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GRUPOS-SOCIAIS

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1 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 4 
2 A IMPORTANCIA DAS RELAÇÕES HUMANAS ............................... 5 
2.1 Relação intrapessoal ................................................................... 6 
2.2 Relação interpessoal ................................................................... 8 
3 LINGUAGEM E SOCIEDADE ............................................................ 9 
4 CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIEDADE ............................................ 12 
5 INDIVÍDUO, PESSOA E SUJEITO .................................................. 14 
5.1 Homem equilibrado ................................................................... 15 
5.2 Homem moderado ..................................................................... 15 
5.3 Homem evoluído ....................................................................... 16 
5.4 O Indivíduo do ponto de vista científico ..................................... 17 
5.5 A Pessoa do ponto de vista científico ........................................ 18 
5.6 O Sujeito do ponto de vista científico ........................................ 19 
6 GRUPOS SOCIAIS .......................................................................... 20 
6.1 Processo de formação dos grupos sociais ................................ 22 
6.2 Características essenciais dos grupos sociais .......................... 24 
6.3 A sociabilidade humana ............................................................ 25 
6.4 Socialização Primária ................................................................ 26 
6.5 Socialização Secundária ........................................................... 26 
6.6 Grupos primários ....................................................................... 31 
6.7 Grupos secundários .................................................................. 32 
6.8 Grupos intermediários ............................................................... 32 
7 OS GRUPOS SOCIAIS NA PERSPECTIVA DA ANTROPOLOGIA 32 
7.1 O estudo do homem inteiro ....................................................... 34 
 
2 
 
7.2 A antropologia biológica ............................................................ 34 
7.3 A antropologia pré-histórica ....................................................... 35 
7.4 Antropologia linguística ............................................................. 35 
7.5 A antropologia psicológica ......................................................... 35 
7.6 A antropologia social e cultural (ou etnologia) ........................... 36 
8 OS GRUPOS SOCIAIS NA PERSPECTIVA DA SOCIOLOGIA ...... 37 
8.1 Capitalismo ................................................................................ 38 
8.2 Neoliberalismo ........................................................................... 39 
8.3 Globalização .............................................................................. 40 
8.4 Pólis: uma herança greco-romana ............................................ 41 
8.5 Representação social ................................................................ 44 
9 OS GRUPOS SOCIAIS NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA ....... 49 
9.1 A Psicologia Social .................................................................... 50 
9.2 O processo grupal ..................................................................... 50 
10 OS GRUPOS SOCIAIS NA PERSPECTIVA DO DIREITO ........... 51 
10.1 O Direito carece de uma Teoria Geral ....................................... 52 
10.2 A formação dos grupos sociais no Direito ................................. 53 
10.3 Relações de afeto ..................................................................... 55 
10.4 Relações de poder .................................................................... 58 
11 AGREGADOS SOCIAIS ............................................................... 61 
11.1 Multidão ..................................................................................... 62 
11.2 Público ....................................................................................... 63 
11.3 Massa ........................................................................................ 64 
12 MECANISMOS DE SUSTENTAÇÃO ........................................... 64 
12.1 Liderança ................................................................................... 66 
12.2 Normas e sanções sociais ......................................................... 67 
12.3 Símbolos ................................................................................... 68 
 
3 
 
12.4 Valores sociais .......................................................................... 69 
12.5 Sistemas de status e papéis sociais .......................................... 70 
13 OS GRUPOS SOCIAIS E OS PENSADORES CLÁSSICOS ........ 71 
13.1 Auguste Comte .......................................................................... 72 
13.2 Sartre ......................................................................................... 74 
13.3 Émile Durkheim ......................................................................... 75 
13.4 Karl Marx ................................................................................... 78 
13.5 Max Weber ................................................................................ 79 
14 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................... 80 
15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................. 81 
16 SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS ................................................. 84 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é 
semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase 
improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao 
professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o 
tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos 
ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não 
hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de 
atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da 
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à 
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da 
semana e a hora que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
2 A IMPORTANCIA DAS RELAÇÕES HUMANAS 
 
Fonte: jjabrasil.com.br 
Desde os primórdios da humanidade, o ser humano demonstrou a 
necessidade de conviver em sociedade, construindo assim, um meio facilitador 
de sua sobrevivência. Precisamente, a ciência do desenvolvimento, cerne de um 
conjunto de estudos interdisciplinares (área social, psicológica e 
biocomportamental), dedicou-se na busca dos fenômenos relacionados ao 
desenvolvimento dos indivíduos. 
No entanto, segundo concepções interacionistas e sociointeracionistas, a 
relação indivíduo/meio é indissociável; desse modo, a aprendizagem e o 
desenvolvimento dos indivíduos ocorrem por meio de trocas sociais. 
Consequentemente, os seres humanos são seres históricos: sofrem influência 
do meio e, numa perspectiva dialética, deixam sua marca por onde passam. 
Entretanto, praticar relações humanas, significa muito mais do que o 
estabelecimento ou a manutenção de contatos com outros indivíduos. Significa 
que os homens estejam condicionados em suas relações, por uma atitude, um 
estado de espírito ou uma maneira de ver as coisas, que os permita compreender 
seu interlocutor, respeitando sua personalidade, cujaestrutura é, sem dúvida, 
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diversa, em decorrência das diferenças de composição e estrutura de suas 
necessidades. 
Ao tratar do grupo social como fonte primordial deste material, serão 
trazidas à tona os contornos dessa interação humana, pretendendo elucidar a 
existência da sociedade e do indivíduo, que são dependentes, isto é, nem a 
sociedade nem o indivíduo existem sem o outro, coexistem ambos. Logo, para 
compreender mais profundamente os grupos sociais, procurou-se detalhar os 
seres humanos pela Antropologia, quer nas suas especificidades culturais, na 
sua relação com a natureza, quer nos seus aspectos físicos, isto é, a cultura, 
para o conhecimento antropológico, contempla dimensões como a linguagem, 
os valores, as crenças, os costumes e os rituais, entre outras tantas dimensões. 
De outro ângulo, têm-se a Sociologia, que nasceu como tentativa de 
buscar soluções racionais, cientificas, de acordo com a pretensão de Comte, 
para os problemas sociais resultantes da Revolução Industrial e de 
decomposição da ordem social aristocrática na França do início do século XIX. 
Ainda assim, estudiosos relatam que a partir dos gregos, têm-se o nascimento 
da Filosofia, uma forma inusitada de pensar. O termo “filosofia” possui, no 
cotidiano dos sujeitos, um sentido amplo, costumeiramente empregado como 
sinônimo de atividade reflexiva, de qualquer teorização ou pensamento, 
atribuindo-se a Pitágoras haver se autodenominado filósofo. Nessa situação, a 
preocupação em conhecer o homem, suas diversas formas de produzir e de sua 
organização social tem sido a ocupação e o interesse de muitas disciplinas e 
ciências. 
2.1 Relação intrapessoal 
A relação intrapessoal, também conceituada como “inteligência 
intrapessoal” é o tipo de relação que o sujeito estabelece consigo mesmo e com 
os próprios sentimentos e aspirações. Sua premissa é baseada no 
autoconhecimento, no domínio próprio e a forma como o sujeito se motiva 
continuamente – e como tudo isso permeia sua vida pessoal e profissional. 
Estar bem consigo mesmo é o primeiro passo para estar bem com outras 
pessoas. Quanto mais a pessoa se conhece, maiores são as chances de 
conquistar seus objetivos – em todos os espectros de sua vida. E justamente a 
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prática do autoconhecimento colabora para que ela possa lidar com as mais 
diversas circunstâncias da melhor forma possível, tentando evitar frustrações, 
descontrole ou sentimentos ruins em seu cotidiano, na busca por melhores 
soluções em seu modo de organização individual. 
De acordo com o psicólogo Howard Gardner, o cérebro humano possui 
nove tipos de inteligência, podendo ter um ou mais tipos melhor desenvolvidos 
do que os outros. Diferentemente da inteligência interpessoal, a inteligência 
intrapessoal trata-se de uma característica que permite que a pessoa tenha 
domínio sobre seu comportamento e tome decisões favoráveis em sua vida. 
Estudos apontam que pessoas com inteligência intrapessoal têm facilidade em 
questões que dependem apenas delas mesmas, uma vez que possuem um 
autoconhecimento tão grande que sabem como administrar cada passo que dão, 
além de saberem reconhecer todas as suas principais características e usá-las 
para seu desenvolvimento pessoal. Além disso, esses indivíduos têm: 
 Foco e concentração nas atividades desempenhadas; 
 Facilidade de resolução de conflitos; 
 Determinação e persistência para atingir os resultados desejados; 
 Disciplina; 
 Auto compreensão; 
 Autoestima elevada; 
 Independência para criar o próprio caminho; 
 Maior capacidade de realização; 
 Comportamento congruente com princípios e valores; 
 Capacidade de despertar o melhor de si em todas as situações. 
Não obstante, saber gerir as próprias emoções e comportamentos torna-
se um fator determinante para o sucesso profissional e pessoal do cidadão. Tal 
conquista pode parecer algo árduo para quem pensa não conseguir desenvolver 
esse tipo de inteligência, porém, o caminho para conquistar a inteligência 
intrapessoal está no autoconhecimento, pois esse tipo de inteligência é inerente 
em todos os seres humanos, porém, alguns a possuem com maior 
desenvolvimento e facilidade, enquanto outros precisam aprimorá-la com o 
tempo. 
 
