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Texto Expositivo . Carolina Aparício, Nº7 ,12ºE O Adamastor é um símbolo presente em várias obras do programa de Português (10º/ 12º), entre as quais, Os Lusíadas, Mensagem e O ano da morte de Ricardo Reis. De facto, as três obras interligam-se através da existência de um elemento comum: o Adamastor. Apesar disto, em cada obra é apresentada uma conceção distinta, ainda que apresentem aspetos comuns. Efetivamente, em Os Lusíadas, a aparição do gigante simboliza, através da privação da vida e do amor, o preço que os lusitanos têm de pagar pela conquista da glória. Esta ideia está comprovada, por exemplo, no momento em que após terem superado obstáctulos, como o fogo de santelmo e a tromba marítima, os portugueses prosseguiram a sua viagem em harmonia até ao momento em que o gigante petrificado, em tom de ameaça, profetiza um vasto rol de “naufrágios e perdições de toda sorte” (V, est.44). Em Mensagem, conforme acontece n’Os Lusíadas o Mostrengo, correspondente da figura do Adamastor, também simboliza o medo perante o mar desconhecido e os seus perigos. Isto está patente na atitude intimidatória do monstro, que voa e chia em torna da nau, tentando defender os seus domínios, através de um discurso agressivo e ameaçador (“Quem é que ousou”). Através do monstro pretende-se exaltar a grandiosidade do povo português e a forma como o homem do leme ultrapassa a sua dimensão individual e se assume como símbolo de um povo, enfrentando o medo do desconhecido em nome de uma missão maior. Todavia, numa fase posterior, no poema Antemanhã, o mostrengo assume o papel de servo, que não aceita que o seu senhor, que outrora foi “Senhor do Mar” tenha uma atitude de total inércia. Distanciando-se, assim, da representação simbólica em Os Lusíadas. Finalmente, no extremo oposto destas conceções, o Adamastor aparece em O Ano da Morte de Ricardo Reis, em forma de estátua. Nesta obra, o Adamastor não só representa o obstáculo do passado e a aurora do futuro como, à semelhança do que acontece n´0s Lusíadas, simboliza o fracasso da relação amorosa com Marcenda (Adamastor rejeitado por Tétis/ Ricardo Reis rejeitado por Marcenda). Contudo, José Saramago introduziu uma nova dimensão simbólica ao Adamastor que se distingue das obras anteriormente referidas. Efetivamente, o gigante torna-se na rosa dos ventos que anuncia o novo roteiro do povo sendo, desta forma, a confluência das oito principais direções geográficas. Dito por outras palavras, a obra evoca um gigante ironicamente adormecido e tornado inofensivo que representa a Representação do Adamastor em Os Lusíadas, em Mensagem e em O ano da Morte de Ricardo Reis confluência de todos os destinos do povo português, dado que agora simboliza os perigos internos que os portugueses, corajosos e com força de vontade, têm de vencer para dobrar o cabo da Ditadura. Concluindo, embora o Adamastor simbolize, particularmente, os obstáculos e o medo do desconhecido, transforma-se num símbolo, uma vez que ilumina as expectativas humanas, dando a conhecer aos homens novos horizontes.