Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
coleçáo -..-l! História Essencial da Filosofia to l,lillr.t O Projeto Socrático Aula2 por Olavo de Carvalho coleÇão História Essencial da Filosofia : por Olavo de Caúalho Coleçao Hh1ória Esencial dà Filosofia Àcompanha esta públicaçáo um DvD, não podendo ser vendido sepâradamente Impresso no Brâsil. março d€ 2006 copyrighl @ 2006 by Olavo do cdvalho Folo Olavo dê Camlho Edilor Edson Manoel de oliveira Iilho MoniqÍe Schenkels e Dagm Rizzolo Dâgui Design Terezâ Mdia tourenço Pereira Os direitos âutorais dessa ôdiçáo peúencem à É Realizâçóes Editora, Livraria e Dishibuido.a Ltda. CEP:04010'970 Sáo Paulo - sP Telele: (11) 5572 5363 Email: e@erealizacoes.com.br Il/werealizaoes.com.br Resêradc lodos os dirilos desta obra Púibids túda e quatquet reprcduçio dc§a êdiçáo por qualquêr ôêio ou fomq, rejâ ela elelóni@ ou mecânica, loloúpia, gravaçào ou quâlqúer O Projeto Socrático Aula 2 por Olavo de Carvalho coleção História Essencial da Filosofia .- d @ 2006 l , § Colcaáo Hisiória Essencial da Filosofia o Pro,eto SocÍático - Aula 2 poÍ Olavo de Carvalho Expusemos na aula anteiior a idéia de que havia três modelos básicos de História da Filosofia: o pimeiro, que hata as várias doutdnasmais ou menos independentemente, formando uma exposiçáo de tipo enciclo- pédico; o segundo, das Históiias da Filosofia baseâdâs mais ou menos nas liçóes sobre âlJisldlia daFílosoha U íüefialdeHegel, que procura interpretar o coniunto da sucessáo das doutrinas como se fosse um movimentoúnico, umaespécie de dialética que se desenvolveriâ unita_ riamente desdeos primeiros trlósofos até o próprio Hegel;e, finalmente, os modelos de Históriaque tratam afilosofiacomo um obieto histó co como qualquer outro, tentando utilizat portanto, critérios de ciência social e de ciência histórica para expor e explicar o "desenvolvimento das idéias" em funçáo de fatores sociais, culturâis, etc. Expliquei iambém por que esses três modelos me pareciam cientes, emborâ cada um tivesse a sua utilidade, e em seguida expus os criiérios nos quais iríamos nos baseâr para essa investigaçáo. Esses critérios sáo os s€guintes: primeiro, a História da Filosofia tem de set passadâ comummínimo de pressupostos de ordem metafísica. socioló- gica, culturâl, etc.;temos de partir apenas de princípios auto-evidentes que náo limitem nem amoldem excessivamente o conjunto da maiéria que vamos abordar. Um desses princípios - e todos eles naturalment€ têm de ser auto- evidentes, que náo tenham que voltar a ser discutidos em seguida - é o de que a filosofiâ náo nasceu pronta, o que eü âcho que ninguém questionará, porque náo pode hâver nenhuma discussáo séria â respeiio disso. A filosofia, portanto, náo surge como uma realidâde ou comouma coisâ realizâda, mas como um ideâl ou um projeto (convcncionâmos aqui us a palavm "proieto"), que se torna autoconsciente, como um projeto de sabcr. entre o tempo de Sócrates e o iempo de Aristóieles. Seriam esses os três grandes lormuladores do pÍojeto filosófi- co. Nâo que náo houvesse anies atividades que merccessem de algum modo o nolne de "filosóíicas", mâs e]âs náo tinham ainda consciência de si mesmas con1o üm projeto dilerenciado, destinado a prosseguir depois da morte de seus aulc,res. Quando lemos aqucles âforismos de Heráctito ou os texto! que nos sobrâram de todos os outros filósolbs ditos pré-socráticos, vemos que eles se constituem de obscrvações feitâs por individuos sem a nlenor intençáo de que aquilo se tornasse objeto de discussáo numa