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RESUMO: FUNDAMENTOS SOCIOCULTURAIS DA EDUCAÇÃO CAP 1 – EDUCAÇÃO COMO FENÔMENO HUMANO 1.1 – Significado amplo de educação. - Invenção da educação. Não é possível, histórica e logicamente, distinguir o momento em que o ser humano “inventou” a educação, e, muito menos, determinar o que veio antes: trabalho, linguagem, cultura ou educação. O ser humano, como ser social, é constituído e constituinte do processo do trabalho pela linguagem, pela cultura e pela educação. Em outras palavras, o ser humano é o construtor de sua própria vida social e de sua própria história. - Fato social. Existe exteriormente ao indivíduo, ou seja, não ser um fato individual ou psicológico, mais sim social. - Conceito de fato social por Durkheim. Toda maneira de agir, fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, ou então, ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter. - Pensamento de Durkheim com relação ao fato social: É objetivo, exterior ao indivíduo e transmitido pela educação. Mas a esse conjunto de características é somado ainda outro aspecto importantes do fato social: é que ele não somente existe fora do indivíduo, mas também se impõem a ele como forma de ser na sociedade. - Coerção. Tal imposição, ou “coerção”, gera como consequência reações para todos os que se encontram fora dessas regras sociais. A coerção existe como mecanismo controlador e de manutenção por meio de sanções sociais que podem ser implícitas – como o desprezo – ou explícitas, nas reações de adversidade dos outros diante de uma situação diferente, ou mesmo pela legislação, cabendo, nesse caso, sanções violentas, como a retirada da liberdade. As três formas de reação social regem o nosso sistema de direito no Estado democrático, especialmente se considerarmos a terceira parte da sentença durkheimiana, ou seja, a da expiação (cumprimento da pena), que tem sido a tônica da ação jurídica na nossa sociedade. A coerção não é apenas legal e ocorre também nos costumes. - Para Durkheim o estudo da sociedade: É demarcado pelos fatos sociais entendidos como “coisas”, ou seja, fatos exteriores aos indivíduos, de caráter objetivo e que obedecem a leis positivas, gerais e, no limite, invariáveis, o que denota a sua concepção positivista da sociedade, para a qual os indivíduos deveriam se moldas e não transformar. -- O fato social: Constitui-se como imposição de valores, crenças, hábitos, normas e regras sociais constituídas independentemente da ocorrência e da vontade individual. - Conceito de educação para Durkheim: Toda educação consiste num esforço contínuo para impor às crianças maneiras de ver, de sentir e de agir às quais elas não chegariam espontaneamente […] Desde os primeiros anos de vida, são as crianças forçadas a comer, beber, dormir em horas regulares; são constrangidos a terem hábitos higiênicos, a serem calmas e obedientes; mais tarde obrigamo-las a aprender a pensar nos demais, a respeitar usos e conveniências, forçamo-las ao trabalho etc. O autor concebe a educação num duplo movimento: de um lado, como impositora de valores e regras sociais a serem assimiladas pelas novas gerações; por outro, a necessidade intrínseca dessa “imposição” para a perpetuação da sociedade coesa. Para Durkheim, a educação é um mecanismo transmissor de cultura herdada pelas antigas gerações, fazendo com que sua assimilação seja o principal índice de socialização das novas gerações. A educação é, portanto, uma instituição socializadora, sendo esta ação, contrariamente, conservadora da sociedade. A educação era a saída para a crise social pela qual passava a sociedade, pois ela é um mecanismo de integração social, de manutenção dos valores morais, que formam a consciência coletiva. - Consciência Coletiva para Durkheim Conjunto de crenças e dos sentimentos comuns à medida dos membros de uma mesma sociedade que forma um sistema determinado com vida própria. - Teoria durkheimiana de educação = teoria conservadora. Estabelecia na sociedade uma diferenciação entre os papéis sociais e o tipo de educação. - Como Durkheim tratava a sociedade capitalista européia do início do século XX? Era tida como desenvolvida em termos civilizatórios e na qual os laços sociais já não permitiam que as novas gerações fossem educadas espontaneamente e de modo uniforme. Eis o mundo da “solidariedade orgânica”. Ao contrário, nas sociedades marcadas pela “solidariedade mecânica”, os laços sociais eram estabelecidos, sobretudo, pela