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Apostila completa - TGP 2018

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TEORIA GERAL DO PROCESSO Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
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PUC GOIAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA GERAL DO 
PROCESSO 
Profª Evelyn Cintra Araújo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2018 
TEORIA GERAL DO PROCESSO Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
1 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Se pudéssemos conceituar Direito diríamos que é “o conjunto das normas gerais e 
positivas que regulam a vida social”. 
Portanto, o principal objetivo do Direito é harmonizar as relações sociais 
intersubjetivas; é tornar possível a vida em sociedade, conferindo-lhe ordem (ubi jus ibi societas 
– não há direito sem sociedade) através de regras de conduta dotadas de coercibilidade. 
Estabelecido o direito objetivo, faz nascer, por outro lado, a prerrogativa ou a 
faculdade individual de exigir o cumprimento dos preceitos que lhe diga respeito. Portanto, se 
a norma diz que “todos são iguais”, surge para cada um o direito de ser tratado sem 
discriminação. Fala-se, então, em direito subjetivo. 
A facultas e a norma são os dois lados de um mesmo fenômeno: um é o aspecto 
individual, o outro o aspecto social. Qualquer direito pode ser apreciado pelo lado do 
indivíduo, que dele extrai uma segurança jurídica ou uma função, como pelo lado do 
agrupamento social, que institui uma regra de conduta. 
O direito subjetivo manifesta-se através de uma relação jurídica, a qual pressupõe um 
sujeito, que é o ser a quem a ordem jurídica assegura um poder ou um dever de agir; um 
objeto, que é o bem ou a vantagem sobre a qual o sujeito exerce tal poder ou dever; e um 
vínculo, que é o liame que une ambos os sujeitos ou partes entre si e estes com o objeto, 
formando a relação jurídica. 
A vida em sociedade produz uma série de relações, que, quando protegidas pela 
ordem jurídica, transformam-se em relações jurídicas, como o casamento, o emprego, o 
aluguel de um imóvel etc. Todas elas são motivadas pelo desejo de satisfazer um direito 
subjetivo1, ou seja, uma necessidade, um interesse (formar uma família, ganhar dinheiro, ter um 
lugar para morar etc). Quando isso ocorre fala-se em relação jurídica material. 
Mas pode acontecer que, numa relação jurídica material entre A e B, os interesses 
sejam opostos; por exemplo, A quer manter o casamento, mas B não. Surge, então, um conflito 
de interesses, ou seja, um “choque de duas ou mais vontades sobre o mesmo objeto”. 
Nesse momento, se A insiste em manter a sua posição, exigindo que B subordine ao 
seu interesse, surge o que chamamos de pretensão. Pretensão, portanto, é “a exigência de 
subordinação de um interesse alheio ao próprio.” 
Se B ceder, o conflito é resolvido pela satisfação da pretensão de A. 
 
1 Para Ihering, direito subjetivo é o “o interesse juridicamente protegido”. 
TEORIA GERAL DO PROCESSO Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
2 
 
Porém, se B resiste, nasce uma lide, que, no conceito brilhante de Carnellutti, nada 
mais é que “um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida”. 
Nesse momento ENCERRA O PLANO DE DIREITO MATERIAL2... 
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 
Acontece que, quando o Estado se estruturou e passou a dotar-se de maior poder, 
trouxe para si a responsabilidade de ditar a solução para os conflitos de interesses, proibindo 
qualquer espécie de justiça privada (atualmente, excepcionalmente, admite-se a autotutela, 
como o desforço imediato, a legítima defesa e a greve). 
O Estado assume, assim, o monopólio da JURISDIÇÃO (que significa dizer o direito 
no caso concreto), exercido precipuamente por um de seus poderes – o Poder Judiciário. 
Como conseqüência da previsão desse direito objetivo à jurisdição (aliás, consagrado 
a nível constitucional – art. 5º, inciso XXXV – “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário 
lesão ou ameaça a direito”), ofertou-se ao indivíduo, que não podia mais realizar o seu interesse 
através da própria força, o poder, a prerrogativa, a faculdade, o direito subjetivo de bater às 
portas do Judiciário para exigir a solução do litígio que porventura pudesse estar envolvido. 
Tal direito subjetivo de provocar a jurisdição denominou-se direito de AÇÃO. Mas, 
como ele é exercido? 
O direito de ação é exercido através de um ato processual chamado demanda. 
Portanto, demanda é o ato processual pelo qual o autor exercita o direito de ação. Este ato 
materializa-se através de um instrumento denominado petição inicial. 
Mas, assim como se assegura ao autor o direito à tutela jurisdicional, o qual é 
exercido por meio do direito de ação, ao réu é garantido direito correlato, dando-lhe a chance 
de receber a prestação jurisdicional (direito à análise do mérito; de preferência, no sentido de 
improcedência do pedido do autor – tutela jurisdicional negativa). A este direito dá-se o nome 
de direito à defesa, previsto constitucionalmente no art. 5º, LV. 
O direito de defesa é exercido através de alguns atos, quais sejam, a contestação, a 
reconvenção e as exceções, os quais se materializam também através de uma petição, que, por não 
mais ser inicial, é chamada genericamente de petição interlocutória. Contestação (assim como os 
demais atos da defesa) não é, portanto, a petição da contestação, mas sim o ato processual 
 
2 As leis classificam-se, quanto à sua natureza, em materiais ou substanciais (as que regulam o direito em si) e 
formais ou processuais (modo de realização da lei material - atos processuais). 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
3 
 
pelo qual o réu exerce o direito de defesa, se opondo, formal e/ou materialmente, à pretensão 
do autor. 
Oportunizado ao réu o direito de defesa, independentemente se ele o tenha exercido 
ou não através de quaisquer daqueles atos, tem-se por formado o PROCESSO completamente. 
Assim, o processo poder ser entendido como sendo a relação jurídica de direito 
público (processual) que une autor, juiz e réu, e que se exterioriza e se desenvolve pela 
seqüência ordenada de atos com vistas a um fim, qual seja, a sentença. 
 O processo será civil (ou de natureza cível, como queira) se a lide posta em juízo se 
instaurou em virtude de qualquer ramo do direito que não seja trabalhista ou penal (que 
possuem processos próprios correlatos, a saber, processo do trabalho e processo penal), ou 
seja, em virtude de um direito pertencente ao Direito Civil, Empresarial, do Consumidor, 
Tributário etc. 
 Para regular o processo, o Estado criou um conjunto de normas jurídicas que formam 
o chamado Direito Processual, também denominado de formal ou instrumental, por servir de 
forma ou instrumento de atuação da vontade concreta das leis de direito material ou 
substancial, que solucionarão as lides colocadas pelas partes em juízo. 
 
1.1 Conceito de Direito Processual Civil 
 
 A bem da verdade, Direito Processual é um só. A divisão em sub-ramos (Processo 
Civil, Processo Penal, Processo do Trabalho etc) e suas respectivas legislações são de ordem 
prática e didática, conforme a natureza da lide posta em juízo. 
 Todavia, se pudéssemos individuar e conceituar, diríamos, com auxílio da doutrina 
mais robusta nessa matéria, que Direito Processual Civil é “o complexo de normas e princípios 
que regem o exercício conjunto da jurisdição pelo Estado, da ação pelo demandante e da 
defesa pelo demandado” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO). 
 Ou, ainda: “é o ramo da ciência jurídica que trata do complexo das normas 
reguladoras do exercício da jurisdição civil”. (AMARAL SANTOS). 
 Por fim, uma das melhoresconceituações é a trazida pelo processualista italiano 
Chiovenda, para quem o Direito Processual Civil é “o ramo da ciência jurídica que trata do 
complexo das normas reguladoras do exercício da jurisdição civil” (CHIOVENDA). 
 É, portanto, ramo do direito público, não se confundindo com o direito material que 
instrumentaliza (este normalmente pertencente ao direito privado, p. ex., D. Civil), devendo, 
TEORIA GERAL DO PROCESSO Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
4 
 
portanto, sempre ser afastada a denominação direito adjetivo, por aludir a uma relação de 
dependência do direito processual para com o direito material, o que, na verdade, não existe. 
 Enquanto o direito material cuida de estabelecer as normas que regulam as relações 
jurídicas entre os particulares, o direito processual visa regular uma das funções soberanas do 
Estado (função jurisdicional). Dessa forma, ainda que a lide seja eminentemente de interesse 
privado, há no processo sempre um interesse público, qual seja, a pacificação social e a 
manutenção da ordem jurídica. 
 
