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Os fundamentos do currículo – 
desenvolvimento, cultura, escolarização e educação
Marcos Cordiolli
Humanização, cultura e desenvolvimento – 
a humanidade como seres com necessidades
O s seres humanos por não serem autossuficientes, estabelecem relações entre si e com a na-tureza para satisfazerem as suas necessidades.[...] para viver, é preciso antes de tudo comer, beber, ter habitação, vestir-se e alguma coisa mais. O primeiro 
ato histórico é, portanto, a produção dos meios que permitam a satisfação dessas necessidades, a produção da 
própria vida material; e de fato este é um ato histórico, uma condição fundamental de toda a história, que ainda 
hoje, como há milhares de anos, deve ser cumprido todos os dias e todas as horas, simplesmente para manter os 
homens vivos. (MARX & ENGELS, 1989, p. 39)
As ações materiais e culturais para satisfação das necessidades dos seres humanos provo-
cam o surgimento de novas necessidades, pois “[...] satisfeita esta primeira necessidade, a ação de 
satisfazê-la e o instrumento de satisfação já adquirido conduzem a novas necessidades” (MARX & 
ENGELS, 1989, p. 40).
Os seres humanos possuem a distinta faculdade de criar, recriar e desenvolver necessidades, 
enquanto que, para os demais animais, as necessidades estão determinadas, de maneira geral, por 
fatores genéticos e biológicos. Mas, os seres humanos podem constituir diferentes necessidades em 
função de determinações sociais, de classe, de cultura, de tempo e de espaço, como o de uma bebida 
requintada, um automóvel, um aparelho eletrônico ou uma peça de vestuário.
 Teleologia e objetivação – as diferentes atividades humanas (físicas e mentais) possuem 
sentido/finalidade, intenção preconcebida, que se organiza com objetivo/alvo determinado, 
ou seja, com teleologia, com finalidades e intenções preconcebidas, e dessa maneira, são 
objetivações. As ações humanas expressam-se em modificações – a produção implica em 
modificação (de algo) e não apenas “a criação de algo do nada” – e quem trabalha também 
se modifica em contato com o que deseja, planeja, pensa e aprende com o outro. Tudo que é 
produzido/objetivado implica em teleologia e sempre modifica o ser humano. 
 Subjetivação – os seres humanos, em suas atividades, são levados a dispor de seu cérebro, 
mentalizando as suas ações (planejando-as, organizando-as, avaliando-as) desenvolvendo 
a capacidade de compreender e explicar a realidade. Ao agir sobre a natureza os seres 
humanos desenvolveram (e desenvolvem) as suas capacidades mentais que permitem am-
pliar a capacidade de intervenção sobre a natureza. Os seres humanos preconcebem a 
imagem mental de tudo que planejam executar, e toda atividade humana é um processo de 
mentalização e, portanto, de subjetivação. Assim, amplia-se a capacidade de pensamento 
e criação, que permite as diferentes manifestações da cultura e do real e as possibilidades 
de criar, recriar e desmontar o real e o simbólico.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
Os fundamentos do currículo – desenvolvimento, cultura, escolarização e educação
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 Linguagens e signos – as ações humanas e suas relações, mesmo as mais 
simples, contam com a experiência acumulada e são dotadas de signifi-
cado. O mundo humano é carregado de significados e todas as objetiva-
ções demandam um sistema simbólico específico – conjuntos de signos 
e linguagens articuladas que operam com repertórios finitos/limitados 
de recursos fonéticos e simbólicos, possibilitando infinitas combinações 
fônicas e semânticas.
 Tecnologia – as ações humanas, para satisfazer as suas necessidades, 
implicam na produção de tecnologia constituindo tanto os instrumentos 
como os saberes e técnicas. O trabalho humano, nesse sentido, é uma ob-
jetivação privilegiada, pois quando essa é material, produz instrumentos 
e, quando simbólica, produz conhecimentos.
 Ação coletiva – os seres humanos, para satisfazer as suas necessidades, 
consti tuem novas mediações com a natureza e nas relações entre si, pois 
requerem a associação de indivíduos para uma ação coletiva, como o 
plantio, a pesca, a pecuária etc. A humanização do ser humano vai além 
da mediação de sua relação com a natureza por meio dos saberes, téc-
nicas e instrumentos e expressa-se na ampliação da vida cultural pela 
ação coletiva, socialização e interação, gerando os padrões de família e 
parentesco e de comunidade, sociedade e civilização.
 Socialização dos saberes e experiências – a vida em sociedade cons-
titui também processos formativos, pois os seres humanos elaboram a 
sua humanização espelhando-se uns nos outros, adotando, portanto, os 
parâmetros culturais daqueles com os quais mantêm relações. A vida em 
sociedade possibilita a socialização dos saberes e das experiências acu-
muladas com aqueles que não sabem ou sabem de outra maneira (ou 
para os que não são experientes ou que possuem experiências distintas). 
