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1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 4 2 A IMPORTANCIA DAS RELAÇÕES HUMANAS ............................... 5 2.1 Relação intrapessoal ................................................................... 6 2.2 Relação interpessoal ................................................................... 8 3 LINGUAGEM E SOCIEDADE ............................................................ 9 4 CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIEDADE ............................................ 12 5 INDIVÍDUO, PESSOA E SUJEITO .................................................. 14 5.1 Homem equilibrado ................................................................... 15 5.2 Homem moderado ..................................................................... 15 5.3 Homem evoluído ....................................................................... 16 5.4 O Indivíduo do ponto de vista científico ..................................... 17 5.5 A Pessoa do ponto de vista científico ........................................ 18 5.6 O Sujeito do ponto de vista científico ........................................ 19 6 GRUPOS SOCIAIS .......................................................................... 20 6.1 Processo de formação dos grupos sociais ................................ 22 6.2 Características essenciais dos grupos sociais .......................... 24 6.3 A sociabilidade humana ............................................................ 25 6.4 Socialização Primária ................................................................ 26 6.5 Socialização Secundária ........................................................... 26 6.6 Grupos primários ....................................................................... 31 6.7 Grupos secundários .................................................................. 32 6.8 Grupos intermediários ............................................................... 32 7 OS GRUPOS SOCIAIS NA PERSPECTIVA DA ANTROPOLOGIA 32 7.1 O estudo do homem inteiro ....................................................... 34 2 7.2 A antropologia biológica ............................................................ 34 7.3 A antropologia pré-histórica ....................................................... 35 7.4 Antropologia linguística ............................................................. 35 7.5 A antropologia psicológica ......................................................... 35 7.6 A antropologia social e cultural (ou etnologia) ........................... 36 8 OS GRUPOS SOCIAIS NA PERSPECTIVA DA SOCIOLOGIA ...... 37 8.1 Capitalismo ................................................................................ 38 8.2 Neoliberalismo ........................................................................... 39 8.3 Globalização .............................................................................. 40 8.4 Pólis: uma herança greco-romana ............................................ 41 8.5 Representação social ................................................................ 44 9 OS GRUPOS SOCIAIS NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA ....... 49 9.1 A Psicologia Social .................................................................... 50 9.2 O processo grupal ..................................................................... 50 10 OS GRUPOS SOCIAIS NA PERSPECTIVA DO DIREITO ........... 51 10.1 O Direito carece de uma Teoria Geral ....................................... 52 10.2 A formação dos grupos sociais no Direito ................................. 53 10.3 Relações de afeto ..................................................................... 55 10.4 Relações de poder .................................................................... 58 11 AGREGADOS SOCIAIS ............................................................... 61 11.1 Multidão ..................................................................................... 62 11.2 Público ....................................................................................... 63 11.3 Massa ........................................................................................ 64 12 MECANISMOS DE SUSTENTAÇÃO ........................................... 64 12.1 Liderança ................................................................................... 66 12.2 Normas e sanções sociais ......................................................... 67 12.3 Símbolos ................................................................................... 68 3 12.4 Valores sociais .......................................................................... 69 12.5 Sistemas de status e papéis sociais .......................................... 70 13 OS GRUPOS SOCIAIS E OS PENSADORES CLÁSSICOS ........ 71 13.1 Auguste Comte .......................................................................... 72 13.2 Sartre ......................................................................................... 74 13.3 Émile Durkheim ......................................................................... 75 13.4 Karl Marx ................................................................................... 78 13.5 Max Weber ................................................................................ 79 14 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................... 80 15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................. 81 16 SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS ................................................. 84 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 A IMPORTANCIA DAS RELAÇÕES HUMANAS Fonte: jjabrasil.com.br Desde os primórdios da humanidade, o ser humano demonstrou a necessidade de conviver em sociedade, construindo assim, um meio facilitador de sua sobrevivência. Precisamente, a ciência do desenvolvimento, cerne de um conjunto de estudos interdisciplinares (área social, psicológica e biocomportamental), dedicou-se na busca dos fenômenos relacionados ao desenvolvimento dos indivíduos. No entanto, segundo concepções interacionistas e sociointeracionistas, a relação indivíduo/meio é indissociável; desse modo, a aprendizagem e o desenvolvimento dos indivíduos ocorrem por meio de trocas sociais. Consequentemente, os seres humanos são seres históricos: sofrem influência do meio e, numa perspectiva dialética, deixam sua marca por onde passam. Entretanto, praticar relações humanas, significa muito mais do que o estabelecimento ou a manutenção de contatos com outros indivíduos. Significa que os homens estejam condicionados em suas relações, por uma atitude, um estado de espírito ou uma maneira de ver as coisas, que os permita compreender seu interlocutor, respeitando sua personalidade, cujaestrutura é, sem dúvida, User Realce User Realce User Realce 6 diversa, em decorrência das diferenças de composição e estrutura de suas necessidades. Ao tratar do grupo social como fonte primordial deste material, serão trazidas à tona os contornos dessa interação humana, pretendendo elucidar a existência da sociedade e do indivíduo, que são dependentes, isto é, nem a sociedade nem o indivíduo existem sem o outro, coexistem ambos. Logo, para compreender mais profundamente os grupos sociais, procurou-se detalhar os seres humanos pela Antropologia, quer nas suas especificidades culturais, na sua relação com a natureza, quer nos seus aspectos físicos, isto é, a cultura, para o conhecimento antropológico, contempla dimensões como a linguagem, os valores, as crenças, os costumes e os rituais, entre outras tantas dimensões. De outro ângulo, têm-se a Sociologia, que nasceu como tentativa de buscar soluções racionais, cientificas, de acordo com a pretensão de Comte, para os problemas sociais resultantes da Revolução Industrial e de decomposição da ordem social aristocrática na França do início do século XIX. Ainda assim, estudiosos relatam que a partir dos gregos, têm-se o nascimento da Filosofia, uma forma inusitada de pensar. O termo “filosofia” possui, no cotidiano dos sujeitos, um sentido amplo, costumeiramente empregado como sinônimo de atividade reflexiva, de qualquer teorização ou pensamento, atribuindo-se a Pitágoras haver se autodenominado filósofo. Nessa situação, a preocupação em conhecer o homem, suas diversas formas de produzir e de sua organização social tem sido a ocupação e o interesse de muitas disciplinas e ciências. 