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LEI MARIA DA PENHA - MC

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MANUAL CASEIRO 
158 
Lei Maria da Penha 
Lei nº 11.340/2006 
 
1. Contexto Histórico 
Até 1990, a violência doméstica era tratada de modo comum, quando então se iniciou no Ordenamento Jurídico 
Brasileiro um procedimento de especialização da violência. 
Nesse contexto, em 1990 surge então o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), legislação especial. 
Em sequência, o advento da Lei 8.072/90, especializando também os crimes hediondos e equiparados. Foi nesse 
espírito de especialização ainda, que surge a Lei nº 8.078/90 (CDC), Lei nº 8.137/90 e depois a Lei nº 9.099/95 – 
especializando as infrações de menor potencial ofensivo. 
Fase de Especialização da Violência 
Lei nº 8.069/90 – especializou a violência contra criança; 
Lei nº 8.072/90 – especializou os crimes hediondos; 
Lei nº 8.078/90 – especializou c/ o Código de Defesa do Consumidor; 
Lei nº 8.137/90 – lei dos crimes contra ordem tributária; 
Lei nº 9.099/95 – especializou a violência de menor potencial ofensivo; 
Lei nº 9.455/97 – Tortura; 
Lei nº 9.503/97 – CTB; 
Lei nº 9.605/98 – Crimes ambientais; 
Lei nº 10.741/2003; 
Lei nº 11.340/2006 – Especializou a violência doméstica contra a mulher. 
 
Todas as referidas leis surgem com espírito de especialização da violência. Nesse contexto, evidenciamos que a 
Lei Maria da Penha foi mais uma legislação que integrou esse cenário que passou a prever a especialização das 
condutas criminosas. Nesse cenário, cumpre recordarmos ainda que a Lei n° 11.340/2006 (Lei de Violência 
Doméstica) conhecida como Lei Maria da Penha, é uma homenagem à Sra. Maria da Penha Maia Fernandes que, 
durante anos, foi vítima de violências domésticas e lutou bastante para a aprovação deste diploma. Trata-se de 
uma lei multidisciplinar, isto porque do próprio artigo inaugural, o qual expõe suas finalidades, deixa nítido que 
nenhuma das suas finalidades possuem relação direta e imediata com o direito penal. 
Desse modo, temos que a Lei Maria da Penha é uma: 
- Lei extrapenal; 
- Lei Multidisciplinar. 
 
 A Lei Maria da Penha não criou crimes e penas, mas sim mecanismos processuais de 
proteção à mulher vítima de violência doméstica e familiar. 
 
 
 
 
 
 MANUAL CASEIRO 
159 
2. Origem da “Lei Maria da Penha” 
A Lei Maria da Penha entrou em vigor no dia 22.09.2006. 
A referida legislação recebeu esse nome em decorrência da traumática situação vivenciada pela Sra. Maria 
da Penha Maia Fernandes, a qual foi vítima dessa violência. A Sra. Maria da Penha sofreu uma primeira 
violência no dia 29.05.1983, vitima de disparo de arma de fogo efetuado pelo próprio marido, vindo em 
consequência deste tiro a ficar paraplégica. Infelizmente, o histórico de violência sofrida pela mesma não 
cessou por aí, com um pouco menos de uma semana do último episódio, ela é vítima novamente, mas agora 
de uma descarga elétrica. 
Não obstante todos esses atentados contra a Sra. Maria da Penha, somente em setembro de 2002 o indivíduo 
responsável pelas agressões foi preso, sendo que foi denunciado em 1984. 
O caso foi levado à Corte Interamericana que publicou o relatório. 
 
Relatório n. 54/2001 da Comissão Interamericana de Direitos Humanos: “A ineficácia 
judicial, a impunidade e a impossibilidade de a vítima obter uma reparação mostra a falta de 
cumprimento do compromisso assumido pelo Brasil de reagir adequadamente ante a 
violência doméstica”. 
 
Diante da publicação desse relatório o Brasil resolveu criar uma Lei específica tutelando essa violência. 
 
3. Fundamento Constitucional e Convencional 
 
Constituição Federal, art. 226. (...) 
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, 
criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. 
 
A Constituição Federal não é o único documento a tratar da proteção a família e prevê a criação de 
mecanismos que proíbam a violência doméstica, também existem várias convenções internacionais que 
foram elaboradas com o objetivo de proteção da mulher, um exemplo ocorre em 1975 na cidade do México, 
onde foi celebrada a primeira conferência mundial sobre a mulher. Com o passar do tempo foi elaborada a 
Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres, que foi promulgada 
pelo Decreto 26/94. 
Alguns anos depois, outras convenções foram realizadas, como, por exemplo, no ano de 1980, em que houve 
uma convenção realizada em Copenhague (Dinamarca), conhecida como a segunda conferência mundial 
sobre a mulher. 
 
 
 
 
 
 MANUAL CASEIRO 
160 
Mais tarde, mediante uma nova conferência (conhecida como terceira conferência mundial sobre a mulher), 
realizada em 1985 no Quênia na cidade de Nairóbi. 
Obs.1: No plano interamericano, podemos destacar a convenção de Belém do Pará celebrada no ano de 1994, 
visando prevenir e erradicar a violência doméstica. Essa convenção foi incorporada ao ordenamento pátrio 
pelo Decreto 1.973/96. 
Obs.2: Isso é chamado pela doutrina de processo de especificação do sujeito do direito, conforme já apontado 
no item “1” de nosso material “contexto histórico”. 
Diante do exposto, contemplamos que a Lei n° 11.340/06 foi criada não apenas para atender ao disposto no 
art. 226, § 8°, da Constituição Federal, segundo o qual “o Estado assegurará a assistência à família na 
pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas 
relações”, mas também de modo a dar cumprimento a diversos tratados internacionais ratificados pela 
República Federativa do Brasil. 
 
4. Finalidades da Lei Maria da Penha 
A Lei Maria da Penha não possui conteúdo/natureza penal, uma vez que ela não prevê tipos penais que 
configurem violência doméstica e familiar contra a mulher. De igual modo, o seu conteúdo não tem nenhuma 
norma ligada ao exercício do jus puniendi. Em verdade, esta lei tem conteúdo processual penal (arts. 12, 
15, 18, 19, 20, entre outros), mas, também trata de questões ligadas ao direito civil (arts. 23, 24, 25, ente 
outros). Assim, pode-se dizer que a lei tem conteúdo misto. 
Corroborando ao exposto, preleciona Renato Brasileiro “é necessário salientar que ela não é uma lei 
estritamente penal, sendo que traz dispositivos relacionados à saúde pública, contempla a criação de 
mecanismos destinados à proteção da mulher, traz elementos de natureza civil. Assim, dizem que ela possui 
um caráter multidisciplinar, vejamos o primeiro artigo da lei”. 
Nessa linha, vejamos o disposto no art. 1º da Lei nº 11.340/2006. 
Desse modo, temos: 
1º Finalidade Coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra MULHER. 
2º Finalidade Criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher. 
 O juizado mencionado, não se confunde com os Juizados Especiais Criminais criados pela Lei nº 
9.099 de 95. Ademais, a Lei Maria da Penha ao teor do art. 41 disciplina a vedação da incidência da Lei dos 
Juizados no caso de aplicação da Lei Maria da Penha. 
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, 
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995. 
3º Finalidade Estabelecer medidas de assistência. 
 
 
 
 
 
 MANUAL CASEIRO 
161 
4º finalidade Estabelecer medidas de proteção as mulheres em situação de violência doméstica. 
A primeira finalidade da legislação em estudo consiste em coibir e prevenir a violência domestica e familiar 
contra mulher, trata-se em verdade, de uma medida de política criminal, e não restritamente do âmbito do direito 
penal. 
Nesse contexto, cumpre recordarmos, conforme fora estudado no manual caseirode direito penal, que a noção de 
direito penal, criminologia e política criminal não se confundem. 
A Lei Maria da Penha, tem também por finalidade a criação dos juizados de violência doméstica e familiar contra 
mulher. 
No que diz respeito a essa finalidade, merece nossa atenção a questão da expressão “Juizados”, isto porque não 
refere-se àquele previsto na Lei nº 9.099/95, a qual, inclusive, não deve ser aplicada nos casos de violência 
domestica, mas criação de varas especializadas para tratar da violência doméstica e familiar. 
 Os juizados de violência doméstica e familiar contra mulher não se confundem com os juizados 
especiais da Lei 9.099/95. 
Por fim, a lei tem por pretensão estabelecer medidas de assistência e proteção à mulher em situação de violência 
doméstica e familiar. 
Desse modo, temos que são quatro as finalidades, nenhuma com ligação ao Direito Penal. 
Finalidades 
Coibir e Prevenir a Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; 
Prestar assistência à mulher vítima de violência doméstica e familiar; 
Proteção para a Mulher Vítima; 
Criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (não tem nada a ver com os 
Juizados da lei 9.099/95). 
 
