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MANUAL CASEIRO 158 Lei Maria da Penha Lei nº 11.340/2006 1. Contexto Histórico Até 1990, a violência doméstica era tratada de modo comum, quando então se iniciou no Ordenamento Jurídico Brasileiro um procedimento de especialização da violência. Nesse contexto, em 1990 surge então o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), legislação especial. Em sequência, o advento da Lei 8.072/90, especializando também os crimes hediondos e equiparados. Foi nesse espírito de especialização ainda, que surge a Lei nº 8.078/90 (CDC), Lei nº 8.137/90 e depois a Lei nº 9.099/95 – especializando as infrações de menor potencial ofensivo. Fase de Especialização da Violência Lei nº 8.069/90 – especializou a violência contra criança; Lei nº 8.072/90 – especializou os crimes hediondos; Lei nº 8.078/90 – especializou c/ o Código de Defesa do Consumidor; Lei nº 8.137/90 – lei dos crimes contra ordem tributária; Lei nº 9.099/95 – especializou a violência de menor potencial ofensivo; Lei nº 9.455/97 – Tortura; Lei nº 9.503/97 – CTB; Lei nº 9.605/98 – Crimes ambientais; Lei nº 10.741/2003; Lei nº 11.340/2006 – Especializou a violência doméstica contra a mulher. Todas as referidas leis surgem com espírito de especialização da violência. Nesse contexto, evidenciamos que a Lei Maria da Penha foi mais uma legislação que integrou esse cenário que passou a prever a especialização das condutas criminosas. Nesse cenário, cumpre recordarmos ainda que a Lei n° 11.340/2006 (Lei de Violência Doméstica) conhecida como Lei Maria da Penha, é uma homenagem à Sra. Maria da Penha Maia Fernandes que, durante anos, foi vítima de violências domésticas e lutou bastante para a aprovação deste diploma. Trata-se de uma lei multidisciplinar, isto porque do próprio artigo inaugural, o qual expõe suas finalidades, deixa nítido que nenhuma das suas finalidades possuem relação direta e imediata com o direito penal. Desse modo, temos que a Lei Maria da Penha é uma: - Lei extrapenal; - Lei Multidisciplinar. A Lei Maria da Penha não criou crimes e penas, mas sim mecanismos processuais de proteção à mulher vítima de violência doméstica e familiar. MANUAL CASEIRO 159 2. Origem da “Lei Maria da Penha” A Lei Maria da Penha entrou em vigor no dia 22.09.2006. A referida legislação recebeu esse nome em decorrência da traumática situação vivenciada pela Sra. Maria da Penha Maia Fernandes, a qual foi vítima dessa violência. A Sra. Maria da Penha sofreu uma primeira violência no dia 29.05.1983, vitima de disparo de arma de fogo efetuado pelo próprio marido, vindo em consequência deste tiro a ficar paraplégica. Infelizmente, o histórico de violência sofrida pela mesma não cessou por aí, com um pouco menos de uma semana do último episódio, ela é vítima novamente, mas agora de uma descarga elétrica. Não obstante todos esses atentados contra a Sra. Maria da Penha, somente em setembro de 2002 o indivíduo responsável pelas agressões foi preso, sendo que foi denunciado em 1984. O caso foi levado à Corte Interamericana que publicou o relatório. Relatório n. 54/2001 da Comissão Interamericana de Direitos Humanos: “A ineficácia judicial, a impunidade e a impossibilidade de a vítima obter uma reparação mostra a falta de cumprimento do compromisso assumido pelo Brasil de reagir adequadamente ante a violência doméstica”. Diante da publicação desse relatório o Brasil resolveu criar uma Lei específica tutelando essa violência. 3. Fundamento Constitucional e Convencional Constituição Federal, art. 226. (...) § 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. A Constituição Federal não é o único documento a tratar da proteção a família e prevê a criação de mecanismos que proíbam a violência doméstica, também existem várias convenções internacionais que foram elaboradas com o objetivo de proteção da mulher, um exemplo ocorre em 1975 na cidade do México, onde foi celebrada a primeira conferência mundial sobre a mulher. Com o passar do tempo foi elaborada a Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres, que foi promulgada pelo Decreto 26/94. Alguns anos depois, outras convenções foram realizadas, como, por exemplo, no ano de 1980, em que houve uma convenção realizada em Copenhague (Dinamarca), conhecida como a segunda conferência mundial sobre a mulher. MANUAL CASEIRO 160 Mais tarde, mediante uma nova conferência (conhecida como terceira conferência mundial sobre a mulher), realizada em 1985 no Quênia na cidade de Nairóbi. Obs.1: No plano interamericano, podemos destacar a convenção de Belém do Pará celebrada no ano de 1994, visando prevenir e erradicar a violência doméstica. Essa convenção foi incorporada ao ordenamento pátrio pelo Decreto 1.973/96. Obs.2: Isso é chamado pela doutrina de processo de especificação do sujeito do direito, conforme já apontado no item “1” de nosso material “contexto histórico”. Diante do exposto, contemplamos que a Lei n° 11.340/06 foi criada não apenas para atender ao disposto no art. 226, § 8°, da Constituição Federal, segundo o qual “o Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações”, mas também de modo a dar cumprimento a diversos tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil. 4. Finalidades da Lei Maria da Penha A Lei Maria da Penha não possui conteúdo/natureza penal, uma vez que ela não prevê tipos penais que configurem violência doméstica e familiar contra a mulher. De igual modo, o seu conteúdo não tem nenhuma norma ligada ao exercício do jus puniendi. Em verdade, esta lei tem conteúdo processual penal (arts. 12, 15, 18, 19, 20, entre outros), mas, também trata de questões ligadas ao direito civil (arts. 23, 24, 25, ente outros). Assim, pode-se dizer que a lei tem conteúdo misto. Corroborando ao exposto, preleciona Renato Brasileiro “é necessário salientar que ela não é uma lei estritamente penal, sendo que traz dispositivos relacionados à saúde pública, contempla a criação de mecanismos destinados à proteção da mulher, traz elementos de natureza civil. Assim, dizem que ela possui um caráter multidisciplinar, vejamos o primeiro artigo da lei”. Nessa linha, vejamos o disposto no art. 1º da Lei nº 11.340/2006. Desse modo, temos: 1º Finalidade Coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra MULHER. 2º Finalidade Criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher. O juizado mencionado, não se confunde com os Juizados Especiais Criminais criados pela Lei nº 9.099 de 95. Ademais, a Lei Maria da Penha ao teor do art. 41 disciplina a vedação da incidência da Lei dos Juizados no caso de aplicação da Lei Maria da Penha. Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995. 3º Finalidade Estabelecer medidas de assistência. MANUAL CASEIRO 161 4º finalidade Estabelecer medidas de proteção as mulheres em situação de violência doméstica. A primeira finalidade da legislação em estudo consiste em coibir e prevenir a violência domestica e familiar contra mulher, trata-se em verdade, de uma medida de política criminal, e não restritamente do âmbito do direito penal. Nesse contexto, cumpre recordarmos, conforme fora estudado no manual caseirode direito penal, que a noção de direito penal, criminologia e política criminal não se confundem. A Lei Maria da Penha, tem também por finalidade a criação dos juizados de violência doméstica e familiar contra mulher. No que diz respeito a essa finalidade, merece nossa atenção a questão da expressão “Juizados”, isto porque não refere-se àquele previsto na Lei nº 9.099/95, a qual, inclusive, não deve ser aplicada nos casos de violência domestica, mas criação de varas especializadas para tratar da violência doméstica e familiar. Os juizados de violência doméstica e familiar contra mulher não se confundem com os juizados especiais da Lei 9.099/95. Por fim, a lei tem por pretensão estabelecer medidas de assistência e proteção à mulher em situação de violência doméstica e familiar. Desse modo, temos que são quatro as finalidades, nenhuma com ligação ao Direito Penal. Finalidades Coibir e Prevenir a Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; Prestar assistência à mulher vítima de violência doméstica e familiar; Proteção para a Mulher Vítima; Criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (não tem nada a ver com os Juizados da lei 9.099/95). 