A socialização da cultura humana ocorre por processo de interação em 
ambientes culturais – manifesta em ações educativas explícitas ou implí-
citas – formando as novas gerações da espécie, em toda a sua dimensão 
– valores; padrões de conduta e regras morais; linguagens e códigos; 
padrões cognitivos; tecnologias e saberes; padrões estéticos; hábitos e 
crenças – constituindo identidades, ou seja, formas determinadas de ver 
e sentir o mundo.
 Cultura – as relações sociais criam e recriam ambientes culturais nos 
quais os seres humanos relacionam-se e, portanto, produzem e reprodu-
zem novas relações sociais. É em sociedade que os seres humanos de-
senvolvem as atividades e exercem a sua criatividade e suas capacidades 
de imaginar/fantasiar o mundo. Mesmo que não produzam bens mate-
riais, as suas ideias, projetos, manifestações e relações, sendo formas 
culturais diversas, produzem cultura. Este ambiente de produção cultural 
é o espaço, que permite as condições potenciais para novas criações ou 
recriações, mas que impõe limites à práxis humana.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
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Os fundamentos do currículo – desenvolvimento, cultura, escolarização e educação
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 Desenvolvimento humano – para Vygotsky (1989), as ações humanas, 
dotadas de teleologia, representam a supremacia da cultura no processo 
em que os elementos da inteligência prática vão se revestindo de sig-
nos, isto é, de cultura. A “[…] atividade simbólica [constitui-se em] uma 
função organizadora específica que invade o processo do uso de instru-
mentos e produz formas fundamentalmente novas de comportamento” 
(VYGOTSKY, 1989, p. 27). Isso implica a ligação da filogênese com a 
ontogênese humana, pois o controle da natureza estabelece-se dialetica-
mente com o controle do comportamento, sendo que a intervenção do ser 
humano na natureza altera a sua própria natureza. Assim, o processo de 
internalização da real implica num processo interpessoal que se converte 
em processo intrapessoal ocorrendo numa longa série de eventos no pró-
prio processo de desenvolvimento. Nesse sentido, o comportamento, na 
sua forma cultural, implica na “reconstrução da atividade psicológica 
tendo como base as operações com signo” (VYGOTSKY, 1989, p. 65).
A educação e a formação
A formação humana é caracterizada pelos processos de socialização e inte-
ração que promovem a constituição da identidade dos seres humanos, a forma de 
ver e sentir o mundo, em sintonia com o seu ambiente cultural. Portanto, constitui 
os alicerces básicos para todas as atividades da vida humana, dotando os indiví-
duos de características fundamentais que constituem o seu caráter, mentalidade 
e cultura. A formação relaciona-se aos processos de constituição, reelaboração e 
ressignificação de valores e padrões de conduta, que ocorre fundamentalmente 
pela e na interação entre os seres humanos em suas vidas cotidianas.
A educação, por outro lado, é também característica cultural de nossa espé-
cie, com pelo menos duasfunções básicas: 
 de inserção das novas gerações na cultura da comunidade a que pertencem; 
 de socialização dos novos elementos culturais. 
A cultura humana expressa valores, padrões de conduta e regras morais, 
linguagens e códigos, padrões cognitivos, tecnologias e saberes, padrões esté-
ticos, hábitos e crenças. As constituições dos elementos culturais ocorrem pela 
interação nos grupos de convívio e pelas influências de instituições de formação 
humana com as quais os seres humanos convivem por toda a vida, como a família, 
a igreja, a escola, os grupos de convívio, associações várias, as mídias etc.
Os processos de ensino-aprendizagem constituem uma das dimensões da 
educação, incluindo-se entre os processos de socialização nos quais alguém que 
sabe mais se relaciona com outro que sabe menos ou sabe de forma diferente. 
Aquele – o que ensina – passa a ser o promotor do processo de aprendizagem ao 
orientar/organizar situações de reprodução, reflexão, transmissão ou produção de 
saberes. Os processos de ensino-aprendizagem, portanto, não ocorrem apenas em 
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instituições escolares, mas em todos os espaços sociais, no quais os seres huma-
nos interagem com a troca de saberes, tecnologias, habilidades, mitos etc.
A escolarização
A escolarização forma processo restrito entre as atividades culturais huma-
nas, sendo que só recentemente, há menos de um século, passou a ser frequentada 
por parcelas significativas da população. 
A instituição escolar é também um espaço de relação cultural entre diversas 
gerações, particularmente entre experientes e/ou com pouca experiência ou inex-
perientes, possibilitando os processos nos quais os seres humanos educam e são 
educados, incorporando e transformando a cultura de suas comunidades. 