 
5. Interpretação da Lei Maria da Penha 
Tendo em vista que a Lei Maria da Penha foi criada com a intenção de garantir maior proteção a mulher, ela 
deve ser interpretada nesse sentido. Nessa perspectiva vejamos o art. 4º: 
 
Art. 4º Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se destina e, 
especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e 
familiar. 
Corroborando ao exposto, Gabriel Habib (Leis Especiais – Vol. Único, pág. 823, 2016): O legislador 
determinou que a interpretação da presente lei atendesse aos fins a que ela destina-se. Se a presente lei tem 
a finalidade de coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, os seus dispositivos devem ser 
interpretados de forma a melhor atender a essa finalidade. Na realidade, o legislador está a exigir do intérprete 
faça, em qualquer hipótese, a interpretação teleológica, que consiste na busca da finalidade da norma, ou 
 
 
 
 
 
 MANUAL CASEIRO 
162 
seja, busca-se o que o legislador quis quando a elaborou. Trata-se de dispositivo desnecessário, uma vez que 
qualquer intérprete irá analisar as normas da presente lei com a interpretação voltada à proteção da mulher 
em situação de violência doméstica e familiar. 
 
6. Constitucionalidade da Lei Maria da Penha 
Candidato, essa distinção feita pela Lei Maria da Penha, manto de proteção dado a mais a vítima mulher, 
é considerado constitucional, é possível esse tratamento desigual no Ordenamento Jurídico Brasileiro? 
Excelência, uma primeira corrente defende que a LEI É INCONSTITUCIONAL, sob os seguintes 
argumentos/fundamentos: 
a) Viola o art. 226, §5º, CF (isonomia na sociedade conjugal); “Os direitos e deveres da sociedade 
conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher”. Assim, questiona-se: se são exercidos 
igualmente, como pode a Lei nº 11.340 de 2006 tratá-los de forma desigual?! 
b) Viola o art. 226, §8º, CF (proteção à família – imperativo de tutela); “O estado assegurará a 
assistência a família na pessoa de cada um dos que a integram (proteção integral: homem e mulher) criando 
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações”. Não poderia a Lei Maria da Penha se 
preocupar apenas com uma parte integrante da família, visto que seu dever é assegurar de modo geral. 
c) Lei Maria da Penha na contramão da historia: as leis tem sido alteradas para evitar discriminações 
contra pessoas em geral e a Lei Maria da Penha reforça a discriminação contra o homem). 
Por outro lado, uma segunda corrente argumenta que a Lei é Constitucional, sendo essa a corrente acolhida 
pelo Supremo Tribunal Federal. Para o Supremo Tribunal Federal, a Lei Maria da Penha é Constitucional, 
tratando-se em verdade de ação afirmativa do Estado. Trata-se de ação afirmativa pois fornece instrumentos 
para garantir a um destinatário certo a igualdade prevista em lei. 
Nessa esteira, em 2012 o STF julgou a constitucionalidade da Lei n° 11.340/06, que trata sobre violência 
doméstica, mais conhecida como Lei Maria da Penha (STF. Plenário. ADI4424/DF, rei. Min. Marco Aurélio, 
9/2/2012). 
No sistema de proteção especial é possível termos destinatário certo, é o que acontece com a Lei Maria da 
Penha que tem como destinatário a “figura” da mulher. Além disso, esse sistema consagra a igualdade 
substancial – através de ações afirmativas, é o caso, por exemplo, da Lei Maria da Penha. 
 
Ações afirmativas podem ser definidas como conjunto de ações, programas e políticas especiais e 
temporárias que buscam reduzir ou minimizar os efeitos intoleráveis da discriminação em razão de gênero, 
raça, sexo, religião, deficiência física, ou outro fator de desigualdade. Buscam incluir setores 
marginalizados num patamar satisfatório de oportunidades sociais, valendo-se de mecanismos 
compensatórios. Esses programas de ação afirmativa não se colocam em rota de colisão com o princípio da 
 
 
 
 
 
 MANUAL CASEIRO 
163 
igualdade, potencializando, pelo contrário, expectativas compensatórias e de inserção social de parcelas 
historicamente marginalizadas. Destinam-se, pois, a equacionar distorções arraigadas ou minorar-lhes as 
consequências antissociais. 
 
7. Violência doméstica e familiar contra a mulher 
7.1 Pressupostos cumulativos para aplicação da Lei nº 11.340/2006 
a. sujeito passivo mulher: é necessário que a vítima seja mulher; trata-se de violência de gênero. Alguém 
que se aproveita se uma situação de vulnerabilidade e expõe essa outra pessoa a uma situação de 
violência. 
b. violência praticada em um dos contextos do art. 5º da Lei nº 11.340/2006; 
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou 
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral 
ou patrimonial: 
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com 
ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; 
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram 
aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; 
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, 
independentemente de coabitação. 
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. 
Não é necessário o preenchimento dos três, sendo suficiente a situação vivenciada em uma dessas três 
situações: presença alternativa de um dos incisos do art. 5º. 
c. Demonstrar a caracterização da violência (art. 7º, da Lei Maria da Penha): prática da violência do 
art. 7º. 
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: 
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; 
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da 
autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas 
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, 
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e 
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à 
autodeterminação; 
III - a violência sexual, entendidacomo qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar 
de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a 
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método 
contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, 
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; 
 
 
 
 
 
 MANUAL CASEIRO 
164 
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição 
parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou 
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; 
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. 
Percebe-se que a Lei Maria da Penha utiliza o termo "violência" em sentido amplo, abarcando não apenas a 
violência física, como também a violência psicológica, sexual, patrimonial e moral. 
 
Diante da análise do dispositivo legal, contemplamos que para o reconhecimento da violência contra a 
mulher, basta a presença alternativa de um dos incisos do art. 7°, em combinação alternativa com um dos 
âmbitos do art. 5° (âmbito da unidade doméstica, âmbito da família ou em qualquer relação íntima de 
afeto). Logo, a violência doméstica e familiar contra a mulher estará configurada tanto quando uma 
mulher for vítima de violência sexual no âmbito da unidade doméstica, quando contra ela for perpetrada 
violência psicológica numa relação íntima de afeto, por exemplo. 
Interessante observamos que o art. 7° faz uso da expressão "entre outras", portanto não se trata de um rol 
taxativo, mas sim exemplificativo. Logo, é perfeitamente possível o reconhecimento de outras formas de 
violência doméstica e familiar contra a mulher. Tem-se aí verdadeira hipótese de interpretação analógica. 
 
7.2 Sujeito Passivo 
O sujeito passivo é exclusivamente a mulher. Dessa forma, temos que em relação ao sujeito passivo da 
violência doméstica e familiar, há uma exigência de uma qualidade especial: ser mulher. Portanto, revela-
se inviável a aplicação da Lei Maria da Penha nas hipóteses de violência contra homens, mesmo quando 
originadas no ambiente doméstico ou familiar. 
Obs.1: Figura pública também pode ser vítima de violência doméstica e familiar contra a mulher. 
 
Informativo 539 - A Lei presume a hipossuficiência da mulher vítima de violência doméstica. O fato de a 
vítima ser figura pública renomada não afasta a competência do Juizado de Violência Doméstica e Familiar 
contra a Mulher para processar e julgar o delito. Isso porque a situação de vulnerabilidade e de 
hipossuficiência da mulher, envolvida em relacionamento íntimo de afeto, revela-se ipso facto, sendo 
irrelevante a sua condição pessoal para a aplicação da Lei Maria da Penha. Trata-se de uma presunção da 
Lei. 
Obs.2: Transexuais: cirurgia de reversão genital + alteração do sexo em registro de nascimento. Nesse caso, 
aplica-se a Lei Maria da Penha ao sujeito. Essa posição ainda não é unânime. 
 
 
 
 
 
 MANUAL CASEIRO 
165 
Obs.3: o homem pode ser vítima de violência doméstica e familiar, contudo nessa situação não haverá a 
possibilidade de aplicação da Lei Maria da Penha. 
 
