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VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

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VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER 
(LEI N. 11.340/2006) 
 
=> Trata-se de tema com diversas alterações legislativas. 
 
1. Fundamento Constitucional e Convencional. 
 
Constituição Federal: 
“Art. 226. [...] 
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de 
cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a 
violência no âmbito de suas relações.” 
 
=> O Brasil também firmou convenções internacionais sobre a matéria, como: 
- 1990: II Conferência Mundial Sobre a Mulher, realizada na Dinamarca; 
- 1994: Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, 
também conhecida por “Convenção de Belém do Pará e recepcionada pelo Decreto n. 1.973/96. 
=> Apesar disso, a Lei Maria da Penha só foi elaborada 10 anos depois. 
 
2. Origem da “Lei Maria da Penha”. 
=> Caso levado à OEA, de Maria da Penha Maia Fernandes, que foi agredida por seu marido com 
disparo de arma de fogo nas costas em 1983 na cidade de Fortaleza/CE e, logo depois de realizar 
cirurgias e estando paraplégica, voltou a sofrer agressões do marido, que tentou eletrocutá-la 
durante o banho. 
=> O agressor foi denunciado em 1984, mas somente foi preso em setembro de 2002. 
=> Com a inércia judicial em coibir a violência, o caso foi levado à OEA, que elaborou o seguinte 
relatório: 
- Relatório n. 54/2001 da Comissão Interamericana de Direitos Humanos: “A ineficácia judicial, 
a impunidade e a impossibilidade de a vítima obter uma reparação mostra a falta de 
cumprimento do compromisso assumido pelo Brasil de reagir adequadamente ante a violência 
doméstica”. 
=> Nesse contexto surge a Lei “Maria da Penha” (11.340/06). 
 
 
3. Finalidades da Lei Maria da Penha (caráter multidisciplinar). 
 
=> Nesta aula, é abordado o aspecto penal e processual penal da Lei Maria da Penha, ainda que 
a norma possua caráter multidisciplinar. 
 
Lei n. 11.340/06: “Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e 
prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos 
termos do §8º do art. 226 da Constituição Federal, da 
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência 
contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, 
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros 
tratados internacionais ratificados pela República Federativa do 
Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência 
Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas 
de assistência e proteção às mulheres em situação de violência 
doméstica e familiar.” 
 
4. Interpretação da Lei Maria da Penha. 
 
Lei n. 11.340/06: “Art. 4º Na interpretação desta Lei, serão 
considerados os fins sociais a que ela se destina e, 
especialmente, as condições peculiares das mulheres em 
situação de violência doméstica e familiar.” 
 
=> A lei deve ser interpretada de modo a conferir a máxima e a melhor proteção para a mulher, 
que é colocada em situação de vulnerabilidade. 
 
=> Decisão polêmica proferida por juiz da Comarca de Sete Lagoas/MG, na qual define a Lei 
Maria da Penha como um monstrengo tinhoso. “Um conjunto de regras diabólicas. A desgraça 
humana começou no Éden por causa da mulher. Todos nós sabemos, mas também em virtude 
da ingenuidade, da tolice e da fragilidade emocional do homem. O mundo é masculino. A ideia 
que temos de Deus é masculina. Jesus foi homem”. 
 
5. Violência doméstica e familiar contra a Mulher. 
 
5.1. Pressupostos cumulativos para a incidência da Lei Maria da Penha. 
=>Sujeito Passivo: Mulher 
=> Formas de violência apontadas no art. 7º; 
=> Violência praticada nos contextos elencados no art. 5º, I, II, ou II; 
 
Lei n. 11.340/06: “Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura 
violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou 
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, 
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou 
patrimonial: 
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o 
espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo 
familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; 
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade 
formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, 
unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade 
expressa; 
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor 
conviva ou tenha convivido com a ofendida, 
independentemente de coabitação. 
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo 
independem de orientação sexual. 
 
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a 
mulher, entre outras: 
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que 
ofenda sua integridade ou saúde corporal; 
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta 
que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou 
que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que 
vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, 
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, 
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, 
perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, 
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro 
meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à 
autodeterminação; 
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a 
constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação 
sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou 
uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de 
qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar 
qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, 
à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, 
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o 
exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; 
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta 
que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total 
de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos 
pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, 
incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; 
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que 
configure calúnia, difamação ou injúria.” 
5.2. Sujeito passivo. 
=> Mulher. 
=> Inaplicável quando o sujeito passivo for homem. 
=> Ainda que haja alguns julgados da Justiça Estadual nesse sentido, este não é o melhor 
entendimento. Ressalta-se não haver, por ora, jurisprudência dos Tribunais Superiores sobre o 
assunto. 
=> O fato da vítima ser pessoa famosa ou renomada, não afasta a aplicação da Lei. 
=> STF (ADI 4275/DF1 e RE 670422. Reconhecido aos transgêneros e aos transexuais, 
independentemente de cirurgia ou de realização de tratamentos hormonais, o direito à 
alteração de prenome e gênero diretamente no registro civil. 
Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO CONSTITUCIONAL E REGISTRAL. PESSOA 
TRANSGÊNERO. ALTERAÇÃO DO PRENOME E DO SEXO NO REGISTRO CIVIL. POSSIBILIDADE. DIREITO AO 
NOME, AO RECONHECIMENTO DA PERSONALIDADE JURÍDICA, À LIBERDADE PESSOAL, À HONRA E À 
DIGNIDADE. INEXIGIBILIDADE DE CIRURGIA DE TRANSGENITALIZAÇÃO OU DA REALIZAÇÃO DE 
TRATAMENTOS HORMONAIS OU PATOLOGIZANTES. 1. O direito à igualdade sem discriminações abrange 
a identidade ou expressão de gênero. 2. A identidade de gênero é manifestação da própria personalidade 
da pessoa humana e, como tal, cabe ao Estado apenas o papel de reconhecê-la, nunca de constituí-la. 3. 
A pessoa transgênero que comprove sua identidade de gênero dissonante daquela que lhe foi designada 
ao nascer por autoidentificação firmada em declaração escrita desta sua vontade dispõe do direito 
fundamental subjetivo à alteração do prenome e da classificação de gênero no registro civil pela via 
administrativa ou judicial, independentemente de procedimento cirúrgico e laudos de terceiros, por se 
tratar de tema relativo ao direito fundamentalao livre desenvolvimento da personalidade. 4. Ação direta 
julgada procedente. (ADI 4275, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. EDSON 
FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 01/03/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-045 DIVULG 06-03-2019 
PUBLIC 07-03-2019) 
 
