 Sistema de Alimentação 31 Sistema Performático 31 Sistema Expressivo 31 Sistema Semântico 31 Sistema de Jogo 31 Abordagem da Neurosciência 32 Teoria da Seleção de Grupos Neurais 33 Desenvolvimento da Ação 35 Do Movimento para a Ação 36 Seleção das Ações 39 Desenvolvimento Motor x Desenvolvimento da Ação 39 O Futuro dos Estudos em Desenvolvimento 40 Referências 42 Processo de desenvolvimento motor 3 DESENVOLVIMENTO O desenvolvimento definido como um processo de mudança ao longo de um período de tempo, trata-se de um fenômeno, popularmente conhecido e comentado mas ao mesmo tempo, nebuloso. Nebuloso, porque esta definição se trata de um termo amplo, que não apresenta de forma clara e precisa, o fenômeno abordado. As mudanças estão presente no dia-dia de todos os seres. Tratando dos humanos, é possivel observar estas mudanças desde os fetos, bebês, crianças adultos, até nos idosos, também em profissionais de diversas áreas como educadores físicos, fisioterapeutas, médicos, enfim, todos. Onde sua presença fica mais evidente e onde ele é mais popular, claramente é durante a infância. Desde a concepção, os pais e familiares acompanham passo a passo do processo de desenvolvimento pelo qual a criança passa.Essa atenção fica tão evidente durante a gestação, quando o tamanho e peso do feto são minuciosamente acompanhados, quanto depois do nascimento, onde cada nova habilidade que o bebê é capaz de fazer é vista como mais uma conqueista ao longo do ciclo da vida. E assim, pouco a pouco cada indivíduo se transforma em um ser social, com uma vida em conjunto que se torna cada vez mais ativa. Talvez por isso, a importância que o comportamento tem sobre os eventos ao longo da vida de um indivíduo, tempos atrás a psicologia voltou seu interesse para o estudo do desenvolvimento. O termo desenvolvimento e suas variações serão tratados adiante, bem como a evolução acadêmica da área, as abordagens utilizadas nos estudos e as novas perspectivas. As definições Muitas são as definições para o termo desenvolvimento, também em igual quantidade são as definições do que é desenvolvimento motor. Alguns exemplos são: Mudanças no comportamento motor relacionadas com a idade (Willians, 1989). Processo de aumento de idade ao longo da vida relacionado com mudanças no comportamento motor (VanSant, 1989). Desenvolvimento motor representa as mudanças no comportamento motor reflexo da interacao entre maturação, organismo e ambiente (Thomas & Thomas, 1989). Contínua alteração no comportamento ao longo do ciclo da vida, realizado pela interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente (Gallahue, 2001) Essas poucas definições estão longe de exemplificar de maneira completa todas as formas das quais este termo foi apresentado. Muitos foram os pesquisadores que produziram trabalhos de relevância para a área em diferentes momentos da historia destes estudos. Cada autor que ousou cunhar uma definição para desenvolvimento, o fez baseado em sua perspectiva teórica da época mas, essencialmente, todas elas tocam no ponto principal: as mudanças. As mudanças, alteração de um estado para outro são uma constante na vidade seres vivos. Estas mudanças foram estudas de muitas formas, sob perspectivas diferentes, metodos diferentes, sujeitos distintos, mas ainda assim, todos os olhares votados para as mudanças Área de Pesquisa Toda a confusão em classificar o campo de pesquisa do desenvolvimento motor está vinculado ao uso de diferentes abordagens para a interpretação dos estudos. Ao longo da história, vários conceitos foram cunhados para esse campo de pesquisa que já foi classificado como sinônimo de educação física quando Gallahue (1989) disse que as crianças precisam participar de “programas de desenvolvimento motor”. Também descrito como uma das três sub áreas que compõem o campo comportamento motor juntamento com o controle e aprendizagem motora (Seefeldt, 1989); uma sub área dentro da aprendizagem Processo de desenvolvimento motor 4 e controle motor (Schmidt, 1988), subdisciplina própria (Roberton, 1989; Smoll, 1982), ou ainda, o desenvolvimento motor foi considerado como uma subdisciplina única que abarca todas as outras áreas, como fisiologia, educação, biomechanica etc (Thomas, 1989). Enquanto cada grupo de pesquisador adota sua abordagem, cada vez mais há uma dicotomia entre as áreas. Tendo em vista que a definição de desenvolvimento motor tem sido praticamente a mesma para todas as áreas desde que o conceito passou a ser visto como um processo ao longo da vida, ou seja, a definição da Academia de Desenvolvimento Motor em 1980 : “desenvolvimento motor são as mudanças no comportamento motor ao longo do ciclo da vida e os processos que delineiam essa mudanças” foi adotada pela grande maioria da comunidade acadêmica. Porém, quais são as disciplinas ou subdisciplinas que cuidam de estudar esse fenômeno? Para responder essa pergunta podemos começar olhando para as áreas em que estas pesquisas surgiram: a psicologia e a educação física. Inicialmente, a psicologia contribuiu imensamente para o avanço nas pesquisas, depois disso, houve um afastamento dos psicologos nos estudos do desenvolvimento a educação física foi quem apresentou maior contribuição para o crescimento do conhecimento na área neste período. Fazendo uma comparação simplificada entre estes dois grupos, a educação física parece ter oferecido uma contribuição maior, pois vem ofecerendo graduação e pos graduação nesta área por muitos anos. No entanto, desde que os psicólogos retomaram o interesse pelos estudos do desenvolvimento, uma certa confusão começa a crescer entre os pesquisadores da educação fisica no que cerca o debate “o que o desenvolvimento motor realmente é?” subdisciplina ou uma área de especialização única, ou ainda sob um outra perspectiva onde juntamente com outras subdisciplinas formam um campo de estudo. Enterder e responder a estas questões sobre o que é realmente essa área é fundamental para entender o que significa e para que estudar o desenvolvimento motor. Para compreender o processo de desenvolvimento é essencial o conhecimento sobre os processos de aprendizagem e controle. O conhecimento sobre o controle é essencial pois diz respeito ao papel do sistema neuromuscular na produção do movimento, aspecto essencial do comportamento. A aprendizagem é outro aspecto que faz parte do processo de desenvolvimento, portanto, não pode ser tratada isoladamente. Sendo assim, as mudanças observadas no comportamento motor, são fruto da interação entre os fatores biológicos (sendo estes a maturação de todos os sistemas, e nao somente do sistema nervoso central) e ambientais (como a aprendizagem). A maturação dos sistemas e a aprendizagem são os dois lados que compõem a moeda, ambos são os responsáveis pelas mudanças e pela adaptação que cada indivíduo sofre ao longo da vida. Por isso, o comportamento, ou as ações produzidas, são mutuamente dependentes destes fatores A aprendizagem não cabe em um sistema que ainda não esteja preparado para aprender, e ao mesmo tempo, a maturação sofre influências de várias experiências de aprendizagem do indivíduo. Na realidade, as pesquisas mais efetivas para o desenvolvimento deveriam alinhavar o conhecimento e as abordagens tanto da aprendizagem quanto do controle sob uma perspectiva desenvolvimental. Um dos conceitos mais coerentes sobre o desenvolvimento aponta que desenvolvimento motor não é nem uma disciplina, nem subdisciplina de alguma grande área de conhecimento, é uma perspectiva, uma forma de analisar o desenvolvimento e suas mudanças em qualquer área. O desenvolvimento é na verdade uma forma de analisar os processos de mudanças, sejam eles processos de aprendizagem ou processos de coordenação e controle. Este é um argumento poderoso, porque a lacuna de comunicação que existe entre os estudos em cada uma destas áreas, aprendizagem e controle, tem contribuído cada vez mais para aumentar a confusão sobre o que se deve ainda estudar, e sob quais perspectivas. Processo de desenvolvimento motor 5 O estudo apenas sob a perspectiva do controle corre o risco de perder a contribuição da maturação e da aprendizagem para o processo. Assim como apenas o estudo sobre os aspectos da aprendizagem também podem correr o risco de ignorar as contribuições da maturação e, consequentemente do controle, no desenvolvimento como um todo. Assim, o desenvolvimento per se é mais do que uma mera comparação sobre o controle ou aprendizagem em diferentes idades. Na verdade o que cada uma destas partes tenta fazer é elucidar os processos particulares que ocorrem ao longo da vida. Assim como estudar apenas os processos perceptivos ou cognitivos não é suficiente para entender o todo dentro do processo de desenvolvimento, cada uma destas partes pode trazer muito mais contribuições se forem interelacionadas nos