1.2 Evolução Histórica do Direito Processual Civil 
 
 A história do Direito Processual Civil, assim como toda a Ciência Jurídica, encontra 
suas bases no Direito Romano, cujo processo se desenvolveu em 3 fases, que, em seu conjunto, 
denominou-se de IMANENTISTAS (direito processual imanente, dependente do direito 
material): 
 
a) primitiva ou das legis actiones (das ações da lei) => havia 5 ações da lei, as quais deviam ser 
manejadas pelas partes com muito rigor e formalismo, sob pena de perder a demanda caso se 
equivocasse em uma palavra ou gesto (não havia advogados). 
b) período formulário => com a expansão do Império, o manejo das 5 ações da lei ficou 
limitado. O magistrado, agora, examinava a pretensão do autor e a defesa do réu, e concedia 
uma fórmula de ação capaz de compor especificamente o conflito (ele fixava o objeto do 
conflito, cabendo ao árbitro, escolhido entre os cidadãos, o julgamento da causa – semelhante 
ao instituto do Júri Popular). Já havia advogados e princípios do livre convencimento do juiz e 
do contraditório. 
c) fase da cognitio extraordinária => desaparecem os árbitros, surgindo a figura do juiz como o 
único investido do poder jurisdicional. O procedimento passa a ser eminentemente 
ESCRITO, compreendendo desde o pedido do autor até a sentença e sua execução. 
 Porém, com a queda do Império, já no período medieval, o processo civil sofreu um 
retrocesso ao ser influenciado pelo direito do povo bárbaro-germânico, caracterizado pelo 
formalismo exacerbado, fanatismo religioso e misticismos. Foi nesse contexto que surgiram os 
chamados “juízos de Deus”, “duelos judiciais” e “ordálias”. 
 O processo era FORMAL, e as provas produzidas deviam ser interpretadas segundo 
regras legais, não possibilitando qualquer participação do juiz. Este só reconhecia o 
TEORIA GERAL DO PROCESSO Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
5 
 
cumprimento/realização da “prova” e fixava a sentença segundo as regras do direito positivo. 
Não se buscava a verdade real, mas a formal, pois se acreditava na INTERFERENCIA DIVINA 
nos julgamentos (autênticos jogos de azar ou rituais de bruxaria). 
 Entretanto, com o fim de preservar o direito romano, surge o Direito Canônico e o 
direito desenvolvido pelos glosadores nas Universidades, que, em conjunto com o direito 
germânico, formaram o chamado PROCESSO COMUM, que vigorou desde os séculos XI até 
XVI. 
O processo comum era escrito, lento e extremamente complicado. Mas, dele se 
extraíram as características que, aperfeiçoadas, inspiraram o processo moderno. Foram 
abolidas as ordálias e juízo de deus, mas a tortura continuou até o século passado, como meio 
de obtenção da verdade. Somente após a Revolução Francesa retomou-se o conceito de livre 
convencimento do juiz, relativamente às provas, eliminando a tarifa legal, primeiramente no 
processo penal, depois no civil. 
 Além dessas 3 fases, o Direito Processual Civil conheceu outras duas: 
- CIENTÍFICA ou MODERNA (expoentes: Calamandrei, Chiovenda, Carnelutti, Liebman): 
emergida no século passado, com ela desenvolveu-se a teoria do processo como relação 
jurídica, e não mais como contrato; o direito processual passou a ser compreendido como 
ramo autônomo e público; as provas deixaram de ser tarifadas e passaram a ser valoradas pelo 
juiz segundo critérios próprios (deixando de atuar como expectador da vitória do mais hábil), 
tendo amplos poderes, inclusive, na sua produção; etc. 
 
- INSTRUMENTISTA ou ATUAL: processo passa a ser visto como instrumento não só de 
realização dos interesses particulares, como também de pacificação social e realização da lei. 
Mas, apesar de instrumental (meio para se atingir um fim – solução do litígio), exige-se que o 
processo seja efetivo, realizador de justiça, em tempo hábil e com o menor dispêndio possível. 
 Pode-se dizer, resumidamente, que o processo de hoje e do futuro buscam: facilitação 
do acesso à justiça; duração razoável do processo; instrumentalidade; tutela de interesses 
coletivos e difusos; universalização; constitucionalização do direito processual; e efetividade 
do processo (GONÇALVES, 2015, p. 44). 
 
1.2.1 Direito Processual Civil Brasileiro 
 
Até a independência (1822), vigorou no Brasil a legislação portuguesa, consistente 
nas chamadas Ordenações do Reino (Ordenações Afonsinas, de D. Afonso V, de 1446; as 
TEORIA GERAL DO PROCESSO Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
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Ordenações Manuelinas, de D. Manuel, de 1521; e as Ordenações Filipinas, de Filipe II, de 
1603). Tinham por principais características: 
a) forma escrita, o juiz só podia apreciar o que estava nos autos (verdade formal); 
b) as partes não participavam da inquirição de testemunhas; 
c) princípio do dispositivo: autor e réu eram os donos do processo, cuja movimentação era 
privilégio das partes. 
 Em 1850, o Brasil editou o Regulamento n. 737, o primeiro Código Processual 
nacional, que visava regular apenas as causas comerciais. Já no período republicano, o 
referido regulamento alcançou também as causas cíveis, por força da alteração dada pelo 
Regulamento n. 763, de 1890. 
 Logo após, em 1891, a Constituição estabeleceu a divisão da Justiça Federal e 
Estadual, e, consequentemente, o poder de legislar sobre processo para cada esfera da 
federação, dando surgimento a um Código Federal e a vários Códigos estaduais, que acabaram 
por ser repetições do primeiro. 
 Todavia, a Constituição de 1934 pôs fim aos códigos estaduais, atribuindo 
exclusivamente à União a competência para legislar sobre processo. Desta feita, uma comissão 
foi formada para a elaboração de um código unitário, o que redundou no surgimento de nosso 
primeiro CPC (Código de Processo Civil) em 1939. 
 Como bem nos ensina Sérgio Bermudes (apud THEODORO JR, 2007, p. 17), havia no 
CPC de 39 “uma parte geral moderna, fortemente inspirada nas legislações alemã, austríaca, 
portuguesa e nos trabalhos de revisão legislativa da Itália, e uma parte especial anacrônica, 
ora demasiadamente fiel ao velho processo lusitano, ora totalmente assistemática”. 
 Após 33 anos em vigor, o CPC foi totalmente reformado, com base no Anteprojeto do 
Ministro Alfredo Buzaid, destaque da Escola Paulista de Direito e discípulo direto do 
processualista italiano Enrico Tullio Liebman (radicado no Brasil no período da 2ª Guerra 
Mundial, viendo aqui falecer). Daí surgiu o nosso atual CPC, a Lei n. 5869, de 11.01.1973, que é 
composto de 5 Livros: 
- Livro I: Do Processo de Conhecimento; 
- Livro II: Do Processo de Execução; 
- Livro III: Do Processo Cautelar; 
- Livro IV: Dos Procedimentos Especiais; 
- Livro V: Das disposições geraise transitórias. 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
7 
 
 O CPC vigente sofreu, ao longo de sua vigência, diversas alterações e reformas, todas 
na tentativa de se alcançar, conforme prega os instrumentalistas, um processo mais efetivo 
possível. O propósito foi abandonar a preocupação exclusiva com conceitos e formas, tão nos 
bem ensinado pela tradição romana e lusitana, para dedicar-se à busca de um processo de 
resultados, prevendo, por exemplo, uma tutela antecipada generalizada nos processos de 
conhecimento; a execução das sentenças no mesmo processo de conhecimento; o 
procedimento monitório; o poder geral de efetivação; os poderes dados ao relator frente, em 
especial, da afronta aos precedentes jurisprudenciais etc. 
 Todavia, tantas reformas e as mudanças próprias da sociedade tornaram 
recomendável a edição de um novo código. 
 Assim, por iniciativa de uma comissão de juristas, presidida pelo então Ministro do 
STF, Luiz Fux, foi levado ao conhecimento do Senado Federal, em 2010, o Projeto de Lei nº 
166, que, depois de passar pelas 2 casas legislativas, foi aprovado em dezembro de 2014 e 
sancionado pela Presidente da República em março de 2015, convertendo-se na Lei n. 
13.105/15 – o NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL/NCPC, com vigência prevista para o dia 
18/03/16. 
 Dentre as alterações, pode-se destacar tanto a de cunho organizacional, com a 
previsão inédita de uma parte geral e uma parte especial, quanto a de cunho material, com o 
maior rigor nas fundamentações judiciais; a unificação das tutelas cautelar e antecipada sob a 
rubrica “tutelas de urgência”; a consagração de um processo sincrético; a força dos 
precedentes judiciais; o fortalecimento dos meios de solução consensual dos conflitos; o fim 
do juízo de admissibilidade pelo juízo de origem nos recursos; a solução coletiva de ações e 
recursos repetitivos, evitando o abarrotamento dos tribunais com causas que contém a mesma 
questão de direito; além da incorporação em seu texto entendimentos já consagrados na 
doutrina e na jurisprudência do STJ e do STF. 
 Assim, o NCPC tem a seguinte configuração: 
- PARTE GERAL (dedicada à formulação de regras sobre as Normas Processuais Civis. 
Contém princípios e regras gerais, aplicáveis a todos os tipos de processo): está dividida em 6 
Livros, quais sejam: 
=> Livro 1: trata das Normas Fundamentais do Processo Civil; 
=> Livro 2: da Função Jurisdicional; 
=> Livro 3: dos Sujeitos do Processo; 
=> Livro 4: dos Atos Processuais; 
=> Livro 5: da Tutela Provisória; 
TEORIA GERAL DO PROCESSO Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
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=> Livro 6: da Formação, Suspensão e Extinção do Processo. 
- PARTE ESPECIAL: contém 3 Livros, a saber: 
=> Livro 1: do Processo de Conhecimento (tanto procedimento comum, como 
procedimentos especiais, de jurisdição contenciosa e de jurisdição voluntária); 
=> Livro 2: do Processo de Execução; 
=> Livro 3: dos Processos nos Tribunais e os Meios de Impugnação das Decisões 
Judiciais. 
- LIVRO COMPLEMENTAR: das Disposições Finais e Transitórias 
 
1.3 Fontes 
 O termo "fontes" provêm de fontos, expressão latina que significa "lugar de onde 
perenemente nasceu", "nascente de água". Em sentido figurado, fonte é a origem de algo, causa, 
motivação. 
 Fonte do Direito seria, portanto, a origem do Direito, o seu nascedouro. Trata-se dos 
fatores reais que condicionaram o aparecimento da norma jurídica, seja elas quais forem 
(princípios morais, políticos, pareceres, teorias etc), desde que influenciem na criação e 
aplicação do direito. 
 Fontes do Direito Processual são os lugares de onde provém este ramo do Direito, 
dentre os quais podemos destacar: 
 
a) Constituição Federal => nela se encontram as normas fundamentais aplicáveis ao processo, 
especialmente no rol do art. 5º, como, por exemplo, os princípios do devido processo legal 
(inc. LIV), do contraditório e da ampla defesa (LV), da acessibilidade ao Judiciário (XXXV), 
da proibição de obtenção de provas ilícitas (LVI), da celeridade ou da duração razoável do 
processo (LXXVIII), além de regras acerca da organização e competência de julgar processos, 
em única ou última instância, pelos juízes e tribunais (arts. 102 e ss). 
Destaque-se o fato de o NCPC ter incorporado praticamente todos estes princípios 
constitucionais, fortalecendo e consagrando um sub-ramo do Direito Processual: o Direito 
Processual Constitucional3 (consiste num conjunto de normas de índole processual que se 
encontram na Lei Maior, objetivando garantir a sua aplicação e a sua supremacia. Ex: previsão 
do mandado de segurança, mandado de injunção, recurso extraordinário). 
 
