Contaminação da Vida Marinha por filtros UV

REDE FUTURA DE ENSIN O GILMARA BARROS DE LI MA CONTAMINAÇÃO DA VIDA MARINHA POR FILTROS UV SÃO PAULO 2019 2 GILMARA BARROS DE LI MA REDE FUTURA DE ENSIN O CONTAMINAÇÃO DA VIDA M ARINHA POR FILTROS UV SÃO PAULO 2019 Trabalho de con clusão de curso apresentado como requisito parcial à obtenção do título especialista em Auditoria e Perícia A mbiental. Orientador: Professora DSc. A na Paula Rodrigues. Coorientador: P rofessora Dra. Mariana B atha A lonso. 3 CONTAMINAÇÃO DA VIDA MARINH A POR FILTROS UV Gilmara Barros de Lim a 1 Declaro que sou autor(a)¹ deste T rabal ho de Conclusão de Curso . Decl aro t amb ém que o m esm o foi por mim elaborado e in tegra lm ente red i gido, não t endo si do co piado ou ex tr aí do, seja parc i al ou in tegra lmen te, de f orma ilí c i ta de nenhuma fo n te a l ém d aquelas pú bli cas co n sul t adas e corretam ente referenciadas ao l ongo do tr abalh o o u daquelas c ujos dado s resu l taram de inves t i gações e mpíricas po r mim realiza das para fins de pro duçã o des te trabalh o. Assim , dec la ro , dem onstrando minha p l ena co n sciência do s seus efeitos c i vis, pe n ais e adminis tr ativ os, e a ssumindo total responsabilidade caso se co nfigure o crime de p lági o o u violação aos direi to s autorais . ( Cons ulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Servi ços). RESUMO- O resum o e o abstract dev erão t er entre 100 a 250 pal avras em es paçamento s im ples co m fo n te Times New Roman ou A r ial , t am anho 10 , cor pre ta. PALAVRA S-CHAVE: Co nta minaçã o . Fil tro s UV . Vi da Marinha . ABSTRACT-. KEYWORDS: Co n tamination. UV-Fs. Marine Life. 4 1. INTRODUÇÃO O Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA ) no Art. 6º – V da resolução número 420 (2009) define c on taminação como: [...] “ Presen ça de substância(s) qu ími ca(s) no ar, água o u solo, decorrentes de at i vidades antró pi cas, em co n centraçõ es tais que restr i njam a ut iliz ação desse recurso ambiental para os usos at ual ou pretendido, defi nidas co m base em avaliação de risco à saúde humana” (CONAMA, 2009). Desde que a sociedad e começou a se preocupar com a contribui ção humana na contaminação dos ec ossiste mas, muitos estudos foram direciona dos para a área das ciências ambientais, visando cont r ibuir de forma efetiva pa ra reduz ir os danos causados e preservar os recursos naturais. A tualme nte, tem-se da do atenção especial aos e studos dos contaminante s emergentes , ou seja , substânc ias que constituem tanto risco ecológ ico quanto risco à saúde hum ana e que são c ada vez m ais utilizadas pela indústria quím ica e farmacêutica na formulação de inúmeros produtos. Entre esses, os fotoprotet or es são considerados ca d a vez m ais indispensáveis para a sociedade já que, é fat o ineg ável que , a saúde humana pode ser gravemente afetada pela radiação solar. Dessa forma , atualmente, os fi ltros UV (radiação ultrav ioleta) são encontrados em todo tipo de cosméticos e produtos com fator de proteção solar. H aja vista que tais substâncias têm sido amplamente utilizadas, elas acabam por chegar os ecossistemas aquáticos, quer seja atrav és do la nçam ento do esgoto doméstico e industrial , qu er seja por meio das ativ idades recreaci on ais realizadas nesses ambientes. A Comissão Europei a em 2018 publicou que: [...] “Os UV -Fs são um r isco e m ergente devido ao seu uso o ni presente e m PCPs e ao fato de não serem re m ovidos co m e ficiên cia d as águas residuais po r tr a tamen to c onv encional... A bi oa cumulação de UV- Fs no t eci do adi poso de organism os, juntamen te com efei to s comprovados de interrupção endócrin a (DE) em algumas espécies e efeito s potenci ais de DE e m h umanos l evara m o Parlamento Europeu a reco n hecê-l os co mo import an tes co n taminantes o rgâni cos n as águas do mei o ambiente.” (M OLINS-DELGADO, MÁÑEZ , A NDRE, HIRAL DO , ELJARRA T , B ARCELÓ & DÍAZ-CRUZ, 2017) Mas para caracterizar a real toxicidade dos fi ltros UV mostrou- se nece ssário um protocolo que i nteg rasse a análise quím ica com te stes biológicos. P or isso, o s estudos sobre os efeitos dos filtros UV sobre a vida marinha m ostr aram -se essenciais para comprovar os danos que podem ser causados por essas substâncias. 