Despacho: Cuida-se de pedidos de ingresso no feito como amicus curiae elaborados (i) pelo Centro Latino-
Americano em Sexualidade e Direitos Humanos - CLAM e pelo Laboratório Integrado em Diversidade 
Sexual e de Gênero, Políticas e Direitos – LIDIS (petição STF nº 8.704/2016), (ii) pelo Transgrupo Marcela 
Prado – TMP (petição STF nº 12.305/2016), (iii) pelas Defensorias Públicas dos Estados do Rio de Janeiro, 
do Espírito Santo, do Universidade Federal de Minas Gerais (CdH), pela Divisão de Assistência Judiciária 
(DAJ) e pelo Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT, todos vinculados à Universidade Federal de 
Minas Gerais (petição STF nº 63.512/2016) e, por fim, (v) pela Defensoria Pública da União (petição STF 
nº 72.080/2016). Aplicando ao caso presente as diretrizes que tenho seguido em casos similares, em que 
há pedidos de ingresso de terceiros em processos que tiveram a repercussão geral reconhecida pelo 
Plenário Virtual desta Suprema Corte, admito o ingresso no feito, na condição de amicus curiae, apenas e 
tão somente da Defensoria Pública da União. Faço-o em homenagem à institucionalidade e também por 
tratar-se de entidade altamente especializada e portadora de, entendo, ampla representatividade (dado 
caber-lhe representar assistidos oriundos de todas as partes do país). Quanto aos demais postulantes, em 
que pese suas contribuições mostrem-se valorosas e dotadas de elevado nível técnico, tenho que não é o 
caso de deferimento de seus pleitos, seja em razão de não se amoldarem perfeitamente aos requisitos do 
art. 138 do CPC, seja por motivos de economia e de eficiência processual, seja porque suas alegações 
foram previamente trazidas a juízo por outros amici curiae, já admitidos, os quais poderão bem 
representar os interesses por eles defendidos. No tangente às Defensorias Públicas dos Estados do Rio de 
Janeiro, do Espírito Santo, do Rio Grande do Sul e de São Paulo, assinalo que, embora consistam em 
instituições respeitáveis e cujas manifestações mostram-se brilhantes, as contribuições já existentes e nos 
autos e da que será apresentada pela nobre Defensoria Pública da União, hão de ser suficientes para o 
julgamento adequado do feito. Por fim, assevero que a admissão da totalidade dos peticionantes 
acarretaria tumulto e procrastinação do processo, o que não é de interesse de nenhum dos envolvidos. 
Ante o exposto, defiro o ingresso da Defensoria Pública da União no feito, indeferindo os pleitos de todos 
os demais postulantes. Façam-se as anotações necessárias. Publique-se. Intime-se. Brasília, 5 de abril de 
2017. Ministro Dias Toffoli Relator Documento assinado digitalmente (RE 670422, Relator(a): Min. DIAS 
TOFFOLI, julgado em 05/04/2017, publicado em DJe-073 DIVULG 07/04/2017 PUBLIC 10/04/2017) 
=> Nesse sentido, considerando a decisão do STF e eventual alteração, no caso concreto, de 
alteração de gênero no registro civil, poderá ser sujeito passivo da Lei Maria da Penha. 
 
- Violência de gênero: o objetivo da Lei Maria da Penha não foi o de conferir uma proteção 
indiscriminada a toda e qualquer mulher, mas apenas àquelas que efetivamente se encontrarem 
em uma situação de vulnerabilidade. É indispensável, portanto, que a vítima esteja em uma 
situação de hipossuficiência física ou econômica, enfim, que a infração tenha como motivação 
a opressão à mulher. Ausente esta violência de gênero, não se aplica a Lei Maria da Penha. 
 
Obs. 1: Homem como vítima de violência doméstica e familiar, porém sem a possibilidade de 
aplicação da Lei Maria da Penha, 
 
CP: “Art. 129. (...) 
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, 
irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha 
convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações 
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade (Incluído pela Lei 
n. 11.340/06): 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.” 
 
Obs. 2: (Im)possibilidade de aplicação do princípio da insignificância; 
=> Os Tribunais Superiores entendem que não é aplicável o princípio da insignificância ao caso, 
por conta da reprovabilidade do comportamento e da ofensividade da conduta. 
Súmula n. 589 do STJ: “É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções 
penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas”. 
 
5.3. Sujeito ativo. 
 
=> O sujeito ativo pode ser um homem ou uma mulher. Ex: união homoafetiva. 
 
Lei n. 11.340/06: “Art. 5º (...) 
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo 
independem de orientação sexual.” 
 
- Presunção absoluta e relativa de vulnerabilidade. 
Homem (sujeito ativo) vs. Mulher (sujeito passivo) - Presunção absoluta de vulnerabilidade; 
Mulher (sujeito ativo) vs. outra mulher (sujeito passivo) - Presunção relativa de vulnerabilidade, 
admitindo-se prova em contrário. 
 
 
=> No segundo caso (mulher vs. mulher), a defesa poderá demonstrar que a agressão não 
ocorreu no contexto de violência de gênero, em situação de hipossuficiência e vulnerabilidade 
da vítima. Nesse sentido, a seguinte decisão: 
 
STJ: “(...) Delito contra honra, envolvendo irmãs, não configura hipótese de incidência da Lei nº 
11.340/06, que tem como objeto a mulher numa perspectiva de gênero e em condições de 
hipossuficiência ou inferioridade física e econômica. Sujeito passivo da violência doméstica, 
objeto da referida lei, é a mulher. Sujeito ativo pode ser tanto o homem quanto a mulher, desde 
que fique caracterizado o vínculo de relação doméstica, familiar ou de afetividade. No caso, 
havendo apenas desavenças e ofensas entre irmãs, não há qualquer motivação de gênero ou 
situação de vulnerabilidade que caracterize situação de relação íntima que possa causar 
violência doméstica ou familiar contra a mulher. Não se aplica a Lei nº 11.340/06”. (STJ, 3ª 
Seção, CC 88.027/MG, Rel. Min. Og Fernandes, DJe 18/12/2008). 
 
5.4. Elemento subjetivo necessário para fins de incidência da Lei Maria da Penha. 
 
=> Entende-se que a aplicação da Lei 11.340/2006 não é admitida a crimes culposos, por conta 
da inexistência da violência de gênero nesses casos. 
 
5.5. Âmbito da unidade doméstica. 
 
