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Especialista: Carlos Eduardo Ferreira de Souza Disciplina: Direito Civil souza.carlosadv AULA 01 DIREITO CIVIL I – PARTE GERAL Olá, pessoal! Meu nome é Carlos e eu sou especialista em Direito Civil do Passei Direto. O objetivo dessa sequência de materiais é tentar explicar tudo sobre a disciplina de um jeito objetivo, completo e acessível, então faremos assim: vou trazer o assunto, citar o dispositivo legal, explicar um resumo do que isso significa, então vamos ver a jurisprudência mais recente sobre o tema e resolver questões extraídas de concursos públicos, ou seja, tudo para ajudar na graduação, na pós- graduação e concursos públicos. Tudo certo? Então vamos começar! INTRODUÇÃO Direito Civil é a principal área do direito privado, tendo sido chamado de “Constituição do Direito Privado”. Hoje em dia esse conceito perde um pouco da força, pois a Constituição tem efeito normativo e irradia sobre todo ordenamento jurídico. Entretanto, ainda nos ajuda a enxergar a importância do Direito Civil. É que se trata do direito que regulará quase todos os aspectos da pessoa: do momento anterior ao seu nascimento até o momento posterior à morte. Veremos os direitos daquele que apenas foi concebido, o início da pessoa natural, sua capacidade de titularizar direitos e obrigações, bem como de exercer os atos da vida civil e aqueles direitos mais inerentes à personalidade. Ademais, veremos o surgimento e a extinção da pessoa jurídica e de suas implicações. Observaremos os bens e suas diversas classificações, para podermos adentrar no mundo dos fatos e atos jurídicos, os negócios que movimentam a economia e aquilo que pode torná-lo existente, válido e eficaz. Essa é a parte geral do Direito Civil (o chamado Direito Civil I), que se aplicará para toda essa área do direito e para algumas outras, mas devemos lembrar que o objetivo destes materiais é passar por todos os aspectos do Direito Civil, permeando as obrigações, os contratos, os direitos reais, o direito de família e as sucessões, mas uma coisa por vez para que tudo fique bem completo e didático. Vamos iniciar o estudo do Código Civil? Especialista: Carlos Eduardo Ferreira de Souza Disciplina: Direito Civil souza.carlosadv DISPOSITIVO LEGAL REFERÊNCIA: arts. 1º e 2º do Código Civil (LEI 10.406 /02) Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. DA PERSONALIDADE JURÍDICA O melhor início é aquele que trata do conceito. Assim, temos que a personalidade jurídica é a aptidão para titularizar direitos e contrair obrigações na ordem civil. Ao contrário do que possa parecer, todos nós possuímos personalidade jurídica desde o nascimento, ou seja, somos capazes de titularizar direitos e contrair obrigações. Quer exemplos práticos? É possível que um recém-nascido, com poucos minutos de vida se torne titular de um belo apartamento que tenha sido a ele doado, titularizando o direito de propriedade. De outro lado, contrai as obrigações que desse direito decorrem, como as quotas condominiais, por exemplo. Cuidado! Esses direitos e obrigações nem sempre poderão ser exercidos de forma direta e pessoal, mas isso é um assunto para o próximo material, quando trataremos da capacidade civil. Já sabemos o que é a personalidade jurídica, então nos falta verificar quando se dá o seu surgimento e é exatamente nesse ponto que doutrina e jurisprudência mantêm os conflitos. Temos três principais correntes: a natalista, a concepcionista e a condicional. Já adianto que muitos concordam que a concepcionista é majoritariamente adotada em nosso ordenamento jurídico, mas que foi a corrente natalista que foi eleita pelo Código Civil. 1) Corrente natalista: defende que a personalidade jurídica surge somente com o nascimento com vida, antes do qual não se adquire personalidade (art. 2º do Código Civil). Diversas são as formas de estabelecer o nascimento com vida, mas no Brasil adotamos aquela verificada a partir da primeira respiração ou outros sinais de vida, como contração muscular e batimentos. Assim, se um recém-nascido respira e falece 2 segundos após o nascimento, será considerado nascido com vida e, portanto, terá adquirido a personalidade jurídica, tristemente cessada pela morte prematura. Especialista: Carlos Eduardo Ferreira de Souza Disciplina: Direito Civil souza.carlosadv 2) Corrente concepcionista: defende que direitos e obrigações já existem desde a concepção, independentemente do nascimento com vida, concepção que foi adotada em diversos julgados do STJ, como veremos a diante. 