2.1 Relação intrapessoal A relação intrapessoal, também conceituada como “inteligência intrapessoal” é o tipo de relação que o sujeito estabelece consigo mesmo e com os próprios sentimentos e aspirações. Sua premissa é baseada no autoconhecimento, no domínio próprio e a forma como o sujeito se motiva continuamente – e como tudo isso permeia sua vida pessoal e profissional. Estar bem consigo mesmo é o primeiro passo para estar bem com outras pessoas. Quanto mais a pessoa se conhece, maiores são as chances de conquistar seus objetivos – em todos os espectros de sua vida. E justamente a User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 7 prática do autoconhecimento colabora para que ela possa lidar com as mais diversas circunstâncias da melhor forma possível, tentando evitar frustrações, descontrole ou sentimentos ruins em seu cotidiano, na busca por melhores soluções em seu modo de organização individual. De acordo com o psicólogo Howard Gardner, o cérebro humano possui nove tipos de inteligência, podendo ter um ou mais tipos melhor desenvolvidos do que os outros. Diferentemente da inteligência interpessoal, a inteligência intrapessoal trata-se de uma característica que permite que a pessoa tenha domínio sobre seu comportamento e tome decisões favoráveis em sua vida. Estudos apontam que pessoas com inteligência intrapessoal têm facilidade em questões que dependem apenas delas mesmas, uma vez que possuem um autoconhecimento tão grande que sabem como administrar cada passo que dão, além de saberem reconhecer todas as suas principais características e usá-las para seu desenvolvimento pessoal. Além disso, esses indivíduos têm: Foco e concentração nas atividades desempenhadas; Facilidade de resolução de conflitos; Determinação e persistência para atingir os resultados desejados; Disciplina; Auto compreensão; Autoestima elevada; Independência para criar o próprio caminho; Maior capacidade de realização; Comportamento congruente com princípios e valores; Capacidade de despertar o melhor de si em todas as situações. Não obstante, saber gerir as próprias emoções e comportamentos torna- se um fator determinante para o sucesso profissional e pessoal do cidadão. Tal conquista pode parecer algo árduo para quem pensa não conseguir desenvolver esse tipo de inteligência, porém, o caminho para conquistar a inteligência intrapessoal está no autoconhecimento, pois esse tipo de inteligência é inerente em todos os seres humanos, porém, alguns a possuem com maior desenvolvimento e facilidade, enquanto outros precisam aprimorá-la com o tempo. User Realce User Realce 8 2.2 Relação interpessoal A relação interpessoal, denominada “inteligência interpessoal” é caracterizada por indivíduos que têm facilidade em entender pessoas a partir de suas motivações, intenções e ambições, no caso de líderes religiosos, professores e também políticos. Isso significa que na perspectiva das relações humanas, o sujeito se torna completo se estiver vivendo no seio de uma vida política, na organização da sociedade, isto é, numa evidência da magnitude do aspecto social, que é condição essencial para o desenvolvimento humano. Avançando no raciocínio das relações humanas, o social e a cultura no desenvolvimento retomam um contexto, no qual Piaget, Wallon e Vygotsky defendem a relevância do meio social para a espécie humana: Para Piaget, o conhecimento vem da construção efetiva e contínua, na relação indivíduo/meio ambiente (natureza, objetos e pessoas); Para Wallon, o ser humano é organicamente social e sua dimensão afetiva é o alvo; Para Vygotsky, a consciência humana se forma ao longo do desenvolvimento humano via mediações e linguagem. O relacionamento interpessoal é um conceito do âmbito da Sociologia e Psicologia, significando uma relação entre duas ou mais pessoas. Este tipo de relacionamento é marcado pelo contexto onde ele está inserido, podendo ser um contexto familiar, escolar, de trabalho ou de comunidade. Logo, a teoria que demonstra a parte da natureza social do ser humano possibilita que sejam criados vínculos entre os sujeitos. Como pessoa, há uma ampla gama de atividades mentais imanentes, por exemplo, refletir, pressupor, lembrar, saber ou desejar. Sem estes estados mentais e muitos outros seria impossível para um ser humano coordenar seu próprio universo com os outros, ou melhor, o ser humano é um ser complexo em riqueza, cheio de nuances, possuindo inteligência e intuição como um reflexo de sua vontade e força motora, e pode implicar num relacionamento interpessoal de vários níveis, até mesmo envolvendo diferentes sentimentos como o amor, compaixão, amizade, etc., também podendo ser marcado por características e situações como competência, transações comerciais, inimizade, etc., User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 9 determinado e alterado de acordo com um conflito interpessoal, que surge de uma divergência entre dois ou mais indivíduos. Em suma, essa conexão interpessoal, portanto, explica porque o ser humano tem a capacidade de compreender os estados de consciência de outros interlocutores em uma conversa, ou seja, o ser humano é consciente de si mesmo, pode refletir sobre seus valores, ações e crenças, mas também identificar naturalmente a diferença nos demais. 3 LINGUAGEM E SOCIEDADE Fonte: conceitos.com A tradição de relacionar linguagem e sociedade, ou, mais precisamente, língua, cultura e sociedade, está inscrita na reflexão de vários autores do século XX. Observa-se, assim, que de um lado, as relações entre linguagem e sociedade tinham raízes históricas: língua e sociedade não podem ser concebidas uma sem a outra. Nessa vertente, em que linguagem, cultura e sociedade são consideradas fenômenos inseparáveis, linguistas e antropólogos trabalham lado a lado e, mesmo, de modo integrado. A diversidade linguística e a comunicação, conquanto, são fundamentais para a sobrevivência humana, cujo relacionamento com diferentes públicos se dá num processo de interação, porque tem a capacidade de transmitir um modo de pensar, ser e sentir. Essencialmentepara conviver em grupos, os seres User Realce User Realce User Realce User Realce 10 humanos dependem exclusivamente da contínua presença do outro, isto é, seria dificultoso agir ou interagir cotidianamente na organização da vida social sem atravessar o contato com o outro. No que lhe concernem, as habilidades sociais auxiliam os sujeitos a expressar seus desejos, sentimentos e atitudes de forma adequada, seja no âmbito social, familiar e profissional, respeitando normas de comportamento em diversas situações. Integrados ou não à grande corrente estruturalista, a partir dos anos 1930, encontram-se linguistas cujas obras são referências obrigatórias, quando se trata de pensar a questão do social no campo dos estudos linguísticos. Não caberia, aqui, enumerar todos esses estudiosos, mas uma breve referência a alguns nomes, ligados ao contexto europeu: Antoine Meillet, Mikhail Bakhtin, Marcel Cohen, Émile Benveniste e Roman Jakobson. Meillet, aluno de Saussure, filia-se à orientação diacrônica dos estudos linguísticos, mas, para ele, a história das línguas é inseparável da história da cultura e da sociedade: é essa abordagem que pode ser vista em sua obra, sobre a história do latim, Esquisse d´une histoire de la langue latine. A propósito desse linguista francês, cabe destacar sua visão do fenômeno linguístico, bem ilustrada por um trecho de sua aula inaugural no Cólege de France: Ora, q linguagem é, eminentemente, um fato social. Tem-se, frequentemente, repetido que as línguas não existem fora dos sujeitos que as falam, e, em consequência disto, não há razões para lhes atribuir uma existência autônoma, um ser particular. Esta é uma constatação óbvia, mas sem força, como a maior parte das proposições evidentes. Pois, se a realidade de uma língua não é algo de substancial, isto não significa que não seja real. Esta realidade é, ao mesmo tempo, linguística e social (MEILLET, 1906 apud MUSSALIM, 2001, p.24). De uma perspectiva, diferente, outro linguista explicita sua visão sobre a relação entre linguagem e contexto social: A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas, nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua. (BAKHTIN, 1929 apud MUSSALIM, 2001, p. 25) Por seu turno, todo indivíduo participa de diferentes comunidades linguísticas e todo código linguístico é multiforme e compreende uma hierarquia User Realce 11 de subcódigos diversos, livremente escolhidos pelo sujeito falante, segundo a função da mensagem, do interlocutor ao qual se dirige e da relação existente entre os falantes envolvidos na situação comunicativa. Entretanto, fato curioso na apresentação do homem enquanto ser social, é que apesar de as relações humanas e o ato de comunicação terem existido desde a origem da vida, a preocupação científica com essas relações, especialmente no ambiente de trabalho, é relativamente nova: nos Estados Unidos, até 1940, a expressão "relações humanas no trabalho" era muito pouco usada e em 1945, ao findar a Segunda Grande Guerra, a mesma era praticamente ignorada. Por essa razão, atualmente as relações interpessoais são uma realidade inevitável para todos aqueles que trabalham em organizações, posto que, muitas vezes tenham sido estudadas de uma perspectiva negativa, de outro ângulo, os relacionamentos podem facilitar um cumprimento da “necessidade de pertencer”, melhor dizendo, permite integração e afinidade entre colaboradores, auxiliando na execução e sucesso de seus projetos. Se houvesse possibilidade, fazendo voltar os ponteiros do relógio no tempo, para observar o desenrolar dos acontecimentos no início da Revolução Industrial, ver-se-ia que, então, os seres humanos eram incluídos no processo de produção apenas como mais um recurso produtivo, ao lado das matérias- primas e das máquinas, sem qualquer consideração especial. Em outras palavras, o homem nada mais era do que uma máquina que operava outra máquina, ou seja, à medida que as organizações industriais se desenvolviam mais se perdia a possibilidade de contato pessoal direto entre o trabalhador e seu empregador. Naquele momento, a ênfase, era colocada sobre a produção, com um consequente desinteresse pela sorte do trabalhador. Este, então, era obrigado a trabalhar longas horas, em condições desfavoráveis e sob padrões de supervisão tão rígidos que quase não podia manter contato informal com seus colegas e, na maioria dos casos, esse contato humano ocorria fora do ambiente de trabalho, porém, ainda assim, limitado pelas longas horas de atividade na fábrica. Nesse sentido, as interações humanas não podem ser compreendidas como um artifício de manipulação ou maneira de tomar todos felizes. De acordo com tal analogia, pode-se dizer, então, que a comunicação e as relações humanas agem como um “lubrificante”, evitando atritos e tomando o User Realce User Realce User Realce 12 funcionamento da sociedade mais suave. Mas, assim como uma máquina não funciona apenas com uma boa lubrificação, as esferas sociais necessitam de muitas coisas, além de relações humanas. Assim sendo e refletindo no indivíduo como um todo, pretende-se encontrar nas Ciências Humanas uma ampla compreensão dos fenômenos humanos e sociais, observando as trocas que envolvem aspectos cognitivos e socioafetivos fundamentais para a construção individual dos sujeitos e das sociedades, através de um processo recíproco. 