Lei n. 11.340/06: ‘Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura 
violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou 
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, 
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou 
patrimonial: 
 
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o 
espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem 
vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;” 
 
=> Exemplo de unidade doméstica: República de estudantes. 
=> A empregada doméstica que reside na casa da família também poderá ser enquadrada, 
estando presente o “convívio permanente”. 
=> Portanto, não necessariamente a convivência doméstica é sinônima de convivência familiar. 
 
5.6. Âmbito familiar. 
 
Lei n. 11.340/06: “Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura 
violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou 
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, 
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou 
patrimonial: 
(...) 
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade 
formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, 
unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade 
expressa;” 
 
=> Exemplo de âmbito familiar: paternidade socioafetiva, filha adotiva, nora e sogra. 
 
Obs. 1: Não se pode acreditar que todo e qualquer crime envolvendo relação entre parentes 
possa dar ensejo à aplicação da Lei Maria da Penha. 
 
STJ: “(...) AMEAÇA. SOGRA E NORA.(...) A incidência da Lei n.º 11.340/2006 reclama situação de 
violência praticada contra a mulher, em contexto caracterizado por relação de poder e 
submissão, praticada por homem ou mulher sobre mulher em situação de vulnerabilidade. 
Precedentes. No caso não se revela a presença dos requisitos cumulativos para a incidência da 
Lei n.º 11.340/06, a relação íntima de afeto, a motivação de gênero e a situação de 
vulnerabilidade. Concessão da ordem. Ordem não conhecida. Habeas corpus concedido de 
oficio, para declarar competente para processar e julgar o feito o Juizado Especial Criminal da 
Comarca de Santa Maria/RS”. (STJ, 5ª Turma, HC 175.816/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Belizze, j. 
20/06/2013, DJe 28/06/2013). 
 
5.7. Qualquer relação íntima de afeto, independentemente de coabitação. 
 
Lei n. 11.340/06: “Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura 
violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou 
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, 
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou 
patrimonial: 
(...) 
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor 
conviva ou tenha convivido com a ofendida, 
independentemente de coabitação.” 
 
=> “Relação íntima de afeto” é conceituada: 
- 1ª corrente: extensivamente, incluindo relações de amizade, coleguismo e camaradagem; 
- 2ª corrente (majoritária): restritivamente, válida apenas para relações dotadas de conotação 
sexual. 
 
=> Caso Neymar: Inexistência de convívio com a ofendida. Ato sexual isolado. 
Obs. 1: Namoro 
=> Depende do caso concreto. “Namoro de carnaval” não se configuraria. 
 
STJ: “(...) LEI MARIA DA PENHA. VIOLÊNCIA PRATICADA EM DESFAVOR DE EX-NAMORADA. (...) a 
aplicabilidade da mencionada legislação a relações íntimas de afeto como o namoro deve ser 
analisada em face do caso concreto. Não se pode ampliar o termo - relação íntima de afeto - 
para abarcar um relacionamento passageiro, fugaz ou esporádico. In casu, verifica-se nexo de 
causalidade entre a conduta criminosa e a relação de intimidade existente entre agressor e 
vítima, que estaria sendo ameaçada de morte após romper namoro de quase dois anos, situação 
apta a atrair a incidência da Lei n.º 11.340/2006. (...)”. (STJ, 3ª Seção, CC 100.654/MG, Rel. Min. 
Laurita Vaz, DJe 13/05/2009). 
 
Obs. 2: Desnecessidade de coabitação entre o agente e a vítima 
=> Cuidado! Faz-se pertinente a comparação do inciso III com a Convenção de Belém do Pará, a 
qual definiu conduta ocorrida na unidade familiar ou doméstica (mesmo domicílio). Assim, há 
discussão a respeito da convencionalidade do art. 5º, inciso III, da Lei Maria da Penha. Isso 
porque a Convenção de Belém do Pará não traz a expressão “independentemente de 
coabitação”. Entretanto, com base no princípio “pro homine”, que estabelece interpretação 
mais favorável à vítima em matéria de direitos humanos, prevalece o entendimento de plena 
aplicabilidade do dispositivo. 
 
STJ: “(...) CRIME DE AMEAÇA PRATICADO CONTRA IRMÃ DO RÉU. (...) Na espécie, apurou-se que 
o Réu foi à casa da vítima para ameaçá-la, ocasião em que provocou danos em seu carro ao 
atirar pedras. Após, foi constatado o envio rotineiro de mensagens pelo telefone celular com o 
claro intuito de intimidá-la e forçá-la a abrir mão "do controle financeiro da pensão recebida 
pela mãe" de ambos. Nesse contexto, inarredável concluir pela incidência da Lei n.º 11.340/06, 
tendo em vista o sofrimento psicológico em tese sofrido por mulher em âmbito familiar, nos 
termos expressos do art. 5.º, inciso II, da mencionada legislação. Para a configuração de 
violência doméstica, basta que estejam presentes as hipóteses previstas no artigo 5º da Lei 
11.343/2006 (Lei Maria da Penha), dentre as quais não se encontra a necessidade de coabitação 
entre autor e vítima. (5ª Turma, Resp 1.239.850/DF, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 16/02/2012). 
 
Súmula n. 600 do STJ: “Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no art. 5º 
da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), não se exige a coabitação entre autor e vítima”. 
 
5.8. Formas de violência contra a mulher. 
 
=> Para o Código Penal, a palavra “violência” se refere ao emprego de força física/corporal. 
=> A Lei Maria da Penha se utiliza da palavra com sentido amplo, englobando cinco espécies 
(física, psicológica, sexual, patrimonial e moral). 
 
Lei n. 11.340/06: Art. 7º São formas de violência doméstica e 
familiar contra a mulher, entre outras: [...]” 
 
=> Prevalece o entendimento de que se trata de rol exemplificativo e não taxativo. 
=> Não há necessidade de habitualidade. 
 
5.8.1. Violência física. 
 
Lei n. 11.340/06: “Art. 7º São formas de violência doméstica e 
familiar contra a mulher, entre outras: 
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que 
ofenda sua integridade ou saúde corporal; (...)” 
 
5.8.2. Violência psicológica 
 
Lei n. 11.340/06: Art. 7º São formas de violência doméstica e 
familiar contra a mulher, entre outras: 
(...) 
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta 
que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou 
que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou 
que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, 
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, 
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, 
perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, 
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro 
meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à 
autodeterminação; 
=> “Violação de sua intimidade” – Ex: Art. 216-B CP3 
3 Registro não autorizado da intimidade sexual 
Art. 216-B. Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, 
conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter 
íntimo e privado sem autorização dos participantes: (Incluído pela Lei 
nº 13.772, de 2018). 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa. 
 
