Matemática, Cibernética e Palo Alto

Aula: Teoria Matemática, Cibernética e P alo Alto Parte 1 – Teoria Ma temática  A teoria matemá tica da comunicaçã o foi desenv olvida por Claude Shannon e Warren Weaver na década de 1940 e está lig ada a uma ideia mais funci onalista e mecanicista dos processos comun icativos.  Os dois estudios os criaram um modelo linear para o sistema de co municações. Es se modelo é represen tado pelo esqu ema: Fonte (emiss or) > Transmisso r/codificador (aparelho que trans mite mensag em) > Canal (meio) > Receptor/d ecodificador (aparelho) > Destina ção (instância recept ora). Há ainda a ocorr ência de Ruíd o, que afeta a transmissã o da mensag em.  O esquema pode s er resumid o da seguinte maneira : “A fonte de informação sel ecion a uma mensagem de sejada a partir de um conju nto de mensagens possíveis. [...]. O transmissor tran sforma esta mensagem num sina l que é enviado ao receptor at ravés do canal de comun icação.” (WEAVER apu d COHN, 197 1:27).  Cada um dos pontos t em uma função específi ca:  Fonte de infor mação: é a instância que tem contato com todas as mensagens possíveis e seleciona aquela qu e será trans mitida. Nas co municações interp essoais, p or exemplo, o cér ebro é a fon te de informaçã o. Na comunicação de massa, o jornali sta ou outro profissional d e comunicação a ssume este pap el.  Transmissor: é o responsável por transmitir a m ensagem, por codificar a inf ormação para um sistema entendido pelo recep tor. A fala pode assumir este pap el tanto na comunicação interp essoal quan to na de massa. Nes ta, o transmissor pode ser ta mbém a escrita, no caso de meios impress os. Podem ser, ainda, sistemas/e struturas técnicas que envolve m os meios de comunicação de massa e são nec essários para a transmissão da mensag em.  Canal: é por onde a mensag em é veiculada. Na co municação interpess oal, a voz representa este pap el. Na c omunicação de massa, são as bancas de jornal, os cabos de televisão, as ondas d o rádio.  Receptor: rec ebe e decodifica a mensagem para seu destinatário. Na c omunicação interpessoal, o ouvido é o recept or. Na comunicaçã o de massa, os apar elhos de televisão ou rádio, p or exemplo, pode m ser recept ores. Já no caso dos meios impressos, jornais ou revistas pode m ser considerad os recept ores; bem c omo o próprio olho human o, responsáv el pela leitura e decodificação da mensage m. Mesmo na comunicação mediada, olhos e ouvid os também pode m ser considerado s receptores.  Destino: é o de stinatário fi nal, àquilo/a quem a mens agem se direciona, é o obje to visado por ela. Na c omunicação int erpessoal, é quase sempre o cér ebro o destin atário, é onde a mensage m transmitida qu er chegar para que realment e se estabeleça um processo comunicati vo. A comunicação de massa se destina a u m público a mplo, mas também não deixa d e visar o cérebro des sas pessoas, atingi-lo é seu objeti vo má ximo. O cérebro pertenc e a pessoas, que, afin al, são os d estinatários das m ensagens.  Nesse esque ma proposto pela te oria, mais um ele mento é acr escentado: o ruído a que os processos de c omunicação sempr e estão sujeitos. O ruído é caracteriz ado por alguma coisa não pretendida pela fonte de informação mas que é acrescido ao sinal. Entre os exemplo s dados por Shan non e Weav er estão distorções de s om no telefone, nas formas ou tons d e uma imagem na tevê e int erferências no rádio. Para eles, o ruído estava ligad o a questões técnica s dos meios de comunicaçã o. Ainda não era vist o como ruído as diferent es cap acidades de interpreta ção dos ser es humanos e sua s subjetividades, que le vam a um entendiment o divergente daqu ele muitas vezes esperado pela fonte de informaçã o. A noção de ruído era c oncreta e não abstrat a.  Para eles: “as questõ es a serem estudadas nu m sistema de comunic ação dizem respeito à quantida de de informaçã o, à capacida de do canal de comun icação, ao processo de codifi cação utilizá vel para transformar u ma mensagem em um sina l, e aos efeitos do ruído” (WEAV ER apud COHN , 1971:28). Ou s eja, nenhum dos ele mentos citados envol ve o ser humano, que nã o é uma preocu pação da teoria matemática.  A teoria matemá tica enten de os processos c omunicativos de f orma técnica e funcionalista, por iss o, cria uma série de fórmulas par a ele, co mo:  “Esse teorema se refere a u m canal de comunic ação com uma capaci dade de C unidades por segundos, qu e aceita sina is de uma font e de informação de H unida des por segundo. O teore ma estabelece que, pela criação de processos ad equados de codificaçã o para o transmissor, é possível tran smitirem-se símbol os através de um canal a uma proporção média equivalente, aproxi madamente, a C/H, mas que nunca pode exceder C/H , po r mais engenh osos que seja o cód igo” (pág.30);  Estabelecendo uma fórmul a matemática, o s autores querem d izer que a quan tidade de informação tr ansmitida por um canal nunca p ode ultrapassar sua capacidade, independentemente da capacidad e da fonte. Assim send o, é criada uma espécie de média entre aquil o que o can al recebe da fonte e sua capacidade de trans missão, qu e equivale à quantidad e de mensagem que será trans mitida. Essa fórmula só funciona para canais ideais, se m ruído.  “A capacida de de um canal afetad o por ruído é definid a como equiva lente à taxa máxima na qual infor mações úteis (isto é, incerteza total menos incerteza do ruído) podem ser transmi tidas pelo ca nal” (pág 31);  “E essa incerteza ind esejáv el – esse ruído ou ‘equí voco’ – será se mpre igual ou maior que H menos C ” (pág 3 2). – Ou seja, seria possível quantificar o grau de inc erteza n o entendimento da mensagem compara ndo as unid ades de sinal de uma fonte de informação c om as unidades de transmi ssão de um c anal.  “Esse poderoso t eorema fornece uma descrição p recisa e quase as sustadorament e simples da fidedignid ade má xima possível de obte r de um cana l de comunicaçã o que opera na presença de ruído. É preciso pensar muito e considerar muita s aplica ções, até se compreende r inteiramente co mo esse teorema, admiravelmente comp acto, é realmente podero so e geral” (pág32).  A teoria matemá tica foi desenv olvida nos laborat órios de pesqu isa da empresa AT&T, nos Estados Unidos, est á muito ligad a e é bastante influenciada pela eng enharia. É uma teoria feita por engenh eiros para engenheir os. Isso explica sua visã o linear, técnica e funci onalista dos process os comunicati vos:  “N a teo ria matemática da comunica ção, preocupamo-nos não co m o significado de mensagens individua is, mas com toda a natureza e statística da fon te de informaç ão. Assim, não é de surpr eender que a ca pacidade de um canal de comun icação deva ser descrita em termos de quantidade de informação que ele pode transmitir, ou melhor, em termos de sua ca pacidade de t ransmitir aquilo q ue é produzid o a partir de um a fonte de informaçã o dada” (pág 32);  “O significado nã o a preocupa [a teoria técnica ], seja ele triste, aleg r e ou embara çoso, mas ela tem que sab er enca minhar adequadamente todas as men sagens que pa ssam por suas mãos” (pág 35). Parte 2 – A ciberné tica  Na mesma época da pu blicação das teorias de Sh annon e Weaver, no final da dé cada de 1940, Norbert Wiener p ublica seu primeiro es tudo sobre a cib ernética – uma ciência focada n os estudos sobre a s formas de controle e regu lação dentro de sistemas complexos. Ela surg e como um desdobra mento da te oria geral dos sist emas, nasc ida na biologia ao fim d o século XI X e que ecoou na economia (sistema econ ômico), na fisiologia (sistem as respirat órios), na astrono mia (sistema solar) e na sociol ogia (compreensão dos f enômenos sociais).  Para Wiener, as s ociedades modernas se organ izam em torn o da informação – matéria-prima abstrata e essencial à vida contemp orânea. Poré m, no centr o deste pensamento está a id eia de entropia, tr azida da Física , que aborda a t endência da natureza de destruir a organiz ação dos sistemas e pro mover a degradaç ão biol ógica e a desordem.  O autor considera a entropia um ris co real; e a livr e circulação d e informação, be m como as máquinas qu e a tratam e as redes que el a tece, sã o as únicas f ormas de impedir a tendência à entropia nos sist emas sociais.  “A soma de info rmação em um sistema é a medida de seu grau de o rganização; a entropia é a medida de seu grau d e desorganizaçã o” (WIENER apud MATTELART, 1999:66).  A base da teoria dos sistemas está nos princípios de manutenção da ordem, por um lado, e de tendência à entropia, por outro. Para Wien er, a estrutura das máquinas e das sociedades nã o se diferencia muito, sendo basica mente formad a por sistem as e subsistemas em p ermanente inter ação.  Outros princípios i mportantes sã o o de retroaç ão e o de regu lação: a partir da circulação de cont eúdos dentro de um sistema, geram -se retornos ( feedb ack ) de informação que ajud am a manter a estabilidade d o sistema e a c orreção de eve ntuais falhas. A informaçã o transmitida n o interior d e um siste ma circula e é de volvida para ele com vistas à es tabilizaç ão.  Para Wiener, t oda informação deve poder circular, e a sociedade da inf ormação depende desta troca sem barreiras para se cons olidar. No centro disso está a problemática dos meios de co municação e seu controle: segu ndo o autor, esse sistema (o dos mass media ) é o que mais dev e contribuir para a ho meostase social, mas, se cair nas mãos dos que se preocupam “com o poder e o din heiro”, há o risco de degra dação e impedimento à li vre circu lação de informaçã o.  