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RECRUTAMENTO E SELEÇÃO PROFESSOR (A): COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 2 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 SUMÁRIO ATRAÇÃO, RECRUTAMENTO E SELEÇÃO ............................................................... 5 ATRAÇÃO DE TALENTOS ........................................................................................ 5 Programas de Trainees ........................................................................................... 5 Programas de Estágio ............................................................................................. 7 RECRUTAMENTO E SELEÇÃO................................................................................ 8 Sendo assim ... O que é, de fato, Recrutamento e Seleção?.............................. 10 A IMPORTÂNCIA DO RECRUTAMENTO E DA SELEÇÃO ...................................... 15 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 15 PLANEJAR PARA RECRUTAR ............................................................................... 16 Recrutamento requer um cuidadoso planejamento, que constitui uma sequência de três fases, a saber: ......................................................................... 16 Planejamento de pessoal ...................................................................................... 16 Processo de recrutamento .................................................................................... 16 Atividades de recrutamento e seleção estratégicas para a empresa .................. 17 Diferença entre os conceitos de empregabilidade e empresabilidade ................ 19 TIPOS DE RECRUTAMENTO ................................................................................. 19 Recrutamento interno ............................................................................................ 19 Recrutamento externo ........................................................................................... 21 Recrutamento misto .............................................................................................. 22 SELEÇÃO COMO UM PROCESSO DE COMPARAÇÃO ...................................... 22 Técnicas de seleção .............................................................................................. 23 Seleção por competências .................................................................................... 25 Outras técnicas de seleção ................................................................................... 26 INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 3 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 EVIDÊNCIAS DE VALIDADE DA BATERIA DE PROVAS DE RACIOCÍNIO (BPR-5) PARA SELEÇÃO DE PESSOAL ................................................................... 28 SELEÇÃO DE PESSOAL: artigo.............................................................................. 41 SELEÇÃO DE PESSOAL: CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES SOBRE A PERSPECTIVA BEHAVIORISTA RADICAL ............................................................... 42 SELEÇÃO DE PESSOAL: algumas considerações ................................................ 45 ALGUNS ASPECTOS BEHAVIORISTAS RADICAIS ............................................. 47 CONSIDERAÇÕES ACERCA DE UM MODELO BEHAVIORISTA RADICAL EM SELEÇÃO DE PESSOAL .................................................................................. 52 A SELEÇÃO DE PESSOAL: métodos e técnicas ....................................................... 63 MÉTODOS DE SELEÇÃO DE PESSOAL: discussões preliminares sob o enfoque do behaviorismo radical ............................................................................. 64 DA QUALIFICAÇÃO À COMPETÊNCIA: deslocamento conceitual e individualização do trabalhador ................................................................................... 89 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 89 DA QUALIFICAÇÃO À COMPETÊNCIA ................................................................. 92 ASPECTOS METODOLÓGICOS E RESULTADOS DA PESQUISA ..................... 95 A introdução da noção de competência na empresa ........................................... 98 A dimensão conceitual ........................................................................................ 101 A dimensão social................................................................................................ 105 A dimensão experimental .................................................................................... 109 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 112 PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM GESTÃO DE PESSOAS NO PERÍODO 2000-2010................................................................................................. 115 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 116 METODOLOGIA DE ANÁLISE DA PRODUÇÃO EM GESTÃO DE PESSOAS (2000-2010) ............................................................................................................. 117 RECORTE EMPÍRICO E PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE ............................... 122 INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 4 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 DISCUSSÃO E IMPLICAÇÕES À PRÁTICA ACADÊMICA .................................. 123 LIMITAÇÕES DO ESTUDO E AGENDA DE PESQUISAS FUTURAS ................ 127 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 135 REFERÊNCIAS BÁSICAS ..................................................................................... 135 REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES ................................................................. 138 INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 5 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 ATRAÇÃO, RECRUTAMENTO E SELEÇÃO ATRAÇÃO DE TALENTOS Diante da importância que o capital humano vem ganhando no cenário empresarial, as corporações têm buscado formas de atrair pessoas com alto potencial profissional para integrarem suas equipes de atuação. Essa atração acaba por ser bastante focada em jovens talentos, pois dessa forma, a empresa pode treiná-los e capacitá-los de acordo com a missão, visão e valores da organização. Nessa busca por jovens talentos, os programas de trainees e de estágio têm se destacado como duas ferramentas de identificação e atração de jovens com grande potencial profissional, além de trazer excelentes resultados às empresas. Programas de Trainees Chiavenato (2004, p. 378) define programas de trainees da seguinte forma: Os programas de trainees representam uma espécie de curto-circuito dos antigos programas de encarreiramento profissional, uma vez que os treinados são posicionados, após sua formação e desenvolvimento, em determinados pontos já avançados ao longo da empresa. Geralmente, os programas de trainees estão voltados para universitários recém-formados, ou no último ou penúltimo ano de sua formação escolar. Algumas empresas fazem convênios com escolas de alto nível para acompanhamento da formação escolar dos seus melhores alunos para depois integrá-los em seus quadros de funcionários. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DEENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 6 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Os programas de trainees são uma forma utilizada pelas empresas para atrair e identificar jovens talentos. Os processos de seleção de trainees são comumente extensos e rigorosos, avaliando diversos itens, como relacionamento interpessoal, poder de persuasão, conhecimentos gerais e técnicos, iniciativa, liderança, entre outros atributos. Os candidatos escolhidos são contratados pelas empresas em regime de CLT – Consolidação das Leis do Trabalho, porém diferem dos demais colaboradores por receberem treinamento intensivo, a fim de desenvolverem o potencial identificado no candidato durante o processo seletivo, para que em um curto espaço de tempo, esses talentos ocupem cargos estratégicos e de decisão dentro da empresa. No trecho a seguir, Chiavenato (2004, p. 378) faz uma abordagem dos programas de trainees: As organizações bem-sucedidas estão investindo fortemente em programas de trainees, como um mecanismo de enriquecimento planejado do capital humano em longo prazo e um verdadeiro programa de melhoria contínua da qualidade do pessoal estendido em longo prazo. Uma espécie de investimento no sucesso futuro da empresa. Os participantes do programa desenvolvem um estágio programado; recebem treinamento planejado e contínuo, ministrado por profissionais de alto nível da empresa; participam ativamente de certas atividades previamente estabelecidas, enquanto são continuamente monitorados e avaliados quanto ao seu desempenho, vinculação com a empresa e sua cultura, espírito de equipe e potencial de desenvolvimento. Os programas de trainees estabelecem uma relação de crescimento e ganho mútuo entre empresa e trainee, onde ambos são beneficiados. De um lado o jovem colaborador é contemplado, por ter acesso a uma formação de INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 7 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 alta qualidade, baseada em treinamentos e capacitações intensivas e constantes. Do outro lado, a empresa também ganha, por ter um profissional de alto nível integrando a sua equipe. Entretanto, há de se destacar a importância de que o trainee se identifique com o perfil da instituição, a fim de que ele possa colocar seu potencial em prática, focado nos mesmos objetivos e valores da organização, evitando assim possíveis frustrações, tanto para a empresa quanto para o colaborador, pois em muitos casos, o trainee não consegue sucesso no local de trabalho por ter um perfil de atuação profissional que se distingue muito da área de atuação da empresa. Programas de Estágio Os programas de estágio caracterizam mais uma oportunidade que as empresas têm de identificar e atrair talentos para dentro da organização. Sua importância e benefícios são bilaterais, trazendo vantagens tanto para estagiário, quanto para a unidade concedente. A experiência em estágio é importante para os estudantes que estão iniciando sua carreira, principalmente em se tratando de jovens talentos, já que esses promissores profissionais têm, no estágio, uma grande oportunidade de mostrarem sua capacidade de aprender e desenvolver atividades com muita competência e qualidade. O conceito de estágio está baseado na formação do profissional, daquela pessoa que está ingressando no mercado de trabalho, e que quer colocar em prática o seu potencial. Entretanto, ainda hoje, nos deparamos com situações em que a atividade do estagiário é desempenhada de forma deturpada, deixando de lado o princípio de formação profissional, para se enquadrar em um cenário de substituição de mão-de-obra. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 8 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 RECRUTAMENTO E SELEÇÃO Antigamente, no RH de uma empresa, o enfoque operacional e burocrático predominava. O Recrutamento e a Seleção de Pessoas obedeciam a um conjunto de rotinas e procedimentos executados de maneira sequencial. Atualmente estes dois termos têm uma nova configuração. Suas características se modernizaram e a contribuição do Psicólogo aumentou, pois pode se utilizar muito mais das suas técnicas para atrair e selecionar candidatos. Então, vamos ao Recrutamento. O Recrutamento é o processo em que a organização atrai candidatos no mercado para o seu processo seletivo. Na verdade, o Recrutamento é um processo de comunicação: a organização divulga e oferece oportunidades de trabalho ao mercado – Recrutamento Externo, e também dentro da própria organização – Recrutamento Interno. O Recrutamento Interno privilegia os atuais funcionários, oferecendo a eles oportunidades melhores dentro da organização. Já o Recrutamento Externo, como o próprio nome diz, busca candidatos externos, visando trazer novas experiências e habilidades que no momento não existem dentro da organização. O Recrutamento pode ser divulgado de diversas formas e pode contar com algumas parcerias. Seguem alguns exemplos: Instituições de Ensino; Sites e Redes Sociais; Jornais e Mídias; Anúncio (s) na porta da própria empresa; Agência de Emprego, Consultoria de RH; Indicação de candidatos, funcionários, empresas parceiras, fornecedores e clientes; etc. Atualmente houve um aumento da procura por pessoas eficazes e dinâmicas, capazes de aumentar a perspectiva de vida das empresas e, INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 9 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 consequentemente, alcançar o sucesso. O processo para fazer com que essas pessoas trabalhem é de extrema importância para a empresa que, quer chegar ao sucesso. Os objetivos organizacionais podem ser atingidos somente com, e através de pessoas, por isso a importância do cuidado com a condução do processo de seleção. O objetivo maior da seleção é contratar os melhores dentre os candidatos, um processo pelo qual se faz a escolha dos candidatos que possuam o perfil necessário para ocupar o cargo. Quando feita adequadamente garante a entrada de pessoas de alto potencial e qualidade na organização, que é o objetivo de qualquer empresa, pois o lado humano da empresa deve apresentar coerência em termos de políticas e práticas de recrutamento e seleção. O alinhamento dos recursos humanos à estratégia da empresa é muito importante, visto que o planejamento estratégico é uma poderosa ferramenta para a construção e a consolidação da imagem dela. Apenas com planejamento é possível estabelecer uma comunicação integrada que dê consistência e potencialize a mensagem em todos os pontos de contato com o mercado, ele é um dos elementos mais importantes para um bem sucedido programa de administração de recursos humanos, é um processo pelo qual a organização garante o número certo e as pessoas apropriadas, no lugar certo. Nesse sentido, Chiavenato afirma que: “Recrutamento é o processo de atrair candidatos para uma vaga, anunciando e tornando atrativo para candidatos disponíveis no mercado. Buscando candidatos dentro e fora da organização”. (CHIAVENATO, 1983, p. 34). O recrutamento nunca teve importância tão significativa nos resultados de uma empresa como no mercado atual, uma prática bem desenhada, integrada e praticada terá um impacto positivo na empresa e o inverso, um resultado devastador. Por isso, se a escolha de pessoas é realizada a satisfação, da melhor e mais eficiente forma possível, visando ao benefício da empresa, a empresa já tem grande chance de obter sucesso, com base nas pessoas que a compõe. Porisso, o processo de seleção merece atenção especial, já que é ele que vai INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 10 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 definir, por diferentes modos e com diferentes estratégias, qual candidato ficará com a vaga. E todo processo de seleção deve ter um planejamento estratégico, com objetivos de longo prazo, para que eventuais ocorrências não venham a prejudicar o bom andamento da empresa, principalmente se os substitutos não forem eficientemente selecionados. Sendo assim ... O que é, de fato, Recrutamento e Seleção? De acordo com Jaqueline Arruda (2013), “o homem certo no lugar certo, na hora certa.” Mais do que em qualquer outro momento da história das corporações, as pessoas e suas competências estão no centro das atenções. É a competência dos empregados a condição essencial para a competitividade e sobrevivência das empresas. Saber escolher os colaboradores adequados é prover os meios para se ganhar as etapas da corrida – e assim se distanciar dos concorrentes. Dentre os subsistemas de RH, é a atividade de Atração e Seleção que identifica e provê, interna ou externamente, as competências individuais necessárias ao alcance das estratégias organizacionais. É responsabilidade desta área, planejar e implantar mecanismos que garantam um processo de atração dos talentos necessários bem como definir e implantar políticas e ferramentas que garantam a escolha dos profissionais adequados. Mas cabe aqui esclarecermos diferenças entre os conceitos de “Recrutamento” e “Atração”: “Recrutamento” é um conjunto de técnicas e procedimentos que visa atrair candidatos potencialmente qualificados e capazes de ocupar cargos dentro da organização. É basicamente um sistema de formação, através do qual a organização divulga e oferece ao mercado de recursos humanos, oportunidades de emprego que pretende preencher. O Recrutamento é feito a partir das necessidades presentes e futuras dos Recursos Humanos da organização. Esse recrutamento requer um cuidadoso planejamento. As fontes de recrutamento podem vir de dentro da empresa ou de fora, neste caso, correspondendo à pesquisa no mercado de recursos humanos. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 11 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Exemplos de fontes de recrutamento são: recomendação ou indicação de empregados; ex-empregados; anúncios em jornais ou revistas; Sites Corporativos ou de Empregos; Escolas e Universidades; sindicatos e Associações de Classe; caçadores de talentos – headhunters; consultorias na área de Recursos Humanos; banco de talentos das empresas; redes sociais profissionais na internet como Linke-in, Plaxo e Via6 - vêm crescendo o uso de Redes Sociais onde os profissionais se cadastram evidenciando suas experiências e qualificações e formam uma rede com outros profissionais do seu network. Nessas redes, os profissionais podem fazer recomendações em relação aos outros contando o que observaram quando trabalharam juntos. Já o termo “atração” destaca mudanças na forma de se buscar profissionais no mercado de trabalho. Reflete o investimento feito por algumas organizações para aperfeiçoar seus procedimentos. O processo de seleção é um processo de “duas mãos”, ou seja, a empresa escolhe e é escolhida. Pesquisas brasileiras que estudam os fatores de atração e retenção no trabalho demonstram que a imagem da empresa no mercado, a oferta de desafios, as perspectivas de crescimento, a liberdade de ação e um clima organizacional favorável despertam mais o interesse dos profissionais do que a remuneração. As organizações que desejam atrair profissionais competentes devem cuidar de suas imagens. A forma como a responsabilidade social com os diversos grupos – empregados, comunidade e sociedade – influencia os conceitos que terão para o candidato potencial. A seguir o fluxo de um processo seletivo tradicional (breve): INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 12 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Cumprido este fluxo, cabe ainda a área de Seleção avaliar o sucesso obtido no processo visando readequá-lo ser for o caso. Uma área de Recrutamento e Seleção atuando de forma mais estratégica pode, a partir do entendimento do plano estratégico da empresa e do acompanhamento dos indicadores de gestão, planejar, antecipadamente, as demandas em relação ao preenchimento de vagas. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 13 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 No mercado de trabalho atual, se busca um profissional que alie as competências técnicas às comportamentais. Mas por quê? Em um ambiente onde o tempo é determinante, muitas empresas optam por buscar profissionais já capacitados, pois estes darão um retorno mais rápido às organizações. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 14 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 No entanto, num ambiente em constantes transformações onde a vantagem competitiva das empresas está na atuação sinérgica dos seus colaboradores, competências como comunicação, relacionamento interpessoal, cooperação, habilidade em lidar com mudanças, solução de problemas e conflitos, visão sistêmica e empreendedora tem sido o diferencial na escolha dos candidatos. Para níveis de gestão não podemos esquecer-nos das competências voltadas à gestão de pessoas. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 15 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 A IMPORTÂNCIA DO RECRUTAMENTO E DA SELEÇÃO INTRODUÇÃO O Recrutamento e Seleção de Pessoal é um instrumento de extrema importância para uma organização. Quando bem administrado, este processo traz benefícios tanto para o empregador quanto para o candidato a ser admitido. Como já mencionado, anteriormente, segundo Chiavenato (2004) recrutamento é um conjunto de técnicas e procedimentos que visa atrair candidatos potencialmente qualificados e capazes de ocupar cargos dentro da organização. O mesmo autor diz que a seleção de recursos humanos pode ser definida como a escolha do homem certo par o cargo certo, ou, mais amplamente, ente os candidatos recrutados, aqueles mais adequados aos cargos existentes na empresa, visando manter ou aumentar a eficiência e o desempenho do pessoal. O recrutamento é feito a partir das necessidades presentes e futuras de recursos humanos das organizações. Consiste na pesquisa e intervenção sobre as fontes capazes de fornecer á organização um número suficiente de pessoas necessárias á consecução dos seus objetivos imediatos de atrair candidatos, dentre os quais serão selecionados os futuros participantes da organização. (CHIAVENATO, 2006, p. 166). Para Marras (2000), agregar pessoas é atividade fundamental da estratégia de toda organização que procura aplicar o recrutamento e a seleção como parte de um mesmo processo: a provisão de recursos humanos. Chiavenato (2006) considera que as pessoas e seus conhecimentos e habilidades mentais passam a ser a principal base da nova organização. A antiga Administração de Recursos Humanos (RH) cedeu lugar a uma nova abordagem: Gestão de Pessoas. Nessa nova concepção, as pessoas deixam de ser simples recursos (humanos) organizacionais para serem abordadas como seres dotados de INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTOE SELEÇÃO 16 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 inteligência, personalidade, conhecimentos, habilidades, destrezas, aspirações e percepções singulares. São os novos parceiros da organização. PLANEJAR PARA RECRUTAR Recrutamento requer um cuidadoso planejamento, que constitui uma sequência de três fases, a saber: 1) O que a organização precisa em termos de pessoas 2) O que o mercado de RH pode oferecer. 3) Quais as técnicas de recrutamento aplicar. ETAPAS DO PROCESSO DE RECRUTAMENTO: 1) Pesquisa internadas necessidades. 2) Pesquisa externa do mercado. 3) Definição das técnicas de recrutamento a utilizar. Planejamento de pessoal Chiavenato (2006) diz que o planejamento de pessoal é o processo de decisão a respeito dos recursos humanos necessários para atingir os objetivos organizacionais, em determinado período de tempo. Trata-se de antecipar qual a força de trabalho e os talentos humanos necessários para a realização da ação organizacional futura. O planejamento de pessoal nem sempre é responsabilidade do órgão de pessoal da organização. Processo de recrutamento O recrutamento envolve um processo que varia conforme a organização. Em muitas organizações, o inicio do processo depende de decisão da linha. O órgão de recrutamento não tem qualquer autoridade de efetuar qualquer atividade de recrutamento sem a devida tomada de decisão por parte do órgão que possui a vaga a ser preenchida. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 17 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Para (Silva, 2005) para ter uma política da gestão por competências inserida na empresa é necessário que todas as vertentes que envolvem os profissionais sejam geridas pelas competências relativas à empresa e a cada função ou atividade. Recrutamento e Seleção apresentam-se como a porta de entrada da organização, é preciso, portanto, reestruturar todo esse processo para que os novos funcionários que ingressem na companhia sejam alinhados ao modelo de gestão utilizado. Isso pode tornar mais fácil e concreta a busca por novos profissionais, uma vez que se tem estabelecido as competências necessárias para cada função, como também o que é preciso para manter-se e obter crescimento dentro da empresa, devendo o profissional de Recrutamento e Seleção conhecer a necessidade da empresa para o cargo, identificar as competências dos candidatos e saber avaliar o quanto ele será aproveitado na organização. Para isso utilizam-se alguns instrumentos na seleção, como aplicações de testes técnicos e comportamentais, entrevista de seleção por competências e avaliações psicológicas para que se possa traçar o perfil do candidato e ter a máxima clareza sobre o mesmo. Atividades de recrutamento e seleção estratégicas para a empresa A administração estratégica de recursos humanos é a utilização do potencial das atividades de recursos humanos alinhada às metas, objetivos e valores estratégicos da organização, com o objetivo de estimular a participação de todos e melhorar o desempenho da organização. Este alinhamento propicia a implantação de mudanças, a criatividade, a inovação e a flexibilidade da estrutura. Contudo, para que isso aconteça, é necessário que a organização forneça condições para que as atividades de ARH possam ser implantadas e integradas, de forma sistêmica, às demais áreas da organização. Se essa integração for alcançada com sucesso, ela auxiliará os colaboradores no desenvolvimento de competências e comportamentos necessários à eficácia organizacional. O alinhamento dos recursos humanos à estratégia da empresa é muito importante, visto que o planejamento estratégico é uma poderosa ferramenta para a construção e a consolidação da imagem da empresa. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 18 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Foi só nos anos 80/90 que as questões relativas à gestão de pessoas começaram, efetivamente, a tomar o espaço que sempre deveriam ter tido, saindo de um papel subalterno para fazerem parte das estratégias empresariais. Ser um RH estratégico, portanto, é na realidade atuar em todas as questões necessárias para que os colaboradores possam atingir a Visão da empresa e dar apoio aos gestores para que isso ocorra. No mercado de trabalho hoje se busca um profissional que alie competências técnicas às comportamentais. Em um ambiente onde o tempo é determinante, muitas empresas optam por buscar profissionais já capacitados, pois estes darão um retorno mais rápido às organizações. No entanto, num ambiente em constantes transformações onde a vantagem competitiva das empresas está na atuação sinérgica dos seus colaboradores, competência como Comunicação, relacionamento interpessoal, cooperação, habilidade em lidar com mudanças, solução de problemas e conflitos, visão sistêmica e empreendedora tem sido o diferencial na escolha dos candidatos. Fala-se insistentemente que "as pessoas fazem a diferença de um negócio". A frase é bastante óbvia, mas apesar de todas as mudanças, sejam elas de ordem da tecnologia ou dos processos, devemos estar sempre atentos ao praticar atividades de RH que vislumbrem o futuro e consequentemente sejam mais estratégicas. E, é importante enfatizar que a "aparente" simples ação, de recrutar e selecionar pessoas tem tudo a ver com talentos/empreendedores/planejamento estratégico, dentre outros. Porque é justamente na escolha que os processos podem se diferenciar. Porém, nem sempre escolhemos e/ou utilizamos adequadamente os profissionais, e em determinados momentos mantemos as ações de Recursos Humanos como um monopólio dos profissionais da área. Desta forma, a ação de recrutar e selecionar se torna isolada das reais necessidades da empresa/setor e consequentemente a área se coloca numa posição subalterna e distante das discussões mais estratégicas. O RH estratégico precisa conhecer os produtos, serviços, os processos, os clientes e fornecedores da empresa. E fundamentalmente não apenas conhecer, mas participar da construção do planejamento estratégico, INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 19 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 do plano de marketing, enfim, de todas as ações da empresa, pois somente assim ele conseguirá contribuir, efetivamente, para que as pessoas possam atingir os resultados da organização. Uma área de Recrutamento e Seleção atuando de forma mais estratégica pode, a partir do entendimento do plano estratégico da empresa e do acompanhamento dos indicadores de gestão, planejar, antecipadamente, as demandas em relação ao preenchimento de vagas. Diferença entre os conceitos de empregabilidade e empresabilidade EMPREGABILIDADE: a busca constante do desenvolvimento de competências, para buscar ou manter um emprego atrativo. EMPRESABILIDADE: é geralmente entendida como a capacidade das empresas de desenvolver e utilizar as competências intelectuais e técnicas de seus membros, para sustentar um posicionamento diferenciado no mercado. TIPOS DE RECRUTAMENTO As fontes de recrutamento são as áreas do mercado de RH exploradas pelos mecanismos de recrutamento. Recrutamento interno Segundo Gil (2001), processo de Recrutamento e seleção interna tem por objetivos motivar os funcionários, oportunizar o desenvolvimento de uma carreira profissional e agregar qualidade nos produtos e serviços da Empresa. Estes são os aspectos positivos envolvidos no processo, porém é fundamental estar atento às características da empresa, cultura e suas políticas. Uma empresa que necessitade mão obra especializada, onde desenvolve profissionais para determinadas funções, pode enfrentar problemas se mantiver com frequência movimentações internas. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 20 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 A sequência de decisões tomadas para o processo de recrutamento e seleção internos pode trazer incríveis oportunidades de agregar valor ou enormes riscos, dependendo da forma com que essas decisões forem tomadas. Elas precisam estar integradas com outras atividades de RH para ser eficaz. As carreiras podem ser a mais poderosa ferramenta para o desenvolvimento de futuros talentos, habilidades e valores. (BOUDREAU e MILKOVICH, 2000). Para Marras (2000), o processo interno pode ser uma ferramenta de extrema importância, se aplicada com transparência, adequada política e objetivos da empresa, somente dessa forma será possível alcançar-se os resultados positivos que refletem na administração de RH e no processo produtivo. Para Chiavenato (2006), o recrutamento interno "aproveita melhor o potencial humano da organização, motiva e encoraja o desenvolvimento profissional dos atuais funcionários, incentiva a permanência e fidelidade dos funcionários na organização, aumenta a probabilidade de uma melhor seleção, pois os candidatos são bem conhecidos, custa financeiramente menos do que fazer recrutamento externo." Outra vantagem do recrutamento interno, é que ele apresenta um índice de validade e segurança bem maior do que o recrutamento externo, pois, além do empregado já ser conhecido na empresa, pode gerar uma motivação maior para todos os empregados. Uma "desvantagem" desse tipo de recrutamento é o fato de haver uma maior exigência e condições dos empregados, para poderem exercer as funções de um determinado cargo, que muitas das vezes nem estão aptos para isso. Além disso, o recrutamento interno, para Chiavenato (2006) “poderia bloquear a entrada de novas ideias, expectativas e experiências, assim como funcionar como um sistema de reciclagem contínua”. Vantagens: Aproveita melhor o potencial humano da organização; Motiva e encoraja o Desenvolvimento profissional dos atuais funcionários; Incentiva a permanência e a fidelidade dos funcionários à organização; INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 21 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Ideal para situações de pouca mudança ambiental; Não requer socialização na organizacional de novos membros; Probabilidade de melhor seleção, pois os candidatos são bem conhecidos. Desvantagens: Pode bloquear a entrada de novas ideias, experiências e expectativas; Facilita o conservantismo e favorece rotina atua; Mantém quase inalterado o atual patrimônio humano da organização; Ideal para empresas burocráticas e mecanicistas; Mantém e conserva a cultura organizacional existente; Funciona como um sistema fechado de reciclagem contínua; Recrutamento externo O Recrutamento externo para Chiavenato (2006) é um conjunto de atividades que visam atrair um conjunto de candidatos qualificados, que estão espalhados no mercado, ou seja, fora da organização, e que se submeterão ao processo de Seleção de Pessoal, a fim de ingressarem na organização. Como o âmbito do Mercado de Recursos Humanos é muito amplo, muitas das vezes, o recrutamento externo utiliza diferentes técnicas para atrair os candidatos, tais como: "anúncios em jornais e revistas, agências de recrutamento, cartazes, apresentação de candidatos por indicação, e consulta ao arquivo e banco de currículos da própria empresa" Vantagens: Introduz sangue novo organização; talentos, habilidades expectativas; Enriquece o patrimônio humano, pelo aporte de novos talentos e habilidades; Aumenta o capital intelectual por incluir novos conhecimentos. Renova a cultura organizacional; Enriquece com novas aspirações Incentiva a interação da organização com o mercado; INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 22 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Indicado para enriquecer intensa e rapidamente o capital. Desvantagens: Afeta negativamente a motivação dos atuais funcionários da organização; Reduz a fidelidade dos funcionários ao oferecer oportunidades a estranhos; Requer aplicação de técnicas e seletivas mais apuradas para escolha dos candidatos externos, isso significa custos operacionais; Exige esquemas de socialização organizacional para os novos funcionários; É mais custoso, oneroso, demorado e inseguro que o recrutamento interno. Recrutamento misto Para Chiavenato (2004) existem três tipos de recrutamento misto: Inicialmente, recrutamento externo, seguido de recrutamento interno, caso o externo não apresente resultados desejáveis. A empresa prefere a entrada de recursos humanos à sua transformação, ou seja, precisa de pessoal já qualificado no curto prazo e precisa importá-lo do ambiente externo. Não encontrando candidatos externos adequados, usa-se o próprio pessoal, não considerando inicialmente os critérios sobre as qualificações necessárias. Inicialmente recrutamento interno, seguido de recrutamento externo, caso o interno não apresente resultados desejáveis. A empresa prioriza seus empregados na disputa das oportunidades existentes, não havendo candidatos internos adequados parte para o recrutamento externo. Recrutamento externo e recrutamento interno, concomitantemente. SELEÇÃO COMO UM PROCESSO DE COMPARAÇÃO A seleção é um processo de comparação entre duas variáveis: de um lado, os requisitos do cargo a ser preenchido e do outro lado, o perfil das INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 23 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 características dos candidatos que se apresentam. A primeira variável é fornecida pela descrição e análise do cargo, enquanto a segunda é obtida por meio de aplicação das técnicas de seleção. Técnicas de seleção De acordo com Chiavenato (2006) a seleção de recursos humanos por ser um sistema de comparação e de escolha, deve apoiar-se em algum padrão ou critério para ter validade. O padrão ou critério é obtido a partir das características do cargo a ser preenchido. Dessa maneira, a base para a seleção é a obtenção de informações para o cargo. As informações sobre o cargo a ser preenchido podem ser classificadas em cinco grupos: Entrevistas: é a ferramenta mais importante do processo de seleção, e por isso, deve ser feita por um profissional experiente e que identifique que fatores de ordem pessoal podem interferir no processo (antipatia, atração, rejeição, etc.). Recomenda-se que vários entrevistadores avaliem o mesmo candidato para reduzir este problema. Provas de Conhecimento: podem ser gerais ou específicas. As gerais procuram avaliar o grau de cultura geral do candidato. Essas provas têm baixa correlação com o desempenho profissional imediato, mas servem para compreender melhor o universo do candidato e sua atitude pessoal profissional. As provas específicas procuram avaliar os conhecimentos profissionais que o candidato possui, indispensáveis para o bom desempenho da função. Esses instrumentos devem ser desenvolvidos e validados internamente na empresa para não eliminar bons candidatos. Testes Psicológicos: são instrumentos padronizados que estimulam determinado comportamento do examinado. Servem para predizer o comportamento humano baseado no que o teste revelou. Os testes psicológicos podem ser divididos em psicométricose de personalidade. Os INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 24 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 testes psicométricos medem as aptidões individuais, determinando um índice comparado com escores ponderados e validado anteriormente. Técnicas Vivenciais: exigem respostas a situações de modo que os candidatos interajam e participem ativamente delas. Podem ser classificadas em: I) Provas situacionais: relacionadas às tarefas do cargo. II) Dinâmica de grupo: envolve jogos de grupo com situações estruturadas, relacionadas ou não ao cargo, onde os integrantes interagem. É uma técnica bastante usada, pois permitem observar problemas de relacionamento, integração social, liderança, etc.; III) Psicodrama: tem como base a expressão da personalidade através de um papel social atribuído, onde o candidato deve expressar-se de acordo com a linguagem e as dimensões desse papel. Como se trata de uma representação, o candidato é livre para expressar sentimentos, valores e emoções. Avaliação de Saúde: o médico deve conhecer a função para avaliar as condições de saúde do candidato e verificar se ele está ou não apto para o desempenho. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 25 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Seleção por competências Os desafios que se apresentam para as organizações são, pois, manter-se competitiva no seu mercado de atuação, conciliando interesses, adotando uma postura de aprendizagem continua, respeitando as diferenças, identificando oportunidades e competências, sem, contudo, descuidar do processo de humanização. O produto final é uma prioridade para as organizações, mas na atualidade a preocupação com as competências essenciais, de modo que a empresa seja reconhecida não apenas como um portfólio de produtos ou serviços, mas também como um portfolio de competências. Voltando o olhar para o processo seletivo calcado em competências no intuito de alavancar o processo de gestão de pessoas, tentar-se-á desvendar qual a influencia da variável competência nos processos seletivos. (CHIAVENATO, 2004). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 26 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Outras técnicas de seleção Provas ou teste de conhecimentos ou de capacidades: podem ser escritas (dissertativo, objetivo ou misto), orais ou de realização (execução de trabalho). Visa avaliar o conhecimento (gerais o específicos) e as habilidades do candidato. Testes psicométricos: comparação dos perfis individuais, que podem ser físicas, intelectuais ou de personalidade. Testes de personalidade: Visa analisar os aspectos da personalidade do candidato, como equilíbrio emocional, interesses, frustrações, ansiedade, agressividade, nível motivacional, adaptabilidade ao tipo de função e ambiente. Técnicas de simulação: dramatização se situação que a pessoa irá vivenciar no ambiente de trabalho, observando a execução das tarefas em realização. Entrevista de seleção: fonte coletora de fatos. É a técnica que mais influencia na decisão final. Pode ser dirigida (com roteiro), sem roteiro ou mista. Tem por objetivo a informação e o esclarecimento. Veja o quadro a seguir: INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 27 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Como vimos, então, a utilização de testes psicológicos é uma prática comum em empresas brasileiras. Estas avaliações, no entanto, muitas vezes são realizadas sem levar em conta a eficácia dos instrumentos utilizados em discriminar critérios relevantes para um bom de desempenho do funcionário em seu posto de trabalho. Nesse sentido transcreveremos, a seguir, um estudo acerca do tema, que teve como objetivo verificar as evidências de validade do BPR-5 (bateria de provas de raciocínio) em um contexto organizacional. Os participantes foram 79 funcionários de uma empresa de energia elétrica brasileira e, como critério foi utilizado o número de acidentes de trabalho dos funcionários. Os dados foram analisados por meio de estatísticas descritivas e análises correlacionais. Nos resultados, o critério utilizado, referente ao número de acidentes de trabalho, correlacionou-se com a inteligência, principalmente, para funcionários com menor tempo na função (-0,39; p<0,05). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 28 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 EVIDÊNCIAS DE VALIDADE DA BATERIA DE PROVAS DE RACIOCÍNIO (BPR-5) PARA SELEÇÃO DE PESSOAL Viviane de Oliveira Baumgart1 Ricardo Primi2 O surgimento da disciplina Psicologia Industrial ou Organizacional é quase tão antigo quanto o surgimento da própria Psicologia (LANDY, 1997). O uso de testes psicológicos nos processos de seleção de pessoal também é uma prática antiga dos psicólogos, datando do início do séc. XX (GHISELLI, 1973; SAMPAIO, 1998). Os testes psicológicos, considerados procedimentos padronizados de discriminação de características psicológicas (ANASTASI e URBINA, 2000), começaram a ser utilizados em organizações a partir da construção de escalas de inteligência por Alfred Binet. Após Binet, na segunda década do século XX, os testes conhecidos como "Army Alfa" e "Army Beta" foram aplicados a recrutas do exército americano com fins de indicar características individuais de cerca de um milhão e meio de sujeitos (SAMPAIO, 1998). Para uma inserção mais eficaz no contexto organizacional era necessário, no entanto, que os testes psicológicos se mostrassem eficientes na discriminação de critérios relevantes para o bom desempenho do funcionário na função. Nesse sentido, medidas como produtividade, número de acidentes de trabalho, avaliação de desempenho, entre outras, começaram a ser utilizados pelos psicólogos na tentativa de validar o processo de seleção de pessoal nas empresas (Sampaio, 1998). Validade refere-se àquilo que um teste mede e ao quão bem ele faz isso (ANASTASI e URBINA, 2000). Segundo Pasquali (2001) um dos tipos de validade é a de critério, referindo-se ao grau de eficácia de um teste em predizer o desempenho relevante de um sujeito. Dependendo do espaço de tempo em que ocorre a coleta da informação pelo teste e a coleta da 1 Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. 2 Universidade São Francisco, Itatiba, Brasil. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 29 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 informação do critério, este tipo de evidência de validade costuma ser distinguido em validade preditiva ou concorrente (PASQUALI, 2001). Os Principles for the Validation and Use of Personnel Selection Procedures (Society for Industrial and Organizational Psychology, 2003), são um documento elaborado nos Estados Unidos com o objetivo de orientar os pesquisadores que trabalham com processos de validação de testes em empresas. De acordo com seus autores, o princípio essencial de qualquer processo de seleção de pessoal é a busca de evidências que ofereçam suporte às inferências feitas a partir dos escores obtidos pela avaliação psicológica e de sua relação com aspectos referentes ao desempenho no trabalho. A inferência básica é a de que um escore provindo de um determinado procedimento de seleção será capaz de predizer um subsequente desempenho no trabalho. Também de acordo com os Principles, os procedimento usados em qualquer seleção devem apresentarsuporte em evidências de validade. Nos Estados Unidos a validação local para o uso de testes psicológicos passou a ser exigida nas empresas a partir da revisão do Ato de Direitos Civis de 1972 e das sucessivas regulamentações sobre o uso dos testes feitas pela Comissão de Iguais Oportunidades de Emprego (EEOC) e pelo Departamento de Trabalho do país (RESNICK, 1982). A intervenção ocorreu nessa área, pois o governo se preocupava com a possibilidade de testes psicológicos discriminarem minorias e mulheres nos processos seletivos. A partir de então passou a ser exigido por lei que o empregador demonstre a relevância do teste em relação à performance do funcionário no trabalho. Além disso, a validade do teste deverá ser comprovada para o exercício de cada função na empresa. Nesse sentido, "as empresas foram proibidas de utilizar testes cujos estudos de validação tivessem sido feitos em outro lugar, mesmo que esses estudos fossem extensa e tecnicamente bem fundamentados" (RESNICK, 1982, p. 78). Os critérios de comprovação da relação teste-desempenho, validação local e exigência de comprovação de medidas não discriminatórias fizeram da testagem nas empresas norte americanas um processo tão caro, que só as grandes companhias puderam custeá-lo. No entanto, uma adequação dos instrumentos à realidade da população avaliada passou a ser compromisso das empresas que lidam com processos seletivos. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 30 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 No Brasil, medidas relacionadas à regulamentação do uso de testes são relativamente recentes. O Conselho Federal de Psicologia ([CFP], 2003) publicou uma Resolução (002/2003) que trata da regulamentação do uso, da elaboração e da comercialização dos instrumentos psicológicos no país. Esta Resolução prevê que os testes psicológicos sejam analisados por uma comissão consultiva com o objetivo de que apenas aqueles que apresentem os requisitos mínimos técnicos e científicos exigidos estejam disponíveis para uso pelos profissionais. As evidências de validade, entre outros, estão entre os requisitos psicométricos considerados, indicando a necessidade de adaptação à população avaliada para que representem de maneira mais acurada e fidedigna os resultados dos sujeitos submetidos ao processo de avaliação psicológica. De acordo com o Artigo 11 desta mesma Resolução: "As condições de uso dos instrumentos devem ser consideradas apenas para os contextos e propósitos para os quais os estudos empíricos indicaram resultados favoráveis" (CFP, 2003, p. 5). Este artigo reforça a importância de realização de pesquisas, inclusive as de validade, que evidenciem a eficácia de utilização dos testes para contextos particulares, como seria caso, inclusive, da área organizacional. Schmidt e Hunter (1998), utilizando estudos de meta análise, investigaram e sumarizaram os resultados de 85 anos de pesquisa em seleção de pessoal, no que se referia à validade das medidas utilizadas. Examinaram os coeficientes de validade de 19 medidas destacando-se, dentre elas, testes de inteligência geral, provas situacionais, entrevistas, testes de integridade, testes de conscienciosidade, tempo de experiência no trabalho, testes de grafologia, nível de escolaridade, motivação para o trabalho e idade dos sujeitos. Como medidas de critério foram utilizadas a avaliação de desempenho e o nível de produtividade dos funcionários. Nos resultados, encontraram-se como medidas mais válidas as provas situacionais (0,54), os testes que avaliam inteligência geral (0,51) e a entrevista estruturada (0,51). Os testes que avaliam personalidade, ou seja, os de integridade e os de conscienciosidade, apresentaram coeficiente de 0,41 e 0,31, respectivamente. A experiência no trabalho e os inventários de interesses apresentaram índices de 0,18 e 0,10. A INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 31 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 grafologia e a idade dos sujeitos foram consideradas as medidas menos válidas, com coeficientes de 0,02 e –0,01, respectivamente. Em 1997, Herencia et al (1998) realizaram em Brasília uma pesquisa com o objetivo de fazer um levantamento das técnicas e instrumentos utilizados por psicólogos e verificar a validade que lhes era atribuída pelos profissionais da área. Os sujeitos responderam a um questionário no qual deveriam listar as técnicas e instrumentos utilizados nas organizações e atribuir, a cada um deles, um grau de validade. Os resultados apontaram, entre outros, que a entrevista foi considerada a técnica mais válida e os testes psicológicos foram considerados pelos profissionais como os menos válidos, apesar de serem os mais utilizados, devido a uma praticidade de manuseio da técnica. Em 2003 Pereira, Primi e Cobêro realizaram um estudo em 33 empresas do estado de São Paulo com o objetivo de identificar os testes utilizados em seleção de pessoal e verificar se os profissionais possuíam informações sobre a validade destes procedimentos. Os resultados revelaram alta utilização do teste Wartegg (15,2%), dinâmicas de grupo (15,2%) e de entrevista estruturada (11,4%) e não estruturada (7,6%) como métodos de seleção mais utilizados. A grafologia também aparece como uma técnica bastante usada, apresentado uma porcentagem de 6,8% dos casos. Em relação à validade dos instrumentos, 85% dos entrevistados afirmam conhecer a validade do teste Wartegg e 88,9% a validade da grafologia. Em relação à escolha dos instrumentos por sua validade, 77,8% dos profissionais utilizam a grafologia porque a consideram uma técnica válida. Tal fato revela uma disparidade no fato de como os recrutadores compreendem o conceito de validade, já que muitos afirmam utilizar os instrumentos por sua validade, mesmo não existindo estudos empíricos sobre este parâmetro nos testes citados, como, por exemplo, o teste de Wartegg e a grafologia, sendo que, no caso desta última, o coeficiente de validade encontrado no estudo de Schmidt e Hunter (1998) foi de 0,02, ou seja, uma valor muito próximo a zero. Tal resultado aponta tanto para a necessidade de atualização dos profissionais que lidam com avaliação psicológica no contexto organizacional em relação à cientificidade dos instrumentos utilizados, quanto para a realização de INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 32 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 pesquisas de evidências de validade de testes para os propósitos específicos da área organizacional, visto a carência de instrumentos validados para a área. Os estudos citados anteriormente corroboram a utilização frequente de testes psicológicos nos processos de seleção de pessoal em empresas. No Brasil, no entanto, essa utilização muitas vezes não é acompanhada de estudos que evidenciam a relação teste-critério para os cargos exercidos (WANDERLEY, 1985). Em relação aos estudos brasileiros estes se referem somente à padronização dos instrumentos utilizados e não buscam verificar as evidências de validade dos mesmos no contexto organizacional. A Bateria de Provas de Raciocínio (BPR-5) é um instrumento utilizado para avaliação da inteligência geral e aptidões. Tal teste3 teve sua amostra de padronização composta por sujeitos de 11 a 18 anos, que cursavam de sexta a oitava série do ensino fundamental para a Forma A e de primeira a terceira série do Ensino Médio para a Forma B. Ainda não há relatos de estudos que tenham sido realizados com o instrumento para verificar se sua aplicação seria válida também para casos de seleção de pessoal. Neste sentido, o objetivo geral da presentepesquisa foi, então, verificar se haveria correlação entre o desempenho de funcionários submetidos à aplicação do BPR-5 com o número de acidentes de trabalho ocorridos com os mesmos. MÉTODO Participantes Participaram do estudo 79 sujeitos, funcionários de uma empresa de energia elétrica brasileira. Todos exerciam, predominantemente, atividades com linha energizada, ou seja, trabalhavam diariamente em redes elétricas, sujeitos a uma carga elétrica de 13 800 Volts, constituindo, assim, uma função de alto risco. Os sujeitos da amostra foram predominantemente do sexo masculino e possuíam idade variando entre 19 e 45 anos. Estavam divididos em 53 3 Artigo publicado pela revista Psicologia: Reflexão e Crítica. Versão impressa ISSN 0102-7972. Psicol. Reflex. Crit. v.19 n.2 Porto Alegre, 2006. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722006000200010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-79722006000200010&script=sci_arttext>. Acesso em: 20 nov. 2013. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 33 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 eletricistas, 20 encarregados e 6 técnicos (supervisores). Possuíam escolaridade variando entre segundo grau incompleto e terceiro grau completo. O tempo de exercício na função variou de um a 24 anos. Instrumento BPR-5 – Bateria de Provas de Raciocínio O BPR-5 (ALMEIDA e PRIMI, 1998; PRIMI e ALMEIDA, 2000a, 2000b) é um instrumento de avaliação das habilidades cognitivas que oferece estimativas do funcionamento cognitivo geral e das forças e fraquezas em cinco áreas específicas: a) Raciocínio Verbal (RV), indicando extensão do vocabulário e capacidade de estabelecer relações abstratas entre conceitos verbais; b) Raciocínio Abstrato (RA), indicando a capacidade de estabelecer relações abstratas em situações novas para as quais se possui pouco conhecimento previamente aprendido; c) Raciocínio Mecânico (RM), avaliando o conhecimento prático de mecânica e física; d) Raciocínio espacial (RE), indicando a capacidade em formar representações mentais e manipulá-las, transformando-as em novas representações e e) Raciocínio Numérico (RN), indicando a capacidade de raciocínio com símbolos numéricos em problemas quantitativos e conhecimento de operações aritméticas básicas. Para pontuação dos raciocínios, os escores brutos, constituídos pela soma dos acertos em cada subteste, são convertidos em EPNs (Escore-Padrão Normalizados), com média 100 e desvio padrão 15. Também é convertido em EPN o total de acertos em todos os subtestes da bateria. Além da pontuação em EPN, o manual do teste também fornece os valores em percentis para que seja possível a comparação de acertos dos sujeitos em relação ao grupo original de padronização da bateria, tanto para os cinco subtestes, quanto para o escore do total de acertos. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 34 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Procedimentos A bateria de testes BPR-5 foi aplicada coletivamente, em dois dias de aplicação, sendo que no primeiro dia foram aplicados três subtestes do BPR-5, a saber, Raciocínios Verbal (RV), Abstrato (RA) e Mecânico e no segundo dia foram aplicados os subtestes Raciocínio Espacial (RE) e Numérico (RN). Para mensuração dos acidentes de trabalho foi realizada uma consulta às Comunicações de Acidentes de Trabalho (CATs) disponíveis na empresa. Foram considerados somente os acidentes em que tenha sido comprovada responsabilidade do próprio funcionário em sua ocorrência. O acesso às CATs envolveu dados dos anos de 1998 até 2003. Para mensuração dos resultados tais dados foram divididos em acidentes ocorridos nos últimos cinco anos e nos últimos dois anos (dados mais recentes). No entanto, no momento de mensuração dos dados observou-se que não houve diferença estatisticamente significativa entre os acidentes sofridos nos últimos cinco e dois anos. Optou- se, portanto, por trabalhar com os dados de 2001 a 2003, envolvendo os acidentes sofridos nos últimos dois anos. Análise de Dados Foram calculadas estatísticas descritivas para caracterizar as variáveis e realizadas análises correlacionais para verificar as evidências de validade. Os cálculos foram realizados utilizando-se o programa estatístico SPSS, versão 2002. Resultados As estatísticas descritivas foram calculadas tanto para os testes quanto para os critérios. Os resultados serão apresentados a seguir. De acordo com a Tabela 1 todos os sujeitos da amostra foram submetidos à aplicação da bateria e apresentaram maior média de desempenho nos Raciocínios Mecânico e Numérico. A média de todas as provas, representada pelo EPN total, encontra-se dentro da Zona Média de acordo com a classificação do Manual da bateria com o desvio padrão também INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 35 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 dentro do esperado. A assimetria e a curtose foram positivas para a maioria das provas, revelando que a maioria dos sujeitos tendeu a apresentar um desempenho abaixo da média e a distribuição tendeu a ser leptocúrtica, com maior concentração ao redor da média. Em relação aos acidentes de trabalho, as estatísticas descritivas foram calculadas para os acidentes ocorridos nos últimos dois anos. Os resultados podem ser vistos a seguir. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 36 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Pela Tabela 2 pode-se visualizar que nos últimos dois anos o número máximo de acidentes sofridos foi um o que representa uma porcentagem de 7,6% de acidentes. 92,4 % da amostra não sofreu nenhum acidente nos últimos dois anos. Passar-se-á agora aos resultados das correlações entre o desempenho nos subtestes e no critério. Levando-se em consideração o fato de que o tempo de exercício na função pode influenciar o conhecimento da tarefa e, consequentemente, o desempenho no critério utilizado nesta pesquisa, foi realizado o cálculo das correlações testes-critério considerando o tempo de exercício da função, em número de anos. Como os participantes da pesquisa variavam de um a 24 anos de trabalho na linha viva, foi adotado o critério de separação em dois grupos, sendo que o primeiro possuía tempo de experiência de um a cinco anos e o segundo grupo de seis a 24 anos. Tal divisão foi realizada com base no artigo de Schmidt e Hunter (1998) no qual os autores realizaram um estudo similar com o objetivo de verificar o impacto do conhecimento da tarefa na performance do funcionário no trabalho. Os resultados encontram-se a seguir. Pela Tabela 3 podem-se observar correlações negativas e significativas para três provas do BPR-5 (RA, RV e RE) e para o escore geral na bateria INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 37 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 (EG5) para o Grupo 01. Tal fato revela que as pessoas com menos tempo de experiência na função sofrem menos acidentes de trabalho à medida que revelam maiores notas em testes que avaliam a inteligência. Para o total das pessoas somente a prova RV apresentou correlação significativa, revelando que quanto maior a capacidade de raciocínio verbal dos funcionários, independente do tempo de experiência na função, menor a chance de ocorrerem acidentes de trabalho. Discussão Wanderley (1985) já afirmava que a avaliação psicológica no contexto organizacional deve estar firmemente amparada em estudosque não deixem dúvidas entre o que é medido pelo teste e o que é realizado no trabalho. Neste sentido, o presente estudo utilizou os testes referidos anteriormente como preditorese como critério o número de acidentes sofridos no trabalho. Em relação a este critério houve correlação negativa e significativa para os sujeitos com menor tempo de experiência na função, em relação ao desempenho nos subtestes Raciocínio Abstrato (RA), Raciocínio Verbal (RV), Raciocínio Espacial (RE) e para o escore total nas cinco provas (EG5). Tais subtestes avaliam principalmente inteligência fluida, referente à capacidade de raciocínio em situações novas, dependentes minimamente de conhecimentos adquiridos e inteligência cristalizada, referente à extensão e profundidade de conhecimentos adquiridos de uma cultura e à aplicação efetiva deste conhecimento (MCGREW e FLANAGAN, 1998). Os resultados revelam que para pessoas com menor tempo de experiência numa função, o fator g (inteligência geral) desempenha um papel importante na aprendizagem dessas tarefas novas. À medida que o funcionário apresenta maior conhecimento da tarefa, o valor preditor do fator g é menor. Tal afirmação já havia sido feita por Caretta e Doub (1998) e também é corroborada na presente pesquisa, uma vez que para os funcionários com maior tempo de experiência não houve correlações significativas com o BPR-5. O Raciocínio Verbal (RV), referente à extensão do vocabulário e capacidade de estabelecer relações abstratas entre conceitos verbais, foi a única prova do BPR-5 que se correlacionou de maneira negativa e significativa INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 38 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 com o total geral de acidentes, indicando que, independentemente do tempo de experiência na função, quanto melhor é o desempenho nesta prova, menor é a chance de um funcionário sofrer acidentes no trabalho. Tal fato pode ser explicado por uma particularidade do tipo de serviço que é realizado pela amostra do presente estudo. Toda vez, antes de executar um serviço, eles chegam ao local de trabalho e discutem passo a passo a resolução da tarefa, depois sobem na rede energizada, sujeitos à voltagem de 13.800 Volts, como referido anteriormente. Esta seria uma possibilidade de explicação do por que pessoas com maior capacidade de RV sofrem menos acidentes. Em relação aos valores das correlações encontrados, estes corroboram os achados da literatura de que os testes de inteligência são um bom preditor do desempenho no trabalho (GHISELLI, 1973; KUNCEL, HEZLETT e ONES, 2004; SCHMIDT e HUNTER, 1998). Apesar de ainda não haverem normas para interpretação dos escores do BPR-5 para a população adulta, a presente pesquisa teve como objetivo revelar os resultados de um estudo de validação da bateria. Os estudos de validação consistem em pesquisas que procuram evidências empíricas favoráveis às interpretações atribuídas aos escores do instrumento, em contextos específicos (American Educational Research Association, American Psychological Association and National Council for Measurement in Education,1999). Os estudos de normatização, os quais geralmente são feitos depois de já existir um amplo conjunto de evidências de validade, procuram estabelecer os parâmetros populacionais que indiquem as expectativas normais e os desvios, para que seja possível interpretar casos individuais (posicionando-os frente ao grupo de referência e indicando se determinado escore está abaixo, na média ou acima dela). É importante, então, ressaltar que a inexistência de estudos normativos impede a interpretação adequada de escores individuais, mas não impede que se possam efetuar estudos correlacionais entre certos índices obtidos pelo instrumento e outras variáveis, como se pretendeu fazer neste estudo. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 39 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Conclusão Uma questão muito discutida hoje em dia pelos psicólogos organizacionais, principalmente os que trabalham com processos de seleção de pessoal, é: "o que realmente deve-se observar nos candidatos que se submetem a processos seletivos? Quais características eles devem possuir para serem bons funcionários no ambiente de trabalho?" A presente pesquisa, em certa medida, tentou responder a esta questão. Observa-se que atualmente no Brasil os processos de seleção que utilizam testes psicológicos se baseiam quase exclusivamente em testes de personalidade, sendo que o contexto nacional ainda carece de pesquisas que investiguem o poder preditor de traços de personalidade em relação ao desempenho no ambiente de trabalho. A literatura internacional, no entanto, desde a década de 50 até os dias atuais ressalta a importância dos testes de inteligência e da sua relação com a aprendizagem de tarefas. Os testes de personalidade também se revelam importantes, mas em menor grau. Neste sentido a presente pesquisa reforça a necessidade da realização de estudos de validade com testes no Brasil, pois muitas características reveladas por um teste e que são o motivo de reprovação de candidatos, podem não ser características relevantes para um bom desempenho na função. Neste sentido, não adianta somente aprovar ou reprovar um candidato porque ele tirou uma nota baixa ou alta num teste, mas provar, de maneira científica, que aquela nota discrimina uma característica de um funcionário que desempenhará de forma segura e produtiva suas tarefas no ambiente de trabalho. É este o grande desafio dos psicólogos que lidam com seleção de pessoal hoje, no Brasil. Referências deste texto: Almeida, L. S; Primi, R. (1998). 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Tal modelo incluiria técnicas que possibilitam a observação direta do comportamento em situações análogas, análises funcionais e, possivelmente, o treinamento mínimo das habilidades requeridas antes que a seleção final ocorra. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 42 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 SELEÇÃO DE PESSOAL: CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES SOBRE A PERSPECTIVA BEHAVIORISTA RADICAL José Guilherme Wady Santos4 Ruth Nara Albuquerque Franco5 Caio Flávio Miguel6 A crescente exigência do mercado de trabalho impõe a busca de candidatos que melhor possam cumprir as tarefas dos cargos a serem ocupados, bem como contribuir para que a organização atinja seu objetivo. Na maioria dos casos, o principal objetivo das empresas do setor privado é a geração de lucro, já que tais empresas só sobrevivem se geram lucro (MIGUEL, 2001). Neste contexto, o objetivo do processo de seleção de pessoal é escolher o candidato com melhores conhecimentos e habilidades para desempenhar determinada tarefa (GATEWOOD e FIELD, 1998). A escolha de tal candidato facilitaria o sucesso de programas que visam o aumento da produtividade de funcionários, elevando a receita e diminuindo as despesas da organização. Se funcionários aprendem mais facilmente as tarefas que precisam desempenhar e/ou cometem menos erros, o custo da empresa (com programas de treinamento e capacitação) diminui (BRETHOWER, 2000). Assim, o selecionador usa de diversos instrumentos de medida para prever o comportamento do candidato no ambiente de trabalho. De acordo com Gatewood e Field (1998) e Muchinsky (1997) existem várias formas de se prever o desempenho do candidato, as principais são através do uso de questionários e entrevistas, para a obtenção de informações a respeito da história passada do candidato, além do uso de testes de aptidão, habilidades e personalidade. No entanto, quando a referência é o behaviorismo radical, enfrentam- se restrições ao uso daqueles instrumentos, apesar de sua grande utilização e aceitação dos referenciais que os sustentam. O analista de comportamento lida 4 Universidade Federal do Pará. 5 Escola Moderna (AP). 6 Western Michigan University. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 43 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 com definições não mentalistas e procura identificar as relações sistemáticas entre o comportamento e as alterações no ambiente (SKINNER, 1953/1994). Procura analisar um repertório comportamental único e exclusivo de cada um, ao invés de lidar com e/ou tentar identificar traços de personalidade comuns a um número representativo de pessoas. Frequentemente, o comportamento humano é explicado levando-se em consideração variáveis internas como seus agentes iniciadores. Tal fato parece agravar-se quando se "ignoram outras variáveis quase sempre mais fundamentais e determinantes em relação ao comportamento" (BOTOMÉ, 1981, p. 6). Assim, ao invés de implementarem-se um levantamento e hierarquização de variáveis potenciais na determinação do comportamento, o que ocorre é apenas a classificação da pessoa que se comporta em uma ou outra categoria, classificação esta que "varia conforme o profissional que classifica, a pessoa que é classificada e o que se quer conseguir com a classificação" (BOTOMÉ, 1981, p. 4). Em psicologia organizacional3, principalmente no caso de seleção de pessoal, aplicam-se testes de atenção, de personalidade, etc. Em adição, a utilização de uma linguagem internalista que acompanha tal prática gera o "vício" de uma circularidade em relação ao comportamento a ser explicado, pois onde deveria existir provas de causas internas, há somente o próprio comportamento a elas atribuído (SKINNER, 1974/1982). Dentro desse contexto, ao invés de olhar para estados internos como explicação do comportamento ou como justificativa para rotulações de traços de personalidade, o analista de comportamento deve fazer uma análise que leve à identificação e descrição das condições necessárias para que aqueles comportamentos esperados possam ocorrer. Considerando a dinâmica organizacional e o crescente nível de exigência e imediaticidade na busca de candidatos que melhor possam atender às diversas necessidades dos cargos, argumentamos ser bastante viável a identificação de um indivíduo cujo repertório comportamental já apresente aquelas características exigidas. De qualquer forma, sempre há, de acordo com a visão de homem do behaviorismo radical, a possibilidade de aprendizagem de novos padrões comportamentais. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 44 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Neste sentido, Skinner (1971/1973), ao discutir o papel do ambiente sobre o comportamento humano, aponta duas importantes implicações daí advindas, e abre precedentes para essa argumentação. A primeira diz respeito à possibilidade de o comportamento operante ser estudado por meio da "disposição de ambientes dos quais dependam consequências específicas". A segunda relaciona-se com o fato de o ambiente poder ser manipulado e, dessa forma, levar a "efeitos rápidos e dramáticos" (SKINNER (1971/1973, pp. 18-19) sobre o comportamento. Complementando as colocações acima, observamos que discussões acadêmicas se difundem em práticas de alguns profissionaisda psicologia ou de áreas afins, que atuam no seguimento organizacional. Tais práticas poderiam muito bem ser definidas como a verdadeira "parte do problema". Aliás, Holland (1983) já apontou os perigos da aceitação de causas internas como fator explicativo do comportamento. "Culpar a vítima" contribui para manter os interesses da classe dominante, na qual muitas vezes nós, analistas de comportamento, ocupamos uma posição privilegiada o suficiente para não conseguirmos levar a cabo uma análise das relações de controle e das próprias variáveis das quais nosso comportamento é função; daí sermos seduzidos por tal aceitação. A prática de seleção de pessoal é desenvolvida sob controle de uma série de variáveis, dentre as quais aquelas de quem contrata e paga por esse tipo de serviço, o que pode implicar na recorrência, por parte de quem a realiza, a testes de personalidade. Soma-se a isso, o fato de não haver um consenso acerca de práticas que incorporem a teoria behaviorista radical, e o analista de comportamento que se propuser a realizar processos seletivos tem, em geral, reduzido repertório para a utilização dos mais variados tipos de testes, técnicas e até mesmo para compreender publicações especializadas sobre o assunto. Baseados nos aspectos até aqui citados, além de nossa experiência profissional e acadêmica, observa-se que em psicologia organizacional há a necessidade do desenvolvimento de trabalhos que possam dar subsídios e orientação a uma atuação coerente com a teoria behaviorista radical, no que diz respeito à área de "processos seletivos". INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 45 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Vale a pena apontar que em 20 anos de pesquisa na área de gerenciamento comportamental de organizações, nada foi publicado em seleção de pessoal em uma perspectiva comportamental, pelo menos no periódico mais importante da área, o Journal of Organizational Behavior Management (BALCAZAR, SHUPERT, DANIELS, MAWHINNEY e HOPKINS, 1989; NOLAN, JAREMA e AUSTIN, 1999). Incorporando uma análise das relações entre comportamento e ambiente, o presente artigo7 tenta traçar algumas considerações e questionamentos acerca da possibilidade de aplicação do modelo behaviorista radical ao processo de seleção de pessoal. Para nossos propósitos, faz-se necessária uma descrição, pelo menos sucinta, de como o processo de seleção de pessoal vem sendo tradicionalmente tratado, além da exposição do que entendemos ser a posição behaviorista radical frente a essa prática. SELEÇÃO DE PESSOAL: algumas considerações Um programa de seleção de pessoal, em geral, envolve os seguintes passos: 1) análise do cargo; 2) identificação das dimensões de desempenho do cargo; 3) identificação do conhecimento e habilidades necessárias para o cargo; 4) desenvolvimento/seleção/validação de instrumentos medidas para acessar o conhecimento e habilidades do candidato; 5) uso de tais instrumentos de medida no processo de seleção de candidatos (CASCIO, 1998; GATEWOOD e FIELD, 1998). Neste processo, busca-se identificar, entre os candidatos recrutados, o(s) que melhor se enquadra(m) no perfil exigido para determinado cargo, e consequentemente, o preenchimento adequado do mesmo. Segundo Codo (1984) a seleção de pessoal tem sido orientada pelo pressuposto fundamental 7 Publicado pela revista Psicologia: Reflexão e Crítica. Versão impressa ISSN 0102-7972. Psicol. Reflex. Crit. v.16 n.2 Porto Alegre, 2003. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722003000200003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/prc/v16n2/a03v16n2.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2013. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 46 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 de "combinar os indivíduos com as ocupações com as quais se habilita" (p. 196) e para cumprir com esta tarefa é necessário que haja uma pré- determinação de funções, devendo a seleção detectar habilidades e/ou características que possam prever o grau de adaptação do indivíduo à tarefa, vigorando, portanto, o princípio de "escolher o homem certo para o lugar certo" (p. 199). A prática comum em classificar candidatos para determinadas funções é favorecida por técnicas que valorizam causas internas como determinantes do comportamento. Portanto, não se consideram as condições ambientais necessárias para que os comportamentos esperados ocorram numa situação específica de teste, sendo rotulados de acordo com categorias abstratas de comportamentos "desejáveis" como motivação, liderança, iniciativa, criatividade, etc.; ou "indesejáveis", como desmotivação e rigidez, por exemplo. Além disso, esta prática de classificação pode contribuir para que os candidatos que não foram selecionados passem a crer que o desemprego é decorrência de deficiências em sua história de vida pessoal, quando na verdade também podem estar envolvidas variáveis do atual mercado de trabalho como, por exemplo, as relações de produção e divisão do produto (BARBARA, 1999). De qualquer forma, o que vem sendo pontuado até aqui parece ter explicação histórica. Os testes psicológicos têm em seu histórico um longo caminho percorrido, e sua criação e desenvolvimento foi influenciado pelo contexto da psicologia como ciência (FORMIGA e MELLO, 2000), legitimando inclusive a psicologia americana. Os testes psicológicos "foram criados, e utilizados para determinar e analisar diferenças individuais com relação a inteligência, aptidões específicas, conhecimentos escolares, adaptabilidade vocacional e dimensões não intelectuais da personalidade" (FORMIGA e MELLO, 2000, p. 13). Scoz (2001) considera que, pelo menos do ponto de vista de seus proponentes, os testes "são instrumentos sensíveis a diferenças individuais concernentes a presença e grau de traços" (p. 127). Os testes têm como tarefa principal medir aptidões ou investigar aspectos internos, classificando os indivíduos de acordo com o objetivo a que se presta sua aplicação. Esta INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 47 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 classificação acaba por utilizar rótulos, forçando categorizações que desconsideram diferenças individuais e outras variáveis que podem estar exercendo influência direta sobre os comportamentos; por exemplo, variáveis ambientais. Atualmente não se pode negar a ampla aceitação e utilização dos mais variados testes. A APA (American Psychological Association) exige o uso de testes padrão como medidas referenciais em estudos experimentais de aprendizagem e desenvolvimento, enviados para publicação em suas revistas. Será que a utilização de testes psicológicos, por analistas de comportamento que trabalham na área organizacional, estaria em oposição à análise que deve orientar uma atuação de acordo com um modelo behaviorista radical? Vale discutir alguns aspectos que poderão servir de subsídios para argumentações futuras sobre esta questão. ALGUNS ASPECTOS BEHAVIORISTAS RADICAIS Antes de tudo é importante mencionar que behaviorismo radical, análise experimental do comportamento (AEC) e análise aplicada do comportamento (AAC), embora inter-relacionados e interdependentes, diferenciam-se entre si. Referimo-nos ao behaviorismo radical para denominar a filosofia da ciência do comportamento formulada por Skinner (1904-1990); a saber, que gera reflexões acerca do objeto, dos objetivos e dos métodos da ciência do comportamento. Neste contexto, o ponto culminante das produções científicas é representado pela pesquisaempírica, geralmente referida como análise experimental do comportamento (AEC), mas que em muitas ocasiões é descritiva apenas, e não envolve a manipulação de variáveis que é típica da aplicação do método experimental. Por conseguinte, pode-se considerar que os trabalhos empíricos podem envolver tanto a investigação experimental dos processos comportamentais básicos, quanto à pesquisa empírica aplicada (AAC). Por outro lado, as aplicações (não empíricas) da análise do comportamento em todos os contextos de atuação do psicólogo são INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 48 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 representadas pelos trabalhos de intervenção deste profissional (TOURINHO, 1999). Uma das frequentes críticas enfrentadas pelos analistas de comportamento diz respeito à sua orientação determinista. Quando Skinner (Ex.: 1953/1994) defendeu a possibilidade de existência de uma ciência do comportamento, estava implícita a ideia de que o comportamento poderia ser objeto de estudo científico. Em sua posição, Skinner considera que o comportamento é ordenado, pode ser previsto e explicado, bem como controlado. Para Skinner (1971/1973), "a tarefa de uma análise científica é explicar o processo de relacionamento do comportamento de uma pessoa, considerado como sistema físico, com as condições em que evoluiu a espécie humana e com as condições em que vive o indivíduo" (pp. 15-16) (grifo nosso). Portanto, sua posição vai de encontro aos tratamentos tradicionais dados ao comportamento, que o vê não apenas como função de variáveis ambientais, mas como resultado de estados internos como sentimentos, vontade, traços de caráter, planos, motivação, etc.; vale dizer, da existência de um "eu iniciador". Neste sentido, o ponto de vista behaviorista radical traz à tona a impossibilidade, por definição, de um evento não material causar um evento material (BAUM, 1994/1999). Em decorrência, a proposição de Skinner acerca da causação do comportamento contraria a noção de livre-arbítrio, presente na visão tradicional e ainda hoje defendida por aqueles a quem interessa defender o "homem autônomo", no sentido de o comportamento não ser determinado externamente e, portanto, poder ser atribuído única e exclusivamente ao indivíduo que o emitiu. Outra crítica enfrentada pelos analistas de comportamento, e em nossa opinião não tão sem fundamento quanto a anterior, está na suposta negligência aos sentimentos, o que levaria à desumanização do ser humano. Esta crítica advém do fato de há muito se atribuir nossos comportamentos ao que sentimos. Por exemplo, agredimos alguém porque sentimos raiva, etc. A este respeito, Skinner (1989/1995) aponta a facilidade com que, frequentemente, INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 49 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 sentimentos são confundidos com causas, uma vez que sentimentos ocorrem enquanto nos comportamos, e até mesmo antes do comportamento ocorrer. Para ele, a condição sentida é parte do que precisa ser explicado. Assim, considera que "o que é sentido quando se tem um sentimento é uma condição do corpo da pessoa, e a palavra usada para descrevê-la quase sempre provém da palavra usada para designar a causa da condição sentida" (SKINNER, 1989/1995, p. 25). Ainda com respeito a esta questão, poderíamos apontar a problemática relativa ao uso de um vocabulário auto descritivo de eventos privados (sentimentos) adquiridos sob controle parcial de eventos públicos (SKINNER, 1974/1982), mas isso poderia levar a discussão para além de nossos objetivos. Frente a estas colocações, também se torna importante considerarmos, mesmo que brevemente, a "noção" de personalidade para Skinner. Para tanto, seu modelo de análise do comportamento por meio dos três níveis de seleção pelas consequências (seleção natural, condicionamento operante e contingências sociais - cultura) parece oportuno aqui, pelo menos no que diz respeito ao segundo nível. De forma geral, Skinner aponta que o nível de seleção por condicionamento operante permite ao organismo tornar-se pessoa, enquanto repertório de comportamentos. Assim, considera que diferentes contingências de reforço podem levar a diferentes pessoas, até mesmo sob a mesma pele (SKINNER, 1989/1995). Em suas palavras, "um eu ou uma personalidade é, na melhor das hipóteses, um repertório de comportamento partilhado por um conjunto organizado de contingências" (SKINNER, 1974/1982, p. 130). Então, nota-se que a noção de uma entidade interna, personificada e implementadora de ações externamente observáveis não tem lugar em uma análise behaviorista radical. Outro aspecto que merece ser abordado diz respeito à análise funcional que deve orientar qualquer intervenção de cunho behaviorista radical. Frequentemente, classificações taxonômicas (sejam por sintomas, etiologia, ou mesmo por prognóstico) são empreendidas por diversas abordagens psicológicas. Parece que, de maneira geral, quando se trata de classificação diagnóstica ou semelhante, na melhor das tentativas integra-se pelo menos três tipos de informações - diagnóstico múltiplo: a) etiológica, b) INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 50 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 comportamental e, c) preditiva; como uma maneira de contornar as críticas sofridas por um sistema classificatório único (para uma revisão, ver KANFER e SASLOW, 1968). Vale ressaltar que a análise funcional, aqui considerada, deve necessariamente estar atrelada a uma noção selecionista de causalidade, e não mecanicista (causa e efeito). Neste último caso, se concebida como um simples indicativo de relações entre variáveis, a avaliação e a intervenção comportamental deixarão de lado processos que precisam ser levados em conta. Ao contrário, a análise funcional deve considerar a múltipla e complexa "rede de determinações de instâncias de comportamento, representada pela ação em diferentes níveis (filogênese, ontogênese e cultura) das consequências do comportamento sobre a probabilidade de respostas futuras da mesma classe" (CAVALCANTE, 1999, p. 23). No que diz respeito aos testes psicológicos, vale enfatizar que as considerações de Skinner acerca desses instrumentos não deixam dúvida quanto à sua objeção ao uso dos mesmos. Para ele, testes são medidores de traços, e descrições em termos de traços obscurecem "o que o indivíduo fez e sob que condições ambientais", pois pretendem indicar "o que o indivíduo é" (SCOZ, 2001). Ainda segundo esta autora, investigar o que o indivíduo fez e as condições sob as quais ele o fez são a matéria prima de uma análise funcional, e negligenciar estes dois pontos representa um duplo problema: "impede o tipo de descrição que interessa à uma ciência do comportamento e a substitui por uma descrição sobre algo de existência duvidosa" (p. 128). Descrição esta considerada por Skinner (1953/1994) como baseada em traços. Para Skinner (1953/1994) o teste fornece a simples oportunidade de observação do comportamento. Note-se também que, para ele, um teste "pode permitir previsão do sucesso ou do fracasso em uma função na qual esses traços sejam importantes" (p. 193). Mas a relação causal invocada nessa espécie de previsão não é a mesma que aparece em uma análise funcional. Certas variáveis na história do indivíduo e no ambiente presente são responsáveis pelo comportamento na situação de teste, e determinam também o comportamento na situação mais INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 51 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521geral. A previsão não é de causa para efeito, mas de um efeito para outro. (SKINNER, 1953/1994, pp. 193-194) A utilização de testes enquanto meio de orientação de processos de tomada de decisão, e suas medidas resultantes, limitam sobremaneira a possibilidade de previsão e controle do comportamento. Veja que as medidas que orientam os testes podem ser utilizadas para caracterizar propriedades do repertório dos indivíduos, antes e após uma intervenção, por exemplo; e isto não aponta o tipo de manipulação de variáveis que deve ser levado a cabo para permitir que uma análise científica seja implementada na atuação de analistas de comportamento no contexto organizacional. Em sua maioria, os testes psicológicos possuem como característica principal a ênfase na topografia do comportamento e orientam-se por métodos estatísticos na composição de um sistema classificatório para caracterizar indivíduos. No entanto, Skinner (1953/1994) considera que "a previsão do que um indivíduo médio fará é, frequentemente, de pouco ou nenhum valor ao se tratar de um indivíduo particular" (p. 31). Portanto, a ênfase topográfica favorece a exclusão de detalhes que fazem parte da história de vida de um indivíduo, uma vez que o mesmo padrão de resposta pode resultar de histórias diversas de interação com o ambiente e funções adaptativas também bastantes distintas. Como parece estar configurado, dentro de uma análise behaviorista radical do comportamento, têm-se uma variedade de aspectos que podem contribuir para a objeção ao modo tradicional de conduzir processos seletivos. E, até aqui, foram descritos alguns dos que, de certa forma parecem necessários, apesar de não suficientes, para chegarmos aos objetivos traçados. Apesar disso, o que nós, analistas de comportamento, temos feito para não incorrer em práticas que estão em desacordo com os princípios postulados por Skinner? Vale lembrar, antes de tudo, que a visão skinneriana de homem difere radicalmente de outros pontos de vista e, em decorrência, uma mudança cultural faz-se imprescindível, pelo menos no que diz respeito à crença na causalidade do comportamento. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 52 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 CONSIDERAÇÕES ACERCA DE UM MODELO BEHAVIORISTA RADICAL EM SELEÇÃO DE PESSOAL A partir das colocações feitas anteriormente, e utilizando-se como fundamentação os aspectos aqui discutidos, podemos apontar não só algumas conclusões daí advindas, mas também algumas considerações acerca de um modelo behaviorista radical na temática abordada, bem como suas possíveis implicações. A primeira delas diz respeito ao contexto acadêmico-profissional, de onde a presente proposta se originou. Assim, percebemos que a formação de profissionais em psicologia (organizacional) vem sendo baseada, quase em sua totalidade, na tradição mentalista. O repertório modelado no ensino acadêmico aponta para um caminho de acordo com esta tradição, pois a aprendizagem de aplicação e cotação de testes torna-se quase que obrigatória para que os mesmos sejam utilizados em processos de seleção. O panorama atual em relação ao que tem sido feito em processos seletivos no Brasil aponta que o crescente nível de exigência quando do preenchimento de cargos, bem como a ênfase em variáveis internas, contribuem para a prática de atribuir às pessoas possíveis "deficiências" que por ventura possam apresentar. Ou mesmo de rotulá-las de acordo com um princípio topograficamente especificado, e cuja interpretação já se encontra definida previamente nos manuais que se prestam a este fim. Além disso, a tradição de uma cultura internalista em que vivemos também contribui para este tipo de prática, pois leva a uma visão descomprometida dos avaliados. Como consequência, alguns parâmetros têm sido historicamente apontados como medida de avaliação por meio de variados testes: grafia, inteligência, personalidade (métodos projetivos), testes de habilidade motora, entre outros (MUCHINSKY, 1997). Além disso, talvez o fato de os testes serem considerados quase infalíveis em revelar aspectos da personalidade que variam conforme o teste que se aplique, e a aparente facilidade de sua aplicação, parecem contribuir para sua grande utilização. Considerando que já tem sido suficientemente demonstrado que o comportamento operante é modelado e mantido por suas consequências, INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 53 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 ressaltamos que, em relação às características frequentemente exigidas, podemos considerá-las como sendo perfeitamente traduzíveis em termos de comportamentos e suas variáveis ambientais controladoras. O que se faz necessário é que as características exigidas sejam definidas de modo mais claro e objetivo. Uma definição deste tipo, com relação ao que se está procurando em um candidato, diminui a probabilidade de discórdia entre os selecionadores, o que facilitaria o processo de decisão/seleção. Na seleção de um candidato para o nível gerencial, por exemplo, é comum procurar um indivíduo que possua capacidade de liderança, já que gerentes são responsáveis por supervisionar/liderar outros funcionários. O termo liderança pode ser definido conforme pontuado acima, e pesquisadores já vêm tentando determinar empiricamente quais os comportamentos apresentados por gerentes/líderes que são considerados excelentes (Komaki, 1986). Dentre estes comportamentos estão: 1) comentários frequentes e detalhados (feedback) a respeito do desempenho dos funcionários e 2) coleta de informações a respeito do desempenho dos funcionários, através de observação de amostras de trabalho, ou consultando arquivos, documentos, etc. Cabe ressaltar que tais comportamentos, que constituem o que chamamos de "capacidade de liderança", são mantidos por consequências ambientais. Tal capacidade de liderança pode ser vista como uma competência que é produto da interação do repertório comportamental do indivíduo com o suporte ambiental (GILBERT, 1978; MILANI, 1989). O ambiente organizacional deve dar ao indivíduo a informação para que ele saiba o que fazer no trabalho (fazer comentários e coletar informações), além dos recursos (Ex.: equipamentos, formulários) e incentivos necessários (feedback, remuneração) para que tais comportamentos ocorram. Quando comportamentos relevantes ao desempenho de determinada tarefa não ocorrem, nos referimos ao conceito de motivação, ou falta de motivação (Miguel, 2000). Motivação é tradicionalmente considerada uma "competência" ou traço de personalidade, frequentemente procurada em candidatos à determinada função. Entretanto, motivação não é uma característica intrínseca ao indivíduo, mas função direta de variáveis de contexto (MICHAEL, 1993; MIGUEL, 2000). Objetivos inatingíveis, ou tarefas INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 54 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 muito complexas, por exemplo, podem tornar-se aversivas e evocar comportamentos de fuga e esquiva das tarefas a serem realizadas. Outras consequências ambientais (Ex.: navegar na internet) passam a ser mais reforçadoras do que aquelas fornecidas para a realização das tarefas relevantes. A criação de objetivos em curto prazo, a facilitação de tarefas, além do uso de consequências reforçadoras contingentes ao comportamento podem aumentar a probabilidade futura de ocorrência dos comportamentos desejados, gerando um funcionário mais "motivado". Por meio de descrições como as apontadas acima, a condução de processos seletivos orientados porprincípios behavioristas radicais começa a tornar-se mais viável. Desta forma, explicações internalistas deixam de servir como referência e dão lugar a uma análise externalista e relacional do comportamento. Como discutido, para desempenhar tarefas, o indivíduo deve ter um conhecimento mínimo do que deve fazer ser capaz de realizar a tarefa requerida (capacidade de responder), além de ser sensível às consequências ou incentivos disponíveis na organização. Estas são as características individuais que podem ser avaliadas durante o processo de seleção para que se escolha o candidato com uma menor necessidade de treinamento. É preciso enfatizar que as principais variáveis responsáveis pelo desempenho individual dos funcionários estão no ambiente que os cercam (DANIELS, 1989; GILBERT, 1978; RUMMLER e BRACHE, 1995). Desempenhos individuais são em grande parte determinados pela forma como o ambiente organizacional é gerenciado. Antes de se voltar para variáveis internas ao indivíduo, é preciso levar em conta as variáveis externas ou estímulos ambientais que podem contribuir para a manutenção do comportamento no ambiente organizacional. Entre estas varáveis estão as 1) Antecedentes (Ex.: instruções, objetivos a serem atingidos, e regras); 2) Processos e equipamentos (Ex.: burocracia no processamento de informação, mal funcionamento de equipamento, etc.); 3) Conhecimento e habilidades (Ex.: conhecimento verbal, habilidade física para desempenhar a tarefa, etc.); e 4) Consequências (Ex.: taxa de reforçamento, estratégias de feedback, dificuldade do desempenho/custo da resposta, contingências competidoras, etc.) (AUSTIN, CARR e AGNEW, 1999). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 55 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Assim, ao contrário do tipo tradicional de avaliação e suas implicações, uma avaliação baseada em um modelo behaviorista radical deverá ser orientada por análises das relações entre os comportamentos daqueles a serem selecionados e as variáveis descritas acima, o que possibilitaria o arranjo de contingências para que comportamentos relevantes para o desempenho de determinada tarefa possam ocorrer. A análise de currículos, entrevistas e verificações de conhecimentos podem oferecer contribuições importantes para um processo de seleção de pessoal. Mas a utilização de técnicas que possibilitem a observação direta de desempenhos parece ser muito mais efetiva na identificação das variáveis responsáveis pela manutenção do comportamento. Alguns jogos e técnicas de dinâmica de grupo que já são usados por profissionais da área organizacional podem servir como um ponto de partida para analistas de comportamento que desejam observar, e possivelmente analisar, comportamentos em situações de trabalho. Exemplos destas estratégias são "amostras de trabalho" (Work Samples) e "exercícios situacionais" (Situational Exercises) (CASCIO, 1998; MUCHINSKY, 1997). No caso de amostras de trabalho, uma situação, contendo características similares às da tarefa a ser desempenhada, é criada na tentativa de observar o comportamento do funcionário (WERNIMONT e CAMPBELL, 1968). Já os exercícios situacionais, normalmente usados para cargos gerenciais, simulam apenas partes comuns às funções, como por exemplo, discussões de grupo relacionadas a um tema gerencial. Propõe-se aqui que analistas de comportamento trabalhando em seleção de pessoal refinem tais estratégias na tentativa de criar ambientes que reproduzam algumas das variáveis a serem encontradas no ambiente de trabalho ao qual o indivíduo se candidata. Estes ambientes simulados podem servir para a obtenção de uma amostra do desempenho necessário à realização da tarefa e, possivelmente, a uma análise das variáveis que contribuiriam para sua ocorrência, em um processo semelhante a uma análise funcional experimental. Neste processo, variáveis supostamente responsáveis pela manutenção do comportamento seriam manipuladas na tentativa de se identificar a sensibilidade do comportamento à estas variáveis (IWATA, DORSEY, SLIFER, BAUMAN e RICHMAN, 1982/1994). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 56 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Infelizmente, análises funcionais ainda não foram testadas no ambiente organizacional (AUSTIN e cols., 1999), entretanto, teoricamente seria possível, através de um modelo de observação direta, descobrir o porquê da tarefa, estar ou não sendo cumprida e verificar se modificações ambientais necessárias, para que o cumprimento da tarefa atinja o critério, desejado pelo selecionador, durante o processo de seleção (Ex.: modificação das estratégias de feedback, alteração da dificuldade da tarefa, clareza nas instruções, etc.), estariam ao alcance e seriam economicamente viáveis à organização caso fossem implementadas em larga escala, e caso tais candidatos fossem selecionados. Outra proposta seria a de que pelo menos uma parte do treinamento "on-the-job" fosse desenvolvido antecipadamente ao processo seletivo propriamente dito. Assim, poderia identificar repertórios prévios de resolução de problemas em cada função, possibilitando a elaboração de um treinamento mínimo naquelas habilidades requeridas para o cargo pretendido e, de acordo com o desempenho do candidato, tomar a decisão de preenchimento "definitivo" do cargo. Esta prática poderia evitar uma rotulação pré-definida dos candidatos implicada nos processos seletivos atuais, que parecem dar ênfase ao "perfil psicológico" dos mesmos. No entanto, uma possível dificuldade de aceitação destas propostas estaria não só no ônus financeiro que tais estratégias trariam à empresa, mas também na exigência e imediaticidade existentes nas organizações quando do preenchimento de cargos, além do número de candidatos que frequentemente se apresentam para seleção, o que impossibilitaria o treinamento prévio. Tendo em vista a complexidade das contingências a serem analisadas, os processos seletivos impõem diversos desafios para a atuação do analista de comportamento, e a implementação de um novo modelo de seleção de pessoal pode levar a discussões conceituais e políticas, uma vez que a utilização de testes está encravada no vernáculo de seleção de pessoal. Portanto, assim como Cavalcante e Tourinho (1998) argumentam que a proposição e uso de um sistema alternativo de classificação funcionalmente orientado estarão limitados no contexto clínico em função da ausência de categorias funcionais precisas e de regras que orientem o que deve ser levado INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 57 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 em conta numa avaliação; podemos considerar que, guardadas as proporções, numa seleção de pessoal, também orientada funcionalmente, particularidades semelhantes encontram-se presentes. Por outro lado, discussões e proposições futuras, além das que foram aqui apresentadas, podem implementar um modelo de seleção de candidatos baseado nos pressupostos behavioristas radicais. Segundo Neri (2001), forçadas pelo próprio mercado, as organizações têm buscado a Qualidade como forma de sobreviverem no cenário atual, e tais mudanças apontam para um momento excelente para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de técnicas de modificação de comportamento humano. E desde Skinner, a pesquisa em análise do comportamento tem chegado a conhecimentos bastante relevantes para o contexto aplicado (Ex.: VOLLMER e cols., 2000). Assim, pode-se considerar que a possibilidade de implementação de novos modelos de seleção de pessoal também constitui um empreendimentobastante promissor, tanto para a área de seleção de pessoal, quanto para a análise do comportamento, cujos pressupostos precisam se estender para a questão aqui abordada. Propor procedimentos alternativos pode ser um alvo difícil de ser alcançado, mas significa uma grande oportunidade de ampliar nosso repertório teórico-prático, bem como de contribuir para a validade social e a aplicação da análise do comportamento ao contexto organizacional, como apontado por Miguel (2001) e Neri (2001). O motivo, pelo qual analistas de comportamento vem negligenciando a área de seleção de pessoal, é desconhecido. Podemos assumir que a ideia de seleção do indivíduo "ideal" através da análise de traços de personalidade os tenha distanciado da prática de seleção. Entretanto, se deixarmos de atuar e propor mudanças nesta área estarão cada vez mais dando espaço a propostas mentalistas que explicam o comportamento através de variáveis internas, deixando de olhar para importantes variáveis do ambiente organizacional que têm papel fundamental na maneira como as funções são desempenhadas. De qualquer maneira, ainda permanece a questão relativa à operacionalização, eficiência e aceitação das propostas aqui apresentadas. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 58 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Finalmente, devemos atentar para a facilidade com que somos seduzidos pela aceitação da prática de atribuir livre arbítrio ao ser humano, pois assim é possível responsabilizá-lo pelos seus atos e puni-lo, merecidamente, pelos seus erros. Além disso, a mudança de ênfase para o ambiente, no que diz respeito ao papel das contingências ambientais no controle do comportamento, também gera um problema: quem deverá dispor o ambiente de controle, e que fins deverão orientar esta disposição? (SKINNER, 1971/1973). Portanto, analistas de comportamento têm algo mais a refletir ao atuar no contexto organizacional. Referências deste texto: Austin, J., Carr, J. E. & Agnew, J. L. (1999). The need for assessment of maintaining variables in OBM. 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Caio Flávio Miguel é Psicólogo formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Mestre e Doutorando em análise comportamental aplicada pela Western Michigan University (EUA), onde atualmente leciona. 1 Notas dos autores e agradecimentos: Versão preliminar deste trabalho foi apresentada na IV Semana Científica do Laboratório de Psicologia Experimental (Universidade Federal do Pará, Belém. Abril/2001). Os autores agradecem as contribuições de: Edilena Galvão, Luciana Vieira e Patrícia Mendonça. Também estão em débito com dois consultores anônimos e com os INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 62 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Professores Drs. Emmanuel Tourinho e Olavo Galvão, pelas valiosas sugestões às versões preliminares deste manuscrito. É comum encontrarmos, ainda hoje, uma diferenciação entre Psicologia do trabalho e psicologia organizacional. De acordo com esta dicotomia, questões mais tradicionais como recrutamento, seleção de pessoal, treinamento, análise de tarefas etc., estariam mais sob o domínio da psicologia do trabalho; em psicologia organizacional a ênfase estaria em questões relativas ao comportamento de indivíduos em grupo e subsistemas em organizações como um todo. Nestes termos, e sem desconsiderar fatores históricos inerentes à psicologia social que contribuíram para esta divisão, optamos por usar o termo psicologia organizacional, uma vez que a entendemos como também orientada para aquelas questões frequentemente apontadas como relativas à Psicologia do trabalho. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 63 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 A SELEÇÃO DE PESSOAL: MÉTODOS E TÉCNICAS Como a seleção de pessoal visa introduzir, na organização, os candidatos mais apropriados as suas necessidades, podemos afirmar que existe uma carência de literatura behaviorista radical acerca desse tema, sendo necessário o desenvolvimento de trabalhos que orientem atuações coerentes com essa teoria. Assim, o objetivo deste estudo, transcrito a seguir, é discutir os métodos utilizados na seleção à luz dos pressupostos conceituais do behaviorismo radical. Os métodos de seleção existentes são analisados e discutidos em termos de aumento do controle das variáveis presentes no contexto da seleção a fim de proceder à identificação dos repertórios comportamentais dos candidatos. Propõe-se, portanto, no artigo a seguir8, uma análise de cargo baseada nos conceitos behavioristas, discute-se a possibilidade de condução de entrevistas de seleção focadas no comportamento bem como o uso de técnicas de simulação que permitam a identificação de repertórios comportamentais. Sendo assim, conclui-se, no estudo sequencial, que é necessário desenvolver discussões teóricas e instrumentos operacionais facilitadores de uma prática psicológica vinculada aos pressupostos behavioristas radicais. 8 Publicado pela revista Psicologia: Ciência e Profissão. Versão impressa ISSN 1414-9893. Psicol. cienc. prof. vol.28 no.1 Brasília, 2008. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932008000100010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-98932008000100010&script=sci_arttext>. Acesso em: 22 nov. 2013. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 64 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 MÉTODOS DE SELEÇÃO DE PESSOAL: DISCUSSÕES PRELIMINARES SOB O ENFOQUE DO BEHAVIORISMO RADICAL Liany Tavares Tadaiesky9 O foco da Psicologia organizacional é a organização como um todo, visando ao seu bom andamento. Spector (2003) acredita que a principal função do psicólogo organizacional é ampliar a eficácia e o funcionamento das organizações bem como propor melhorias ao ambiente de trabalho visando à satisfação dos funcionários, mesmo que isso não resulte diretamente em eficácia organizacional. O raio de abrangência das atividades do psicólogo organizacional compreende tanto o desenvolvimento de pesquisas científicas quanto a resolução de problemas práticos. A atividade de pesquisa tem por objetivo investigar qual a melhor abordagem ou princípio para a resolução de um problema prático. Por outro lado, a parte prática da atuação de um psicólogo na empresa refere-se à aplicação de tais princípios no ambiente organizacional, com o intuito de alcançar e manter a eficácia dos processos desenvolvidos na empresa e a satisfação dos funcionários. Nesse sentido, apreende-se que o psicólogo organizacional é um cientista prático, pois concilia a pesquisa científica e a aplicação prática de princípios a problemas existentes no ambiente de trabalho (SPECTOR, 2003). Neste estudo, será dada maior ênfase à atividade de seleção de pessoal no que se refere aos conceitos e métodos de avaliação para a seleção de candidatos para uma organização. É importante ressaltar que esse campo de atuação profissional não é privativo de psicólogos, portanto, há uma vasta produção literária relativa ao tema que não está baseada em conceitos concernentes a quaisquer das abordagens psicológicas. Nesse sentido, a escolha da literatura para uma discussão inicial das práticas mais comuns na área da seleção de pessoal obedeceu, intencionalmente, ao critério de maior disseminação e uso pelos profissionais que atuam no meio, não sendo 9 Psicóloga, Mestre em Teoria e Pesquisa do Comportamento da Universidade Federal do Pará (UFPA). Universidade Federal do Pará. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 65 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 necessariamente produções da Psicologia. Pretende-se, pois, discutir as práticas de seleção de pessoal a partir das referências mais utilizadas pelos profissionais da área. Chiavenato (1994) entende a seleção de pessoal como parte de um processo que tem por objetivo a contratação denovos funcionários ou o remanejamento de funcionários antigos para novos cargos. Tal processo é composto por cinco etapas consecutivas: recrutamento, triagem dos candidatos, seleção de pessoal, identificação de características pessoais e a integração na equipe; a fase de seleção de funcionários, portanto, tem início somente após o recrutamento e a triagem. O recrutamento consiste na divulgação da existência de vagas de emprego em uma determinada organização. O objetivo dessa fase é prover o processo seletivo de candidatos (CHIAVENATO, 1999b). A fase de triagem funciona como uma pré-seleção para reduzir o número de candidatos por vaga, permanecendo apenas aqueles que possuem os pré-requisitos para o cargo. A seleção de pessoal caracteriza-se como o momento de tomada de decisão a respeito dos candidatos escolhidos. É uma atividade de classificação que visa essencialmente a introduzir no local de trabalho os candidatos mais apropriados às necessidades do cargo vago e da organização como um todo (CHIAVENATO, 1999b). Para que sejam avaliados os conhecimentos e as habilidades desejáveis nos candidatos, é necessário o levantamento de dados e informações a respeito do cargo a ser preenchido. Segundo Chiavenato (1999b), a seleção de pessoal pode ser vista como um processo de comparação entre duas variáveis: os requisitos exigidos para a execução das tarefas relacionadas ao cargo vago e o perfil dos candidatos. A primeira etapa da seleção de pessoal corresponde à obtenção de informações relativas ao cargo a ser preenchido. Essa coleta de informações pode ser efetuada por meio da descrição e análise do cargo, etapa na qual são levantadas informações a respeito do conteúdo do cargo (aspectos intrínsecos) e dos requisitos necessários ao seu ocupante (aspectos extrínsecos). Nesse momento, são descritas tanto as tarefas desempenhadas nos cargos quanto as características humanas necessárias para o desenvolvimento das atividades. Tais características podem ser descritas em termos de conhecimentos, INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 66 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 habilidades, aptidões e outras características pessoais, que compõem o denominado CHAOs (SPECTOR, 2003). O conhecimento é definido como o que uma pessoa precisa saber para desempenhar um determinado trabalho; a habilidade, como aquilo que uma pessoa é capaz de realizar no trabalho, e a aptidão, como o talento ou a capacidade de uma pessoa para desempenhar tarefas ou aprendê-las, ou seja, o potencial para desenvolver habilidades. Dessa forma, a análise de cargo tem dois focos, o trabalho e a pessoa. No primeiro, a análise é orientada ao cargo, enfocando as tarefas específicas da atividade e fornecendo informações sobre a natureza das tarefas realizadas no trabalho. Por outro lado, a análise orientada à pessoa preocupa-se com as características pessoais exigidas para um determinado trabalho. Essa análise fornece uma descrição dos atributos e das características pessoais ou CHAOs necessários para que uma pessoa desenvolva com sucesso um determinado trabalho (SPECTOR, 2003). Chiavenato (2000) elenca alguns métodos utilizados com maior frequência para a análise de cargos: a observação direta, o questionário e a entrevista direta. No método da observação direta, o analista de cargos efetua registros relacionados à observação dinâmica do atual ocupante do cargo em pleno exercício de suas atividades. No método do questionário, é solicitado aos executantes do cargo (ou mesmo seus supervisores) que preencham um questionário de análise de cargo, respondendo questões referentes ao conteúdo e às características do cargo, com o maior número de informações possíveis. Por fim, o método da entrevista consiste em reunir alguns elementos relativos ao cargo por meio de um contato direto do entrevistador com o ocupante ou seu chefe. As informações adquiridas acerca do perfil do cargo são transformadas em uma ficha profissiográfica, na qual consta um resumo dos componentes das atividades efetuadas no cargo em questão. Ela também contém os atributos psicológicos e físicos necessários ao candidato ao cargo. A partir desses dados, podem ser estabelecidas as técnicas de seleção apropriadas para investigar a presença das características desejáveis nos candidatos (CHIAVENATO, 1999a, 1999b). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 67 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Entre as diversas técnicas de seleção de pessoal utilizadas, a entrevista é a mais empregada, e pode ser totalmente estruturada ou livre, conforme a experiência do entrevistador. Chiavenato (1999a) ressalta que é de extrema relevância que o entrevistador se livre de preconceitos e barreiras pessoais, no intuito de permitir a maior objetividade possível desse instrumento de seleção. Durante a entrevista, dois aspectos são essenciais para uma avaliação mais eficiente dos resultados: o conteúdo da entrevista e o comportamento do candidato. O conteúdo da entrevista é formado pelo conjunto de dados que o candidato relata a seu respeito, referentes à formação escolar, profissional, conhecimentos e interesses, entre outros; já o segundo aspecto constitui a maneira como o candidato age durante a situação de entrevista, isto é, as qualificações pessoais demonstradas no processo. Os testes psicométricos também podem ser usados como instrumentos para a seleção de candidatos. Segundo Chiavenato (1999b), eles são considerados medidas objetivas e padronizadas de amostras de comportamentos e focalizam especificamente as aptidões dos candidatos. Os resultados individuais são comparados com padrões estatísticos, e, a partir disso, indicam em percentuais o quanto de cada tipo de aptidão existe no indivíduo. Esses testes procuram generalizar e prever aquela aptidão em determinadas formas de atuação profissional. Nesse contexto, Chiavenato (1999a) diferencia os conceitos de capacidade e aptidão, afirmando que aptidão é a potencialidade do indivíduo em aprender determinada habilidade, enquanto capacidade seria a habilidade atual da pessoa em relação a certa atividade. Desse modo, enquanto a aptidão é uma habilidade em estado latente que pode ou não ser desenvolvida, a capacidade é adquirida através do desenvolvimento dessa aptidão. Segundo o autor, a manifestação de determinadas habilidades ou capacidades depende da existência prévia de aptidões relacionadas a estas. Além dos testes psicométricos, costuma-se utilizar também os testes de personalidade. Eles somente podem ser aplicados e interpretados por psicólogos, e têm como objetivo revelar características da personalidade dos candidatos. Chiavenato (1999b) conceitua personalidade como “... a integração única de características mensuráveis relacionadas com aspectos permanentes INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 68 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 e consistentes de uma pessoa” (p. 123). Para ele, essas características podem ser determinadas pelo temperamento, caracterizando-se como inatas, ou adquiridas do meio. Os testes podem ser gerais, o que possibilita a formulação de um psicodiagnóstico total da pessoa, ou específicos, que investigam certos traços da personalidade dos candidatos. Outro procedimento costumeiramente empregado nos processos de seleção são as técnicas de simulação, que são realizadas de forma grupal e devem ser conduzidas por um psicólogo ou um especialista no assunto (CHIAVENATO, 1999a). Nesse procedimento, os candidatos devem dramatizar uma situação qualquer, que levante questões pertinentes àshabilidades exigidas para o desempenho do cargo disputado. O objetivo é averiguar os comportamentos característicos dos candidatos em interação com outras pessoas, partindo-se do princípio de que, durante a dramatização, a pessoa irá estabelecer vínculos e desempenhar os papéis habituais. A partir do exposto, percebe-se que parte do arcabouço teórico existente sobre os conceitos, métodos e atividades comuns ao ramo da Psicologia organizacional, especialmente acerca do processo de seleção de pessoal, não estão pautados em uma abordagem psicológica específica. Esse campo de atuação parece estar mais voltado para o desenvolvimento de procedimentos práticos, não sendo enfatizadas construções teóricas baseadas em uma visão de mundo. O conhecimento teórico produzido apresenta, de modo pontual, uma visão internalista, pouco valorizando os fatores ambientais envolvidos na manifestação do comportamento em ambientes organizacionais. A teoria behaviorista radical é raramente citada como referencial para a atuação profissional no ambiente de trabalho, e, quando o é, costuma-se abordá-la de modo superficial, não sendo exploradas todas as possibilidades de contribuição que essa abordagem pode oferecer. Alguns autores oferecem considerações condizentes com a análise do comportamento, porém tais considerações são, em geral, seguidas ou condicionadas a formulações mentalistas. Algumas críticas levantadas acerca do uso da análise do comportamento em ambientes de trabalho estão relacionadas, por exemplo, com os aspectos éticos, argumentando-se que as técnicas baseadas no behaviorismo visam à manipulação calculista dos indivíduos no ambiente de INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 69 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 trabalho. Outra crítica à abordagem diz respeito à suposta elementaridade de seus princípios filosóficos, vistos como simples mecanismos estímulo-resposta que desconsideram os processos mentais e cognitivos envolvidos nos comportamentos humanos (AGUIAR, 1980; CHIAVENATO, 1999b). No entanto, entende-se que a abordagem behaviorista radical pode proporcionar subsídios para a atuação profissional do psicólogo na área organizacional, e, mais especificamente, para o processo de seleção de pessoal. Entretanto, conforme Santos, Franco e Miguel (2003), existe uma carência de produção bibliográfica nesse sentido, havendo a necessidade do desenvolvimento de trabalhos que apresentem parâmetros para uma atuação coerente com a análise do comportamento. Os autores ressaltam ainda que, em 20 anos de pesquisa na área de gerenciamento comportamental em organizações, não há sequer uma publicação sobre seleção de pessoal em uma perspectiva behaviorista, pelo menos nos periódicos mais importantes dessa área de atuação. Segundo Keenan (1995), existe pouca literatura sistematizada que ofereça informações a respeito de técnicas utilizadas em seleção bem como informações concernentes à efetividade desses procedimentos. Santos et al. (2003) defendem a viabilidade de se utilizar fundamentos da análise do comportamento na identificação de indivíduos com os repertórios comportamentais mais adequados às características exigidas para um determinado cargo. Os autores afirmam que o analista do comportamento não irá considerar os estados internos como explicação do comportamento ou como justificativa para definir traços de personalidade. Seu objetivo será identificar e descrever as condições necessárias para que os comportamentos esperados possam ocorrer. Objetivo geral Discutir os métodos utilizados em processos de seleção de pessoal à luz dos pressupostos teórico-conceituais da abordagem behaviorista radical. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 70 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Objetivos específicos Propor formas de manuseio e entendimento desses métodos a partir dos princípios da análise do comportamento. Discutir as possibilidades de contribuições da abordagem behaviorista radical para a atuação profissional do psicólogo que atua em ambientes organizacionais, especialmente em processos de seleção. Considerações metodológicas Foi levantada parte da literatura bibliográfica existente a respeito dos conceitos e métodos pertinentes ao processo de seleção de pessoal, tendo sido utilizados como referência livros, capítulos de livros e artigos publicados em periódicos científicos. Em virtude da área de atuação em recursos humanos não ser privativa de psicólogos, a pesquisa bibliográfica não se restringiu a fontes de cunho psicológico, mas também a produções voltadas especificamente para os procedimentos de seleção, desde que tais produções possuíssem reconhecimento e indicações frequentes pelos profissionais da área. Em seguida, procurou-se discutir os principais métodos descritos na literatura a partir de um enfoque teórico-conceitual condizente com a teoria behaviorista radical. Contribuições do behaviorismo radical para a seleção de pessoal Análise de cargo A análise de cargo baseada na teoria comportamental deve ter como foco a investigação de contingências e comportamentos relacionados às principais tarefas do cargo em questão. Conforme os preceitos da análise do comportamento, a pesquisa deve estar respaldada por métodos objetivos e sistematizados que garantam alguma neutralidade e a validade dos resultados obtidos. Algumas estratégias podem ser utilizadas para levantar informações a respeito dos requisitos necessários ao candidato que desempenhará INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 71 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 determinada função em uma organização. A literatura encontrada propõe alguns procedimentos, como observação direta, administração de questionário e entrevistas. Um modelo de análise de cargo comportamental pode fazer uso desses métodos, porém com algumas diretrizes. Observação em situação natural Na observação em situação natural, o analista de cargos deve estar atento às variáveis ambientais que exercem controle sobre os comportamentos manifestados pelo ocupante do cargo. Propõe-se aqui a realização de um registro cursivo dos comportamentos relevantes para o exercício da função, procedendo-se a descrições em termos de tríplices contingências. O número das sessões de observação efetuadas estará diretamente relacionado à complexidade das tarefas desempenhadas pelo ocupante do cargo de uma determinada organização. No entanto, é relevante que as sessões sejam distribuídas de modo a contemplar toda a gama das atividades executadas ao longo de um dia comum de trabalho. As primeiras sessões seriam válidas para proporcionar um panorama do cargo. Em seguida, propõe-se a construção de uma ficha de registro funcional do comportamento, na qual fossem discriminados os eventos antecedentes, os comportamentos e seus eventos consequentes. A partir de um registro cursivo, seria possível destacar as principais tarefas e comportamentos emitidos pelo funcionário, destacando-se os mais significativos a serem analisados funcionalmente. Uma ficha de registro funcional do comportamento é uma boa estratégia, na medida em que permite verificar a funcionalidade dos comportamentos emitidos pelo ocupante do cargo bem como a sua eficácia nas circunstâncias envolvidas. Todavia, não é suficiente identificar o repertório comportamental exibido pelo ocupante do cargo, pois este pode não ser o mais adequado para as variáveis atuantes na organização. Nesse sentido, métodos que focalizem apenas os comportamentos do ocupante atual do cargo sãoproblemáticos, pois, se o funcionário observado apresentar um repertório comportamental pouco adequado para o desempenho do cargo, haverá dificuldades em elencar as habilidades essenciais para o cargo desejado. Dessa forma, a análise dos INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 72 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 eventos antecedentes e consequentes deve permitir ao psicólogo organizacional a descrição dos comportamentos mais adaptados às situações organizacionais observadas, independentemente de sua manifestação durante o registro. Averiguar a função do comportamento torna-se mais relevante do que descrever sua topografia, pois admite a identificação de classes de respostas efetivas para o contexto. A observação em situação natural, entretanto, possui algumas desvantagens, pois capta apenas relações funcionais contíguas, ou seja, somente os eventos antecedentes e consequentes imediatos ao comportamento observado. Esse método não favorece a verificação de relações funcionais entre antecedentes e comportamentos temporalmente distantes e consequências a longo prazo. Questionários e entrevistas No que diz respeito ao uso de questionários e entrevistas, estes devem primar pela investigação das atividades típicas do cargo em questão e dos comportamentos necessários para realizá-las. A construção de um questionário requer do psicólogo organizacional uma noção prévia das tarefas desenvolvidas no cargo, pois esse instrumento deve conter as descrições operacionais das possíveis habilidades exigidas. Na medida em que esse procedimento tem cunho exploratório, deve ser abrangido o maior número de comportamentos passíveis de manifestação no contexto do cargo em análise e da organização como um todo. O questionário não esclarece a função ou a topografia dos comportamentos requeridos, porém fornece um desenho das atividades desempenhadas segundo o próprio ocupante da vaga. Vale ressaltar que esse instrumento não tem como objetivo principal prover subsídios para a realização de análises contingenciais, e sim, propiciar uma enumeração dos comportamentos necessários, conforme a experiência do indivíduo que, a priori, está atuando sob o controle de variáveis relevantes no ambiente organizacional. Uma possibilidade interessante é a administração do questionário aos pares, subordinados e chefes do ocupante do cargo INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 73 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 analisado, pois podem ser obtidas descrições complementares das tarefas e habilidades necessárias para o bom desempenho do funcionário. Em relação à entrevista, pode-se dizer que ela possui finalidades semelhantes às do questionário, uma vez que se propõe a investigar as habilidades exigidas para o cargo a partir do relato do ocupante do cargo e de seu superior. Assim, como o questionário, ela não proporciona a observação dos comportamentos típicos do exercício do cargo em meio às suas contingências. Todavia, as perguntas podem ser direcionadas, a fim de que o entrevistado relate os comportamentos mais exigidos para o desempenho do cargo em termos de tríplice contingência. A partir disso, o analista de cargo poderia examinar o contexto em que os comportamentos são emitidos e a sua efetividade para a obtenção de consequências positivas para a organização e para o trabalhador. Durante a entrevista, é importante verificar também as contingências operantes no ambiente organizacional como um todo, isto é, as condições de trabalho, a forma como as relações interpessoais são usualmente estabelecidas e algumas regras e vícios presentes na organização, entre outros aspectos. Portanto, é interessante que a entrevista não esteja restrita à descoberta de informações diretamente relacionadas ao cargo. Ela pode servir como instrumento para a análise do cargo em um nível contingencial maior, a fim de se elencar comportamentos promotores de consequências positivas. Os métodos discutidos devem ser utilizados complementarmente, visto que apresentam focos diferenciados para a identificação dos elementos necessários a uma análise de cargo completa e bem-sucedida. A partir das informações levantadas na análise de cargos, costuma-se elaborar uma lista das habilidades necessárias ao futuro ocupante do cargo. Na medida em que este texto tem como escopo discutir as estratégias de seleção de pessoal a partir de um enfoque behaviorista radical, propõe-se que essas habilidades individuais desejadas sejam definidas em termos de operacionalizações comportamentais. Tais definições operacionais devem ser estabelecidas em termos de tríplice contingência, a fim de que o psicólogo organizacional possa melhor identificar as variáveis das quais cada comportamento requerido é função. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 74 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Seleção dos candidatos Testes psicológicos Uma questão controversa presente nos processos de seleção de pessoal diz respeito ao uso de testes psicológicos. A maioria deles foi criada para medir aptidões, inteligência e traços de personalidade, procedendo-se a classificações dos indivíduos por meio de rótulos que desconsideram diferenças individuais e variáveis ambientais (Noronha, 2002; Santos et al., 2003). Para Wanderley (1985), o sucesso no desempenho profissional depende também das circunstâncias organizacionais em que as tarefas são realizadas, como condições de trabalho, clima organizacional e incentivos comportamentais existentes, entre outras particularidades. Segundo o autor, a medição de características psicológicas através de testes implica aceitar a tese de que existem processos mentais, representados pelos escores, que governam a atuação do indivíduo. Do ponto de vista da análise do comportamento, essa noção é internalista, e, como tal, ignora variáveis ambientais significativas para a emissão de comportamentos mais e menos adequados pelos candidatos. De acordo com Noronha (2002), muitos testes são criticados por não serem adequados à realidade brasileira. Outro ponto importante destacado pela autora está relacionado à precariedade na formação profissional do psicólogo no que concerne à aplicação de testes, o que ocasiona frequentemente um uso “mecânico” e inadequado do instrumento. Segundo Skinner (1981), o teste permite a observação do comportamento, porém suas descrições, em termos de traços, impedem a determinação do que o indivíduo fez e em que condições ambientais, uma vez que, em geral, objetivam classificar características permanentes do indivíduo. Para o autor, “a previsão do que um indivíduo médio fará é, frequentemente, de pouco ou nenhum valor ao se tratar com um indivíduo particular” (p. 31). Desse modo, estatísticas referentes ao conjunto de uma sociedade desconsideram variáveis ambientais estabelecedoras de diferenças individuais. Assim, a utilização de testes projetivos ou inventários pode apresentar limitações no sentido de não estabelecer contingências efetivas para a INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 75 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 ocorrência dos comportamentos requeridos, não sendo possível verificar se esses estão presentes ou não no repertório do candidato. Segundo Wanderley (1985), não existem pesquisas que comprovem as potencialidades preditoras dos vários tipos de testes utilizados em ambientes organizacionais para a seleção de pessoal. Sackett e Lievens (2008) afirmam que testes de habilidade ou personalidade proporcionam apenas sinais de comportamentospossivelmente efetivos no ambiente de trabalho, visto que lidam com habilidades e predisposições descontextualizadas das atividades laborais. Por outro lado, técnicas que envolvam a manifestação direta de comportamentos, como simulações, são mais consistentes, pois são baseadas na dramatização de comportamentos desejáveis para o desempenho do cargo. Assim, para uma seleção baseada na análise do comportamento, é mais eficaz a adoção de técnicas que propiciem a interação com o candidato, captando-o em ação, do que o uso de testes que supostamente definem a personalidade do indivíduo. Entrevista analítico-comportamental Conforme Monti (2005), a entrevista é o instrumento soberano nos processos de seleção de pessoal, sendo a técnica de seleção mais usada nos meios profissionais. Para a autora, a entrevista é um momento de troca de informações entre entrevistador e entrevistado, no qual o primeiro lança estímulos verbais no ambiente que lhe permitem estudar as repostas verbais e não-verbais do entrevistado. No entanto, em virtude da subjetividade frequentemente presente nesse tipo de técnica, é imprescindível que sejam tomadas precauções a fim de impedir que variáveis não controladas e indesejáveis interfiram na seleção (MONTI, 2005). De acordo com a autora, tanto o entrevistador quanto o entrevistado estão sujeitos à influência de variáveis externas ao processo de entrevista em si. O local da entrevista, as possíveis interrupções e até mesmo eventos encobertos podem ser variáveis controladoras durante a entrevista. É essencial, pois, que o entrevistador participe de um treinamento adequado, objetivando-se assim reduzir a influência de variáveis estranhas durante a entrevista de seleção. É importante notar que comportamentos não verbais do INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 76 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 entrevistador podem controlar as respostas verbais e não verbais do entrevistado. Assim, a expressão facial e corporal diante das observações do candidato e o tom de voz utilizado, entre outros aspectos, devem ser observados (MONTI, 2005). Durante a entrevista, devem ser analisados também os comportamentos não verbais do entrevistado, verificando-se a existência ou não de sincronia entre esses comportamentos e o relato verbal. De modo geral, costuma ser necessário que o candidato demonstre confiança, segurança, assertividade e simpatia, entre outras características. Estas podem ser averiguadas por meio de comportamentos não verbais, como postura corporal firme, contato visual, gestos articulados, entonação de voz adequada, modulação da voz, sorrir em momentos apropriados, etc. Nas entrevistas tradicionais, costuma-se focalizar aspectos relativos a preferências pessoais, responsabilidades e conhecimento do trabalho, entre outros pontos (MAURER e FAY, 1988). De acordo com Barclay (2001), essas perguntas relacionadas a opiniões, autoavaliação, objetivos e aspirações do candidato são fracas, pois permitem que o indivíduo se apresente de forma demasiadamente favorável, evitando a revelação de seus pontos fracos. Campiom, Palmer e Campiom (1997) acreditam que as questões tradicionais não são baseadas em uma análise de cargo, e são aplicadas indistintamente. Elas costumam se centrar mais em traços da personalidade ou em aspectos que os entrevistadores acreditam ser relevantes, independentemente das particularidades do cargo a ser preenchido. Essa prática está presente na maioria das organizações, que buscam informações relativas a qualidades pessoais ou a características gerais desejáveis em qualquer trabalhador, não levando em consideração a investigação de habilidades especificamente relacionadas ao emprego, conforme o delineamento que pode ser feito pela análise do cargo (Keenan, 1995). Esse tipo de estratégia não analisa as contingências operantes sobre os futuros comportamentos a serem emitidos pelo candidato, resultando, muitas vezes, em um processo de seleção ineficaz. Um modelo de entrevista analítico-comportamental deve atentar para a identificação dos comportamentos presentes no repertório do candidato, das INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 77 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 contingências nas quais estes são emitidos e dos reforços aos qual esse indivíduo é sensível. As perguntas elaboradas devem ter como objetivo identificar no relato verbal e na comunicação não verbal do candidato a existência dos comportamentos listados como desejados para o desempenho do cargo. O entrevistador deve ter habilidade para fazer emergir no relato do candidato descrições de situações em termos de tríplices contingências. Segundo Monti (2005), na década de 70, foi elaborado um modelo de entrevista denominado entrevista comportamental. Nesse tipo de entrevista, o foco é o comportamento passado do candidato em um ambiente de trabalho, sendo requerida dos candidatos a descrição de situações nas quais exibiram comportamentos condizentes com as habilidades desejáveis para o cargo que estão disputando. A entrevista comportamental baseia-se no pressuposto de que o comportamento passado prediz o comportamento futuro. Nesse sentido, o entrevistador deve tentar identificar, nas situações relatadas pelo candidato, evidências comportamentais das habilidades que investiga. Estariam sendo analisadas as ocasiões em que o indivíduo obteve sucesso em emitir um determinado comportamento, ou seja, as contingências de reforçamento operantes. Sob uma perspectiva behaviorista radical, os dados obtidos a partir desse tipo de entrevista possibilitariam a análise funcional do comportamento relatado, pois o entrevistador deve identificar, no relato verbal do candidato, especificamente nas descrições de comportamentos ocorridos no passado, os eventos antecedentes que determinaram seu comportamento, a resposta em si e as suas consequências (MONTI, 2005). A principal vantagem da entrevista comportamental é o fator de dificuldade que ela traz para um relato irreal sobre as habilidades do candidato, uma vez que ele deve descrever situações consistentes sobre comportamentos passados, relacionando coerentemente o contexto, a ação tomada e os resultados oriundos. Isso evitaria a emissão de respostas “prontas” e pouco fidedignas (BARCLAY, 2001; MONTI, 2005). De fato, algumas pesquisas sugerem que, quanto mais estruturada a entrevista, menor a probabilidade de respostas pouco fidedignas pelos candidatos (SACKETT e LIEVENS, 2008). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 78 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Uma questão importante relacionada a esse modelo de entrevista diz respeito aos candidatos com pouca ou nenhuma experiência profissional prévia. Em tal situação, relatos verbais de comportamentos passados relacionados às habilidades desejadas ao desempenho do cargo estariam impossibilitados. Monti (2005) sugere que os comportamentos indicadores das habilidades requeridas podem ser identificados no relato verbal da história pessoal do indivíduo, ou seja, em situações fora de um contexto de trabalho. Barclay (2001) discute também a possibilidade de descrição de experiências não relacionadas a ambientes de trabalho, proporcionando ao candidato maior oportunidade de demonstrar sua adequação ao cargo. Entretanto, devem ser tomados certos cuidados com esse tipo de abordagem, uma vez que os estímulos discriminativos operantes em contextos organizacionais não são necessariamente os atuantes em situações distintas. Assim, comportamentos de liderança, por exemplo, podem estar presentesem ambientes familiares, porém ausentes em ambientes de trabalho. Na pesquisa conduzida por Barclay (2001) acerca do uso da entrevista comportamental em organizações do Reino Unido, a principal queixa encontrada está relacionada ao uso dessa técnica com candidatos sem experiência profissional prévia. O autor relata que os entrevistadores referiram dar menos importância a descrições de experiências ocorridas em contextos diferentes do ambiente de trabalho. Outro modelo de entrevista ainda pouco utilizado em processos de seleção de pessoal é a entrevista situacional. Nesse modelo, são propostas situações hipotéticas que podem ocorrer no exercício do cargo, sendo inquiridos dos candidatos como eles agiriam mediante tais contextos (BARCLAY, 2001; MAURER e FAY, 1988). De acordo com Latham e Saari (1984), a premissa básica dessa entrevista consiste na crença de que as intenções e os comportamentos das pessoas estão relacionados. As situações propostas são construídas a partir das tarefas e habilidades consideradas necessárias ao desempenho da função, informações essas levantadas por meio da análise de cargo. A partir dessa análise, são elaborados exemplos de comportamentos possíveis de emissão na situação proposta, os quais podem variar em uma escala relativa à adequabilidade e INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 79 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 efetividade destes. As respostas dos candidatos devem ser comparadas e enquadradas conforme os itens previamente elaborados (LATHAM e SAARI, 1984; MAURER e FAY, 1988). A partir de um enfoque analítico-comportamental, pode-se dizer que a entrevista situacional proporciona a descrição de contingências possíveis de serem enfrentadas no ambiente de trabalho, sendo esperado dos candidatos o relato dos comportamentos que poderiam ser emitidos mediante tais estímulos. Parte-se do pressuposto de que o candidato estaria relatando comportamentos presentes em seu repertório comportamental e de mais provável emissão na presença dos estímulos relatados pelo entrevistador. Nesse sentido, a análise do candidato a respeito de quais comportamentos manifestaria nas condições apresentadas estaria condicionada à sua história prévia em contingências similares. O indivíduo deveria estar consciente dos comportamentos comumente emitidos, ou seja, presentes em seu repertório comportamental em situações que possuam propriedades discriminativas ou reforçadoras semelhantes. Todavia, um aspecto a ser discutido em relação a essa técnica diz respeito à correspondência entre o relato verbal do candidato e os comportamentos realmente emitidos nas situações hipotetizadas. Conforme Pergher (2002), o comportamento verbal é emitido sob o controle de um estímulo discriminativo, ao qual nem sempre o ouvinte tem acesso. O autor descreve pesquisas conduzidas por Critchfield e Perone (1993 citado por Pergher, 2002, p. 113), nas quais os participantes deveriam responder a quantidade de erros e acertos em uma determinada tarefa. Constatou-se que os sujeitos tenderam a dizer que acertaram mesmo quando haviam errado. Pergher (2002) observa, portanto, que os relatos falsos se voltavam frequentemente na direção de comportamentos socialmente desejáveis. Assim, relatos seguidos de consequências aversivas têm maior probabilidade de serem falsos. De acordo com Meyer (2005), os relatos verbais podem ser determinados não apenas pelos estímulos que descrevem, mas também por outras variáveis ambientais. Nesse caso, o relato verbal de um indivíduo poderia estar sob controle de suas consequências, e não de condições antecedentes. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 80 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Em um experimento conduzido por Baer e Detrich (1990 citado por Pergher, 2002, p. 116), no qual crianças deveriam dizer com quais brinquedos iriam brincar e em seguida poderiam escolher livremente entre uma variedade de brinquedos. Na primeira fase, havia uma correlação precisa entre o dito e o feito, porém, em outra fase do experimento, as crianças somente poderiam escolher entre opções restritas de brinquedos (os quais haviam tido baixa frequência de uso por elas em sessões anteriores). Nessa fase, as crianças verbalizavam que brincariam com um dos brinquedos selecionados, porém acabavam por brincar com os brinquedos de sua preferência. Os experimentadores concluíram que as crianças estavam vivenciando uma contingência de esquiva, na qual não poderiam começar a brincar até que verbalizassem algo aceitável pelo experimentador. De modo análogo, discute-se a possibilidade de o relato verbal do candidato à seleção para uma determinada organização estar sob controle das consequências, e não das condições antecedentes. Assim, haveria uma alta probabilidade de o indivíduo emitir um relato falso, porém reforçado positivamente pelo ouvinte através, por exemplo, da contratação. Estímulos antecedentes como a história prévia do candidato e a consciência dos comportamentos disponíveis em seu repertório podem não estar controlando suas respostas verbais no momento da entrevista situacional. Seria, pois, interessante desconfiar das verbalizações do indivíduo, mobilizando-se para buscar outras contingências que confirmem o relato verbal. (PERGHER, 2002). Mauren e Fay (1988) sugerem que a entrevista comportamental e a entrevista situacional sejam utilizadas em conjunto, uma vez que possibilitam a investigação de comportamentos passados e prováveis comportamentos futuros. Os autores propõem que inicialmente se verif ique com o candidato exemplos de situações nas quais ele tenha se comportado da maneira desejada, conforme as premissas da entrevista comportamental. No caso de o candidato negar a vivência da situação perguntada, o entrevistador poderia manter a questão trabalhando-a em termos de hipóteses, conforme a proposta da entrevista situacional. Assim, a entrevista situacional pode ser mais apropriada para candidatos que possuem pouca ou nenhuma experiência profissional prévia. (BARCLAY, 2001). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 81 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Comparando-se as entrevistas tradicionais, tanto a entrevista comportamental quanto a situacional trazem grandes contribuições e avanços para uma atuação profissional mais vinculada aos pressupostos da análise do comportamento. Estas são mais eficazes em virtude de o foco estar nos comportamentos do candidato em si, e não em “sinais” de comportamentos, como as características internas do indivíduo. Conforme alguns autores propõem (BARCLAY, 2001; MAUREN e FAY, 1988), esses dois tipos de entrevista podem ser utilizados complementarmente, de modo que se possa identificar do modo mais completo possível o repertório comportamental do candidato entrevistado. Além disso, as demais técnicas de seleção de pessoal discutidas devem ser utilizadas, a fim de que sejam estabelecidas diversas contingências que propiciem a emissão ou a descrição dos comportamentos dos candidatos em situações possíveis de serem enfrentadas no ambiente de trabalho. Técnicas de simulação De acordo com a análise do comportamento, todo comportamento deve ser analisado dentro de um contexto, ou seja, em termos de tríplices contingências. Não basta verificar se determinados comportamentos estão presentes no repertório comportamental de um indivíduo, devendo-se observar também quais as variáveis que ocasionam suas emissões e quais as que os mantêm. Relatos verbais de comportamentos passados apenas indicam maior probabilidadede ocorrência em situações futuras. É importante que o repertório comportamental atual do candidato seja analisado diretamente; desse modo, para o modelo behaviorista de seleção de pessoal discutido no presente estudo, observar diretamente o candidato em meio a contingências semelhantes às dispostas na organização através de técnicas de simulação pode ser útil para identificar seu repertório comportamental. De acordo com Bruno (2005), somente esse tipo de estratégia permitiria entender o que as pessoas fazem e porque o fazem. Para o autor, o processo avaliativo deve ser dinâmico, possibilitando a identificação dos recursos utilizados pelos candidatos para obter bons resultados. Segundo Santos et al. (2003), alguns métodos já utilizados por profissionais da área, a INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 82 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 exemplo de exercícios situacionais e amostras de trabalho, podem ser úteis para verificar a existência de comportamentos específicos nos repertórios dos candidatos, uma vez que podem envolver contingências similares às que serão vivenciadas no desempenho do cargo. Desse modo, o refinamento dos métodos comumente usados, a partir de uma ênfase na compreensão do comportamento como produto das variáveis ambientais, pode propiciar o uso das técnicas de simulação conforme as proposições teórico-conceituais da análise do comportamento. Assim, os candidatos receberiam instruções da situação que será dramatizada e da tarefa que deverão desempenhar, podendo-se verificar o repertório comportamental que o candidato disponibiliza para as contingências estabelecidas. Seria importante que o candidato não dispusesse de tempo para a preparação da simulação, a fim de se evitar a manifestação de comportamentos pouco espontâneos e de improvável emissão em um contexto de trabalho natural. É interessante também que, após a simulação, sejam feitas algumas perguntas aos candidatos sobre os motivos dos comportamentos emitidos, o que permitiria uma identificação mais eficaz a respeito das variáveis operantes. Bruno (2005) critica o uso dessa técnica argumentando sobre a artificialidade da situação dramatizada, visto que é uma prática comum o emprego de situações atípicas e bastante divergentes do cotidiano dos candidatos. Essa crítica é válida, pois o ideal seria arranjar contingências bastante semelhantes às encontradas na organização, a fim de se evitar que os comportamentos manifestados pelos candidatos nas situações de teste estejam sob o controle de variáveis que não serão enfrentadas no ambiente de trabalho. Dessa forma, a manipulação de variáveis que possibilitem o arranjo de contingências similares às futuramente enfrentadas pelo candidato no ambiente de trabalho pode ser mais eficaz como estratégia de avaliação. Barclay (2001) argumenta ainda que os demais participantes da simulação provavelmente não apresentam os mesmos comportamentos e habilidades que os membros da equipe com que o candidato se relacionará futuramente. O autor ressalta ainda o fato de que a rápida visão dos comportamentos do candidato permitida por essa técnica não representa a INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 83 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 totalidade dos comportamentos que podem ser emitidos em situações semelhantes. A despeito da pertinência dessas críticas feitas às técnicas de simulação, acredita-se que a observação direta dos comportamentos dos candidatos é um trunfo que não pode ser ignorado pelo psicólogo organizacional que utiliza os pressupostos da análise do comportamento em sua atuação profissional. Nesse sentido, devem-se manipular variáveis de modo que as situações dramatizadas de fato forneçam subsídios confiáveis para a identificação do repertório comportamental dos candidatos, devendo-se necessariamente proceder à análise das variáveis das quais os comportamentos manifestados é função, a fim de se obter análises funcionais completas. Além das técnicas presentemente discutidas, outras poderiam ser utilizadas em processos de seleção de pessoal. A elaboração de técnicas condizentes com a abordagem behaviorista radical pode ser mais bem discutida a partir de pesquisas empíricas realizadas em ambientes organizacionais, particularmente voltadas para projetos de seleção. Cabe observar ainda que outras formas de manuseio das técnicas já existentes podem ser discutidas em estudos posteriores, uma