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2.2 Relação interpessoal 
A relação interpessoal, denominada “inteligência interpessoal” é 
caracterizada por indivíduos que têm facilidade em entender pessoas a partir de 
suas motivações, intenções e ambições, no caso de líderes religiosos, 
professores e também políticos. Isso significa que na perspectiva das relações 
humanas, o sujeito se torna completo se estiver vivendo no seio de uma vida 
política, na organização da sociedade, isto é, numa evidência da magnitude do 
aspecto social, que é condição essencial para o desenvolvimento humano. 
Avançando no raciocínio das relações humanas, o social e a cultura no 
desenvolvimento retomam um contexto, no qual Piaget, Wallon e Vygotsky 
defendem a relevância do meio social para a espécie humana: 
 Para Piaget, o conhecimento vem da construção efetiva e contínua, 
na relação indivíduo/meio ambiente (natureza, objetos e pessoas); 
 Para Wallon, o ser humano é organicamente social e sua dimensão 
afetiva é o alvo; 
 Para Vygotsky, a consciência humana se forma ao longo do 
desenvolvimento humano via mediações e linguagem. 
O relacionamento interpessoal é um conceito do âmbito da Sociologia e 
Psicologia, significando uma relação entre duas ou mais pessoas. Este tipo de 
relacionamento é marcado pelo contexto onde ele está inserido, podendo ser um 
contexto familiar, escolar, de trabalho ou de comunidade. Logo, a teoria que 
demonstra a parte da natureza social do ser humano possibilita que sejam 
criados vínculos entre os sujeitos. 
Como pessoa, há uma ampla gama de atividades mentais imanentes, por 
exemplo, refletir, pressupor, lembrar, saber ou desejar. Sem estes estados 
mentais e muitos outros seria impossível para um ser humano coordenar seu 
próprio universo com os outros, ou melhor, o ser humano é um ser complexo em 
riqueza, cheio de nuances, possuindo inteligência e intuição como um reflexo de 
sua vontade e força motora, e pode implicar num relacionamento interpessoal de 
vários níveis, até mesmo envolvendo diferentes sentimentos como o amor, 
compaixão, amizade, etc., também podendo ser marcado por características e 
situações como competência, transações comerciais, inimizade, etc., 
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determinado e alterado de acordo com um conflito interpessoal, que surge de 
uma divergência entre dois ou mais indivíduos. 
Em suma, essa conexão interpessoal, portanto, explica porque o ser 
humano tem a capacidade de compreender os estados de consciência de outros 
interlocutores em uma conversa, ou seja, o ser humano é consciente de si 
mesmo, pode refletir sobre seus valores, ações e crenças, mas também 
identificar naturalmente a diferença nos demais. 
3 LINGUAGEM E SOCIEDADE 
 
Fonte: conceitos.com 
A tradição de relacionar linguagem e sociedade, ou, mais precisamente, 
língua, cultura e sociedade, está inscrita na reflexão de vários autores do século 
XX. Observa-se, assim, que de um lado, as relações entre linguagem e 
sociedade tinham raízes históricas: língua e sociedade não podem ser 
concebidas uma sem a outra. Nessa vertente, em que linguagem, cultura e 
sociedade são consideradas fenômenos inseparáveis, linguistas e antropólogos 
trabalham lado a lado e, mesmo, de modo integrado. 
A diversidade linguística e a comunicação, conquanto, são fundamentais 
para a sobrevivência humana, cujo relacionamento com diferentes públicos se 
dá num processo de interação, porque tem a capacidade de transmitir um modo 
de pensar, ser e sentir. Essencialmentepara conviver em grupos, os seres 
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humanos dependem exclusivamente da contínua presença do outro, isto é, seria 
dificultoso agir ou interagir cotidianamente na organização da vida social sem 
atravessar o contato com o outro. No que lhe concernem, as habilidades sociais 
auxiliam os sujeitos a expressar seus desejos, sentimentos e atitudes de forma 
adequada, seja no âmbito social, familiar e profissional, respeitando normas de 
comportamento em diversas situações. 
Integrados ou não à grande corrente estruturalista, a partir dos anos 1930, 
encontram-se linguistas cujas obras são referências obrigatórias, quando se 
trata de pensar a questão do social no campo dos estudos linguísticos. Não 
caberia, aqui, enumerar todos esses estudiosos, mas uma breve referência a 
alguns nomes, ligados ao contexto europeu: Antoine Meillet, Mikhail Bakhtin, 
Marcel Cohen, Émile Benveniste e Roman Jakobson. 
 Meillet, aluno de Saussure, filia-se à orientação diacrônica dos estudos 
linguísticos, mas, para ele, a história das línguas é inseparável da história da 
cultura e da sociedade: é essa abordagem que pode ser vista em sua obra, sobre 
a história do latim, Esquisse d´une histoire de la langue latine. A propósito desse 
linguista francês, cabe destacar sua visão do fenômeno linguístico, bem ilustrada 
por um trecho de sua aula inaugural no Cólege de France: 
Ora, q linguagem é, eminentemente, um fato social. Tem-se, 
frequentemente, repetido que as línguas não existem fora dos sujeitos 
que as falam, e, em consequência disto, não há razões para lhes 
atribuir uma existência autônoma, um ser particular. Esta é uma 
constatação óbvia, mas sem força, como a maior parte das 
proposições evidentes. Pois, se a realidade de uma língua não é algo 
de substancial, isto não significa que não seja real. Esta realidade é, 
ao mesmo tempo, linguística e social (MEILLET, 1906 apud 
MUSSALIM, 2001, p.24). 
De uma perspectiva, diferente, outro linguista explicita sua visão sobre a 
relação entre linguagem e contexto social: 
A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema 
abstrato de formas linguísticas, nem pela enunciação monológica 
isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo 
fenômeno social da interação verbal realizada através da enunciação 
ou das enunciações. A interação verbal constitui assim a realidade 
fundamental da língua. (BAKHTIN, 1929 apud MUSSALIM, 2001, p. 25) 
Por seu turno, todo indivíduo participa de diferentes comunidades 
linguísticas e todo código linguístico é multiforme e compreende uma hierarquia 
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de subcódigos diversos, livremente escolhidos pelo sujeito falante, segundo a 
função da mensagem, do interlocutor ao qual se dirige e da relação existente 
entre os falantes envolvidos na situação comunicativa. Entretanto, fato curioso 
na apresentação do homem enquanto ser social, é que apesar de as relações 
humanas e o ato de comunicação terem existido desde a origem da vida, a 
preocupação científica com essas relações, especialmente no ambiente de 
trabalho, é relativamente nova: nos Estados Unidos, até 1940, a expressão 
"relações humanas no trabalho" era muito pouco usada e em 1945, ao findar a 
Segunda Grande Guerra, a mesma era praticamente ignorada. 
Por essa razão, atualmente as relações interpessoais são uma realidade 
inevitável para todos aqueles que trabalham em organizações, posto que, muitas 
vezes tenham sido estudadas de uma perspectiva negativa, de outro ângulo, os 
relacionamentos podem facilitar um cumprimento da “necessidade de pertencer”, 
melhor dizendo, permite integração e afinidade entre colaboradores, auxiliando 
na execução e sucesso de seus projetos. 
Se houvesse possibilidade, fazendo voltar os ponteiros do relógio no 
tempo, para observar o desenrolar dos acontecimentos no início da Revolução 
Industrial, ver-se-ia que, então, os seres humanos eram incluídos no processo 
de produção apenas como mais um recurso produtivo, ao lado das matérias-
primas e das máquinas, sem qualquer consideração especial. 
 Em outras palavras, o homem nada mais era do que uma máquina que 
operava outra máquina, ou seja, à medida que as organizações industriais se 
desenvolviam mais se perdia a possibilidade de contato pessoal direto entre o 
trabalhador e seu empregador. Naquele momento, a ênfase, era colocada sobre 
a produção, com um consequente desinteresse pela sorte do trabalhador. Este, 
então, era obrigado a trabalhar longas horas, em condições desfavoráveis e sob 
padrões de supervisão tão rígidos que quase não podia manter contato informal 
com seus colegas e, na maioria dos casos, esse contato humano ocorria fora do 
ambiente de trabalho, porém, ainda assim, limitado pelas longas horas de 
atividade na fábrica. 
Nesse sentido, as interações humanas não podem ser compreendidas 
como um artifício de manipulação ou maneira de tomar todos felizes. De acordo 
com tal analogia, pode-se dizer, então, que a comunicação e as relações 
humanas agem como um “lubrificante”, evitando atritos e tomando o 
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funcionamento da sociedade mais suave. Mas, assim como uma máquina não 
funciona apenas com uma boa lubrificação, as esferas sociais necessitam de 
muitas coisas, além de relações humanas. Assim sendo e refletindo no indivíduo 
como um todo, pretende-se encontrar nas Ciências Humanas uma ampla 
compreensão dos fenômenos humanos e sociais, observando as trocas que 
envolvem aspectos cognitivos e socioafetivos fundamentais para a construção 
individual dos sujeitos e das sociedades, através de um processo recíproco. 
4 CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIEDADE 
 