4 CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIEDADE Fonte: portaldoprofessor.mec.gov.br Em conformidade com o projeto da modernidade, o indivíduo e a sociedade têm sido definidos como entidades naturais e polos que preexistem à sua interação. Ainda de acordo com tal perspectiva, onde prevalece uma lógica dicotômica, o coletivo é identificado como social. O conceito de coletivo tem sido frequentemente utilizado, seja no âmbito da Psicologia, seja no âmbito da Sociologia, para designar uma dimensão da realidade que se opõe a uma dimensão individual. Assimilado desta maneira, o coletivo se confunde com o social, sendo representado através de categorias como Estado, Família, Igreja, Comunidades, Povo, Nação, Massa ou Classe e investigado no que diz respeito à dinâmica de interações individuais ou grupais. Todavia, este modo de apreensão do User Realce User Realce User Realce User Realce 13 coletivo/social deriva de uma abordagem dicotômica da realidade característica das ciências modernas, cujo efeito, dentre os mais visíveis, é a separação dos objetos e dos saberes. Conforme se pensava, o homem não “veio do macaco”: esse é um equívoco criado em torno de uma ideia que não era do naturalista inglês Charles Darwin. Na verdade, o que ele disse é que havia indícios de que homens e macacos tinham um ancestral comum que evoluiu com o tempo e se desdobrou em vários ramos diferentes, sabendo-se que o ser humano é considerado o único espécime dotado de características que se diferenciam do restante dos animais. O denominado “gênero Homo”, nos remotos tempos do frio das cavernas, no uso de seus instintos de sobrevivência, juntava-se a outros para se aquecer, caçar, se proteger e, desta forma, a sociedade nascia de forma rudimentar e ainda em evolução. De modo igual, quando se resgata historicamente o tempo, o homem pode repensar sua vida e transformá-la à medida em que é sujeito do processo de construção da própria história e também do tempo. “Ego sum, ego existo”, escrevia Descartes pondo em relevo este Ego que permanecerá o fundamento de toda filosofia racionalista ou empirista, através das mônadas de Leibniz, a sensação dos empiristas, o eu de Fichte e até mesmo os atributos radicalmenteseparados uns dos outros de Espinosa; fundamento presente ainda em nossos dias, quando lemos numa gramática ginasiana, como se fosse óbvia, a afirmação: “Eu, não tem plural. Nós é eu e tu”. Nessa perspectiva, sendo o Ego o primeiro dado fundamental, o ponto de partida, o problema das relações entre os homens, quando se põe, torna-se naturalmente o problema do “Outro”. Os “outros” homens são assimilados à realidade física e sensível. Não são mais do que seres que vejo e ouço, como vejo uma pedra que cai e ouço sua queda. O problema dos fundamentos ontológicos e epistemológicos da história é um aspecto particular do problema ontológico geral das relações do homem com seus semelhantes, problema que certos filósofos contemporâneos, partindo duma posição cartesiana, designaram pelo nome de problema do “Outro”, que seria, contudo, designado de modo mais preciso como o problema do “Nós”. User Realce 14 5 INDIVÍDUO, PESSOA E SUJEITO Fonte: ufes.br Ao longo do tempo, observou-se a relação da pluralidade de pessoas com a pessoa singular chamada “indivíduo”, bem como da pessoa singular com a pluralidade. Em tal caso, viver democraticamente em uma sociedade plural é respeitar os diferentes grupos e culturas que a constituem. Para Norbert Elias, as atividades sociais e psíquicas particulares dos indivíduos estão entrelaçadas e estão em processo de (re) estruturação sem fim à vista e sem planejamento num longo prazo, ou melhor, o homem é histórico, não está acabado e permanentemente está em construção pelas suas experiências grupais, sociais e psíquicas particulares. Isto posto, nos processos de construção dos grupos sociais, Coury sistematiza três qualitativos comuns aplicados ao homem moderno. Para cada um a economia psíquica constitui, em concomitância, a síntese sociológica e a explicação histórica, rompendo com o psicologismo que enviesa a análise com a possibilidade individualista/instintiva e coletivista do ser conhecedor. São eles: ‘O homem equilibrado’, ‘O homem moderado’ e ‘O homem evoluído’, conforme segue: 15 5.1 Homem equilibrado O homem equilibrado é aquele que interioriza os conhecimentos sociais e produz o equilíbrio mental enquanto as próprias relações mudam e a sociedade se diferencia e, assim, permite o julgamento de suas pulsões dentro dos mecanismos criados socialmente de aferição da normalidade psíquica — comportamento, hábitos e costumes ditos ‘civilizados’. O equilíbrio psíquico é o centro das inter-relações entre estrutura social e a estrutura mental. Para isto, Norbert Elias destaca que é necessário articular o processo histórico da estrutura social com o da estrutura mental e também observar o equilíbrio psíquico entre as exigências da organização social que os indivíduos juntos constituem e as exigências desses mesmos indivíduos tomados em seu universo privado, porque vivemos numa sociedade complexa, que ao longo dos séculos vem desenvolvendo um processo de individualização da estrutura social como evidencia Elias em “O processo civilizador: uma história dos costumes” e “formação do estado e civilização”. 5.2 Homem moderado O homem moderado compreende-se a economia psíquica no processo de moderação, pois com o aumento da cadeia de interdependência foi se estabelecendo uma maior racionalidade individual (o homem ‘civilizado’), na qual os indivíduos controlam, restringem e moderam seus comportamentos e emoções perante qualquer pessoa. Com efeito, esse indivíduo constrói sua identidade pela representação que faz de si mesmo e por aquelas que lhe remetem — perceptíveis na arte de observar seus semelhantes. Essa dimensão do homem moderado está conectada ao processo de diferenciação/individualização em razão da necessidade de um equilíbrio entre estrutura mental e social para estabelecer relações sociais e desenvolver autocontrole. Coury destaca que, nessa dimensão, a “economia psíquica reside principalmente no fato de que ela permite situar no tempo e no espaço as conjunturas nas quais certas transformações do estado de uma estrutura social se encadearam para resultar numa nova configuração”. Dessa maneira, 16 percebe-se tanto onde e em que espelhos as pessoas notam o olhar dos outros, qual o momento dessa percepção e de suas moderações, podendo até identificar características da pessoa relacionada a algum grupo social. 5.3 Homem evoluído Por último, a economia psíquica do homem evoluído se refere ao processo de evolução que caracteriza a identidade constante de uma pessoa num movimento linear cronológico: Um novo indivíduo aparece, esse ecônomo doravante dotado de uma arte de bem conduzir sua vida. Desse processo decorre nossa capacidade de abarcar a vida de um homem como um todo e de julgá- lo de uma só vez. A economia psíquica do homem civilizado permite essa ‘boa condução’ no tempo, essa boa administração ao longo de sua vida, em seus deslocamentos e em todas as suas relações. O surgimento dessa capacidade nova permite não só encontrar as lógicas que condicionam esse ou aquele comportamento, mas também descobrir as categorias de percepção dos comportamentos observados nos outros (COURY, 2001 apud HONORATO, 2004, p.4). Este processo não descarta os inúmeros avanços e retrocessos da vida dos indivíduos/grupos. Ele valoriza o não planejamento e é provocativo ao impor a problemática do tempo de permanência das identidades sociais: “como, onde e quando a pessoa nota seus semelhantes e se liga duradouramente a eles? ”. Ou seja, qual relação entre o passado e o futuro dos indivíduos e dos grupos sociais? Neste terceiro qualitativo emerge um paradoxo na sociologia do conhecimento: a relativa autonomia do indivíduo caminha junto com a pertinência ao grupo social, bem como ao conhecimento conquistado, e o lugar preponderante assumido pelo ‘eu’ em nossas sociedades não afastou o desejo de estar com outras pessoas que amamos. Na sequência, tendo em vista a atenção de Norbert Elias com a arte de observar, a arte de inovar e com a arte de manejar seus ‘semelhantes’, Coury propõe um instrumento de análise complementar denominado a arte de reagrupar-se. A arte de reagrupar-se permite a percepção — dos e entre indivíduos — dos mesmos interesses para formar juntos num espaço social, grupos até então imperceptíveis e distintos em relação aos indivíduos/grupos nos quais pensam poder estabelecer vínculo social. Ela se desenvolve mediante a produção, 17 difusão e apropriação de formas de agrupamento disponível numa estrutura social. “Essa arte pode decompor-se analiticamente da seguinte forma: a arte da colocação dos indivíduos em presença, as competências dos diferentes porta- vozes e dos representantes, as categorias estéticas de avaliação dos grupos assim objetivados, as repercussões das representações exógenas sobre os produtores”. Coury apresenta dois objetivos para a arte do reagrupamento. O primeiro, desfamiliarizar os pesquisadores com as práticas e formas coletivistas. Trata-se então de analisar o entrelaçamento entre estrutura social e estrutura psíquica. O segundo, resume-se na explicação do acúmulo de competências (política - em sua investigação) e suas desigualdades de apropriação pelos indivíduos. Enfim, o esforço de Coury tanto em sistematizar os três qualitativos comuns aplicáveis ao homem moderno como também em propor a arte de reagrupar-se, tem suas relevâncias e um ponto vulnerável. As relevâncias, de uma certa maneira, foram explicitadas. O ponto vulnerável refere-se quando Coury ancora-se essencialmente nos estudos de Norbert Elias sobre a relação, sociedade e indivíduo, para sistematizar os qualitativos e propor uma relação indivíduo e construção dos grupos sociais. 