estudos, pois essa associação é o processo de desenvolvimento em si. Há muitas formas de se organizar o conhecimento em desenvolvimento motor: conhecimento produzido, a aplicação do conhecimento produzido, organização de cursos de graduação e pós graduação e possivelmente, outras que não foram aqui citadas. O que um pesquisador do desenvolvimento motor precisa ter é o foco desenvolvimental associado ao conhecimento sobre o comportameto motor em geral (aprendizagem, controle e maturação). Justamente como a psicologia desenvolvimental está separada da experimental, ou a bioquímica esta separada da química, o desenvimento motor é separado do comportamento motor em virtude do foco. No entanto, é preciso entender que alguns destes aspectos são únicos e precisam ser estudados nos cursos de desenvolvimento motor (sejam na educação física, fisioterapia, terapia ocupacional, neurociencia ou medicina) separadamente por uma questão didática. Como por exemplo, é preciso que as disciplinas sejam tratadas separadamente nos cursos de graduação e pós graduação, como controle motor, crescimento físico, neuroanatomia e tantas outras. Porém, é importante que fique explícitamente claro a relação de interdependência entre elas, pois quando forem ser analisadas as mudanças, e esta analise for adotar uma perspectiva desenvolvimental, cada uma delas deve trazer sua contribuição para o entendimento do processo como um todo. Assim, um termo mais amplo seria o desenvolvimento do comportamento motor, e este termo abarcaria tudo que é adjacente a este proceso (aprendizagem, maturação, crescimento e controle). O Estudo do Desenvolvimento no Brasil Os estudos sobre o comportamento motor no Brasil tiveram um início mais acalorado com a volta de muitos estudantes de doutorado que foramrealizar seus curso fora do pais na década de 80. Nesta época aproximadamente 10 professores doutores regressaram para o Brasil e na década que compreendeu os anos 90 e assim, esse numero vem crescendo cada vez mais. O crescimento é tão claro que o governo tem freado suas agências de fomento a incentivarem os estudantes de doutorado a fazerem seus cursos integralmente fora do país, uma vez que hoje em dia, o Brasil possui diversas universidades com Programas de Pós Graduação em nível de Doutorado. No entanto, o incentivo continua no sentido de fomentar pequenos estágios fora do país para aquisição de expertise em pesquisa e na formação teórica dos estudantes de doutorado e doutores interessados em seguir com cursos de Pós Doutorado. Então, a partir da década de 80 as pesquisasa em comportamento motor começaram a ser realizadas no Brasil, no entanto, ainda timidamente. Algumas universidades tinham seus Laboratórios de Pesquisa em Comportamento Motor, porém, ainda não havia algum evento nesta área específica que fosse realizado no pais. O primeiro evento oficial sobre o tema foi organizado em 1998 para comemorar os 10 anos de existência de um dos laboratórios preocupados com as questões do comportamento. Desde então, este evento, e outros Processo de desenvolvimento motor 6 mais recentes, tradicionalmente acontecem atraindo profissionais de varias áreas como educação física, fisioterapia e terapia ocupacional. No entanto, é bem possivel que outras áreas que não tem participado destes eventos em particular, também tenhan seu foco no comportamento motor e tem apresentado seus achados em eventos dde outras áreas como a psicologia, pediatria, gerontologia, neurosciencia entre outras. O fato é que a área tem se esforçado para se fortalecer no Brasil e para isso nao tem medido esforços em trazer pesquisadores de renome para debates e palestras. Estes esforços tem refletido em um aumento no numero de trabalhos apresentados em congressos e ainda de publicações, no entanto é preciso avaliar estes dados com cuidado, pois números nao são referencial de qualidade. As pesquisas que começaram a se destacar na área da aprendizagem motora hoje em dia apresentam um domínio do controle motor e um crescimento nos estudos sobre o desenvolvimento motor. Porém há ainda um caminho longo a ser percorrido no sentido de contribuir efetivamente para o desenvolvimento e crescimento das pesquisas neste campo. Possivelmente, o ponto de partida deve ser despertar o interesse dos estudantes de graduação para a pesquisa acadêmica. Esse despertar é a peça fundamental para a evolução da área, deve ser certeiro e cuidadoso. Oferecer ao estudante a oportunidade de fazer pesquisa em comportamento motor nao é entregar em suas mão um projeto de pesquisa e deixá-lo executar. É preciso mais do que isso, é preciso que o estudante descubra por exatamente o que é a pesquisa científica, passando por todas as etapas de maneira plena, desde a formação e solidificação do conhecimento teórico até a elaboração do problema de pesquisa. A partir de então é que a parte experimental entra em cena e os pensamentos e discussões devem se voltar para o planejamento e aplicação dos procedimentos metodológicos.Feito isso, a analise e discussão dos resultados, bem como a finalização do trabalho são conseqüências, pois com a formação teórica sólida, boa parte da pesquisa acadêmica está garantida. A partir dos esforços em aumentar com qualidade o numero de pesquisadores na área os frutos que serão colhidos a partir deste trabalho com certeza será o crescimento da área como um todo. O investimento em uma formação sólida, com uma visão abrangente, onde todos os aspectos do comportamento são levados em consideração é um ivestimento promissor para os estudos do comportamento motor no Brasil. O fenômeno “desenvolvimento motor Os primeiros estudos sobre o desenvolvimento motor começaram com a descrição do comportamento das crianças, que foram chamados de “biografia dos bebês”. Darwin, em 1877, depois do nascimento de seus filhos, foi talvez, um dos pioneros nesta tarefa. Seus estudos eram relatos minuciosos que descreviam todo o comportamento apresentado pelos bebês em todas as situaçãoes possíveis. As descrições comtemplavam atividades de alimentação, manipulação perceptivas, emocionais entre tantas outras. Já no século XX os pesquisadores que trouxeram grandes contribuições para o estudo do desenvolvimento foram os psicólogos infantis da Clinica de Desenvolvimento Infantil de Yale, Arnold Gessel e Henry Halverson, na Universidade da California estava Nancy Bayley, na Universidade de Columbia Shirley Mc Graw, e na Universidade de Minessota Mary Shirley. Os estudos desta época eram em sua maioria observaçãoes longitudinais com cescrições cheias de detalhes,e ainda, atraziam alguma explicação sobre o processo que estava por trás oferecendo condições para que tais comportamentos se manifestassem. Em suas explicações, cada um dos pesquisadores defendiam seus pontos de vista, normalmente baseados uma teoria ou outra, maturacional ou ambiental. Historicamente o estudo do desenvolvimento motor através das observações e descrições se focou nas repostas periféricas para interpretar o estado do sistema, onde o foco estava nas funcões cognitivas. Assim, a idéia principal Processo de desenvolvimento motor 7 era observar o comportamento motor para verificar o quão intacto estavam as funcões cognitivas. Os estudos descritivos dos pesquisadores pioneiros Gessel e McGraw, foram importantes para a elaboração futuramente, da proposta de Piaget sobre o desenvolvimento do funcionamento cognitivo. Estes relatos também incentivaram muitos outros pesquisadores, hoje tidos como seminais da aráea do desenvolvimento, entre as décadas de 60 e 70 como: Eckert com varios artigos nos anos 60 e 70 e um livro em 1976; Halverson e Roberton com estudos sobre habilidades fundamentais nos anos 60, 70 e 80; Keogh com estudos em performance motora e aquisição de habilidades para deficientes nos anos 60, 70 e 80; Malina e seus estudos relacionando o crescimento e performance motora e livros sobre o crescimento e desenvolvimento nas mesmas 3 décadas; Newel nas décadas de 70 e 80 com estudos sobre o desenvolvimento e aquisição de habilidades e controle motor; Seefeldt também nas decadas de 70 e 80 com estudos de habilidades fundamentais; Rarick com seus livros de 1961 e 1973 e estudos sobre performance motora e fitness nas décadas de 50, 60, 70 e 80; Thomas com estudos sobre aquisição de habilidades nas décadas de 70 e 80 e Wade e seus estudos em aquisicão de habilidades em deficientes nas décadas de 70 e 80. Alguns destes pesquisadores ainda estão vivos e academicamente ativos, outros infelizmente faleceram, no entanto deixaram seu legado que vem sendo bem aproveitado e replicado por novos pesquisadores do desenvolvimento. A formação destes novos pesquisadores está baseadas em alguns livros textos que apresentavam os estudos e as abordagens mais relevantes de cada um em sua época, como por exemplo: alguns dos livros