Fonte: portaldoprofessor.mec.gov.br 
Em conformidade com o projeto da modernidade, o indivíduo e a 
sociedade têm sido definidos como entidades naturais e polos que preexistem à 
sua interação. Ainda de acordo com tal perspectiva, onde prevalece uma lógica 
dicotômica, o coletivo é identificado como social. O conceito de coletivo tem sido 
frequentemente utilizado, seja no âmbito da Psicologia, seja no âmbito da 
Sociologia, para designar uma dimensão da realidade que se opõe a uma 
dimensão individual. 
Assimilado desta maneira, o coletivo se confunde com o social, sendo 
representado através de categorias como Estado, Família, Igreja, Comunidades, 
Povo, Nação, Massa ou Classe e investigado no que diz respeito à dinâmica de 
interações individuais ou grupais. Todavia, este modo de apreensão do 
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13 
 
coletivo/social deriva de uma abordagem dicotômica da realidade característica 
das ciências modernas, cujo efeito, dentre os mais visíveis, é a separação dos 
objetos e dos saberes. 
Conforme se pensava, o homem não “veio do macaco”: esse é um 
equívoco criado em torno de uma ideia que não era do naturalista inglês Charles 
Darwin. Na verdade, o que ele disse é que havia indícios de que homens e 
macacos tinham um ancestral comum que evoluiu com o tempo e se desdobrou 
em vários ramos diferentes, sabendo-se que o ser humano é considerado o único 
espécime dotado de características que se diferenciam do restante dos animais. 
O denominado “gênero Homo”, nos remotos tempos do frio das cavernas, 
no uso de seus instintos de sobrevivência, juntava-se a outros para se aquecer, 
caçar, se proteger e, desta forma, a sociedade nascia de forma rudimentar e 
ainda em evolução. De modo igual, quando se resgata historicamente o tempo, 
o homem pode repensar sua vida e transformá-la à medida em que é sujeito do 
processo de construção da própria história e também do tempo. 
“Ego sum, ego existo”, escrevia Descartes pondo em relevo este Ego que 
permanecerá o fundamento de toda filosofia racionalista ou empirista, através 
das mônadas de Leibniz, a sensação dos empiristas, o eu de Fichte e até mesmo 
os atributos radicalmenteseparados uns dos outros de Espinosa; fundamento 
presente ainda em nossos dias, quando lemos numa gramática ginasiana, como 
se fosse óbvia, a afirmação: “Eu, não tem plural. Nós é eu e tu”. Nessa 
perspectiva, sendo o Ego o primeiro dado fundamental, o ponto de partida, o 
problema das relações entre os homens, quando se põe, torna-se naturalmente 
o problema do “Outro”. Os “outros” homens são assimilados à realidade física e 
sensível. Não são mais do que seres que vejo e ouço, como vejo uma pedra que 
cai e ouço sua queda. 
O problema dos fundamentos ontológicos e epistemológicos da história é 
um aspecto particular do problema ontológico geral das relações do homem com 
seus semelhantes, problema que certos filósofos contemporâneos, partindo 
duma posição cartesiana, designaram pelo nome de problema do “Outro”, que 
seria, contudo, designado de modo mais preciso como o problema do “Nós”. 
 
 
 
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5 INDIVÍDUO, PESSOA E SUJEITO 
 
Fonte: ufes.br 
Ao longo do tempo, observou-se a relação da pluralidade de pessoas com 
a pessoa singular chamada “indivíduo”, bem como da pessoa singular com a 
pluralidade. Em tal caso, viver democraticamente em uma sociedade plural é 
respeitar os diferentes grupos e culturas que a constituem. Para Norbert Elias, 
as atividades sociais e psíquicas particulares dos indivíduos estão entrelaçadas 
e estão em processo de (re) estruturação sem fim à vista e sem planejamento 
num longo prazo, ou melhor, o homem é histórico, não está acabado e 
permanentemente está em construção pelas suas experiências grupais, sociais 
e psíquicas particulares. 
Isto posto, nos processos de construção dos grupos sociais, Coury 
sistematiza três qualitativos comuns aplicados ao homem moderno. Para cada 
um a economia psíquica constitui, em concomitância, a síntese sociológica e a 
explicação histórica, rompendo com o psicologismo que enviesa a análise com 
a possibilidade individualista/instintiva e coletivista do ser conhecedor. São eles: 
‘O homem equilibrado’, ‘O homem moderado’ e ‘O homem evoluído’, conforme 
segue: 
 
 
15 
 
5.1 Homem equilibrado 
O homem equilibrado é aquele que interioriza os conhecimentos sociais e 
produz o equilíbrio mental enquanto as próprias relações mudam e a sociedade 
se diferencia e, assim, permite o julgamento de suas pulsões dentro dos 
mecanismos criados socialmente de aferição da normalidade psíquica — 
comportamento, hábitos e costumes ditos ‘civilizados’. 
O equilíbrio psíquico é o centro das inter-relações entre estrutura social e 
a estrutura mental. Para isto, Norbert Elias destaca que é necessário articular o 
processo histórico da estrutura social com o da estrutura mental e também 
observar o equilíbrio psíquico entre as exigências da organização social que os 
indivíduos juntos constituem e as exigências desses mesmos indivíduos 
tomados em seu universo privado, porque vivemos numa sociedade complexa, 
que ao longo dos séculos vem desenvolvendo um processo de individualização 
da estrutura social como evidencia Elias em “O processo civilizador: uma história 
dos costumes” e “formação do estado e civilização”. 
5.2 Homem moderado 
O homem moderado compreende-se a economia psíquica no processo de 
moderação, pois com o aumento da cadeia de interdependência foi se 
estabelecendo uma maior racionalidade individual (o homem ‘civilizado’), na qual 
os indivíduos controlam, restringem e moderam seus comportamentos e 
emoções perante qualquer pessoa. Com efeito, esse indivíduo constrói sua 
identidade pela representação que faz de si mesmo e por aquelas que lhe 
remetem — perceptíveis na arte de observar seus semelhantes. Essa dimensão 
do homem moderado está conectada ao processo de 
diferenciação/individualização em razão da necessidade de um equilíbrio entre 
estrutura mental e social para estabelecer relações sociais e desenvolver 
autocontrole. 
Coury destaca que, nessa dimensão, a “economia psíquica reside 
principalmente no fato de que ela permite situar no tempo e no espaço as 
conjunturas nas quais certas transformações do estado de uma estrutura social 
se encadearam para resultar numa nova configuração”. Dessa maneira, 
 
16 
 
percebe-se tanto onde e em que espelhos as pessoas notam o olhar dos outros, 
qual o momento dessa percepção e de suas moderações, podendo até identificar 
características da pessoa relacionada a algum grupo social. 
5.3 Homem evoluído 
Por último, a economia psíquica do homem evoluído se refere ao processo 
de evolução que caracteriza a identidade constante de uma pessoa num 
movimento linear cronológico: 
Um novo indivíduo aparece, esse ecônomo doravante dotado de uma 
arte de bem conduzir sua vida. Desse processo decorre nossa 
capacidade de abarcar a vida de um homem como um todo e de julgá-
lo de uma só vez. A economia psíquica do homem civilizado permite 
essa ‘boa condução’ no tempo, essa boa administração ao longo de 
sua vida, em seus deslocamentos e em todas as suas relações. O 
surgimento dessa capacidade nova permite não só encontrar as 
lógicas que condicionam esse ou aquele comportamento, mas também 
descobrir as categorias de percepção dos comportamentos 
observados nos outros (COURY, 2001 apud HONORATO, 2004, p.4). 
Este processo não descarta os inúmeros avanços e retrocessos da vida 
dos indivíduos/grupos. Ele valoriza o não planejamento e é provocativo ao impor 
a problemática do tempo de permanência das identidades sociais: “como, onde 
e quando a pessoa nota seus semelhantes e se liga duradouramente a eles? ”. 
Ou seja, qual relação entre o passado e o futuro dos indivíduos e dos grupos 
sociais? 
Neste terceiro qualitativo emerge um paradoxo na sociologia do 
conhecimento: a relativa autonomia do indivíduo caminha junto com a 
pertinência ao grupo social, bem como ao conhecimento conquistado, e o lugar 
preponderante assumido pelo ‘eu’ em nossas sociedades não afastou o desejo 
de estar com outras pessoas que amamos. Na sequência, tendo em vista a 
atenção de Norbert Elias com a arte de observar, a arte de inovar e com a arte 
de manejar seus ‘semelhantes’, Coury propõe um instrumento de análise 
complementar denominado a arte de reagrupar-se. 
A arte de reagrupar-se permite a percepção — dos e entre indivíduos — 
dos mesmos interesses para formar juntos num espaço social, grupos até então 
imperceptíveis e distintos em relação aos indivíduos/grupos nos quais pensam 
poder estabelecer vínculo social. Ela se desenvolve mediante a produção, 
 
17 
 
difusão e apropriação de formas de agrupamento disponível numa estrutura 
social. “Essa arte pode decompor-se analiticamente da seguinte forma: a arte da 
colocação dos indivíduos em presença, as competências dos diferentes porta-
vozes e dos representantes, as categorias estéticas de avaliação dos grupos 
assim objetivados, as repercussões das representações exógenas sobre os 
produtores”. 
Coury apresenta dois objetivos para a arte do reagrupamento. O primeiro, 
desfamiliarizar os pesquisadores com as práticas e formas coletivistas. Trata-se 
então de analisar o entrelaçamento entre estrutura social e estrutura psíquica. O 
segundo, resume-se na explicação do acúmulo de competências (política - em 
sua investigação) e suas desigualdades de apropriação pelos indivíduos. 
Enfim, o esforço de Coury tanto em sistematizar os três qualitativos 
comuns aplicáveis ao homem moderno como também em propor a arte de 
reagrupar-se, tem suas relevâncias e um ponto vulnerável. As relevâncias, de 
uma certa maneira, foram explicitadas. O ponto vulnerável refere-se quando 
Coury ancora-se essencialmente nos estudos de Norbert Elias sobre a relação, 
sociedade e indivíduo, para sistematizar os qualitativos e propor uma relação 
indivíduo e construção dos grupos sociais. 
5.4 O Indivíduo do ponto de vista científico 
Ao estudar os fenômenos da sociedade, tais como: migração, conflitos 
sociais e movimentos políticos,as Ciências Sociais apontam para uma 
interpretação do comportamento humano e suas estruturas sociais, análise dos 
hábitos e costumes de diversos grupos sociais, bem como suas características 
religiosas, familiares, organização institucional e também econômica. 
Cientistas, portanto, denominam um “indivíduo” como todo o organismo 
vivo que pertence a uma espécie, distinguindo-se dos demais devido as suas 
características particulares, consistindo num ser individual, conhecido pela sua 
existência única e indivisível. Este termo, ainda costuma ser utilizado como 
sinônimo de “cidadão”, ou seja, um “ser humano” inserido num ambiente social. 
Já para a Sociologia e Filosofia, o indivíduo – como sinônimo de ser humano / 
cidadão – é aquele que possui uma identidade própria que o distingue dos 
demais indivíduos, isto é, enfim, os seres “são”; temos a experiência de “ter” (ou 
 