vez que a prática profissional de psicólogos atuantes em ambientes de trabalho proporciona inúmeras contribuições para discussões teóricas a respeito de seleção de pessoal. Considerações finais Discutir um modelo de seleção de pessoal behaviorista radical implica diversas dificuldades, uma vez que há pouca produção literária na área que possibilite um enfoque à luz dessa teoria. No que diz respeito à atuação do psicólogo organizacional em processos de seleção de pessoal, pode-se afirmar que, de modo geral, os pressupostos comportamentais não têm sido utilizados como fundamento para a prática cotidiana desse profissional. Existe certa separação entre as diferentes possibilidades de aplicação dos conhecimentos oriundos da Psicologia. Segundo Sampaio (1998), as INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 84 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 práticas próprias da Psicologia aplicadas a ambientes de trabalho costumam ser vistas como estranhas a essa área de conhecimento. De modo análogo, alguns conhecimentos típicos dessa ciência podem ser considerados incompatíveis com o ramo de atuação referido. Essa questão dificulta a formação profissional adequada de um profissional atuante em ambientes organizacionais bem como a penetração dos pressupostos filosófico- conceituais das diversas abordagens psicológicas nesse campo de atuação. A formação do psicólogo organizacional costuma ser relegada a um segundo plano nas grades curriculares dos cursos de Psicologia, sendo priorizada a atuação clínica em detrimento das demais habilitações (BASTOS e MARTINS, 1990; Sampaio, 1998). Isso representa uma contradição, uma vez que, segundo Bastos e Martins (1990), a Psicologia organizacional é a segunda área que absorve um maior contingente de psicólogos, havendo inclusive um acelerado recrudescimento da procura por psicólogos habilitados a atuar neste ambiente. Em virtude disto, a produção teórica relativa à Psicologia organizacional é relativamente recente na história da Psicologia. Pode-se dizer que as conceituações e elaborações teóricas necessárias para subsidiar a prática do profissional que se ampara na análise do comportamento não estão acompanhando e suprindo as questões emergentes nesse ramo de atuação. De modo geral, o profissional encontra-se desamparado de instrumentos metodológicos condizentes com a noção filosófica e conceitual do behaviorismo radical. Existe, pois, uma necessidade premente de discussões teóricas e de desenvolvimento de instrumentos operacionais, voltados para as especificidades do ambiente de trabalho que permitam uma prática vinculada à abordagem analítico-comportamental. Nesse sentido, procurou-se fazer uma discussão inicial acerca das possibilidades de se realizar trabalhos no campo da Psicologia organizacional a partir de um enfoque comportamental, especificamente no que se refere à seleção de pessoal. Obviamente, este trabalho não teve como objetivo esgotar o tema, uma vez que possui um caráter eminentemente teórico e exploratório. Não foram feitas também considerações a respeito do acompanhamento do desempenhoINE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 85 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 do candidato selecionado na organização. A partir de uma perspectiva analítico-comportamental, podem ser discutidas ainda manipulações de contingências que aumentem a probabilidade de emissão dos comportamentos desejáveis. Estudos teóricos e empíricos acerca desse acompanhamento do candidato na organização são necessários, visto que permitem a validação das técnicas empregadas no processo de seleção de pessoal. Todos os métodos foram discutidos com o objetivo de aumentar o controle das variáveis presentes no contexto da seleção de pessoal. Uma das consequências é o estabelecimento de um processo seletivo mais justo para os candidatos, além da proposição de instrumentos que permitam uma escolha mais bem sucedida para a organização e a satisfação do indivíduo selecionado. Na realidade, a satisfação do candidato, aprovado ou não, com o processo de seleção pode fornecer uma medida do grau de justiça atribuído à seleção. Segundo Sackett e Lievens (2008), simulações e entrevistas são percebidas de modo mais favorável pelos candidatos do que testes de habilidade e personalidade. Esses dados evidenciam certa abertura no campo da Psicologia organizacional para o emprego de métodos e técnicas baseados em comportamentos, os quais acabam por serem considerados mais justos em virtude do maior grau de objetividade característicos desses procedimentos. Dessa forma, um enfoque analítico-comportamental irá necessariamente manipular variáveis no sentido de investigar comportamentos, eventos antecedentes e consequentes eficazes, seja por meio de entrevistas, questionários, observações ou técnicas de simulação. No entanto, é válido ressaltar que, no contexto de uma ciência do comportamento baseada em pressupostos filosóficos como o multideterminismo, pode-se falar apenas em probabilidades. Nenhuma técnica irá reproduzir as exatas contingências presentes no ambiente de trabalho, assim como nenhum comportamento manifestado ou relatado pelos candidatos proporcionará uma garantia indubitável de emissão futura. Todavia, pode-se dizer que o uso de técnicas que focalizem comportamentos e variáveis ambientais durante o processo de seleção aumentam fortemente a probabilidade de se escolher um candidato com o repertório comportamental mais completo para as necessidades da INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 86 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 organização e com maior probabilidade de satisfação em meio às contingências presentes. A abordagem behaviorista radical deve fornecer subsídios para a atuação do psicólogo organizacional. Este trabalho teve a intenção de iniciar discussões a respeito das técnicas utilizadas em processos seletivos, pois é através dessas análises que se pode melhor elaborar a seleção de pessoal, com vistas a um processo eficaz e condizente com os conhecimentos teóricos do behaviorismo radical. É importante que estudos posteriores demonstrem a eficácia das técnicas discutidas, desenvolvendo novos procedimentos e métodos que permitam uma utilização eficiente dos conceitos da análise do comportamento. Referências deste texto: Aguiar, M. (1980). Psicologia aplicada à administração: uma introdução à Psicologia organizacional. São Paulo: Atlas. Barclay, J. M. (2001). Improving selection interviews with structure: Organizations’ use of “behavioral” interviews.Personnel Review, 30(1), 81-101. Bastos, A., & Martins, A. (1990). O que pode fazer o psicólogo organizacional. Psicologia: Ciência e Profissão, 1, 10-18. Bruno, L. (2005). Selecionar por competências. In A. Néri, (Ed.). 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INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 89 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 DA QUALIFICAÇÃO À COMPETÊNCIA: deslocamento conceitual e individualização do trabalhador Rubens de Araújo Amaro10 RESUMO Considerando a emergência e ascensão da noção da competência nos discursos acadêmicos e empresariais a partir das duas últimas décadas do século passado, este artigo tem como objetivo central discutir seus efeitos nas relações entre trabalhadores e empresa, com base nas modificações nas dimensões conceitual, social e experimental da qualificação, com a introdução da noção de competência em uma empresa. Paradescrever esse fenômeno, foi realizado um estudo de caso11 na área de manutenção de locomotivas de uma grande empresa de mineração e logística. Os dados foram levantados com base em documentos da empresa e em entrevistas semiestruturadas, e, para sua interpretação, utilizou-se a análise qualitativa de conteúdo a partir de categorias preestabelecidas. O estudo revela que os usos da noção de competência na gerência tendem a individualizar as relações entre trabalhadores e empresa a partir do enfraquecimento das dimensões conceituais e sociais da qualificação. INTRODUÇÃO As transformações tecnológicas e as mudanças nos processos de trabalho, frequentemente denominadas de reestruturação produtiva, que se delineiam a partir das duas décadas finais do século passado nos países 10 Mestre em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professor da Unidade de Gestão e Negócios das Faculdades Integradas Espírito-Santenses. 11 Publicado pela revista RAM. Revista de Administração Mackenzie. Versão Online ISSN 1678-6971. RAM, Rev. Adm. Mackenzie (Online) vol.9 no.7 São Paulo nov./dez. 2008. http://dx.doi.org/10.1590/S1678-69712008000700005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678-69712008000700005& script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 25 nov. 2013. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 90 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 capitalistas centrais e periféricos, podem ser entendidas em dois contextos: um mais amplo, o modo de funcionamento do capitalismo (HARVEY, 1996; CASTELLS, 1999), e um mais restrito, as organizações produtivas (SALERNO, 1999). No sentido mais amplo, o sistema de acumulação denominado fordismokeynesianismo, que caracterizou o período do pós-guerra, passou a mostrar sinais de esgotamento. O empreendedor capitalista passou a buscar meios para flexibilizar a suposta rigidez do pacto social estabelecido com o Estado e com a classe trabalhadora. Começou a se delinear nesse período uma nova forma de desenvolvimento do capitalismo conhecida como acumulação flexível. No sentido mais restrito, nas organizações produtivas, o fordismo se estabeleceu como forma hegemônica de organização da produção, caracterizada pela racionalização taylorista do trabalho. Em linhas gerais, pode-se descrever assim o período de acumulação do pós-guerra: a organização da produção estabelecia postos de trabalho com determinados requisitos em crescente grau de complexidade a serem exigidos de seus ocupantes. A esses requisitos, correspondiam determinadas qualificações-padrão que eram legitimadas pela posse de certificados e diplomas. Essa abordagem permitiu o aparecimento dos códigos das profissões, que serviram de base para a construção da hierarquia organizacional e para a classificação dos indivíduos no plano social (LEITE; RIZEK, 1998; PAIVA, 1995, 1997; MANFREDI, 1999). A partir das duas últimas décadas do século passado, esse aparente equilíbrio começou a ser questionado pelas novas formas de organização do trabalho que passaram a exigir um novo tipo de trabalhador. As qualificações-padrão passaram a ser questionadas, surgindo em seu lugar uma demanda por trabalhadores com iniciativa e capazes de assumir responsabilidades. É nesse contexto de transformações que a noção de qualificação, que assegurava determinada regulação social, parece perder espaço nos discursos empresariais e acadêmicos para a noção de competência. O termo competência passa a ser evocado como mais adequado para expressar as novas demandas requeridas dos trabalhadores pelo sistema produtivo: INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 91 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 iniciativa, flexibilidade, polivalência, multifuncionalidade, cooperação e autonomia. Esse novo conceito conquistou rapidamente adeptos na academia e nos ambientes empresariais. Alguns teóricos passaram a enxergar a lógica da competência como o retorno do trabalho ao trabalhador (ZARIFIAN, 2001), numa clara alusão ao golpe sobre a qualificação dos trabalhadores operada pela divisão vertical do trabalho idealizada por Taylor (BRAVERMAN, 1987; AKTOUF, 1996). A inserção e ascensão do conceito no ambiente empresarial têm sido notadas por diversos autores (RUAS; ANTONELLO; BOFF, 2005; DUTRA, 2004). O sucesso desse conceito entre os empresários tem, entre outras, uma causa fundamental: a sobrevivência no novo ambiente competitivo depende da rapidez de respostas empresariais às diversas demandas ambientais. Essa rapidez leva as empresas a assumirem formas mais fluidas e menos prescritivas para otimizar os tempos de resposta. Na impossibilidade de prever e controlar, via prescrição, o comportamento dos trabalhadores, a lógica da competência que prevê a tomada de iniciativa e o assumir responsabilidade aparece como uma solução a essa questão (ZARIFIAN, 2001). Dessa forma, implantar a gestão por competência é requerer um trabalhador sempre alerta. Os espaços não ocupados pelas prescrições são supridos por sua iniciativa e prontidão. Alguns autores (SCHWARTZ, 1995; RAMOS, 2001), no entanto, discutem criticamente esse processo de ascensão da noção de competência. Segundo eles, a competência não substitui a qualificação, mas transforma-a em suas dimensões conceitual, social e experimental. Evidenciam que a introdução da noção de competência nas empresas tende a enfraquecer as dimensões sociais e conceituais da qualificação, forjando um trabalhador cada vez mais individualizado e desarraigado dos estatutos sociais do trabalho construídos historicamente. Este trabalho, resultado de um estudo de caso em uma grande empresa brasileira de mineração e logística, se insere nesse contexto de discussão. Confirma, a partir de dados empíricos, as proposições teóricas apresentadas por esses últimos autores. Está estruturado em três partes, além INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 92 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 desta introdução. Na primeira, apresenta a discussão teórica sobre o deslocamento da qualificação para a competência e seus efeitos para o trabalhador. Na segunda parte, apresenta os aspectos metodológicos da pesquisa e seus resultados. A última parte está dedicada às considerações finais. DA QUALIFICAÇÃO À COMPETÊNCIA Ao serem implantados nas organizações a partir das duas últimas décadas do século passado, as novas formas de produção e os diversos modelos de trabalho substitutos do modelo taylorista e fordista levantaram inúmeras questões sobre as capacidades e qualificações dos trabalhadores. No lugar de um trabalhador capaz de compreender e executar padrões, os novos sistemas produtivos passaram a exigir iniciativa, flexibilidade e autogestão (HIRATA, 1994). Nesse contexto das novas exigências em relação aos saberes dos trabalhadores, a qualificação parece perder espaço em algumas áreas acadêmicas e empresariais para a competência. Essas novas exigências e o deslocamento conceitual ensejaram discussões em várias áreas de conhecimento: sociologia (ROPÉ; TANGUY, 1997; ZARIFIAN, 1998), educação (MANFREDI, 1999; PERRENOUD, 1999), economia do trabalho (LEITE, 1994; PAIVA,1997) e administração (DUTRA, 2004; FLEURY; FLEURY, 2001; RUAS; ANTONELLO; BOFF, 2005). Para Ramos (2001), a noção de competência não substitui o conceito de qualificação com o qual disputa espaço no ordenamento teórico-empírico das relações de trabalho. Essa autora utiliza o esquema oferecido por Schwartz (1995) para defender essa tese.Nesse esquema, a qualificação é apresentada em suas três dimensões: conceitual, social e experimental. A dimensão conceitual define a qualificação como função do registro de conceitos teóricos formalizados e dos processos de formação, associando-a ao valor dos diplomas e certificados. Os diplomas legitimam os saberes a eles associados, garantindo status e remuneração aos seus detentores. A dimensão social coloca a qualificação no âmbito das relações sociais que se estabelecem entre os conteúdos das atividades e o reconhecimento INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 93 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 social destas, remetendo-as às grades de classificação coletivas. A dimensão social é responsável por inserir o trabalhador em um contexto sócio histórico com outros que compartilham a mesma identidade e categoria profissionais. A relação estabelecida entre os registros conceituais das atividades formalizados pelos diplomas e títulos reconhecidos socialmente e a inserção profissional fazia da qualificação um código de comunicação entre categorias profissionais e empregadores. Regras de acesso e permanência no emprego, carreira e remuneração foram construídas historicamente baseadas nesses códigos. A dimensão experimental está relacionada ao conteúdo real do trabalho, aos quais se relacionam os registros conceituais e os saberes tácitos postos em jogo na realização do trabalho. Nessa dimensão, a qualificação dos trabalhadores evolui em razão do permanente acúmulo de experiências concretas de trabalho e da aquisição de novos conhecimentos e habilidades, por meios formais e informais. Essa evolução é também condicionada às mudanças técnicas incorporadas nas qualificações prescritas no posto de trabalho. Essa incorporação nem sempre é explícita, mas compõe o fluxo de conhecimentos que existe na realização das atividades e se insere na complexidade das relações sociais que caracterizam a qualificação como síntese entre condições objetivas e subjetivas de trabalho. Para Ramos (2001), a competência não substitui o conceito de qualificação. O que há é um deslocamento conceitual, pois a competência tanto reforça quanto nega as dimensões existentes no conceito de qualificação. Esse deslocamento é capaz de provocar perdas de conquistas históricas dos trabalhadores. Para entender esse deslocamento, é preciso lançar um olhar sobre os dois conceitos em questão. Embora sejam polissêmicos, neste trabalho consideram-se os significados hegemônicos dados aos termos. Essa operação visa facilitar o entendimento das discussões promovidas dentro das áreas de conhecimento citadas anteriormente. Qualificação profissional aqui é entendida em duas abordagens que se complementam: a primeira, dentro da área de produção e organização do trabalho, que destaca a qualificação como relação social. Associada ao Estado do Bem-Estar Social surgiu em resposta à ausência de regulações sociais nas relações de trabalho. A qualificação, nesse caso, é compreendida num INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 94 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 contexto de conflito e negociação entre os interesses distintos do capital e do trabalho. Nesse contexto, os trabalhadores se esforçam para que sua qualificação seja reconhecida oficialmente dentro dos sistemas de classificação de cargos, para obterem reconhecimento social e financeiro. A segunda, uma abordagem quantitativa, concebe a qualificação como qualificação formal, empregando-a como um índice de desenvolvimento socioeconômico, abrangendo tanto as taxas médias de escolarização da população quanto a extensão do tempo médio de permanência na escola (PAIVA, 1997). Competência profissional é entendida como os conhecimentos, as habilidades e as atitudes que são mobilizados pelos trabalhadores para a realização de uma ação específica. Nesse sentido, não existem trabalhadores competentes a priori. O indivíduo só é considerado competente em situação real. As capacidades adquiridas pelo indivíduo em sua trajetória de vida são apenas recursos potenciais. Somente a situação real é capaz de evidenciar a competência profissional. (ZARIFIAN, 2001; LE BOTERF, 2003). Como a noção de competência evoca os saberes ligados à trajetória de cada indivíduo, leva a desvincular o indivíduo dos códigos das profissões e das classificações no plano da hierarquia social. À medida que essa relação se dissolve, a competência passa a ser esse código. No limite, isso levaria à individualização das relações de trabalho e à responsabilização do indivíduo em relação às suas competências. Nesse sentido, a noção de competência se aproximaria da noção de empregabilidade. Esse procedimento leva ao enfraquecimento da dimensão social da qualificação (RAMOS, 2001). Ao valorizar os saberes tácitos ligados à trajetória individual e as características pessoais, a noção de competência tende a desvalorizar os conteúdos e saberes legitimados pelos diplomas e certificados, de modo que a qualificação deixaria de ser expressa em função dos registros de conceitos técnico-científicos característicos das atividades profissionais. Historicamente, esses registros foram formalizados por meio de títulos e diplomas, e mesmo que mantenham certa importância para a inserção profissional inicial, não são fatores determinantes para a permanência no mercado de trabalho. Essa permanência passaria a ser função das competências adquiridas, validadas e permanentemente atualizadas, que garantiriam a empregabilidade. A aquisição INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 95 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 e o desenvolvimento de competências tanto podem se efetuar por meio da educação continuada quanto pela diversificação das experiências profissionais em organizações ditas qualificantes e mudanças de emprego. Essa última, ganha certo caráter de positividade, pois passa a ser vista como contramedida ao desgaste da competência profissional dos indivíduos. Esse procedimento levaria ao enfraquecimento da dimensão conceitual da qualificação (RAMOS, 2001). Outra objeção à substituição da qualificação pela competência é levantada por Mello e Silva (2001). Para esse autor, o conceito de competências nasce acrescentando o savoir-faire aos saberes contido no conceito de qualificação. Esse acréscimo do savoir-faire à qualificação para definir competência é contestável, pois o indivíduo passaria a ser julgado pelo seu ser e não pelo seu fazer. Isso abriria o caminho a riscos de arbitrariedade ou a apreciações que não fazem parte do contrato de trabalho. Esse deslocamento conceitual – enfraquecimento das dimensões conceitual e social da qualificação – e suas consequências para os trabalhadores bastante discutidos pelos autores supracitados são analisados em um estudo de caso cujos dados são apresentados na próxima seção. ASPECTOS METODOLÓGICOS E RESULTADOS DA PESQUISA A organização escolhida para este trabalho foi uma grande empresa brasileira de mineração e logística. A área de mineração se subdivide nas seguintes áreas: exploração de minério de ferro, manganês, cobre, potássio, caulim e níquel, além da produção de pelotas. A empresa oferece serviços de logística que inclui diagnóstico, modelagem e implementação de operações logísticas completas. Sua área logística é suportada por 9.306 km de malha ferroviária e oito terminais portuários próprios, que oferecem soluções para a gestão logística e o transporte de mercadorias, complementando operações com a utilização do modal rodoviário. Além desses serviços, por meio de umaempresa controlada pelo grupo, fornece serviços de navegação de cabotagem, transporte de longo curso e apoio portuário. A partir do início da década de 1990, a empresa iniciou um período de grandes transformações que podem ser entendidas dentro do contexto da INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 96 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 reestruturação produtiva: enxugamento de quadros, redução de níveis hierárquicos, divisão em áreas de negócio, utilização de modelos japoneses de gestão e integração de sistemas produtivos. No final dessa mesma década, a empresa implantou a noção de competência na gestão de seus trabalhadores a partir do processo de avaliação de desempenho. Com mais de oito anos de políticas e práticas no uso do modelo de competência, essa empresa torna-se um local privilegiado para o estudo em questão. Considerando as dimensões e a descentralização geográfica da empresa, a área escolhida para o estudo foi sua gerência de manutenção de locomotivas, por tratar-se de uma área operacional com categorias profissionais construídas ao longo dos anos e reconhecidas socialmente. Essa gerência possui duzentos e sessenta e oito empregados, distribuídos em cargos de gerência, nível superior, supervisão e operacionais (técnicos em mecânica e eletroeletrônica, mantenedores, mecânicos, eletricistas e soldadores). Os sujeitos de pesquisa escolhidos foram os supervisores das cinco áreas da gerência: inspeção, planejamento e controle da manutenção, manutenção leve, manutenção pesada e confiabilidade. Essa escolha deveu-se ao fato de esse nível hierárquico ser público-alvo do modelo de competências desde a sua implantação. Foi escolhida e utilizada nesta pesquisa uma abordagem que tem se firmado como uma possibilidade de investigação de fenômenos no campo da administração – a abordagem qualitativa (GODOY, 1999). Nela, o pesquisador não pretende enumerar ou medir os eventos estudados. Procura compreender os fenômenos segundo o ponto de vista dos atores participantes da situação. Quanto aos procedimentos metodológicos, optou-se pelo estudo de caso que, segundo Yin (2001, p. 32) permite investigar "um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos". Trata- se ainda de um estudo de caso único, visto que buscou descrever o fenômeno em uma organização específica. Essa opção deu-se também porque, segundo Yin (2001, p. 120), "[...] um ponto forte muito importante da coleta de dados para um estudo de caso é INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 97 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 a oportunidade de utilizar muitas fontes diferentes de evidências [...]". Dada essa flexibilidade quanto aos instrumentos de coleta de dados, foram adotadas nesta pesquisa entrevistas em profundidade e análise documental. Para a análise e interpretação dos dados, foi usada a análise qualitativa de conteúdo que tem como princípio "desmontar a estrutura e os elementos desse conteúdo para esclarecer suas diferentes características e extrair sua significação" (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 214). Segundo Bardin (1979), os objetivos da análise de conteúdo são o desejo de imprimir maior rigor ao processo de descobrir e ir além das aparências. Para essa autora, não existe uma única técnica de análise, pois a análise de conteúdo constitui diversas técnicas, sendo possível construir para cada mensagem um procedimento adequado. Como unidade de análise optou-se pelo tema, que pode ser definido como uma asserção sobre determinado assunto, mediante uma sentença ou um conjunto delas, ou um parágrafo. Os temas, por sua vez, se desdobram em categorias ou rubricas, sob as quais se organizarão os elementos de conteúdo agrupados por parentesco de sentido. Neste trabalho, essas categorias foram definidas a priori, adaptadas daquelas utilizadas em uma pesquisa conduzida por Vieira e Luz (2003). Os temas e as categorias foram os seguintes: Dimensão conceitual que se subdivide em: conhecimentos gerais e específicos; treinamento e formação profissional; diplomas e certificados. Dimensão social que se subdivide em: plano de cargos e salários e sistema de remuneração; carreira; empregabilidade; sindicato. Dimensão experimental que se subdivide em: saber-fazer (procedimentos empíricos, esquemas, habilidades, modelos mentais, algoritmos, representações) e saber-ser (aptidão, inteligência, capacidades, vontade, responsabilidade, atitudes, visão de mundo, valores). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 98 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 A introdução da noção de competência na empresa A noção de competência foi introduzida na empresa a partir de um programa denominado Plano de Desenvolvimento, Carreira e Sucessão, idealizado em parceria com a Hay Group do Brasil, conhecida empresa de consultoria internacional. O plano prevê uma rodada de avaliações dos trabalhadores seguida de planos de desenvolvimento individuais. Nessas avaliações, as competências são os principais fatores avaliáveis. Para a empresa, competência ficou definida como um conjunto de atributos ligados a personalidade, conhecimentos, habilidades, valores e experiências que, articulados, mostram o âmbito possível do desempenho. O material institucional utilizado para divulgação entre os empregados acrescentou alguns pontos importantes a esse conceito. Nesse material, a noção de competência é apresentada como a mobilização dos recursos do indivíduo (saber, saber fazer e querer) para atingir um desempenho excelente. Percebe-se, nesse modelo de avaliação por competências, a acentuação de um fator que aparece como uma crítica formulada por Zarifian (2001, 2003), um dos defensores da lógica da competência. A empresa caracteriza as competências como uma espécie de portfólio de responsabilidade individual do empregado, que, diante daquilo que é requerido pela organização, deve buscar adquiri-las e desenvolvê-las. Para Ramos (2001), essa forma de pensar e operacionalizar as competências tende a aproximá-las muito do conceito de empregabilidade. Nesse sentido, cabe ao indivíduo a gestão de uma espécie de carteira de competências. Essa tendência à individualização pode ser vista também nas ações que se seguem às avaliações por competências. Identificadas as carências do empregado em relação às competências requeridas pela empresa, este deve, em conjunto com seu gerente, elaborar o seu plano de desenvolvimento, em que serão indicados, entre outras ações, treinamentos diversos. Essas ações, desde o ano de 2004, estão sendo gerenciadas em um ambiente virtual de aprendizagem específico dentro do portal da universidade corporativa da empresa. Nesse ambiente, estão previstos diversos treinamentos a serem realizados em ambiente virtual. Isso significa que cada empregado deve, de acordo com seu tempo disponível no trabalho, acessar o INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 99 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 ambiente e realizar seus treinamentos. Diversos treinamentos que dependiam de formação de turmas e de liberação formal de empregados para participarem agora podem ser realizados de forma não presencial. Se, por um lado, esse procedimento dá certa autonomia ao empregado para escolher o período que julgar mais adequado para treinar, por outro, acaba por criar uma dificuldade: o empregado está diante daquilo que Steil (2003) denomina de duplo constrangimento, ou seja, está expostoa duas demandas que são contraditórias entre si. Deve estar pronto para atender às demandas do trabalho que, segundo todos os supervisores entrevistados, se intensificaram na última década e, ao mesmo tempo, achar tempo para realizar seus treinamentos. Cabe ao indivíduo gerenciar esse dilema. Os supervisores, diante desse dilema, parecem demonstrar aquilo que Pagés et al. (1986) chamam de autopersuasão. Diante de um dilema dentro de uma grande corporação, quando seus interesses são confrontados pelos interesses da organização, o indivíduo resolve o conflito com a construção de um discurso formulado para convencê-lo de que a situação específica é boa para ele. As palavras do supervisor 1 são esclarecedoras nesse sentido: hoje, você que tem que fazer as coisas, não é a empresa que vai chegar e dizer: vai lá, faz um curso e daqui a pouco eu te dou uma promoção melhor! Não é, não existe mais empresa assim. Então, pra mim isso é bom. A questão da autopersuasão perpassa o discurso dos supervisores em diversos momentos. Diante de uma situação que lhes causa alguma angústia, há uma construção discursiva na qual tentam justificar e enfrentar de forma resignada. A resposta de um dos supervisores, ao ser solicitado a fazer uma análise do que achava de positivo e negativo das mudanças ocorridas na empresa, mostra claramente essa situação: Bom, negativo eu não vejo muita coisa não. Porque eu sou uma pessoa que gosto muito de tecnologia e novos conhecimentos. Eu gosto disso, eu gosto de mudança, eu não gosto de ficar na rotina. Eu gosto de mudar, ver coisa diferente, fazer coisa diferente. Então, é uma característica minha. Nós sofremos muitas mudanças, INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 100 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 sofremos muito as modificações e sempre foi, no meu entender, sempre foi pra melhor. Quando era estatal você não tinha uma cobrança como você tem hoje, né, mas a cobrança, no meu entender, é positiva, porque você cresce nas adversidades, né, então você tem a possibilidade de crescimento muito maior. E a cobrança quer que você cresça e você tem que lutar pra crescer, senão você tá fora (supervisor 3). Em um instante, fala que gosta de mudança, de novas tecnologias, de novos conhecimentos. Ao mesmo tempo, relata "nós sofremos muitas mudanças" e "nós sofremos muito as modificações". O sofrer é encoberto por um discurso positivo. No mesmo momento em que fala em tom de reclamação, que agora há mais cobrança, diz que ela é positiva, porque leva ao crescimento. E mesmo falando sobre a positividade do crescimento, é possível perceber a angústia no "você tem que lutar pra crescer, senão tá fora". Em todas as entrevistas, a questão da atitude aparece como fator determinante para o sucesso profissional dentro da empresa. Para os supervisores, o diferencial não está no saber, mas no saber ser. Em suas próprias palavras: Pra mim, o que pega mais é a atitude da pessoa. É a atitude de querer fazer, querer aprender [...] Agora, pra mim, tá mais na atitude da pessoa, e atitude o cara não consegue forjar, não dá pra comprar um diploma de atitude (supervisor 1). As competências requeridas desses supervisores e seus próprios discursos são coerentes com o referencial teórico utilizado neste trabalho no que diz respeito à noção de competência. Há maior valorização e reconhecimento das características individuais dos empregados, daquelas que dizem respeito aos seus traços pessoais construídos ao longo de sua experiência de vida e trajetória pessoal e que são mobilizados em situação real de trabalho. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 101 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 A dimensão conceitual Conhecimentos gerais e específicos Embora a empresa seja considerada o local privilegiado para a aprendizagem, a responsabilidade pela aquisição e pelo desenvolvimento do conhecimento específico é atribuída ao empregado. Ele deve ter uma atitude de busca desse conhecimento. As pessoas que conseguiram enxergar isso daí, eu vejo que elas estudaram legal, estudaram [...] pesquisaram, quiseram aprender mais pra poder se destacar. Quem conseguiu enxergar isso aí, acho que hoje tá numa situação boa e bem-vista. Aquela pessoa que sabe aquela pessoa ali, que tem conhecimento, que abraçou. Quem não conseguiu enxergar isso, ficou estagnado (supervisor 1). É possível perceber, no discurso dos supervisores, que o conhecimento valorizado na empresa é uma questão individual. Está ligado à trajetória individual do empregado, à sua motivação em buscar aprender. A atitude de conhecer é mais importante que o próprio conhecimento. A qualificação deixa de ser expressa em função dos registros de conceitos técnico-científicos característicos das atividades profissionais e passa a ser expressa no nível das características pessoais, tanto na seleção dos candidatos quanto no seu desenvolvimento na empresa. Treinamento e formação profissional Os treinamentos operacionais, que representam uma carga horária maior em relação aos outros tipos, são, em grande parte, realizados no próprio local de trabalho, o que a empresa denomina de On the Job Training (OJT). Esse volume de treinamento, em sua maior parte, refere-se ao repasse de padrões e procedimentos operacionais. Esses padrões e procedimentos operacionais são desenvolvidos pelos supervisores com a participação de alguns subordinados ou pela gerência de planejamento e qualidade. Essa gerência é responsável pela aprovação e validação de todos os padrões e procedimentos. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 102 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Essa carga de treinamentos levou à seguinte questão colocada nas entrevistas: se a maior parte dos treinamentos é feita no próprio local de trabalho, como isso tem sido conciliado com a falta de tempo devida à intensificação do trabalho? Como conciliar treinamento no local de trabalho em um ambiente de trabalho intensivo? As respostas dos supervisores foram diferentes e merecem uma melhor análise. A primeira, que representa uma parte da resposta, pode ser vista nas seguintes palavras: Aqui a gente tem certo tipo de treinamento informal que a gente coloca o cara que tá chegando com um cara velho. Então a gente fala assim: Olha, você é o padrinho dele! Você é responsável por ele. Então esse é o treinamento do dia-a-dia. Não é um treinamento formal, a gente não senta no horário de início com um horário final, então existe esse treinamento aí. E no passado quando eu cheguei, tinha certa barreira, porque o cara pensava: Pô, eu vou ensinar tudo o que eu sei pra esse cara aí, e ele vai ganhar mais do que eu? Então no começo eu identificava isso. Hoje já tá quebrando esses paradigmas. Hoje o cara já tá enxergando o outro: Pô, eu vou ter que ensinar porque senão eu vou ter que trabalhar em dobro! Então eu vou ter que trabalhar pra mim e pra ele (supervisor 1). Uma das formas usadas para contornar a falta de tempo para os treinamentos formais é o velho esquema de aprendizagem utilizado pelas corporações de ofício. O empregado com mais tempo de serviço ensina o mais novo. Segundo esse supervisor, há alguns anos havia uma dificuldade em operacionalizar essa forma de treinamento, porque o empregado mais experiente temia ensinar. Aqui aparece também um fato surpreendente. Aos efeitos já conhecidos da intensificação do trabalho, deve ser adicionado mais um: a INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO ESELEÇÃO 103 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 angústia de um trabalho intensivo pode ser maior que a angústia relacionada à insegurança de perder benefícios ao compartilhar conhecimentos. Para esses empregados, é melhor compartilhar o conhecimento, e correr o risco de ficar para trás no que diz respeito aos estatutos salariais, do que ter que aumentar ainda mais a sua carga de trabalho. À questão de como conciliar o tempo de trabalho com a necessidade de treinamento também, foi dada a seguinte resposta: os treinamentos são dados com cargas horárias menores do que as previstas, porque o ato de treinar se restringiu à simples transmissão das informações contidas nos padrões e procedimentos. E isso tanto os supervisores quanto a responsável pela qualidade na gerência reconheceram como algo negativo. Eles afirmaram que, no intuito de cumprir os treinamentos programados, as informações são passadas mais rapidamente do que deveriam. Hoje os treinamentos são registrados, faz os treinamentos em cima de PROs, mas não é a mesma coisa que fosse você pegar o cara, botar dentro da sala, ficar lá com ele uma semana, o PRO é uma coisa mais pra direcionar. O passo a passo ia ser esse. Mas, o, aquele, aqueles detalhes que você tem que passar... Até mesmo pra ajudar o cara a ter uma visão mais geral... Uma visão mais crítica, então, não, não consegue isso aí (supervisor 4). Além disso, foi citada também a ausência de local apropriado para a transmissão dessas informações, pois o local de trabalho, a oficina de locomotivas, apresenta um nível de ruído elevado. Segundo um dos supervisores, antes havia uma área específica de treinamento dentro da oficina, com salas, simuladores e responsáveis para elaborar apostilas e treinar os empregados. Essa estrutura deixou de existir e as salas de treinamento têm sido usadas para outras finalidades. Nessa época, os treinamentos eram realizados com a formação de turmas e uma carga horária adequada ao conteúdo a ser transmitido. Esse caráter coletivo do treinamento e suas amplas possibilidades de reflexão sobre o seu conteúdo foram perdidos. Em seu lugar, ficou a transmissão individualizada de informações no local de trabalho. Tem muita gente boa aqui dentro pra aplicar esses treinamentos. Só que a gente não tem uma estrutura, hoje INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 104 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 não tem uma estrutura montada como no passado. Tinha uma estrutura aqui, era outro momento. Se comparar com os dias de hoje, mas existia uma estrutura interna que você tinha as pessoas-chave que eram aquelas pessoas que aplicavam os treinamentos, e hoje a gente não tem mais esse tipo de estrutura. As demandas, as metas são arrojadas, então, pra você tirar um profissional, que você sabe que o cara é bom, pra você aplicar um treinamento, não, tá muito enxuto [...] aí você tem que ficar naquela ali, no dia-a-dia, ali treinando o cara (supervisor 4). Na ausência de lugar e tempo adequados para os treinamentos, a noção de competência aparece. Aí depende da capacidade de cada um assimilar isso. Você começa a ter necessidade de pessoas que se destacam mesmo. O cara vai, corre atrás, de repente pega um manual, leva pra casa pra estudar. Porque hoje a gente não tá tendo assim esse tempo de contato. Então, ele tem que buscar o conhecimento. Não somente esperar que a empresa propicie o treinamento pra ele, mas ele é que tem que correr atrás de autodesenvolvimento. Eu acho que o autodesenvolvimento é a chave pra o cara poder crescer. Não somente depender da empresa, esperar que a empresa dê tudo na mão dele (supervisor 4). Aqueles empregados que, diante dessa dificuldade, demonstram atitudes individuais em relação à aprendizagem são diferenciados. A falta de tempo e espaço institucional deve ser suprida pelo esforço individual dos empregados na busca de novos conhecimentos e habilidades, inclusive nos seus espaços privados. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 105 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Diplomas e certificados A gerência utiliza um programa de certificação em convênio com a Associação Brasileira de Manutenção (Abraman). Mesmo com a existência desse programa, percebe-se na empresa que os diplomas e certificados têm seus valores questionados anualmente pela avaliação por competência. Em si mesmos, não oferecem garantias aos supervisores. Embora legitimem a aprendizagem de um conhecimento no momento em que são emitidos, essa legitimidade é sempre questionada em situação real de trabalho. Não no trabalho técnico específico, mas na postura em relação a esse trabalho, nas atitudes do empregado. Os diplomas precisam ser sempre acompanhados da postura do empregado e de sua implicação no trabalho. A dimensão social Plano de cargos e salários e sistema de remuneração Algumas observações podem ser feitas analisando essas regras de movimentação e a estrutura do plano de cargos e salários da empresa. Em primeiro lugar, fica claro o interesse da empresa em manter os salários fixos de seus empregados, aquela parcela da remuneração em que incidem maiores encargos, situados, no máximo, na mediana de mercado. Embora as faixas salariais apresentem um ponto máximo, as regras de movimentação apontam como destino último, ou seja, como o ponto máximo a ser posicionado um empregado, o ponto médio da faixa que, segundo a empresa, representa a mediana de mercado. Nota-se, nas próprias regras do plano, a intenção da empresa em não pagar salários fixos acima da mediana de mercado. Há entre os supervisores certa desconfiança quanto à pesquisa salarial realizada pela empresa para identificar a mediana de mercado, que é representada no plano de cargos e salários pelo ponto médio. Além do salário-base, a remuneração variável também faz parte do sistema de remuneração da empresa. Essa forma de remuneração, mais flexível, acontece em dois momentos: no pagamento da chamada Participação nos Resultados (PR) e na remuneração decorrente dos resultados da avaliação dentro do programa PN-10. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 106 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Em segundo lugar, embora a empresa tenha um forte discurso em favor das competências, estas não são reconhecidas em seus estatutos salariais. Não existe salário por competências. Às competências desenvolvidas pelos empregados não estão relacionados a ganhos salariais. A noção de competência na empresa permanece ligada apenas à avaliação de desempenho e às ações de desenvolvimento que a ela se seguem. Carreira A empresa possui algumas ferramentas institucionais, com as quais busca estruturar as possibilidades de carreira profissional de seus empregados. Instituiu os comitês de carreiras e sucessões que se reúnem anualmente e têm por finalidade identificar os empregados que possuam condições de ocupar postos-chave e gerenciais na empresa. Esses comitês são formados pelos níveis de comando acima daqueles empregados sobre os quais se discute. Por exemplo, se os supervisores estão sendo avaliados, o comitê é formado por gerentes. Depois que os empregados com potencial são identificados, tornam-se alvo de ações diferenciadas de desenvolvimento visando prepará-los para novos desafios. A empresa define as ações de desenvolvimento como experiências certificadas de aprendizagem, resultantes de diferentes tipos de interação, capazes de promover a descoberta, a reorganização, a construção e a aplicação dos conhecimentos, habilidadese atitudes, ou seja, as competências. É possível notar que a noção de competência é determinante na carreira do empregado. Os conhecimentos decorrentes das ações de desenvolvimento devem ser sempre contextualizados, sempre questionados e validados pelos superiores imediatos em situação real. Esse processo, validado pela organização e legitimado entre os supervisores, apresenta as competências de um empregado como um produto volátil. Em um ano, o empregado pode ser reconhecido como competente e, portanto, ser considerado apto para assumir novos desafios e, no ano seguinte, ficar de fora. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 107 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Empregabilidade O fato de a noção de competência não oferecer garantias, mas somente possibilidades, segundo Ramos (2001), aproxima-a muito do conceito de empregabilidade, que fica definida como o, [...] conjunto de capacidades e competências que tornam a pessoa capaz de gerir o seu destino, inclusive provendo meios para sua subsistência, estando ou não empregada (MENEGASSO apud SILVA, 2001, p. 8). O conceito de empregabilidade oferece ao indivíduo toda autonomia e responsabilidade por seu futuro profissional. Embora autonomia e responsabilidade sejam termos que trazem consigo a ideia de potência, força e positividade, têm também a função de esconder o outro lado da questão. O ser que é capaz de "gerir o seu destino" não é apenas autônomo. É também abstrato. Existe no vácuo. Não está inserido em estruturas sociais. É um indivíduo que não é construído socialmente. Ter ou não ter emprego, conseguir ou não meios de subsistência, é de sua inteira responsabilidade. O mundo da empregabilidade não possui problemas estruturais, somente individuais. A noção de competência na empresa se aproxima bastante desse conceito. Embora a empresa procure estruturar trilhas a serem seguidas dentro do programa de carreiras e sucessões, a qualificação do empregado, seus saberes e capacidades não lhe dão garantias de ascensão nem estabilidade no emprego. Suas competências serão sempre questionadas em situação real de trabalho. Sua história e trajetória anterior na organização são facilmente esquecidas nas avaliações anuais. O que tem maior valor para os supervisores é o seu saber-ser, suas atitudes e seus comportamentos. Sindicato A opinião dos supervisores sobre o papel do sindicato guarda muitas semelhanças. Reconhecem a sua importância, porém fazem inúmeras reservas à sua atuação. A primeira delas diz respeito à questão salarial. Para eles, o salário deve ser resultado direto de negociação entre a empresa, a partir de seus supervisores e gerentes e os empregados. O sindicato não deveria exercer esse papel. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 108 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Ah, sindicato pra mim eu tenho uma definição de sindicato assim que é um pouco diferente dessa que há no Brasil. Mas no meu ponto de vista, o sindicato tem o seu papel. Agora, na parte de melhorar salário e carreira eu acho que tá no dia-a-dia do supervisor, junto do gerente, de buscar aquilo ali. Isso tá muito mais ligado ao desenvolvimento que a gente vê do próprio empregado (supervisor 1). É possível perceber, nesse discurso, a individualização das relações de trabalho. As melhorias no salário do empregado devem estar ligadas ao seu desenvolvimento individual. E o critério para medir o seu desenvolvimento deve pertencer aos gerentes e supervisores. Esse posicionamento nega o conflito inerente à relação entre o capital e o trabalho (AKTOUF, 1996). Sugere que é possível deixar os interesses dos empregados sob a tutela dos supervisores e gerentes, pois estes estariam interessados em seu desenvolvimento, inclusive na questão salarial. "Porque o sindicato ia querer um salário exorbitante para uma determinada função e a empresa não ia querer, então, ia acabar gerando um conflito [...]" (supervisor 2). A percepção é que não existe o conflito. Este viria à tona porque o sindicato tenderia a pedir um salário "exorbitante" com o qual a empresa não concordaria. A premissa subjacente a essa afirmação é que somente a empresa é capaz de estabelecer valores salariais mais justos. Uma questão que ficou clara nas entrevistas é o enfraquecimento do papel do sindicato. Um dos supervisores justifica esse enfraquecimento a partir de um discurso que transfere a mediação de conflitos da esfera política para a esfera técnica. Para ele, a falta de espaço do sindicato estaria relacionada à objetividade das novas relações de trabalho na empresa. A negociação é reduzida ao simples estabelecimento de indicadores pela empresa e à busca de atingir esses indicadores por parte dos empregados. O sindicato já teve um poder maior, de argumentar, de questionar. Hoje a gente trabalha em cima de indicadores, INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 109 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 de coisas que são bem objetivas, então não tem muito do que fugir. A empresa hoje divulga os resultados dela com transparência pra mídia, então não tem muito que fugir. A regra do jogo é estabelecida: a participação de resultado, a regra é essa, a gente tem que produzir, chegou ao final, é aquilo ali na participação do resultado. (supervisor 4). Essa redução da atuação sindical para uma dimensão técnica é expressa e elogiada por outro supervisor ao descrever o último acordo coletivo firmado entre a empresa e o sindicato. Acho que foi um acordo negociado exaustivamente, um acordo negociado no nível técnico, os negociadores que foram pra o Rio de Janeiro e que vieram aqui dar feedback pra gente aí da supervisão, acho que o acordo que eu tive esse ano na empresa foi um acordo negociado em nível técnico mesmo, num nível profissional muito grande (supervisor 5). A questão salarial que, de maneira geral, representava uma dimensão importante no papel sindical e que trazia como característica a coletividade passou a ser considerada uma questão de desempenho. Essa redução leva a questão para a dimensão individual que é operacionalizada com a prática da remuneração flexível a partir do programa de participação nos resultados. Enquanto a remuneração fixa, que é atrelada ao cargo ocupado, evoca a dimensão coletiva, fruto de negociação, a remuneração variável, que cada vez mais assume um percentual representativo da remuneração total dos empregados da empresa, opera a individualização. E essa individualização é possível a partir da avaliação por competências. A dimensão experimental Saber-fazer Cabe ressaltar um paradoxo encontrado nessa dimensão: em todo o referencial teórico utilizado neste trabalho, a noção de competência sempre aparece ligada à ausência de prescrição. A competência ganha espaço INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 110 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 exatamente no momento em que se reconhece a impossibilidade de prescrever totalmente a ação dos indivíduos no ambiente de trabalho. Diante dos imprevistos e dos eventos, a noção de competência ganha espaço nos discursos empresariais e científicos. Porém, na empresa, a noção de competência convive com uma valorização exacerbada das prescrições. O fato apareceu nas entrevistas com todos os supervisores. Ao falar sobre sua principal atividade na empresa, isto é, daquilo que é mais relevante em seu saber-fazer, os supervisores afirmaram: treinar os empregados nos padrões e procedimentos operacionais existentes e auditar asua execução são consideradas suas principais atividades. Na verdade, hoje o supervisor é até coisa muito massificante. É basicamente treinar as pessoas, cumprir, verificar, auditar o cumprimento dos procedimentos. Não sei. Se eu te falar alguma coisa que esteja fora disso, está desalinhado com a política e diretriz da empresa. Então, o bom supervisor pra empresa hoje é um supervisor que treina, que desenvolve a sua equipe, que audita e garante o cumprimento dos procedimentos operacionais (supervisor 5). Curiosamente, no discurso desse supervisor, aparece um dado interessante aliado ao saber-fazer mais valorizado na empresa para a atividade de supervisão. Segundo o seu relato, não dedicar tempo e atenção às atividades de treinar os empregados nos padrões e auditar a sua execução é estar "desalinhado" com a política da empresa. A percepção desse dado leva à questão do alinhamento com a organização, considerada uma competência central para os supervisores da empresa e que será mais bem analisada na próxima seção. Saber-ser O saber-ser sempre foi uma dimensão presente na qualificação (RAMOS, 2001). Porém, com a inserção da noção de competência nas práticas de gestão das empresas, tende a ser supervalorizada em detrimento das dimensões conceitual e social. Uma característica do saber-ser que apareceu de forma significativa nas entrevistas foi o alinhamento organizacional, que aparece como a variável INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 111 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 do comportamento capaz de suprir os espaços vazios deixados pela prescrição. Na seção anterior, foi ressaltada a importância dada aos padrões e procedimentos e como essa atividade ocupa um lugar central no saber-fazer dos supervisores. Como não é possível prescrever todas as atividades, a intervenção humana torna-se menos previsível. Nesse ponto, surge a importância do alinhamento organizacional. Se não é possível prescrever todo o comportamento do indivíduo, é preciso assegurar que aqueles comportamentos não previstos ocorram na direção desejada pela organização. Nesse ponto, houve unanimidade entre os supervisores. Todos ressaltaram a importância do comportamento sempre alinhado com aquilo que a organização almeja. Nesse sentido, as palavras de um deles são esclarecedoras. Bom, hoje a gente tem que buscar esse profissional que realmente esteja em alinhamento com as metas. Ou seja, qual é a meta nossa? Eu costumo falar, bicho, você não precisa ser alienado, não, mas você tem que tá aqui, enxergar a meta, saber aonde nós queremos chegar, qual é a nossa meta, infelizmente é assim, é frio, a gente tem que se enquadrar nesse perfil aqui. (supervisor 4). Note-se que há uma preocupação em diferenciar o alinhamento da alienação. Para ele, focalizar somente a meta é estar alinhado. Se, na perspectiva taylorista da organização do trabalho, o trabalhador devia focalizar a sua atenção nos supervisores, de onde emanavam as ordens, pois estavam ali para executar e não para pensar, na Empresa Gama, as metas passam a ser o centro das atenções dos empregados. Cumprir padrões, seguir procedimentos operacionais e, na ausência destes, seguir as metas. É possível ver, nesse discurso, que o esforço para estar alinhado gera uma angústia no supervisor. Ao dizer, "infelizmente é assim, é frio", ele traz à tona certo desapontamento e sofrimento. Porém, isso se dá com um tom de resignação. Soa como se fosse preciso ser assim, como se não houvesse outro INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 112 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 jeito. Faz parte daquilo que a empresa espera, e, portanto, se o empregado deseja ser reconhecido, precisa estar alinhado. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho teve como objetivo maior compreender como o deslocamento conceitual da qualificação para a competência, a partir do enfraquecimento de suas dimensões conceitual e social e o reforço de sua dimensão experimental ajudam a construir relações de trabalho cada vez mais individualizadas. Percebeu-se, pelos dados empíricos, que a competência reafirma e nega a qualificação. Reafirma, porque os processos de trabalho requerem dos empregados, além de seus conhecimentos técnicos, atributos pessoais. Esses atributos ou atitudes, na linguagem dos supervisores entrevistados, são mais valorizados do que seus conhecimentos e sua formação. São eles que dão aos indivíduos possibilidades de ascensão e reconhecimento. Nesse ponto, a dimensão experimental da qualificação, que apela aos atributos individuais e pessoais dos empregados e que foi pouco considerada na construção histórica de seu conceito, finalmente toma um lugar de destaque. A noção de competência expressa coerentemente essa dimensão, pois traz em seu significado aquelas capacidades socioafetivas empregadas pelo indivíduo em suas atividades laborais. A valorização da dimensão experimental da qualificação, entretanto, se dá em detrimento das dimensões conceitual e social. A dimensão conceitual se enfraquece porque a noção de competência, ao valorizar os saberes tácitos e sociais dos empregados ligados à sua trajetória pessoal, sempre põe à prova os seus saberes formais, que têm nos diplomas e certificados sua fonte de legitimidade. Ao avaliar as competências anualmente e discutir, nos comitês de carreiras e sucessões, os nomes daqueles profissionais que têm possibilidades de ascensão, a empresa coloca a qualificação profissional do empregado em segundo plano. A dimensão social da qualificação também é enfraquecida na empresa. É preciso lembrar que, em sua dimensão social, a qualificação é colocada no INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 113 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 âmbito das relações sociais estabelecidas entre os conteúdos das atividades profissionais e o seu reconhecimento social. Sobre essa relação, estabeleceram-se, historicamente, regras de acesso e permanência no emprego, carreira e remuneração. Dessa forma, a qualificação coloca o indivíduo dentro da coletividade das categorias profissionais. Essa relação é rompida com a noção de competência. Primeiro, porque a competência, ao valorizar os recursos cognitivos e socioafetivos do trabalhador, deixa de reconhecer que esses recursos são também construções sociais. Segundo, estabelece-se uma relação cada vez mais individualizada entre trabalhadores e empresa. Referências deste texto: AKTOUF, O. A administração entre a tradição e a renovação. São Paulo: Atlas, 1996. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979. BRAVERMAN, H. Trabalho e capital monopolista: a degradação do trabalho no século XX. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987. CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. DUTRA, J. S. Competências: conceitos e instrumentos para a gestão de pessoas na empresa moderna. São Paulo: Atlas, 2004. FLEURY, A.;FLEURY, M. T. L. Construindo o conceito de competência. Revista de Administração Contemporânea, São Paulo, Edição Especial, p. 183-196, 2001. GODOY, A. S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. 