mais atuais a respeito do desenvolvimento sao Eckert (1987); Gallahue (1982); Haywood (1986); Keogh & Sugden (1985); Wicstrom (1983); Williams (1983) e Thomas (1984). Todos eles estão de alguma maneira baseaddos nas ideias de grandes nomes do desenvolvimento como: Connolly (1970); Rarick (1973); Malina (1975); Kelso & Clark (1982). Dentro da psicologia desenvolvimental os grandes nomes foram Kevin Connolly, Herb Pick e Claes von Hofstentodos associados com pesquisas sobre o desenvolvimento infantil e aquisição de habilidades sob uma perspectiva desenvolvimental. Depois da Segunda Guerra Mundial (anos 50 e 60) estudos transversais aplicados para a escola, sem uma fundamentação teórica de pano de fundo. Nesta epoca Anna Espenschade e G. Lawrence Rarick fizeram uma série de estudos, tanto longitudinais como transversais, investigando o desenvolvimento motor aplicado para a área da educacao fisica. No começo dos anos 60 os pesquisadores começaram a notar que o comportamento apresentava mudanças dramáticas depois da infância, e passaram então a estudar todo o ciclo da vida, se importando mais com avida adulta e o envelhecimento. Assim a bordagem do ciclo vital teve início. A teoria do ciclo da vida aborda as mudanças na organização do sistema neuromotor acompanhadas de mudanças dramáticas no tamanho e na forma do corpo durante a infância e a adolescência. Também passam a ser consideradas súbitas mudanças no estilo de vida que começam e terminam durante a fase adulta e a velhice, relacionadas ao estilo de vida, ao período escolar, trabalho, família e responsabilidades que acompanham estas etapas. Do ponto de vista de VanSant (1989), a maturidade, que tradicionalmente é vista como a finalidade do desenvolvimento, é apenas um dos momentos (instantâneos) processo do desenvolvimento. Por todas essas diferenças, nao faz sentido comparar adultos e crianças, pois ambos estão em momentos diferentes da vida e cada um destes momentos tem finalidades e funções diferentes. Em cada um destes momentos há algo a se ensinar ou se aprender sobre o desenvovimento, e assim, apesar de muitos estudos sobre o desenvolvimento se focarem na infância, todas as outras etapas da vida apresentam mudanças importantes a serem analisadas sob a perspectiva desenvolvimental. Processo de desenvolvimento motor 8 Nesta época os Institudos de Desenvolvimento da Criança mudaram seus nomes para Institudos do Desenvolvimento Humano. O artigo de Nancy Bayley “O ciclo da vida como um quadro de referência na pesquica psicológica” foi rotulado como o precursosr da perspectiva do ciclo da vida e muitos pesquisadores de peso na área como Clark (1982), Halverson, Roberton & Harper (1986), Haywood (1986), Roberton & Halverson (1977, 1984) passaram a adotar a perspectiva do ciclo da vida. Em resumo, a história do desenvolvimento motor pode ser traçada da seguinte forma: o desenvolvimento motor começou como o estudo da infância, depois do desenvovimento infantil e passou a fazer parte da psicologia desenvolvimental, que foi definida como os estudo das mudanças ao longo do ciclo da vida no comportamento motor. Em suma, estudar a criança nao é necessariamente um estudo desenvolvimental, pois desenvolvimento refere-se a um processo ao longo da vida, e a infância é apenas uma parte deste processo, como qualquer outra fase da vida é. Outra questão a se pensar é para onde segue o desenvolvimento, pois é comum dizer que ele segue para a maturidade, no entanto, o curso da vida segue para a vida adulta e, por fim, para o envelhecimento e a morte. Será mesmo que a finalidade do desenvolvimento é a maturidade? Será que o comportamento maduro é aos 20 ou aos 80 anos de idade? Nesta perspectiva ao longo da vida, o quanto a maturação pode ser igualada ao desenvolvimento? Até entao, os pesquisadores do desenvolvimento ou se pautavam na causalidade, onde a maturação era atribuída a forças internas que guiadas pelos genes levavam ao desenvolvimento, ou entao, assumiam a influência do ambiente sobre o desenvolvimento humano. Neste caso, apontando a influência do ambiente sobre os genes, e até mesmo a influência de um grupo de genes sobre outro grupo de genes, e neste sentido o objetivo do desenvolvimento ainda seria a maturidade. Porém, o conceito do ciclo da vida muda bojo destas concepções, pois força o reconhecimento de múltiplos fatores interferindo no desenvolvimento causadores das mudanças. Abordagens Metodológicas para o Estudo do Desenvolvimento Ao longo da história do desenvolvimento as pesquisaram foram passando por modificações importantes. E possivelmente, ainda passarão por muitas mudanças dos tempos de hoje até os tempos futuros. Analisar estas mudanças é uma parte importante para uma boa formação acadêmica, pois, olhar para a história é essencial para que se possa entender com clareza o estado atual da arte. A história dos estudos em desenvolvimento, foi dividida, pelo menos até agora, em 4 periodos: Período Precursor (1787- 1928), Período Maturacional (1928-1946), Período Descritivo (1946-1970) e Período Orientado ao Processo (1970 até a data atual). Essa divisão deixa bem marcado os diferentes momentos e as diferentes perspectivas dos estudos. Periodo Precursor (1787-1928) Este foi o primeiro período, portanto, onde as bases foram fundadas e estabelecidas. Esse período estabeleceu os métodos de observação descritiva como métodos críticos para o estudo do desenvolvimento. Nesta época, os pesquisadores costumavam descrever longitudinalmente o comportamento de seus próprios filhos enquanto bebês em anotações ricas de detalhes. Darwin foi um dos que contribuiu com suas observações a respeito do desenvolvimento de seu filho. Nesta época descrições minuciosas sobre a transição do “reflexo de preensão palmar” para a pegada voluntária foi feita por Tiedemann em 1977 (citado por Borstelmann, 1983). Além disso, as descrições de Tiedemann forneceram evidências para o papel da experiência na alimentacão, uma observação que antecedeu em mais de um século o debate entre inato e adquirido que foi central a partir dos anos 1930. Processo de desenvolvimento motor 9 Estas descrições, chamadas dê “biografias dos bebes” que tiveram início com Tiedemann, foram seguidas das descrições de Preyer quase 100 anos depois com a publicação de um texto clássico: “A Mente da Criança” em 1981-1982 e depois em 1909-1909b. Sendo um embriologista Preyer através de um estudo de caso, descreveu cuidadosamente, com a habilidade de um biólogo o desenvolvimento de uma criança. Trabalho de grande contribuição para a evolução de outros estudos na área. Todas a biografias dos bebês foram bons exemplos de estudos focados no produto do desenvolvimento. Diferentemente de todos, Galton (1876) apresenta um exemplo de estudo focado no processo. Usando gêmeos para ter o controle sobre as caracteristicas hereditárias dos indivíduos, Galton apontou que o papel da hereditariedade e do ambiente deveriam ser revistos para poder explicar as diferenças individuais entre gêmeos idênticos. Seguindo este raciocínio, onde a importância do ambiente deveria ser considerada, os descritos de Darwin foi marcantes para a época. A noção de Darwin sobre o papel do ambiente na forma do animal, a adaptação do animal ao ambiente, e a continuidade de espécie de acordo com o ambiente eram, claramente teorias sobre os processos desenvolvimetais. Enfim, o Período Precursor, estabeleceu as bases para as pesquisasa em desenvolvimento. Indicando o cuidado e a acurácia que o método de observaçã exigia. Alem de expor as fundamentações teóricas onde os debates deveriam transcorrer nas questões sobre o papel da genética e do ambiente no processo de desenvolvimento. Periodo Maturacional (1928-1946) Seguindo o legado dos pesquisadores do periodo anterior, através do método observacional, nos anos 30 a pesquisa em desenvolvimento motor apresentou um dos seus períodos mais férteis. Inspirados nos exemplos da biografiados bebês, neste período, muitos foram os estudos de caso, com acompanhamento longitudinal e descrições de individuos. Arnold Gesell e Myrtle McGraw foram as estrelas desta época, e pioneiros nos estudos com ricos detalhes sobre diversos comportamento infantis. Ambos apresentaram uma visão que levantou questões sobre os behavioristas, pois apontaram a importância dos processos biológicos, como a maturação, para o comportamento do indivíduo. Em seus descritos, Gesell e McGraw apontaram as regularidades no comportamento dos bebês e concluíram que estar regularidades refletiam regularidades na maturação cerebral, um processo comum geneticamente conduzido em todas as crianças. Fizeram relatos que documentaram a sequência de comportamentos pelos quais os bebês passavam, essa sequência foi entitulada “sequencia universal”. A sequencia universal era um argumento para a presença importante