Wiener não tinha a vi são mecanicista de Shannon e W eaver, embora t enha bastante influência da física e da biologia. Esse estudios o começa a c onsiderar outros fa tores envolvidos nos pro cessos c omunicativos, que deixa m de ser vist os como linear es, como faz a teoria matemát ica. A comunicação passa a ser entend ida como um si stema de circulação de conteúdo originário de diferentes partes e capaz de gerar retornos dos sujeitos envol vidos no process o. Na verdade, Wi ener não foi o primeiro a pensar dessa forma, mas suas ideias m erecem destaq ue para o cont exto de então, em que o modelo de Shann on e W eaver ascend ia como “o ” modelo para análi se dos processos comunicativos. Parte 3 – A escola de Palo Alto  A escola de Palo Alt o começou a se de senvolver na mesma época dos estud os de Shannon, Weaver e Wiener, mas se dif erencia ampla mente deles. O grande objetivo desses estudiosos era resgatar o sentido origin al da palavra c omunicação: “parti cipar a”, “partilhar”. Na ép oca, o sentido de comunicaçã o que prevalecia era o de “transmitir”, criad o no séc ulo XVIII com o surgi mento dos meios de co municação de massa. Era dessa segun da forma que Sh annon e Wea ver viam a comunicação.  Est a escola ta mbém é cha mada de “colégi o invisível”, já qu e seus membro s estavam dispersos fisica mente pelo amplo território n orte-americano. Usa vam telefone, cartas, visitas esporádicas dire tas ou indiretas - quando usavam os estudantes para isso - para se comunicar e f azer com q ue seus estudos circulas sem en tre eles. Progressiva mente, diversos membro s do colég io se instalam em Palo Alto, uma cidadezinha da perif eria de São Francisco, próxim a à Universid ade de Stanford . Daí o título da escola.  Seus membros era m das mais divers as áreas: biol ogia, medicina (inclusive psiquia tras), sociologia e antrop ologia, princip almente.  Tomaram como ponto de partida o m odelo circular (re troação) de Wiener para desenvolver u ma visão orquestral da c omunicação, e m lugar da telegráfi ca - mecanicista e linear. Para eles:  “A analogia da orquestra tem por ob jetivo mostrar co mo podemos dizer que ca da indivíduo pa rticipa da comunica ção, mais do que é a s ua origem ou ponto de cheg ada” (WINKIN, 1998:3 3).  “N ão nos comu nicamos, pa rticipamos d e comunicação” (BIRDWHIST ELL apud WI NKIN, 1998:14);  Para esta escola, o modelo de Shannon e Wea ver deve ficar concentrado nas áreas ligadas à engenhari a das telecomun icações, pois a c omunicaçã o deve ser estuda da nas ciências humanas a par tir de um modelo pr óprio para ela desen volvido. Ess e modelo precisa levar em conta inte rações sociais e cultura is que naturalm ente envol vem os processos comunicati vos hu manos:  “É em termos de níveis de c omplexidade , de c ontextos múltipl os e de siste mas circulares que é pr eciso conceb er a pesquisa sobr e a comunic açã o” (WINKIN, 199 8:33).  Os membros desta escola passaram a considerar, ainda, outros ele mentos que influenciam a comun icação, com o os gestos, o silênci o, o olhar, o toque, etc. Mai s importante, ainda, é qu e esses ele mentos passaram a ser vist os de forma integra da, considerando as influência s que um ex ercesse sobre o outro:  A comunicaçã o, portanto, é para es ses autores um pr ocesso social pe rmanente q ue integra múltiplos mod os de comp ortamento: a fala , o gesto, o olha r, a mímica, o espaço interindividu al etc. Não se t rata de fazer uma oposiçã o entre comunicaçã o verbal e a “comunica ção nã o verbal: a comunicação é um t odo integrad o” (WINKIN, 1998:32)  Esta escola propõe uma análise de co ntexto no lugar de uma análise de conteúdo . A cultura, o meio, o c ontexto em que os participantes da comunicaçã o estã o inseridos tê m influência sign ificativa nesse pr ocesso.  Os processos de aprend izagem e interação cultural , al iás, foram grandes objetos de estudo da escola, cujos membros acreditava m que o estud o do campo cultural era da alçada da comunica ção; pois “a comunicação é a r ealização (performance) das estruturas sociais” (SCHEFL EN apud WIN KIN, 1998:1 12).  Nesse sentido, para os estudiosos de Palo Alto, a m enor situação de int eração é complexa demais para s er redu zida a duas ou mais var iáveis que opera m de forma linear. Eles se conc entram em analisar uma situaç ão global de int eração e não ap enas algumas variáveis t omadas isolada mente:  “À noção de comunic ação isola da como ato verba l conscien te e voluntário, que subjaz à teoria funcionalista, op õe-se a ideia da comu nicação como processo socia l permanente que integ ra múltiplo s modos de comport amento: a fala, o ges to, o olha r, o espaço interindividu al” (MATTELART, 1999:70).

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