5 O presente trabalho buscou real izar uma ampla revisão bibliográfica dos estudos at uais sobre a c ontaminação da vida marinha por fi ltros UV, c om o objetiv o de integrar a s informações e discutir as medi das que, desde já, podem ser adot adas pa ra a meniz ar os dano s ambientais. 2. MATERIAL E MÉTODOS A metodol og ia utili zada foi pesquisa de revisão bibliográfica , sendo que em primeiro lugar feit o uma busca da s produções acadêmicas sobre os feitos dos filtros UV nas dife rentes espécies de vida mari nh a, com o i ntuito de explora r ao máximo a s potencialidades dos ba ncos de dados bibliog ráficos exi st entes . A seguir foi feita uma avaliação dos artigos de fa to relevantes ao tema-alvo desse estudo e por fim a redação desse instrumento que poderá servir de suporte aos discentes que pretendem iniciar suas pe squisas neste c ampo d e estudo ainda tão promissor. 3. DESENVOLVIMENTO A origem dos protet ores solares remonta à época d os a ntigos egípcios que, por viverem e m uma cultura que d esejava peles mais c laras, foram os primeiros a fabricar protetores naturais utilizando como i ng rediente s: fa relo de arroz, jasmim e tremoço . Em 1935 deu-se o primeiro passo para a fabricação em massa de protetores solares quando foi criado o Ambre Solai re que tinha como ingrediente o salicilato de benzila. E em 1978, devid o à grande procura, os prot etores passaram a ser regulados com o me dicamentos. (AL DAHAN, SHAH, MLA CKER &, NOURI, 2015) De acordo com F lor, Dávolos & Correa (2007) os filtros UV são divididos e m doi s grupos:  UV -Fs inor gânicos, que agem de form a a constituir uma ba rreira físi ca que reflete a radiação, como por e xemplo, o dióxido de titânio (TiO 2) e o óxido de zinco (ZnO).  UV -Fs químicos ou orgânicos, formados por mol éculas que ag em absorvendo a radiação. A tualme nte e xistem div ersos filtros sol ares orgânicos , em especial o Oct ocril eno (OC), Eti lhexil metoxicinamato (EHM C), Oxibe nzona (BP3), 4 -methilbe nzil ideno cânfora (4MB C), BAPA e Benzofenona são m ais usados em produtos como, por exemplo, 6 bloqueadores, sha mpoos, m aquiagem, ó culos e até t intas c om f ator d e p roteçã o contra a radiação solar. As pesquisas pro varam que esses filtros apresentam algumas das características típicas dos POPs (Poluent es Orgânicos Prioritári os). Visto que seu lançame n to no meio ambiente é frequen te e em concentrações significativas, al ém de t er a ten d ê ncia de bioacumular, os filtros UV estão incluídos em uma class e de contaminantes emerg entes chamada PCP (Produtos de Cuidado Pessoal). (GOULART, 2017) Estudos mostraram que os fi ltros UV, de fato, possuem atividade de interferên cia endócrina. De 9 filtros analisados 8 mostraram atividade e strog ênica e 2 a tividade antiandrogênica. O 4-MBC, por exemplo, mostrou-se estrog ênico, pois : [...] “durante a vida pré e pó s -nat al, a f eto u o desenvolvim ento o sistema hipotálam o- hi pó fi se-go nadal do se x o m asculino e fêmeas de rato s f êmeas no s i ste m a nervoso central e per if ér i co resultando e m alteraçõ es na expressão gênica regulada por estro gêni o nos órgão s reprodutivos e regiões do cérebro sex ualmente d im ór ficas. (SCHULUMPF et al ., 2004). H á inúm eros métodos para a nalisar e medir a presença dos c ontaminantes PCP na água, na biota aquática e no l odo de esgoto (PECK, 2006) . As a nálises feitas para detectar os filtros UV no ec ossistem a aquático demonstrou que tanto águas superficiais (lagos e rios), águas residuais, ág ua pot ável, solo, l od o e a v ida aquátic a apresentavam algum nível de contaminação: [...] Nas águas, as concentrações máximas re la tadas co rresp ondiam às horas do mei o d i a dos d i as que ntes de verão. Nas águas natur ai s, o fi l t ro sol ar mais f r equent em e nte detect ado fo i BP3, co m va l o res de co ncentração na faixa de 2 a 