5. Interpretação da Lei Maria da Penha Tendo em vista que a Lei Maria da Penha foi criada com a intenção de garantir maior proteção a mulher, ela deve ser interpretada nesse sentido. Nessa perspectiva vejamos o art. 4º: Art. 4º Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar. Corroborando ao exposto, Gabriel Habib (Leis Especiais – Vol. Único, pág. 823, 2016): O legislador determinou que a interpretação da presente lei atendesse aos fins a que ela destina-se. Se a presente lei tem a finalidade de coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, os seus dispositivos devem ser interpretados de forma a melhor atender a essa finalidade. Na realidade, o legislador está a exigir do intérprete faça, em qualquer hipótese, a interpretação teleológica, que consiste na busca da finalidade da norma, ou MANUAL CASEIRO 162 seja, busca-se o que o legislador quis quando a elaborou. Trata-se de dispositivo desnecessário, uma vez que qualquer intérprete irá analisar as normas da presente lei com a interpretação voltada à proteção da mulher em situação de violência doméstica e familiar. 6. Constitucionalidade da Lei Maria da Penha Candidato, essa distinção feita pela Lei Maria da Penha, manto de proteção dado a mais a vítima mulher, é considerado constitucional, é possível esse tratamento desigual no Ordenamento Jurídico Brasileiro? Excelência, uma primeira corrente defende que a LEI É INCONSTITUCIONAL, sob os seguintes argumentos/fundamentos: a) Viola o art. 226, §5º, CF (isonomia na sociedade conjugal); “Os direitos e deveres da sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher”. Assim, questiona-se: se são exercidos igualmente, como pode a Lei nº 11.340 de 2006 tratá-los de forma desigual?! b) Viola o art. 226, §8º, CF (proteção à família – imperativo de tutela); “O estado assegurará a assistência a família na pessoa de cada um dos que a integram (proteção integral: homem e mulher) criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações”. Não poderia a Lei Maria da Penha se preocupar apenas com uma parte integrante da família, visto que seu dever é assegurar de modo geral. c) Lei Maria da Penha na contramão da historia: as leis tem sido alteradas para evitar discriminações contra pessoas em geral e a Lei Maria da Penha reforça a discriminação contra o homem). Por outro lado, uma segunda corrente argumenta que a Lei é Constitucional, sendo essa a corrente acolhida pelo Supremo Tribunal Federal. Para o Supremo Tribunal Federal, a Lei Maria da Penha é Constitucional, tratando-se em verdade de ação afirmativa do Estado. Trata-se de ação afirmativa pois fornece instrumentos para garantir a um destinatário certo a igualdade prevista em lei. Nessa esteira, em 2012 o STF julgou a constitucionalidade da Lei n° 11.340/06, que trata sobre violência doméstica, mais conhecida como Lei Maria da Penha (STF. Plenário. ADI4424/DF, rei. Min. Marco Aurélio, 9/2/2012). No sistema de proteção especial é possível termos destinatário certo, é o que acontece com a Lei Maria da Penha que tem como destinatário a “figura” da mulher. Além disso, esse sistema consagra a igualdade substancial – através de ações afirmativas, é o caso, por exemplo, da Lei Maria da Penha. Ações afirmativas podem ser definidas como conjunto de ações, programas e políticas especiais e temporárias que buscam reduzir ou minimizar os efeitos intoleráveis da discriminação em razão de gênero, raça, sexo, religião, deficiência física, ou outro fator de desigualdade. Buscam incluir setores marginalizados num patamar satisfatório de oportunidades sociais, valendo-se de mecanismos compensatórios. Esses programas de ação afirmativa não se colocam em rota de colisão com o princípio da MANUAL CASEIRO 163 igualdade, potencializando, pelo contrário, expectativas compensatórias e de inserção social de parcelas historicamente marginalizadas. Destinam-se, pois, a equacionar distorções arraigadas ou minorar-lhes as consequências antissociais. 7. Violência doméstica e familiar contra a mulher 7.1 Pressupostos cumulativos para aplicação da Lei nº 11.340/2006 a. sujeito passivo mulher: é necessário que a vítima seja mulher; trata-se de violência de gênero. Alguém que se aproveita se uma situação de vulnerabilidade e expõe essa outra pessoa a uma situação de violência. b. violência praticada em um dos contextos do art. 5º da Lei nº 11.340/2006; Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. Não é necessário o preenchimento dos três, sendo suficiente a situação vivenciada em uma dessas três situações: presença alternativa de um dos incisos do art. 5º. c. Demonstrar a caracterização da violência (art. 7º, da Lei Maria da Penha): prática da violência do art. 7º. Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III - a violência sexual, entendidacomo qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; MANUAL CASEIRO 164 IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. Percebe-se que a Lei Maria da Penha utiliza o termo "violência" em sentido amplo, abarcando não apenas a violência física, como também a violência psicológica, sexual, patrimonial e moral. Diante da análise do dispositivo legal, contemplamos que para o reconhecimento da violência contra a mulher, basta a presença alternativa de um dos incisos do art. 7°, em combinação alternativa com um dos âmbitos do art. 5° (âmbito da unidade doméstica, âmbito da família ou em qualquer relação íntima de afeto). Logo, a violência doméstica e familiar contra a mulher estará configurada tanto quando uma mulher for vítima de violência sexual no âmbito da unidade doméstica, quando contra ela for perpetrada violência psicológica numa relação íntima de afeto, por exemplo. Interessante observamos que o art. 7° faz uso da expressão "entre outras", portanto não se trata de um rol taxativo, mas sim exemplificativo. Logo, é perfeitamente possível o reconhecimento de outras formas de violência doméstica e familiar contra a mulher. Tem-se aí verdadeira hipótese de interpretação analógica. 7.2 Sujeito Passivo O sujeito passivo é exclusivamente a mulher. Dessa forma, temos que em relação ao sujeito passivo da violência doméstica e familiar, há uma exigência de uma qualidade especial: ser mulher. Portanto, revela- se inviável a aplicação da Lei Maria da Penha nas hipóteses de violência contra homens, mesmo quando originadas no ambiente doméstico ou familiar. Obs.1: Figura pública também pode ser vítima de violência doméstica e familiar contra a mulher. Informativo 539 - A Lei presume a hipossuficiência da mulher vítima de violência doméstica. O fato de a vítima ser figura pública renomada não afasta a competência do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher para processar e julgar o delito. Isso porque a situação de vulnerabilidade e de hipossuficiência da mulher, envolvida em relacionamento íntimo de afeto, revela-se ipso facto, sendo irrelevante a sua condição pessoal para a aplicação da Lei Maria da Penha. Trata-se de uma presunção da Lei. Obs.2: Transexuais: cirurgia de reversão genital + alteração do sexo em registro de nascimento. Nesse caso, aplica-se a Lei Maria da Penha ao sujeito. Essa posição ainda não é unânime. MANUAL CASEIRO 165 Obs.3: o homem pode ser vítima de violência doméstica e familiar, contudo nessa situação não haverá a possibilidade de aplicação da Lei Maria da Penha. Violência de Gênero A VIOLÊNCIA DE GÊNERO é a violência preconceito, tendo como motivação a opressão à mulher, fundamento de aplicação da Lei Maria da Penha. Trata-se de violência que se vale da hipossuficiência da vítima mulher, discriminação quanto a sexo feminino. Para que a Lei nº 11.340/2006 possa incidir no caso em concreto, faz-se necessário que decorra de denominada “violência de gênero”. A Lei Maria da Penha exige vítima (sujeito passivo) mulher, mas admite sujeito ativo HOMEM OU