das características biológicas permeando o processo desenvolvimental. Apesar das detalhadas descrições sobre o comportamento apresentado pelos bebês, a idéia dos estudos destes pioneiros era entender o que causavam estas mudanças no comportamento. Estavam interessados na compreensão do processo que norteava o desenvolvimento observado. Apesar de atribuir o papel fundamental da maturação do sistema nervoso central para as mudanças desenvolvimentais relatadas, McGraw também considerava o processo de ensino e aprendizagem como importante para o desenvolvimento. E, explicitamente, escreveu que entendia que a aprendizagem e a maturação não se tratavam de procesos diferentes, eram apenas diferentes facetas do mesmo processo, que era o desenvolvimento. Em diversos estudos McGraw constatou o efeito do processo de aprendizagem ensinando habilidades motoras a apenas uma criança que tinha um irmão gêmeo. Assim, o outro irmão “apenas apresentaria o comportamento que estivesse unicamente relacionado com a maturação”. Com isso, ela mostrava que o comportamento motor era fruto tanto da maturação dos sistema nervoso central como também das experiências especificas de cada criança. Processo de desenvolvimento motor 10 Figura 1. Mirtle McGraw em sessão de testes com os Gêmeos Jhonny e Jimmy. Fonte da imagen: http://psicologiasolta.webnode.com.pt/ experiência%20precoce/myrtle-mcgraw/ Apesar de Gesell e McGraw serem ambos rotulados como maturacionistas, suas idéias eram divergentes em vários aspectos. No entanto, o avanço que ambos proporcionaram para os estudos do desenvolvimento são inegáveis. Gesell enfatizou seus estudos na morfologia do desenvolvimento, entendendo o comportamento como a forma do desenvolvimento. Em suas observações sobre as crianças, postulou alguns princípios norteadores do desenvolvimento, como por exemplo o princípio da direção desenvolvimental (céfalo-caudal e próximo-distal). Estes princípios, nascidos a partir da observação do comportamento, foram proposições teóricas que explicavam todos os comportamento apresentados pelas crianças, e foram tão válidos que ainda são são capazes de explicar muitos comportamentos até os dias atuais. O Período Maturacional teve muitas outras publicações importantes. Mary Shirley apresentou uma cronologia do desenvolvimento mental e motor em 25 bebês durante 2 anos (Shirley, 1931) com descrições dos estágios do processo de aquisição da postura e do andar. Halverson (1931) descreveu o desenvolvimento da preensão que teve fundamental importância para entender as habilidades motoras finas. Nancy Bayley desenvolveu uma escala normativa de desenvolvimento motor baseada nas suas observações sobre o aparecimento das habilidades motoras durante os primeiros 3 anos apos o nascimento (Bayley, 1935;1936). Esta escala é utilizada até hoje, sendo feitas algumas adaptações para cada caso, ou cada grupo de crianças. Além destes, a publicação da dissertação de Monica Wild em 1938 sobre as mudanças no padrões de coordenação do arremesso de ombro praticamente encerrava a era Maturacional e antecedia as descrições das habilidades motoras grossas que estavam por vir no próximo período (Normativo/Descritivo). Período Normativo/Descritivo (1946-1970) A reemergência dos estudos em desenvolvimento motor depois da II Guerra Mundial foram basicamente devido aos esforços de Anna Espenschade, Ruth Glassow e G. Lawrence Rarick. Estes autores haviam sido fortemente influenciados pelos maturacionistas, porém, se diferenciavam deles em muitos aspectos. Eram educadores físicos, com foco das pesquisas voltados para área escolar. A intenção com os estudos, além de melhorar a performance, principalmente esportiva, utilizar o comportamento motor para entender os processos cognitivos. As investigações do comportamento eram feitas através de medidas antropométricas e de crescimento, e estes dados eram amplamente utilizados para elaborar testes de avaliação escolar e esportiva, e na construção de programas para melhora da perfrmance motora. O Periodo Normativo/Descritivo não foi um período de crescimento fulminante como o anterior, aliás foi o contrário, no entanto, foi também um período de crescimento importante para a área de pesquisa, que agora estava separada da psicologia, e quem estava a frente das pesquisas eram as áreas da educação fisica, da fisioterapia e da medicina. O foco das pesquisas na década de 50 estavam em entender o papel do crescimento físico e da força na performance motora das crianças. Estes estudos refletiram o foco desta época não somente na area da educação física, como também na educacao de maneira geral, e assim, foram desenvolvidos vários testes apara avaliação de escolares. Processo de desenvolvimento motor 11 Espenschade reportou o em seus estudos medidas antropométricas das crianças, indicando quão rápido as crianças podiam correr e os padrões de coordenação usados na corrida. Estes estudos foram originados na Universidade de Wiscosin sob a orientação de Glassow. Suas análises biomecânicas das descrições dos padrões de coordenação para algumas habilidades fundamentais como o saltar por exemplo eram meticulosas. O período entre 1946 e 1960 foi caracterizadao como período dormente, pois foi nesta época que a confusão entre os termos produto e processo1 começou a surgir. Na verdade, nem as medidas de crescimento e performance relacionadas ao produto, nem as medidas de coordenação (asociadas aos processos) eram acompanhadas de debates sérios para a compreensão dos mecanismos que delineavam as mudanças desenvolvimentais. Como estavam focados nas idades escolares, os estudos eram descrições do crescimento e da performance motoras destes indivíduos. Durante a ultima década deste período nos anos de 1960 foi possível observar algumas mudanças no delineamento das pesquisas. Descrições biomecânicas dos movimentos das crianças continuaram a crescer. Um bom exemplo foi o estudo longitudial de Lolas Halverson com 7 crianças que levou 15 anos. O estudo era para descrever exatamente o que as crianças podiam fazer e quando podiam fazer. Entender o processo desenvolvimental era o ultimo objetivo da pesquisadora. No entato, é importante mencionar que neste estudo Halverson examinou também o papel do ambiente e da aprendizagem como fatores determinantes para o aparecimento de alguns padrões particulares de coordenação. Claramente, Halverson assim como McGraw, 1 - Os termos produto e processos foram muito utilizados, e ainda são ate hoje em dia. Produto refere-se ao resultado de um processo, neste caso, resultado do desenvolvimento,portanto o produto era o movimento. Processo eram os eventos internos que ocorriam, os mecanismos que levavam ao funcionamento. eram mais interacionistas2 do que maturacionistas nos moldes iniciais da psicologia desenvolvimetal. A década de 60 marcou o início do interesse no desenvolvimento perceptivo-motor. Apoiados nas especulações de psicólogos, de que crianças com atrasos desenvolvimentais os tinham devido a problemas perceptivos-motores, as pesquisas na área da psicologia se voltaram para o campo do desenvolvimento. Na verdade, muitas pesquisas nesta época falharam em identificar alguma ligação entre o desenvolvimento motor e o pensamento, no entanto, ofereceu oportunidade para uma nova visão emergir: a relação entre percepção e cognição e suas interações com o movimento, que foram essenciais para o próximo período. O periodo Normativo/Descritivo trouxe contribuições importantes no aumento do conhecimento orientado ao produto, os estudos descritivos sobre o crescimento e performance motora ainda hoje são referencias. O fato é que este período foi fruto do período anterior (Maturacionista) os pesquisadores deste periodo se espelharam nos maturacionistas, por isso a lacuna nos estudos sobre o processo. Outro fator importante para o foco no produto é que, diferentemente dos psicólogos, que estavam interessados em entender o funcionamento do sistema nervoso central através do comportamento motor, os educadores físicos estavam preocupados em saber como melhorar suas instruções para aumentar a performance. Tinha ainda um terceiro grupo, os pesquisadores da área de aprendizagem motora (grande parte dele profissionais da área da educação física) que estavam preocupados apenas em entender os principios gerais do processo de aprendizagem. Um trabalho importante para esta literature qu usou esse referencial foi a descrição do desenvolvimento das sequências dos padrões fundamentais de saltos por Hellebrandt, Rarick, Glassow & Carns (1961), também houveram descrições do arremesso de ombro por 2 - Interacionista é praticamente o oposto de maturacionista. Enquanto o maturacionismo aponta apenas o Sistema Nervoso Central como responsável pelas mudanças comportamentais, o Interacionismo aceita que diversos fatores podem ser