tradição que subordinava a todos os membros da comunidade. - Definição dos comportamentos sociais dos homens são resultados da ação da sociedade sobre os indivíduos e fazem parte da evolução da solidariedade mecânica para a solidariedade orgânica. - Solidariedade mecânica caracteriza uma sociabilidade mais simples, marcada pela semelhança social entre os homens, que partilham uma consciência comum no que se refere aos modos de pensamento, crenças etc.; - Solidariedade orgânica, é típica das sociedades mais complexas, em que a divisão do trabalho social é amplamente disseminada, diferenciando os indivíduos e grupos pelas suas funções sociais, tal como o corpo humano. Essa diferença entre as formas de solidariedade expressa uma evolução das sociedades primitivas, pré-capitalistas, para a sociedade capitalista mais evoluída e complexa. - Para Torres o funcionalismo na educação atribui a ela quatro funções específicas: Acadêmica: Se divide em três outras funções, que são a de socialização das crianças pela internalização das normas, valores, comportamento etc., a reprodução cultural, ou seja a adaptação das novas gerações aos padrões constituídos, e as construções intelectuais como pensamento indutivo, dedutivo, análise, síntese, operações lógicas e matemáticas, científicas, todas baseadas nos conteúdos. Distributiva: A educação passa a ter um papel de seleção social (relação entre status social e educacional), inclusive com impactos sobre a questão do planejamento educacional. Econômica: Da educação insere-se no universo da teoria do capital humano, e portanto, da relação entre educação, trabalho e desenvolvimento econômico. Acredita-se que, quanto maior a escolaridade, maior a produtividade do trabalhador, o que resulta em uma maior igualdade na distribuição de renda na sociedade. Investir na educação seria investir na promoção da igualdade social e no desenvolvimento do país pela maior produtividade e competitividade. Política: Da educação leva em conta o seu papel de alinhar e fortalecer a convivência social. - Breve análise de Durkheim e do funcionalismo em geral: A educação tem o papel de não estimular os indivíduos à crítica do sistema social. Ao contrário, essa é uma teoria de adaptação à sociedade, mesmo que isso signifique a reprodução de sua diferenças, ou melhor, de suas desigualdades. - Para Luzuriaga “Por educação entendemos antes do mais, a influência intencional e sistemática sobre o ser juvenil, como o propósito de formá-lo e desenvolvê-lo”. Afirma, ainda, que a educação “significa também a ação genérica, ampla, de uma sociedade sobre as geraçõesjovens, com o fim de conservar e transmitir a existência coletiva”. > A educação, em sentido amplo, representa a forma tipicamente humana de apresentar a sociedade aos membros mais jovens da sociedade. - Outro elemento fundador do conceito de educação: É a ação sistemática sobre as novas gerações com o objetivo de conservação do que já foi construído socialmente pelos homens. - Luzuriaga afirma que a educação Visa transmitir a existência coletiva, o que nada mais é do que o modo especificamente humano de conservação de espécie. A transmissão daquilo que existe de uma geração a outra pela linguagem é uma das mais importantes características distintivas do homem em relação aos animais. - Educação na sociedade capitalista Concentra, hegemonicamente, a educação das novas gerações em uma instituição especificamente voltada para isso: a escola. - Referenciar os conceitos de educação, Libâneo: Em sentido amplo, a educação compreende os processos formativos que ocorrem no meio social, nos quais os indivíduos estão envolvidos de modo necessário e inevitável pelo simples fato de existirem socialmente; neste sentido, a prática educativa existe numa grande variedade de instituições e atividades sociais decorrentes da organização econômica, política e legal de uma sociedade, da religião, dos costumes das formas de convivência humana. Essa citação traz muitos elementos para a apreensão do conceito amplo de educação. A primeira questão é a inevitabilidade da ação educativa sobre os indivíduos, sendo esta uma condição essencial do ser social. Outra contribuição é determinar que o projeto educacional de cada sociedade está vinculado às diferentes formas de organização, o que significa delinear o modo de produzir socialmente a vida humana, como a organização da economia, da política, da justiça, da cultura e de costumes específicos. É