MULHER. Cumpre recordarmos que nem toda violência contra a mulher será enquadrada na Lei Maria da Penha, pois exige-se que a violência seja de gênero, aquela em que o agente se aproveita da hipossuficiência da mulher para sujeitá-la a uma das formas de violência. Nessa linha, o professor Renato Brasileiro preceitua: o objetivo da Lei Maria da Penha não foi o de conferir uma proteção indiscriminada a toda e qualquer mulher, mas apenas àquelas que efetivamente se encontrarem em uma situação de vulnerabilidade. É indispensável, portanto, que a vítima esteja em uma situação de hipossuficiência física ou econômica, enfim, que a infração tenha como motivação a opressão à mulher. Ausente esta violência de gênero, não se aplica a Lei Maria da Penha. Sujeito passivo Sujeito ativo Em relação ao sujeito passivo da violência doméstica e familiar, há uma exigência de uma qualidade especial: ser mulher. Em virtude disso é que estão protegidas pela Lei Maria da Penha não apenas esposas, companheiras, amantes, namoradas ou ex-namoradas, como também filhas e netas do agressor, sua mãe, sogra, avó, ou qualquer outra parente do sexo feminino com a qual haja uma relação doméstica, familiar ou íntima de afeto, desde que a violência seja de gênero. Homem ou mulher; Ensina o Professor Renato Brasileiro de Lima “para a caracterização da violência doméstica e familiar contra a mulher, não é necessário que a violência seja perpetrada por pessoas de sexos distintos. O agressor tanto pode ser um homem (união heterossexual) como outra mulher (união homoafetiva)”. 7.3 Sujeito Ativo O sujeito ativo pode ser tanto homens quanto uma mulher. Nessa perspectiva, Renato Brasileiro explica que para a caracterização da violência doméstica e familiar contra a mulher, não é necessário que a violência seja perpetrada por pessoas de sexos distintos. O agressor tanto pode ser um homem (união heterossexual) como outra mulher (união homoafetiva). Basta MANUAL CASEIRO 166 atentar para o disposto no art. 5°, pú, que prevê que as relações pessoais que autorizam o reconhecimento da violência doméstica e familiar contra a mulher independem de orientação sexual. Desse modo, lésbicas, travestis, transexuais estão ao abrigo da Lei Maria da Penha, quando a violência for perpetrada entre pessoas que possuem relações domésticas, familiares e íntimas de afeto. - Presunção absoluta de vulnerabilidade e presunção relativa de vulnerabilidade Na situação em que o homem for o sujeito ativo, há uma presunção absoluta de vulnerabilidade daquela mulher que foi vítima da violência. Por outro lado, na circunstância e que uma outra mulher for sujeito ativo do crime a presunção será relativa. Assim: Homem como sujeito ativo: presunção absoluta de vulnerabilidade; Mulher como sujeito ativo: presunção relativa de vulnerabilidade. STJ: “(...)Delito contra honra, envolvendo irmãs, não configura hipótese de incidência da Lei nº 11.340/06, que tem como objeto a mulher numa perspectiva de gênero e em condições de hipossuficiência ou inferioridade física e econômica. Sujeito passivo da violência doméstica, objeto da referida lei, é a mulher. Sujeito ativo pode ser tanto o homem quanto a mulher, desde que fique caracterizado o vínculo de relação doméstica, familiar ou de afetividade. No caso, havendo apenas desavenças e ofensas entre irmãs, não há qualquer motivação de gênero ou situação de vulnerabilidade que caracterize situação de relação íntima que possa causar violência doméstica ou familiar contra a mulher. Não se aplica a Lei nº 11.340/06”. (STJ, 3ª Seção, CC 88.027/MG, Rel. Min. Og Fernandes, DJe 18/12/2008). 7.4 Elemento subjetivo necessário para fins de incidência da Lei Maria da Penha Segundo Renato Brasileiro,para que se possa aplicar a Lei Maria da Penha, a conduta desenvolvida pelo agente deve ser movida pelo elemento subjetivo – dolo (elemento subjetivo exclusivo). Assim, eventuais condutas culposas não caracterizam a violência doméstica e familiar. Nesse contexto, cumpre reiterarmos que sendo a Lei Maria da Penha uma legislação que é baseado na violência de gênero (art. 5°, caput: “ação ou omissão baseada no gênero”), deve ficar evidenciada a consciência e a vontade do agente de atingir uma mulher em situação de vulnerabilidade, o que somente seria possível na hipótese de crimes dolosos. 7.5 Âmbito da unidade doméstica Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: MANUAL CASEIRO 167 I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; (...) A legislação faz menção a “qualquer ação ou omissão”, isto significa que essa ação ou omissão não necessariamente precisa ser uma infração penal. Sobre a unidade doméstica, a própria lei diz “com ou sem vínculo familiar”. Mas, e a empregada doméstica, poderá ser vítima? A doutrina responde dizendo que depende do caso concreto. Porque às vezes a empregada doméstica aparece uma vez a cada 15 dias (evidente que não faz parte do convívio permanente). Mas, quando ela trabalha com uma certa habitualidade estará caracterizada a unidade doméstica, fazendo jus à proteção legal. 7.6 Âmbito da Família II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; No caso do inciso II, a forma de violência independe do local, isto é, a violência não precisa ser praticada no âmbito da unidade doméstica. Percebam ainda que esse inciso II não necessita de coabitação entre o agente e a vítima. Nesse sentido, vejamos o entendimento do STJ. STJ: “(...) CRIME DE AMEAÇA PRATICADO CONTRA IRMÃ DO RÉU. (...) Na espécie, apurou-se que o Réu foi à casa da vítima para ameaçá-la, ocasião em que provocou danos em seu carro ao atirar pedras. Após, foi constatado o envio rotineiro de mensagens pelo telefone celular com o claro intuito de intimidá-la e forçá-la a abrir mão "do controle financeiro da pensão recebida pela mãe" de ambos. Nesse contexto, inarredável concluir pela incidência da Lei n.º 11.340/06, tendo em vista o sofrimento psicológico em tese sofrido por mulher em âmbito familiar, nos termos expressos do art. 5.º, inciso II, da mencionada legislação. Para a configuração de violência doméstica, basta que estejam presentes as hipóteses previstas no artigo 5º da Lei 11.343/2006 (Lei Maria da Penha), dentre as quais não se encontra a necessidade de coabitação entre autor e vítima. (5ª Turma, Resp 1.239.850/DF, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 16/02/2012). Dispensa coabitação: exige o vinculo familiar (nessa hipótese específica) abrangendo os afins. Foi cobrado e considerado correto pela prova do TJ/RS que abrange relação padrasto/enteada (pois se consideram aparentados). MANUAL CASEIRO 168 Cumpre destacarmos que, não se pode acreditar que todo e qualquer crime envolvendo relação entre parentes possa dar ensejo à aplicação da Lei Maria da Penha. STJ: “(...) AMEAÇA. SOGRA E NORA. (...) A incidência da Lei n.º 11.340/2006 reclama situação de violência praticada contra a mulher, em contexto caracterizado por relação de poder e submissão, praticada por homem ou mulher sobre mulher em situação de vulnerabilidade. Precedentes. No caso não se revela a presença dos requisitos cumulativos para a incidência da Lei n.º 11.340/06, a relação íntima de afeto, a motivação de gênero e a situação de vulnerabilidade. Concessão da ordem. Ordem não conhecida. Habeas corpus concedido de oficio, para declarar competente para processar e julgar o feito o Juizado Especial Criminal da Comarca de Santa Maria/RS”. (STJ, 5ª Turma, HC 175.816/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Belizze, j. 20/06/2013, DJe 28/06/2013). 