5.4 O Indivíduo do ponto de vista científico Ao estudar os fenômenos da sociedade, tais como: migração, conflitos sociais e movimentos políticos,as Ciências Sociais apontam para uma interpretação do comportamento humano e suas estruturas sociais, análise dos hábitos e costumes de diversos grupos sociais, bem como suas características religiosas, familiares, organização institucional e também econômica. Cientistas, portanto, denominam um “indivíduo” como todo o organismo vivo que pertence a uma espécie, distinguindo-se dos demais devido as suas características particulares, consistindo num ser individual, conhecido pela sua existência única e indivisível. Este termo, ainda costuma ser utilizado como sinônimo de “cidadão”, ou seja, um “ser humano” inserido num ambiente social. Já para a Sociologia e Filosofia, o indivíduo – como sinônimo de ser humano / cidadão – é aquele que possui uma identidade própria que o distingue dos demais indivíduos, isto é, enfim, os seres “são”; temos a experiência de “ter” (ou 18 ser) um “eu”; somos porque pensam (Descartes diria: penso, logo sou!). Para falar dessa experiência singular de processos de subjetivação, adota-se o termo inglês self (ou selves, no plural), traduzido como “eu”, quando se refere à consciência de si e à identidade. Ou seja, não temos problemas semânticos quando se trata de falar de nossas experiências de sermos “quem somos”. Nada obstante, os sujeitos possuem certa dificuldade de nomear esse “ser” quando teorizam a respeito da vida em sociedade e, nesse âmbito, nem sempre tomam alguns cuidados no uso dessas categorias. Por exemplo, incorporando o gênero de fala próprio aos manuais de metodologia, fala-se de sujeitos, quando há referência aos “participantes” de pesquisas. Por suas conotações “ideológicas”, procuram evitar o uso da palavra “indivíduo”, mas a deixam escapar em seus múltiplos sentidos: individualmente, para se referir a cada um de um grupo e “individualismo” para se reportar a modos de vida pouco solidários. E pessoa? 5.5 A Pessoa do ponto de vista científico No caso da Psicologia Social, não seria este mais um termo a ser considerado dentre as muitas possibilidades de se falar de quem se é e de quem são os outros que compartilham, por querer ou sem querer, de suas vidas? A multiplicidade normativa distingue-se pelo tipo de finalidade, pelo escopo perseguido pela regra em questão, no entanto, tanto a imponente regra jurídica como a regra de conduta de trato social têm em comum o fato de se constituírem como meio de influenciar comportamentos. Nesta abordagem, os usos do termo “pessoa” no contexto da Antropologia tomam por base o texto de Marcel Mauss (2003), na discussão de algumas dicotomias que, às vezes inadvertidamente, atravessam muitos discursos. Em sequência, aborda-se a opção de George Herbert Mead (1969) pelo termo self, de modo a destacar os esforços desse protopsicólogo social para situar a consciência de si em uma perspectiva que alia processos comunicativos (a Filosofia do Ato) e suportes sociais e biológicos sustentados pelo evolucionismo. 19 5.6 O Sujeito do ponto de vista científico Abandonando temporariamente as vertentes de pessoalidade, passaremos à emergência da categoria moderna de indivíduo, fundamentando- nos nas discussões apresentadas por Nikolas Rose (1998; 2001) a respeito das contribuições da Psicologia aos processos de individualização. Apoiada em Michel Foucault (2005), essa discussão permite passar ao nosso próximo tema, a categoria “sujeito” na interface entre processos de objetivação e subjetivação. O paradoxo que assim se instala será abordado por meio do que consideramos ser uma perspectiva integradora: os múltiplos selves propostos por Rom Harré (1998). Não pretendemos chegar a uma conclusão sobre qual conceito padrão deveríamos adotar para nos referirmos a esse ser que somos no âmbito da Psicologia Social que se quer crítica. Mas esperamos poder suscitar o desafio de, pelo menos, entender as implicações históricas, sociais, políticas, existenciais, éticas, dentre muitas outras, da escolha dos termos que usamos para falar do ser que somos, a fim de não cairmos na armadilha da transformação de nossas produções sociais em “entidades”. Afinal, como aponta Harré (1998, p.5), “Criamos uma maneira de falar sobre elas por meio de substantivos, justamente a forma gramatical que a fala sobre entidades usa”. A sociedade é entendida, quer como mera acumulação, coletânea somatória e desestruturada de muitas pessoas individuais, quer como objeto que existe para além dos indivíduos e não é passível de maior explicação. Neste último caso, as palavras de que dispomos, os conceitos que influenciam decisivamente o pensamento e os atos das pessoas que crescem na esfera delas, fazem com que o ser humano singular, rotulado de indivíduo, e a pluralidade das pessoas, concebida como sociedade, pareçam ser duas entidades ontologicamente diferentes. Como sabemos, a sociedade somos todos nós; é uma porção de pessoas juntas. Mas uma porção de pessoas juntas na Índia e na China formam um tipo de sociedade diferente da encontrada na América ou na Grã-Bretanha; a sociedade composta por muitas pessoas individuais na Europa do século XII era diferente da encontrada nos séculos XVI ou XX. E, embora todas essas sociedades certamente tenham consistido e consistam em nada além de muitos 20 indivíduos, é claro que a mudança de uma forma de vida em comum para outra não foi planejada por nenhum desses indivíduos. 6 GRUPOS SOCIAIS Fonte: exame.abril.com.br Partindo da inexorável relação do homem com o mundo no qual está inserido é que se formam os grupos sociais e por essa razão, tais grupos fazem parte da anatomia das sociedades, podendo ser encontrados em todos os lugares e tempos, como meios de atuação comum, no qual, o fenômeno da multiplicidade grupal constitui o pluralismo, configurado pela existência de vários grupos político-sociais (famílias, associações, sindicatos, cooperativas, partidos, clubes de pensamento, sociedades científicas, culturais, desportivas, etc.) entre o indivíduo e o Estado. A Sociologia visa às questões que envolvem as relações existentes entre os indivíduos na vida coletiva; esforçando-se para apreender as diferentes realidades das mais variadas culturas e como se formam as relações que existem no seu interior. O que os homens procuram na história são as transformações do sujeito da ação no relacionamento dialético homem-mundo e as transformações da sociedade humana. Entretanto, os conhecimentos sociológicos, são indispensáveis na discussão da pluralidade cultural, pelas possibilidades que abrem de compreensão de processos complexos, onde se 21 dão interações entre fenômenos de diferentes naturezas. Neste contexto, os grupos sociais são diferenciados, principalmente pela cultura em que vivem, havendo diversas culturas ao invés de uma só e sua serventia está na manutenção da própria sociedade, isto é, seus modos e padrões de vida são amostras de como está a sociedade, como ela funciona e como está sua estrutura naquele momento. Na ausência dessa atitude, o que resulta é um clima de ressentimento, resistência, incompreensão, falta de colaboração e iniciativa, enfim, uma atmosfera que não conduz a um aproveitamento positivo na relação que se estabelece. Se, por outro lado, se manifesta a prática de “relações humanas”, então é possível afirmar, sem medo de errar, que o contato humano estabelecido tenderá para um resultado positivo, eliminando, "a priori", a possibilidade de conflito básico entre as partes, dando a cada uma delas um crédito preliminar que facilitará o desenvolvimento da relação. O sociólogo alemão Norbert Elias em “A sociedade dos indivíduos”, diz que os indivíduos são condicionados socialmente ao mesmo tempo pelas suas autoimagens e por aquelas que lhes são atribuídas pelos outros com quem se relacionam. Quando se resgata historicamente o tempo, o homem poderepensar sua vida e transformá-la à medida que é sujeito do processo de construção da própria história e também do tempo. Pelo fato de não nascermos com um sentido temporal pronto, organizações temporais têm que ser aprendidas juntamente com outros aspectos culturais, conforme explica Elias: "No nosso tipo de sociedade, a vida do homem se mede com exata pontualidade. Uma escala social temporal que mede a idade (tenho doze anos, você tem dez), o indivíduo a aprende e a integra, como elemento social, na imagem de si mesmo e dos demais. Esta subordinação de medidas temporais