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza montagem em 
fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o fim de incluir 
pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo. 
(Incluído pela Lei nº 13.772, de 2018). 
5.8.3. Violência sexual 
Lei n. 11.340/06: “Art. 7º São formas de violência doméstica e 
familiar contra a mulher, entre outras: (...) 
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a 
constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação 
sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou 
uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de 
qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar 
qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, 
à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, 
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o 
exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;” 
 
 
 
5.8.4. Violência patrimonial 
 
Lei n. 11.340/06: Art. 7º São formas de violência doméstica e 
familiar contra a mulher, entre outras: (...) 
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta 
que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total 
de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos 
pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, 
incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;” 
 
Obs.: (Im)possibilidade de aplicação das imunidades absolutas e relativas aos crimes 
patrimoniais praticados no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher sem o 
emprego de violência ou grave ameaça à pessoa; 
=> Imunidades absolutas – art. 181 CP 
=> Imunidades relativas – art. 182 CP 
=> 1ª Corrente: as imunidades não são aplicáveis. Posição defendida pela Prof.ª Maria Berenice 
Dias. 
=> 2ª Corrente: prevalece entendimento pela possibilidade de aplicação das imunidades, pois 
não há vedação expressa quantoa isso (violação ao princípio da legalidade – analogia in malam 
partem). 
 
CP: Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos 
crimes previstos neste título, em prejuízo: 
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; 
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo 
ou ilegítimo, seja civil ou natural. 
 
Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o 
crime previsto neste título é cometido em prejuízo: 
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; 
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo; 
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita. 
 
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores: 
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando 
haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa; 
II - ao estranho que participa do crime. 
III - se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou 
superior a 60 (sessenta) anos.” 
 
=> Note-se que o Estatuto do Idoso tomou o cuidado de inserir o inciso III ao art. 183 do CP para 
excepcionar a regra, mas a Lei Maria da Penha deixou de fazê-la. 
 
5.8.5. Violência moral. 
 
Lei n. 11.340/06: “Art. 7º São formas de violência doméstica e 
familiar contra a mulher, entre outras: (...) 
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que 
configure calúnia, difamação ou injúria.” 
 
6. Juizados de Violência doméstica e familiar contra a mulher. 
 
Lei n. 11.340/06: “Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e 
Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com 
competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, 
no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o 
processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da 
prática de violência doméstica e familiar contra a mulher. 
Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em 
horário noturno, conforme dispuserem as normas de 
organização judiciária.” 
 
“Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e 
familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, 
não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.” 
 
=> Quando a lei se refere ao termo “Juizados” pretendeu criar Varas Especializadas, não fazendo 
alusão aos Juizados Especiais Cíveis ou Criminais (JECRIM). 
 
Obs. 1: Competência para o processo e julgamento de crimes e contravenções penais praticados 
no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher: 
STJ: “(...) Configurada a conduta praticada como violência doméstica contra a mulher, 
independentemente de sua classificação como crime ou contravenção, deve ser fixada a 
competência da Vara Criminal para apreciar e julgar o feito, enquanto não forem estruturados 
os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, consoante o disposto nos artigos 
7º e 33 da Lei Maria da Penha. (...)”. (STJ, 5ª Turma, HC 158.615/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, DJE 
08/04/2011). 
 
6.1. Cumulação da competência por varas criminais. 
 
Lei n. 11.340/06: “Art. 33. Enquanto não estruturados os 
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as 
varas criminais acumularão as competências cível e criminal 
para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de 
violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as 
previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação 
processual pertinente. 
Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas 
varas criminais, para o processo e o julgamento das causas 
referidas no caput”. 
 
Obs. 1: (In)constitucionalidade da criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra 
a mulher; 
Houve quem dissesse que o dispositivo do art. 14 viola o poder de Auto-organização do 
Judiciário Estadual (art. 125 da Constituição: 
 
Constituição Federal: “Art. 125. (...) 
§1º. A competência dos Tribunais será definida na Constituição 
do Estado, sendo a lei de Organização Judiciária de iniciativa do 
Tribunal de Justiça.” 
 
Mas o STF entendeu perfeitamente possível a recomendação feita pela Lei, uma vez que esta 
apenas autorizou a criação de Varas Especializadas. 
 
STF: “(...) COMPETÊNCIA – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – JUIZADOS DE VIOLÊNCIA 
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. O artigo 33 da Lei nº 11.340/06, no que revela a 
conveniência de criação dos juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher, não 
implica usurpação da competência normativa dos estados quanto à própria organização 
judiciária. (...)”. (STF, Pleno, ADC 19/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 09/02/2012). 
 
Obs. 2: outorga dessa competência cumulativa a varas dos Juizados Especiais Criminais. 
=> Art. 14 - Varas Especializadas (chamadas de “Juizados” pela Lei). 
=> Art. 33 - Varas Criminais comuns poderão cumular essa Competência. 
=> No TJDFT, enquanto não criadas as Varas Especializadas, a competência em relação à Lei 
Maria da Penha foi outorgada ao Juízo dos Juizados Especiais Criminais. Essa cumulação é 
perfeitamente admitida, desde que devidamente separados dos processos da Lei dos Juizados 
Especiais, dadas as suas distinções. 
Juizado Especial Criminal (JECRIM) “Juizado” de Violência Doméstica e Familiar 
Crime de Menor Potencial Ofensivo. Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. 
Aplicação da Lei 9.099/1995. Não se aplica a Lei 9.099/1995. 
Juízo ad quem: Turma Recursal. Juízo ad quem: Tribunal de Justiça. 
 
6.2. Crimes dolosos contra a vida praticados no contexto da violência doméstica e familiar 
contra a mulher. 
 
=> Depende da Lei de Organização Judiciária. 
=> Os Tribunais Superiores têm entendido, no caso de crimes dolosos contra a vida, que a Lei de 
Organização Judiciária Local pode outorgar aos Juizados Especializados em Violência Doméstica 
as atribuições da 1ª Fase (iudicium accusationis) do Procedimento do Júri, que pertenciam ao 
juiz sumariante, desde que logicamente respeitada a competência do Tribunal do Júri para a 2ª 
Fase (iudicium causae). 
 