possível, considerar, portanto, que o fenômeno educativo sempre se relacionou a um projeto de sociedade. > A educação ao longo da história humana esteve vinculada às formas da sociedade vigente. - Educação significava: Transmitir os saberes, as tradições e os conhecimentos produzidos pelas gerações adultas sobre a terra e outros costumes derivados, como os da divisão do trabalho, a relação com a natureza, os ritmos de passagem, a relação com o sobrenatural etc., para que as novas gerações pudessem desenvolver a atividade e garantir a produção e reprodução da vida social. - Libâneo explana, no âmbito da conceitualização da educação, sobre duas formas de existência do fenômeno educativo: a educação intencional e a educação não intencional. A educação intencional refere-se às influências do contexto social e do meio ambiente sobre os indivíduos. Tais influências, também denominadas de educação informal correspondem a processos de aquisição de conhecimentos, experiências, ideias, valores, práticas, que não estão ligadas especificamente a uma instituição e nem são intencionais e conscientes [...] É o caso, por exemplo, das formas econômicas e políticas de organização da sociedade, das relações humanas na família, no trabalho, na comunidade, dos grupos de convivência humana, do clima sociocultural da sociedade. Educação familiar não é intencional; Educação intencional refere-se a influências em que há intenções e objetivos definidos conscientemente, como é o caso da educação escolar e extraescolar. A educação intencional pode ser formal ou não formal. A educação formal é típica da escola e de outras instituições especialmente organizadas para educar com métodos, tempos etc. Já educação não formal trata-se de atividade educativa estruturada fora do sistema escolar convencional (como é o caso de movimentos sociais organizados, dos meios de comunicação em massa etc.) e da educação formal que se realiza nas escolas ou outras agências de instrução e educação (igreja, sindicatos, partidos, empresas) implicando ações de ensino com objetivos pedagógicos explícitos, sistematização, procedimentos didáticos. - Fundamentos socioculturais da educação. São justamente esses projetos de sociedade e de homem que são tratados. Esses projetos devem ser considerados em cada momentos histórico e social e, especialmente, na nossa sociedade contemporânea, caracterizada pelo regime capitalista de produção, de propriedade e de relações sociais. 1.2 - Significado restrito da educação na sociedade capitalista. - O que é capitalismo? É compreendido como um modo de produção, composto por um determinado desenvolvimento de forças produtivas (aparato técnico - científico e sua organização para a produção capitalista) e um determinado sistema de relações de produção, que são as formas societárias em que os homens se dividem em relações à produção. - Nessa sociedade capitalista: Os meios de produção concentram-se nas mãos de um determinada classe social, denominada por Marx e Engels de burguesia. Por outro lado, o capitalismo se caracteriza pela existência de uma maioria despossuída, o proletariado, que detém apenas sua força de trabalho, a qual é vendida no mercado, como outra qualquer mercadoria, embora reconhecidamente esta não seja uma mercadoria qualquer, mas a única que, além de ser uma valor, também gera um valor. - O capitalismo é: O uso do capital na exploração da mão de obra para a geração de mais-valia na produção de mercadorias e seu desenvolvimento no mercado. - A forma escolar de educação que prevalece na modernidade: Representa o resultado de um percurso histórico de um tipo de educação própria para as sociedades, na qual a divisão social encontra-se fundamentalmente em duas classes sociais: uma de proprietários, minoritária mas dominantes; e outra, majoritária mas dominada. > A forma escolar de educação passa a ser prevalecente a partir da modernidade - Conforme afirmou Saviani, a escola era: Centrada nas atividades intelectuais, na arte da palavra e nos exercícios físicos de caráter lúdica ou militar, ou seja, visava a uma formação do corpo e da mente, voltada para conteúdos que não necessariamente se referiam à produção imediata da vida material, coisa que ficava a cargo dos escravos. A escola era, pois, um apêndice da divisão social, pois nela se concretizava a divisão entre trabalho intelectual, para as classes dominantes, e o trabalho manual, para os escravos. - Tal divisão é uma das principais características, embora