3) Corrente da personalidade jurídica condicional: essa corrente é definitivamente minoritária e defende que direitos e obrigações podem ser contraídos desde a concepção, mas ficam condicionados ao nascimento com vida. Se entende que o Código Civil adotou a teoria natalista, pois expressamente determina que a personalidade civil (ou jurídica) se inicia do nascimento com vida, mas a lei resguarda os direitos do nascituro, desde a concepção. Nascituro nada mais é que aquele que já foi concebido, mas ainda não nasceu. Assim, se verifica que o Código Civil expressou, logo no início, quando começa a personalidade civil: do nascimento com vida, mas não foi negada proteção ao nascituro, que possui seus direitos resguardados. JURISPRUDÊNCIA 1) JULGADO DO STJ QUE DÁ DIVERSOS EXEMPLOS DA ADOÇÃO DA TEORIA CONCEPCIONISTA E RECONHECE CONDIÇÃO DE PESSOA DO NASCITURO PARA FINS DE DPVAT: DIREITO CIVIL. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO. ABORTO. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO OBRIGATÓRIO. DPVAT. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. ENQUADRAMENTO JURÍDICO DO NASCITURO. ART. 2º DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. EXEGESE SISTEMÁTICA. ORDENAMENTO JURÍDICO QUE ACENTUA A CONDIÇÃO DE PESSOA DO NASCITURO. VIDA INTRAUTERINA. PERECIMENTO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. ART. 3º, INCISO I, DA LEI N. 6.194/1974. INCIDÊNCIA. 1. A despeito da literalidade do art. 2º do Código Civil - que condiciona a aquisição de personalidade jurídica ao nascimento -, o ordenamento jurídico pátrio aponta sinais de que não há essa indissolúvel vinculação entre o nascimento com vida e o conceito de pessoa, de personalidade jurídica e de titularização de direitos, como pode aparentar a leitura mais simplificada da lei. 2. Entre outros, registram-se como indicativos de que o direito brasileiro confere ao nascituro a condição de pessoa, titular de direitos: exegese sistemática dos arts. 1º, 2º, 6º e 45, caput, do Código Civil; direito do nascituro de receber doação, herança e de ser curatelado (arts. 542, 1.779 e 1.798 do Código Civil); a especial proteção conferida à gestante, assegurando-se-lhe Especialista: Carlos Eduardo Ferreira de Souza Disciplina: Direito Civil souza.carlosadv atendimento pré-natal (art. 8º do ECA, o qual, ao fim e ao cabo, visa a garantir o direito à vida e à saúde do nascituro); alimentos gravídicos, cuja titularidade é, na verdade, do nascituro e não da mãe (Lei n. 11.804/2008); no direito penal a condição de pessoa viva do nascituro - embora não nascida - é afirmada sem a menor cerimônia, pois o crime de aborto (arts. 124 a 127 do CP) sempre esteve alocado no título referente a "crimes contra a pessoa" e especificamente no capítulo "dos crimes contra a vida" - tutela da vida humana em formação, a chamada vida intrauterina (MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal, volume II. 25 ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 62-63; NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. 8 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 658). 3. As teorias mais restritivas dos direitos donascituro - natalista e da personalidade condicional - fincam raízes na ordem jurídica superada pela Constituição Federal de 1988 e pelo Código Civil de 2002. O paradigma no qual foram edificadas transitava, essencialmente, dentro da órbita dos direitos patrimoniais. Porém, atualmente isso não mais se sustenta. Reconhecem-se, corriqueiramente, amplos catálogos de direitos não patrimoniais ou de bens imateriais da pessoa - como a honra, o nome, imagem, integridade moral e psíquica, entre outros. 4. Ademais, hoje, mesmo que se adote qualquer das outras duas teorias restritivas, há de se reconhecer a titularidade de direitos da personalidade ao nascituro, dos quais o direito à vida é o mais importante. Garantir ao nascituro expectativas de direitos, ou mesmo direitos condicionados ao nascimento, só faz sentido se lhe for garantido também o direito de nascer, o direito à vida, que é direito pressuposto a todos os demais. 