Violência de Gênero 
A VIOLÊNCIA DE GÊNERO é a violência preconceito, tendo como motivação a opressão à mulher, 
fundamento de aplicação da Lei Maria da Penha. Trata-se de violência que se vale da hipossuficiência da 
vítima mulher, discriminação quanto a sexo feminino. Para que a Lei nº 11.340/2006 possa incidir no caso 
em concreto, faz-se necessário que decorra de denominada “violência de gênero”. A Lei Maria da Penha 
exige vítima (sujeito passivo) mulher, mas admite sujeito ativo HOMEM OU MULHER. 
Cumpre recordarmos que nem toda violência contra a mulher será enquadrada na Lei Maria da Penha, pois 
exige-se que a violência seja de gênero, aquela em que o agente se aproveita da hipossuficiência da mulher 
para sujeitá-la a uma das formas de violência. 
Nessa linha, o professor Renato Brasileiro preceitua: o objetivo da Lei Maria da Penha não foi o de conferir 
uma proteção indiscriminada a toda e qualquer mulher, mas apenas àquelas que efetivamente se encontrarem 
em uma situação de vulnerabilidade. É indispensável, portanto, que a vítima esteja em uma situação de 
hipossuficiência física ou econômica, enfim, que a infração tenha como motivação a opressão à mulher. 
Ausente esta violência de gênero, não se aplica a Lei Maria da Penha. 
Sujeito passivo Sujeito ativo 
Em relação ao sujeito passivo da violência 
doméstica e familiar, há uma exigência de uma 
qualidade especial: ser mulher. 
Em virtude disso é que estão protegidas pela Lei 
Maria da Penha não apenas esposas, companheiras, 
amantes, namoradas ou ex-namoradas, como 
também filhas e netas do agressor, sua mãe, sogra, 
avó, ou qualquer outra parente do sexo feminino 
com a qual haja uma relação doméstica, familiar ou 
íntima de afeto, desde que a violência seja de 
gênero. 
Homem ou mulher; 
Ensina o Professor Renato Brasileiro de Lima “para 
a caracterização da violência doméstica e familiar 
contra a mulher, não é necessário que a violência 
seja perpetrada por pessoas de sexos distintos. O 
agressor tanto pode ser um homem (união 
heterossexual) como outra mulher (união 
homoafetiva)”. 
 
 
7.3 Sujeito Ativo 
O sujeito ativo pode ser tanto homens quanto uma mulher. 
Nessa perspectiva, Renato Brasileiro explica que para a caracterização da violência doméstica e familiar 
contra a mulher, não é necessário que a violência seja perpetrada por pessoas de sexos distintos. O 
agressor tanto pode ser um homem (união heterossexual) como outra mulher (união homoafetiva). Basta 
 
 
 
 
 
 MANUAL CASEIRO 
166 
atentar para o disposto no art. 5°, pú, que prevê que as relações pessoais que autorizam o reconhecimento 
da violência doméstica e familiar contra a mulher independem de orientação sexual. 
Desse modo, lésbicas, travestis, transexuais estão ao abrigo da Lei Maria da Penha, quando a violência 
for perpetrada entre pessoas que possuem relações domésticas, familiares e íntimas de afeto. 
 
- Presunção absoluta de vulnerabilidade e presunção relativa de vulnerabilidade 
Na situação em que o homem for o sujeito ativo, há uma presunção absoluta de vulnerabilidade daquela 
mulher que foi vítima da violência. 
Por outro lado, na circunstância e que uma outra mulher for sujeito ativo do crime a presunção será 
relativa. 
Assim: 
 Homem como sujeito ativo: presunção absoluta de vulnerabilidade; 
 Mulher como sujeito ativo: presunção relativa de vulnerabilidade. 
STJ: “(...)Delito contra honra, envolvendo irmãs, não configura hipótese de incidência da 
Lei nº 11.340/06, que tem como objeto a mulher numa perspectiva de gênero e em 
condições de hipossuficiência ou inferioridade física e econômica. Sujeito passivo da 
violência doméstica, objeto da referida lei, é a mulher. Sujeito ativo pode ser tanto o 
homem quanto a mulher, desde que fique caracterizado o vínculo de relação doméstica, 
familiar ou de afetividade. No caso, havendo apenas desavenças e ofensas entre irmãs, não 
há qualquer motivação de gênero ou situação de vulnerabilidade que caracterize situação 
de relação íntima que possa causar violência doméstica ou familiar contra a mulher. Não 
se aplica a Lei nº 11.340/06”. (STJ, 3ª Seção, CC 88.027/MG, Rel. Min. Og Fernandes, 
DJe 18/12/2008). 
 
7.4 Elemento subjetivo necessário para fins de incidência da Lei Maria da Penha 
 
Segundo Renato Brasileiro,para que se possa aplicar a Lei Maria da Penha, a conduta desenvolvida pelo 
agente deve ser movida pelo elemento subjetivo – dolo (elemento subjetivo exclusivo). Assim, eventuais 
condutas culposas não caracterizam a violência doméstica e familiar. 
Nesse contexto, cumpre reiterarmos que sendo a Lei Maria da Penha uma legislação que é baseado na 
violência de gênero (art. 5°, caput: “ação ou omissão baseada no gênero”), deve ficar evidenciada a 
consciência e a vontade do agente de atingir uma mulher em situação de vulnerabilidade, o que somente 
seria possível na hipótese de crimes dolosos. 
 
7.5 Âmbito da unidade doméstica 
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher 
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento 
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: 
 
 
 
 
 
 
 MANUAL CASEIRO 
167 
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio 
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente 
agregadas; 
(...) 
 
A legislação faz menção a “qualquer ação ou omissão”, isto significa que essa ação ou omissão não 
necessariamente precisa ser uma infração penal. 
Sobre a unidade doméstica, a própria lei diz “com ou sem vínculo familiar”. Mas, e a empregada 
doméstica, poderá ser vítima? A doutrina responde dizendo que depende do caso concreto. Porque às 
vezes a empregada doméstica aparece uma vez a cada 15 dias (evidente que não faz parte do convívio 
permanente). Mas, quando ela trabalha com uma certa habitualidade estará caracterizada a unidade 
doméstica, fazendo jus à proteção legal. 
 
7.6 Âmbito da Família 
 
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que 
são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade 
expressa; 
 
No caso do inciso II, a forma de violência independe do local, isto é, a violência não precisa ser praticada 
no âmbito da unidade doméstica. Percebam ainda que esse inciso II não necessita de coabitação entre o 
agente e a vítima. Nesse sentido, vejamos o entendimento do STJ. 
 
STJ: “(...) CRIME DE AMEAÇA PRATICADO CONTRA IRMÃ DO RÉU. (...) Na espécie, 
apurou-se que o Réu foi à casa da vítima para ameaçá-la, ocasião em que provocou danos em 
seu carro ao atirar pedras. Após, foi constatado o envio rotineiro de mensagens pelo telefone 
celular com o claro intuito de intimidá-la e forçá-la a abrir mão "do controle financeiro da pensão 
recebida pela mãe" de ambos. Nesse contexto, inarredável concluir pela incidência da Lei n.º 
11.340/06, tendo em vista o sofrimento psicológico em tese sofrido por mulher em âmbito 
familiar, nos termos expressos do art. 5.º, inciso II, da mencionada legislação. Para a 
configuração de violência doméstica, basta que estejam presentes as hipóteses previstas no artigo 
5º da Lei 11.343/2006 (Lei Maria da Penha), dentre as quais não se encontra a necessidade de 
coabitação entre autor e vítima. (5ª Turma, Resp 1.239.850/DF, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 
16/02/2012). 
 
Dispensa coabitação: exige o vinculo familiar (nessa hipótese específica) abrangendo os afins. Foi 
cobrado e considerado correto pela prova do TJ/RS que abrange relação padrasto/enteada (pois se 
consideram aparentados). 
 
 
 
 
 
 
 MANUAL CASEIRO 
168 
Cumpre destacarmos que, não se pode acreditar que todo e qualquer crime envolvendo relação entre 
parentes possa dar ensejo à aplicação da Lei Maria da Penha. 
 
STJ: “(...) AMEAÇA. SOGRA E NORA. (...) A incidência da Lei n.º 11.340/2006 reclama 
situação de violência praticada contra a mulher, em contexto caracterizado por relação de 
poder e submissão, praticada por homem ou mulher sobre mulher em situação de 
vulnerabilidade. Precedentes. No caso não se revela a presença dos requisitos cumulativos 
para a incidência da Lei n.º 11.340/06, a relação íntima de afeto, a motivação de gênero e a 
situação de vulnerabilidade. Concessão da ordem. Ordem não conhecida. Habeas corpus 
concedido de oficio, para declarar competente para processar e julgar o feito o Juizado 
Especial Criminal da Comarca de Santa Maria/RS”. (STJ, 5ª Turma, HC 175.816/RS, Rel. 
Min. Marco Aurélio Belizze, j. 20/06/2013, DJe 28/06/2013). 
 
7.7 Qualquer relação íntima de afeto 
 
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido 
com a ofendida, independentemente de coabitação. 
 