3 Certo é que se tem falado também do contrário, ou seja, de um Direito Constitucional Processual, consistente 
num conjunto de normas de índole constitucional que visam garantir o processo, assegurando que este seja mais 
justo. 
TEORIA GERAL DO PROCESSO Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
9 
 
 Por fim, vale lembrar, ainda, das emendas constitucionais. À guisa de exemplo, 
podemos citar a EC 62/2009, que trata do novo regime dos precatórios, e a EC 66/2010, que 
instituiu o divórcio direto, independentemente do prazo de separação. 
 
b) Leis Federais => a mais importante é a Lei n. 5.869/73, ou seja, o CPC, que está prestes a ser 
substituído pelo então NCPC, a Lei n. 13.105/2105. Mas há outras também relevantes como a 
Lei 6.515/77 (lei do divórcio), Lei n. 6.830/80 (execução fiscal); Lei n. 8.245/91 (lei da 
locação/despejo); a Lei n. 9.099/95 (Juizados Especiais Cíveis); Lei 12.016/09 (novo mandado 
de segurança), etc. 
c) Leis Estaduais => as leis estaduais relativas ao processo são suplementares às federais, que 
são gerais, pois a competência para legislar sobre Direito Processual é de exclusividade da 
União. Sendo assim, cabem aos Estados legislar apenas sobre procedimentos administrativos 
de apoio ao processo, como, por exemplo, regras acerca da publicação dos atos processuais na 
imprensa oficial local. 
 Todavia, calha lembrar que, no que se refere aos Juizados Especiais (art. 24, X, CF), 
têm os Estados e o DF competência concorrente com a União para legislar sobre processo, 
desde que não sejam contrárias às normas gerais (instituídas na Lei 9.099), e, nessa hipótese, 
não há como se negar à lei estadual o caráter de fonte do Direito Processual. 
 
d) Regimentos Internos dos tribunais => são conjuntos de normas que regem o 
funcionamento interno dos tribunais. Tais atos normativos podem conter normas atinentes ao 
procedimento. Ex:. embargos de divergência (art. 1.043, NCPC), cujo procedimento é o 
estabelecido nos RI’s do STJ e do STF. 
 
e) Princípios Gerais do Direito => são regras não escritas que se encontram presentes em todo 
o sistema, informando-o. Exs:. ‘O Direito não socorre os que dormem’ – primado geral presente em 
institutos como os da prescrição, decadência, preclusão; ‘O que não está nos autos não existe no 
mundo jurídico’ ou ‘Alegado e não provado é como não alegado’ – deles derivando regras como a do 
ônus da prova (art. 333), a do livre convencimento motivado (art. 131) etc. 
Obviamente, não se pode esquecer que dos princípios gerais derivam os específicos, 
aplicáveis a todo o Direito Processual, inclusive o Civil, tais como: devido processo legal, 
contraditório e ampla defesa, isonomia processual e paridade de armas, cooperação entre as 
partes, da duração razoável do processo etc. 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
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f) Costumes => conduta socialmente aceita e que é realizada para criar uma sensação de 
obrigatoriedade. Ex:. por força do dispostonos arts. 282, inc. VI e art. 300, do CPC/73, autor e 
demandado devem anunciar, de maneira específica, na petição inicial e na contestação, 
respectivamente, as provas que pretendem produzir. Há, porém, um hábito de muitos 
advogados de descumprir esse comando, anunciando apenas que pretendem produzir ‘todos os 
meios de prova admissíveis no direito’. Por conta dessa práxis (costume), os magistrados, após o 
encerramento da fase postulatória, tem determinado às partes que especifiquem as provas que 
pretendem produzir. 
g) Doutrina => conjunto de lições ou obras dos jurisconsultos acerca do Direito Processual 
Civil, desde os mais tradicionais aos mais de vanguarda. Exemplos: Moacyr Amaral Santos; 
Ernane Fidélis dos Santos; Athos Gusmão Carneiro; José Frederico Marques; Ovídio Baptista 
da Silva; Humberto Theodoro Jr.; Nelson Nery Jr; Cândido Rangel Dinamarco; Ada Pelegrini 
Grinover; Arruda Alvim; Sérgio Scarpinella Bueno; Luiz Guilherme Marinoni; Eduardo 
Talamini; Elpídio Donizete; Luiz Rodrigues Wambier; ; Marcos Vinicius Rios Gonçalves; José 
Carlos Barbosa Moreira; Fredie Didier Júnior; Alexandre Freitas Câmara; Daniel Amorim; 
Luiz Fux; Thereza Arruda Alvim Wambier etc. 
 
h) Jurisprudência => decisões reiteradas dos pretórios nacionais sobre idêntica matéria. É 
inegável a força das súmulas da jurisprudência dominante dos tribunais, principalmente dos 
superiores, que, no nosso atual sistema, são capazes de fazer recursos fracassarem 
precocemente (não tendo o seu mérito sequer apreciado pelo tribunal- art 557) ou terem seus 
méritos julgados procedentes (providos) monocraticamente pelo relator (art. 557, §1º-A); ou, 
ainda, de considerar uma causa com repercussão geral, para fins de conhecimento de recurso 
extraordinário (art. 543-A, §3º, CPC/73) etc. 
Aliás, convém registrar que, com o novo CPC, a força dos precedentes jurisprudenciais 
ganhou maior intensidade, vez que o próprio art. 557 foi profundamente alterado pelo art. 932 
do NCPC, que confere maiores poderes ao relator. Agora, este, mais do que impedir que o 
recurso seja julgado, está autorizado a indeferi-lo (o correto é dizer: negar o seu provimento), 
definitivamente, caso o mesmo esteja contrário a súmulas do STJ ou do STF, ou a acórdão 
proferido em julgamento de recursos repetitivos. 
 
 
 
 
 
TEORIA GERAL DO PROCESSO Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
11 
 
1.4 Princípios 
 
 Como qualquer outra ciência jurídica, o Direito Processual Civil está sujeito a 
princípios norteadores de todo o desenvolvimento da disciplina e tais primados servem de 
orientação segura a interpretação dos institutos que integram o campo de atuação da ciência, 
sendo certo que os mais importantes princípios processuais encontram-se consagrados na Lei 
Maior, por onde iniciaremos o nosso estudo. 
 
1.4.1 Princípios Constitucionais do Direito Processual 
 
a) Devido Processo Legal (Due Processo f Law) 
 É o princípio dos princípios, pois dele irradiam os demais, estando prescrito no inciso 
LIV do art. 5º da CF/88. 
 Tem origem no Direito Inglês, especificamente na Magna Carta de 1215, do Rei João 
Sem Terra, sob a cláusula due process of law, que, traduzida pela doutrina pátria, significa 
‘devido processo legal’. 
 Surgiu como garantia de índole exclusivamente processual, assegurando aos 
jurisdicionados o trâmite de um processo conforme as regras processuais vigentes (devido 
processo legal formal). 
Mas, depois, passou a ter um aspecto de direito material, o que levou a doutrina a 
considerar a existência de um devido processo legal substancial, que deve ser entendido 
como uma garantia ao trinômio ‘vida-liberdade-propriedade’, através do qual se assegura que 
os indivíduos só sejam submetidos a leis razoáveis, as quais devem atender aos anseios da 
sociedade. Tal vertente pode ser considerada como o próprio princípio da razoabilidade ou da 
proporcionalidade, onde se busca a prevalência da solução mais justa. 
Também, sob esta vertente, deve ser entendida como a garantia de acesso à ordem 
jurídica justa (KAZUO WATANABE), no sentido de que a todos aqueles que se encontram 
numa posição jurídica de vantagem deve ser assegurada uma verdadeira, efetiva e justa tutela 
jurídica. 
 
b) Isonomia => também conhecida como paridade de armas, a isonomia compreende dois 
aspectos: 
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12 
 
