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02 LINDB - NORMA NO TEMPO E REVOGAÇÃO


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Especialista: Carlos Eduardo Ferreira de Souza 
Disciplina: Direito Civil 
souza.carlosadv 
 
 
AULA 02 
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (LINDB) 
Olá, pessoal! Meu nome é Carlos e eu sou especialista em Direito Civil do Passei Direto. 
O objetivo dessa sequência de materiais é tentar explicar tudo sobre a disciplina de um jeito 
objetivo, completo e acessível, então faremos assim: vou trazer o assunto, citar o dispositivo legal, 
explicar um resumo do que isso significa, então vamos ver a jurisprudência mais recente sobre o tema 
e resolver questões extraídas de concursos públicos, ou seja, tudo para ajudar na graduação, na pós-
graduação e concursos públicos. 
Tudo certo? Então vamos começar! 
RELEMBRANDO... 
Na última aula, tratamos do art. 1º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, a 
LINDB, destacando a sua importância para aplicação das normas no tempo e no espaço. 
Verificamos os conceitos de vigência, vigor e vacatio legis, observando o início da validade 
e da eficácia das normas do direito brasileiro. 
Hoje iremos avançar para o assunto mais cobrado quando o tema é LINDB: revogação e 
duração das normas no tempo. 
DISPOSITIVO LEGAL 
REFERÊNCIA: art. 2º da LINDB (LEI 4.657/42) 
Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. 
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela 
incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. 
§ 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem 
modifica a lei anterior. 
§ 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a 
vigência. 
LEI NO TEMPO E REVOGAÇÃO 
Em concursos públicos, esse é o assunto mais cobrado quando tratamos da LINDB – Lei de 
Introdução às Normas do Direito Brasileiro. 
Especialista: Carlos Eduardo Ferreira de Souza 
Disciplina: Direito Civil 
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Quando falamos em vigência da norma, prevalece o princípio da continuidade, ou seja, toda 
norma que ingressa no direito brasileiro tem vigência por prazo indeterminado, devendo ser 
continuada sua aplicação. 
Essa, contudo, é a regra, trazendo a LINDB duas hipóteses que cessam a vigência das normas: 
o fim do prazo de duração, nas leis temporárias, e a revogação. 
Leis temporárias: são aquelas criadas com data de início e fim da vigência. Assim, por 
vontade do legislador, é inserido termo para que se encerre a vigência da norma. 
Neste ponto, destacamos a existência das chamadas leis excepcionais, que são similares, mas 
cuja duração não é vinculada a uma data, mas a um evento, que pode ser desde guerra e calamidade 
pública a um grande evento, como a Copa do Mundo. 
Em comum, as leis temporárias e as leis excepcionais têm o fato de haver um evento futuro e 
certo que determinará o término de sua vigência. 
Exemplificando, podemos trazer a chamada “Lei da Copa do Mundo”, que assim dispõe: “Art. 
36. Os tipos penais previstos neste Capítulo terão vigência até o dia 31 de dezembro de 2014”. 
Assim, temos que o vigor da norma se inicia com o término da vacatio legis, mas o fim de sua vigência 
tinha data excepcionalmente marcada: 31/12/2014. 
Outra hipótese (e a mais importante para provas em geral) é da revogação das leis, que se 
divide em derrogação e ab-rogação: 
Revogação: ocorre quando determinada lei é retirada do ordenamento jurídico em razão do 
ingresso de outra lei, nos casos expressos na LINDB. 
a) Derrogação: a lei é parcialmente revogada. 
b) Ab-rogação: a lei é integralmente revogada. 
No Brasil, a revogação ocorre em duas hipóteses: quando a lei posterior expressamente 
determina (revogação expressa) ou quando passa a regular integralmente o tema já tratado em lei 
anterior (revogação tácita ou por assimilação). 
Verifiquemos exemplo: 
O CPC/15 expressamente revogou o CPC/73: 
“Art. 1.046. Ao entrar em vigor este Código, suas disposições se aplicarão desde logo aos 
processos pendentes, ficando revogada a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973.” 
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Entretanto, ainda que não fosse expressa a revogação, teríamos a sua ocorrência, ao menos 
parcial, pois o CPC/15 passou a regular integralmente questões já tratadas pelo CPC/73. 
É importante destacar duas informações, contudo: 
1) Norma geral não revoga norma especial, tal como norma especial não revoga norma geral. 
Pode parecer estranho em um primeiro momento, mas vamos esclarecer. É que a norma geral 
regrará disposições mais gerais acerca de determinado tema, enquanto a norma especial tratará de 
situações mais restritas e específicas. 
Assim, termos casos em que se preferirá aplicar a norma especial, pois o caso se adequa 
especialmente a ela, enquanto em outra somente restará a aplicação da norma geral. 
Vamos exemplificar? Quando a Lei 9.099/95, que regula os procedimentos dos Juizados 
Especiais Cíveis e Criminais, passou a vigorar, não revogou o então vigente CPC/73, pois a Lei dos 
Juizados era especial em relação ao CPC. Da mesma forma, o CPC/15 não revogou a Lei dos Juizados, 
pois é norma geral em relação a esta última. 
Como resultado, temos a convivência dos dois diplomas: a Lei 9.099/95 e o CPC/15, mas com 
aplicação da Lei dos Juizados apenas em casos especiais (causas cíveis de menor complexidade), 
enquanto o CPC/15 se aplicará aos demais procedimento1. 
2) Repristinação: 
Como conceito de repristinação, temos uma frase que costuma assustar, mas que fica muito 
simples ao verificarmos os exemplos. Assim, conceituando, temos que a revogação da norma 
revogadora não restaura os efeitos da norma revogada, salvo disposição em contrário. 
É que, no Brasil, a repristinação tácita não existe, somente podendo ocorrer de modo expresso, 
ou seja, quando a norma que revoga a norma revogadora dispõe que a norma revogada voltará a 
vigorar. 
Eu sei! Assusta ouvir a revogação de norma que revoga e faz surgir a revogadora. Mas é muito 
simples: 
Lei A é revogada por Lei B. Quando passa a vigorar Lei C, que revoga a Lei B, não teremos 
o retorno automático da Lei A. Não é porque a Lei B foi revogada que a Lei A, revogada por B volta 
 