Ao referir-se a qualquer relação íntima de afeto, o legislador abarcou a necessidade de o agressor conviver 
ou ter convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Na relação íntima de afeto, o 
importante é que haja um relacionamento entre duas pessoas, seja ele baseado na amizade, seja ele 
baseado em qualquer sentimento que um tiver pelo outro. É possível o reconhecimento da violência 
doméstica e familiar contra a mulher entre filha e mãe, desde que os fatos tenham sido praticados em 
razão da relação de intimidade e afeto existente entre ambas (Gabriel Habib, Leis Penais Especiais). 
 
Candidato, amante ou namorada, podem ser vítimas dessa violência? Conforme entendimento do STJ, 
a situação deverá ser analisada no caso concreto. Nesse sentido, vejamos um julgado. 
STJ: “(...) LEI MARIA DA PENHA. VIOLÊNCIA PRATICADA EM DESFAVOR DE EX-
NAMORADA. (...) a aplicabilidade da mencionada legislação a relações íntimas de afeto como 
o namoro deve ser analisada em face do caso concreto. Não se pode ampliar o termo - relação 
íntima de afeto - para abarcar um relacionamento passageiro, fugaz ou esporádico. In casu, 
verifica-se nexo de causalidade entre a conduta criminosa e a relação de intimidade existente 
entre agressor e vítima, que estaria sendo ameaçada de morte após romper namoro de quase dois 
anos, situação apta a atrair a incidência da Lei n.º 11.340/2006. (...)”. (STJ, 3ª Seção, CC 
100.654/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe 13/05/2009). 
 
Convencionalidade do Inc. III: segundo ensina Renato Brasileiro, esse inciso III vai além das 
convenções internacionais, de modo a inserir outra hipótese dentro do contexto de violência, que seria a 
relação íntima de afeto. Há doutrinadores dizendo que esse inciso III não sobrevive a um controle de 
convencionalidade, pois esse contexto de violência não estaria previsto nos textos internacionais. 
 
 
 
 
 
 MANUAL CASEIRO 
169 
Contudo, essa não é o melhor entendimento, isso porque a Luz do princípio “pro homine”, quando houver 
um aparente conflito entre uma convenção internacional e uma legislação interna do país, sempre deverá 
prevalecer a norma mais favorável. Logo, o ideal é concluir que o inciso III é “convencional”. 
 
Esquematizando: 
 
Âmbito da unidade doméstico Âmbito familiar Qualquer relação intima de afeto 
Espaço de convívio permanente de 
pessoas, com ou sem vínculo 
familiar, inclusive as 
esporadicamente agregadaS. Leva 
em conta apenas o aspecto espacial. 
Nessa hipótese, o importante é que 
a mulher deve fazer parte desse 
espaço de convívio permanente. 
Não se exige o vínculo familiar, o 
que significa dizer que a violência 
doméstica contra a mulher pode 
ocorrer fora dos casos de marido e 
mulher, podendo ser vítima a 
empregada doméstica, por 
exemplo. 
Comunidade formada por 
indivíduos que são ou se 
consideram aparentados, 
unidos por laços naturais, 
por afinidade ou por 
vontade expressa; 
Indivíduos que são ou se 
consideram aparentados, 
unidos por laços naturais, 
por afinidade ou por 
vontade expressa Aqui 
importam os laços, pouco 
importando o lugar, 
pouco importando se há 
coabitação. 
Em qualquer relação íntima de 
afeto, na qual o agressor conviva ou 
tenha convivido com aofendida, 
independentemente de coabitação. 
Ao referir-se a qualquer relação 
íntima de afeto, o legislador abarcou 
a necessidade de o agressor 
conviver ou ter convivido com a 
ofendida, independentemente de 
coabitação. Na relação íntima de 
afeto, o importante é que haja um 
relacionamento entre duas pessoas, 
seja ele baseado na amizade, seja ele 
baseado em qualquer sentimento 
que um tiver pelo outro. É possível 
namorado e namorada, desde que 
não seja uma relação passageira, 
mas íntima. 
 
 Independente de Orientação Sexual 
 
Art. 5º. parágrafo único: As relações enunciadas neste artigo independem de orientação 
sexual. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. 
 
Isso significa que a Lei Maria da Penha está abrangendo as relações homoafetivas. Assim, reconhecendo 
as normas atinentes a família as relações homoafetivas. 
 Aplica-se a Lei Maria da Penha somente nas relações homoafetivas femininas. Nessa 
esteira, preleciona Renato Brasileiro de Lima “o parágrafo único do art. 5° da Lei Maria da Penha não se 
estende a pessoa do sexo masculino vitimizada em relação homoafetiva”. 
O referido dispositivo legal reforçou a aplicação do direito de família para todas as relações 
homoafeitvas. 
 
 
 
 
 
 
 
 MANUAL CASEIRO 
170 
#JáCaiu: Foi cobrado no concurso de Juiz Substituto – MA/2008 e considerada correta a alternativa que 
afirmava: 
A patroa que ameaça sua empregada doméstica e a mulher que agride e lesiona a companheira com quem 
convive em relação homoafetiva se sujeitam às normas repressivas contidas na Lei nº 11.340/2006, 
denominada de Lei Maria da Penha. 
#JáCaiu: Foi cobrado no concurso de Promotor de Justiça – DFT 2011 e considerada correta a alternativa 
que afirmava: 
Não se insere no âmbito da denominada Lei Maria da Penha a conduta de um agente que agride e causa 
lesões corporais em desfavor de seu companheiro, prevalecendo o agente das relações de coabitação, 
embora as lesões corporais sejam qualificadas na forma do art. 129, §9º, do Código Penal. 
 
7.8 Formas de violência contra a mulher (art. 7º, Lei nº 11.340/2006) 
 
O art. 7º da Lei 11.340/2006 expõe quais são as FORMAS de violência doméstica e familiar, 
enquadrando-se a violência física, violência psicológica, violência sexual, violência patrimonial e 
violência moral. Desse modo, contemplamos que a violência doméstica e familiar pode ocorrer desde 
uma simples via de fato até a ocorrência de um feminicidio (homicídio qualificado e hediondo). Vejamos: 
 
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: 
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde 
corporal; 
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional 
e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou 
que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante 
ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, 
perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do 
direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à 
autodeterminação; 
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a 
manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, 
coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a 
sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao 
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno 
ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; 
 
 
 
 
 
 MANUAL CASEIRO 
171 
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, 
subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, 
documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os 
destinados a satisfazer suas necessidades; 
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação 
ou injúria. 
 
Candidato, as formas de violência do art. 7º da Lei Maria da Penha são taxativas? Excelência, para 
uma 1ª corrente, as formas de violência compõem um rol taxativo, sendo, contudo, essa posição 
minoritária, pois a própria legislação faz menção a “entre outras” formas de violência. Nessa esteira, 
uma 2ª corrente entende que esse rol é exemplificativo, abrangendo outras formas de violência ainda que 
não citadas no art. 7º. Esse entendimento encontra respaldo ainda na finalidade proposta pela Lei, qual 
seja, conferir maior proteção a Mulher, sendo a tese adotada majoritariamente. 
Corroborando ao exposto, preleciona o professor Gabriel Habib (Leis Especiais – Vol. Único, pág. 829, 
2016): Apesar de o legislador ter enumerado diversas formas de violência, o rol do presente artigo é 
exemplificativo, em razão das expressões "entre outras" contidas no caput. 
 
Esquematizando: 
 
 
Violência Física 
Trata-se de qualquer conduta que ofenda a integridade ou a saúde corporal 
da vítima. A ofensa à integridade corporal é a lesão que afeta órgãos, tecidos 
ou aspectos externos do corpo, como fraturas, ferimentos, equimoses e lesão 
de um músculo. Podemos citar as diversas espécies de lesão corporal (CP, 
art. 129), o homicídio (CP, art. 121) e até mesmo a contravenção penal de 
vias de fato (Dec.-Lei n° 3.688/41, art. 21). 
 
 
 
 
Violência Psicológica 
Qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima da 
mulher ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que 
vise a degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões. 
Pode causar neuroses, depressão, entre outras, ainda que de forma transitória. 
Por exemplo, crimes como o constrangimento ilegal (CP, art. 146), a ameaça 
(CP, art. 147), e o sequestro e cárcere privado (CP, art. 148). 
 
Obs.: O adultério não é mais crime, porém a sua prática poderá gerar uma 
humilhação à mulher. Isto é, houve a prática de uma violência psicológica. 
 
 
Violência Sexual 
Qualquer conduta ligada à dignidade sexual da mulher de forma não 
consentida por ela. 
 
Nessa violência podemos citar a prática de vários crimes, como exemplo o 
estupro, estupro de vulnerável. 
 