125 ng/L . No e n tanto, as maiores co ncentraçõ es correspo n diam a 4M BC co m val o res de até 82 ng/L n as águas de lagos. As águas dos lagos e r ios f or am as men os contamina das co m co n centraçõ es de fil t ro s UV na fai xa de 19 a 125 ng/L. P or o utro lado, e co m o esperado, a água da p i scina apre sentou nívei s mais al to s de fil t ros UV, com v alores relatado s de 330 ng/L e 400 ng/L par a 4- MBC e BP3, respect iv a men te. Níveis a i nda m ais altos de OMC e BP3 ( 0,45 -5,61 l g/L) foram encontrado s em água potável na Califórnia, EUA. Nas águ as residuais brutas, ess as fora m encontradas substâncias na faixa de 0,4 a 5, 6 lg/L. No s efluentes ETAR, as co ncen tr ações estavam no in t erval o de 0,01 a 2,7 l g/ L (DÍAZ-CR UZ & BARCELÓ, 2009) 3.1.1. CONTAMINAÇÃO D A VID A M ARINHA A biodiversidade ma rinha é tão grande que os pesquisadores, que realizara m o ultimo censo (2000 a 2010) em 25 re g iões do pla neta , acredita m que ainda falta 91% das espéci es a serem descobertas, descritas e catalogadas . E stima-se que e xistam cerca de um (1) mi lhão de espécies marinhas, das quais apenas aproximadamente 250 mil sejam conhecidas e 190 mil descritas, sendo que destas, 19 % são Crustác eos (l agos tas, c amarões e siris); 17 % Moluscos, 7 12 % Pei xes (i ncluindo tubarões), 2% Cetáceos e out ros Verte brados c omo l eões- marinhos, focas, tartarugas e lontras. (AUSUB E L, TREW CRIS T & WAGGONER, 2010). Figura 1: Tabel a de d i stribuição dos gr up os taxonômicos d e vida m arinha. Fonte: Philippe Bouch et e Benoit Fontain e (F i rst CENSUS of m ar ine life 2010 ). 3.1.2 ALGAS V ERDES A presentar a s pesquisas que mostram contaminação das algas 3.1.3 CORAIS Os corais são a fetados de 4 ma n eiras pela contaminação por filtros UV : aume nto da suscetibilidade ao branqueame n to, genotoxici dade (dano ao DNA ), cresciment o esquelético anormal (via ruptura endócrina) e deformi dades e m cora is jovens. A nálise de form as larvais e 8 células de coral i n vitro m ostrar am que a oxi benzona (BP3) representa risco pa ra a sobrevivência dos recifes de corais (DO WNS; K RAMASKY -WINTER; S EGAL ET AL, 2016) e a contaminação das pra ias por BP-3 pode percorre r at é 0,6 km de distância a pa rtir da fonte da polui ção (TA S HI RO E KAMEDA, 2013). Outra substânci a, a benzofenona -2 (BP- 2), mesmo concentrações muito ba ixas de pode ma tar ra p idamente corais juvenis, al ém de causar branqueamento e danos ao DNA . (DOWNS; KRAMASKY -WINTER; SEGA L et a l., 2014). + 3.1.4 MEXILH ÕES Mexilhões Wild My tilus edulis e Mytilus gal loprovincialis foram estudados a o longo da costa francesa. 100% das amostra s mostraram quantidade quantificáv el de EH MC e 55% das amostra s apresentaram oc tocrileno. Os efei tos dos DEs (desreguladores e ndócrinos) em mexilhões são de difícil interpretação visto que nem mesmo o sistema endócrino dos invertebrados foi t otalmente esclarecido. M as , é fato comprovado que os filtr os UV se bioacumulam nos mexilhões. (BA C HELOT et al., 2012) Podem causar.... + 3.1.5 OURIÇOS DO MAR O ouriç o do mar (Paracentrotus lividus ) é um equinode r mo herbív oro enc ontrado facilmente em á r eas rochosas, que t em sido consumido pelos humanos c omo uma iguaria de frutos do mar. A presentar a s pesquisas que mostram cont aminaç ão dos ouriços 3.1.6 PEIX ES Na Noruega, todos os fí gados de baca lhau analisados continham contaminaç ão por pelo menos um filtro UV ( L ANGF ORD, 2015). A presentar a s pesquisas que mostram cont aminaç ão dos peixes 3.1.7 MAMÍF EROS M A RIN H OS 9 Os mamí feros ma rinhos são animais que ocupam o topo de suas cadeias tróficas, portanto, c ompostos orgânicos int oxican tes a cabam sendo enc on trados e m concentrações muito elevadas nos org anismos desses animais ( YOGUI, 2002). Em 2013 foi publica do o pri meiro estudo constatando a presença de octocrileno em mamíferos marinhos. F oram anal isado s 56 c etáceos da espéc ie Toninha ( Pontoporia blainvillei ) da s á g uas costeira s bra sileiras e comprovou -se que o octocril eno e stav a present e em 21 