➢ Formal – todos devem ser tratados com igualdade, dando-se as mesmas oportunidades às 
partes. Ex:. art. 5º, CF, e art. 139, I, NCPC. 
➢ Substancial – respeita-se as diversidades entre as partes para que a garantia da igualdade 
seja mais do que formal, mas seja real ou substancial. Para isso, lança-se mão de uma 
igualdade proporcional. Ex: prerrogativas da Fazenda Pública (art. 183 – prazo dobrado; art. 
58, §3º - honorários proporcionais; art. 496 – remessa necessária) e do Ministério Público (art. 
180); prioridade às causas de pessoas maiores de 60 anos (Lei 10.173). 
O NCPC trouxe duas novidades importantes que visam garantir maior efetividade ao 
princípio da isonomia: a ordem cronológica de conclusão para que os juízes e tribunais 
profiram sentenças ou acórdãos (art. 12); e a observância aos precedentes judiciais, 
impedindo que pessoas que estejam em situações iguais tenham soluções diferentes 
c) Contraditório e Ampla Defesa => estão previstos no art. 5º , inciso LV, da CF e art. 9º, 
NCPC. O contraditório também deve ser estudado sob dois enfoques ou aspectos: 
➢ Jurídico – garantir o contraditório implica em dar à parte oportunidade de participar do 
processo em igualdade de condições. Dessa forma, por exemplo, se a uma parte foi dado o 
direito de juntar um documento no processo, à outra deve ser garantido o direito de sobre ele 
manifestar-se. Ou, então, se à autora deu-se o direito de acionar o Estado-juiz formulando 
suas pretensões, ao respectivo requerido deve ser dada oportunidade de responder aos termos 
da ação. 
➢ Político – assim como se garante o direito de participação no exercício das outras funções 
estatais (p. ex., no Legislativo, por meio do plebiscito e do referendo; no Executivo, por meio 
do orçamento parcipativo etc), garante-se pelo contraditório o direito do jurisdicionado de 
participar no processo com o fim de legitimar o provimento jurisdicional (isso decorre do 
Estado Democrático de Direito). 
A exceção é a liminar (in limine – no início do processo, antes da citação do réu), onde o 
requerido só tem a chance de participar depois que o provimento judicial é proferido. Nesse 
caso, fala-se, na verdade, da existência de um contraditório postergado ou diferido, já que ele 
só será estabelecido num momento posterior do procedimento. 
Já a Ampla Defesa consagra, junto com o contraditório, o binômio ‘ciência+participação’, 
na medida em que a participação oportunizada se materializará pela prática de atos de 
defesas. Portanto, não basta à parte ser ouvida, é preciso que se lhe garanta o direito de provar 
a sua tese (antítese, na verdade) por todos os meios e recursos de defesa. Por isso é que é 
ampla! 
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13 
 
d) Dispositivo (da Ação ou da Demanda) e Inquisitivo (ou Impulso Oficial) 
 Para assegurar a imparcialidade do juiz, a iniciativa do processo e da maioria da 
prática dos atos processuais cumpre às partes, à sua disposição, sob pena de contumácia. Tem 
previsão legal no art. 2º, NCPC. Do princípio do dispositivo derivam-se outros como o 
princípio da congruência ou da adstrição da sentença ao pedido (arts. 141 e 492). 
 As exceções estão consagradas nos arts. 139, IV, e 297 (poder geral de efetivação e de 
cautela); art. 370 (produção de provasde ofício = interesse público/busca da verdade real/juiz 
de mero expectador à posição ativa), do que se conclui que o princípio do dispositivo 
restringe-se à propositura da ação e aos limites objetivos da lide, mas não à efetivação e à 
instrução do processo. 
 Convive o princípio do dispositivo harmonicamente com o do inquisitivo, principalmente 
porque cabe ao juiz, provocada a jurisdição, promover o andamento do feito (art. 2º, 2ª parte), 
pois é interesse do Estado a rápida solução das causas, não podendo ficar à mercê das partes. 
 
e) Duplo Grau de Jurisdição 
 Consiste na possibilidade de provocar reapreciação e o julgamento de matéria já 
decidida, mediante recurso, por órgão hierarquicamente superior. É com base nesse princípio 
que se estruturou o atual sistema recursal previsto no CPC, garantindo uma dualidade da 
jurisdição, em nítida observância extensiva ao princípio da acessibilidade ao Judiciário. 
 Tem por fundamento a falibilidade e a má-fé do julgador, associado, por outro lado, ao 
inconformismo natural da parte vencida. O fundamento político assenta-se no controle 
interno (pelo próprio Judiciário) sobre a legalidade e a justiça de suas decisões. 
Malgrado tudo isso, certo é que o juiz de 1º grau se cerca de maiores cuidados ao 
decidir por saber que sua decisão é passível de reforma pelo órgão superior. 
Dessa forma, garante-se, mediante recurso, o reexame da matéria decidida pelo juízo 
de 1º grau por órgão hierarquicamente superior, que supostamente tenderá a errar menos, por 
ser composto de vários juízes mais experientes e, para isso, dotados de um maior saber 
jurídico. 
O princípio do duplo grau esteve previsto expressamente apenas na Constituição do 
Império. As demais constituições, inclusive a atual, vigente, cuidaram tão somente de prever a 
existência de tribunais, dando-lhes competência recursal, sem garantir de forma explícita o 
referido princípio. 
 Em virtude dessa omissão, permitiu-se a possibilidade de o legislador 
infraconstitucional vedar ou limitar o direito de recurso em alguns casos (Exemplo: não cabe 
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14 
 
apelação nas execuções fiscais de valor igual ou inferior a 50 OTN’s4 - art. 34 da Lei n. 
6.830/81; não cabe recurso de despachos – art. 1.001, NCPC). 
 Mas, embora o princípio do duplo grau de jurisdição não se encontre expressamente 
previsto na Constituição Federal de 1988, é ele consectário direto do princípio do devido 
processo legal (art. 5º, inc. LIV), segundo a doutrina mais balizada. Por outro lado, o Código de 
Processo Civil, as demais leis extravagantes e as leis de organização judiciária o adotam como 
regra geral. 
 José Frederico Marques (2000, p. 5-6) sustenta a existência não do duplo grau, mas da 
pluralidade dos graus de jurisdição face à previsão constitucional dos recursos especial e 
extraordinário, cujo julgamento compete ao STJ e STF, respectivamente, aludindo a um 
suposto 3º grau de jurisdição, o que, com a devida vênia, não existe. 
 São, na verdade, juízos extraordinários, pois não reapreciam matéria de fato, mas tão 
somente matéria de direito, com o fim de velar pelo direito objetivo, garantindo a ordem 
jurídica. 
 
f) Juiz Natural 
 Previsto no art. 5º, inc. XXXVII e LIII, da CF, pelo princípio do juiz natural se proíbe a 
existência de juízo ou tribunal de exceção (instaurado especificamente para o julgamento de 
determinadas causas ou pessoas. Ex:. Tribunal de Nuremberg que julgou os nazistas), 
garantindo ainda que ninguém seja sentenciado senão pela autoridade competente, ou seja, 
aquela investida de jurisdição, a qual é exercida pelos juízos concursados. 
 Esta garantia está ligada a dois aspectos: 
➢ associa-se ao órgão jurisdicional => as causas devem tramitar em juízos competentes. A 
competência é preestabelecida na Constituição Federal. Por isso, se proíbe juízos de exceção 
ou ad hoc. 
➢ diz respeito à pessoa do juiz => exigência de imparcialidade (ausência de interesse 
pessoal; estranho às partes) para que se tenha um processo justo. 
 
g) Inafastabilidade jurisdicional/judicial 
 
4 Conforme orientação do STJ, a atualização deve ocorrer pela conversão 
sucessiva da OTN em BTN e UFIR. Da exegese jurídica da evolução desses 
índices resulta a seguinte fórmula, a ser considerada quanto ao valor de alçada 
recursal, a ser apurado na data da distribuição da execução fiscal: 50 OTN = 
440,30 BTN = 444,85 UFIR. 
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15 
 
 Está previsto no art. 5º, XXXV, CF/88. Garante a todos o acesso ao Poder Judiciário, 
que não pode deixar de atender a quem venha a juízo deduzir uma pretensão, pois a jurisdição 
é monopólio do Estado. A partir do momento que o Estado trouxe para si a responsabilidade, 
o poder de tão-somente ele dizer o direito ao caso concreto, na mesma medida atraiu para si o 
dever de assim o faze-lo, não podendo se eximir de julgar em qualquer situação. 
 Essa é a inteligência dos arts. 4º, LINDB, e art. 140, NCPC, os quais consagram um 
princípio derivado, denominado de princípio do non liquet. 
 A consequência da garantia da inafastabilidade é outra garantia: a do acesso à 
jurisdição a todos quantos a invoquem, sem restrição. Havendo lesão ou ameaça de lesão a 
direito, nasce para o seu titular a pretensão de vê-lo tutelado pelo Judiciário. 
 
h) Persuasão racional do juiz ou do Livre convencimento motivado 
 Previsão no art. 93, IX, CF/88, segundo o qual todas as decisões judiciais deverão ser 
fundamentadas, sob pena de nulidade, e no art. 371 do NCPC, para quem o juiz apreciará livremente a 
prova.....mas deverá indicar os motivos que lhe formaram o convencimento. 
 Quanto à apreciação da prova, o sistema do livre convencimento motivado coloca-se 
como intermediário a outros dois, a saber: 
➢ sistema da livre apreciação ou da convicção íntima => o juiz tem ampla liberdade para 
decidir, convencendo-se segundo critérios de valoração íntima, independentemente do que 
consta nos autos ou de uma fundamentação de seu convencimento. Ex: Tribunal do Júri. 
➢ sistema da prova legal ou tarifada => é justamente o oposto do anterior. Cada prova tem 
seu peso e valor preestabelecidos pela lei, ficando o juiz vinculado dosimetricamente às 
provas apresentadas. Este sistema limitava a liberdade de o juiz convencer-se da verdade. Ex: 
no Direito Romano. 
O nosso sistema, do livre convencimento motivado, dá liberdade ao juiz para apreciar 
a prova segundo critérios íntimos, mas o obriga, em contrapartida, a motivar as suas decisões, 
sem se esquecer das regras legais porventura existentes e as máximas de experiência, 
previstas nos arts. 374, IV e 375, NCPC. 
 
i) Proibição de emprego de prova obtida ilicitamente (art. 5º, LVI, CF/88) 
 O ordenamento constitucional coíbe a utilização nos autos do processo das provas 
obtidas por meio ilícito, ou seja, em violação das normas jurídicas materiais (ex: documento 
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16 
 
obtido mediante vício de consentimento, como coação ou estado de perigo; confissão obtida 
mediante tortura). 
 Diferente é a chamada prova ilegítima, que é aquela produzida mediante violação de 
normas processuais (ex: no depoimento pessoal, uma parte ouvir o depoimento da outra – 
art. 385, §2º, NCPC; o testemunho das pessoas incapazes, impedidas ou suspeitas para tanto – 
art. 447, §§1º, 2º, e 3º, NCPC; o testemunho de quem não é obrigado a depor sobre certos fatos 
– art. 448, NCPC). 
 Desta feita, pode-se afirmar o seguinte: 
➢ PROVA ILÍCITA => a mácula, a ilegalidade ocorre no momento da OBTENÇÃO da prova. 
➢ PROVAILEGÍTIMA => a ilegalidade se dá no momento de sua PRODUÇÃO. 
 