STJ: “(...) Ressalvada a competência do Júri para julgamento do crime doloso contra a vida, seu 
processamento, até a fase de pronúncia, poderá ser pelo Juizado de Violência Doméstica e 
Familiar contra a Mulher, em atenção à Lei 11.340/06. (...)”. (STJ, 5ª Turma, HC 73.161/SC, Rel. 
Min. Jane Silva, DJ 17/09/2007). 
6.3. Depoimento especial de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de 
testemunha de violência doméstica, quando se tratar de crime contra a mulher (Lei n. 
13.505/2017). 
 
=> O depoimento “sem dano” visa colocar a vítima, especialmente aquela de violência sexual, 
em ambiente menos hostil, de modo que não venha a sofrer experiências negativas decorrente 
da lembrança dos traumas. 
Lei n. 11.340/06: “Art. 10-A. É direito da mulher em situação de 
violência doméstica e familiar o atendimento policial e pericial 
especializado, ininterrupto e prestado por servidores - 
preferencialmente do sexo feminino - previamente capacitados. 
(Incluído pela Lei n. 13.505/2017) 
 
§ 1º A inquirição de mulher em situação de violência doméstica 
e familiar ou de testemunha de violência doméstica, quando se 
tratar de crime contra a mulher, obedecerá às seguintes 
diretrizes: 
I - salvaguarda da integridade física, psíquica e emocional da 
depoente, considerada a sua condição peculiar de pessoa em 
situação de violência doméstica e familiar; 
II - garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher em 
situação de violência doméstica e familiar, familiares e 
testemunhas terão contato direto com investigados ou 
suspeitos e pessoas a eles relacionadas; 
III - não revitimização da depoente, evitando sucessivas 
inquirições sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, cível e 
administrativo, bem como questionamentos sobre a vida 
privada. 
§ 2º Na inquirição de mulher em situação de violência doméstica 
e familiar ou de testemunha de delitos de que trata esta Lei, 
adotar-se-á, preferencialmente,o seguinte procedimento: 
I - a inquirição será feita em recinto especialmente projetado 
para esse fim, o qual conterá os equipamentos próprios e 
adequados à idade da mulher em situação de violência 
doméstica e familiar ou testemunha e ao tipo e à gravidade da 
violência sofrida; 
II - quando for o caso, a inquirição será intermediada por 
profissional especializado em violência doméstica e familiar 
designado pela autoridade judiciária ou policial; 
III - o depoimento será registrado em meio eletrônico ou 
magnético, devendo a degravação e a mídia integrar o 
inquérito.” 
 
7. Ação penal nos crimes de lesão corporal leve e lesão corporal culposa praticados no 
contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher. 
 
=> Antes da Lei 9.099/1995, os crimes de lesões corporais leves e lesões culposas eram de Ação 
Penal Pública Incondicionada. A Lei 9.099/1995 tornou tais crimes condicionados à 
representação. 
Lei n. 9.099/95: “Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e 
da legislação especial, dependerá de representação a ação 
penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões 
culposas.” 
 
=> Uma vez que a Lei Maria da Penha veio a afastar a aplicação da Lei 9.099/1995, os Tribunais 
Superiores entenderam que o crime de Lesão Corporal Leve voltou a ser de Ação Penal Pública 
Incondicionada, no contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher. 
 
Lei n. 11.340/06: “Art. 16. Nas ações penais públicas 
condicionadas à representação da ofendida de que trata esta 
Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, 
em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes 
do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público”. 
 
Lei n. 11.340/06: “Art. 41. Aos crimes praticados com violência 
doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da 
pena prevista, não se aplica a Lei n. 9.099/95.” 
 
STF: “(...) AÇÃO PENAL – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER – LESÃO CORPORAL – 
NATUREZA. A ação penal relativa a lesão corporal resultante de violência doméstica contra a 
mulher é pública incondicionada – considerações”. (STF, Pleno, ADI 4.424/DF, Rel. Min. Marco 
Aurélio, j. 09/02/2012). 
 
Súmula n. 542 do STJ: “A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência 
doméstica contra a mulher é pública incondicionada”. 
=> Ao crime de lesão corporal culposa continua válido o art. 88 da Lei 9.099/1995 pois, em 
virtude de sua natureza culposa, como visto, não se enquadra na Lei Maria da Penha. 
 
“A propósito, por ocasião da apreciação da Pet 11.805 sob o rito dos repetitivos, a 3ª Seção do 
STJ deliberou pela revisão do entendimento firmado no REsp n. 1.097.042/DF para fixar a 
seguinte tese: “A ação penal nos crimes de lesão corporal leve cometidos em detrimento da 
mulher, no âmbito doméstico e familiar, é pública incondicionada”. 
 
7.1. Retratação da representação nos crimes praticados no contexto da violência doméstica e 
familiar contra a mulher. 
 
ATENÇÃO: os demais crimes, por exemplo a ameaça, difamação, injúria, calúnia, apesar de 
sujeitos à LMP, são de ação penal pública CONDICIONADA. 
 
=> Outros crimes no âmbito da Lei Maria da Penha continuam condicionados à representação, 
como no caso de ameaça. 
CPP: “Art. 25. A representação será irretratável, depois de 
oferecida a denúncia.” 
 
Lei n. 11.340/06: “Art. 16. Nas ações penais públicas 
condicionadas à representação da ofendida de que trata esta 
Lei, só será admitida a renúncia [o termo ideal seria 
“retratação”] à representação perante o juiz, em audiência 
especialmente designada com tal finalidade, antes do 
recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.” 
 
=> O art. 16 da Lei Maria da Penha funciona como norma especial em relação ao art. 25 do CPP, 
pois permite a retratação da ofendida até o recebimento da denúncia. 
 
Obs. 1: (Des)necessidade de designação de audiência para ratificação de representação 
anteriormente oferecida. 
=> Segundo entendimento jurisprudencial, somente é necessária a audiência de retratação caso 
a vítima tenha manifestado interesse. 
 
STJ: “(...) A audiência de que trata o art. 16, da Lei n.º 11.340/06, não deve ser realizada ex 
officio, como condição da abertura da ação penal, sob pena de constrangimento ilegal à 
mulher, vítima de violência doméstica e familiar, pois configuraria ato de 'ratificação' da 
representação, inadmissível na espécie. 4. A realização da referida audiência deve ser 
precedida de manifestação de vontade da ofendida, se assim ela o desejar, em retratar-se da 
representação anteriormente registrada, cabendo ao magistrado verificar a espontaneidade e a 
liberdade na prática do referido ato. Precedentes”. (STJ, 5ª Turma, RMS 34.607/MS, Rel. Min. 
Adilson Vieira Macabu, j. 13/09/2011). 
 