18 
 
ser) um “eu”; somos porque pensam (Descartes diria: penso, logo sou!). Para 
falar dessa experiência singular de processos de subjetivação, adota-se o termo 
inglês self (ou selves, no plural), traduzido como “eu”, quando se refere à 
consciência de si e à identidade. Ou seja, não temos problemas semânticos 
quando se trata de falar de nossas experiências de sermos “quem somos”. 
Nada obstante, os sujeitos possuem certa dificuldade de nomear esse 
“ser” quando teorizam a respeito da vida em sociedade e, nesse âmbito, nem 
sempre tomam alguns cuidados no uso dessas categorias. Por exemplo, 
incorporando o gênero de fala próprio aos manuais de metodologia, fala-se de 
sujeitos, quando há referência aos “participantes” de pesquisas. Por suas 
conotações “ideológicas”, procuram evitar o uso da palavra “indivíduo”, mas a 
deixam escapar em seus múltiplos sentidos: individualmente, para se referir a 
cada um de um grupo e “individualismo” para se reportar a modos de vida pouco 
solidários. E pessoa? 
5.5 A Pessoa do ponto de vista científico 
No caso da Psicologia Social, não seria este mais um termo a ser 
considerado dentre as muitas possibilidades de se falar de quem se é e de quem 
são os outros que compartilham, por querer ou sem querer, de suas vidas? A 
multiplicidade normativa distingue-se pelo tipo de finalidade, pelo escopo 
perseguido pela regra em questão, no entanto, tanto a imponente regra jurídica 
como a regra de conduta de trato social têm em comum o fato de se constituírem 
como meio de influenciar comportamentos. 
Nesta abordagem, os usos do termo “pessoa” no contexto da Antropologia 
tomam por base o texto de Marcel Mauss (2003), na discussão de algumas 
dicotomias que, às vezes inadvertidamente, atravessam muitos discursos. Em 
sequência, aborda-se a opção de George Herbert Mead (1969) pelo termo self, 
de modo a destacar os esforços desse protopsicólogo social para situar a 
consciência de si em uma perspectiva que alia processos comunicativos (a 
Filosofia do Ato) e suportes sociais e biológicos sustentados pelo evolucionismo. 
 
19 
 
5.6 O Sujeito do ponto de vista científico 
Abandonando temporariamente as vertentes de pessoalidade, 
passaremos à emergência da categoria moderna de indivíduo, fundamentando-
nos nas discussões apresentadas por Nikolas Rose (1998; 2001) a respeito das 
contribuições da Psicologia aos processos de individualização. Apoiada em 
Michel Foucault (2005), essa discussão permite passar ao nosso próximo tema, 
a categoria “sujeito” na interface entre processos de objetivação e subjetivação. 
O paradoxo que assim se instala será abordado por meio do que consideramos 
ser uma perspectiva integradora: os múltiplos selves propostos por Rom Harré 
(1998). 
Não pretendemos chegar a uma conclusão sobre qual conceito padrão 
deveríamos adotar para nos referirmos a esse ser que somos no âmbito da 
Psicologia Social que se quer crítica. Mas esperamos poder suscitar o desafio 
de, pelo menos, entender as implicações históricas, sociais, políticas, 
existenciais, éticas, dentre muitas outras, da escolha dos termos que usamos 
para falar do ser que somos, a fim de não cairmos na armadilha da 
transformação de nossas produções sociais em “entidades”. 
Afinal, como aponta Harré (1998, p.5), “Criamos uma maneira de falar 
sobre elas por meio de substantivos, justamente a forma gramatical que a fala 
sobre entidades usa”. A sociedade é entendida, quer como mera acumulação, 
coletânea somatória e desestruturada de muitas pessoas individuais, quer como 
objeto que existe para além dos indivíduos e não é passível de maior explicação. 
Neste último caso, as palavras de que dispomos, os conceitos que influenciam 
decisivamente o pensamento e os atos das pessoas que crescem na esfera 
delas, fazem com que o ser humano singular, rotulado de indivíduo, e a 
pluralidade das pessoas, concebida como sociedade, pareçam ser duas 
entidades ontologicamente diferentes. 
Como sabemos, a sociedade somos todos nós; é uma porção de pessoas 
juntas. Mas uma porção de pessoas juntas na Índia e na China formam um tipo 
de sociedade diferente da encontrada na América ou na Grã-Bretanha; a 
sociedade composta por muitas pessoas individuais na Europa do século XII era 
diferente da encontrada nos séculos XVI ou XX. E, embora todas essas 
sociedades certamente tenham consistido e consistam em nada além de muitos 
 
20 
 
indivíduos, é claro que a mudança de uma forma de vida em comum para outra 
não foi planejada por nenhum desses indivíduos. 
6 GRUPOS SOCIAIS 
 
Fonte: exame.abril.com.br 
Partindo da inexorável relação do homem com o mundo no qual está 
inserido é que se formam os grupos sociais e por essa razão, tais grupos fazem 
parte da anatomia das sociedades, podendo ser encontrados em todos os 
lugares e tempos, como meios de atuação comum, no qual, o fenômeno da 
multiplicidade grupal constitui o pluralismo, configurado pela existência de vários 
grupos político-sociais (famílias, associações, sindicatos, cooperativas, partidos, 
clubes de pensamento, sociedades científicas, culturais, desportivas, etc.) entre 
o indivíduo e o Estado. 
A Sociologia visa às questões que envolvem as relações existentes entre 
os indivíduos na vida coletiva; esforçando-se para apreender as diferentes 
realidades das mais variadas culturas e como se formam as relações que 
existem no seu interior. O que os homens procuram na história são as 
transformações do sujeito da ação no relacionamento dialético homem-mundo e 
as transformações da sociedade humana. Entretanto, os conhecimentos 
sociológicos, são indispensáveis na discussão da pluralidade cultural, pelas 
possibilidades que abrem de compreensão de processos complexos, onde se 
 
21 
 
dão interações entre fenômenos de diferentes naturezas. Neste contexto, os 
grupos sociais são diferenciados, principalmente pela cultura em que vivem, 
havendo diversas culturas ao invés de uma só e sua serventia está na 
manutenção da própria sociedade, isto é, seus modos e padrões de vida são 
amostras de como está a sociedade, como ela funciona e como está sua 
estrutura naquele momento. 
Na ausência dessa atitude, o que resulta é um clima de ressentimento, 
resistência, incompreensão, falta de colaboração e iniciativa, enfim, uma 
atmosfera que não conduz a um aproveitamento positivo na relação que se 
estabelece. Se, por outro lado, se manifesta a prática de “relações humanas”, 
então é possível afirmar, sem medo de errar, que o contato humano estabelecido 
tenderá para um resultado positivo, eliminando, "a priori", a possibilidade de 
conflito básico entre as partes, dando a cada uma delas um crédito preliminar 
que facilitará o desenvolvimento da relação. 
O sociólogo alemão Norbert Elias em “A sociedade dos indivíduos”, diz 
que os indivíduos são condicionados socialmente ao mesmo tempo pelas suas 
autoimagens e por aquelas que lhes são atribuídas pelos outros com quem se 
relacionam. Quando se resgata historicamente o tempo, o homem poderepensar 
sua vida e transformá-la à medida que é sujeito do processo de construção da 
própria história e também do tempo. Pelo fato de não nascermos com um sentido 
temporal pronto, organizações temporais têm que ser aprendidas juntamente 
com outros aspectos culturais, conforme explica Elias: 
"No nosso tipo de sociedade, a vida do homem se mede com exata 
pontualidade. Uma escala social temporal que mede a idade (tenho 
doze anos, você tem dez), o indivíduo a aprende e a integra, como 
elemento social, na imagem de si mesmo e dos demais. Esta 
subordinação de medidas temporais não somente serve como 
comunicação sobre quantidades distintas, se não que alcança seu 
pleno sentido como abreviação simbólica comunicável de diferenças e 
transformações humanas conhecidas no biológico, psicológico e 
social” (ELIAS, 1989, apud MARTINS, 2000, p. 80). 
Em termos simples, a Sociologia é a ciência que se debruça sobre a 
própria sociedade e todas as suas ramificações, componentes e integrantes; 
dedicando-se a compreender as formas de interação que as pessoas têm umas 
 