não somente serve como comunicação sobre quantidades distintas, se não que alcança seu pleno sentido como abreviação simbólica comunicável de diferenças e transformações humanas conhecidas no biológico, psicológico e social” (ELIAS, 1989, apud MARTINS, 2000, p. 80). Em termos simples, a Sociologia é a ciência que se debruça sobre a própria sociedade e todas as suas ramificações, componentes e integrantes; dedicando-se a compreender as formas de interação que as pessoas têm umas 22 com as outras, suas organizações e os fenômenos sociais observados na realidade dos indivíduos. Os conhecimentos sociológicos permitem uma discussão acurada de como as diferenças étnicas, culturais e regionais não podem ser reduzidas à dimensão socioeconômica de classes sociais. As diversas contribuições da Sociologia evidenciam que nos grupos sociais existem normas, hábitos, costumes próprios, divisão de funções e posições sociais definidas, em que os indivíduos, dos primeiros momentos da História aos dias de hoje estabeleceram relações entre si que fazem parte de suas rotinas cotidianas. O olhar sociológico traz-nos sempre uma nova perspectiva sobre situações que aparentemente são de natureza individual, mas que acabam por atingir uma gama muito maior de nossa realidade coletiva. Pode-se tomar como exemplo a situação econômica dos indivíduos, que, embora possa ser uma abordagem bastante particular, pode também ser observada por uma perspectiva mais abrangente, quando se volta para a análise da situação econômica de todo um país. Isso significa abordar toda a cadeia social, as formas como a realidade econômica é afetada e as possíveis consequências desse fenômeno, como o acentuamento da desigualdade social e, possivelmente, o agravamento de outros problemas, como a violência, a fome e a precarização da educação. 6.1 Processo de formação dos grupos sociais Segundo o dicionário Aurélio, o vocábulo “grupo” traduz-se em um conjunto de pessoas ou de objetos reunidos num mesmo lugar ou ainda um conjunto de pessoas que apresentam o mesmo comportamento e a mesma atitude, e com um objetivo comum que condiciona a coesão de seus membros: um grupo político; um grupo de trabalho, etc., melhor dizendo, a sociedade não é mero agregado de seres humanos; constitui-se, em verdade, de um complexo labirinto de grupos e relações sociais. Vários autores trabalharam com as perspectivas de grupo, evidenciando que o ser humano é um ser social e sociável, um ser de relações, estando constantemente nos relacionando com outras pessoas, isto é, a vida humana passa pela vida em grupo. Logo, em seu nascimento, o ser humano se depara 23 com seu primeiro grupo: a família, em seguida vem o grupo escolar, o grupo de amigos, de trabalho e muitos outros e cada um deles possui suas regras, suas adesões. Através da interação estabelecida entre as pessoas e o sentimento de identidade existente, é que o indivíduo que pretende aderir a determinado grupo deve aceitar e cumprir suas regras; em outras palavras, os grupos mantêm uma organização, sendo capazes de ações conjuntas para alcançar objetivos comuns a todos os seus membros. De fato, o que se propõe é uma análise do indivíduo e sociedade de maneira interdependente entrelaçando estrutura social e estrutura psíquica (autocontrole), possivelmente transferível para compreensão da construção dos grupos sociais. Porém, o próprio Elias reconhece que não conseguiu resolver epistemologicamente o problema indivíduo-sociedade. O que nos falta, sejamos explícitos, são modelos conceituais e, além deles, uma visão global graças à qual nossas ideias dos seres humanos como indivíduos e como sociedade possam harmonizar-se melhor. Não sabemos, ao que parece, deixar claro nós mesmos como é possível que cada pessoa isolada seja uma coisa única, diferente de todas as demais; um ser que, de certa maneira, sente, vivencia e faz o que não é feito por nenhuma outra pessoa; um ser autônomo e, ao mesmo tempo, um ser que existe para outros e entre outros, com os quais compõe sociedades de estrutura cambiáveis, com histórias não pretendidas ou promovidas por qualquer das pessoas que as constituem, tal como efetivamente se desdobram ao longo dos séculos, e sem as quais o indivíduo não poderia sobreviver quando criança, nem aprender a falar, pensar, amar ou comportar-se como um ser humano. Com efeito, de modo sistemático e coerente, dentro de um grupo social, os indivíduos que o integram, desenvolvem uma relação estável, os quais compartilham histórias, objetivos, interesses, valores, princípios, símbolos, tradições e, sobretudo, leis e normas que asseguram as relações interpessoais e o desempenho de determinados papéis entre os sujeitos sociais, mantendo regras de convivência preferencialmente imutáveis, para a garantia de sua continuidade, porém, sem esquecer que a sociedade se transforma. À vista disso, num significado mais amplo, é possível dizer que, onde quer que se estabeleçam e/ou se mantenham contatos entre pessoas, poderá 24 ou não estar presente aquela atitude que se denomina "relações humanas", fazendo alusão a um posicionamento do psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky: “nos tornamos nós mesmos através dos outros” ou ainda “eu sou uma relação social de mim comigo mesmo”. 6.2 Características essenciais dos grupos sociais Nos grupos, há duas ou mais pessoas, entre as quais existe interação, isto é, reconhecem-se relações a serem consideradas conjuntamente. A associação possui uma identidade objetiva, própria, distinta dos seus membros, cônscios, por sua vez, dessa circunstância. A individualidade objetiva do grupo manifesta-se pelos caracteres a seguir relacionados: a) Presença específica do todo, ao lado das personalidades particulares dos seus componentes; b) Percepção da unidade com base em quatro elementos: b.1) Consciência da unidade grupal por parte de cada um dos seus membros e da distinção do agregado frente a outros; b.2) Unidade coordenada ou coincidente de conduta dos seus membros, em vista de fins próprios do grupo; b.3) Uma estrutura de papéis e “status” reciprocamente relacionados no seu interior, embora inexistente nos chamados grupos amorfos (por exemplo, as classes sociais); b.4) Sentimento de responsabilidade solidária, por parte dos indivíduos nele inseridos; c) Autonomia do todo frente aos seus componentes, no que se relaciona com modificações em sua estrutura, e à sua duração, desvinculada, em geral, da permanência dos integrantes; d) Formas de conduta objetiva – usos, convenções ou normas – impostas aos respectivos membros. As noções de interação, representação, identidade, intersubjetividade, razão dialógica, movimentos e racionalidade comunicativa complementam outras peculiaridades relativas aos grupos sociais, tais como: Pluralidade de indivíduos: precisa haver mais de uma pessoa; 25 Interação social: os membros do grupo interagem entre si; Organização: precisa haver uma certa ordem no grupo; Objetividade e exterioridade: o grupo está acima do indivíduo; Exterioridade: significa que a existência de um indivíduo não depende de sua participação no grupo; Objetivo comum: há certos valores, princípios e objetivos que unem os membros do grupo; Consciênciagrupal: pensamentos, ideias e sentimentos são compartilhados pelos membros do grupo; Continuidade: as interações entre os membros do grupo precisam ser duradouras, como ocorre em famílias, numa escola, numa instituição religiosa etc. 6.3 A sociabilidade humana O objeto das ciências históricas é constituído pelas ações humanas de todos os lugares e de todos os tempos, na medida em que tiveram ou ainda têm importância ou influência na existência e na estrutura de um grupo humano e, implicitamente por meio deles, uma importância ou uma influência na existência e na estrutura da comunidade humana presente ou futura. A socialização (efeito de ser tornar social) está relacionada com a assimilação de hábitos culturais, bem como ao aprendizado social dos sujeitos, isso porque é por meio dela que os indivíduos aprendem e interiorizam as regras e valores de determinada sociedade. Socializar é fundamental para a construção das sociedades em diversos espaços. Por meio desse processo, os indivíduos interagem e se integram por meio da comunicação, ao mesmo tempo em que constroem a sociedade, contudo, os processos de socialização da antiguidade e da atualidade são bem distintos, o que decorre da evolução dos meios de comunicação e do avanço tecnológico e podem estar classificados em dois tipos: 26 6.4 Socialização Primária Como o próprio nome já indica, esse tipo de socialização ocorre na infância e se desenvolve no meio familiar. Aqui, a criança tem contato com a linguagem e vai compreendendo as relações sociais primárias e os seres sociais que a compõem. Além disso, é nesse estágio em que são interiorizados normas e valores. A família, entretanto, torna-se a instituição social mais fundamental desse momento. 