as consequências sejam maquiadas pela ideologia dominante. - A escola no capitalismo deve ser analisada: Em sua relação intrínseca com a formação humana voltada para a formação predominante de produção, a indústria. Formar o homem e, também, moldar as relações sociais por meio dessa formação é o papel predominante da escola na sociedade capitalista. - A educação tornou-se: Uma questão do Estado, o qual passou a ser responsabilizar pela formação dos trabalhadores para a produção, numa clara parceria e compromisso dos governantes com as classes dominantes. Dessa forma, o Estado começou a promover uma educação adaptativa ao invés de emancipatória para as classes trabalhadoras. - O processo histórico da produção capitalista resulta em: Uma especialização do trabalho pela divisão do trabalho, que foi o modocomo o capitalismo desenvolveu a produção de mercadorias. Os capitalistas perceberam que, ao fracionar as tarefas, os trabalhadores se tornariam especializados em pequenas operações parciais, e, com isso, obteriam maior produtividade. A produção seria, então a soma dessas tarefas fracionadas. Por meio dessa divisão é que o capitalismo alcançou o que vemos hoje em termos de produção e tecnologia; mas, contraditoriamente, essa mesma divisão causou a especialização dos trabalhadores, pois passou a exigir destes cada vez menos conhecimento. Esse processo de especialização é ampliado no fordismo, em que as forças do trabalhador coletivo são somadas a uma organização “científica” do trabalho, visando a uma produtividade cada vez maior - a chamada produção em massa - para atender a um mercado consumidor universal. Algo diferente acontece no chamado toyotismo, uma forma de organização surgida no Japão dos anos de 1940, mas que se tornou hegemônica a partir dos anos 1970 no mundo, e a partir dos anos 1980, no Brasil. - Ao mudarem os contextos sociais, mudaram também os projetos formativos da escola. No período atual, que exige flexibilidade dos trabalhadores, a formação demandada da escola, desde a década de 1990, é uma educação básica de qualidade e para todos, formato a partir do qual o próprio processo de produção possa adequar os trabalhadores aos seus desígnios. Isso significa que a escola teria como função uma formação básica, com conteúdos básicos, para que os futuros trabalhadores possam ser flexíveis nas diversas situações que irão encontrar no mercado do trabalho. 1.3 - Educação e Humanização. - Humanizar - se É um processo concreto que ocorre no interior das relações humanas, que são por excelência relações sociais. Humanizar-se em sociedade é a única condição para que isso ocorra. Se não nos tornamos humanizados naturalmente, primeiro é preciso que esse processo transcorra nas relações sociais mediadas por “conteúdos” humanizadores, que são aqueles elementos que possibilitam tal processo. Nascemos dotados de um corpo que traz em si a potencialidade de humanização. - O objetivo da educação É reproduzir, individualmente, a humanidade produzida coletivamente, ou seja, o processo humanizador passa pela necessidade de que cada um de nós nos apropriemos dos elementos constitutivos da humanidade, que, por sua vez, são produtos coletivos e históricos. - Humanizar-se É um processo de apropriação individual do produto coletivo dos homens, o que significa dizer que o homem, ser genérico, somente existe pelos resultados e processos da sua própria constituição. O ser humano é o que ele produz e o resultado dessa produção nas condições em que ela ocorre. Humanizar-se, portanto, é apropriar-se das produções humanas, as chamadas objetivações, que podem ser desde o conjunto das obras literárias ou arquitetônicas, até as obras de arte, poesia, teatro, como também, os produtos tecnológicos e seus resultantes. - Processo de humanização É possível afirmar que o processo de humanização é desigual na sociedade capitalista, revelando-se um processo histórico e socialmente determinado. - Conceito de individualidade para si, por Duarte Duarte trabalha numa apropriação daquilo que Marx trabalhou com relação ao conceito de “classe em si”, e “classe para si”. Nesse caso, individualidade para si significa o projeto mais desenvolvido de constituição da humanidade em cada indivíduo singular, enquanto que a individualidade em si representa a formação alienada proporcionada pela sociedade capitalista. Em resumo, a formação dessa individualidade para si pressupõe que cada indivíduo pode ser apropriar das objetivações humanas e, mediado por essa via, objetivar-se a si mesmo como ser humano, relacionando-se com o gênero humano de forma consciente. Além disso, essa individualidade pressupõe o máximo desenvolvimento das potencialidades humanas, ou seja, uma formação omnilateral. 