 
Violência Patrimonial 
Qualquer conduta ligada aos objetos, instrumentos de trabalho da vítima, 
bem como seus documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos 
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades. 
 
 
 
 
 
 
 MANUAL CASEIRO 
172 
Dentro da violência patrimonial podemos citar o estelionato, apropriação 
indébita, furto. 
 
 
Violência Moral 
Consiste na conduta ofensiva à honra da vítima, tendo em vista que ao 
referir-se a ela o legislador elencou os crimes contra a honra: calúnia, 
difamação ou injúria. 
 
Exemplo: crimes contra a honra (art. 138, 139 e 140, do CP), porém 
praticados no âmbito de violência doméstica e familiar. Cumpre destacarmos 
que essa seria a única hipótese que pela própria definição pressupõe a prática 
de um crime. 
 
Essas formas de violência devem ser praticadas à titulo de dolo. Ademais, essas formas de violência não 
necessariamente precisam tipificar infração penal. 
 
“As formas de violência doméstica poderão manifestar-se e corresponderem a um crime, a 
uma contravenção penal ou até mesmo um fato atípico (por exemplo, adultério). Constitui-
se o adultério em fato atípico, mas que não deixa de configurar violência doméstica.Desse 
modo, contemplamos que pode acontecer da conduta não ser considerada crime ou 
contravenção penal, mas não deixa de ser uma forma de violência doméstica” 
 
Na Lei Maria da Penha o termo “violência” é utilizado em sentido amplo, o que significa que não se 
restringe a violência física. 
 
 Violência Patrimonial: 
- (Im) possibilidade de aplicação das imunidades absolutas e relativas aos crimes patrimoniais 
praticados no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher sem o emprego de violência 
ou grave ameaça à pessoa 
 
Conforme preleciona Renato Brasileiro há certa controvérsia na doutrina quanto à possibilidade de 
aplicação das imunidades absolutas e relativas aos crimes patrimoniais praticados em um contexto de 
violência doméstica e familiar contra a mulher com o emprego de violência ou grave ameaça à pessoa. 
Sobre o assunto, há duas posições antagônicas: 
1ª Corrente 2ª Corrente 
Argumenta que essas imunidades (art. 181 e 182) 
não são aplicáveis. 
Aduz que essas imunidades são aplicáveis, porque 
a lei não fala o contrário 
- É a posição que prevalece, por falta de vedação 
expressa. 
 Uma segunda corrente doutrinária, à qual nos 
filiamos, sustenta que, diante do silêncio da Lei 
Maria da Penha, que não contém qualquer 
dispositivo expresso vedando a aplicação dos arts. 
181 e 182 do CP, o ideal é concluir que as 
 
 
 
 
 
 MANUAL CASEIRO 
173 
imunidades absolutas e relativas continuam sendo 
aplicáveis às infrações penais praticadas no 
contexto de violência doméstica e familiar contra 
a mulher. Quando a lei quis afastar a possibilidade 
de aplicação de tais imunidades a determinada 
espécie de crime, o fez de maneira expressa, o que 
não aconteceu no presente caso. 
 
 
8. Juizado de Violência doméstica e familiar contra a mulher 
 
Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça 
Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito 
Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das 
causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher. 
Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno, conforme 
dispuserem as normas de organização judiciária. 
 
Juizados? Inicialmente cumpre apontarmos para o fato de que o Juizado Especial de Violência Doméstica e 
Familiar contra mulher não se confunde com os Juizados Especiais Criminais, a qual é vedada a aplicação pela 
própria Lei Maria da Penha (art. 41, Lei nº 11.340/2006). Em verdade, trata-se de órgãos da Justiça Comum do 
DF e dos Estados. Nesse juizado corre o processo de conhecimento e execução, possui competência cumulativa 
– civil e criminal. 
Corroborando ao exposto, explica Renato Brasileiro que embora a Lei no artigo 14 tenha utilizado a palavra 
“juizados”, o que ela realmente quer dizer são varas especializadas para o julgamento dessa violência doméstica 
contra a mulher. 
Competência para processo e julgamento de crimes e contravenções penais praticados no contexto da 
violência doméstica e familiar contra a mulher: “(...) Configurada a conduta praticada como violência 
doméstica contra a mulher, independentemente de sua classificação como crime ou contravenção, deve ser 
fixada a competência da Vara Criminal para apreciar e julgar o feito, enquanto não forem estruturados os 
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, consoante o disposto nos artigos 7º e 33 da Lei 
Maria da Penha. (...)”. (STJ, 5ª Turma, HC 158.615/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, DJE 08/04/2011). 
 
8.1 Cumulação da competência por varas criminais 
 
Candidato, o que acontece no caso de Comarcas que não tem juizado especial de violência doméstica e familiar 
contra mulher? Excelência, enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a 
Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas 
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do Título IV 
 
 
 
 
 
 MANUAL CASEIRO 
174 
desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente. Ademais, será garantido o direito de preferência, nas 
varas criminais, para o processo e o julgamento das causas referidas no caput do art. 33. 
Com base nesse dispositivo, no Distrito Federal o Tribunal de Justiça resolveu outorgar essa competência 
cumulativa a uma vara dos juizados especiais criminais, assim o Juiz do Jecrim ora irá julgar uma infração de 
menor potencial ofensivo, ora a violência doméstica e familiar contra a mulher. 
O Juiz do Jecrim deverá tomar muito cuidado, pois o julgamento dessas ações são completamente diferentes. 
 
1ª Situação 2ª Situação 
Em se tratando de infração de menor potencial 
ofensivo é cabível a aplicação das medidas 
despenalizadoras (Lei 9.099/95). O juízo ad quem será 
a turma recursal (art. 98, I, da CF). 
Quando se trata de violência doméstica ou familiar 
contra mulher, o Juiz deve-se lembrar que aqui não se 
aplica a Lei 9.099/95, sendo o juízo ad quem o 
Tribunal de Justiça, ou, no caso da justiça federal, o 
TRF. 
 
 
Informativo 654 do STF - Nos locais em que ainda não tiverem sido estruturados os Juizados de Violência 
Doméstica e Familiar contra a Mulher, às varas criminais acumularão as competências cível e criminal para as 
causas decorrentes de violência doméstica e familiar contra a mulher. Esta determinação, que consta no art. 33 
da Lei, não ofende a competência dos Estados para disciplinarem a organização judiciária local. Segundo o 
Relator, a Lei Maria da Penha não implicou obrigação, mas a FACULDADE de criação dos Juizados de Violência 
Doméstica contra a Mulher. 
 
8.2 Crimes dolosos contra a vida praticados no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher 
 
Em um primeiro momento cumpre recordarmos que o Tribunal do júri é composto por duas fases, uma 
primeira chamada de Iudicium Accusationis, a segunda conhecida como Iudicium Causae. 
Na primeira fase temos a participação apenas do Juiz Sumariante, que pode pronunciar, impronunciar, 
absolver sumariamente ou desclassificar. Apenas na segunda fase é que entra a atuação do Júri sendo 
composto pelo Juiz Presidente e por mais 25 jurados, 7 dos quais irão compor o Conselho de sentença. 
Em alguns Estados essa primeira fase do Tribunal do Júri vem tramitando nos Juizados de violência 
doméstica e familiar contra a Mulher, enquanto que, em outros, a primeira fase tramita nas varas 
privativas do júri. Isso é possível, dependendo da Lei de Organização judiciária local, pois o que a 
Constituição Federal obriga é o Julgamento propriamente dito do crime doloso contra a vida pelo 
Tribunal do Júri. 
Nesse sentido, o Julgado do STJ. Vejamos: 
STJ: “(...) Ressalvada a competência do Júri para julgamento do crime doloso contra a vida, 
seu processamento, até a fase de pronúncia, poderá ser pelo Juizado de Violência Doméstica 
 
 
 
 
 
 MANUAL CASEIRO 
175 
e Familiar contra a Mulher, em atenção à Lei 11.340/06. (...)”. (STJ, 5ª Turma, HC 
73.161/SC, Rel. Min. Jane Silva, DJ 17/09/2007). 
 
Informativo 748 do STF: 
Competência Para Crimes Dolosos Contra A Vida Praticados Com violência Doméstica 
A Lei de Organização Judiciária poderá prever que a 1ª fase do procedimento do júri seja realizada na 
Vara de Violência Doméstica em caso de crimes dolosos contra a vida praticados no contexto de violência 
doméstica. Não haverá usurpação da competência constitucional do júri. Apenas o julgamento 
propriamente dito é que, obrigatoriamente, deverá ser feito no Tribunal do Júri. STF.2ª Turma .HC 
102150/SC,Rei. Min. Teori Zavascki, julgaçlo em 27/5/2014 (lnfo 748). 
 