comunidâde, sem muito menos a mcnor intenção dc que aquilo fossc umâ pesqui§a destinada a continuâr historicamente. Iá com Sócrates, a idéia de um empenho coletivo e passível de continuidade aparecc dâ maneira mais clara possivcl. A própria possibilidade da realizâção desse projcto setorna depois objeto de discussào na âcademia platônica. E, enfim, comÀrisiótcics. iecha_se üm conjunto de critérios que podem ser encarâdos como as diretrizcs básicas do projeto filosófico ao longo do tempo. Ora. entáo â Hisiória da Filosofia não seriê somenie a históriâ da Íealizaçâo desse projeto, mâs a hisiória de todos os percalços, de todas as dificuldâdes encontradâs ao longo d€ssâs tentativas. Por um lâdo, vê'se que uma das atitudes possívcis dentro de um projeio é retomá_lo literal_ mente e tentar prosseguir tal cono ele foi formulado em sua origem. Uma segundê possibilidade é impugná-lo, ser contra aqüele projeto c propor algumaoutn coisa compl€tamenle diferenic. Uma tercei.a possibilidade é tentar alterá-lo. ou seia, nemtentar realizá_lo fielmenie nelnabândoná_lo. Tcnta-se lâzer um ürmposto, quer dize! propõe_se üm segurdo proieto que, eniende-sc,seriâmelhordoqueaqueleinicial. Eumaquarta possibilidade é de que alterações no projeto surjam mâis ou menos por casualidade, ou 6 s(ill, por dificuldades enconttadas mais ou menos acidentalmente em srrr líânsmissáo de uma geraçáo para outra, por inflüência de fatores cltcÍ » que náo vêm do próprio círculo de pessoas empenhâdas em sur realizêção, mas viâ acontecimentos de ordem política, religiosa, Com esse método, podemos obter uma narrativa contínua da His_ l(iria dâ lr'ilosofia, vendo, portanto, a unidade do seu desenvolvimento. Mâs nÃo no sentido de uma unidadc simples, como em Hegel, e muito rrenos de umâ unidade linear como se pot trás de todos os tiló§ofos houvesse lrm único Espírito, um macrocérebro filosófico invisível pcnsando e se expressândo pela boca destes. Nosso tipo de narrativa histórica procura se ater o mais possível à realidâde empírica da vida dc indivíduos considerados como unidâdes autônomas e criadoras, isio é, um filósofo seguinte para nós não é somente a continuaçáo do anterior, ele é um outro sujeito que tem a sua própria idéia, que náo csiá obrigado de maneirâ algumâ a continuar na linha do anteÍior, nem a trât& dos mesmos assuntos. Em todos os casos e por trás da imensa variedade de possibili' dades que essas qüatro principais permitem através das suas múliipla§ combinâções -, haverá sempre a Íeferência a este projeto originário. Alguma posição as pessoas tomam com relaçáo ao proieto ori- ginário, e é só por causa disto que sua atividade é considerada filosófica. Aquilo que náo contenha ü ma especulaçâo, uma doutrina, umateoria, que náo contenha nenhuma referência, nem implícitanem explícita, ao projeto socrático originário está evidentemente forâ da História da Filosofia. Ádmitimos até a hipótese de que pessoas que nAo tenham tomado conhecimento histórico da existência desse proieto como fato possam ter se posicionado em face dele, tomado apenas como possibilidade ideal, ou seja, de que pessoas, sem ter tido conhecimento de Sócrates, pensaram nais ou menos as mesmas possibilidades e se posicionaram posiliva ou ncgativamenie em lace dê14s, mesmo porque tudo que existe. tudo quc é reâI, por defiirição ó possíve]. Se apâÍeccu nun1 certo rnonrento da Histórià un1 suieito chamado Sócrâtês com uma certa idéiâ a rcâlizar, é porque o intLrito de realizá l,r é umâ espécie dc possibilidâde permancntc do ser