responsáveis pelas alterações. Interacionismo vem da palavra integrar. Processo de desenvolvimento motor 12 Roberton (1978) e dos padrões motores fundamentais por Wickstrom (1977). Depois dos estudos sobre padrões de comportamento, como por exemplo o levantar a partir do chao, onde cada grupo de individuos apresentava estratégias diferentes dos outros grupos3, a autora chegou a conclusão de que o processo de desenvolvimento não é necessariamente hierárquico, pois ele pode partir dos comportamentos mais simples para o mais complexo, mas também pode partir do complexo para o mais simples. Sendo assim, é um processo que apresenta uma organização e reorganização dinamica de acordo com cada contexto. Período Orientado ao Processo (1970 até os dias atuais) Esse período é caracerizado pelo aumento do interesse pelo desenvolvimento motor e o foco novamente retorna aos processos que permeiam o desenvolvimento. Apesar deste período inicialmete seguir até os dias atuais, é preciso cautela nesta observação, pois o avanço nas pesquisas nos dias de hoje tem apresentado uma velocidade bem maior, e colocar tudo em uma mesma categoria pode ser preocupante. No entanto, vamos considerar cada década com cuidado. O início deste período foi marcado pela publicação de Kevin Connolly “Mecanismos de Desenvolvimento das Habilidades Motoras” em 1970 como resultado de um encontro de cientistas (sendo maioria deles psicólogos) marcando a volta do interesse dos psicólogos pelo desenvolvimento motor. Trabalhos de psicólogos reconhecidos como Gerome Bruner e Jean Piaget tinham o foco no desenvolvimento das habilidades durante a infância, tendo as habilidades motoras recebido uma atenção especial. Além disso, a emergência da abordagem de Processamento de Informação intensificou o debate e as pesquisas entre os psicologos experimentais e desenvolvimentais na elaboração de suas hipótese sobre o processo por trás do desenvolvimento. 3 - Estratégias como uso das mãos como apoio ou não. Ao mesmo tempo que todas estas mudanças apareciam no campo do desenvolvimento, na aprendizagem motora as ideias da teoria de Processamento de Informação também estavam tomando conta das pesquisas sobre as habilidades motoras em adultos (Fitts & Posner, 1967; Keele, 1973; Marteniuk, 1976; Schmidt, 1975). Assim, com as mudanças atingindo tanto os estudos na area da aprendizagem motora com a abordagem do Processamento de Informação pelos educadores físicos e psicologos experimentais e a abordagem do Periodo Orientado ao Processo adotado pelos psicólogos desenvolvimentais, dois grupos contrários foram criados na area de desenvolvimento motor na decada de 70, favorecendo a confusão entre os termos aprendizagem e desenvolvimento. No grupo que seguia a abordagem do Processamento de informação estudos sobre memoria, atenção e percepção em adultos foram exaustivamente estudados e muitas comparações com a performance infantile foi e vem sido feita. Os pesquisadores da aprendizagem motora embasavam seus estudos em uma abordagem teórica que também trazia resquícios da era maturacional, a Teoria do Processamento de Informação. Esta teoria apontava que o cérebro funcionava de maneira semelhante a um computador, onde informações entravam no sistema (input) enquanto que os movimentos eram a resposta (output) do sistema nervoso central. Desta forma, sugeria que os movimentos eram o produto de unidades chamadas de programas motores. O Programa Motor era como um bloco pré-programado de um comportamento. O Programa Motor era a unidade básica na organização neuromotora, podendo ser auto-acionado pelo indivíduo ou ainda, ser acionado por um estímulo externo. A ideia do Programa Motor foi extensivamente explorado pela comunidade científica da época, principalmente em estudos de casos de disfunções neurológicas. No entanto, no começo dos anos 70, os estudos sobre percepção começaram a emergir. Estes novos estudos Processo de desenvolvimento motor 13 foram oriundos dos estudos de psicólogos da década de 60 mencionados anteriormente, sobre desenvolvimento das capacidades perceptivo-motoras em crianças com comprometimentos mental e motor. Nesta época duas correntes de pesquisa se formaram, uma delas investigando as mudanças sensório-motoras utilizando da teoria de Processamento de Informação como base. Enquanto isso, outro pequeno grupo de psicólogos ambasava seus trabalhos na proposta ecológica de percepção direta de James Gibson. O quadro de referência de Gibson se fundamentava na questão de que o processo perceptivo não era passivo e sim uma busca ativa por parte do indivíduo, que direciona sua atenção para as informações julgava relevantes. Neste momento as questões levantadas que guiavam a nova tendência nas pesquisas mudaram e passaram a ser: o que muda com a experiência? com quais capacidades nascemos? Nos anos 80 uma nova tendência passa a tomar conta do cenário científico a partir da publicação de Kugler, Kelso & Turvey em 1982. A sugestão de uma nova perspectiva teórica para o estudo do controle e coordenação do movimento, embasada em uma princípios da física, biologia e ecologia. Inspirado as idéias de Bernstein (1967) estes autores argumetavam que o movimento era controlado por inputs não específicos aosistema nervoso central, e sim pela periferia (músculo) que a posteriori utilizavam uma coordenação por parte do funcionamento especifico do SNC. Estes apontamentos vinham na contra mão das propostas da Teoria de Processamento de Informacão, que posicionavam o comando do sistema nervoso central como inicial e prevalente no processo de produção de movimentos. Além disso, a nova perspectiva apontava princípios da termodinâmica para explicar os processos de continuidade e descontinuidade do desenvolvimento. Bernstein (1967) sugeriu que o indivíduo atua no meio através de um sistema de ação, e não simplesmente através de um sistema motor. Ou seja, para ele, o movimento não é fruto de reações do sistema muscular dependente de comandos do sistema nervoso central (SNC), e sim de uma relação de constante troca de informações entre estes sistemas, o que caracterizaria uma ação. Assim, o controle do comportamento não caberia apenas ao sistema nervoso central, mas à interação entre ele e o sistema muscular. Esta perspectiva inovou no sentido de tratar a interação do indivíduo com o meio como um processo equilibrado e ativo, baseado na ontogenia, na evolução e na ecologia. Alinhadas a este ponto de vista (de Bernstein) estão as idéias de James Gibson, que propunha o uso de uma psicologia que levasse em conta a ecologia, ou seja, o meio no qual o indivíduo está inserido e sua interação com ele, para explicar a percepção de maneira geral. Para Gibson (1966) a percepção é um processo ativo que não pode ser separado ação, pois perceber implica em agir e agir implica em perceber. Neste sentido sua teoria para o desenvolvimento da percepção passou a ser expandida para a psicologia da ação e tem exercido grande influência nos trabalhos sobre o desenvolvimento de maneira geral. Esse processo perceptivo ativo parece ser filogeneticamente adaptado para o indivíduo identificar as informações relevantes e interagir com o ambiente. Assim, o indivíduo vê, ouve, sente e se move em atividades de exploração conduzidas pelos canais perceptivos dentro de um ambiente em busca de informações para organizar suas ações de maneira integrada (Gibson, 1966 e 1979). Aproveitando os conceitos da teoria da percepção de James Gibson, Eleanor Gibson trata do desenvolvimento do indivíduo no meio travando uma ligação entre o ato de perceber o conceito de affordances4 (traduzido aqui como “potencialidades”) sugerindo que o agente, busca ativamente informações no ambiente que ofereçam possibilidades de desempenhar alguma ação. 4 - Apesar da apresentação da tradução do termo affordance, as traduções deste termos parecem nao ter ainda encontrado uma palavra que faça jus ao significado em inglês. Por isso, o termo em inglês ainda é muito usado nos docimentos acadêmicos brasileiros. Processo de desenvolvimento motor 14 Assim, o desenvolvimento não acontece isoladamente, e sim, a partir de uma intrincada interação entre sujeitos, objetos, ambiente (Gibson & Pick, 2000). Essa rotina cíclica em que o processo de perceber tem o poder de influenciar e guiar as ações, que por sua vez, podem gerar novas percepções se estabelece ao longo do processo do desenvolvimento, e foi chamado de ciclo percepção-ação (Gibson & Pick, 2000; Lockman & Thelen, 1993). Tambéma partir das idéais ecológicas de Gibson, eles argumentavam que a informação era uma variável física única e específica às mudanças dinâmicas do sistema. E assim, um grupo adepto destes princípios fez diversos trabalhos baseados nesta perspectiva Bernsteiniana e Gibsoniana também chamada de teoria dos sistemas dinâmicos. Para os