Diante do exposto, contemplamos que a Constituição Federal exige é que o julgamento ocorra no 
Tribunal do Júri, de forma que nada impede que a Lei de Organização Judiciária delegue a primeira fase 
a outro juízo, como por exemplo, ao Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. 
 
9. Ação Penal nos crimes de lesão corporal leve e lesão corporal culposa praticados no contexto de 
violência doméstica e familiar contra a mulher 
 
Nos crimes de lesão leve e de lesão culposa a espécie de ação penal é pública condicionada à representação 
(art. 88 da Lei 9.099/95): 
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de 
representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas. 
 
Contudo, no âmbito da Lei nº 11.343/2006 vejamos o art. 41, da Lei Maria da Penha, que afasta a aplicação 
da Lei 9.099/95. 
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, 
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei n. 9.099/95. 
 
Como não se aplica a Lei 9.099/95, chegamos a concluir que o art. 88 não poderá ser aplicado para os crimes 
praticados no contexto da Lei Maria da Penha. 
Assim sendo, teremos: 
a) O crime de lesão corporal leve praticado no 
contexto da violência doméstica e familiar contra 
mulher é um crime de ação penal pública 
incondicionada, porque não se aplica a Lei 
9.099/95. 
b) O crime de lesão culposa não está sujeito à 
Lei 11.340/06. Logo, a ele não se aplica o art. 41 da 
Lei, Portanto, a ação penal será pública 
condicionada a representação, nos termos do art. 88 
da Lei n. 9.099/95. 
 
 
 
 
 
 MANUAL CASEIRO 
176 
Nessa esteira, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 4.424, o Supremo deu interpretação 
conforme a Constituição aos arts. 12, I, 16 e 41, todos da Lei n° 11.340/06, para assentar a natureza 
incondicionada da ação penal em casos de lesão corporal leve e/ou culposa envolvendo violência doméstica 
e familiar contra a mulher. 
 
STF: “(...) AÇÃO PENAL – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER – LESÃO 
CORPORAL – NATUREZA. A ação penal relativa a lesão corporal resultante de violência 
doméstica contra a mulher é pública incondicionada – considerações”. (STF, Pleno, ADI 
4.424/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 09/02/2012). 
 
Cumpre ainda destacarmos que a decisão do Supremo reconhecendo que a ação penal é pública 
incondicionada vale exclusivamente para o crime de lesão corporal, NÃO É QUALQUER CRIME. 
Exemplo: um crime de estupro, ameaça, ainda que sejam praticados no contexto da violência doméstica e 
familiar contra a mulher, devemos observar a regra do Código Penal (Ação Penal Pública condicionada a 
Representação). Isso ocorre pois a Lei Maria da Penha se restringiu ao crime de lesão corporal, nada falando 
dos demais crimes. Assim o Estado apenas poderá agir caso a vítima represente contra o agressor. 
 
 
Súmula 542-STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra 
a mulher é pública incondicionada. 
 
* A ação penal nos crimes de lesão corporal leve cometidos em detrimento da mulher, no âmbito doméstico 
e familiar, é pública incondicionada. STJ. 3ª Seção. Pet 11.805-DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado 
em 10/5/2017 (recurso repetitivo) (Info 604). Súmula 542-STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão 
corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada. 
 
9.1 Retratação da representação nos crimes praticados no contexto da violência doméstica e familiar contra 
a mulher 
 
Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata 
esta lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência 
especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o 
ministério público. 
 
 
 
 
 
 
 MANUAL CASEIRO 
177 
O professor Renato Brasileiro explica que apesar da Lei ter mencionado “renúncia”, na realidade é uma 
retratação do direito de representação que já foi exercido. 
Momento: diferentemente do Código de Processo Penal, na Lei Maria da Penha a retratação poderá ser 
feita até o recebimento da denúncia. 
Vamos Esquematizar? 
Retratação no CPP Retratação na Lei Maria da Penha 
Até o OFERECIMENTO. Até o RECEBIMENTO. 
Art. 25, CPP. A representação será irretratável, 
depois de oferecida a denúncia. 
Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à 
representação da ofendida de que trata esta Lei, só 
será admitida a renúncia à representação perante o 
juiz, em audiência especialmente designada com tal 
finalidade, antes do recebimento da denúncia e 
ouvido o Ministério Público. 
 
Dica: recordar que “mulher” precisa de maior tempo para decidir, em virtude disso, a retratação 
envolvendo violência vai até o recebimento enquanto que no CPP apenas até o oferecimento, rs! É só 
para decorar, meninas! 
 
A lei exige que essa retratação seja feita em audiência específica para esse fim, na presença do juiz, com 
a oitiva do ministério público. ademais, perceba que, diferentemente do CPP, onde a retratação deve ser 
feita antes do oferecimento da denúncia, aqui é antes do recebimento. 
 
(Des) necessidade de designação de audiência para ratificação de representação anteriormente 
oferecida 
Segundo Renato Brasileiro, no procedimento de crimes praticados no contexto de violência doméstica e 
familiar que dependem de representação (v.g., ameaça, estupro), não é obrigatória a designação de 
audiência a fim de que a vítima possa manifestar a retratação ou ratificar a representação anteriormente 
oferecida. Tal audiência também não é uma condição de abertura da ação penal em relação a tais delitos. 
Em síntese, sua realização não pode ser determinada de ofício pelo juiz como forma de se constranger a 
vítima a ratificar representação anteriormente oferecida. 
Em verdade, sua realização só deve ser determinada pela autoridade judiciária nos casos de crime de ação 
penal pública condicionada à representação (v.g., ameaça, estupro, etc.) quando tiver havido prévia 
manifestação da parte ofendida perante a autoridade policial ou o Promotor de Justiça antes do 
recebimento da denúncia demonstrando sua intenção de retratar-se da representação oferecida para o 
ajuizamento da ação penal contra o autor da violência doméstica, cabendo ao magistrado verificar a 
espontaneidade e a liberdade na prática de tal ato. Logo, caso não tenha havido qualquer manifestação 
 
 
 
 
 
 MANUAL CASEIRO 
178 
da vítima quanto ao seu interesse em se retratar, não há qualquer nulidade decorrente da não realização 
da referida audiência, já que a lei não exige a realização ex officio de uma audiência para ratificação da 
representação anteriormente oferecida. 
 
STJ (...) A audiência de que trata o art. 16, da Lei n.º 11.340/06, não deve ser realizada ex 
officio, como condição da abertura da ação penal, sob pena de constrangimento ilegal à 
mulher, vítima de violência doméstica e familiar, pois configuraria ato de 'ratificação' da 
representação, inadmissível na espécie. 4. A realização da referida audiência deve ser 
precedida de manifestação de vontade da ofendida, se assim ela o desejar, em retratar-se 
da representação anteriormente registrada, cabendo ao magistrado verificar a 
espontaneidade e a liberdade na prática do referido ato. Precedentes”. (STJ, 5ª Turma, RMS 
34.607/MS, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu, j. 13/09/2011). 
 
10. Das medidas tomadas pelo Delegado de Polícia: atendimento pela Autoridade Policial 
 
Os artigos que seguesão de suma importância aos que prestam concurso na área policial !!! 
 
Os arts. 11 e 12 da Lei Maria da Penha trata das providências que devem ser tomadas pela autoridade policial 
que tenha atuação na Delegacia especializada no atendimento à mulher vítima de violência doméstica e 
familiar contra a mulher, ou da Delegacia de Polícia comum, nos locais em que não houver a Delegacia 
especializada. Vejamos: 
 
Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a 
autoridade policial deverá, entre outras providências: (Trata-se de rol “exemplificativo”). 
 
I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério 
Público e ao Poder Judiciário; 
II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal; 
III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, 
quando houver risco de vida; #JáCaiuDPCSP 
IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do 
local da ocorrência ou do domicílio familiar; 
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis. 
 
 
 
 
 
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#JáCaiu: Foi cobrado no concurso de Delegado de Polícia Civil de SP/2011 e considerada 
correta a alternativa que afirmava: A autoridade policial deverá fornecer transporte para a 
ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida. 
 
Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro 
da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes 
procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal: 
I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se 
apresentada; 
II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas 
circunstâncias; 
III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o 
pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência; 
IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros 
exames periciais necessários; 
V - ouvir o agressor e as testemunhas; 
VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes 
criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências 
policiais contra ele; 
VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério Público. 
§ 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá conter: 
I - qualificação da ofendida e do agressor; 
II - nome e idade dos dependentes; 
III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida. 
§ 2º A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1o o boletim de 
ocorrência e cópia de todos os documentos disponíveis em posse da ofendida. 
§ 3º Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos 
por hospitais e postos de saúde. 
 