6.5 Socialização Secundária O indivíduo já socializado primariamente vai interagindo e adquirindo papéis sociais determinados pelas relações sociais desenvolvidas, bem como a sociedade em que está inserido. Se por acaso o sujeito social teve uma socialização primária afetada, isso poderá gerar diversos problemas na sua vida social, uma vez que o primeiro momento de socialização é essencial na construção do caráter do indivíduo. Nessa situação, as primeiras teorias sociológicas surgiram em meados do século XIX, na Europa, voltadas para o problema das relações dos indivíduos entre si e com a sociedade; esse problema tornou-se o foco central dos primeiros estudos realizados. Com a eclosão dos conflitos e das transformações provocadas pelas revoluções sociais, surge o positivismo que se caracterizou como uma nova forma de pensar, cujo foco era organizar e reestruturar a sociedade buscando manter a nova ordem capitalista. O precursor moderno da Sociologia, Saint-Simon, viveu no momento em que eclodiu a Revolução Francesa as transformações políticas que aconteceram com o fim do feudalismo e a ascensão da burguesia; com isso o surgimento de um sistema, denominado sistema industrial, determinou fim definitivo ao antigo regime feudal. O sistema industrial era fundamentado no esclarecimento motivado pela razão científica e de acordo com Saint-Simon a sociedade industrial transformaria a natureza de forma ordeira e pacifica, de modo que os resultados obtidos pudessem assegurar a todos os seus membros a total satisfação de suas necessidades materiais e espirituais. 27 O segundo estado foi definido como metafísico, seria o ela intermediário entre os três estados, onde a explicação da sociedade não passaria apenas pela fundamentação na iniciativa divina: Deus não seria mais o regente absoluto da vida social, e sim uma essência onipresente a ela. E o terceiro estado seria o positivismo e encontraria sua expressão na sociedade capitalista moderna, onde o homem partia de uma concepção antropocêntrica e se colocaria na condição de regente da vida social. Dessa forma, o espírito positivo forneceria os preceitos fundamentais para a concepção de uma unidade para a nova ordem assentada definitivamente na razão. O conjunto de crenças e sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade forma um sistema determinado, que tem sua vida própria; pode-se chamá-lo de consciência coletiva ou comum. Sem dúvida, ela não tem por substrato um órgão único; ela está, por definição, difusa em toda extensão da sociedade. [...]. Com efeito, ela é independente das condições particulares onde os indivíduos se encontram; eles passam e ela continua. [...]. Ela é o tipo psíquico da sociedade, tipo que tem suas propriedades, suas condições de existência, seu modo de desenvolvimento, assim como os tipos individuais ainda que de outra maneira. [...]. As funções jurídicas, governamentais, científicas, industriais, em uma palavra, todas as funções especiais são de ordem psíquica, uma vez que elas consistem em sistemas de representações e de ações: contudo elas estão evidentemente fora da consciência comum. (DURKHEIM, 1893, apud OLIVEIRA, 2012, p. 72). O processo de socialização é desencadeado por meio da complexa rede de relações sociais estabelecidas entre os indivíduos durante a vida. Assim, desde criança os seres humanos vão se socializando mediante as normas, valores e hábitos dos grupos sociais que o envolvem. Observa-se que nesse processo, todos os sujeitos sociais sofrem influências comportamentais. Importante notar que existem diferentes processos de socialização de acordo com a sociedade em que estamos inseridos. Para o sociólogo brasileiro Gilberto Freire, a socialização pode ser definida da seguinte maneira: “É a condição do indivíduo (biológico) desenvolvido, dentro da organização social e da cultura, em pessoa ou homem 28 social, pela aquisição de status ou situação, desenvolvidos como membro de um grupo ou de vários grupos”. Qualquer que seja a classe social e a realidade, os processos de socialização são muito diversos; tanto podem ocorrer entre pessoas que vivem numa favela como entre os burgueses que habitam a zona sul de São Paulo, por exemplo, isto é, seja qual for a cor, a etnia, a classe social, todos os seres humanos desde cedo estão em constante processo de socialização, seja na escola, na igreja, na faculdade ou no trabalho. Alguns fatores podem afetar esse processo, tal como um local marcado por guerras. As consequências dos processos de socialização geralmente são positivas e resultam na evolução da sociedade e dos indivíduos. Por outro lado, as pessoas que não se socializam podem apresentar muitos problemas psicológicos, determinados, por exemplo, pelo isolamento social: O ser humano, na sua vivência em sociedade vê-se envolto numa teia de procedimentos aos quais está adstrito, sejam estes de cariz moral, social, religioso ou jurídico (BOBBIO,1960 apud LOURINHO,2011,p.3). Conforme estudos de Darwin em “A Teoria da Evolução”, que mostra como as espécies se desenvolvem, a base da Teoria, evidencia a seleção natural das espécies, explicando como estruturas simples se tornaram seres complexos ao longo de milhões de anos, enfrentando os desafios da sobrevivência. Contudo, qualquer sociedade está permeada por uma normatividade implícita que varia de época para época, de sociedade para sociedade, no qual, a análise histórica perfaz esse conhecimento. Ao ofertar uma resposta à interligação que é feita em volta de todo esse poder da norma, essa força vinculante que obriga, com mais ou menos coercitividade, seja este apanágio do Estado enquanto regente da civilização ou do meio religioso, moral ou do mero trato social que vincula, muito embora de forma distinta, um amplo debate se forma ao redor da filosofia, da religião e da ciência, que entram em cena para construir diferentes concepções sobre a existência da vida humana, há o entendimento de que sem sociedade não existe o indivíduo e sem o indivíduo não existe sociedade. Sendo assim, o fenômeno da “socialização”,tradicionalmente definido como “aprender a conviver com as pessoas”, nunca mereceu o status teórico 29 que tem sido atribuído a temas como cognição, memória e linguagem, no âmbito da perspectiva histórico-cultural. Pesquisas sobre o desenvolvimento das funções mentais superiores (memória, linguagem, etc.) têm recebido atenção privilegiada desde Vygotsky, e isto certamente se justifica quando se analisa a questão sob uma perspectiva histórico-cultural do desenvolvimento da própria abordagem. ...o conceito de “socialização” manteve-se por muito tempo restrito à aprendizagem da convivência social, e a maciça maioria de estudos sobre o tema ainda hoje se dá com base em perspectivas tradicionais, como a aprendizagem social e o construtivismo piagetiano (COLE, 2004 apud BRANCO, 2006, p.141). Por este ângulo, são três aspectos centrais a serem observados nos processos de civilização e de formação de grupos sociais, por exemplo, se algo deixa de ser um hábitus numa sociedade, é evidência de que, tanto mecanismos de controle social quanto de autocontrole — as restrições de fortes emoções espontâneas em público e a aversão pessoal a estas práticas —, estão atuando no estabelecimento de novos comportamentos e relações, assim configurando novos grupos sociais e alterando as relações de poder nas configurações. Estes três aspectos são relativos aos indivíduos situados num grupo social, ou ainda, num grupo nacional, passando a não existir civilização sem indivíduos que configurem grupos e sociedades. Para tanto, é relevante a passagem do controle social ao autocontrole. Essa passagem é o processo da exteriorização à interiorização. O indivíduo interioriza as paixões, emoções, regulações e representações produzidas nas relações sociais e em suas atividades mentais, e depois as exterioriza através de comportamentos, “hábitus” e relações de poder. Assim, pensamento e ação estão interligados no plano individual em função do social que, dirige o individual (e vice-versa) para um certo limiar de controle exigido e aceito pelos demais indivíduos em sociedade. Há atribuição de representações por parte de indivíduos/grupos para que outros indivíduos se reconheçam ao reconhecimento dos outros, desenvolvendo uma atividade mental denominada economia psíquica. Essa atividade é um 30 importante instrumento de percepção das representações empregadas a uma pessoa porque permite observar e encontrar seus semelhantes. Quanto à existência humana, alguns creem no criacionismo, já outros buscam as respostas na evolução das espécies e outros em seres de outros planetas, entre outras teorias, respectivamente. A teoria criacionista a partir de conceitos judaico-cristãos que se encontram na Bíblia. De religião em religião, todas acreditam que seu “deus” tenha criado a tudo e a todos. Para os que acreditam no criacionismo, portanto, os seres humanos são diferentes das demais criaturas por terem sentimentos, vontade, inteligência, moral, etc. A teoria evolucionista baseia-se nos estudos do cientista inglês Charles Darwin, que propôs o evolucionismo em um de seus livros, “A Origem das Espécies”. Esta tese teve forte impacto na sociedade cristã do século XIX. Duramente criticado pelos religiosos, Darwin continuou suas pesquisas e dentre os aspectos explorados por ele constam: Que o processo de evolução das espécies é gradual e contínuo; Que todos os seres vivos descendem, em última instância, de um ancestral comum; Que o mecanismo pelo qual os seres vivos mudam e evoluem é a seleção natural: os indivíduos mais adaptados ao meio ambiente conseguem melhores resultados na luta pela sobrevivência. De acordo com Darwin, todos os seres vivos tiveram sua evolução a partir de um ancestral comum, no qual, as mudanças ocorridas e as diferenças entre as espécies deram-se pelo processo de seleção natural, no qual os indivíduos que melhor se adaptam ao meio ambiente sobrevivem, deixando descendentes, que por sua vez também sofrem alterações em seu mecanismo biológico e deixam novos descendentes formando um círculo vicioso. Estudiosos e defensores da teoria evolucionista pregam que, em dado momento da evolução, os seres humanos e os macacos tiveram um ancestral em comum. Deste ancestral evoluíram dois grupos diferentes: um deles gerou o macaco e o outro gerou os seres humanos. Organização dos grupos sociais 31 Ao longo da história, conforme visto, os grupos sociais foram percebidos como uma expressão concreta de diferentes formas de vida: A família: da vida doméstica; Os agrupamentos profissionais: da econômica; Os Estados: para a cívica; A Organização das Nações Unidas: da internacional; e, As igrejas: correspondente à espiritual. Dentre as diversas classificações dos grupos, destaca-se a do sociólogo Cooley, cuja proposta divide os grupos em “primários” e “secundários” e, por outro lado, afirma que a ausência de tal fenômeno demarca o que chamou de “desorganização social. Por conseguinte, de acordo com sua estrutura, distingue-os entre primários ou “microgrupos”, secundários ou “macro grupos” e intermediários, destacando-os em grupo familiar, grupo vicinal, grupo educativo, grupo religioso, grupo de lazer, grupo profissional e grupo político. 