pesquisadores do desenvolvimento motor, essa nova contextualização do controle e desenvolvimento do comportamento motor levou a reaplicação de muitos tipos de estudos que já haviam sido elaborados, porém agora com essa nova abordagem teórica. Um dos mais importantes trabalhos desta época foi realizado por Esther Thelen, que investigou os precursores do andar infantil. Um destes estudos de Thelen se preocupou em investigar o desaparecimento do reflexo da marcha nos bebês quando estes estão com aproximadamente 7 meses de idade. Através de manipulações morfológicas no aparato experimental, Thelen e seus colegas mudaram a visão tradicional sobre o papel da maturação do sistema nervoso central a quem foi atribuída a responsabilidade pela inibição deste reflexo nesta idade. Até então, as explicações para o desaparecimento do reflexo e tempos depois surgimento do comportamento voluntário eram atribuídas a um período onde o sistema nervoso central estava se reorganizando para a emergência do comportamento voluntário. Thelen mostrou que os bebes nesta idade podiam apresentar o comportamento da marcha se colocados em um andador, ou ainda se colocados na água. Com isso, apresentou uma justificativa física para o desaparecimento do comportamento: os bebês nao tinham força muscular suficiente para manifestar o comportamento, uma vez que essa restrição do organismo era eliminada, colocando-os no andador ou com as pernas submersas, o comportamento voltava a aparecer (Thelen, 1986a, 1986b, 1988). Juntamento com seus novos trabalhos experimentais, Thelen também se dedicou na introdução da perspectiva de sistemas para o desenvolvimento motor. Apontando a importância de todos os processos maturacionais do organismo, e não a penas do sistema nervoso central, que havia sido o foco dos maturacionistas e dos teóricos do Processamento de Informação. Outros pesquisadores que contribuíram para a perspectiva dos sistemas dinamicos em estudo do desenvolvimento motor foram Jane Clark e seus colegas, que estudaram o desenvolvimento das habilidades locomotoras em bebês (Clark, Phillips & Petersen, 1989; Clark & Whitall, 1989; Clark, Whitall & Phillips, 1988), Roberton que investigou o galopar (Getchell & Roberton, 1989; Roberton & Halverson, 1988) e Newell com seus estudos a partir da abordagem da percepção-ação para a preensão infantil (Newell, Scully, Tenenbaum & Hardiman, 1989). Usando os princípios da teoria dos sistemas dinâmicos os pesquisadores voltaram o foco das pesquisas para o processo de desenvolvimento motor. O mesmo pôde ser observado no campo da psicologia desenvolvimental (Gunnar & Thelen, 1988) onde a teoria dos sistemas dinâmicos e a perspectiva da percepção-ação surgiram como alternativas para a abordagem do Processamento de Informação nas pesquisas em desenvolvimento. Podem ser incluídos neste grupo de estudos baseados na nova abordagem dinâmica do desenvolvimento os achados de von Hofsten no desenvolvimento do alcançar (Hofsten, 1982, 1984) os estudos de Campos, Bertenthal e Benson no engatinhar (Benson & Uzgiris, 1985; Bertenthal, Campos & Barret, 1984) e os trabalhos de Pick e Palmer (1986) e Gibson e Schmuckler (1989) na manutenção da postura ereta, locomoção e percepção. Processo de desenvolvimento motor 15 Em suma, o começo do Periodo Orientado ao Processo mostrou pesquisas em desenvolvimento motor que primeiramente consistiam em apresentar descrições da performance motora em crianças. No entanto, 20 anos depois dentro deste período, as pesquisas em desenvolvimento motor passaram para a descrição da performance motora para a explicação de suas causas. Dentro deste período duas abordagems foram utilizadas: Procesamento de Informação e Teoria dos Sistemas Dinâmicos. Ambas, hoje em dia são paradigmas viáveis para explicar o desenvolvimento das habilidades motoras. No entanto, cada uma delas apresenta diferentes interpretações dofenômeno desenvolvimento. Enquanto a abordagem do Processamento de Informação procura responder as questões desenvolvimentais através dos processos de controle e coordenação dos movimentos e suas mudanças ao longo do tempo; a Teoria dos Sistemas Dinâmicos também está voltada para responder as questões de coordenação e controle, além das questões sobre os processos de desenvolvimento. Essas diferentes abordagens, como já mencionado anteriormente, são adotados por grupos diferentes de pesquisadores. Tradicionalmente a psicologia experimental e da aprendizagem, assim como alguns pesquisadores da áreas da educação física, tem voltado seus estudos apoiados na abordagem do Processamento de Informação. Ao contrario disso, a psicologia desenvolvimental, bem como alguns profissionais da educação física, fisioterapia e terapia ocupacional, tem adotado a Teoria dos Sistemas Dinâmicos como escopo para seus estudos. Essa dicotomia acaba por contribuir ainda mais para a impressão de que desenvolvimento e aprendizagem são fenômenos diferentes, quando na verdade não são. Abordagens teóricas para o desenvolvimento Abordagem Maturacionista Um dos maiores nomes da abordagem maturacionista foi Arnold Lucius Gesell (1880-1961), um gigante no campo da psicologia desenvolvimental. Ele foi pioneiro em suas observações científicas em bebês e crianças através de técnicas e métodos inivadores contribuindo para um vasto conhecimento sobre o comportamento desta população. Publicou ativamente por 4 décadas sendo muito respeitado em vários campos da ciência, como educação, psicologia, medicina e outros ramos da ciência social. Gesell popularizou a pratica dos testes desenvolvimentais utilizados em consultórios médicos e clínicas escolares. Seus escritos definitivamente o consumaram como um teórico do desenvolvimento. Sua teoria era compreensível, coerente e usava o que as ciências biológicas tinham de melhor em seu tempo. Fig 2. Arnold Gesell. Fonte da imagem: http://psicologia12h.wordpress.com/2010/12/03/ gesell-4-links-importantes/ Como Piaget, Gesell mergulhou profundamente nas trilhas das ciências biológicas, e olhou para todo comportamento e atividade mental como inseparáveis um do outro, incluindo a engenharia que dava forma física ao organismo. Inspirado nos métodos e achados de Darwin, Gesell assumiu que as forças da seleção natural atuavam com igual poder sobre os aspectos funcionais do organismo, levando Gesell a descrever ordenadamente a progressão do desenvolvimento motor durante a infância com igual detalhamento através de descrições do comportamento intelectual, da personalidade e dos estágios sociais durante toda a infância e adolescência. A visão de Gesel sobre as características individuais, sobre o papel da família, escola e cultura sobre um indivíduo nunca foi muito claro pois apresentava contradições. Ele enfatizava que a sociedade e a família podem oferecer a criança um ambientecom potencial para o crescimento Processo de desenvolvimento motor 16 de cada um, fazendo com que a criança possa alcançar patamares ótimos. No entanto, como atribuía todo o proceso desenvolvimental apenas à maturação do sistema nervoso central, esa afirmação era um tanto quanto contraditória, pois assumia, mesmo que em níveis mínimos a influência do ambiente. Os estudos observacionais de Gesel identificaram detalhadamente cada marco do desenvolvimento motor infantil. O propósito geral do conhecimento dos marcos desenvolvimentais era identificar o estado individual de cada criança para guiá-la para um crescimento ótimo. Crianças que apresentavam atrasos poderiam ser munidas com ambientes favoráveis para nao atrapalhar o programa genético. Fig 3. Arnold Gesell em procedimento experimental com bebê. Fone da imagem: http://psicologia12h.files.wordpress. com/2010/12/50768662.jpg A maioria de suas pesquisas foram conduzidas com o intuito de descrever e compreender as normas/marcos desenvolvimentais. Esses marcos foram apresentadas em publicações sobre os movimentos posturais, de preensão, adaptativos, social e lingüístico da infância ate a adolescência. Algumas crianças foram observadas transversalmente e outras longitudinalmente em intervalos de meses ou anos. Mais de 500 criancas foram observadas, 50 a cada faixa de 10 anos, contribuindo para as a detreminação dos marcos originais do desenvolvimento utilizados ate hoje em dia. Em geral os estudos foram concentrados mais aprofundadamente no primeiro ano de vida. As observações eram feitas mensalmente e novos dados eram coletados a cada sessão de testes. Durante este primeiro ano Gesell procurava identificar os padrões pré-formados do comportamento. De fato, a bateria de testes contemplava ítens e situações comportamentais organizadas de acordo com a premissa da maturação das formas do comportamento. Além disso, desde o início Gesell manteve o foco nas competências perceptivo motoras e sociais, mas posteriormente sua forma de abordar