Esquematizando: 
Medidas da Autoridade Policial 
Proteção policial; Encaminha ao 
hospital a 
ofendida; 
Fornecer transporte 
a local seguro; 
companhá-la 
na retirada dos 
pertences; 
Informá-la dos 
direitos e serviços 
disponíveis. 
 
 
 
 
 
 
 
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11. Medidas protetivas de urgência 
As medidas protetivas de urgência possuem natureza de medidas cautelares, razão pela qual submetem-se à 
clausula de reserva de jurisdição, devendo portanto apresentar os seguintes pressupostos: 
a) fumus comissi delicti; 
b) periculum libertatis. 
O procedimento a ser aplicado é aquele previsto nos parágrafos do art. 282 do Código de Processo Penal. 
 
Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento 
do Ministério Público ou a pedido da ofendida. 
§ 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato, 
independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, 
devendo este ser prontamente comunicado. 
§ 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e 
poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os 
direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados. 
§ 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida, conceder 
novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender 
necessário à proteção da ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, ouvido o 
Ministério Público. 
 
Inicialmente, cumpre destacar que as medidas protetivas de urgências de que trata a Lei 11.340/2006, não 
podem ser objeto de representação pela autoridade policial. O juiz as concederá, de acordo com o art. 19, 
atendendo a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida. 
 
As medidas protetivas encontram-se previstas ao teor dos art. 20 aos 24 da Lei 11.340/2006. 
Desse modo, contemplamos que as medidas de urgência que obrigam o agressor e as que protegem a ofendida 
são tratadas separadamente, em três dispositivos da Lei 11.340/2006: arts. 22, 23 e 24. 
 
 (Im) possibilidade de aplicação das medidas protetivas a pessoas do sexo masculino 
Com o advento da Lei 12.403 (Lei das cautelares), essas medidas protetivas passaram a ser utilizadas para 
pessoas do sexo masculino. Vejamos o art. 313, III do CPP: 
 
CPP, art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão 
preventiva: (...) III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, 
 
 
 
 
 
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criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução 
das medidas protetivas de urgência. 
 
Denota-se que a própria redação do inciso III deixa claro que essas medidas de urgência podem ser usadas 
para tutelar a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, podendo ser tanto 
do sexo masculino, como do feminino. 
 
Aplicação das medidas protetivas de urgência pressupõe a existência de violência doméstica e familiar 
contra a mulher, mas não necessariamente a prática de crimes no contexto dos arts. 5º e 7º da Lei Maria da 
Penha; 
 
11.1 Medidas protetivas de urgência destinada ao agressor e à ofendida 
As medidas protetivas de urgência são de duas espécies, a saber, aquelas que obrigam o agressor e 
medidas protetivas que visam proteger a ofendida. 
A maior parte dessas medidas protetivas possuem natureza extrapenal. 
 
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos 
desta Lei, o juiz poderá aplicar, DE IMEDIATO, ao agressor, em conjunto ou 
separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: 
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão 
competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003; 
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; 
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: 
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo 
de distância entre estes e o agressor; 
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de 
comunicação; 
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e 
psicológica da ofendida; 
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de 
atendimento multidisciplinar ou serviço similar; 
V - prestação de alimentosprovisionais ou provisórios. 
 
 
 
 
 
 
 
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Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de 
propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes 
medidas, entre outras: 
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida; 
II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação 
de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial; 
III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor; 
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos 
materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida. 
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos nos 
incisos II e III deste artigo. 
 
11.2 Prisão preventiva 
O professor Renato Brasileiro explica que de nada adiantaria a imposição de medidas protetivas se não 
houvesse um meio coercitivo que obrigasse o seu cumprimento. Em virtude disso é que a legislação prevê 
a possibilidade de prisão preventiva a ser imposta ao agressor, no caso de não cumprir as medidas 
impostas pelo juiz. Nesse sentido, o art. 20 da Lei Maria da Penha. Vejamos: 
 
Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão 
preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público 
ou mediante representação da autoridade policial. 
Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso do processo, 
verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem 
razões que a justifiquem. 
 
A imposição da prisão preventiva no âmbito da Lei Maria da Penha é prevista para o caso de 
descumprimento das medidas protetivas. 
Por fim, a imposição da prisão preventiva nesse caso dependerá do pressuposto básico de ter o crime sido 
praticado com violência doméstica (entende-se que só cabe se estiver descumprindo medida protetiva de 
caráter penal). 
 
 (In) constitucionalidade da decretação da prisão preventiva ex officio durante as investigações: 
Conforme proclama a legislação, ela poderá ser decretada de ofício mesmo na investigação. Muita 
atenção agora!!! Se a prova pedir a letra da lei, marque sem medo que pode de ofício. Uma interpretação 
 
 
 
 
 
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sistemática faz com que alguns autores entendam que viola o juiz imparcial, o transformando em 
inquisidor. No entanto, parte da doutrina entende que não viola, posto que a única finalidade da prisão 
preventiva nesse caso é garantir a execução das medidas protetivas de urgência (e não a persecução 
penal). Ademais, a lei Maria da Penha é lei especial em relação ao CPP. 
 
CPP, art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a 
prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a 
requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação 
da autoridade policial. 
 
Conforme se pode extrair da redação do dispositivo acima elencado, no CPP existe a possibilidade de o 
juiz decretar a prisão ex officio, mas apenas durante o processo. Agora na Lei Maria da Penha o artigo 
20 prevê a possibilidade de decretação ex officio, mas o faz na fase investigatória e fase processual. 
 
Código de Processo Penal Lei Maria da Penha 
Existe a possibilidade de o juiz decretar a prisão 
ex-officio, mas apenas durante o processo. 
Prevê a possibilidade de decretação ex officio na 
fase investigatória e fase processual. 
 
Alguns doutrinadores dizem que a Lei Maria da Penha é norma especial e deve prevalecer sobre o 
quanto disposto no CPP. Aos olhos do professor, aqui não se trata de princípio da especialidade, na 
verdade é algo que está acima da hermenêutica. Afinal, a possibilidade de o Juiz decretar qualquer 
cautelar de ofício na fase investigatória revela-se incompatível com a garantia da imparcialidade 
(desdobramento do devido processo legal). Diante disso, a conclusão inevitável da doutrina é no 
sentido de que a previsão da Lei 11.340 não vale mais, devendo ser aplicado o mesmo regramento do 
CPP. 
Conclui-se que a decretação de ofício de medidas cautelares na Lei Maria da penha só pode ocorrer 
durante a fase processual, sendo que, durante a fase investigatória, o juiz apenas poderia decretar se 
anteriormente provocado pelo MP ou Delegado. 
 
 (Im) possibilidade de decretação da prisão preventiva tão somente em virtude do descumprimento 
das medidas protetivas de urgência 
 
O STJ entende que o descumprimento isolado da medida protetiva não enseja a prisão preventiva, 
entendendo que deverá conjugar esse descumprimento com uma das hipóteses do periculum libertatis do 
art. 312, vejamos uma decisão: 
 
 
 
 
 
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STJ: “(...) Muito embora o art. 313, IV, do Código de Processo Penal, com a redação dada 
pela Lei nº 11.340/2006, admita a decretação da prisão preventiva nos crimes dolosos que 
envolvam violência doméstica e familiar contra a mulher, para garantir a execução de 
medidas protetivas de urgência, a adoção dessa providência é condicionada ao 
preenchimento dos requisitos previstos no art. 312 daquele diploma. É imprescindível que 
se demonstre, com explícita e concreta fundamentação, a necessidade da imposição da 
custódia para garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução 
criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, sem o que não se mostra razoável a 
privação da liberdade, ainda que haja descumprimento de medida protetiva de urgência, 
notadamente em se tratando de delitos punidos com pena de detenção”. (STJ, 6ª Turma, HC 
100.512/MT, Rel. Min. Paulo Gallotti, DJe 23/06/2008). 
 
 (In) constitucionalidade da decretação da prisão preventiva para fins de assegurar o cumprimento 
de medidas protetivas de urgência de natureza cível 
 
Com a decretação de uma prisão preventiva para se assegurar a medida protetiva de natureza cível, não 
temos propriamente uma prisão preventiva, mas sim uma prisão de natureza cível. Alguns doutrinadores 
entendem que poderá ser decretada a preventiva, mas desde que ela tenha origem na prática de algum 
crime. 
 
Descumprimento injustificado das medidas protetivas e tipificação do crime de desobediência 
 
CP, Desobediência - art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena - 
detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. 
 