1.4 - Introdução à ideia de cultura - Conceito de cultura É um dos mais amplos e controversos, tendo sido objeto de delimitação de estudo de milhares de indivíduos, sem que se chegasse a um acordo sobre ele. - Ciências sociais A partir do século XIX, são voltadas primordialmente às questões sociais as quais consideravam significativas. No entanto, uma tradição se criou nas ciências sociais com relação à cultura, que é a sua proximidade - ou até mesmo identidade - com a “grande cultura”, entendida esta como a cultura cultivada, a grande obra de arte. Ser culto era se apropriar dessa cultura cultivada, impondo como ideia uma suposta superioridade da grande arte sobre os demais domínios da sociedade. Esse campo de estudos deu origem à chamada sociologia da cultura de Goldman. > Não há sentido em se afirmar a superioridade racial pela determinação da cor da pele ou origem étnica. - Conceito Antropologia É ouro ramo da ciências sociais que tem a cultura como objeto de estudos. Os estudos antropológicos urbanos desenvolvidos no Brasil e no mundo inteiro, os quais se destacam pela iniciativa de compreender fenômenos contemporâneos pertinentes ao cotidiano das cidades e os relativos a grupos e/ou práticas específicas. - Na sociologia da cultura, distinguem-se dois conceitos: Kultur indica o que há de mais elevado, tendo como parâmetro a grande cultura, a grande arte, espaço de realização humana por excelência; Civilização, nesse caso, indica apenas as marcas materiais da sociedade relativas à produção. Ambos conceitos aparecem à sociologia da cultura como antagônicos. - Já na antropologia, a distinção de ambos os conceitos se dá de forma distinta. Civilização, sob essa perspectiva analítica, significa “um conjunto de valores modais constitutivos da identidade dos povos”. Nessa vertente, compreende-se que cada civilização é caracterizada por sua especificidade, como as civilizações grega e romana ou a civilização islâmica. - Cultura na antropologia clássica dos pioneiros - Taylor, Malinowski, Frazer, Radcliffe - Brown Era entendida como o estudo dos povos primitivos em contraponto à ideia de civilização, que somente as sociedade europeia e norte-americana poderiam trazer, dada sua “evolução”. - Conceito de cultura de forma mais objetiva e primária Tomamos como referência a distinção entre o que é natural e o que é cultural. - Distinção clássica entre cultura e natureza Indicando o que é do homem e o que é do animal, leva-nos à questão clássica daquilo que o senso comum tem reproduzido, e que inclusive vêm ganhando ares de bom senso na escola: o que distingue o homem do animal é que o homem é um ser racional. Como ser “racional”, o homem produziria cultura e, portanto, as técnicas, as artes, os costumes que poderiam, enfim, ser reproduzidos pela linguagem, ou, então, conteúdos que poderiam ser ensinados aos mais novos. Aos animais, restaria o instinto, que é o limite orgânico e genético com o qual estão limitadas as suas formas de atuação no mundo da natureza. - Entendemos, a partir da compreensão de Geerts, que ao tratarmos de cultura: Na verdade, tratamos de identidades contrastantes, de diferenças que fazem com que haja a identificação mútua, mesmo que, historicamente, esse processo não tenha trazido a mútuacompreensão e, muito menos, o mútuo respeito, haja vista a nossa recente história de xenofobias, de violência racional, de genocídios etc. > A identidade do indivíduo ou grupo é definida, também pelo contraste com os outros indivíduos ou grupos. - Resumindo Cultura Como um elemento diferenciador da prática humana em relação aos animais, prática esta que produz o que chamamos de cultura material, mas também que produz as tradições do grupo, as regras sociais e, inclusive, a influência na configuração dos indivíduos pertencentes a determinada sociedade; é também algo identitário, no sentido de que ela define uma certa homogeneidade de grupo, no interior do qual se reconhecer; mas também é identitária no sentindo justamente do oposto a isso, ou seja, a cultura se caracteriza, se conforma, como diferenciadora, como aquilo que produz contraste entre o “eu” e o “outro”. > A cultura é o processo e resultado da intervenção humana sobre a