A escola é fundamentalmente um processo institucionalizado, portanto com 
objetivação, e sistêmico, com espaços, tempos, regras e processos definidos. Como 
instituição social, caracteriza-se por efetivar processos organizados e dirigidos para 
o ensino-aprendizagem. A instituição escolar possui uma cultura própria que não 
se desvincula da sociedade na qual está inserida, mas que possui autonomia para 
promover mudanças dentro das possibi lidades e limites que dispõe. A escola, em 
suas particularidades, parece viver sempre na tensão que opõe: as possibilidades e 
desejos de se renovar e refazer, e o peso da tradição que também é sempre presente 
com intensa força em seu interior.
As heranças da cultura pedagógica brasileira
A cultura escolar brasileira é muito ampla e diversificada, tem importantes 
experiências e ampla variedade de modelos de práticas didáticas, mas padece de 
heranças pedagógicas tradicionais, que produziram o modelo de educação mas-
sificador e rotinizado. Este modelo que serviu para atender grande número de 
alunos e alunas utilizando-se dos mesmos instrumentos pedagógicos, ajudou a 
conceber as bases culturais conservadoras para a educação fundadamentada em: 
 concepções conservadoras de educação, oriunda dos sistemas europeus 
feudais e renascentistas, nos quais a educação escolar decorreria do do-
mínio de saberes enciclopedistas com base de suposta erudição;
 concepções instrumentais de escolarização, pois seriam supostamente 
essas habilidades mais imediatas requeridas pela organização social do 
trabalho capitalista, sendo que, no momento atual de reestruturação pro-
dutiva, incorpora algumas habilidades comportamentais, também de ca-
ráter procedimental; 
 concepções segmentadas de aprendizagem, acreditando que os proces-
sos e situações de aprendizagem e formação seriam individualizados e 
especificados. 
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Os fundamentos do currículo – desenvolvimento, cultura, escolarização e educação
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As propostas curriculares brasileiras, como resultado dessas concepções 
conservadoras, são extremamente homogêneas e tradicionais, com poucas ou raras 
variações, caracterizadas pela seriação, diretivismo, meritocracia, individualismo 
e massificação. Resistem a mudanças, encontrando apoio para a sua sobrevida em 
pensadores educacionais importantes, em grande parte dos professores e também 
nos pais dos estudantes, refletindo que a cultura pedagógica conservadora ainda 
está profundamente enraizada na população brasileira.
As experiências significativas fora do modelo hegemônico, embora restri-
tas, ocorreram na educação popular (a partir da década de 1950), nas pequenas 
escolas autodenominadas “alternativas” (a partir da década de 1980) e em redes 
públicas de educação (a partir dos anos 1990). 
A cultura escolar brasileira ainda continua influenciada pelo modelo da 
“escola-funil”, forjado a partir da década de 1950, quando efetivamente as insti-
tuições escolares se abriram de forma gradativa para receber parcelas cada vez 
maiores das classes populares. No entanto, dados oficiais, do início da década de 
80, apontavam que apenas um aluno a cada 100 que ingressam na escola, conse-
guia atingir 11 anos de escolarização e concluir o antigo 2.º Grau. 
Os alunos eram gradativamente excluídos da escola ao longo dos 11 anos 
dos antigos 1.º e 2.º Graus, pelo modelo de escolarização, que priorizou o tipo de 
aulas e práticas pedagógicas padronizadas, em que o professor ministrava a mes-
ma aula para diversas turmas (e todas elas com grande número de alunos). Os pro-
cessos pedagógicos eram todos diretivistas, cabendo à escola definir o que e como 
ensinar e estabelecendo também os padrões de avaliação: o aluno que progredia 
era aquele que melhor se adaptasse aos processos escolares e não necessariamente 
aquele que aprendesse mais ou que fosse mais crítico. Dessa maneira, cabia ao 
aluno adaptar-se ao modelo escolar. 
O resultado deste modelo ainda presente expõe a situação de várias gera-
ções de alunos que concluíram a Educação Básica com sérias dificuldades de 
leitura, argumentação e produção de texto; de organização do pensamento; e de 
capacidade de compreender a realidade na qual está inserido. Os motivos deste 
problema seguramente podem incluir, entre outros, o fato de que as instituições 
escolares priorizaram sempre as atividades individualistas, que representavam 
mais um “mérito” do aluno, do que o compromisso coletivo com a aprendizagem. 
Aos alunos transferiu-se a responsabilidade de obter êxito na aprendizagem e de 
adaptação ao modelo escolar, enquanto as instituições escolares estavam se des-
responsabilizando com seus objetivos e pelos seus frequentadores.
O desafio da geração atual de educadores é o de desmontar a “escola-funil”, 
que é excludente com seus padrões de normalidade. Possuem, também o desafio 
de construir uma nova escola, para que os alunos não mais precisem se preparar 
para ela, mas que ela se prepare para os alunos.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br

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