6.6 Grupos primários São formados por grupos pequenos, também denominados microgrupos sendo estabelecidos por meio de relações duradouras e íntimas. Em tais grupos, os integrantes convivem diretamente, sem a mediação de terceiros e são fundamentais para o desenvolvimento da personalidade e da manutenção das ideias sociais. O relacionamento é de caráter pessoal e o contato direto entre os homens, permite identificação com os demais, na qualidade de pessoas, a partir das experiências vividas e imediatas com os outros. Em razão disso, a proximidade humana aí encontrável serve para formar nos homens nela situados o sentido de humanidade, ideada a partir da autêntica compreensão do valor e da dignidade de cada qual, tendo nas amizades, nas vizinhanças e na família a sua maior expressão. 32 6.7 Grupos secundários São grupos ordenados de forma racional, com objetivos utilitários, donde o relacionamento é de caráter impessoal. Aqui prepondera o vínculo do puro interesse, ao invés dos laços afetivos dos microgrupos. Os grupos secundários, entretanto, possuem grandes dimensões e são mais organizados, os quais envolvem relacionamentos de menor contato, mais formais e institucionais, porém dispõem dos mesmos interesses e objetivos, por exemplo, os grupos formados nas igrejas, nos partidos políticos, dentre outros. 6.8 Grupos intermediários São aqueles em que se complementam as duas formas de contatos sociais, ou seja, os primários e os secundários. Nesse tipo de configuração há existência de contatos maiores e menores. Do ponto de vista das Ciências Sociais, o indivíduo é parte formadora de uma sociedade; esta, por sua vez, é constituída a partir do conjunto de todas as relações sociais que os indivíduos mantêm entre si. Os grupos intermediários podem ocorrer no ambiente escolar, por exemplo, donde desenvolvem-se relações mais íntimas e relacionamentos de menor contato. 7 OS GRUPOS SOCIAIS NA PERSPECTIVA DA ANTROPOLOGIA Fonte: cultura.culturamix.com 33 Conforme visto, a vida em sociedade permite ao homem crescimento social, político, cientifico e cultural, mas modula a forma de sua necessidade. Com o início da época moderna (Descartes, Espinoza), a pesquisa antropológica abandona a impostação cosmocêntrica dos filósofos gregos e a teocêntrica dos autores cristãos para enveredar pela antropocêntrica: o homem como ponto de partida da pesquisa filosófica. A Filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou ideias obtidos por procedimentosde demonstração e prova, exigindo a fundamentação racional do que é enunciado e pensado. Não se trata de dizer “eu acho que”, mas de poder afirmar “eu penso que”. Logo, o conhecimento filosófico é um trabalho intelectual e sendo sistemático, não se contenta em obter respostas para as questões colocadas, mas exige que as próprias questões sejam válidas e, em segundo lugar, que as respostas sejam verdadeiras, estejam relacionadas entre si, esclareçam umas às outras, formem conjuntos coerentes de ideias e significações, sejam provadas e demonstradas racionalmente. Mediante uma análise ampla e refletida, examina o fenômeno “homem” sob os pontos de vista mais importantes, procurando ver antes de mais nada o que ele é: corporeidade, cultura, trabalho, jogo, religião. Somente depois dessa ampla fenomenologia das aparências é que ele procura decifrar e explicar o sentido profundo e completo do homem. Dessa forma, é pertinente dizer que a antropologia se ocupa da dimensão integral do homem, cuja análise abarca sua dimensão cultural e biológica: o homem nunca parou de interrogar-se sobre si mesmo. Em todas as sociedades existiram homens que observaram homens. A reflexão do homem sobre o homem e sua sociedade, e a elaboração de um saber são, portanto, tão antigos quanto a humanidade, e se dera tanto na Ásia como na África, na América, na Oceania ou na Europa, mas, o projeto de fundar uma ciência do homem – uma antropologia- é, ao contrário, muito recente. De fato, apenas no final do século XVIII é que começa a se constituir um saber científico (ou pretensamente científico) que toma o homem como objeto de conhecimento, e não mais a natureza; apenas nessa época é que o espírito científico pensa, pela primeira vez, em aplicar ao próprio homem os métodos até então utilizados na área física ou da biologia. 34 [...]. As sociedades estudadas pelos primeiros antropólogos são sociedades longínquas às quais são atribuídas as seguintes características: sociedades de dimensões restritas; que tiveram poucos contatos com os grupos vizinhos; cuja tecnologia é pouco desenvolvida em relação à nossa; e nas quais há uma menor especialização das atividades e funções sociais. São também qualificadas de “simples”; em consequência, elas irão permitir a compreensão, como numa situação de laboratório, da organização “complexa “de nossas próprias sociedades (LAPLANTINE, 2003, apud CUNHA, 2011, p.11). 7.1 O estudo do homem inteiro Só pode ser considerada como antropológica uma abordagem integrativa que objetive levar em consideração as múltiplas dimensões do ser humano em sociedade. Certamente, os acúmulos dos dados colhidos a partir de observações diretas, bem como o aperfeiçoamento das técnicas de investigação, conduzem necessariamente uma especialização do saber. Porém, uma das vocações maiores de nossa abordagem consiste em não parcelar o homem, mas, ao contrário, em tentar relacionar campos de investigação frequentemente separados. Ora, existem cinco áreas principais da antropologia, que nenhum pesquisador pode, evidentemente, dominar hoje em dia, mas às quais ele deve estar sensibilizado quando trabalha de forma profissional em algumas delas, dado que essas cinco áreas mantêm relações estreitas entre si. 7.2 A antropologia biológica Consiste no estudo das variações dos caracteres biológicos do homem no espaço e no tempo. [...]. Assim, o antropólogo biologista levará em consideração os fatores culturais que influenciaram o crescimento e a maturação do indivíduo. Ele se perguntará, por exemplo: por que o desenvolvimento psicomotor da criança africana é mais adiantado do que o da criança europeia? Essa parte da antropologia, longe de consistir apenas no estudo das formas de crânios, mensurações do esqueleto, tamanho, peso, cor da pele, 35 anatomia comparada das raças e dos sexos, interessa-se em especial - desde os anos 50 - pela genética das populações, que permite discernir o que diz respeito ao inato e ao adquirido, sendo que um e outro estão interagindo continuamente. Ela tem, a meu ver, um papel particularmente importante a exercer para que não sejam rompidas as relações entre as pesquisas das ciências da vida e das ciências humanas. 7.3 A antropologia pré-histórica É o estudo do homem através dos vestígios materiais enterrados no solo (ossadas, mas também quaisquer marcas da atividade humana). Seu projeto, que se liga à arqueologia, visa reconstituir as sociedades desaparecidas, tanto em suas técnicas e organizações sociais, quanto em suas produções culturais e artísticas. [...] O especialista em pré-história recolhe, pessoalmente, objetos do solo. Ele realiza um trabalho de campo, como o realizado na antropologia social na qual se beneficia de depoimentos vivos. 7.4 Antropologia linguística A linguagem é, com toda evidência, parte do patrimônio cultural de uma sociedade. É através dela que os indivíduos que compõem uma sociedade se expressam e expressam seus valores, suas preocupações, seus pensamentos. Apenas o estudo da língua permite compreender: o como os homens pensam o que vivem e o que sentem, isto é, suas categorias psicoafetivas e psicocognitiva; o como eles expressam o universo e o social (estudo da literatura, não apenas escrita, mas também de tradição oral); o como, finalmente, eles interpretam seus próprios “saber-fazer” (área das chamadas etnociências). [...]. Ela se interessa também pelas imensas áreas abertas pelas novas técnicas modernas de comunicação (mass media e cultura do audiovisual). 