Ambas, as provas ilícitas e as provas ilegítimas, são espécies de um gênero maior, 
denominado prova ilegal. 
Mas o que a Constituição Federal proíbe é a prova cuja OBTENÇÃO tenha violado 
norma material, especialmente se corresponder a uma garantia fundamental. Ex: 
inviolabilidade de domicílio; da intimidade; do sigilo da correspondência ou de comunicação 
telefônica (sem o conhecimento de ambos interlocutores. Importante frisar que, se um deles 
tinha esse conhecimento, para o STF, a prova é lícita); em violação ao princípio da presunção 
de inocência (ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo – ex: bafômetro, coleta 
de material genético para exame de DNA...). 
 Isso porque a violação de um direito material é mais grave que a violação de uma 
regra processual. Todavia, se a violação for de uma norma processual que traduz um direito 
fundamental processual, como é o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa etc, 
tal prova será considerada tanto quanto ilícita, sem qualquer possibilidade de influir sobre o 
convencimento do juiz. 
 Por fim, há de se ressaltar que, como toda garantia fundamental, a proibição das 
provas ilícitas não é absoluta, porque pode haver necessidade de conciliá-la com outras 
garantias fundamentais da mesma grandeza. Imagine a hipótese de uma associação de 
proteção ao meio ambiente que não tem outra alternativa para proteger o direito ambiental 
senão por meio de uma prova ilícita? 
 Portanto, o uso da prova ilícita poderá excepcionalmente admitido, por força do 
princípio da proporcionalidade, quando houver colisão entre o direito fundamental material 
que se deseja ver tutelado através do processo e o direito fundamental material violado pela 
obtenção da prova ilícita, sendo ambos igualmente dignos de tutela. 
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17 
 
j) Celeridade ou Duração Razoável do Processo (art. 5º, LXXVIII, CF/88; art. 4º, NCPC) 
 Trata-se do mais recente princípio constitucional aplicável ao processo inserido na 
Constituição Federal, repetido no NCPC, de forma também inédita, em seu art. 4º, para 
quem “as partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade 
satisfativa”. 
 A inserção constitucional se deu por meio da EC 45/04, que, em linha ao já 
consagrado princípio do devido processo legal e seus consectários, previu, no último inciso 
do extenso rol do art. 5º, a garantia da celeridade processual, ou, simplesmente, na dicção da 
doutrina constitucional portuguesa (cf. J.J. Gomes CANOTILHO), da duração razoável do 
processo. 
 Com este princípio visa-se assegurar um processo, cuja duração seja o estritamente 
necessário para que se possa alcançar os resultados justos visados. Duração esta que não 
significa que será mínima, pois nem sempre conduzirá a um resultado justo, mas uma 
duração razoável para se alcançar o melhor, o mais adequado, o mais efetivo, enfim, o mais 
justo resultado possível ao processo. 
 Tal princípio está estampado em vários artigos do NCPC, tais como: 
➢ art. 80, VII => litigância de má-fé contra quem procrastina o feito; 
➢ art. 143, II => responsabilidade do juiz que injustificadamente retarda a prática do ato que 
deveria praticar. 
➢ art. 311, I => antecipação dos efeitos da tutela contra réu que abusa do direito de defesa. 
➢ art. 1.026, §2º => multa contra o embargante de declaração o opõe com o intuito de tão 
somente de interromper o prazo para os demais recursos (intuito protelatório). 
 
k) Instrumentalidade das formas 
Consiste em dar validade a ato processual que atingiu seu fim, ainda que praticado 
em inobservância à forma legal. Está previsto no art. 277, NCPC, que assim afirma: “quando a 
lei prescrever determinada forma, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a 
finalidade”. Isso porque o processo é apenas um meio, um instrumento, e não um fim. 
 
l) Oralidade 
 Autoriza a prática dos atos processuais na forma oral, primando pela sua 
concentração, pela imediação e identidade física do juiz, entre outras conseqüências 
procedimentais. 
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18 
 
 Não é aplicado na sua inteireza no Processo Civil, principalmente no rito comum, 
diante da complacência dos magistrados em permitir que se façam inquirições sem a sua 
intervenção. A previsão legal da conversão das alegações orais por memoriais escritos é outro 
exemplo de sua mitigação (art. 364, §2º, NCPC). 
 Esperava-se um maior prestígio ao princípio com o advento do NCPC, mas não é isso 
o que se viu, mantendo-se um processo eminentemente escrito, com alguns elementos de 
oralidade (oralidade na conciliação e mediação; a identidade física do juiz; redução a termo 
de todos os atos judiciais orais; substituição de debates orais por memoriais; produção de 
provas em audiência como regra; oitiva de perito em audiência para prestar esclarecimentos; 
não interrupção da audiência como regra, bem como a sentença proferida em audiência). 
 O rito sumaríssimo, previsto na Lei n. 9.099/95 (Lei que instituiu os Juizados 
Especiais Cíveis Estaduais), é que adotou verdadeiramente tal princípio. 
 
m) Publicidade 
 
 Previsto no art. 93, IX, da CF, e no art. 189 do NCPC, consiste na garantia 
fundamental de tornar públicos todos os atos judiciais. 
 É, portanto, um instrumento de proteção das partes contra juízos arbitrários e 
secretos, bem como de fiscalização popular aos atos judiciais, tendo, assim, 2 dimensões: 
uma interna – publicidade para as partes; e outra externa – publicidade para terceiros, salvo 
quando a defesa da intimidade ou o interesse social exigir a restrição da publicidade apenas à 
interna. 
 Tais exceções estão mais bem descritas nos incisos I a IV do art. 189 do NCPC, 
exigindo, portanto, que o processo corra em segredo de justiça nas seguintes situações: 
- processos que exigir interesse público ou social; 
- processos que dizem respeito a casamento, separação de corpos, divórcio, separação 
(acabou com a EC66/10), união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e 
adolescentes; 
- processos em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade; 
- processos que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, 
desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo. 
 Em tais casos, restringe-se às partes e seus procuradores o direito de consultar os 
autos e de pedir certidões (§1º), podendo o terceiro juridicamente interessado obter certidão 
do dispositivo da sentença mediante requerimento (§2º). 
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n) Boa-fé processual 
 
 Previsto no art. 5º, NCPC, tal princípio impõe a todo aquele, que de qualquer forma 
participa do processo, o dever de comportar-se de acordo com a boa-fé. Portanto, trata-se, na 
verdade, de uma regra de conduta que se aplica não apenas às partes, mas aos seus 
advogados, e até ao juiz e aos auxiliares da justiça. 
 Apesar de não ter previsão constitucional, a maioria dos autores, com apoio do STF, 
vê no princípio do devido processo legal o seu fundamento constitucional, vez que esta 
cláusula geral exige um processo leal, ético e pautado na boa-fé (criou-se, inclusive, a 
expressão: devido processo leal). 
 O desrespeito ao princípio traduz-se em ilícito processual, combatido severamente 
pelo legislador com sanções do tipo condenação em litigância de má-fé (arts. 79 a 81); 
responsabilidade civil do juiz (art. 143, I), do escrivão e do oficial de justiça (art. 155),do 
intérprete (art. 164); do advogado (art. 32 do Estatuto da OAB); a condenação em ato 
atentatório à dignidade da justiça (ao devedor que pratica quaisquer atos previstos no art. 
774; e às partes que não comparecem injustificadamente na audiência de conciliação ou 
mediação, cf. §4º do art. 334); a tutela de evidência quando o réu abusar do direito de defesa 
(art. 311, I); etc. 
 
o) Princípios inéditos no NCPC 
 
o.1) Princípio da Eficiência 
 Corolário do devido processo legal (pois não se concebe como devido um processo 
ineficiente) e já previsto no art. 37 da CF, o qual também se dirige ao Poder Judiciário, este 
princípio foi inserido no NCPC, pelo legislador de 2015, no art. 8º, o qual estabelece que o 
juiz, ao aplicar o ordenamento jurídico, deverá observar, dentre outros princípios, a eficiência. 
 Ou seja, deve haver uma condução eficiente do processo pelo órgão jurisdicional, não 
só no sentido de que a prestação jurisdicional deve ser encarada como um serviço público, e, 
como tal, deve ser gerido e entregue com eficiência (consoante o art. 37 da CF), mas também 
segundo a velha ideia de um processo que prima pela economia processual, ou seja, deve-se 
dar o máximo resultado na atuação do direito com o mínimo emprego possível de atividades 
processuais. 
TEORIA GERAL DO PROCESSO Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
20 
 