5. Portanto, é procedente o pedido de indenização referente ao seguro DPVAT, com base no que dispõe o art. 3º da Lei n. 6.194/1974. Se o preceito legal garante indenização por morte, o aborto causado pelo acidente subsume-se à perfeição ao comando normativo, haja vista que outra coisa não ocorreu, senão a morte do nascituro, ou o perecimento de uma vida intrauterina. 6. Recurso especial provido. (REsp 1415727/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 04/09/2014, DJe 29/09/2014) 2) CONCESSÃO DE SALÁRIO-MATERNIDADE PARA RESGUARDAR A MÃE (ADOLESCENTE) E O NASCITURO, MESMO ANTES DE PREENCHIDO REQUISITO ETÁRIO DE CONCESSÃO: Especialista: Carlos Eduardo Ferreira de Souza Disciplina: Direito Civil souza.carlosadv PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. SALÁRIO-MATERNIDADE. TRABALHADORA RURAL MENOR DE 16 ANOS. ATIVIDADE CAMPESINA COMPROVADA. ART. 11, VII, c, § 6o. DA LEI 8.213/91. CARÁTER PROTETIVO DO DISPOSITIVO LEGAL. NORMA DE GARANTIA DO MENOR NÃO PODE SER INTERPRETADA EM SEU DETRIMENTO. IMPERIOSA PROTEÇÃO DA MATERNIDADE, DO NASCITURO E DA FAMÍLIA. DEVIDA A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. RECURSO ESPECIAL DO INSS DESPROVIDO. 1. O sistema de Seguridade Social, em seu conjunto, tem por objetivo constitucional proteger o indivíduo, assegurando seus direitos à saúde, assistência social e previdência social; traduzindo-se como elemento indispensável para garantia da dignidade humana. 2. A intenção do legislador infraconstitucional ao impor o limite mínimo de 16 anos de idade para a inscrição no RGPS era a de evitar a exploração do trabalho da criança e do adolescente, ancorado no art. 7o., XXXIII da Constituição Federal. 3. Esta Corte já assentou a orientação de que a legislação, ao vedar o trabalho infantil, teve por escopo a sua proteção, tendo sido estabelecida a proibição em benefício do menor e não em seu prejuízo, aplicando-se o princípio da universalidade da cobertura da Seguridade Social. 4. Desta feita, não é admissível que o não preenchimento do requisito etário para filiação ao RGPS, por uma jovem impelida a trabalhar antes mesmo dos seus dezesseis anos, prejudique o acesso ao benefício previdenciário, sob pena de desamparar não só a adolescente, mas também o nascituro, que seria privado não apenas da proteção social, como do convívio familiar, já que sua mãe teria de voltar às lavouras após seu nascimento. 5. Nessas condições, conclui-se que, comprovado o exercício de trabalho rural pela menor de 16 anos durante o período de carência do salário-maternidade (10 meses), é devida a concessão do benefício. 6. Na hipótese, ora em exame, o Tribunal de origem, soberano na análise do conjunto fático- probatório dos autos, asseverou que as provas materiais carreadas aliadas às testemunhas ouvidas, comprovam que a autora exerceu atividade campesina pelo período de carência exigido por lei, preenchendo todos os requisitos para a concessão do benefício. 7. Recurso Especial do INSS desprovido. (REsp 1440024/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/08/2015, DJe 28/08/2015) Especialista: Carlos Eduardo Ferreira de Souza Disciplina: Direito Civil souza.carlosadv QUESTÕES 1ª QUESTÃO – BANCA CESPE – DIPLOMATA (2018): Considera-se personalidade jurídica a capacidade in abstracto de ser sujeito de direitos ou obrigações, ou seja, de exercer determinadas atividades e de cumprir determinados deveres decorrentes da convivência em sociedade. a) Certo b) Errado Gabarito: Certo. Como vimos, a personalidade jurídica é a capacidade para ser sujeito de direitos ou obrigações. Sendo a parte final um meio de verificar se o candidato está atento, pois os direitos e deveres decorrem da convivência em sociedade. 2ª QUESTÃO – BANCA FCC – ADVOGADO / PREFEITURA DE TERESINA PI (2016): De acordo com o Código Civil, a personalidade civil da pessoa começa a) Com a concepção. b) Com o nascimento com vida. c) Aos 14 anos de idade. d) Aos 16 anos de idade. e) Aos 18 anos de idade. Gabarito: Letra B. Como vimos, o Código Civil adotou a teoria natalista, sendo certo que a personalidade jurídica surge do nascimento com vida.
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