8. Vedação à aplicação de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária. 
 
Lei n. 11.340/06: “Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de 
violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de 
cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a 
substituição de pena que implique o pagamento isolado de 
multa. 
8.1. (Im)possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos 
na hipótese de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça 
no ambiente doméstico.” 
 
=> Para a substituição por penas restritivas de direitos, o próprio art. 44 a veda em caso de 
violência ou grave ameaça à pessoa. 
 
CP: “Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e 
substituem as privativas de liberdade, quando: 
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro 
anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça 
à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for 
culposo; 
II – o réu não for reincidente em crime doloso; 
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a 
personalidade do condenado, bem como os motivos e as 
circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.” 
 
STF: “Não se admite a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos nem 
mesmo em caso de contravenção penal envolvendo violência doméstica. Por isso, em caso 
concreto em que um indivíduo fora condenado por vias de fato (LCP, art. 21), a 1ª Turma do STF 
(HC 137.888/MS, Rel. Min. Rosa Weber, j. 31/10/2017) fez uso de interpretação extensiva (??? 
– analogia in malam partem) do art. 44, I, do CP, para concluir que, no caso de violência 
doméstica e familiar contra a mulher, a noção de crime teria o condão de abarcar qualquer 
conduta delituosa, inclusive contravenção penal (???). Nesse sentido, reconhecida a 
necessidade de combate à cultura de violência contra a mulher no Brasil, a Turma considerou a 
equiparação da conduta do paciente à infração de menor potencial ofensivo incoerente com o 
entendimento da violência de gênero como grave violação dos direitos humanos.” 
 
Súmula n. 588 do STJ: “A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência 
ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de 
liberdade por restritiva de direitos”. 
 
9. Medidas protetivas de urgência. 
 
=> São medidas cautelares., condicionadas ao fumus comissi delicti e ao periculum libertatis. 
 
Lei n. 11.340/06: “Art. 19. As medidas protetivas de urgência 
poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério 
Público ou a pedido da ofendida. 
 
§ 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas 
de imediato, independentemente de audiência das partes e de 
manifestação do Ministério Público, devendo este ser 
prontamente comunicado. 
 
§ 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada 
ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer 
tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos 
reconhecidos nesta Lei foremameaçados ou violados. 
 
§ 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a 
pedido da ofendida, conceder novas medidas protetivas de 
urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender necessário 
à proteção da ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, 
ouvido o Ministério Público.” 
 
Obs. 1: (Im)possibilidade de aplicação das medidas protetivas a pessoas do sexo masculino. 
=> Conforme alteração pela Lei 12.403/2011, o CPP passou a permitir medidas protetivas em 
caso de vítima mulher, mas também criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com 
deficiência, independentemente do sexo. 
CPP: “Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será 
admitida a decretação da prisão preventiva: (...) 
 
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a 
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com 
deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de 
urgência; 
 
Obs. 2: A aplicação das medidas protetivas de urgência pressupõe a existência de violência 
doméstica e familiar contra a mulher, mas não necessariamente a prática de crime no contexto 
dos arts. 5º e 7º da Lei Maria da Penha. 
=> Ex: Violência psicológica. 
 
Obs. 3: (In)aplicabilidade do art. 308 do novo CPC às medidas protetivas de urgência. 
=> Parte da doutrina entende ser aplicável o art. 308 do Novo CPC, mas o STJ possui precedentes 
em sentido contrário. 
NCPC: “Art. 308. Efetivada a tutela cautelar, o pedido principal 
terá de ser formulado pelo autor no prazo de 30 (trinta) dias, 
caso em que será apresentado nos mesmos autos em que 
deduzido o pedido de tutela cautelar, não dependendo do 
adiantamento de novas custas processuais.” 
 
Súmula n. 482 do STJ: “A falta de ajuizamento da ação principal no prazo do art. 806 do CPC 
acarreta a perda da eficácia da liminar deferida e a extinção do processo cautelar”. 
 
STJ: Para a 3ª Turma do STJ, a decisão proferida em processo penal que fixa alimentos 
provisórios ou provisionais em favor da companheira e da filha, em razão da prática de violência 
doméstica, constitui título hábil para imediata cobrança e, em caso de inadimplemento, passível 
de decretação de prisão civil. De início, relevante assentar que o art. 14 da Lei n. 11.340/2006 
estabelece a competência híbrida (criminal e civil) da Vara Especializada da Violência Doméstica 
e Familiar contra a Mulher, para o julgamento e execução das causas decorrentes da prática de 
violência doméstica e familiar contra a mulher. A amplitude da competência conferida pela Lei 
n. 11.340/2006 à Vara Especializada tem por propósito justamente permitir ao mesmo 
magistrado o conhecimento da situação de violência doméstica e familiar contra a mulher, 
permitindo-lhe bem sopesar as repercussões jurídicas nas diversas ações civis e criminais 
advindas direta e indiretamente desse fato. (...) (...) Providência que, a um só tempo, facilita o 
acesso da mulher, vítima de violência doméstica, ao Poder Judiciário, e confere-lhe real 
proteção. Assim, se afigura absolutamente consonante com a abrangência das matérias 
outorgadas à competência da Vara Especializada da Violência Doméstica e Familiar contra a 
Mulher o deferimento de medida protetiva de alimentos, de natureza cível, no âmbito de ação 
criminal destinada a apurar crimes de violência doméstica e familiar contra a mulher. É de se 
reconhecer, portanto, que a medida protetiva de alimentos, fixada por Juízo materialmente 
competente é, por si, válida e eficaz, não se encontrando, para esses efeitos, condicionada à 
ratificação de qualquer outro Juízo, no bojo de outra ação, do que decorre sua natureza 
satisfativa, e não cautelar. Tal decisão consubstancia, em si, título judicial idôneo a autorizar a 
credora de alimentos a levar a efeito, imediatamente, as providências judiciais para a sua 
cobrança, com os correspondentes meios coercitivos que a lei dispõe (perante o próprio Juízo), 
não sendo necessário o ajuizamento, no prazo de 30 (trinta) dias, de ação principal de alimentos 
(propriamente dita), sob pena de decadência do direito. Compreensão diversa tornaria inócuo 
o propósito de se conferir efetiva proteção à mulher, em situação de hipervulnerabilidade. (STJ, 
3ª Turma, RHC 100.446/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 27/11/2018, DJe 05/12/2018). 
 