 Dessa forma, o processo deve perseguir a justiça de modo satisfatório, utilizando-se, 
para tanto, dos meios mais rápidos, seguros e econômicos, evitando o dispêndio exagerado 
de tempo e dinheiro na prática dos atos processuais. 
Exemplos/aplicações do princípio: 
1) poder geral de efetivação => para entregar a tutela específica das obrigações de fazer e não 
fazer, o juiz pode aplicar a medida de efetivação que julgar mais adequada para satisfazer o 
direito do autor (art. 536, §1º); 
2) limite de prazo para a suspensão do processo (art. 313, §4º); 
3) reunião de causas conexas ou não (art. 55, §§1º e 3º); 
4) litisconsórcio => mais de uma pessoa litigando contra o mesmo autor ou réu (art. 113); 
5) nulidades processuais => possibilidade de sanar vício suprível (art. 288). 
 
o.2) Princípio da Efetividade 
 Também decorrente do devido processo legal, o princípio da efetividade garante o 
direito fundamental à tutela executiva, ou seja, à satisfação de um direito já reconhecido. 
Afinal, não basta “ganhar”; para o processo ser devido, é preciso também “levar”. 
 Todavia, não pode ser confundido com o princípio anterior (da eficiência), pois 
“efetivo é o processo que realiza o direito afirmado e reconhecido judicialmente; eficiente é o 
processo que atingiu esse resultado de modo satisfatório” (DIDIER JR, 2015, p. 103). 
 O princípio da efetividade está previsto no NCPC, em seu art. 4º, para quem “as partes 
têm o direito (...) a atividade satisfativa”. Tal entendimento já era reforçado pelo conhecido 
princípio da inafastabilidade jurisdicional, que garante não apenas, formalmente, o acesso à 
justiça, mas também a obtenção de uma tutela jurisdicional tempestiva, adequada, eficiente e 
efetiva. 
 
o.3) Princípio da Adequação 
 Corolário dos princípios do devido processo legal, da inafastabilidade jurisdicional e 
até da efetividade, o princípio da adequação exige que tanto o legislador, ao prever as regras 
processuais (in abstrato), quanto o juiz, ao entregar a tutela jurisdicional (in concreto5), deverão 
adotar o procedimento, a técnica mais adequada para a realização do direito material. 
 
5 Há que se lembrar também da adequação negocial feita em concreto pelas próprias partes, 
que poderão negociar o rito que mais se amolde às suas necessidades (negócio jurídico 
processual – art. 190, NCPC). 
TEORIA GERAL DO PROCESSO Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
21 
 
 A doutrina leciona que tal princípio revela-se em 3 aspectos: 
- subjetivo => o processo deve ser adequado aos sujeitos processuais. Exemplos: intervenção 
obrigatória do MP em processos que envolvam interesse de incapaz – art. 178, II; diferenciação 
de regras de competência em razão da pessoal, como a regra do domicílio do alimentando para 
as ações de alimentos, ou da previsão de uma Justiça Federal para as causas que envolvem 
entes públicos federais – art. 53, II, NCPC e art. 109, I, CF, respectivamente; prazos 
processuais especiais para entes públicos – art. 183; etc. 
- objetivo => adéqua-se o processo a um tipo ou outro de procedimento de acordo com a 
natureza do direito litigioso (ações possessórias; ação de alimentos; busca e apreensão em 
alienação fiduciária etc), com a evidência do direito litigioso (mandado de segurança; ação 
monitória; tutela de evidência do art. 311), ou com a sua urgência (tutelas de urgência – arts. 
300 a 310). 
- teleológico => a adequação se faz a depender dos objetivos que se quer, com o processo, 
alcançar. Exemplos: um tipo de processo ou de procedimento a depender da tutela pretendida 
(de conhecimento, de execução ou cautelar); procedimento sumaríssimo para alcançar os 
propósitos de duração razoável do processo e efetividade que impõe a lei nos Juizados. 
 Especificamente quanto à aplicação do princípio pelo juiz no caso concreto, também 
conhecido como princípio da adaptabilidade ou da elasticidade, são exemplos: 
- art. 139, VI => o juiz pode dilatar prazos processuais e alterar a ordem de produção de provas 
de acordo com as peculiaridades do caso; 
- art. 373, §1º => redistribuição judicial do ônus da prova; 
- arts. 355 e 356 => encurtamento do rito com o julgamento antecipado do mérito; 
- art. 334, §4º, II => não realização da audiência de conciliação ou mediação se a causa não 
admitir a autocomposição; etc. 
 Portanto, desde que o juiz garanta sempre o contraditório, evitando surpresas às 
partes com a alteração do procedimento, certo é que a flexibilidade procedimental às 
exigências da causa é fundamental para que mais facilmente o processo alcance os seus fins 
(DIDIER JR, 2015, p. 119). 
 
o.4) Princípio da Cooperação 
 Embora já tenhamos visto os princípios do dispositivo e do inquisitivo separadamente, 
certo é que estes estão diretamente relacionados com o que o Novo Código de Processo Civil 
chama de princípio da cooperação. 
TEORIA GERAL DO PROCESSO Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
22 
 
 Isso porque sempre convivemos, no mundo ocidental, com dois tipos de modelos de 
processo: o modelo dispositivo, intimamente ligado à atribuição de poderes às partes; e o 
modelo inquisitivo, o qual confere poderes ao juiz. 
 Todavia, tem sido cada vez mais difícil identificar, principalmente no Brasil, qual dos 
dois modelos é adotado, uma vez que ora a lei confere poderes às partes, como, por exemplo, 
de instaurar o processo e fixar o seu objeto, ora ao juiz, ao investi-lo de poderes instrutórios. 
 Em razão disso, tem-se falado que o direito processual brasileiro adota o modelo 
cooperativo, segundo o qual se espera que todos os sujeitos do processo, tanto as partes 
quanto o juiz, devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de 
mérito justa e efetiva. Estas são as palavras descritas no art. 6º, do NCPC. 
 Percebe-se que não há uma condução do processo só a cargo das partes, tampouco só 
do juiz, que, tendo o contraditório, a boa fé e o devido processo legal como bases, 
comparticipam de todos os atos praticados do processo. 
 Vê-se que o Estado-juiz adota dupla posição no processo: paritária, com diálogo e 
equilíbrio na condução e cognição do processo (modelo dispositivo); e assimétrico e imparcial 
no momento da decisão do processo (modelo inquisitivo). 
 O princípio aplica-se às partes no que se refere aos seus deveresde esclarecimento (os 
demandantes devem redigir suas demandas com clareza e coerência, sob pena de inépcia), de 
lealdade e de proteção (não pode a parte causar danos à outra). Já quanto ao juiz o princípio 
se revela, por exemplo, no dever também de ser claro e preciso ao fundamentar suas decisões, 
ou, antes de indeferir um ato, tirar dúvidas ou buscar esclarecimentos junto à parte; agir com 
lealdade e boa-fé; e até o dever de consulta, de informar as partes antes de decidir (art. 10); e 
de prevenção, apontando deficiências nas postulações às partes, para que possam ser supridas 
(ex: arts. 76; 321; 932, par. único; 1.017, §3º; 1.029, §3º). 
 
o.5) Princípio do Respeito ao Autorregramento da Vontade no Processo 
 
 Originado no direito fundamental à liberdade e à dignidade da pessoa humana, o 
direito ao autorregramento da vontade (ou simplesmente, a autonomia da vontade) consiste no 
direito que todo indivíduo possui de regular juridicamente os seus interesses, de fazer as 
próprias escolhas. 
 Obviamente que este princípio não tem a mesma dimensão e extensão no direito 
processual civil como tem no direito civil, uma vez que naquele há a presença pública do 
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23 
 
Estado nas relações, o que significa que a negociação processual é mais regulada e o seu objeto 
mais restrito. 
 A liberdade ou a autonomia da vontade no processo tem sido cada vez mais difundida 
pois a liberdade é um dos alicerces do Estado Democrático de Direito, não se concebendo um 
processo devido em que a liberdade da vontade de seus participantes é hostilizada, 
prevalecendo a arbitrariedade. 
 É possível a convivência harmoniosa entre processo e liberdade, sem que com isso se 
admita a adoção de um modelo predominantemente dispositivo (ampla liberdade às partes 
para dispor dos atos processuais, figurando o juiz como mero expectador). Existe a liberdade 
de negociar acerca do processo, porém limitada. A própria lei cuida de estabelecer os seus 
limites, como, por exemplo, no art. 190 do NCPC, que prevê tal iniciativa apenas às partes 
plenamente capazes e que estejam discutindo direitos que admitam autocomposição. 
 São exemplos de aplicação deste princípio: 
- a autocomposição, sobre a qual hoje se estrutura o sistema processual civil brasileiro (arts. 
3º, §§2º e 3º; arts. 165 a 175; arts. 334 e 335); 
- delimitação do objeto do processo (art. 141 e 490) e do recurso (arts. 1.002 e 1.013) pela 
vontade da parte; 
- negócios processuais típicos, como eleição de foro (art. 63), negócio tácito de que a causa 
tramita em juízo relativamente incompetente (art. 65); calendário processual (art. 191); 
acordo para a suspensão do processo (art. 313, II); adiamento negociado da audiência (art. 
362, I); etc. 
- cláusula geral de negociação processual do art. 190 (subprincípio da atipicidade da negociação 
processual) – as partes, desde que capazes e o direito admitir autocomposição, poderão 
negociar mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa; 
- consagração do princípio da cooperação (art. 6º); 
- o prestígio à arbitragem, cujo processo é totalmente negociado. 
 
o.6) Princípio da Primazia da Decisão de Mérito 
 
 Segundo este princípio, o juiz deve priorizar a entrega da decisão de mérito. Nos 
termos do art. 4º do NCPC, a parte tem o direito à solução integral do mérito, seja da demanda 
principal, incidental ou da demanda recursal. 
 São exemplos: 
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24 
 