7.7 Qualquer relação íntima de afeto III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Ao referir-se a qualquer relação íntima de afeto, o legislador abarcou a necessidade de o agressor conviver ou ter convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Na relação íntima de afeto, o importante é que haja um relacionamento entre duas pessoas, seja ele baseado na amizade, seja ele baseado em qualquer sentimento que um tiver pelo outro. É possível o reconhecimento da violência doméstica e familiar contra a mulher entre filha e mãe, desde que os fatos tenham sido praticados em razão da relação de intimidade e afeto existente entre ambas (Gabriel Habib, Leis Penais Especiais). Candidato, amante ou namorada, podem ser vítimas dessa violência? Conforme entendimento do STJ, a situação deverá ser analisada no caso concreto. Nesse sentido, vejamos um julgado. STJ: “(...) LEI MARIA DA PENHA. VIOLÊNCIA PRATICADA EM DESFAVOR DE EX- NAMORADA. (...) a aplicabilidade da mencionada legislação a relações íntimas de afeto como o namoro deve ser analisada em face do caso concreto. Não se pode ampliar o termo - relação íntima de afeto - para abarcar um relacionamento passageiro, fugaz ou esporádico. In casu, verifica-se nexo de causalidade entre a conduta criminosa e a relação de intimidade existente entre agressor e vítima, que estaria sendo ameaçada de morte após romper namoro de quase dois anos, situação apta a atrair a incidência da Lei n.º 11.340/2006. (...)”. (STJ, 3ª Seção, CC 100.654/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe 13/05/2009). Convencionalidade do Inc. III: segundo ensina Renato Brasileiro, esse inciso III vai além das convenções internacionais, de modo a inserir outra hipótese dentro do contexto de violência, que seria a relação íntima de afeto. Há doutrinadores dizendo que esse inciso III não sobrevive a um controle de convencionalidade, pois esse contexto de violência não estaria previsto nos textos internacionais. MANUAL CASEIRO 169 Contudo, essa não é o melhor entendimento, isso porque a Luz do princípio “pro homine”, quando houver um aparente conflito entre uma convenção internacional e uma legislação interna do país, sempre deverá prevalecer a norma mais favorável. Logo, o ideal é concluir que o inciso III é “convencional”. Esquematizando: Âmbito da unidade doméstico Âmbito familiar Qualquer relação intima de afeto Espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadaS. Leva em conta apenas o aspecto espacial. Nessa hipótese, o importante é que a mulher deve fazer parte desse espaço de convívio permanente. Não se exige o vínculo familiar, o que significa dizer que a violência doméstica contra a mulher pode ocorrer fora dos casos de marido e mulher, podendo ser vítima a empregada doméstica, por exemplo. Comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; Indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa Aqui importam os laços, pouco importando o lugar, pouco importando se há coabitação. Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com aofendida, independentemente de coabitação. Ao referir-se a qualquer relação íntima de afeto, o legislador abarcou a necessidade de o agressor conviver ou ter convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Na relação íntima de afeto, o importante é que haja um relacionamento entre duas pessoas, seja ele baseado na amizade, seja ele baseado em qualquer sentimento que um tiver pelo outro. É possível namorado e namorada, desde que não seja uma relação passageira, mas íntima. Independente de Orientação Sexual Art. 5º. parágrafo único: As relações enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. Isso significa que a Lei Maria da Penha está abrangendo as relações homoafetivas. Assim, reconhecendo as normas atinentes a família as relações homoafetivas. Aplica-se a Lei Maria da Penha somente nas relações homoafetivas femininas. Nessa esteira, preleciona Renato Brasileiro de Lima “o parágrafo único do art. 5° da Lei Maria da Penha não se estende a pessoa do sexo masculino vitimizada em relação homoafetiva”. O referido dispositivo legal reforçou a aplicação do direito de família para todas as relações homoafeitvas. MANUAL CASEIRO 170 #JáCaiu: Foi cobrado no concurso de Juiz Substituto – MA/2008 e considerada correta a alternativa que afirmava: A patroa que ameaça sua empregada doméstica e a mulher que agride e lesiona a companheira com quem convive em relação homoafetiva se sujeitam às normas repressivas contidas na Lei nº 11.340/2006, denominada de Lei Maria da Penha. #JáCaiu: Foi cobrado no concurso de Promotor de Justiça – DFT 2011 e considerada correta a alternativa que afirmava: Não se insere no âmbito da denominada Lei Maria da Penha a conduta de um agente que agride e causa lesões corporais em desfavor de seu companheiro, prevalecendo o agente das relações de coabitação, embora as lesões corporais sejam qualificadas na forma do art. 129, §9º, do Código Penal. 7.8 Formas de violência contra a mulher (art. 7º, Lei nº 11.340/2006) O art. 7º da Lei 11.340/2006 expõe quais são as FORMAS de violência doméstica e familiar, enquadrando-se a violência física, violência psicológica, violência sexual, violência patrimonial e violência moral. Desse modo, contemplamos que a violência doméstica e familiar pode ocorrer desde uma simples via de fato até a ocorrência de um feminicidio (homicídio qualificado e hediondo). Vejamos: Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; MANUAL CASEIRO 171 IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. Candidato, as formas de violência do art. 7º da Lei Maria da Penha são taxativas? Excelência, para uma 1ª corrente, as formas de violência compõem um rol taxativo, sendo, contudo, essa posição minoritária, pois a própria legislação faz menção a “entre outras” formas de violência. Nessa esteira, uma 2ª corrente entende que esse rol é exemplificativo, abrangendo outras formas de violência ainda que não citadas no art. 7º. Esse entendimento encontra respaldo ainda na finalidade proposta pela Lei, qual seja, conferir maior proteção a Mulher, sendo a tese adotada majoritariamente. Corroborando ao exposto, preleciona o professor Gabriel Habib (Leis Especiais – Vol. Único, pág. 829, 2016): Apesar de o legislador ter enumerado diversas formas de violência, o rol do presente artigo é exemplificativo, em razão das expressões "entre outras" contidas no caput. Esquematizando: Violência Física Trata-se de qualquer conduta que ofenda a integridade ou a saúde corporal da vítima. A ofensa à integridade corporal é a lesão que afeta órgãos, tecidos ou aspectos externos do corpo, como fraturas, ferimentos, equimoses e lesão de um músculo. Podemos citar as diversas espécies de lesão corporal (CP, art. 129), o homicídio (CP, art. 121) e até mesmo a contravenção penal de vias de fato (Dec.-Lei n° 3.688/41, art. 21). Violência Psicológica Qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima da mulher ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões. Pode causar neuroses, depressão, entre outras, ainda que de forma transitória. Por exemplo, crimes como o constrangimento ilegal (CP, art. 146), a ameaça (CP, art. 147), e o sequestro e cárcere privado (CP, art. 148). Obs.: O adultério não é mais crime, porém a sua prática poderá gerar uma humilhação à mulher. Isto é, houve a prática de uma violência psicológica. Violência Sexual Qualquer conduta ligada à dignidade sexual da mulher de forma não consentida por ela. Nessa violência podemos citar a prática de vários crimes, como exemplo o estupro, estupro de vulnerável. Violência Patrimonial Qualquer conduta ligada aos objetos, instrumentos de trabalho da vítima, bem como seus documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades. MANUAL CASEIRO 172 Dentro da violência patrimonial podemos citar o estelionato, apropriação indébita, furto. Violência Moral Consiste na conduta ofensiva à honra da vítima, tendo em vista que ao referir-se a ela o legislador elencou os crimes contra a honra: calúnia, difamação ou injúria. Exemplo: crimes contra a honra (art. 138, 139 e 140, do CP), porém praticados no âmbito de violência doméstica e familiar. Cumpre destacarmos que essa seria a única hipótese que pela própria definição pressupõe a prática de um crime. Essas formas de violência devem ser praticadas à titulo de dolo. Ademais, essas formas de violência não necessariamente precisam tipificar infração penal. “As formas de violência doméstica poderão manifestar-se e corresponderem a um crime, a uma contravenção penal ou até mesmo um fato atípico (por exemplo, adultério). Constitui- se