o tema pareceu incompleta. Definitivamente o maior legado de Gesel foram as normas, ou etapas do crescimento/desenvolvimento infantil. Atualmente muitos livros texto sobre o desenvolvimento trazem quase que obrigatoriamente uma tabela com os marcos descritos por Gesell em um capítulo a parte. Estes estágios de desenvolvimento motor ainda são usados hoje em dia como exemplos para fundamentar estudos apoiados em teorias maturacionais, ou até mesmo para dar credibilidade a teorias maturacionais que aidam surgem. Essa tendência do uso da maturação neural para explicar as mudanças comportamentais com certeza é um legado de Coghill (pesquisador que exerceu muita influencia nos trabalhos de Gesell) e continua sendo usada ate os dias de hoje. A forma e sequência do desenvolvimento cerebral e das manifestações comportamentais eram definitivamente atribuídas aos códigos genéticos. Para Gesell a sequência de desenvolvimento motor era totalmente geneticamente programada. Negando alguma variabilidade cultural a consistência dos marcos através das populações era interpretada como especifica da espécie. Outro tema recorrente nos escritos de Gesell era sobre o conhecimento inato, para ele a mente humana era um conjunto de conhecimento inato especfico qur facilitavam a compreensão sobre pessoas, objetos, espaço, números, linguagem e relações de causa e efeito. Sempre apoiado na genética como determinista para explicar o desenvolvimento. No entanto, também demonstrou muitas Processo de desenvolvimento motor 17 contradições, por exemplo, acreditava na individualidade da criança mas escolheu o ditado dos genes para eliminar a presença do ambiente. Procurou libertar e tranqüilizar os pais mas dizia que poderiam ter culpa em alguns processos. Estava preocupado com o bem estar das crianças, mas na sua classificação por idades, a criança era vista como algo passivo e até mesmo inerte. Abordagem Cognitivista O clima intelectual nos anos de 1920 era dominado pela Psicologia da Gestalt5 e pelo Behaviorismo quando Jean Piaget começou seus trabalhos. Perturbado com a visão de que o funcionamento humano era o mesmo do ambiente em que estava inserido (Gestalt) ou que o comportamento humano era meramente resultado da influência do ambiente (Behaviorismo), Piaget procurou descrever o comportamento como uma tendência humana em se adaptar ao ambiente. Essa proposta contraria as propostas vigentes foi a primeira expressão da reação de Piaget ao teste de Stanford-Binet6 muito utilizado na época para avaliar crianças. Fig 4. Jean Piaget Fonte da imagem: http://www.essaseoutras.com.br/jean-piaget-–-construtivismo-fundamentos-da-educacao/ Piaget reconhecia que a consideração das respostas das crianças no teste simplismente como certas ou erradas sem um foco em como eles alcançaram as respostas não podia informar nada sobre como a criança construía o conhecimento e adaptava seus pensamentos. A partir de 5 - Ramo da psicologia conhecido pela psicologia da forma. Essa doutrina dizia que nao se pode conhecer o todo olhando para as suas partes, pois o todo é mais do que a soma das partes. 6 - Um dos primeiros testes de QI criado para avaliar o grau de inteligência do indivíduo. então Piaget começou a explorar a estrutura e o conteúdo do pensamento durante a infância. Sua teoria foi contruída em duas formas de explanação sobre o curso do desenvolvimento: estrutura e função. Uma teoria sobre o desenvolvimento não pode deixar de contemplar estes dois aspectos e Piaget fez isso para explicar o desenvolvimento cognitivo das crianças. Suas primeiras publicações, de 1920 a 1930, apresentavam uma observação detalhada e sua interpretação do desenvolvimento cognitivo de seus 3 filhos. Durante a II Guerra Mundial Piaget foi para a Suíssa onde esteve em segurança para continuar suas pesquisas, e depois do fim da guerra, quando suas idéias foram publicadas, a teoria de Piaget entrou em cena. Com uma visão estrutulalista e cognitivista Piaget chocou a comunidade de psicólogos na época. A era da Teoria Cognitivista dominou o cenário ate o final dos anos 70, quando a influência das experiências de Piaget passaram a declinar a partir de 1980. O programa de Piaget foi dividido em 4 fases que dão conta de abarcar todo o desenvolvimento cognitivo. Fase 1 : A concepção de realidade da criança mediada através da linguagem e interação social A questão inicialmente investigada era sobre a função, para que servia e qual a necessidade do uso da linguagem. A perspectiva de Piaget era descritiva e classificatória mas não sem a explicação da função. Ele classificou essa função em duas categorias: egocentrismo e socialização. O egocentrismo foi aplicado a várias categorias de falas e refletiam o ponto devista da criança sobre os eventos, sem levar em consideração o que viam ou ouviam. A fala socializada reflete a intenção de interação social, foram detalhados 3 estágios nesta função, ele relatou que até os 6 anos de idade 45% das crianças apresentavam a fala egocêntrica. Entretanto, a fala egocêntrica, não era absolutamente associal, pois a criança interagia com uma pessoa contando uma história por exemplo, porém não levava em consideração o ponto de vista do outro (a fala Processo de desenvolvimento motor 18 do outro). Piaget se interessou pelo estudo da linguagem, pois para ele,a linguagem era uma janela para entender o processo do pensamento, o aspecto da linguagem era apenas uma questão secundária. O primeiro grande trabalho de Piaget foi elucidar sobre a forma e função do pensamento infantil, principalmente o pensamento para a linguagem. Descrevendo os estágios primeiro com uma classificação descritiva até certo ponto simplista e uma explicação funcional apurada das mudanças nas propriedades destas diferentes formas de fala. Ele continuou a usar a descrição dos estágios até o fim de sua carreira, característica esta também das fases 2 e 3, com ênfase na descrição funcional e descrição o que era típico na Psicologia da época. O estudo dos questionamentos espontâneos das crianças forneceu base para atribuir a forma do pensamento pré-causal da criança, caracterizando a diferença entre a explicação causal e explicação intencional. As relações entre a linguagem e o pensamento foram atribuídas às conexões de justaposição, que era a tendência em ligar um pensamento ao outro sucessivamente quando havia uma relação de causa ou lógica entre eles. Piaget também investigou sobre o julgamento e raciocínio e suas relações dentro do contexto verbal, usando as perguntas do teste de Stanford-Binet para explicar como funcionava o raciocínio das crianças. Por exemplo, uma das perguntas do teste era: “Eu tenho 3 irmãos: Paul, Ernest e eu. O que há de errado nesta sentença?”. Com pequenas variações disso, o teste era aplicado em crianças de 4 a 12 anos. Piaget apontou que as crianças mais jovens são incapazes de diferenciar dois pontos de vista, o dele e do outro, por isso seriam incapazes de acertar a questão. Nos estudos de raciocínio aritmético ele reformulou questões, pois as anteriormes, mesmo quando as crianças acertavam a resposta não sabiam explicar o porque. E assim outras questões importantes foram investigadas como: assimilação e imitação da realidade, o realismo, a concepção de causalidade e o julgamento moral da criança. Em suma, o primeiro período da pesquisa de Piaget foi marcado pela teoria do desenvolvimento na trasferência do egocentrismo para o pensamento social com uma teoria da social de causalidade em que o egocentrismo é conseqüência da pobre interação de trocas entre pensamento e ação. Foi um período muito fecundo, em que o estudo da linguagem e das concepções de realidade, causalidade e julgamento moral afetaram o curso de muitas pesquisas desenvolvimentais ao redor do mundo e introduziu uma orientação teórica que futuramente resultou em algumas controvérsias. Também foi um período em que a introdução de uma definitiva orientação cognitiva para o trabalhho de desenvolvimento com crianças, com a descoberta de procedimentos úteis em detalhar o curso do desenvolvimento cognitivo. Também ofereceu o início para uma teoria do conhecimento que deixou muito significado para a psicologia desenvolvimental. Fase 2: Estágios no Desenvolvimento Sensório- Motor. A Teoria da Adaptação Os anos de 1930 apresentaram uma mudança decisiva na pesquisa e na teoria de Piaget. Esta época foi marcada pela apurada observação dos seus 3 filhos que nasceram em 1925, 1927 e 1931. Enquanto que as primeiras pesquisas foram focadas exclusivamente nas mudanças verbais entre o experimentador e as crianças ou, somente entre as crianças, o estudo nesse segundo período foi uma apurada observação das ações das crianças com objetos. Foram estabelecidos 6 estágios para esta parte do desenvolvimento cognitivo. Ele apontava que a linguagem e o pensamento