- art. 6º, que diz que todos os sujeitos devem cooperar para que se obtenha decisão de mérito 
justa e efetiva; 
- art. 139, IX: o juiz tem o dever de determinar o suprimento dos pressupostos processuais e o 
saneamento de outros vícios processuais; 
- art. 282, §2º: o juiz deverá ignorar os defeitos processuais, se a decisão de mérito não 
prejudicar aquele que se beneficiaria com o reconhecimento da nulidade; 
- art. 321: quando a petição inicial contiver defeitos corrigíveis, não deverá o juiz indeferí-la 
sem antes dar oportunidade ao autor de corrigí-la em 15 dias; etc. 
 
o.7) Princípio da Proteção da Confiança 
 Trata-se da versão subjetiva do princípio da segurança jurídica, ou seja, o direito que a 
parte tem de poder confiar nos atos jurisdicionais, sob a premissa de estes são praticados 
segundo um devido processo legal, não podendo o Estado trair tal confiança. 
Exemplos: 
- o dever de o tribunal uniformizar a sua própria jurisprudência; 
- o dever de o tribunal modular os efeitos de decisão que altera jurisprudência consolidada, 
resguardando posições jurídicas de quem havia confiado no entendimento que até então 
prevalecia; 
- sistema de invalidades processuais, que dificulta a decretação de invalidades ou limita 
temporariamente os seus efeitos, preservando alguns efeitos do ato invalidado; 
- o órgão jurisdicional adotar “regras de transição” para minimizar o impacto da quebra da 
confiança (exemplo clássico aconteceu no julgamento do RE n. 631.240 MG, que o STF 
regulou a transição para aqueles que não haviam requerido administrativamente benefício 
previdenciário antes do julgamento desta matéria); etc. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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25 
 
2 JURISDIÇÃO 
 
2.1 Introdução e conceito 
 
 Sabe-se que o Estado, com o fim da monarquia absolutista, em pleno Iluminismo, se 
estruturou e se modernizou, consagrando a já aristotélica tripartição dos poderes, por meio 
dos quais o Estado exerce as funções legislativa (responsável pela estruturação da ordem 
jurídica pela elaboração das leis), administrativa (cujo papel é o de aplicar a lei na busca do 
bem comum/coletivo) e jurisdicional (a qual faz atuar a vontade da lei no caso concreto, 
solucionando as lides). 
 A função jurisdicional difere da legislativa, na medida em que esta é anterior ao caso 
concreto, sendo exercida para prever casos ou situações gerais e abstratas; também difere da 
função administrativa em que pese esta última não ser substitutiva à vontade das partes, mas 
sim de iniciativa do próprio Estado na tutela do bem estar social mediante a aplicação de 
programas e ações de governo. 
 Jurisdição, etimologicamente, significa dizer o direito. É, portanto, “a função pela qual o 
direito é aplicável ao caso concreto”. Não obstante tal conceituação, há quem também a 
identifique à atividade ou ao próprio poder estatal de decidir os litígios (Poder Judiciário). 
Neste último aspecto, a jurisdição, por ser um monopólio estatal, equivale também a um 
dever, já que o Estado não pode se eximir de solucionar ou de compor as lides que porventura 
os indivíduos da sociedade, os quais estão proibidos de exercer a autotutela ou a justiça 
privada, possam estar envolvidos. 
 
2.2 Características 
 
A jurisdição caracteriza-se pela: 
 
a) substitutividade => o Estado substitui as partes e soluciona o conflito, por conta do 
monopólio da atividade jurisdicional. Ou seja, o Estado cumpre a lei no lugar das partes, que 
não a observaram espontaneamente. 
 
b) definitividade ou imutabilidade => em nome da segurança jurídica, as decisões judiciais 
tendem, em regra, a se tornarem imutáveis, passíveis apenas de ação rescisória. Já as decisões 
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26 
 
administrativas, em regra, são modificáveis, podendo ser revistas pelo Judiciário, exceto 
aquelas fundadas em juízo de conveniência e oportunidade (mérito administrativo). 
c) inércia => a atividade jurisdicional deve ser provocada pela parte, pois se trata de uma 
atividade desinteressada, imparcial eeqüidistante dos interesses das partes. Apesar de o art. 
2º confirmar esse entendimento ao dizer que “o processo civil começa por iniciativa da parte e se 
desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei”, há exceções ao princípio do 
dispositivo ou da inércia jurisdicional, como na a execução da sentença que condena em 
obrigação de fazer, não fazer ou entrega de coisa distinta de dinheiro (arts. 536 e 538); na 
arrecadação dos bens do ausente (art. 744) e na arrecadação dos bens do falecido no caso de 
herança jacente (art. 738); em alguns incidentes processuais, como o incidente de resolução de 
demandas repetitivas (art. 976), conflito de competência (art. 951) e incidente de arguição de 
inconstitucionalidade (art. 948). 
 
d) instrumentalidade => através da atividade jurisdicional é possível impor os comandos 
legais violados, ou seja, é um instrumento da sanção. 
 
e) presença da lide => a existência de uma lide pressupõe a existência da jurisdição, pois que 
seu objetivo é justamente por fim aos conflitos de interesses surgidos entre as partes. Hélio 
Tornaghi e Alexandre Câmara entendem que a lide não é elemento essencial à jurisdição, mas 
sim a pretensão, pois que há casos em que o Estado é chamado a atuar sem que tenha havido 
litígio. Exemplo clássico é a ação de divórcio consensual, feito no Judiciário, quando há filhos 
menores. 
 
2.3 Princípios da jurisdição 
 
A jurisdição é também informada por alguns princípios, dentre os quais se destacam: 
 
a) investidura => a jurisdição só pode ser exercida por quem o Estado investiu de poder para 
tanto (os juízes concursados). 
 
b) aderência ao território ou territorialidade => o juiz deve exercer a função jurisdicional 
dentro de certo território definido pela lei (tem a ver com competência, ou seja, com limites 
da jurisdição, que estudaremos mais adiante). 
 
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27 
 
c) indelegabilidade => as atribuições jurisdicionais só podem ser exercidas pelos órgãos 
judiciais, não podendo ser delegadas a outrem. 
IMPORTANTE: a carta de ordem (ato de comunicação de uma parte, que esteja fora 
dos limites da jurisdição onde se processa o feito, dirigida a um juiz ou tribunal 
subordinado àquele de que ela emanar) ou a carta precatória (endereçada a outro 
órgão judiciário do país, entre os quais não há relação hierárquica) não contraria este 
princípio, pois que não se trata de delegação de jurisdição, mas, sim, de competência. 
 
Parte da doutrina entende que a arbitragem configura uma espécie de delegação do 
exercício da jurisdição estatal a particulares (árbitros) pela vontade das partes e autorização 
legisltativa. 
No entanto, há entendimento no sentido de que a arbitragem se enquadra no que 
Carnelutti chamou de equivalentes jurisdicionais (expressão utilizada na doutrina pátria por 
Alexandre Câmara, Dinamarco etc), pois, apesar de ser proferida uma sentença, compondo o 
litígio entre as partes, o árbitro não tem o poder jurisdicional de executá-la, tarefa esta 
exclusiva do Estado. 
 São considerados equivalentes jurisdicionais todos os outros meios alternativos de 
solução dos litígios fora da jurisdição estatal, como: 
✓ autotutela => é a solução do litígio pela força (justiça privada) por um dos litigantes. A 
princípio, é proibida, mas há resquícios da autotutela no nosso atual ordenamento jurídico 
(desforço imediato, legítima defesa e a greve). 
 
✓ autocomposição => solução dada pelos próprios litigantes que abrem mão total ou 
parcialmente de seu direito em favor do outro (e não pela força). 
Pode haver ou não interferência de terceiros. Se houver, como no caso da mediação ou 
da conciliação, o terceiro (mediador, conciliador ou juiz) apenas sugere a solução, que 
continua sendo dada pelas partes. A autocomposição se subdivide em 2 espécies: 
- transação ou acordo => a solução é dada pela partes que estabelecem concessões mútuas 
ou recíprocas, cada qual abrindo mão de parte do seu direito a favor da outra. Pode ser dentro 
ou fora do juízo (judicial ou extrajudicial); 
- submissão => há verdadeira abdicação espontânea do direito, o qual poderá ser feita em 
juízo (renúncia, se autor; ou reconhecimento do pedido, se réu). 
 
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28 
 
✓ tribunal administrativo => solução dada por um terceiro, mas de caráter administrativo, 
sem cunho jurisdicional (não opera coisa julgada, passíveis de controle externo). Ex: Tribunal 
Marítimo; Tribunal de Contas; Agências Reguladores; CADE (Conselho Administrativo de 
Defesa Econômica). 
 