O descumprimento das medidas protetivas não tipifica o crime de desobediência. Na visão dos Tribunais 
Superiores, a própria lei já diz qual a consequência do descumprimento das medidas protetivas (prisão 
preventiva) e em nenhum momento fala em crime de desobediência. 
 
Informativo n. 544 do STJ: O descumprimento de medida protetiva de urgência prevista na Lei Maria 
da Penha (art. 22 da Lei 11.340/2006) não configura crime de desobediência (art. 330 do CP). De fato, a 
jurisprudência do STJ firmou o entendimento de que, para a configuração do crime de desobediência, 
não basta apenas o não cumprimento de uma ordem judicial, sendo indispensável que inexista a previsão 
de sanção específica em caso de descumprimento (HC 115.504-SP, Sexta Turma, Dje 9/2/2009). 
 
 
 
 
 
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Desse modo, está evidenciada a atipicidade da conduta, porque a legislação previu alternativas para que 
ocorra o efetivo cumprimento das medidas protetivas de urgência, previstas na Lei Maria da Penha, 
prevendo sanções de natureza civil, processual civil, administrativa e processualpenal. Precedentes 
citados: REsp 1.374.653-MG, Sexta Turma, DJe 2/4/2014; e AgRg no Resp 1.445.446-MS, Quinta 
Turma, DJe 6/6/2014. RHC 41.970-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 7/8/2014 (Vide Informativo 
n. 538). 
 
Descumprimento de medida protetiva não configura crime de desobediência 
O descumprimento de medida protetiva de urgência prevista na Lei Maria da Penha (art. 22 da Lei 
11.340/2006) não configura crime de desobediência (art. 330 do CP). STJ. 5ª Turma. REsp 1.374.653-
MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/3/2014 (Info 538). STJ.6ª Turma.RHC 41.970-MG, 
4. Min. Laurita Vaz, julgado em 7/8/2014 (Info 544). 
 
 
12. (In) aplicabilidade da Lei dos Juizados Especiais Criminais às Infrações penais praticadas com 
violência doméstica e familiar contra a mulher 
 
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, 
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 
1995. 
 
O STF decidiu que este art. 41 é constitucional e que, para a efetiva proteção das mulheres vítimas de 
violência doméstica, foi legítima a opção do legislador de excluir tais crimes do âmbito de incidência da Lei 
nº 9.099/95 (STF. Plenário. ADI 4424/DF, rei. Min. Marco Aurélio, 9/2/2012). 
 
Fundamentos favoráveis à constitucionalidade: A promoção da igualdade entre os sexos passa não 
apenas pelo combate à discriminação contra a mulher, mas também pela adoção de políticas compensatórias 
capazes de acelerar a igualdade de gênero. 
STF: “(...) VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – GÊNEROS 
MASCULINO E FEMININO – TRATAMENTO DIFERENCIADO. O artigo 1º da Lei nº 
11.340/06 surge, sob o ângulo do tratamento diferenciado entre os gêneros – mulher e 
homem –, harmônica com a Constituição Federal, no que necessária a proteção ante as 
peculiaridades física e moral da mulher e a cultura brasileira. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
E FAMILIAR CONTRA A MULHER – REGÊNCIA – LEI Nº 9.099/95 – 
AFASTAMENTO. O artigo 41 da Lei nº 11.340/06, a afastar, nos crimes de violência 
doméstica contra a mulher, a Lei nº 9.099/95, mostra-se em consonância com o disposto no 
 
 
 
 
 
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§ 8º do artigo 226 da Carta da República, a prever a obrigatoriedade de o Estado adotar 
mecanismos que coíbam a violência no âmbito das relações familiares”. (STF, Pleno, ADC 
19/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 09/02/2012). 
 
 
Informativo 654 do STF - Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher não 
se aplica a Lei dos Juizados Especiais (Lei n. 9.099/95), mesmo que a pena seja menor que 2 anos. 
 
 
Súmula 536-STJ: A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de 
delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha. 
 
13. Nova Súmula do STJ: 600, STJ 
 
Súmula 600 – STJ: Para configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 
5º da lei 11.340/2006, lei Maria da Penha, NÃO SE EXIGE a coabitação entre autor e 
vítima. 
 
Coabitação significa morar sob o mesmo teto. É possível a aplicação da Lei Maria da Penha (Lei nº 
11.340/2006) mesmo que não haja coabitação entre autor e vítima? 
SIM. É possível que haja violência doméstica mesmo que agressor e vítima não convivam sob o mesmo teto 
(não morem juntos). Isso porque o art. 5º, III, da Lei afirma que há violência doméstica em qualquer relação 
íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de 
coabitação. 
Exemplos: 
Ex1: violência praticada por irmão contra irmã, ainda que eles nem mais morem sob o mesmo teto (STJ. 5ª 
Turma. REsp 1239850/DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/02/2012); 
Ex2: é possível que a agressão cometida por ex-namorado configure violência doméstica contra a mulher 
ensejando a aplicação da Lei nº 11.340/2006 (STJ. 5ª Turma. HC 182.411/RS, Rel. Min. Adilson Vieira 
Macabu (Des. Conv. do TJ/RJ), julgado em 14/08/2012). 
 
Alguns precedentes do STJ sobre o tema: 
A Lei nº 11.340/06 buscou proteger não só a vítima que coabita com o agressor, mas também aquela que, no 
passado, já tenha convivido no mesmo domicílio, contanto que haja nexo entre a agressão e a relação íntima 
 
 
 
 
 
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de afeto que já existiu entre os dois. STJ. 3ª Seção. CC 102.832/MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 
DJe 22/04/2009. 
 
A intenção do legislador, ao editar a Lei Maria da Penha, foi de dar proteção à mulher que tenha sofrido 
agressão decorrente de relacionamento amoroso, e não de relações transitórias, passageiras, sendo 
desnecessária, para a comprovação do aludido vínculo, a coabitação entre o agente e a vítima ao tempo do 
crime. STJ. 6ª Turma. HC 181.246/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, DJe 06/09/2013. 
A caracterização da violência doméstica e familiar contra a mulher não depende do fato de agente e vítima 
conviverem sob o mesmo teto. 
Assim, embora a agressão tenha ocorrido em local público, ela foi nitidamente motivada pela relação 
familiar que o agente mantém com a vítima, sua irmã, circunstância que dá ensejo à incidência da Lei 
Maria da Penha. STJ. 5ª Turma. HC 280.082/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 12/02/2015. 
 
Fonte: http://www.dizerodireito.com.br/2017/11/sumula-600-do-stj-comentada.html 
 
14. (In) aplicabilidade do Princípio da Insignificância: Súmula 589, STJ. 
 
Súmula 589-STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções 
penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas. STJ. 3ª Seção. 
Aprovada em 13/09/2017, DJe 18/09/2017. 
 
14.1 Princípio da insignificância 
Quem primeiro tratou sobre o princípio da insignificância no direito penal foi Claus Roxin, em 1964. 
Também é chamado de “princípio da bagatela” ou “infração bagatelar própria”. O princípio da 
insignificância não tem previsão legal no direito brasileiro. Trata-se de uma criação da doutrina e da 
jurisprudência. Para a posição majoritária, o princípio da insignificância é uma causa supralegal de exclusão 
da tipicidade material. 
Se o fato for penalmente insignificante, significa que não lesou nem causou perigo de lesão ao bem jurídico. 
Logo, aplica-se o princípio da insignificância e o réu é absolvido por atipicidade material, com fundamento 
no art. 386, III do CPP. 
O princípio da insignificância atua, então, como um instrumento de interpretação restritiva do tipo penal. 
 
14.2 O princípio da insignificância pode ser aplicado aos delitos praticados em situação de violência 
doméstica? 
 
 
 
 
 
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NÃO. Não se aplica o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a 
mulher no âmbito das relações domésticas. 
Os delitos praticados com violência contra a mulher, devido à expressiva ofensividade, periculosidade social, 
reprovabilidade do comportamento e lesão jurídica causada, perdem a característica da bagatela e devem 
submeter-se ao direito penal. 
Assim, o STJ e o STF não admitem a aplicação dos princípios da insignificância aos crimes e contravenções 
praticados com violência ou grave ameaça contra a mulher, no âmbito das relações domésticas, dada a 
relevância penal da conduta. 
 
 Surgiu uma tese defensiva afirmando que se o casal se reconciliasse durante o curso do processo 
criminal, o juiz poderia absolver o réu com base no chamado “princípio da bagatela imprópria”. Essa tese 
é aceita pelos Tribunais Superiores? NÃO. Assim como ocorre com o princípio da insignificância, também 
não se admite a aplicação do princípio da bagatela imprópria para os crimes ou contravenções penais 
praticados contra mulher no âmbito das relações

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