Obs. 4: (Im)possibilidade de aplicação das medidas protetivas de urgência pela autoridade 
policial. 
=> O dispositivo vigente não permite que as medidas protetivas sejam aplicadas por outra 
autoridade, senão o juiz. 
Lei n. 11.340/06 - Vetado: 
 
Art. 12-B (Lei 13.505/17). Verificada a existência de risco atual 
ou iminente à vida ou à integridade física e psicológica da 
mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de seus 
dependentes, a autoridade policial, preferencialmente da 
delegacia de proteção à mulher, poderá aplicar 
provisoriamente, até deliberação judicial, as medidas protetivas 
de urgência previstas no inciso III do art. 22 e nos incisos I e II do 
art. 23 desta Lei, intimando desde logo o agressor. 
§ 1o O juiz deverá ser comunicado no prazo de 24 (vinte e 
quatro) horas e poderá manter ou rever as medidas protetivas 
aplicadas, ouvido o Ministério Público no mesmo prazo. 
§2º Não sendo suficientes ou adequadas as medidas protetivas 
previstas no caput, a autoridade policial representará ao juiz 
pela aplicação de outras medidas protetivas ou pela decretação 
da prisão do agressor. 
§3º A autoridade policial poderá requisitar os serviços públicos 
necessários à defesa da mulher em situação de violência 
doméstica e familiar de seus dependentes”. 
 
Razões dos vetos: “Os dispositivos, como redigidos, impedem o veto parcial do trecho que incide 
em inconstitucionalidade material, por violação aos artigos 2º e 144, § 4º, da Constituição, ao 
invadirem competência afeta ao Poder Judiciário e buscarem estabelecer competência não 
prevista para as polícias civis.” 
Lei n. 11.340/06: “Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual 
ou iminente à vida ou à integridade física da mulher em situação 
de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o 
agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local 
de convivência com a ofendida: (Incluído pela Lei n. 13.827/19, 
com vigência em data de 14/05/2019). 
I - pela autoridade judicial; 
II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede 
de comarca; ou 
III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e 
não houver delegado disponível no momento da denúncia. 
§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz 
será comunicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas 
e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação 
da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público 
concomitantemente. 
§ 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à 
efetividade da medida protetiva de urgência, não será 
concedida liberdade provisória ao preso”. 
 
 
=> O art. 12-C, com vigência a partir de maio de 2019, não foi vetado. Provavelmente haverá 
questionamento de constitucionalidade perante o STF. 
 
Obs. 5: oitiva da vítima e informações sobre eventual deficiência; 
 
Lei n. 11.340/06: “Art. 12. Em todos os casos de violência 
doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da 
ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os 
seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no 
Código de Processo Penal: 
(...) 
§ 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade 
policial e deverá conter: 
(...) 
IV - informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com 
deficiência e se da violência sofrida resultou deficiência ou 
agravamento de deficiência preexistente. (Incluído pela Lei n. 
13.836, de junho 2019)”. 
9.1. Medidas protetivas de urgência destinadas ao agressor e à ofendida. 
 
Lei n. 11.340/06:DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA QUE OBRIGAM O 
AGRESSOR 
“Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar 
contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de 
imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as 
seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: 
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com 
comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei n. 
10.826/03; 
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a 
ofendida; 
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: 
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das 
testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e 
o agressor; 
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por 
qualquer meio de comunicação; 
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a 
integridade física e psicológica da ofendida; 
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, 
ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço 
similar; 
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios. 
DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA À OFENDIDA 
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de 
outras medidas: 
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial 
ou comunitário de proteção ou de atendimento; 
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus 
dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do 
agressor; 
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo 
dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos; 
IV - determinar a separação de corpos. 
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade 
conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz 
poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre 
outras: 
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à 
ofendida; 
II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos 
de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo 
expressa autorização judicial; 
III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao 
agressor; 
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, 
por perdas e danos materiais decorrentes da prática de 
violência doméstica e familiar contra a ofendida. 
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente 
para os fins previstos nos incisos II e III deste artigo.” 
9.2. Prisão preventiva 
 
Lei n. 11.340/06: “Art. 20. Em qualquer fase do inquérito 
policial ou da instrução criminal, caberá a prisão preventiva do 
agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do 
Ministério Público ou mediante representação da autoridade 
policial. 
Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, 
no curso do processo, verificar a falta de motivo para que 
subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões 
que a justifiquem.” 
 
Obs. 1: (In)constitucionalidade da decretação da prisão preventiva ex officio durante as 
investigações. 
=> A melhor leitura do art. 20 estabelece que somente poderá ser decretada de ofício durante 
o processo, e no inquérito mediante representação do Ministério Público ou do delegado. 
 
CPP: “Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do 
processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, 
de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do 
Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por 
representação da autoridade policial.” 
 
Obs. 2: (Im)possibilidade de decretação da prisão preventiva tão somente em virtude do 
descumprimento das medidas protetivas de urgência. 
=> Na visão dos Tribunais Superiores, é preciso se conjugar o descumprimento das medidas 
protetivas com uma das hipóteses do art. 312 do CPP. 
 
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como 
garantia da ordem pública, da ordem econômica, por 
conveniência da instrução criminal ou para assegurar a 
aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do 
crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo 
estado de liberdade do imputado. (Redação dada pela Lei nº 
13.964, de 2019) 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3
§ 1º A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso 
de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por 
força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4o). (Redação 
dada pela Lei nº 13.964, de 2019) 
 
§ 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser 
motivada e fundamentada em receio de perigo e existência 
concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a 
aplicação da medida adotada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 
2019) 
 
STJ: “(...) Muito embora o art. 313, IV, do Código de Processo Penal, com a redação dada pela 
Lei nº 11.340/2006, admita a decretação da prisão preventiva nos crimes dolosos que envolvam 
violência doméstica e familiar contra a mulher, para garantir a execução de medidas protetivas 
de urgência, a adoção dessa providência é condicionada ao preenchimento dos requisitos 
previstos no art. 312 daquele diploma. (...) É imprescindível que se demonstre, com explícita e 
concreta fundamentação, a necessidade da imposição da custódia para garantia da ordem 
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a 
aplicação da lei penal, sem o que não se mostra razoável a privação da liberdade, ainda que haja 
descumprimento de medida protetiva de urgência, notadamente em se tratando de delitos 
punidos com pena de detenção”. (STJ, 6ª Turma, HC 100.512/MT, Rel. Min. Paulo Gallotti, DJe 
23/06/2008). 
 
Obs. 3: (In)constitucionalidade da decretação da prisão preventiva para fins de assegurar o 
cumprimento de medidas protetivas de urgência de natureza cível. 
=> Entende-se por sua inconstitucionalidade, porquanto seria caso de prisão civil não admitida 
por nosso ordenamento jurídico (p.ex.: suspensão de visitas). 
 