7.5 A antropologia psicológica Consiste no estudo dos processos e do funcionamento do psiquismo humano. De fato, o antropólogo é em primeira instância confrontado não a 36 conjuntos sociais, e sim a indivíduos. Ou seja, somente através dos comportamentos – conscientes e inconscientes - dos seres humanos particulares podemos apreender essa totalidade sem a qual não é antropologia. É a razão pela qual a dimensão psicológica (e também psicopatológica) é absolutamente indissociável do campo do qual procuramos aqui dar conta. Ela é parte integrante dele. 7.6 A antropologia social e cultural (ou etnologia) Toda vez que utilizarmos a partir de agora o termo “antropologia” mais genericamente, estaremos nos referindo à antropologia social e cultural (ou etnologia), mas procuraremos nunca esquecer que ela é apenas um dos aspectos da antropologia. Um dos aspectos cuja abrangência é considerável, já que diz respeito a tudo que constitui uma sociedade: seus modos de produção econômica, suas técnicas, sua organização política e jurídica, seus sistemas de parentesco, seus sistemas de conhecimento, suas crenças religiosas, sua língua, sua psicologia, suas criações artísticas. Isso posto, esclareçamos desde já que a antropologia consiste menos no levantamento sistemático desses aspectos do que em mostrar a maneira particular com a qual estão relacionados entre si e através da qual aparece a especificidade de uma sociedade. No mundo atual onde os problemas étnicos reaparecem e no qual a demanda pelo reconhecimento das diferenças, sejam elas políticas, sociais, culturais ou de gênero encontra-se na ordem do dia, a Antropologia Social tem dado contribuições importantes em seu esforço para um melhor entendimento das relações humanas. Este campo de saber com sua diversidade, riqueza e heterogeneidade, contribui com um novo olhar sobre a experiência humana no tempo e no espaço. Pois vive-se num mundo de fenômenos desprovidos de conteúdo social, que se originam das condições hostis que invadem a sociedade, dos perigos e incertezas que nos cercam, da ênfase colocada no indivíduo, onde o outro torna- se o nosso inimigo imediato. No individualismo moderno, a impessoalidade converteu-se em indiferença e pouco a pouco, desaprendemos a gostar de gente. Daí que, a Antropologia Social,nos ensina que este outro, muito antes de 37 constituir-se numa ameaça, é alguém que devemos conhecer e respeitar como uma parte de nós mesmos, companheiro e cúmplice da fascinante jornada que empreendemos na universalidade da dimensão que nos "torna" humanos. Em síntese, a Antropologia é uma chave para a compreensão do homem, dado que, uma das maneiras mais proveitosas de se dar a conhecer é traçar-lhe a história, mostrando como foi variando o seu colorido através dos tempos e como deitou ramificações novas que alteraram seu tema de base ampliando-o. 8 OS GRUPOS SOCIAIS NA PERSPECTIVA DA SOCIOLOGIA Fonte: larousse.fr A atitude filosófica dirigiu-se a indagações referentes ao mundo e às relações que os seres humanos mantêm com ele. Pouco a pouco, porém, descobriu-se que essas questões se referem, afinal, à capacidade humana de conhecer ou pensar. Por isso, as perguntas da Filosofia se dirigiram ao próprio pensamento: o que é pensar, como é pensar, por que há o pensar? - trazendo à memória a famosa escultura Le Penseur do francês Auguste Rodin. Ainda assim, a Filosofia tornou-se o pensamento interrogando-se a si mesmo. No entanto, existencialidades e estruturalistas, marxistas e tomistas, evolucionistas e espiritualistas, ateus e cristãos, todos são concordes em atribuir uma importância fundamental ao estudo do homem. Já a Sociologia surgiu em meados do século XIX, quando já havia ocorrido a Revolução Burguesa na 38 Inglaterra no século XVII e iniciado a Revolução Francesa, no final do século XVIII, em 1789, apresentado como um termo híbrido formado a partir de duas línguas: do latim socio com ideia de social, e do grego logos (razão), que exprime a ideia de “palavra” ou “estudo”; significando, portanto, “estudo do social” ou “estudo da sociedade”. Estes dois movimentos revolucionários implantaram o processo liberal que deu sustentação ao desenvolvimento do modo de produção capitalista e ao Estado Burguês no mundo ocidental, desenvolvendo e consolidando-se, no decorrer do tempo subsequente, no qual o capitalismo assegurou as condições de produção e reprodução do Mundo Moderno. 8.1 Capitalismo A maior parte das criações do intelecto ou da imaginação desaparecem para sempre em um prazo que varia entre de uma hora a uma geração. No entanto, algumas não desaparecem. Pode ser que sofram eclipses, mas retornam, e retornam não como elementos irreconhecíveis de uma herança cultural, mas com a sua roupagem individual, com as suas cicatrizes pessoais que se podem ver e tocar. Essas, perfeitamente pode-se chamar de grandes. Tomada nesse sentido, essa é, sem dúvida, a palavra que aplica à mensagem de Marx. Nas sociedades pré-capitalistas, o trabalho e a venda de produtos eram formas de satisfazer as necessidades de sobrevivência, isto é, o trabalho não era realizado como forma de obter lucros. Com a Primeira Revolução Científica e Tecnológica surge a forma de trabalho assalariado, em que o trabalhador participa do modo de produção apenas com sua força de trabalho. O trabalho passa a ser visto como uma forma de gerar riquezas para alguns (os proprietários), que não fazem nada a não ser que tenham a certeza do lucro. Surge então, no século XV, o que se denomina capitalismo (acumulação do capital para gerar riquezas); na passagem da Idade Média para a Idade Moderna, partindo da decadência do sistema feudal e do nascimento de uma nova classe social, a burguesia. 39 8.2 Neoliberalismo Os neoliberais (organizadores dos modos de produção) sustentam que os países periféricos (subdesenvolvidos), que têm dívidas enormes com os bancos internacionais, perderam a capacidade de governar e, sob esse argumento, passaram a definir as reformas e ajustes econômicos nos países pobres. A implantação das políticas neoliberais foi facilitada pelos avanços tecnológicos que romperam fronteiras e tornaram as transações financeiras internacionais mais ágeis. Outro fenômeno de transformação nos modos de produção e difusão dos ideais neoliberais foi a globalização, que trouxe como consequência a criação de empresas gigantescas e poderosas que se implantaram em diversas partes do mundo, principalmente nos países pobres em busca de matéria-prima e mão de obra barata. “O neoliberalismo configura-se como uma reação mundial a crise econômica iniciada após a Segunda Guerra Mundial, o que exigiu uma reestruturação do capital para a retomada do ciclo de produção. Essa ideologia propõe o afastamento da intervenção do Estado no mercado econômico e político e tem como principais caraterísticas os conceitos de individualismo, de liberdade e de propriedade (LIMA, 2007 apud PARONETO, 2016, p. 76). O individualismo, a liberdade e a propriedade que o neoliberalismo apregoa desconsideram que as origens das desigualdades sociais são de ordem política e econômica; não são naturais. Sabemos bem que, sobretudo nos países subdesenvolvidos, as pessoas não têm as mesmas oportunidades e condições para se integrarem em uma sociedade que é historicamente marcada pela exclusão dos menos favorecidos. Por isso podemos dizer que avanços tecnológicos, políticas neoliberais e globalização são fenômenos interligados que vão produzir profundas modificações no contexto político, social e econômico no mundo atual. Mas afinal o que é globalização? 40 8.3 Globalização Em contextos amplos, percebemos os efeitos da globalização quando gostos, preferências, hábitos e costumes são modificados e passam a ser incorporados na vida das pessoas. O ponto central da globalização acaba sendo a manutenção de condições que visam o capital e o lucro para os países desenvolvidos, deixando os países e populações mais pobres à margem desse processo. Essa percepção a respeito da globalização, com críticas e constatações sobre a exclusão social e seus efeitos massificadores, tem sido comentada por estudiosos e se revela igualmente em inúmeras oportunidades, inclusive no meio artístico. As teses que consideram que a globalização implica espaços homogêneos e um mundo “sem fronteiras” são as que supõem que as informações, conhecimentos e tecnologias são simples mercadorias, passíveis de serem “transferidas” sob a mediação dos mercados via mecanismos de preço. Nestas análises, credita-se aos avanços nas tecnologias de informação e comunicação a possibilidade de realização conjunta e de coordenação de atividades de pesquisa e desenvolvimento por participantes localizados em diferentes países do mundo, permitindo tanto a integração das mesmas em escala mundial, como a difusão rápida e eficiente das tecnologias e conhecimentos gerados. Por um lado, porque tais avanços supostamente possibilitam uma mais fácil, barata e, portanto, intensa transferência dessas informações e conhecimentos. Por outro lado, porque as difusões das novas tecnologias viriam permitir e promover a intensificação das possibilidades de codificação dos conhecimentos, aproximando-os de uma mercadoria passível de ser apropriada, armazenada, memorizada, transacionada e transferida, além de poder ser reutilizada, reproduzida e licenciada ou vendida indefinidamente e a custos crescentemente mais reduzidos. O entendimento do conceito e das implicações do fenômeno da globalização constitui um ponto de partida na análise das especificidades da Era do Conhecimento. A primeira constatação é a inconsistência conceitual e o forte conteúdo ideológico com que o termo foi moldado. Na percepção dominante, estaríamos caminhando para um mundo sem fronteiras com mercados (de capitais, informações, tecnologias, bens, serviços 41 etc.) tornando-se efetivamente globalizados e para um sistema econômico mundial dominado por “forças de mercado incontroláveis”, sendo seus principais atores as grandes corporações transnacionais socialmente sem raízes e sem lealdade com qualquer
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