22 
 
com as outras, suas organizações e os fenômenos sociais observados na 
realidade dos indivíduos. Os conhecimentos sociológicos permitem uma 
discussão acurada de como as diferenças étnicas, culturais e regionais não 
podem ser reduzidas à dimensão socioeconômica de classes sociais. As 
diversas contribuições da Sociologia evidenciam que nos grupos sociais existem 
normas, hábitos, costumes próprios, divisão de funções e posições sociais 
definidas, em que os indivíduos, dos primeiros momentos da História aos dias 
de hoje estabeleceram relações entre si que fazem parte de suas rotinas 
cotidianas. 
O olhar sociológico traz-nos sempre uma nova perspectiva sobre 
situações que aparentemente são de natureza individual, mas que acabam por 
atingir uma gama muito maior de nossa realidade coletiva. Pode-se tomar como 
exemplo a situação econômica dos indivíduos, que, embora possa ser uma 
abordagem bastante particular, pode também ser observada por uma 
perspectiva mais abrangente, quando se volta para a análise da situação 
econômica de todo um país. Isso significa abordar toda a cadeia social, as 
formas como a realidade econômica é afetada e as possíveis consequências 
desse fenômeno, como o acentuamento da desigualdade social e, 
possivelmente, o agravamento de outros problemas, como a violência, a fome e 
a precarização da educação. 
6.1 Processo de formação dos grupos sociais 
Segundo o dicionário Aurélio, o vocábulo “grupo” traduz-se em um 
conjunto de pessoas ou de objetos reunidos num mesmo lugar ou ainda um 
conjunto de pessoas que apresentam o mesmo comportamento e a mesma 
atitude, e com um objetivo comum que condiciona a coesão de seus membros: 
um grupo político; um grupo de trabalho, etc., melhor dizendo, a sociedade não 
é mero agregado de seres humanos; constitui-se, em verdade, de um complexo 
labirinto de grupos e relações sociais. 
Vários autores trabalharam com as perspectivas de grupo, evidenciando 
que o ser humano é um ser social e sociável, um ser de relações, estando 
constantemente nos relacionando com outras pessoas, isto é, a vida humana 
passa pela vida em grupo. Logo, em seu nascimento, o ser humano se depara 
 
23 
 
com seu primeiro grupo: a família, em seguida vem o grupo escolar, o grupo de 
amigos, de trabalho e muitos outros e cada um deles possui suas regras, suas 
adesões. 
Através da interação estabelecida entre as pessoas e o sentimento de 
identidade existente, é que o indivíduo que pretende aderir a determinado grupo 
deve aceitar e cumprir suas regras; em outras palavras, os grupos mantêm uma 
organização, sendo capazes de ações conjuntas para alcançar objetivos comuns 
a todos os seus membros. 
De fato, o que se propõe é uma análise do indivíduo e sociedade de 
maneira interdependente entrelaçando estrutura social e estrutura psíquica 
(autocontrole), possivelmente transferível para compreensão da construção dos 
grupos sociais. Porém, o próprio Elias reconhece que não conseguiu resolver 
epistemologicamente o problema indivíduo-sociedade. O que nos falta, sejamos 
explícitos, são modelos conceituais e, além deles, uma visão global graças à 
qual nossas ideias dos seres humanos como indivíduos e como sociedade 
possam harmonizar-se melhor. 
Não sabemos, ao que parece, deixar claro nós mesmos como é possível 
que cada pessoa isolada seja uma coisa única, diferente de todas as demais; 
um ser que, de certa maneira, sente, vivencia e faz o que não é feito por 
nenhuma outra pessoa; um ser autônomo e, ao mesmo tempo, um ser que existe 
para outros e entre outros, com os quais compõe sociedades de estrutura 
cambiáveis, com histórias não pretendidas ou promovidas por qualquer das 
pessoas que as constituem, tal como efetivamente se desdobram ao longo dos 
séculos, e sem as quais o indivíduo não poderia sobreviver quando criança, nem 
aprender a falar, pensar, amar ou comportar-se como um ser humano. 
Com efeito, de modo sistemático e coerente, dentro de um grupo social, 
os indivíduos que o integram, desenvolvem uma relação estável, os quais 
compartilham histórias, objetivos, interesses, valores, princípios, símbolos, 
tradições e, sobretudo, leis e normas que asseguram as relações interpessoais 
e o desempenho de determinados papéis entre os sujeitos sociais, mantendo 
regras de convivência preferencialmente imutáveis, para a garantia de sua 
continuidade, porém, sem esquecer que a sociedade se transforma. 
 À vista disso, num significado mais amplo, é possível dizer que, onde 
quer que se estabeleçam e/ou se mantenham contatos entre pessoas, poderá 
 
24 
 
ou não estar presente aquela atitude que se denomina "relações humanas", 
fazendo alusão a um posicionamento do psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky: 
“nos tornamos nós mesmos através dos outros” ou ainda “eu sou uma relação 
social de mim comigo mesmo”. 
6.2 Características essenciais dos grupos sociais 
Nos grupos, há duas ou mais pessoas, entre as quais existe interação, 
isto é, reconhecem-se relações a serem consideradas conjuntamente. A 
associação possui uma identidade objetiva, própria, distinta dos seus membros, 
cônscios, por sua vez, dessa circunstância. A individualidade objetiva do grupo 
manifesta-se pelos caracteres a seguir relacionados: 
a) Presença específica do todo, ao lado das personalidades 
particulares dos seus componentes; 
b) Percepção da unidade com base em quatro elementos: 
b.1) Consciência da unidade grupal por parte de cada um dos seus 
membros e da distinção do agregado frente a outros; 
b.2) Unidade coordenada ou coincidente de conduta dos seus membros, 
em vista de fins próprios do grupo; 
b.3) Uma estrutura de papéis e “status” reciprocamente relacionados no 
seu interior, embora inexistente nos chamados grupos amorfos (por exemplo, as 
classes sociais); 
b.4) Sentimento de responsabilidade solidária, por parte dos indivíduos 
nele inseridos; 
c) Autonomia do todo frente aos seus componentes, no que se relaciona 
com modificações em sua estrutura, e à sua duração, desvinculada, em geral, 
da permanência dos integrantes; 
d) Formas de conduta objetiva – usos, convenções ou normas – impostas 
aos respectivos membros. 
As noções de interação, representação, identidade, intersubjetividade, 
razão dialógica, movimentos e racionalidade comunicativa complementam 
outras peculiaridades relativas aos grupos sociais, tais como: 
 Pluralidade de indivíduos: precisa haver mais de uma pessoa; 
 
25 
 
 Interação social: os membros do grupo interagem entre si; 
 Organização: precisa haver uma certa ordem no grupo; 
 Objetividade e exterioridade: o grupo está acima do indivíduo; 
 Exterioridade: significa que a existência de um indivíduo não depende 
de sua participação no grupo; 
 Objetivo comum: há certos valores, princípios e objetivos que unem os 
membros do grupo; 
 Consciênciagrupal: pensamentos, ideias e sentimentos são 
compartilhados pelos membros do grupo; 
 Continuidade: as interações entre os membros do grupo precisam ser 
duradouras, como ocorre em famílias, numa escola, numa instituição 
religiosa etc. 
6.3 A sociabilidade humana 
O objeto das ciências históricas é constituído pelas ações humanas de 
todos os lugares e de todos os tempos, na medida em que tiveram ou ainda têm 
importância ou influência na existência e na estrutura de um grupo humano e, 
implicitamente por meio deles, uma importância ou uma influência na existência 
e na estrutura da comunidade humana presente ou futura. 
A socialização (efeito de ser tornar social) está relacionada com a 
assimilação de hábitos culturais, bem como ao aprendizado social dos sujeitos, 
isso porque é por meio dela que os indivíduos aprendem e interiorizam as regras 
e valores de determinada sociedade. 
Socializar é fundamental para a construção das sociedades em diversos 
espaços. Por meio desse processo, os indivíduos interagem e se integram por 
meio da comunicação, ao mesmo tempo em que constroem a sociedade, 
contudo, os processos de socialização da antiguidade e da atualidade são bem 
distintos, o que decorre da evolução dos meios de comunicação e do avanço 
tecnológico e podem estar classificados em dois tipos: 
 
26 
 
6.4 Socialização Primária 
Como o próprio nome já indica, esse tipo de socialização ocorre na infância 
e se desenvolve no meio familiar. Aqui, a criança tem contato com a linguagem 
e vai compreendendo as relações sociais primárias e os seres sociais que a 
compõem. Além disso, é nesse estágio em que são interiorizados normas e 
valores. A família, entretanto, torna-se a instituição social mais fundamental 
desse momento. 
6.5 Socialização Secundária 
O indivíduo já socializado primariamente vai interagindo e adquirindo 
papéis sociais determinados pelas relações sociais desenvolvidas, bem como a 
sociedade em que está inserido. Se por acaso o sujeito social teve uma 
socialização primária afetada, isso poderá gerar diversos problemas na sua vida 
social, uma vez que o primeiro momento de socialização é essencial na 
construção do caráter do indivíduo. 
Nessa situação, as primeiras teorias sociológicas surgiram em meados do 
século XIX, na Europa, voltadas para o problema das relações dos indivíduos 
entre si e com a sociedade; esse problema tornou-se o foco central dos primeiros 
estudos realizados. Com a eclosão dos conflitos e das transformações 
provocadas pelas revoluções sociais, surge o positivismo que se caracterizou 
como uma nova forma de pensar, cujo foco era organizar e reestruturar a 
sociedade buscando manter a nova ordem capitalista. 
O precursor moderno da Sociologia, Saint-Simon, viveu no momento em 
que eclodiu a Revolução Francesa as transformações políticas que aconteceram 
com o fim do feudalismo e a ascensão da burguesia; com isso o surgimento de 
um sistema, denominado sistema industrial, determinou fim definitivo ao antigo 
regime feudal. O sistema industrial era fundamentado no esclarecimento 
motivado pela razão científica e de acordo com Saint-Simon a sociedade 
industrial transformaria a natureza de forma ordeira e pacifica, de modo que os 
resultados obtidos pudessem assegurar a todos os seus membros a total 
satisfação de suas necessidades materiais e espirituais. 
 