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INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 116 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA EM GESTÃO DE PESSOAS NO PERÍODO 2000-2010 André Ofenhejm Mascarenhas12 Allan Claudius Queiroz Barbosa13 RESUMO O artigo14 analisa quatro aspectos dos textos em gestão de pessoas: sua contribuição, referencial teórico, procedimentos metodológicos e discussão. A análise abrange os artigos publicados nos periódicos nacionais de maior impacto, entre 2000 e 2010. O objetivo é esclarecer suas fragilidades diante das políticas editoriais preconizadas por top journals, em português e inglês, e apontar direções para evolução. Para evoluir qualitativamente nesta década, a discussão sugere implicações à prática acadêmica e uma agenda de pesquisas visando alcançar impacto, rigor e relevância da produção em Administração no Brasil. INTRODUÇÃO Consolidou-se, nos diferentes campos da Administração, o debate sobre qualidade da produção científica, que sugere consensos razoáveis sobre suas limitações. O aumento quantitativo não estaria relacionado à maior qualidade da produção, que seria pouco relevante e rigorosa, frágil, voltada à academia e pouco preocupada com aplicabilidade (BERTERO, CALDAS, 12 Professor do Departamento de Administração, Centro Universitário da FEI – São Paulo – SP, Brasil. 13 Professor do Departamento de Ciências Administrativas, Universidade Federal de Minas Gerais – Belo Horizonte – MG, Brasil. 14 Publicado pela Revista de Administração de Empresas. Versão impressa ISSN 0034-7590. Rev. adm. empres. vol.53 no.1 São Paulo jan./fev. 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-75902013000100004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-75902013000100004&script=sci_arttext>. E também publicado em: <http://rae.fgv.br/rae/vol53-num1-2013/producao-cientifica-brasileira-em- gestao-pessoas-no-periodo-2000-2010>. Acesso em: 25 nov. 2013. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 117 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 WOOD JR, 1999, 2005; BERTERO, 2007; TONELLI e outros, 2003). O debate sobre a evolução da pesquisa em Administração no Brasil, suas fragilidades e as oportunidades para consolidar o campo nos próximos 10 anos ganha relevo, considerando as possibilidades que se abrem no campo qualitativo. Para contribuir com o debate, propõe-se aprofundar a discussão sobre o impacto, o rigor e a relevância da produção (MASCARENHAS, ZAMBALDI, MORAES, 2011; MATTOS, 2012). Nessa perspectiva, são analisados quatro aspectos dos artigos em Gestão de Pessoas entre 2000 e 2010: sua contribuição, referencial teórico, procedimentos metodológicos e discussão. A análise abrange os textos publicados nos periódicos nacionais de maior impacto. O objetivo é esclarecer as fragilidades dos textos diante das políticas editoriais preconizadas por top journals, em português e inglês, e, assim, apontar direções para evolução. A análise baseia-se em editoriais (GEPHART, 2004; SUDDABY, 2006; VASCONCELOS, 2009) e inspira-se em uma linha analítica que investiga como os autores constroem a consistência dos textos publicados (LOCKE e GOLDEN-BIDDLE, 1997; BARTUNEK e RYNES, 2010). Recupera-se a abordagem pioneira de Bertero, Caldas e Wood Jr. (1999), que dava voz a periódicos e avaliadores notáveis ao propor critérios objetivos para mensurar qualidade. A discussão sugere implicações à prática acadêmica e uma agenda de pesquisas visando ao impacto, ao rigor e à relevância da produção em Administração no Brasil. METODOLOGIA DE ANÁLISE DA PRODUÇÃO EM GESTÃO DE PESSOAS (2000-2010) A evolução qualitativa da produção em Administração depende de aprofundarmos o debate sobre seuimpacto. Segundo Judge e outros (2007), o impacto de um texto acadêmico depende do prestígio do periódico, o que sugere a necessidade de o pesquisador compreender os caminhos para a publicação em top journals e, em especial, dominar o ciclo da produção científica: geração de ideias, construção da teoria e escrita clara. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 118 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 O recorte empírico justifica-se pela pertinência do debate. A produção acadêmica em Gestão de Pessoas no Brasil tem sido marcada por desafios inerentes a um campo em transformação. Área historicamente associada ao fortalecimento da Administração viu, na última década, um movimento pendular, ora permitindo ampliação de seu escopo pela ênfase interdisciplinar, abertura e fragmentação temática, ora restringindo-se, com o deslocamento de conteúdos para outras áreas ou mesmo a criação de espaços específicos derivados, tal como o debate comportamental com lógica própria. Enquanto área sujeita às dificuldades comuns às demais áreas da Administração, o campo vem sendo objeto de reflexão. Esses trabalhos revelam limitações da produção, direcionando sua atenção para a análise propositiva, contributiva para um salto de qualidade (TONELLI e outros, 2003; CALDAS e TINOCO, 2004; BARBOSA, 2009; MEDEIROS e OLIVEIRA, 2009). Também, as particularidades do campo refletem os fundamentos do modelo analítico, que enfatiza contribuições teóricas e práticas. A análise do "mapa da partilha" da antiga área de recursos humanos, no âmbito da Associação Nacional de Programa de Pós-Graduação em Administração (ANPAD), após seu desmembramento em 2001, indica que Gestão de Pessoas concentrou temas com viés mais evidente para a aplicação prática, diante das áreas correlatas de relações de trabalho e estudos organizacionais (TONELLI e outros, 2004). Além disso, a pertinência das proposições reveladas pela análise acaba, também, por sinalizar à orientação afeita ao mainstream científico ou às próprias condições objetivas para o trabalho acadêmico de ponta. É nesse sentido que a análise assume maior abrangência, dialogando com tendências em pesquisa e publicação de outros campos da Administração no Brasil. O modelo analítico, apresentado a seguir, fundamentou-se em editoriais e documentos recentes (reviews, cartas editoriais, políticas, entrevistas) de periódicos nacionais e anglófonos prestigiosos em management e Gestão de Pessoas (human resource management). Nos últimos anos, vários editoriais discutem as expectativas de rigor e relevância dos periódicos (GEPHART, 2004; SUDDABY, 2006; VASCONCELOS, 2009). Na arena anglófona, foram reunidos editoriais do Academy of Management Journal, Academy of Management Review, Human Resource Management INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 119 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Journal, Journal of Organizational Behavior e Journal of Management Studies, além de pareceres e cartas editoriais do Journal of Applied Behavioral Science, Organization Science e International Journal of Cross-Cultural Management. Entre os periódicos em português, foram selecionados editoriais e debates, constantes das referências, além de pareceres da RAE-Revista de Administração de Empresas (RAE) e da revista Organizações & Sociedade. Contribuição do artigo O primeiro aspecto analisado foi se e como os autores posicionam seu artigo diante da literatura, explicitando, nas introduções, sua contribuição. Formular um problema de pesquisa consiste em situá-lo, contextualizá-lo e diagnosticá-lo (Van de Ven, 2007). Ao fazê-lo, a contribuição de um trabalho seria o que este traz de novo e único, perante o problema, seja o desenvolvimento teórico e/ou metodológico ou a melhor compreensão dos fenômenos (LOCKE e GOLDEN- BIDDLE, 1997). A relevância do texto científico surgiria do reconhecimento social da pertinência do problema e do valor de sua contribuição. Assim, seria necessário o reconhecimento subjetivo do potencial da contribuição do artigo, no âmbito do processo editorial, para a publicação por periódicos de prestígio (BEYER, CHANOVE, FOX, 1995; RYNES, 2002). Dada a crescente competição por publicação, Ashkanasy (2009) sugere que não haveria sentido em submeter um artigo que não explicite, logo de início, o que traz de novo e por que tal contribuição merece atenção (justificativa da contribuição). Para justificar a contribuição, seria necessário construir a aderência dos objetivos aos diálogos da literatura atual, posicionando-os explicitamente em termos de sua pertinência e importância. Ao investigar contribuições em estudos organizacionais, Locke e Golden-Biddle (1997) mostram que os autores recuperam um mosaico de referências para caracterizar e, então, problematizar uma literatura. Referencial teórico O segundo aspecto analisado foi a consistência do referencial teórico. Construir o referencial teórico implica integrar e justificar conhecimentos INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 120 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 explanatórios ao problema de pesquisa, tornando-se uma espécie de lente pela qual se analisa a problemática (Van de Ven, 2007). Diversos editoriais recentes tratam da qualidade do referencial teórico. Ashkanasy (2010) sugere que estudos da tradição positivista/quantitativa apresentem uma sólida base teórica, e não somente um apanhado de estudos empíricos anteriores e hipóteses. Gephart (2004) discute a importância de os estudos qualitativos estarem bem fundamentados, teórica e metodologicamente, na abordagem de pesquisa adotada. Para o editor, estudos qualitativos e quantitativos devem explicitar suas perguntas de pesquisa, definir seus termos e revelar sua perspectiva teórica, criando consistência entre teoria, pergunta e metodologia. A construção cuidadosa e criativa do referencial teórico sugere rigor do trabalho científico. Ao enfatizarem sua natureza explanatória, Sutton e Staw (1995) alegam que referências, dados, listas de variáveis e construtos, hipóteses e diagramas não poderiam ser considerados teoria. Referências fazem menção à teoria, dados revelam o que aconteceu, variáveis e construtos não revelam por si o porquê de suas relações, hipóteses presumem o que será observado, enquanto diagramas não substituem uma explicação textual do porquê das relações alegadas. Whetten (2003) descreve os blocos constitutivos de uma teoria, incluindo o que ou quais variáveis, construtos ou conceitos devem ser considerados, como esses elementos conceituais estão relacionados, introduzindo causalidade, e o porquê ou a lógica que justifica as relações propostas e unifica a teoria. Procedimentos metodológicos O terceiro aspecto analisado foi o conteúdo das seções de metodologia. O rigor de um texto científico implica construção conceitual e teórica cuidadosa, além da observância a ditames metodológicos (MATTOS, 2008; VASCONCELOS , 2009). O reconhecimento do rigor de um trabalho acadêmico depende da apreciação da qualidade e pertinência do conjunto de decisões sobre métodos, abrangendo a consistência das escolhas teórico- metodológicas. A estrutura geral do trabalho, articulada pela tríade problema – teoria – metodologia, revela a abordagem de pesquisa adotada, enquanto a INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 121 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 seção de metodologia revela as decisões tomadas e executadas, bem como as integra e justifica no contexto geral da pesquisa. Procedimentos metodológicos bem-definidosrevelam transparência no planejamento e na execução da pesquisa. Pratt (2009) e Gephart (2004) afirmam que muitos enfatizam o irrelevante, omitindo questões de fato pertinentes, como: (1) explicar por que a pesquisa é necessária, (2) definir a abordagem genérica à metodologia e por que é adequada, (3) explicar se está sendo elaborada teoria nova ou existente, (4) explicar quais são e o porquê de ter escolhido contexto e unidades de análise, (5) explicar como os dados foram coletados e que práticas transformaram observações em resultados e conclusões. O detalhamento seria importante para que não se tenha que "comprar" as conclusões. Discussão O quarto aspecto analisado foi como os textos fazem sua contribuição nas seções de discussão. A contribuição teórica deve ser significativa (CLARK, FLOYD, WRIGHT, 2006) ou forte (PRATT, 2009), e são os insights à teoria pela falsificação de entendimentos convencionais, elaboração indutiva de teoria, primeiro teste empírico de teoria, meta-análises com implicações teóricas e a replicação construtiva que clarificam a abrangência de teoria (EDITORIAL TEAM, 2007). Além disso, uma contribuição teórica sólida implica discutir as oportunidades abertas. Estudos sem contribuição teórica ou essencialmente descritivos, e o uso de casos para ilustrar ou aplicar uma teoria existente, não justificam a publicação em top journals (SUTTON e STAW, 1995). A análise identifica também como os artigos fazem sua contribuição prática, emergindo daí a relevância da pesquisa aplicada (VAN DE VEN, 2007). Reconhecemos o debate complexo em torno dessa posição (JARZABKOWSKI, MOHRMAN, SCHERER, 2010; STARKEY e MADAN, 2001; GREY, 2001; BARTUNEK, 2007; WEICK, 1996). Porém, a análise segue editores para quem a lacuna entre pesquisa e prática é excessivamente grande (RYNES, 2007; RYNES, BARTUNEK, DAFT, 2001). Para Clark, Floyd e Wright (2006), os INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 122 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 autores devem refletir sobre as implicações de suas ideias no cotidiano da Administração. RECORTE EMPÍRICO E PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE A construção da base de artigos partiu da decisão de privilegiar os periódicos, excluindo a produção em congressos. Assim, o estudo não pretendeu abranger com exatidão o mapa da produção da área no período, mas, sim, o estado da arte da produção na década passada. A decisão considera, ainda, que, mesmo que os pesquisadores eventualmente direcionem seus textos a outros periódicos, em inglês ou de outras áreas, haveria pertinência na análise da produção nacional nos periódicos de Administração com maior impacto. Além disso, excluir a produção em congressos viabilizou a análise qualitativa proposta. Os periódicos selecionados foram aqueles considerados de maior impacto entre os nacionais, medido pelo índice H, conforme estudo da RAE (2012). Esse critério fez a escolha recair sobre RAE, RAUSP e RAC. O recorte é consistente com o estudo desenvolvido por Machado-da-Silva e outros (2008) sobre o impacto de periódicos brasileiros de Administração entre 2005 e 2007, e com trabalhos anteriores (TONELLI e outros, 2003; MEDEIROS e OLIVEIRA, 2009). O recorte abrange 32 artigos, em português, em Gestão de Pessoas, resumidos no Quadro 1. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 123 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Para o enquadramento dos artigos, considerou-se, em primeiro lugar, a aproximação dos textos às definições de subtemas da Anpad. Considerou-se, também, a ênfase em gestão, verificada por meio da incidência da palavra no título, palavras-chave, resumo e, em poucos casos, texto completo. Embora Tonelli e outros (2004) revelem sobreposições temáticas que dificultam a classificação, várias rodadas de discussão excluíram da amostra os artigos que traziam ambiguidades pela aproximação com as áreas de relações do trabalho ou estudos organizacionais. Cada artigo foi submetido a leitura, análise textual e de conteúdo, conforme detalhamento no Quadro 2. DISCUSSÃO E IMPLICAÇÕES À PRÁTICA ACADÊMICA INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 124 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 A análise dos quatro aspectos dos artigos em Gestão de Pessoas entre 2000 e 2010 buscou esclarecer fragilidades dos textos diante das políticas editoriais preconizadas por top journals, e, assim, apontar direções para aperfeiçoamentos nesta década. É nesse sentido que a análise revelaria uma proposta para balizar a produção acadêmica artesanal. A análise mostra que, nas introduções, predominam os objetivos dos artigos. Menos prevalente é a contextualização e justificação dos objetivos pela literatura. Assim, confundem-se objetivos com contribuição. Alguns artigos não fazem referência à literatura relevante atualizada. Mesmo quando há citações, as introduções são imprecisas e não permitem avaliar a pertinência do texto, pois não identificam tendências na literatura. Em vez disso, os objetivos são frequentemente contextualizados por referências genéricas à globalização, dinamismo do mercado e tendências funcionais, empregando retórica dominante em RH ("o ser humano como principal ativo da organização"), reproduzindo o que Wood Jr., Tonelli e Cooke (2011) denominam discurso da neocolonização em RH. A análise revela a dificuldade de os autores sistematizarem sua contribuição. Nesses artigos, o esforço para justificar ou contextualizar os objetivos não revela o que o estudo agrega. Por exemplo, justificativa usual foi alegar poucos estudos, ou a introdução do tema nos estudos brasileiros, sem refletir adequadamente sobre a pertinência de se trilharem os caminhos propostos. Uma recomendação é que as introduções recuperem e sistematizem os estudos prévios, para clarificar e contextualizar as fronteiras do diálogo, revelando como se pretende fazê-lo avançar. Amadurecimento das ideias seria revelado pelas convergências e divergências na literatura, sobre as quais um estudo se assentaria. Artigos que justificam sua contribuição de maneira mais direta revelam esforços sistemáticos dos autores para aprofundar temas, com cumulatividade das pesquisas. Quanto ao referencial teórico, poucos artigos alegaram explicitamente recuperar ou integrar abordagens teóricas. Em vez disso, o uso de levantamentos conceituais, tipologias, taxonomias, contextualizações históricas, estudos empíricos anteriores e conteúdos prescritivos como teoria reforça o caráter descritivo dos referenciais teóricos. Essas seções referem-se INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 125 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 a uma variedade de perspectivas e definições, sem articulá-las em conhecimentos explicativos com base nos quais se construiria a coerência do levantamento empírico. Nesses artigos, a conexão entre teoria e metodologia é frágil. A pertinência do levantamento empírico não emerge da revisão teórica, pouco capaz de iluminar e justificar a estratégia metodológica. Por outro lado, os artigos que propõem referenciais teóricos com viés explicativo fazem-no predominar diante das reflexões geradas pelo levantamento empírico, o que fragiliza o texto, ao minimizar sua contribuição original. A análise da seção de metodologia revelou as estratégias de pesquisa mais frequentes: estudos de caso, levantamentos survey submetidos à análise multivariada, estudos de validação de escalas, análise de dados qualitativos e estratégias quali-quanti em estudos exploratórios e descritivos. Principalmenteem artigos qualitativos, apreciações conceituais sobre a metodologia prevalecem perante as justificativas e decisões sobre procedimentos, que aparecem com menor detalhamento. Por exemplo, em estudos de caso, apresentam-se fundamentos da estratégia, em vez de justificativa adequada que revele a pertinência do caso e o conecte à problemática, o que enfraquece a estratégia. No lugar de justificativas que integrem e contextualizem as decisões em métodos, esses artigos alegam procedimentos como se preenchesse um formulário quase padronizado, o que é distinto de explicitar e integrar os desafios enfrentados e as decisões adotadas em seus aspectos estratégicos, táticos e relacionais. Por exemplo, muitos estudos enfatizam procedimentos como a gravação e transcrição das entrevistas, mas não revelam a lógica e pertinência da seleção dos entrevistados nem o percurso da construção das categorias e relações com base no material empírico; ou, ainda, mencionam o uso de documentos como parte de táticas de triangulação, sem revelar quais e como se complementam à construção da análise. Quanto à discussão, o que caracteriza a produção em Gestão de Pessoas é o raciocínio dedutivo, e a maioria dos trabalhos visava ao desenvolvimento de teorias existentes, principalmente por meio do teste empírico que expande a teoria ou meta-análises com implicações teóricas. Porém, os artigos não se posicionam quanto à sua contribuição, mesmo que, INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 126 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 com frequência, isso se revele ao longo do texto. Quando alegada, é comum que a contribuição do artigo coincida com seus objetivos e/ou com os objetivos do levantamento empírico, sugerindo contextualização insuficiente dos objetivos pela literatura ou, ainda, pouca reflexão com base nos dados analisados. Por exemplo, é comum, na seção final, o autor retomar os objetivos para declará-los cumpridos e ensaiar uma reflexão sobre a pertinência do esforço analítico. Essas deficiências dificultam identificar o caráter de novidade das relações estabelecidas e discutir potencialidades. Sobre a estrutura das contribuições, alguns textos são descritivos, exibindo riqueza de dados, mas pouca análise. Outros assumem linguagem que os aproxima de relatórios de consultoria, com prejuízos ao rigor científico, por não enfatizarem o processo analítico que sustentaria a argumentação. Alguns artigos tinham clara pretensão prescritiva, revelavam consistência no processo analítico, sem, contudo, aprofundar suas implicações práticas ou contextualizá-las e explorar suas potencialidades e limites. Quando a discussão era teórica, os textos não aprofundavam seus desdobramentos, apesar de estes serem a essência da contribuição nesses casos. Sobre agenda futura ou limitações do estudo, ideias genéricas são mencionadas e não revelam reflexão comprometida com a linha de raciocínio desenvolvida. Por exemplo, é comum citar a "necessidade de mais estudos", o que não convence o leitor sobre o porquê de tais estudos serem necessários e que caminhos seriam potencialmente promissores. Sobre as limitações do estudo, é comum mencionar-se a "impossibilidade de generalização" quando a metodologia não se presta a isso. O Quadro 3 sumariza os elementos problematizados ao longo da análise. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 127 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 LIMITAÇÕES DO ESTUDO E AGENDA DE PESQUISAS FUTURAS Este fórum relança o debate da qualidade da produção científica brasileira em Administração, ao propor a reflexão sobre sua evolução na última década, suas fragilidades e oportunidades para consolidar o campo nos próximos 10 anos. Com base em trabalhos pioneiros da década de 1990, balanços da produção foram publicados em todas as subáreas da Administração, retratando a expansão da academia e consolidando uma série de reflexões que são a base do debate sobre o desejado salto de qualidade. Entre essas reflexões, preferência deveria ser dada a estudos empíricos executados segundo metodologias rigorosas e que revelem aplicabilidade (BERTERO e KEINERT, 1994; BERTERO, VASCONCELOS, BINDER, 2003), permitam teorização (BERTERO, CALDAS, WOOD JR, 1999; TONELLI e outros, 2003) ou a crítica habilitada (DAVEL e ALCADIPANI, 2002). Entretanto, este artigo revela a prevalência de abordagens com baixa pretensão metodológica, sendo parte da produção limitada a estudos de caso exploratórios, o que é condizente com análises anteriores (TONELLI e OUTROS, 2003), e sugere pouca evolução na última década. Neste ponto, questão central que esta análise recoloca é: por que as fragilidades identificadas persistem? O que fazer para saná-las e avançar? Este debate não é novo, já que vários autores vêm discutindo as competências para a produção acadêmica artesanal (RODRIGUES, 2004; ROESCH, 2003; CARVALHO e VIEIRA, 2003; SERRA, FIATES, FERREIRA, 2008). Contudo, a academia em Administração ainda não se comprometeu com análises sistemáticas de como os pesquisadores levam a cabo os empreendimentos acadêmicos, segundo uma abordagem da academia como prática (ver, por exemplo, FREITAS, 2011; MATTOS, 2012). As práticas de priorizar, definir, caracterizar perguntas e abordagens de pesquisa, contextualizar e traduzir as reflexões acadêmicas não seriam conformadas somente pelas pressões normativas do "publicar ou perecer", mas também por práticas e fatores adjacentes, como as políticas das instituições de ensino e pesquisa, os comprometimentos simultâneos na carreira, a formação dos pesquisadores e INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 128 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 sua inserção nas comunidades. A academia como prática como agenda de pesquisa contribuiria para o olhar crítico ao produtivismo, aprofundando a reflexão sobre as estratégias empregadas por pesquisadores e instituições e que fortalecem a academia. Apesar das pressões do "publicar ou perecer", haveria espaço para melhor priorização de projetos de pesquisa, viabilizando a dedicação artesanal aos textos (ALCADIPANI, 2011; MATTOS, 2012). Para contribuir com o debate da qualidade da produção científica brasileira em Administração, as implicações à prática acadêmica revelada por esta análise da produção em Gestão de Pessoas podem também orientar a produção em outros campos da Administração que compartilhem entendimentos quanto às condições objetivas para o trabalho acadêmico de ponta. Entre as limitações desta análise, em ciências sociais aplicadas, o critério de relevância abrangeria necessariamente referenciais externos à academia, e a noção de rigor revelada pela proposta estaria, ainda, submetida a outras convenções acordadas nas comunidades científicas, com implicações adicionais para a construção dos artigos. Por exemplo, em etnografia, o rigor estaria associado à capacidade de o texto convencer o leitor experiente, abrangendo aspectos como autenticidade, plausibilidade e criticidade (GOLDEN-BIDDLE e LOCKE, 1993). Em estudos de múltiplos casos, o rigor diz respeito à capacidade de o estudo permitir a construção de teoria por meio da replicação entre casos (EISENHARDT, 1991). Atenção a essas convenções também fortaleceria a produção brasileira em Administração. Este artigo sugere que produzir ciência social aplicada com excelência resulta no impacto da pesquisa. Assim, seria profícuo direcionar atenção ao impacto da pesquisa em Administração: o que é e como se constrói? Aqui se deve ressaltar a limitação da noção de impacto adotada nesta análise. Segundoa concepção de Judge e outros (2007), o impacto revela-se pela referência em forma predominante de citações ao trabalho científico por outro, na esfera estritamente acadêmica, o que obscurece o potencial transformador dos textos em esferas não acadêmicas (VAN DE VEN, 2007). Apesar disso, essa noção estreita reflete o entendimento majoritário sobre mensuração do impacto da produção, gerando críticas (ILGEN, 2007). Como agenda futura, propõe-se aprofundar a discussão sobre como construir impacto, rigor e INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 129 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 relevância da produção científica, deslocando atenção dos acadêmicos da diversidade temática, epistemológica e demográfica da produção para os processos de engajamento, construção e disseminação inerentes ao ciclo de produção científica (MASCARENHAS, ZAMBALDI, MORAES, 2011; MATTOS, 2012). Apesar de sua importância, os balanços da produção brasileira não avançaram explicitamente a reflexão sobre como promover diálogos na sociedade e construir agendas relevantes de pesquisa. Como ciência aplicada, o impacto da produção em Administração depende de se compreender a disposição da sociedade a incorporá-la como matéria-prima para a reflexão e ação transformadora, constatação que expõe a necessidade de agenda de pesquisa específica. Por exemplo, apesar de viabilizar maior impacto da pesquisa, as atividades de contextualizar e traduzir reflexões acadêmicas são esforços da carreira que precisam ser compreendidos e estimulados. Esse desafio já vem sendo enfrentado em outras arenas científicas. Entre os tópicos atuais, discute-se como o conhecimento acadêmico se preza ao uso na prática (NICOLAI e SEIDL, 2010) e em sala de aula (JARZABKOWSKI e WHITTINGTON, 2008), a natureza e a dinâmica das interações entre acadêmicos e praticantes (BEECH, MACINTOSH, MACLEAN, 2010; KNIGHTS e SCARBROUGH, 2010), entre outros. Desafios ao debate incluem a busca de definições adequadas aos conceitos de conhecimento, teoria e relevância, e às suas relações sistemáticas com a ação e a prática, além de dificuldades teóricas e empíricas no desenvolvimento de teorias sobre a geração, transferência e uso do conhecimento (JARZABKOWSKI, MOHRMAN, SCHERER, 2010, p. 1191). Construir o impacto da produção brasileira em Administração dependeria de se aprofundar o entendimento sobre sua relevância. Mattos (2012) e outros já colocaram a questão: para quem seria a produção relevante? Dois caminhos para reflexão emergiriam. O primeiro seria analisar para quem escrevemos. Segundo Spink e Alves (2011), o dilema de instituições e pesquisadores seria, na prática, privilegiar certas agendas com as quais se engajar. Diante da tendência pela internacionalização, esse dilema se resumiria à escolha entre a produção de relevância às agendas anglófonas, concebida implicitamente como agenda internacional, mas relevante principalmente aos INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO 130 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 países de língua inglesa, e a produção de relevância local, que refletiria o modelo da universidade comprometida com a sociedade civil, que direciona atenção à problemática local sem descuidar de processos globais subjacentes. Segundo caminho seria analisar o que escrevemos. Aqui valeria a proposição de Rousseau, Manning e Denyer (2008), para quem somente a síntese de um corpo de evidências científicas revelaria implicações consistentes à prática, abrangendo acúmulo, análise e interpretação de um conjunto de textos. Dado o volume atual da produção científica nacional, seria desejável identificar e sistematizar a contribuição dos textos, sintetizar o conhecimento sendo acumulado, refletir sobre seus limites e desdobramentos, e indicar caminhos para desenvolvimento futuro. Referências deste texto: ALCADIPANI, R. Resistir ao produtivismo: uma ode à perturbação acadêmica. Cadernos EBAPE.BR, v. 9, n. 4, Opinião 3, p. 1174-1178, 2011. [ Links ] ASHKANASY, N. Publishing today is more difficult than ever. Journal of Organizational Behavior, v. 31, p. 1-3, 2010. [ Links ] BARBOSA, A. C. Q. Gestão de recursos humanos no Brasil: realidade atual e perspectivas. In: SILVA, J. R; BARBOSA, A. C. Q. (Orgs). 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