o adultério em fato atípico, mas que não deixa de configurar violência doméstica.Desse modo, contemplamos que pode acontecer da conduta não ser considerada crime ou contravenção penal, mas não deixa de ser uma forma de violência doméstica” Na Lei Maria da Penha o termo “violência” é utilizado em sentido amplo, o que significa que não se restringe a violência física. Violência Patrimonial: - (Im) possibilidade de aplicação das imunidades absolutas e relativas aos crimes patrimoniais praticados no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher sem o emprego de violência ou grave ameaça à pessoa Conforme preleciona Renato Brasileiro há certa controvérsia na doutrina quanto à possibilidade de aplicação das imunidades absolutas e relativas aos crimes patrimoniais praticados em um contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher com o emprego de violência ou grave ameaça à pessoa. Sobre o assunto, há duas posições antagônicas: 1ª Corrente 2ª Corrente Argumenta que essas imunidades (art. 181 e 182) não são aplicáveis. Aduz que essas imunidades são aplicáveis, porque a lei não fala o contrário - É a posição que prevalece, por falta de vedação expressa. Uma segunda corrente doutrinária, à qual nos filiamos, sustenta que, diante do silêncio da Lei Maria da Penha, que não contém qualquer dispositivo expresso vedando a aplicação dos arts. 181 e 182 do CP, o ideal é concluir que as MANUAL CASEIRO 173 imunidades absolutas e relativas continuam sendo aplicáveis às infrações penais praticadas no contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher. Quando a lei quis afastar a possibilidade de aplicação de tais imunidades a determinada espécie de crime, o fez de maneira expressa, o que não aconteceu no presente caso. 8. Juizado de Violência doméstica e familiar contra a mulher Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher. Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno, conforme dispuserem as normas de organização judiciária. Juizados? Inicialmente cumpre apontarmos para o fato de que o Juizado Especial de Violência Doméstica e Familiar contra mulher não se confunde com os Juizados Especiais Criminais, a qual é vedada a aplicação pela própria Lei Maria da Penha (art. 41, Lei nº 11.340/2006). Em verdade, trata-se de órgãos da Justiça Comum do DF e dos Estados. Nesse juizado corre o processo de conhecimento e execução, possui competência cumulativa – civil e criminal. Corroborando ao exposto, explica Renato Brasileiro que embora a Lei no artigo 14 tenha utilizado a palavra “juizados”, o que ela realmente quer dizer são varas especializadas para o julgamento dessa violência doméstica contra a mulher. Competência para processo e julgamento de crimes e contravenções penais praticados no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher: “(...) Configurada a conduta praticada como violência doméstica contra a mulher, independentemente de sua classificação como crime ou contravenção, deve ser fixada a competência da Vara Criminal para apreciar e julgar o feito, enquanto não forem estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, consoante o disposto nos artigos 7º e 33 da Lei Maria da Penha. (...)”. (STJ, 5ª Turma, HC 158.615/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, DJE 08/04/2011). 8.1 Cumulação da competência por varas criminais Candidato, o que acontece no caso de Comarcas que não tem juizado especial de violência doméstica e familiar contra mulher? Excelência, enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do Título IV MANUAL CASEIRO 174 desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente. Ademais, será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o processo e o julgamento das causas referidas no caput do art. 33. Com base nesse dispositivo, no Distrito Federal o Tribunal de Justiça resolveu outorgar essa competência cumulativa a uma vara dos juizados especiais criminais, assim o Juiz do Jecrim ora irá julgar uma infração de menor potencial ofensivo, ora a violência doméstica e familiar contra a mulher. O Juiz do Jecrim deverá tomar muito cuidado, pois o julgamento dessas ações são completamente diferentes. 1ª Situação 2ª Situação Em se tratando de infração de menor potencial ofensivo é cabível a aplicação das medidas despenalizadoras (Lei 9.099/95). O juízo ad quem será a turma recursal (art. 98, I, da CF). Quando se trata de violência doméstica ou familiar contra mulher, o Juiz deve-se lembrar que aqui não se aplica a Lei 9.099/95, sendo o juízo ad quem o Tribunal de Justiça, ou, no caso da justiça federal, o TRF. Informativo 654 do STF - Nos locais em que ainda não tiverem sido estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, às varas criminais acumularão as competências cível e criminal para as causas decorrentes de violência doméstica e familiar contra a mulher. Esta determinação, que consta no art. 33 da Lei, não ofende a competência dos Estados para disciplinarem a organização judiciária local. Segundo o Relator, a Lei Maria da Penha não implicou obrigação, mas a FACULDADE de criação dos Juizados de Violência Doméstica contra a Mulher. 8.2 Crimes dolosos contra a vida praticados no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher Em um primeiro momento cumpre recordarmos que o Tribunal do júri é composto por duas fases, uma primeira chamada de Iudicium Accusationis, a segunda conhecida como Iudicium Causae. Na primeira fase temos a participação apenas do Juiz Sumariante, que pode pronunciar, impronunciar, absolver sumariamente ou desclassificar. Apenas na segunda fase é que entra a atuação do Júri sendo composto pelo Juiz Presidente e por mais 25 jurados, 7 dos quais irão compor o Conselho de sentença. Em alguns Estados essa primeira fase do Tribunal do Júri vem tramitando nos Juizados de violência doméstica e familiar contra a Mulher, enquanto que, em outros, a primeira fase tramita nas varas privativas do júri. Isso é possível, dependendo da Lei de Organização judiciária local, pois o que a Constituição Federal obriga é o Julgamento propriamente dito do crime doloso contra a vida pelo Tribunal do Júri. Nesse sentido, o Julgado do STJ. Vejamos: STJ: “(...) Ressalvada a competência do Júri para julgamento do crime doloso contra a vida, seu processamento, até a fase de pronúncia, poderá ser pelo Juizado de Violência Doméstica MANUAL CASEIRO 175 e Familiar contra a Mulher, em atenção à Lei 11.340/06. (...)”. (STJ, 5ª Turma, HC 73.161/SC, Rel. Min. Jane Silva, DJ 17/09/2007). Informativo 748 do STF: Competência Para Crimes Dolosos Contra A Vida Praticados Com violência Doméstica A Lei de Organização Judiciária poderá prever que a 1ª fase do procedimento do júri seja realizada na Vara de Violência Doméstica em caso de crimes dolosos contra a vida praticados no contexto de violência doméstica. Não haverá usurpação da competência constitucional do júri. Apenas o julgamento propriamente dito é que, obrigatoriamente, deverá ser feito no Tribunal do Júri. STF.2ª Turma .HC 102150/SC,Rei. Min. Teori Zavascki, julgaçlo em 27/5/2014 (lnfo 748). Diante do exposto, contemplamos que a Constituição Federal exige é que o julgamento ocorra no Tribunal do Júri, de forma que nada impede que a Lei de Organização Judiciária delegue a primeira fase a outro juízo, como por exemplo, ao Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. 9. Ação Penal nos crimes de lesão corporal leve e lesão corporal culposa praticados no contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher Nos crimes de lesão leve e de lesão culposa a espécie de ação penal é pública condicionada à representação (art. 88 da Lei 9.099/95): Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas. Contudo, no âmbito da Lei nº 11.343/2006 vejamos o art. 41, da Lei Maria da Penha, que afasta a aplicação da Lei 9.099/95. Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei n. 9.099/95. Como não se aplica a Lei 9.099/95, chegamos a concluir que o art. 88 não poderá ser aplicado para os crimes praticados no contexto da Lei Maria da Penha. Assim sendo, teremos: a) O crime de lesão corporal leve praticado no contexto da violência doméstica e familiar contra mulher é um crime de ação penal pública incondicionada, porque não se aplica a Lei 9.099/95. b) O crime de lesão culposa não está sujeito à Lei 11.340/06. Logo, a ele não se aplica o art. 41 da Lei, Portanto, a ação penal será pública condicionada a representação, nos termos do art. 88 da Lei n. 9.099/95. MANUAL CASEIRO 176 Nessa esteira, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 4.424, o Supremo deu interpretação conforme a Constituição aos arts. 12, I, 16 e 41, todos da Lei n° 11.340/06, para assentar a natureza incondicionada da ação penal em casos de lesão corporal leve e/ou culposa envolvendo violência doméstica e familiar contra a mulher. STF: “(...) AÇÃO PENAL – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER – LESÃO CORPORAL – NATUREZA. A ação penal relativa a lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada – considerações”. (STF, Pleno, ADI 4.424/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 09/02/2012). Cumpre ainda destacarmos que a decisão do Supremo reconhecendo que a ação penal é pública incondicionada vale exclusivamente para o crime de lesão corporal, NÃO É QUALQUER CRIME. Exemplo: um crime de estupro, ameaça, ainda que sejam praticados no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher, devemos observar a regra do Código Penal (Ação Penal Pública condicionada a Representação). Isso ocorre pois a Lei Maria da Penha se restringiu ao crime de lesão corporal, nada falando dos demais crimes. Assim o Estado apenas poderá agir caso a vítima represente contra o agressor. Súmula 542-STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada. * A ação penal nos crimes de lesão corporal leve cometidos em detrimento da mulher, no âmbito doméstico e familiar, é pública incondicionada. STJ. 3ª Seção. Pet 11.805-DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 10/5/2017 (recurso repetitivo) (Info 604). Súmula 542-STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada. 9.1 Retratação da representação nos crimes praticados no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o ministério público. MANUAL CASEIRO 177 O professor Renato Brasileiro explica que apesar da Lei ter mencionado “renúncia”, na realidade é uma retratação do direito de representação que já foi exercido. Momento: diferentemente do Código de Processo Penal, na Lei Maria da Penha a retratação poderá ser feita até o recebimento da denúncia. Vamos Esquematizar? Retratação no CPP Retratação na Lei Maria da Penha Até o OFERECIMENTO. Até o RECEBIMENTO. Art. 25, CPP. A representação será irretratável, depois de oferecida a denúncia. Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público. Dica: recordar que “mulher” precisa de maior tempo para decidir, em virtude disso, a retratação envolvendo violência vai até o recebimento enquanto que no CPP apenas até o oferecimento, rs! É só para decorar, meninas! A lei exige que essa retratação seja feita em audiência específica para esse fim, na presença do juiz, com a oitiva do ministério público. ademais, perceba que, diferentemente do CPP, onde a retratação deve ser feita antes do oferecimento da denúncia, aqui é antes do recebimento. (Des) necessidade de designação de audiência para ratificação de representação anteriormente oferecida Segundo Renato Brasileiro, no procedimento de crimes praticados no contexto de violência doméstica e familiar que dependem de representação (v.g., ameaça, estupro), não é obrigatória a designação de audiência a fim de que a vítima possa manifestar a retratação ou ratificar a representação anteriormente oferecida. Tal audiência também não é uma condição de abertura da ação penal em relação a tais delitos. Em síntese, sua realização não pode ser determinada de ofício pelo juiz como forma de se constranger a vítima a ratificar representação anteriormente oferecida. Em verdade, sua realização só deve ser determinada pela autoridade judiciária nos casos de crime de ação penal pública condicionada à representação (v.g., ameaça, estupro, etc.) quando tiver havido prévia manifestação da parte ofendida perante a autoridade policial ou o Promotor de Justiça antes do recebimento da denúncia demonstrando sua intenção de retratar-se da representação oferecida para o ajuizamento da ação penal contra o autor da violência doméstica, cabendo ao magistrado verificar a espontaneidade e a liberdade na prática de tal ato. Logo, caso não tenha havido qualquer manifestação MANUAL CASEIRO 178 da vítima quanto ao seu interesse em se retratar, não há qualquer nulidade decorrente da não realização da referida audiência, já que a lei não exige a realização ex officio de uma audiência para ratificação da representação anteriormente oferecida. STJ (...) A audiência de que trata o art. 16, da Lei n.º 11.340/06, não deve ser realizada ex officio, como condição da abertura da ação penal, sob pena de constrangimento ilegal à mulher, vítima de violência doméstica e familiar, pois configuraria ato de 'ratificação' da representação, inadmissível na espécie. 4. A realização da referida audiência deve ser precedida de manifestação de vontade da ofendida, se assim ela o desejar, em retratar-se da representação anteriormente registrada, cabendo ao magistrado verificar a espontaneidade e a liberdade na prática do referido ato. Precedentes”. (STJ, 5ª Turma, RMS 34.607/MS, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu, j. 13/09/2011). 10. Das medidas tomadas pelo Delegado de Polícia: atendimento pela Autoridade Policial Os artigos que seguesão de suma importância aos que prestam concurso na área policial !!! Os arts. 11 e 12 da Lei Maria da Penha trata das providências que devem ser tomadas pela autoridade policial que tenha atuação na Delegacia especializada no atendimento à mulher vítima de violência doméstica e familiar contra a mulher, ou da Delegacia de Polícia comum, nos locais em que não houver a Delegacia especializada. Vejamos: Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a autoridade policial deverá, entre outras providências: (Trata-se de rol “exemplificativo”). I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário; II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal; III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida; #JáCaiuDPCSP IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar; V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis. MANUAL CASEIRO 179 #JáCaiu: Foi cobrado no concurso de Delegado de Polícia Civil de SP/2011 e considerada correta a alternativa que afirmava: A autoridade policial deverá fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida. Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal: I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada; II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias; III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência; IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames periciais necessários; V - ouvir o agressor e as testemunhas; VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele; VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério Público. § 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá conter: I - qualificação da ofendida e do agressor; II - nome e idade dos dependentes; III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida. § 2º A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1o o boletim de ocorrência e cópia de todos os documentos disponíveis em posse da ofendida. § 3º Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde. Esquematizando: Medidas da Autoridade Policial Proteção policial; Encaminha ao hospital a ofendida; Fornecer transporte a local seguro; companhá-la na retirada dos pertences; Informá-la dos direitos e serviços disponíveis. MANUAL CASEIRO 180 11. Medidas protetivas de urgência As medidas protetivas de urgência possuem natureza de medidas cautelares, razão pela qual submetem-se à clausula de reserva de jurisdição, devendo portanto apresentar os seguintes pressupostos: a) fumus comissi delicti; b) periculum libertatis. O procedimento a ser aplicado é aquele previsto nos parágrafos do art. 282 do Código de Processo Penal. Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida. § 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato, independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente comunicado. § 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados. § 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender necessário à proteção da ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público. Inicialmente, cumpre destacar que as medidas protetivas de urgências de que trata a Lei 11.340/2006, não podem ser objeto de representação pela autoridade policial. O juiz as concederá, de acordo com o art. 19, atendendo a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida. As medidas protetivas encontram-se previstas ao teor dos art. 20 aos 24 da Lei 11.340/2006. Desse modo, contemplamos que as medidas de urgência que obrigam o agressor e as que protegem a ofendida são tratadas separadamente, em três dispositivos da Lei 11.340/2006: arts. 22, 23 e 24. (Im) possibilidade de aplicação das medidas protetivas a pessoas do sexo masculino Com o advento da Lei 12.403 (Lei das cautelares), essas medidas protetivas passaram a ser utilizadas para pessoas do sexo masculino. Vejamos o art. 313, III do CPP: CPP, art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: (...) III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, MANUAL CASEIRO 181 criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência. Denota-se que a própria redação do inciso III deixa claro que essas medidas de urgência podem ser usadas para tutelar a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, podendo ser tanto do sexo masculino, como do feminino. Aplicação das medidas protetivas de urgência pressupõe a existência de violência doméstica e familiar contra a mulher, mas não necessariamente a prática de crimes no contexto dos arts. 5º e 7º da Lei Maria da Penha; 11.1 Medidas protetivas de urgência destinada ao agressor e à ofendida As medidas protetivas de urgência são de duas espécies, a saber, aquelas que obrigam o agressor e medidas protetivas que visam proteger a ofendida. A maior parte dessas medidas protetivas possuem natureza extrapenal. Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, DE IMEDIATO, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003; II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida; IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; V - prestação de alimentosprovisionais ou provisórios. MANUAL CASEIRO 182 Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras: I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida; II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial; III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor; IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida. Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos nos incisos II e III deste artigo. 11.2 Prisão preventiva O professor Renato Brasileiro explica que de nada adiantaria a imposição de medidas protetivas se não houvesse um meio coercitivo que obrigasse o seu cumprimento. Em virtude disso é que a legislação prevê a possibilidade de prisão preventiva a ser imposta ao agressor, no caso de não cumprir as medidas impostas pelo juiz. Nesse sentido, o art. 20 da Lei Maria da Penha. Vejamos: Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial. Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso do processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. A imposição da prisão preventiva no âmbito da Lei Maria da Penha é prevista para o caso de descumprimento das medidas protetivas. Por fim, a imposição da prisão preventiva nesse caso dependerá do pressuposto básico de ter o crime sido praticado com violência doméstica (entende-se que só cabe se estiver descumprindo medida protetiva de caráter penal). (In) constitucionalidade da decretação da prisão preventiva ex officio durante as investigações: Conforme proclama a legislação, ela poderá ser decretada de ofício mesmo na investigação. Muita atenção agora!!! Se a prova pedir a letra da lei, marque sem medo que pode de ofício. Uma interpretação MANUAL CASEIRO 183 sistemática faz com que alguns autores entendam que viola o juiz imparcial, o transformando em inquisidor. No entanto, parte da doutrina entende que não viola, posto que a única finalidade da prisão preventiva nesse caso é garantir a execução das medidas protetivas de urgência (e não a persecução penal). Ademais, a lei Maria da Penha é lei especial em relação ao CPP. CPP, art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. Conforme se pode extrair da redação do dispositivo acima elencado, no CPP existe a possibilidade de o juiz decretar a prisão ex officio, mas apenas durante o processo. Agora na Lei Maria da Penha o artigo 20 prevê a possibilidade de decretação ex officio, mas o faz na fase investigatória e fase processual. Código de Processo Penal Lei Maria da Penha Existe a possibilidade de o juiz decretar a prisão ex-officio, mas apenas durante o processo. Prevê a possibilidade de decretação ex officio na fase investigatória e fase processual. Alguns doutrinadores dizem que a Lei Maria da Penha é norma especial e deve prevalecer sobre o quanto disposto no CPP. Aos olhos do professor, aqui não se trata de princípio da especialidade, na verdade é algo que está acima da hermenêutica. Afinal, a possibilidade de o Juiz decretar qualquer cautelar de ofício na fase investigatória revela-se incompatível com a garantia da imparcialidade (desdobramento do devido processo legal). Diante disso, a conclusão inevitável da doutrina é no sentido de que a previsão da Lei 11.340 não vale mais, devendo ser aplicado o mesmo regramento do CPP. Conclui-se que a decretação de ofício de medidas cautelares na Lei Maria da penha só pode ocorrer durante a fase processual, sendo que, durante a fase investigatória, o juiz apenas poderia decretar se anteriormente provocado pelo MP ou Delegado. (Im) possibilidade de decretação da prisão preventiva tão somente em virtude do descumprimento das medidas protetivas de urgência O STJ entende que o descumprimento isolado da medida protetiva não enseja a prisão preventiva, entendendo que deverá conjugar esse descumprimento com uma das hipóteses do periculum libertatis do art. 312, vejamos uma decisão: MANUAL CASEIRO 184 STJ: “(...) Muito embora o art. 313, IV, do Código de Processo Penal, com a redação dada pela Lei nº 11.340/2006, admita a decretação da prisão preventiva nos crimes dolosos que envolvam violência doméstica e familiar contra a mulher, para garantir a execução de medidas protetivas de urgência, a adoção dessa providência é condicionada ao preenchimento dos requisitos previstos no art. 312 daquele diploma. É imprescindível que se demonstre, com explícita e concreta fundamentação, a necessidade da imposição da custódia para garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, sem o que não se mostra razoável a privação da liberdade, ainda que haja descumprimento de medida protetiva de urgência, notadamente em se tratando de delitos punidos com pena de detenção”. (STJ, 6ª Turma, HC 100.512/MT, Rel. Min. Paulo Gallotti, DJe 23/06/2008). (In) constitucionalidade da decretação da prisão preventiva para fins de assegurar o cumprimento de medidas protetivas de urgência de natureza cível Com a decretação de uma prisão preventiva para se assegurar a medida protetiva de natureza cível, não temos propriamente uma prisão preventiva, mas sim uma prisão de natureza cível. Alguns doutrinadores entendem que poderá ser decretada a preventiva, mas desde que ela tenha origem na prática de algum crime. Descumprimento injustificado das medidas protetivas e tipificação do crime de desobediência CP, Desobediência - art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. O descumprimento das medidas protetivas não tipifica o crime de desobediência. Na visão dos Tribunais Superiores, a própria lei já diz qual a consequência do