natureza. - Cultura nunca pode ser tratada no singular, mas no plural. - A diversidade cultural é derivada: Das condições em que os homens vivem e de acordo com as relações que constroem no ambiente. > A diversidade cultural é uma característica intrínseca dos homens. - É importe, ter em mente que: A escola também traz em seu interior uma série de diversidades culturais expressas nas histórias de vida dos seus alunos etc., e que, de toda forma, essa totalidade de conhecimentos sobre a ideia de cultura é relevante para o enfrentamento adequado das relações culturais na escola. > Na escola podemos enxergar grande número de alunos com culturas diferentes e cores de pele diferenciadas, e isso tudo deve ser levado em conta pelo professor. - Determinismo geográfico Parte de uma matriz europeia e toma o clima frio como o ideal para o desenvolvimento da cultura e da prosperidade material da sociedade. - O homem tem como grande característica, O fato de superar as limitações orgânicas puramente naturais para então construir a cultura humana, algo que, aliás, é compartilhado nas ideias de Karl Marx. - Cinco questões relativas à cultura: 1 - A cultura condiciona a nossa visão de mundo. 2 - A cultura interfere no plano biológico. 3 - Participação dos indivíduos na cultura. 4 - A cultura apresenta uma lógica própria. 5 - Dinâmica da cultura. O conhecimento desses operadores permite uma vivência, uma prática e um respeito pelo outro. > A cultura condiciona a nossa visão de mundo, e, por isso, o lugar em que vivemos, assim como a época, determina também nosso modo de ver as coisas, os nossos valores etc. > Os homens são, por excelência, limitados na sua capacidade de participação na cultura. > A cultura pode ser modificada tanto interna quanto externamente, ou seja, a partir do próprio grupo ou pela intervenção ou influência de outros grupos. - A cultura condiciona: A visão que temos do mundo, das coisas, das relações sociais, da natureza etc., ou seja, a nossa concepção de mundo, em geral, é formada pela nossa posição em face da cultura, que também significa nossa posição de classe na sociedade. - Com relação ao envolvimento na cultura, Laraia afirma: A impossibilidade de todos os indivíduos participarem da totalidade de aspectos relativos a ela devido à limitação de toda ordem, inclusive orgânica para que isso ocorra. Além disso na sociedade contemporânea, a complexidade das manifestações culturais é imensa. Há questão da idade, que impede crianças e velhos, ou mesmo adultos, de participarem de determinadas manifestações culturais, o que também, evidentemente, varia entre as culturas. - Essa questão é de grande polêmica e pode ser abordada de duas formas distintas: Em primeiro lugar, é possível exemplificar a ignorância de determinados indivíduos a normas sociais específicas, como as etiquetas alimentares, o uso de determinados padrões de vestimenta e de linguagem. Tal ignorância os colocará em situações vexatórias perante determinadas ocasiões que exigem esse tipo de conhecimento cultural. O segundo ponto parece ser muito mais relevante em termos educativos e até mesmo sociais, que é a ignorância das pessoas com relações a questões fundamentais para a vida social, como por exemplo, o analfabetismo. - Outro operador cultural analisado por Laraia é: O fato da cultura ser dinâmica. Nesse sentido os homens caracterizam-se por serem eternos construtores de cultura e que esta, por sua vez, não para jamais e tende sempre a se desenvolver - não no sentido evolucionista - a cada geração. - O que há entre estas sociedade e a sociedade capitalista é que ambas possuem ritmos diferenciados. Porém isso nada significa desde que as respostas que cada sociedade fornece ao tempo em que vivem sejam significativa para sua existência. Laraia afirma existir duas formas de mudança: 1 - Uma interna, que é o resultado da dinâmica da própria sociedade e que pode se dar de forma mais lenta; 2 - Outra externa, resultante dos contatos entre as sociedade, como, por exemplo, o contato dos indígenas com os brancos, que resultou em mudanças bruscas ou no extermínio cultural. - A dinâmica cultura é: Algo de interesse didático-pedagógico e um elemento de aproximação dos jovens com a cultura. Há muitas possibilidades de se trabalhar essa questões. - Laraia ainda trata do propósito de que a dinâmica cultural Se dá sobre a base do ideal e do real, ou seja, dos comportamentos tidos como ideias em um determinado momento e dos comportamentos reais, de