9.3. Tipificação do crime de descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas na 
Lei Maria da Penha (Lei n. 13.641/2018). 
 
CP: Desobediência 
“Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público: 
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.” 
 
=> Anterior à Lei 13.641/2018: não cabível prisão em flagrante por desobediência. 
Informativo n. 544 do STJ: 
“O descumprimento de medida protetiva de urgência prevista na Lei Maria da Penha (art. 22 da 
Lei 11.340/2006) não configura crime de desobediência (art. 330 do CP). De fato, a 
jurisprudência do STJ firmou o entendimento de que, para a configuração do crime de 
desobediência, não basta apenas o não cumprimento de uma ordem judicial, sendo 
indispensável que inexista a previsão de sanção específica em caso de descumprimento (HC 
115.504-SP, Sexta Turma, Dje 9/2/2009). Desse modo, está evidenciada a atipicidade da 
conduta, porque a legislação previu alternativas para que ocorra o efetivo cumprimento das 
medidas protetivas de urgência, previstas na Lei Maria da Penha, prevendo sanções de natureza 
civil, processual civil, administrativa e processual penal. Precedentes citados: REsp 1.374.653-
MG, Sexta Turma, DJe 2/4/2014; e AgRg no Resp 1.445.446-MS, Quinta Turma, DJe 6/6/2014. 
RHC 41.970-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 7/8/2014 (Vide Informativo n. 538).” 
Hoje, a Lei 11.340/2006: 
“Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas 
protetivas de urgência previstas nesta Lei: (Incluído pela Lei n. 
13.641/18) 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. 
§1º A configuração do crime independe da competência civil ou 
criminal do juiz que deferiu as medidas. 
§2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade 
judicial poderá conceder fiança. 
§3º O disposto neste artigo não excluia aplicação de outras 
sanções cabíveis.” 
 
Obs. 1: Art. 24-A da Lei Maria da Penha e a discussão acerca da sua natureza de infração de 
menor potencial ofensivo; 
=> 1ª corrente: sim, porque a pena máxima não é superior a dois anos e trata-se de crime 
especial de desobediência, tendo por sujeito passivo a Administração da Justiça; 
=> 2ª corrente (prevalece): não, pois o crime em questão configura violência psicológica, 
enquadrando-se no crime do art. 41, ao qual não se aplica a Lei 9.099/95. 
 
Obs. 2: Impossibilidade de concessão de fiança pela autoridade policial. 
=> Não, pois o § 2º do art. 24-A funciona como norma especial em relação ao art. 322 do CPP. 
 
CPP: “Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder 
fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade 
máxima não seja superior a 4 (quatro) anos.” 
 
Lei 11.340/06: “Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que 
defere medidas protetivas de urgência previstas nesta Lei: 
(Incluído pela Lei n. 13.641/18) 
(...) 
§2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade 
judicial poderá conceder fiança.” 
 
Obs. 3: aplicação de outras sanções cabíveis, independentemente da tipificação do crime do 
art. 24-A da Lei Maria da Penha. 
 
Lei 11.340/06: “Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que 
defere medidas protetivas de urgência previstas nesta Lei: 
(Incluído pela Lei n. 13.641/18) 
(...) 
§3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras 
sanções cabíveis.” 
 
Lei n. 11.340/06: “Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial 
ou da instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, 
decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério 
Público ou mediante representação da autoridade policial. 
Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, 
no curso do processo, verificar a falta de motivo para que 
subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões 
que a justifiquem.” 
 
Obs. 4: (Im)possibilidade de tipificação do crime do art. 24-A no caso de descumprimento de 
medidas cautelares diversas da prisão previstas no CPP (arts. 319 e 320), e não na Lei Maria 
da Penha; 
=> Não seria possível, por se tratar de analogia in malam partem. 
 
Lei 11.340/06: “Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que 
defere medidas protetivas de urgência previstas nesta Lei: 
(Incluído pela Lei n. 13.641/18) 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.” 
 
10. (In)aplicabilidade da Lei dos Juizados Especiais Criminais às infrações penais praticadas 
com violência doméstica e familiar contra a mulher. 
 
=> Os Tribunais entendem que o art. 41 também vale para as contravenções. 
 
Lei n. 11.340/06: “Art. 41. Aos crimes praticados com violência 
doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da 
pena prevista, não se aplica a Lei n. 9.099/95.” 
 
Obs. 1: Contravenções penais praticadas no contexto da violência doméstica e familiar contra 
a mulher e (im)possibilidade de aplicação da Lei dos Juizados. 
 
STF: “(...) O preceito do artigo 41 da Lei nº 11.340/06 alcança toda e qualquer prática delituosa 
contra a mulher, até mesmo quando consubstancia contravenção penal, como é a relativa a vias 
de fato. (...)”. (STF, Pleno, HC 106.212/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe 112 10/06/2011). 
 
Obs. 2: (In)constitucionalidade do art. 41 da Lei n. 11.340/06. 
Fundamentos favoráveis à constitucionalidade: 
- A promoção da igualdade entre os sexos passa não apenas pelo combate à discriminação 
contra a mulher, mas também pela adoção de políticas compensatórias capazes de acelerar a 
igualdade de gênero; 
- Ações afirmativas: podem ser conceituadas como o conjunto de ações, programas e políticas 
especiais e temporárias que buscam reduzir ou minimizar os efeitos intoleráveis da 
discriminação em razão do gênero, raça, sexo, religião, deficiência física, ou outro fator de 
desigualdade. 
 
STF: “(...) VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – GÊNEROS MASCULINO E FEMININO – 
TRATAMENTO DIFERENCIADO. O artigo 1º da Lei nº 11.340/06 surge, sob o ângulo do 
tratamento diferenciado entre os gêneros – mulher e homem –, harmônica com a Constituição 
Federal, no que necessária a proteção ante as peculiaridades física e moral da mulher e a cultura 
brasileira. (...) VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER – REGÊNCIA – LEI Nº 
9.099/95 – AFASTAMENTO. O artigo 41 da Lei nº 11.340/06, a afastar, nos crimes de violência 
doméstica contra a mulher, a Lei nº 9.099/95, mostra-se em consonância com o disposto no § 
8º do artigo 226 da Carta da República, a prever a obrigatoriedade de o Estado adotar 
mecanismos que coíbam a violência no âmbito das relações familiares”. (STF, Pleno, ADC 
19/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 09/02/2012).

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