descumprimento das medidas protetivas (prisão preventiva) e em nenhum momento fala em crime de desobediência. Informativo n. 544 do STJ: O descumprimento de medida protetiva de urgência prevista na Lei Maria da Penha (art. 22 da Lei 11.340/2006) não configura crime de desobediência (art. 330 do CP). De fato, a jurisprudência do STJ firmou o entendimento de que, para a configuração do crime de desobediência, não basta apenas o não cumprimento de uma ordem judicial, sendo indispensável que inexista a previsão de sanção específica em caso de descumprimento (HC 115.504-SP, Sexta Turma, Dje 9/2/2009). MANUAL CASEIRO 185 Desse modo, está evidenciada a atipicidade da conduta, porque a legislação previu alternativas para que ocorra o efetivo cumprimento das medidas protetivas de urgência, previstas na Lei Maria da Penha, prevendo sanções de natureza civil, processual civil, administrativa e processualpenal. Precedentes citados: REsp 1.374.653-MG, Sexta Turma, DJe 2/4/2014; e AgRg no Resp 1.445.446-MS, Quinta Turma, DJe 6/6/2014. RHC 41.970-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 7/8/2014 (Vide Informativo n. 538). Descumprimento de medida protetiva não configura crime de desobediência O descumprimento de medida protetiva de urgência prevista na Lei Maria da Penha (art. 22 da Lei 11.340/2006) não configura crime de desobediência (art. 330 do CP). STJ. 5ª Turma. REsp 1.374.653- MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/3/2014 (Info 538). STJ.6ª Turma.RHC 41.970-MG, 4. Min. Laurita Vaz, julgado em 7/8/2014 (Info 544). 12. (In) aplicabilidade da Lei dos Juizados Especiais Criminais às Infrações penais praticadas com violência doméstica e familiar contra a mulher Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. O STF decidiu que este art. 41 é constitucional e que, para a efetiva proteção das mulheres vítimas de violência doméstica, foi legítima a opção do legislador de excluir tais crimes do âmbito de incidência da Lei nº 9.099/95 (STF. Plenário. ADI 4424/DF, rei. Min. Marco Aurélio, 9/2/2012). Fundamentos favoráveis à constitucionalidade: A promoção da igualdade entre os sexos passa não apenas pelo combate à discriminação contra a mulher, mas também pela adoção de políticas compensatórias capazes de acelerar a igualdade de gênero. STF: “(...) VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – GÊNEROS MASCULINO E FEMININO – TRATAMENTO DIFERENCIADO. O artigo 1º da Lei nº 11.340/06 surge, sob o ângulo do tratamento diferenciado entre os gêneros – mulher e homem –, harmônica com a Constituição Federal, no que necessária a proteção ante as peculiaridades física e moral da mulher e a cultura brasileira. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER – REGÊNCIA – LEI Nº 9.099/95 – AFASTAMENTO. O artigo 41 da Lei nº 11.340/06, a afastar, nos crimes de violência doméstica contra a mulher, a Lei nº 9.099/95, mostra-se em consonância com o disposto no MANUAL CASEIRO 186 § 8º do artigo 226 da Carta da República, a prever a obrigatoriedade de o Estado adotar mecanismos que coíbam a violência no âmbito das relações familiares”. (STF, Pleno, ADC 19/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 09/02/2012). Informativo 654 do STF - Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher não se aplica a Lei dos Juizados Especiais (Lei n. 9.099/95), mesmo que a pena seja menor que 2 anos. Súmula 536-STJ: A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha. 13. Nova Súmula do STJ: 600, STJ Súmula 600 – STJ: Para configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da lei 11.340/2006, lei Maria da Penha, NÃO SE EXIGE a coabitação entre autor e vítima. Coabitação significa morar sob o mesmo teto. É possível a aplicação da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) mesmo que não haja coabitação entre autor e vítima? SIM. É possível que haja violência doméstica mesmo que agressor e vítima não convivam sob o mesmo teto (não morem juntos). Isso porque o art. 5º, III, da Lei afirma que há violência doméstica em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Exemplos: Ex1: violência praticada por irmão contra irmã, ainda que eles nem mais morem sob o mesmo teto (STJ. 5ª Turma. REsp 1239850/DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/02/2012); Ex2: é possível que a agressão cometida por ex-namorado configure violência doméstica contra a mulher ensejando a aplicação da Lei nº 11.340/2006 (STJ. 5ª Turma. HC 182.411/RS, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu (Des. Conv. do TJ/RJ), julgado em 14/08/2012). Alguns precedentes do STJ sobre o tema: A Lei nº 11.340/06 buscou proteger não só a vítima que coabita com o agressor, mas também aquela que, no passado, já tenha convivido no mesmo domicílio, contanto que haja nexo entre a agressão e a relação íntima MANUAL CASEIRO 187 de afeto que já existiu entre os dois. STJ. 3ª Seção. CC 102.832/MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe 22/04/2009. A intenção do legislador, ao editar a Lei Maria da Penha, foi de dar proteção à mulher que tenha sofrido agressão decorrente de relacionamento amoroso, e não de relações transitórias, passageiras, sendo desnecessária, para a comprovação do aludido vínculo, a coabitação entre o agente e a vítima ao tempo do crime. STJ. 6ª Turma. HC 181.246/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, DJe 06/09/2013. A caracterização da violência doméstica e familiar contra a mulher não depende do fato de agente e vítima conviverem sob o mesmo teto. Assim, embora a agressão tenha ocorrido em local público, ela foi nitidamente motivada pela relação familiar que o agente mantém com a vítima, sua irmã, circunstância que dá ensejo à incidência da Lei Maria da Penha. STJ. 5ª Turma. HC 280.082/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 12/02/2015. Fonte: http://www.dizerodireito.com.br/2017/11/sumula-600-do-stj-comentada.html 14. (In) aplicabilidade do Princípio da Insignificância: Súmula 589, STJ. Súmula 589-STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 13/09/2017, DJe 18/09/2017. 14.1 Princípio da insignificância Quem primeiro tratou sobre o princípio da insignificância no direito penal foi Claus Roxin, em 1964. Também é chamado de “princípio da bagatela” ou “infração bagatelar própria”. O princípio da insignificância não tem previsão legal no direito brasileiro. Trata-se de uma criação da doutrina e da jurisprudência. Para a posição majoritária, o princípio da insignificância é uma causa supralegal de exclusão da tipicidade material. Se o fato for penalmente insignificante, significa que não lesou nem causou perigo de lesão ao bem jurídico. Logo, aplica-se o princípio da insignificância e o réu é absolvido por atipicidade material, com fundamento no art. 386, III do CPP. O princípio da insignificância atua, então, como um instrumento de interpretação restritiva do tipo penal. 14.2 O princípio da insignificância pode ser aplicado aos delitos praticados em situação de violência doméstica? MANUAL CASEIRO 188 NÃO. Não se aplica o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas. Os delitos praticados com violência contra a mulher, devido à expressiva ofensividade, periculosidade social, reprovabilidade do comportamento e lesão jurídica causada, perdem a característica da bagatela e devem submeter-se ao direito penal. Assim, o STJ e o STF não admitem a aplicação dos princípios da insignificância aos crimes e contravenções praticados com violência ou grave ameaça contra a mulher, no âmbito das relações domésticas, dada a relevância penal da conduta. Surgiu uma tese defensiva afirmando que se o casal se reconciliasse durante o curso do processo criminal, o juiz poderia absolver o réu com base no chamado “princípio da bagatela imprópria”. Essa tese é aceita pelos Tribunais Superiores? NÃO. Assim como ocorre com o princípio da insignificância, também não se admite a aplicação do princípio da bagatela imprópria para os crimes ou contravenções penais praticados contra mulher no âmbito das relações
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