eram precedentes e preparatório para a fase da ação lógica, representada pelo desenvolvimento de esquemas de coordenação e ação sensório-motora. A ação era a cena e a fonte fundamental de conhecimento para entender e definir os aspectos da percepção e linguagem. Processo de desenvolvimento motor 19 Piaget adotou da teoria biológica o processo de assimilação e acomodação como funções invariantes. Na assimilação estruturas já existentes na mente incorporavam propriedades abstradas da ação com objetos. Na acomodação, a mente modificava as estruturas existentes para a variabilidade das propriedades dos objetos. Enquanto a assimilação tratava da identidade funcional da ações para com os objetos, a acomodação tratava das diferenças funcionais entre os objetos. Assim, a organização provinha de um mecanismo auto regulado para as relações dentre as resultantes da estrutura. O balanço compensatório entre assimilação e acomodação feito através da auto organização, tornava possivel a adaptação do organismo ao ambiente físico e social. Através da teoria da adaptação era enfatizado a importancia da repetição das ações em uma reação circular. O aumento da intencionalidade e as variações entre assimilação e a acomodação eram evidentes no desenvolvimento do repertório.Parte da teoria também se concentrou em definir o desenvolvimento do conceito de objeto (onde desenvolveu o conhecido experimento A não B) onde a criança olha para onde um objeto estava originalmente e foi escondido ao invés de olhar para o lugar onde ela viu que ele foi colocado depois de ter sido escondido. Link para vídeo experimento clássico Erro A not B: http://www.youtube.com/watch?v=lhHkJ3InQOE Os protocolos de observação de Piaget neste período foram fatos essenciais para a descrição do comportamento infantil com a sua interpretação para a significância funcional de tudo. Piaget mapeou seu modelo de adaptação biológica para explicar um fenômeno local. O modelo era basicamente funcional. No próximo periodo o foco seria a explanação. 1.4.2.3 Fase 3: O Período Estruturalista. Modelo lógico matemáticos e operações concretas e formais. No final dos anos 30 e início da década de 40 livros sobre números e física marcaram a retomada a teoria de Piaget. Esse inicio em uma fase estruturalista durou ate os anos 60 e 70 e foi marcado pelo uso de análises estruturais e explanações tão boas quanto a introdução dos modelos adaptados para a lógica e matemática. Começando com uma intensiva analise de um domínio particular do conhecimento, os números, uma variedade de experimentos foram realizados apresentando o jeito da crianças em lidar com os conceitos destes elementos, suas complexidades e também suas limitações. Os estudos de crianças de diferentes idades rendeu informações sobre as características funcionais do pensamento das crianças, mas no estudo de crianças mais jovens nos estágios formativos do desenvolvimento, Piaget enfatizou os elementos construtivos do processo de formação. Foi muito criticado nesta época por outros pesquisadores (como Bruner, Flavell e Gelman) que achavam que seu ponto de vista caracterizava o desenvolvimento de uma maneira negativa, pois em descrever um estágio particular, ele detalhava o que faltava na criança em relação aos estágios seguintes. Nesta época Piaget definiu os estágios de operação concreta e operações formais. O primeiro com início entre 6-7 anos e o segundo entre 11-12 anos. Os componentes desta teoria se desenvolveram e a certo ponto foram considerados como uma versão expandida da teoria geral de desenvolvimento cognitivo. O conceito central onde a arquitetura lógica da teoria foi construída foram as operações lógicas, interpretadas como a interiorizacao mental da ação física. Nesta época, depois da II Guerra, com o progressivo desaparecimento do behaviorismo e os escritos sobre construtos mentais, houve um aumento na aceitabilidade das idéias cognitivistas de Piaget, que foi muito cuidadoso Processo de desenvolvimento motor 20 em apenas posicionar suas idéia em fatos observados, geralmente de padrões que se repetiam de forma particular, e que implicavam na existência de uma estrutura mental. A ação mental de combinar em classes os objetos e suas propriedades era um indicativo de adição lógica, onde ações mentais de subtração e multiplicação também estavam envolvidas. Mas o conceito central era a estrutura de grupos, baseados em grupamentos matemáticos, apesar do conceito de grupos usdos ate então pela da psicologia terem outras propriedades, como classes lógicas ou relações lógicas. Também foram estudadas a noção de permanência de quantidade, considerando números, peso, massa, cumprimento, área etc. O período estruturalista foi rodeado por estudos de imagem mental, percepção, memória e caracterização de coletivos (formação de grupos). Estes componentes apresentam estruturas que são complementares para todas as operações do pensamento onde as estruturas operativas agem. Este periodo não acabou abruptamente, mas a insatisfaçao com vários aspectos da teoria levaram a mudanças tanto no corpo quanto na direção das pesquisas de Piaget. Fase 4. Retorno ao Funcionalismo. Pensamento Pré Operacional, Estratégias, Lógica Intencional e Teoria do Significado. Na descrição de Piaget da progressão da inteligência sensório motora para as operações formais, o periodo pré-operacional, dos 2 aos 7 anos foi relativamente negligenciado. Piaget então voltou a este estágio e com uma continuacão da analise da estrutura definiu a natureza do pensamento em termos de funções e correspondências. No novo trabalho Piaget apontou que o pensamento das crianças também é reflexo de pensamentos invariantes, que se formam através do estabelecimento de correspondências por meio de comparação de ações. O último periodo das pesquisas de Piaget dos final dos anos 60 até os anos 80 foi rico em produtividade e em significado empírico para uma teoria. Uma nova correspondência entre causalidade e operações foi pensada, considerando as operações (ações mentais) como sendo objetos físicos do sujeito para a causalidade, como todos os outros objetos. Outro importante redirecionamento dos estudos foi para os aspectos da possibilidade. Nesta visão o desenvolvimento do conhecimento é resultados de possibilidades criadas previamente. Por fim a teoria dos significado que não foi finalizado pois foi interrompida pela morte de Piaget. A tese central era de que em todos os níveis desde os mais elementares, o conhecimento sempre envolve inferências. As evidencias para isso aparecem no periodo sensório-motor, onde as ações são antecipadas quando se entende a relação entre elas, assim como na linguagem, que também é, mais tarde, elaborada em formas de pensamento proposicional. Em resumo Piaget mostrou que desde o nascimento as crianças apresentam competências intelectuais que continuam se desenvolvendo e nunca param de se desenvolver. Seus trabalhos empíricos demonstraram como a mente funciona e se desenvolve através de uma concepção de mente e pensamento sob uma perspectiva construtivista. O coração desta teoria, foi a relação entre sujeito e objeto. Inspirado em Darwin, Bladwin e Hall apresentou um modelo biológico para as mudanças desenvolvimentais nas funções cognitivas. O programa de Piaget, foi uma forma de explanação com integração de estrutura e funcionamento. Mapeou modelos de matemática e lógica e, metodologicamente apresentou um método clinico que foi capaz de acumular tanta credibilidade quanto o dos behavioristas levando sua teoria a ser respeitada até os dias atuais. Logicamente muitas criticas foram e ainda são feitas, no entanto o pioneirismo do seu trabalho não pode ser esquecido. Vídeo com experimentos exemplificando os estágios propostos por Piaget. Link para vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=C2A971Hp0go Processo de desenvolvimento motor 21 1.4.3 Abordagem dos Sistemas Dinâmicos Pode-se dizer que o renascimento do desenvolvimento motor sob uma nova perspectiva se deu em Agosto de 1993 com a publicação se uma sessão especial da revista Child Development (Desenvolvimento Infantil) entitulado “Biomecânica Desenvolvimental: Cérebro, Corpo, Conexões Comportamentais”editado por Jeffrey Lockey e Ester Thelen (Lockman & Thelen, 1993). A idéia do título era captar os avanços da época nas áreas da neurosciencia, biomecânica e no estudo da percepção- ação voltados para o comportamento. Neste ponto as influencias da teoria de Bernstein para o comportamento motor com base na física e na matemática dos sistemas dinâmicos foram cruciais. Bem como a contribuição da teoria ecológica do desenvolvimento da percepção-ação de James Gibson e Eleonor Gibson (1982, 1988). Juntos estes pesquisadores levaram o estado do estudo do desenvolvimento a uma figura
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