27 
 
O segundo estado foi definido como metafísico, seria o ela intermediário 
entre os três estados, onde a explicação da sociedade não passaria apenas pela 
fundamentação na iniciativa divina: Deus não seria mais o regente absoluto da 
vida social, e sim uma essência onipresente a ela. E o terceiro estado seria o 
positivismo e encontraria sua expressão na sociedade capitalista moderna, onde 
o homem partia de uma concepção antropocêntrica e se colocaria na condição 
de regente da vida social. Dessa forma, o espírito positivo forneceria os preceitos 
fundamentais para a concepção de uma unidade para a nova ordem assentada 
definitivamente na razão. 
O conjunto de crenças e sentimentos comuns à média dos membros de 
uma mesma sociedade forma um sistema determinado, que tem sua vida 
própria; pode-se chamá-lo de consciência coletiva ou comum. Sem dúvida, ela 
não tem por substrato um órgão único; ela está, por definição, difusa em toda 
extensão da sociedade. 
[...]. Com efeito, ela é independente das condições particulares onde 
os indivíduos se encontram; eles passam e ela continua. [...]. Ela é o 
tipo psíquico da sociedade, tipo que tem suas propriedades, suas 
condições de existência, seu modo de desenvolvimento, assim como 
os tipos individuais ainda que de outra maneira. [...]. As funções 
jurídicas, governamentais, científicas, industriais, em uma palavra, 
todas as funções especiais são de ordem psíquica, uma vez que elas 
consistem em sistemas de representações e de ações: contudo elas 
estão evidentemente fora da consciência comum. (DURKHEIM, 1893, 
apud OLIVEIRA, 2012, p. 72). 
O processo de socialização é desencadeado por meio da complexa rede 
de relações sociais estabelecidas entre os indivíduos durante a vida. Assim, 
desde criança os seres humanos vão se socializando mediante as normas, 
valores e hábitos dos grupos sociais que o envolvem. Observa-se que nesse 
processo, todos os sujeitos sociais sofrem influências comportamentais. 
Importante notar que existem diferentes processos de socialização de acordo 
com a sociedade em que estamos inseridos. 
 Para o sociólogo brasileiro Gilberto Freire, a socialização pode ser 
definida da seguinte maneira: “É a condição do indivíduo (biológico) 
desenvolvido, dentro da organização social e da cultura, em pessoa ou homem 
 
28 
 
social, pela aquisição de status ou situação, desenvolvidos como membro de um 
grupo ou de vários grupos”. 
Qualquer que seja a classe social e a realidade, os processos de 
socialização são muito diversos; tanto podem ocorrer entre pessoas que vivem 
numa favela como entre os burgueses que habitam a zona sul de São Paulo, por 
exemplo, isto é, seja qual for a cor, a etnia, a classe social, todos os seres 
humanos desde cedo estão em constante processo de socialização, seja na 
escola, na igreja, na faculdade ou no trabalho. 
Alguns fatores podem afetar esse processo, tal como um local marcado 
por guerras. As consequências dos processos de socialização geralmente são 
positivas e resultam na evolução da sociedade e dos indivíduos. Por outro lado, 
as pessoas que não se socializam podem apresentar muitos problemas 
psicológicos, determinados, por exemplo, pelo isolamento social: 
O ser humano, na sua vivência em sociedade vê-se envolto numa teia 
de procedimentos aos quais está adstrito, sejam estes de cariz moral, 
social, religioso ou jurídico (BOBBIO,1960 apud LOURINHO,2011,p.3). 
Conforme estudos de Darwin em “A Teoria da Evolução”, que mostra 
como as espécies se desenvolvem, a base da Teoria, evidencia a seleção natural 
das espécies, explicando como estruturas simples se tornaram seres complexos 
ao longo de milhões de anos, enfrentando os desafios da sobrevivência. 
Contudo, qualquer sociedade está permeada por uma normatividade implícita 
que varia de época para época, de sociedade para sociedade, no qual, a análise 
histórica perfaz esse conhecimento. 
Ao ofertar uma resposta à interligação que é feita em volta de todo esse 
poder da norma, essa força vinculante que obriga, com mais ou menos 
coercitividade, seja este apanágio do Estado enquanto regente da civilização ou 
do meio religioso, moral ou do mero trato social que vincula, muito embora de 
forma distinta, um amplo debate se forma ao redor da filosofia, da religião e da 
ciência, que entram em cena para construir diferentes concepções sobre a 
existência da vida humana, há o entendimento de que sem sociedade não existe 
o indivíduo e sem o indivíduo não existe sociedade. 
Sendo assim, o fenômeno da “socialização”,tradicionalmente definido 
como “aprender a conviver com as pessoas”, nunca mereceu o status teórico 
 
29 
 
que tem sido atribuído a temas como cognição, memória e linguagem, no âmbito 
da perspectiva histórico-cultural. 
Pesquisas sobre o desenvolvimento das funções mentais superiores 
(memória, linguagem, etc.) têm recebido atenção privilegiada desde Vygotsky, e 
isto certamente se justifica quando se analisa a questão sob uma perspectiva 
histórico-cultural do desenvolvimento da própria abordagem. 
 ...o conceito de “socialização” manteve-se por muito tempo restrito à 
aprendizagem da convivência social, e a maciça maioria de estudos 
sobre o tema ainda hoje se dá com base em perspectivas tradicionais, 
como a aprendizagem social e o construtivismo piagetiano (COLE, 
2004 apud BRANCO, 2006, p.141). 
Por este ângulo, são três aspectos centrais a serem observados nos 
processos de civilização e de formação de grupos sociais, por exemplo, se algo 
deixa de ser um hábitus numa sociedade, é evidência de que, tanto mecanismos 
de controle social quanto de autocontrole — as restrições de fortes emoções 
espontâneas em público e a aversão pessoal a estas práticas —, estão atuando 
no estabelecimento de novos comportamentos e relações, assim configurando 
novos grupos sociais e alterando as relações de poder nas configurações. 
Estes três aspectos são relativos aos indivíduos situados num grupo 
social, ou ainda, num grupo nacional, passando a não existir civilização sem 
indivíduos que configurem grupos e sociedades. 
Para tanto, é relevante a passagem do controle social ao autocontrole. 
Essa passagem é o processo da exteriorização à interiorização. O indivíduo 
interioriza as paixões, emoções, regulações e representações produzidas nas 
relações sociais e em suas atividades mentais, e depois as exterioriza através 
de comportamentos, “hábitus” e relações de poder. Assim, pensamento e ação 
estão interligados no plano individual em função do social que, dirige o individual 
(e vice-versa) para um certo limiar de controle exigido e aceito pelos demais 
indivíduos em sociedade. 
Há atribuição de representações por parte de indivíduos/grupos para que 
outros indivíduos se reconheçam ao reconhecimento dos outros, desenvolvendo 
uma atividade mental denominada economia psíquica. Essa atividade é um 
 
30 
 
importante instrumento de percepção das representações empregadas a uma 
pessoa porque permite observar e encontrar seus semelhantes. 
Quanto à existência humana, alguns creem no criacionismo, já outros 
buscam as respostas na evolução das espécies e outros em seres de outros 
planetas, entre outras teorias, respectivamente. 
A teoria criacionista a partir de conceitos judaico-cristãos que se 
encontram na Bíblia. De religião em religião, todas acreditam que seu “deus” 
tenha criado a tudo e a todos. Para os que acreditam no criacionismo, portanto, 
os seres humanos são diferentes das demais criaturas por terem sentimentos, 
vontade, inteligência, moral, etc. 
A teoria evolucionista baseia-se nos estudos do cientista inglês Charles 
Darwin, que propôs o evolucionismo em um de seus livros, “A Origem das 
Espécies”. 
Esta tese teve forte impacto na sociedade cristã do século XIX. Duramente 
criticado pelos religiosos, Darwin continuou suas pesquisas e dentre os aspectos 
explorados por ele constam: 
 Que o processo de evolução das espécies é gradual e contínuo; 
 Que todos os seres vivos descendem, em última instância, de um 
ancestral comum; 
 Que o mecanismo pelo qual os seres vivos mudam e evoluem é a seleção 
natural: os indivíduos mais adaptados ao meio ambiente conseguem 
melhores resultados na luta pela sobrevivência. 
De acordo com Darwin, todos os seres vivos tiveram sua evolução a partir 
de um ancestral comum, no qual, as mudanças ocorridas e as diferenças entre 
as espécies deram-se pelo processo de seleção natural, no qual os indivíduos 
que melhor se adaptam ao meio ambiente sobrevivem, deixando descendentes, 
que por sua vez também sofrem alterações em seu mecanismo biológico e 
deixam novos descendentes formando um círculo vicioso. 
Estudiosos e defensores da teoria evolucionista pregam que, em dado 
momento da evolução, os seres humanos e os macacos tiveram um ancestral 
em comum. Deste ancestral evoluíram dois grupos diferentes: um deles gerou o 
macaco e o outro gerou os seres humanos. 
 