modo que, na dinâmica cultural, caso os comportamentos reais passem a prevalecer de forma inexorável, o padrão ideal se modifica, adaptando-se ao que é real. 1.5 - Educação e socialização - A característica humana por excelência é a de: Ser um ser social, fadado, por assim dizer, a viver em sociedade, a depender dos outros e a aprender com os demais, especialmente com os mais velhos. No entanto, não nos tornamos seres sociais apenas pelo fato de nascermos humanos, mas é preciso que passemos por um processo denominado socialização. > O homem é naturalmente “humano”, ou seja, a sua condição humana é dada geneticamente, independente de fatores sociais. - Podemos dizer que socializar o indivíduo é: Adaptá-lo à vida em sociedade, ensinando-o os hábitos, os costumes, a linguagem, os modos de vida, as regras sociais, o que é permitido e o que é proibido, a disciplina corporal e os conteúdos científicos, históricos, culturais etc. - Berger e Berger resumem a socialização como: O meio pelo qual o indivíduo aprende a ser membro da sociedade. É importante ressaltar que o processo de socialização somente tem sucesso quando ocorre sem que os indivíduos sintam “o peso dela sobre si”. Ou seja, quando ocorre naturalmente, como algo que, para o indivíduo, aparece como normal. - Rocher define de forma mais específica esse processo: É o processo pelo qual ao longo da vida a pessoa humana aprende e interioriza os elementos socioculturais do seu meio, integrando-os na estrutura de sua personalidade sob a influência de experiências de agentes sociais significativos e adaptando-se assim ao ambiente social em que deve viver. - Agentes sociais significativos: São responsáveis por determinadas tarefas socializadoras de suma importância no processo de transformar-se em sersocial. - Socialização primária É o momento mais importante no processo de socialização na sociedade e se dão a partir do nascimento, no seio da família. É onde as crianças aprendem os valores básicos da vida social, inclusive a linguagem falada, e, às vezes, até a escrita. É na família que a criança aprende a conviver com outras pessoas, recebendo, dando e dividindo objetos, afetos, tempo, sentimentos, organizando-se em relação a si e aos demais, atendendo às suas necessidades e às dos outros em sua volta. - Socialização primária x Socialização secundária: Socialização primária é o processo genérico de transformação da criança em ser social. Socialização secundária é o processo de adaptação aos diversos meios sociais específicos, como é o caso a escola. - Outro processo de socialização é a escola: Responsável por socializar os conhecimentos construídos pela sociedade que abrangem um cabedal diverso e amplo o suficiente para que as crianças e adolescentes terminem esse período escolar munidos o bastante de ferramentas para viver conscientemente na sociedade, dominando seus fundamentos científicos, históricos, sociais, políticos, linguísticos, geográficos, artísticos etc. Na escola, a criança amplia os seus contatos com as pessoas, conhece outras crianças que vêm de famílias distintas e com os quais passa a conviver e trocar experiências e ideias, socializa-se por meio das brincadeiras etc. Ainda, aprende a se disciplinar para as exigências da sociedade, em especial, para as posteriores ao trabalho, como o fato de somente poder brincar nos horários específicos determinados pela escola, de estar na presença da figura do professor, ou de somente poder falar quando autorizado etc. Na escola, a socialização passa pela mediação da aquisição e formalização da linguagem escrita, a qual se constitui em um longo percurso que vai desde os primeiros passos, na alfabetização até o domínio da escrita, leitura e interpretação dos textos mais complexos, no final do processo de escolarização. Tal domínio é de fundamental importância para a socialização em uma sociedade de praticamente baseada na escrita. - A atuação do professor no processo de socialização: Pode ser substancial para formação da personalidade e do caráter dos futuros cidadãos, portanto, a profissão docente é uma daquelas cujos resultados não são necessariamente imediatos, mas sim prolongados pela vida toda dos indivíduos. Como foi assinalado por Rocher, o professor é um agente social significativo no processo de socialização das novas gerações. CAP 2 – TEMAS CONTEMPORÂNEOS DA RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E CULTURA 1.1
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