dos animais amostr ados, acumulado no t ecido hepático em nív eis muito al tos de concentração, variando de 90 a 780 na no gramas para cada g rama (ng/g) de lipídio do animal; um número deveras assustador quando compara do ao valor esperado que deveria ser inferior a 23 ng/g. Isso indica que o octocrileno tem a tendência de bioacumular e biomag ni ficar ao longo da cadeia alimen tar. O ma ior percentual de animais foi encont r ado em São P aulo, enquanto a área em que os ani mais aprese ntaram maior concentração média d e octocrileno foi Santa Catarina, uma área que recebe tanto á guas re sidua is industri ais quanto á guas de descarga urbana, o que nos leva a perceber que a maior contaminação não pr ovém das atividades recreativas aquáticas como se imaginava incia lmente. (GAG O -F ERRE RO at al., 2013). Em 2015 foi publicado um e studo que analisav a a con t aminação por filtros UV em tecidos de pares mãe-feto de golfinhos da costa brasileira com o objetivo de inv estigar a possív el t ransferência pré - natal de sses compostos. Os resultados desse estudo comprov a ram que a Toninha transfere e sse contaminante para seus fetos atrav és da plac enta, demonstrando assim que os fi ltros UV são fa tores de risco pa r a câ n cer, deficiência imunológ i ca e anormalidades reprodutivas. (AL ONSO et al., 2015) Os efeitos dos filt ros UV como interferente s endócrinos se m ostrou ainda mais preocupante quando foi comprov ado que os fetos humanos são re almente expostos a uma ampla diversidade de filtros UV at ravés da place nta de suas mãe s. (VALL E - SI STAC et al., 2016). 10 Novidade: cientistas já encontraram interferentes endó crinos no leite materno também. Estudo liderado pela toxicologi sta Margret Schlumpf, da Universidade de Zurich, detectou concentrações de até 135 nanogramas de octocril eno em 67% das amostras qu e analisou, enquanto os 23% restantes apresentaram níveis não detectávei s da su bstância. O trabalho foi publicado no periódico Che mos phere em 2010 (v. 81, nº 10). Seg undo a pesquisadora, essas con centrações são associadas diretamen te ao uso de cosméticos e filtros solares. “ O estudo revelou correlação significativa en tre o uso de pr o du tos contendo filtros UV e sua presença no leite materno”, escreve Schlumpf. 4. CONCLUSÃO Essa revisão bibliográfica mostrou que d iversas espécies do e cossistema marinho demonstram esta r contaminadas por filt r os UV or gânicos, que a g em c omo desreg uladores endócrinos (DEs) esti mulando a produção de hormônios fe mininos e inibindo a produção de hormônios masculinos. A lém dos efe itos sobre a fa un a a quática devemos levar em conta que nossa constituição bioquímica é muito similar à dos mamíferos mari nhos, por i sso nós podem os utilizá- los como ‘espécie sentinela’ e considerar que o impacto da contaminaç ão desses animais esteja atingindo de forma si milar a população humana. A l g uns países te m se mostrado muito preocupados com o efe ito desses conta minan tes. A A le manha, por exemplo, desenv ol v eu um aplicativ o (Tox F ox) pa ra ajudar os consumidores a decifrarem se no rótulo do produto há a presença de substâncias que podem causar alteração hormonal. Essa preoc up ação é justificável em especial quando le vamos em conta qu e a desreg ula ção hormonal (do e ixo hipotálamo-pituitária-tireóide) durante o desenvolv imento fe tal podem causar danos i rreversív ei s como, por exemplo, problema s com linguag em (fa la e interpretação), coordenação motora fina deficiente, problemas com percepção e spacial, déficit de atenção, hipe rativ i dade, alterações neuromotoras, da nos cognitivos e at é mesmo retardo mental. Além disso, a exposição à desreg uladores endócrino s já foi associada a doenças tais como dia betes, obesidade e câ ncer. Experimentos com ratos mostraram que esses DEs já provocaram formação de anima is que tinham órgãos sexuais femininos, porém com u m sistema nervoso c entral exibindo característ icas comportame ntais e hormonais de i nd ivíduos do sexo masculino.

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