Organização dos grupos sociais 
 
31 
 
Ao longo da história, conforme visto, os grupos sociais foram percebidos 
como uma expressão concreta de diferentes formas de vida: 
 A família: da vida doméstica; 
 Os agrupamentos profissionais: da econômica; 
 Os Estados: para a cívica; 
 A Organização das Nações Unidas: da internacional; e, 
 As igrejas: correspondente à espiritual. 
Dentre as diversas classificações dos grupos, destaca-se a do sociólogo 
Cooley, cuja proposta divide os grupos em “primários” e “secundários” e, por 
outro lado, afirma que a ausência de tal fenômeno demarca o que chamou de 
“desorganização social. Por conseguinte, de acordo com sua estrutura, 
distingue-os entre primários ou “microgrupos”, secundários ou “macro grupos” e 
intermediários, destacando-os em grupo familiar, grupo vicinal, grupo educativo, 
grupo religioso, grupo de lazer, grupo profissional e grupo político. 
6.6 Grupos primários 
São formados por grupos pequenos, também denominados microgrupos 
sendo estabelecidos por meio de relações duradouras e íntimas. Em tais grupos, 
os integrantes convivem diretamente, sem a mediação de terceiros e são 
fundamentais para o desenvolvimento da personalidade e da manutenção das 
ideias sociais. 
O relacionamento é de caráter pessoal e o contato direto entre os homens, 
permite identificação com os demais, na qualidade de pessoas, a partir das 
experiências vividas e imediatas com os outros. Em razão disso, a proximidade 
humana aí encontrável serve para formar nos homens nela situados o sentido 
de humanidade, ideada a partir da autêntica compreensão do valor e da 
dignidade de cada qual, tendo nas amizades, nas vizinhanças e na família a sua 
maior expressão. 
 
32 
 
6.7 Grupos secundários 
São grupos ordenados de forma racional, com objetivos utilitários, donde 
o relacionamento é de caráter impessoal. Aqui prepondera o vínculo do puro 
interesse, ao invés dos laços afetivos dos microgrupos. 
Os grupos secundários, entretanto, possuem grandes dimensões e são 
mais organizados, os quais envolvem relacionamentos de menor contato, mais 
formais e institucionais, porém dispõem dos mesmos interesses e objetivos, por 
exemplo, os grupos formados nas igrejas, nos partidos políticos, dentre outros. 
6.8 Grupos intermediários 
São aqueles em que se complementam as duas formas de contatos 
sociais, ou seja, os primários e os secundários. Nesse tipo de configuração há 
existência de contatos maiores e menores. 
Do ponto de vista das Ciências Sociais, o indivíduo é parte formadora de 
uma sociedade; esta, por sua vez, é constituída a partir do conjunto de todas as 
relações sociais que os indivíduos mantêm entre si. Os grupos intermediários 
podem ocorrer no ambiente escolar, por exemplo, donde desenvolvem-se 
relações mais íntimas e relacionamentos de menor contato. 
7 OS GRUPOS SOCIAIS NA PERSPECTIVA DA ANTROPOLOGIA 
 
Fonte: cultura.culturamix.com 
 
33 
 
Conforme visto, a vida em sociedade permite ao homem crescimento 
social, político, cientifico e cultural, mas modula a forma de sua necessidade. 
Com o início da época moderna (Descartes, Espinoza), a pesquisa antropológica 
abandona a impostação cosmocêntrica dos filósofos gregos e a teocêntrica dos 
autores cristãos para enveredar pela antropocêntrica: o homem como ponto de 
partida da pesquisa filosófica. 
A Filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca 
encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou ideias 
obtidos por procedimentosde demonstração e prova, exigindo a fundamentação 
racional do que é enunciado e pensado. 
Não se trata de dizer “eu acho que”, mas de poder afirmar “eu penso que”. 
Logo, o conhecimento filosófico é um trabalho intelectual e sendo sistemático, 
não se contenta em obter respostas para as questões colocadas, mas exige que 
as próprias questões sejam válidas e, em segundo lugar, que as respostas sejam 
verdadeiras, estejam relacionadas entre si, esclareçam umas às outras, formem 
conjuntos coerentes de ideias e significações, sejam provadas e demonstradas 
racionalmente. 
Mediante uma análise ampla e refletida, examina o fenômeno “homem” 
sob os pontos de vista mais importantes, procurando ver antes de mais nada o 
que ele é: corporeidade, cultura, trabalho, jogo, religião. Somente depois dessa 
ampla fenomenologia das aparências é que ele procura decifrar e explicar o 
sentido profundo e completo do homem. Dessa forma, é pertinente dizer que a 
antropologia se ocupa da dimensão integral do homem, cuja análise abarca sua 
dimensão cultural e biológica: o homem nunca parou de interrogar-se sobre si 
mesmo. Em todas as sociedades existiram homens que observaram homens. 
A reflexão do homem sobre o homem e sua sociedade, e a elaboração de 
um saber são, portanto, tão antigos quanto a humanidade, e se dera tanto na 
Ásia como na África, na América, na Oceania ou na Europa, mas, o projeto de 
fundar uma ciência do homem – uma antropologia- é, ao contrário, muito recente. 
 De fato, apenas no final do século XVIII é que começa a se constituir um 
saber científico (ou pretensamente científico) que toma o homem como objeto 
de conhecimento, e não mais a natureza; apenas nessa época é que o espírito 
científico pensa, pela primeira vez, em aplicar ao próprio homem os métodos até 
então utilizados na área física ou da biologia. 
 
34 
 
[...]. As sociedades estudadas pelos primeiros antropólogos são 
sociedades longínquas às quais são atribuídas as seguintes 
características: sociedades de dimensões restritas; que tiveram 
poucos contatos com os grupos vizinhos; cuja tecnologia é pouco 
desenvolvida em relação à nossa; e nas quais há uma menor 
especialização das atividades e funções sociais. São também 
qualificadas de “simples”; em consequência, elas irão permitir a 
compreensão, como numa situação de laboratório, da organização 
“complexa “de nossas próprias sociedades (LAPLANTINE, 2003, apud 
CUNHA, 2011, p.11). 
7.1 O estudo do homem inteiro 
Só pode ser considerada como antropológica uma abordagem integrativa 
que objetive levar em consideração as múltiplas dimensões do ser humano em 
sociedade. Certamente, os acúmulos dos dados colhidos a partir de observações 
diretas, bem como o aperfeiçoamento das técnicas de investigação, conduzem 
necessariamente uma especialização do saber. 
Porém, uma das vocações maiores de nossa abordagem consiste em não 
parcelar o homem, mas, ao contrário, em tentar relacionar campos de 
investigação frequentemente separados. Ora, existem cinco áreas principais da 
antropologia, que nenhum pesquisador pode, evidentemente, dominar hoje em 
dia, mas às quais ele deve estar sensibilizado quando trabalha de forma 
profissional em algumas delas, dado que essas cinco áreas mantêm relações 
estreitas entre si. 
7.2 A antropologia biológica 
Consiste no estudo das variações dos caracteres biológicos do homem no 
espaço e no tempo. [...]. Assim, o antropólogo biologista levará em consideração 
os fatores culturais que influenciaram o crescimento e a maturação do indivíduo. 
Ele se perguntará, por exemplo: por que o desenvolvimento psicomotor da 
criança africana é mais adiantado do que o da criança europeia? 
 Essa parte da antropologia, longe de consistir apenas no estudo das 
formas de crânios, mensurações do esqueleto, tamanho, peso, cor da pele, 
 
35 
 
anatomia comparada das raças e dos sexos, interessa-se em especial - desde 
os anos 50 - pela genética das populações, que permite discernir o que diz 
respeito ao inato e ao adquirido, sendo que um e outro estão interagindo 
continuamente. Ela tem, a meu ver, um papel particularmente importante a 
exercer para que não sejam rompidas as relações entre as pesquisas das 
ciências da vida e das ciências humanas. 
7.3 A antropologia pré-histórica 
É o estudo do homem através dos vestígios materiais enterrados no solo 
(ossadas, mas também quaisquer marcas da atividade humana). Seu projeto, 
que se liga à arqueologia, visa reconstituir as sociedades desaparecidas, tanto 
em suas técnicas e organizações sociais, quanto em suas produções culturais e 
artísticas. [...] O especialista em pré-história recolhe, pessoalmente, objetos do 
solo. Ele realiza um trabalho de campo, como o realizado na antropologia social 
na qual se beneficia de depoimentos vivos. 
7.4 Antropologia linguística 
A linguagem é, com toda evidência, parte do patrimônio cultural de uma 
sociedade. É através dela que os indivíduos que compõem uma sociedade se 
expressam e expressam seus valores, suas preocupações, seus pensamentos. 
 Apenas o estudo da língua permite compreender: o como os homens 
pensam o que vivem e o que sentem, isto é, suas categorias psicoafetivas e 
psicocognitiva; o como eles expressam o universo e o social (estudo da literatura, 
não apenas escrita, mas também de tradição oral); o como, finalmente, eles 
interpretam seus próprios “saber-fazer” (área das chamadas etnociências). [...]. 
Ela se interessa também pelas imensas áreas abertas pelas novas técnicas 
modernas de comunicação (mass media e cultura do audiovisual). 
7.5 A antropologia psicológica 
Consiste no estudo dos processos e do funcionamento do psiquismo 
humano. De fato, o antropólogo é em primeira instância confrontado não a 
 