✓ arbitragem => diferentemente da mediação, o terceiro escolhido pelas partes, conhecido 
como árbitro, soluciona o litígio, proferindo uma decisão a que as partes deverão se sujeitar. 
A arbitragem foi adotada no Brasil pela Lei n. 9.307/96, recentemente alterada pela Lei 
n. 13.129/15, e é constituída pela chamada convenção de arbitragem, onde as partes pactuam, por 
força da previsão em contrato da cláusula compromissória, a arbitragem como meio de solução de 
conflitos que porventura sobrevierem sobre o negócio jurídico ali avençado, abrindo mão da 
jurisdição estatal (há quem defenda a inconstitucionalidade desta lei por ferir os princípios do 
acesso ao Judiciário e do juiz natural – art. 5º, incisos XXXIV e LIII, CF/88). Caso o conflito 
de fato ocorra, tais partes firmarão o compromisso arbitral. 
Segundo a Lei 9.307, a decisão do árbitro é uma sentença, contra a qual não cabe 
qualquer recurso (salvo ação anulatória, num prazo de até 90 dias após sua publicação, caso 
tenha sido dada com vício), e nem pode ser rediscutida no Judiciário, a quem cabe tão 
somente executá-la, já que ao árbitro carece apenas do poder executar suas próprias decisões. 
Por fim, convém lembrar também que o árbitro deverá ser pessoa física e capaz; e que a 
arbitragem só se dá entre pessoas capazes que estejam litigando direito disponível. 
Para a maioria da doutrina, a arbitragem é jurisdição, porém não delegada pelo Estado, 
mas escolhida pelas partes e autorizada pela lei, e não equivalente jurisdicional. 
 
d) inevitabilidade => independentemente da vontade das partes, a jurisdição deve alcançar o 
seu fim, qual seja, o de compor o litígio, sujeitando-as à decisão. A autoridade das decisões se 
impõem, independentemente da aceitação dos seus destinatários, pois se trata de um ato 
emitido por um poder soberano do Estado. 
 
e) indeclinabilidade => com o monopólio estatal da jurisdição, os órgãos judiciais têm a 
obrigação de prestar a tutela jurisdicional quando invocada, não lhe sendo mera faculdade. O 
juiz não pode deixar de julgar alegando omissão na lei (art. 5º, XXXV, CF – princípio da 
inafastabilidade da jurisdição; e art. 140, NCPC - princípio do non liquet). Para tanto, ele dispõe 
dos meios integrativos (costumes, analogia e princípios gerais do direito – art. 4º, LINDB). 
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29 
 
 
f) improrrogabilidade => a função jurisdicional, delimitada segundo a organização judiciária 
brasileira, não pode ser alterada pelo legislador ordinário. 
 
2.4 Poderes da jurisdição 
 
Por outro lado, são poderes da jurisdição: 
 
a) conhecimento (notio, cognitio) => implica no poder de conhecer, investigar, instruir. Ou seja, 
compreende o poder atribuído aos órgãos jurisdicionais de conhecer dos litígios, de prover a 
regularidade do processo, de investigar a presença de pressupostos de existência e de validade 
da relação processual, das condições da ação e de recolher o material probatório. 
 
b) chamamento (vocatio) => consiste no poder de convocar, defazer comparecer em juízo 
todos aqueles cuja presença seja necessária ao regular desenvolvimento do processo. Faz-se 
mediante os atos de comunicação (citação, intimação etc). 
 
c) coerção (coertio, coercitio) => também conhecido como poder de polícia, abrange o poder de 
utilização de medidas coercitivas a fim de que se observe o regular desenvolvimento do 
processo. Ex: aplicação de multas (astreintes) por atraso no cumprimento da decisão; retirar 
alguém da sala de audiência etc. 
 
d) julgamento (juditio) => engloba o poder de julgar, o poder de concretizar a vontade da lei 
diante de um conflito de interesse ou de definir o direito a partir de uma situação de 
controvérsia. Ao decidir, o juiz deve observar as seguintes regras: 
d.1) o juiz é obrigado a decidir, ainda que a lei for omissa – art. 140, NCPC e art. 4º, LINDB 
(princípios da inafastabilidade da jurisdição e do non liquet; e princípios da indeclinabilidade 
da jurisdição); 
d.2) o juiz deve, a princípio, observar a lei – interpretação a contrário do art. 4º, LINDB; 
d.3) excepcionalmente, apenas nos casos previstos em lei, o juiz julgará com equidade – 
parágrafo único do art. 140. Exemplos: art. 85, §8º (valor dos honorários por apreciação 
equitativa); art. 723, parágrafo único (o juiz não é obrigado observar a legalidade estrita nos 
feitos de jurisdição voluntária); 
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30 
 
d.4) o juiz decidirá a lide nos limites do pedido do autor (a sentença tem que ser congruente, 
adstrita ao pedido) – arts. 141 e 490; 
d.5) o juiz pode decidir prejudicando as partes quando estas agem com fraude – art. 142; 
d.6) o juiz decide de acordo com o seu livre convencimento, mas deve motivá-lo – art. 371. 
 
e) execução (executio) => consiste no poder de cumprir o definido em decisão judicial e 
realizar/concretizar no mundo dos fatos o comando judicial. A melhor e mais moderna 
doutrina tem lembrado do chamado poder geral de efetivação do juiz, que poderá, de ofício, 
determinar medidas coercitivas (astreintes, por exemplo) em nome do princípio da 
efetividade processual. 
f) poder geral de cautela (nem sempre lembrado pela doutrina) => poder de adotar medidas de 
cautela sobre o bem, objeto da demanda, quando houver fundado receio de dano irreparável 
ou de difícil reparação pela demora do processo (arts. 297 e 301). 
 
2.5 Espécies de jurisdição 
 
Por fim, calha lembrar que a jurisdição pode ser voluntária, cujo procedimento está 
previsto nos arts. 719 a 770, NCPC; ou contenciosa. 
A jurisdição voluntária, também conhecida como jurisdição graciosa ou administrativa, 
é aquela exercida inter volentes, isto é, entre pessoas que não estão litigando, mas que têm 
interesses comuns. 
Segundo a doutrina majoritária, que se filia à teoria clássica ou administrativista, a 
jurisdição voluntária não é jurisdição, mas apenas uma administração judicial de interesses 
privados, já que a autoridade judicial intervém não para compor um litígio, pois que este nem 
sequer existe, mas, sim, para dar validade, chancelar, homologar um ato ou negócio jurídico 
firmado pelas partes. 
Já a jurisdição contenciosa, ou jurisdição propriamente dita, pressupõe um litígio 
(contenda) a ser resolvido pelo Estado. 
Todavia, convém notar que pequena parcela da doutrina (como Dinamarco, Ovídio 
Baptista, entre outros) filia-se a teoria revisionista, segundo a qual será considerada jurisdição 
sempre que o juiz aprecia um caso concreto, decidindo-o (aplicando a lei) ou simplesmente 
homologando-o. 
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Apesar das divergências, pode-se resumir as diferenças entre jurisdição contenciosa e 
jurisdição voluntária através do seguinte paralelo: 
 
Daí, conclui-se que atividade judicial é o gênero, das quais são espécies as atividades 
jurisdicional, exercida no âmbito da jurisdição contenciosa, e administrativa, exercida no âmbito 
da jurisdição voluntária. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 Segundo a doutrina majoritária, que adota a teoria clássica ou administrativista, jurisdição 
voluntária ou graciosa não é jurisdição, mas apenas “administração pública de interesses 
privados”, ou seja, a autoridade judiciária intervém não para compor um litígio, mas para 
validar, para chancelar um ato ou negócio jurídico. 
CONTENCIOSA VOLUNTÁRIA 
Lide Interesses comuns 
Ação Requerimento 
Partes Interessados 
Contraditório Sem contraditório 
Processo Procedimento 
Sentença Decisão homologatória 
Coisa julgada Sem Coisa julgada 
Atividade Jurisdicional Atividade administrativa6 
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3 ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DO PODER JUDICIÁRIO 
 
O Poder Judiciário do Brasil é o conjunto dos órgãos públicos ao qual a Constituição 
Federal brasileira atribui a função jurisdicional, ou seja, de solucionar as lides que lhes são 
encaminhadas. 
O Poder Judiciário é regulado pela Constituição Federal nos seus artigos 96 a 126. 
Em geral, os órgãos judiciários brasileiros exercem dois papéis. O primeiro, do ponto 
de vista histórico, é a função jurisdicional, também chamada jurisdição. Trata-se da obrigação 
e da prerrogativa de compor os conflitos de interesses em cada caso concreto, através de um 
processo judicial, com a aplicação de normas gerais e abstratas. O segundo papel é o controle 
de constitucionalidade. 
O exercício da jurisdição, assegurado constitucionalmente, é disciplinado por vários 
princípios, balizas doutrinárias, conexões com a principiologia processual, ligações com a 
Teoria do Estado, mas também deve ser regrado de ponderações de ordem mais praticista, 
fundadas na ordem jurídica constitucional vigente. 
É com este escopo que se organiza uma espécie de “esquema” de apresentação do 
exercício da jurisdição no Brasil, indo do STF até o juiz estadual de primeira instância. 
Os órgãos judiciários brasileiros podem ser classificados quanto ao número de 
julgadores (órgãos singulares e colegiados), quanto à matéria (órgãos da justiça comum e da 
justiça especial) e do ponto de vista federativo (órgãos estaduais e federais). 
Um Tribunal Regional Federal é órgão colegiado, enquanto que um Juiz Federal é 
considerado órgão singular. Da mesma maneira, o Tribunal de Justiça de um estado é órgão 
colegiado, sendo o Juiz de Direito um órgão singular. 
Os Tribunais e Juízes estaduais, os Tribunais Regionais Federais e os Juízes Federais 
são considerados órgãos de justiça comum. Já os Tribunais e Juízes do Trabalho, Eleitorais e 
Militares formam a justiça especial, por decidirem sobre matérias específicas de cada área de 
atuação. 
Por fim, os juízes de 1º grau estão distribuídos em comarcas (de diferentes entrâncias – 
aqui em Goiás, as maiores são de 3ª entrância; as médias são de 2ª; e as menores são de 1ª; 
havendo aquelas, ainda, que de tão pequenas são respondidas por outra, por região), se tratar 
de justiça estadual; ou seções judiciárias, se justiça federal, os quais costumam coincidir com 
as comarcas. 
Segue abaixo um organograma para ilustrar melhor a estrutura do Poder Judiciário 
brasileiro: 
TEORIA GERAL DO PROCESSO Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
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3.1 Supremo Tribunal Federal (STF) 
 
Trata-se do tribunal eminentemente “constitucional” na sistemática jurisdicional 
pátria, responsável pelo julgamento dos casos mais notórios de eventuais ofensas à 
Constituição Federal. 
O STF não é uma Corte só de controle e guarda da Constituição, uma vez que, na 
estrutura pátria,

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