1 O tema não foi aprofundado de forma proposital, pois o intuito era de exemplificar. 
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a existir. Assim, a repristinação somente pode ocorrer quando, no exemplo, a Lei C estabelece algo 
do tipo: “Revoga-se a lei B e volta a vigorar a Lei A”. 
Vistos esses pontos, vamos avançar com a jurisprudência e as questões 
JURISPRUDÊNCIA 
Como se trata de matéria introdutória, apesar de IMPORTANTÍSSIMA, não temos 
jurisprudência relevante do STJ e do STF, que tenha sido publicado nos famosos informativos, cuja 
análise é nosso foco na sessão de jurisprudência. 
Realizamos destaque, contudo, nos efeitos repristinatórios que podem surgir com as decisões 
do Supremo Tribunal Federal, em sede de controle concentrado de constitucionalidade. 
É que, ao julgar uma lei inconstitucional, teremos o julgamento de sua nulidade. Entretanto, 
sabemos que dispositivos nulos não produzem quaisquer efeitos no ordenamento jurídico, razão pela 
qual a inconstitucionalidade da lei revogadora faria ressurgir a lei revogada, salvo disposição em 
contrário, pelo STF. 
Exemplificando: Lei A é revogada por Lei B. O Conselho Federal da OAB ajuíza Ação Direta 
de Inconstitucionalidade em face da Lei B. O STF, ao julgar inconstitucional a Lei B, estará 
provocando efeitos da Lei A, inicialmente revogada, salvo quando,na decisão, estabelecer que não 
haverá efeitos repristinatórios. 
Observo, contudo, que a Lei B não é revogada pelo julgamento de inconstitucionalidade, mas 
tornada nula, pois existem apenas duas hipóteses de revogação: expressa ou por integral regulação. 
QUESTÕES 
 
1ª QUESTÃO – BANCA CESPE – DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL: 
Diante da existência de normas gerais sobre determinado assunto, publicou-se oficialmente nova lei 
que estabelece disposições especiais acerca desse assunto. Nada ficou estabelecido acerca da data em 
que essa nova lei entraria em vigor nem do prazo de sua vigência. Seis meses depois da publicação 
oficial da nova lei, um juiz recebeu um processo em que as partes discutiam um contrato firmado 
anos antes. 
A partir dessa situação hipotética, julgue o item a seguir, considerando o disposto na Lei de Introdução 
às Normas do Direito Brasileiro. 
O caso hipotético configura repristinação, devendo o julgador, por isso, diante de eventual conflito 
de normas, aplicar a lei mais nova e específica. 
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a) Certo 
b) Errado 
Gabarito: Errado. Não se fala em repristinação, qualquer que seja, pois não houve revogação, 
ante a publicação de lei especial em face de lei geral (art. 2º, §2º, da LINDB). 
2ª QUESTÃO – BANCA FGV – OFICIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR – TJ AL: 
Até 07 de abril de 2017, vigorava, no Município X, a Lei 01, que estipulava em trinta dias prazo para 
interposição de recursos à própria administração municipal contra atos praticados por seus servidores. 
Na referida data, entrou em vigor a Lei 02, que alterou o referido prazo para quarenta dias e revogou, 
neste ponto, a Lei 01. Contudo, atendendo a pleito local, o Município editou a Lei 03, de 07 de março 
de 2018, com o seguinte e único texto: “Art. 1º: Revoga-se Lei 02”. 
Quanto a essa situação, é correto afirmar que: 
a) no dia da publicação da Lei 03, a Lei 01 volta a vigorar; 
b) trinta dias após a publicação da Lei 03, a Lei 01 retorna a vigorar; 
c) quarenta e cinco dias após a publicação da Lei 03, a Lei 02 deixa de vigorar; 
d) no dia da publicação da Lei 03, a Lei 02 deixa de vigorar; 
e) trinta dias após a publicação da Lei 03, a Lei 02 deixa de vigorar. 
Gabarito: Letra C. Devemos analisar o seguinte: Lei 3 revogou lei 2 sem estabelecer que a Lei 
1 voltaria a vigorar. Como vimos, o ordenamento brasileiro veda a repristinação tácita, razão pela 
qual devemos entender que a Lei 1 não volta a vigorar pela revogação da lei 2, que o revogou. Assim, 
teremos apenas que a Lei 2 deixa de vigorar (art. 2º, §3º, da LINDB).. 
 Quanto ao prazo, vimos na aula 1, que na ausência de prazo as normas passarão a vigorar 45 
dias após a publicação (art. 1º, caput, da LINDB).. 
3ª QUESTÃO – BANCA CESPE – DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL / MA: Na esfera da 
legislação processual penal, a repristinação 
a) somente se aplicará por força de decisão judicial fundamentada. 
b) é aplicável somente nos processos de competência originária dos tribunais. 
c) somente se aplicará se houver expressa determinação legal. 
d) é inaplicável, por suas características. 
e) somente se aplicará se apresentar manifesta vantagem para o réu. 
Gabarito: Letra C. A repristinação é sempre expressa, não se admitindo a repristinação tácita 
(art. 2º, §3º, da LINDB).