36 
 
conjuntos sociais, e sim a indivíduos. Ou seja, somente através dos 
comportamentos – conscientes e inconscientes - dos seres humanos 
particulares podemos apreender essa totalidade sem a qual não é antropologia. 
É a razão pela qual a dimensão psicológica (e também psicopatológica) é 
absolutamente indissociável do campo do qual procuramos aqui dar conta. Ela 
é parte integrante dele. 
7.6 A antropologia social e cultural (ou etnologia) 
 Toda vez que utilizarmos a partir de agora o termo “antropologia” mais 
genericamente, estaremos nos referindo à antropologia social e cultural (ou 
etnologia), mas procuraremos nunca esquecer que ela é apenas um dos 
aspectos da antropologia. Um dos aspectos cuja abrangência é considerável, já 
que diz respeito a tudo que constitui uma sociedade: seus modos de produção 
econômica, suas técnicas, sua organização política e jurídica, seus sistemas de 
parentesco, seus sistemas de conhecimento, suas crenças religiosas, sua 
língua, sua psicologia, suas criações artísticas. 
 Isso posto, esclareçamos desde já que a antropologia consiste menos no 
levantamento sistemático desses aspectos do que em mostrar a maneira 
particular com a qual estão relacionados entre si e através da qual aparece a 
especificidade de uma sociedade. 
No mundo atual onde os problemas étnicos reaparecem e no qual a 
demanda pelo reconhecimento das diferenças, sejam elas políticas, sociais, 
culturais ou de gênero encontra-se na ordem do dia, a Antropologia Social tem 
dado contribuições importantes em seu esforço para um melhor entendimento 
das relações humanas. Este campo de saber com sua diversidade, riqueza e 
heterogeneidade, contribui com um novo olhar sobre a experiência humana no 
tempo e no espaço. 
Pois vive-se num mundo de fenômenos desprovidos de conteúdo social, 
que se originam das condições hostis que invadem a sociedade, dos perigos e 
incertezas que nos cercam, da ênfase colocada no indivíduo, onde o outro torna-
se o nosso inimigo imediato. No individualismo moderno, a impessoalidade 
converteu-se em indiferença e pouco a pouco, desaprendemos a gostar de 
gente. Daí que, a Antropologia Social,nos ensina que este outro, muito antes de 
 
37 
 
constituir-se numa ameaça, é alguém que devemos conhecer e respeitar como 
uma parte de nós mesmos, companheiro e cúmplice da fascinante jornada que 
empreendemos na universalidade da dimensão que nos "torna" humanos. Em 
síntese, a Antropologia é uma chave para a compreensão do homem, dado que, 
uma das maneiras mais proveitosas de se dar a conhecer é traçar-lhe a história, 
mostrando como foi variando o seu colorido através dos tempos e como deitou 
ramificações novas que alteraram seu tema de base ampliando-o. 
8 OS GRUPOS SOCIAIS NA PERSPECTIVA DA SOCIOLOGIA 
 
Fonte: larousse.fr 
A atitude filosófica dirigiu-se a indagações referentes ao mundo e às 
relações que os seres humanos mantêm com ele. Pouco a pouco, porém, 
descobriu-se que essas questões se referem, afinal, à capacidade humana de 
conhecer ou pensar. Por isso, as perguntas da Filosofia se dirigiram ao próprio 
pensamento: o que é pensar, como é pensar, por que há o pensar? - trazendo 
à memória a famosa escultura Le Penseur do francês Auguste Rodin. 
Ainda assim, a Filosofia tornou-se o pensamento interrogando-se a si 
mesmo. No entanto, existencialidades e estruturalistas, marxistas e tomistas, 
evolucionistas e espiritualistas, ateus e cristãos, todos são concordes em atribuir 
uma importância fundamental ao estudo do homem. Já a Sociologia surgiu em 
meados do século XIX, quando já havia ocorrido a Revolução Burguesa na 
 
38 
 
Inglaterra no século XVII e iniciado a Revolução Francesa, no final do século 
XVIII, em 1789, apresentado como um termo híbrido formado a partir de duas 
línguas: do latim socio com ideia de social, e do grego logos (razão), que exprime 
a ideia de “palavra” ou “estudo”; significando, portanto, “estudo do social” ou 
“estudo da sociedade”. 
Estes dois movimentos revolucionários implantaram o processo liberal 
que deu sustentação ao desenvolvimento do modo de produção capitalista e ao 
Estado Burguês no mundo ocidental, desenvolvendo e consolidando-se, no 
decorrer do tempo subsequente, no qual o capitalismo assegurou as condições 
de produção e reprodução do Mundo Moderno. 
8.1 Capitalismo 
A maior parte das criações do intelecto ou da imaginação desaparecem 
para sempre em um prazo que varia entre de uma hora a uma geração. No 
entanto, algumas não desaparecem. Pode ser que sofram eclipses, mas 
retornam, e retornam não como elementos irreconhecíveis de uma herança 
cultural, mas com a sua roupagem individual, com as suas cicatrizes pessoais 
que se podem ver e tocar. Essas, perfeitamente pode-se chamar de grandes. 
Tomada nesse sentido, essa é, sem dúvida, a palavra que aplica à mensagem 
de Marx. 
Nas sociedades pré-capitalistas, o trabalho e a venda de produtos eram 
formas de satisfazer as necessidades de sobrevivência, isto é, o trabalho não 
era realizado como forma de obter lucros. Com a Primeira Revolução Científica 
e Tecnológica surge a forma de trabalho assalariado, em que o trabalhador 
participa do modo de produção apenas com sua força de trabalho. 
O trabalho passa a ser visto como uma forma de gerar riquezas para 
alguns (os proprietários), que não fazem nada a não ser que tenham a certeza 
do lucro. Surge então, no século XV, o que se denomina capitalismo 
(acumulação do capital para gerar riquezas); na passagem da Idade Média para 
a Idade Moderna, partindo da decadência do sistema feudal e do nascimento de 
uma nova classe social, a burguesia. 
 
39 
 
8.2 Neoliberalismo 
Os neoliberais (organizadores dos modos de produção) sustentam que os 
países periféricos (subdesenvolvidos), que têm dívidas enormes com os bancos 
internacionais, perderam a capacidade de governar e, sob esse argumento, 
passaram a definir as reformas e ajustes econômicos nos países pobres. 
A implantação das políticas neoliberais foi facilitada pelos avanços 
tecnológicos que romperam fronteiras e tornaram as transações financeiras 
internacionais mais ágeis. Outro fenômeno de transformação nos modos de 
produção e difusão dos ideais neoliberais foi a globalização, que trouxe como 
consequência a criação de empresas gigantescas e poderosas que se 
implantaram em diversas partes do mundo, principalmente nos países pobres 
em busca de matéria-prima e mão de obra barata. 
“O neoliberalismo configura-se como uma reação mundial a crise 
econômica iniciada após a Segunda Guerra Mundial, o que exigiu uma 
reestruturação do capital para a retomada do ciclo de produção. Essa 
ideologia propõe o afastamento da intervenção do Estado no mercado 
econômico e político e tem como principais caraterísticas os conceitos 
de individualismo, de liberdade e de propriedade (LIMA, 2007 apud 
PARONETO, 2016, p. 76). 
O individualismo, a liberdade e a propriedade que o neoliberalismo 
apregoa desconsideram que as origens das desigualdades sociais são de ordem 
política e econômica; não são naturais. Sabemos bem que, sobretudo nos países 
subdesenvolvidos, as pessoas não têm as mesmas oportunidades e condições 
para se integrarem em uma sociedade que é historicamente marcada pela 
exclusão dos menos favorecidos. 
Por isso podemos dizer que avanços tecnológicos, políticas neoliberais e 
globalização são fenômenos interligados que vão produzir profundas 
modificações no contexto político, social e econômico no mundo atual. Mas afinal 
o que é globalização? 
 
40 
 
8.3 Globalização 
Em contextos amplos, percebemos os efeitos da globalização quando 
gostos, preferências, hábitos e costumes são modificados e passam a ser 
incorporados na vida das pessoas. O ponto central da globalização acaba sendo 
a manutenção de condições que visam o capital e o lucro para os países 
desenvolvidos, deixando os países e populações mais pobres à margem desse 
processo. Essa percepção a respeito da globalização, com críticas e 
constatações sobre a exclusão social e seus efeitos massificadores, tem sido 
comentada por estudiosos e se revela igualmente em inúmeras oportunidades, 
inclusive no meio artístico. 
As teses que consideram que a globalização implica espaços homogêneos 
e um mundo “sem fronteiras” são as que supõem que as informações, 
conhecimentos e tecnologias são simples mercadorias, passíveis de serem 
“transferidas” sob a mediação dos mercados via mecanismos de preço. Nestas 
análises, credita-se aos avanços nas tecnologias de informação e comunicação 
a possibilidade de realização conjunta e de coordenação de atividades de 
pesquisa e desenvolvimento por participantes localizados em diferentes países 
do mundo, permitindo tanto a integração das mesmas em escala mundial, como 
a difusão rápida e eficiente das tecnologias e conhecimentos gerados. 
Por um lado, porque tais avanços supostamente possibilitam uma mais 
fácil, barata e, portanto, intensa transferência dessas informações e 
conhecimentos. Por outro lado, porque as difusões das novas tecnologias viriam 
permitir e promover a intensificação das possibilidades de codificação dos 
conhecimentos, aproximando-os de uma mercadoria passível de ser apropriada, 
armazenada, memorizada, transacionada e transferida, além de poder ser 
reutilizada, reproduzida e licenciada ou vendida indefinidamente e a custos 
crescentemente mais reduzidos. 
O entendimento do conceito e das implicações do fenômeno da 
globalização constitui um ponto de partida na análise das especificidades da Era 
do Conhecimento. A primeira constatação é a inconsistência conceitual e o forte 
conteúdo ideológico com que o termo foi moldado. 
Na percepção dominante, estaríamos caminhando para um mundo sem 
fronteiras com mercados (de capitais, informações, tecnologias, bens, serviços 
 
41 
 
etc.) tornando-se efetivamente globalizados e para um sistema econômico 
mundial dominado por “forças de mercado incontroláveis”, sendo seus principais 
atores as grandes corporações transnacionais socialmente sem raízes e sem 
lealdade com qualquer

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