humano c nada inpede que cla icnha apârecido em ouiros lugâres, em olriros tempos, sem ncnhuma conexão histórica. ^liás. é nruito comum na tlisiória quc umâ ou duâs, ou várias pessoas sem conexão cntre si,lenhâm mâis Lru menos as mcsnlas idéiâs ao mesmo tempo, ou en épocas históric⧠ulr pouco distantes. Seja por contato histórico, seja por similaridade inicrna, seja por ideniidade lógica ou semelhânça lógica, é possível que se encontrcn projetlrs análogos cm outros circulos civilizacionais loialmcntc alhcios ou loialinentc scpârâdos dLr ciclo ocidcnial do qual faz parte o projeb $crático c a históriadas tentativasde suarealização Como cnlerdemos â Illosofiacomo proieto. conlo um intuito, cono urn descjo hunlÀno a ser rcalizado. e conro erisic a possibilidade dc que algunâs pessoas, cm vez de tenta. Íealizá-lo tenlent iustâmcnte inrpugná-lo, proibi io, reiutá'lo ou propor outra coisa completameniedifcrcnte no lugaÍ . oLr scia, comt-r admitimos a hipótese de que âo longo do percurso pcrcorrido desde Sócratcs até âgora le havido muilas âtitudes possiveis enr lacc dcsse proieio, nresmo a dc negá lo, a dc ignorálo. â de s0bstiiuí-lo por outrâs idéias, por outros proietos. cniâo náo se podeÍáconiârâ Hisiória daFilosofia sem cLrntaÍ taÍrbóm â hist(iiâ do quc nós poclemos châmar a 'aniifilosofia'. ou seja, de todas aquelas corÍente doutrinais que tenlaram por uln moiivo ou por olrtro inrpugrar ou bloquear a Íealizaçáo do proieto filosófico. tj o tenlaram dc uma nâneira conscicntc, conlo vemos em alguns dos primciros pa.lres da Igrcja (Tertuliano, por excmplo), inpugnanclo reâlnenlc.t atividâdc filosófica enr noffe do cristiânisno; já outros a ll ,,lt.r(l( rnr ranrbém ern nomc c1o cistianismo Querdiz€r, houvctodo ,Lrr (lrl)rtc cm torno de fillrsolia e cristiânismo ncsse periodo, e esse t .l)rLl( la/ parte da I listória da Iilosofia. Ernborê as posiçÕes iomâdas rl rr s|rrpre sej;rrn Iilosóficas. podem ser iolalnrenle ântifilosóficas ^ lrist(jriâ dâquilo que se opoe à reâlizaÇáo do proielo do personagern lilrl)cnr. .videntenente, é pade dclc. Em outrâs époc.rs. ver se ão fatorcs iiii,rsônicos ao descnvolvimcnto do projeto lilos(jlico. E surgcm às vezes rir) dc urra oposiçào liontâ], mâs de cerlas telriâtivas de subordiná lo :r ({)Isiderações de oüiÍâ odcm. como, por exenrplo, no século XX. Nr,) §c poderá comprccndcr nadâ.ta Ílistória dâ Filosofia no século \\ scrn lcvar clll conta as inúmeras lenlârivas dc subordinar a prátic.r lilos(lllcâ a un projeto político dctcrminâdo, qlre lrao é o socáiico, mas (trc sc tcntou de algrm modo afticulâr coDr ele, lornando a filosofia unLL ,\Dacic de instrumcnto olr peça deniro de u r projcto.lc tmnsionnaEto r,r'r,,Í r:, muiru pu.r. ri,,, - 1.r,,jr ,,., r tir u. 'lLdos esses percalços colocampara o hjs toriaclor da fiiosofia proble- rrrrrs conrplicadíssimos, c todas essas diÍiculdadcs podcni ser 1àcilmerte rris,lvidâs pclo nosso n1éto.to. Por excmplo, um historiador dà ülosoliâ 0cnsârá seriarnenie, assim, digamos: 'A rloülrinâ mâ ista-leninista oll(ial da Uniáo Soviótica 1ãz pârle da Iristóriâ dâ Filosofia ou n,ro?". l)csdc quc cla nâo é uma alivjdàde tilosófica crÍtica, mas a tenlàliva de lormulâção quase quc dc um dogmânarxisirL. parece qtle nâo. Poroutro lado, essa nresma tcntâtivâ nnplic.L algum iipo de cspcculaçâo que não sc pode dcixardc rotular de Íilosólicâ Douirinas rcligiosas ou míslicas dc algum modo Íâzem pali€ da Históriâ da Filosoliâ.tr1 náo? Quasc lodos os historiadorcs iêm Lrma ctiÊculdade clrormc dc resolver este prcblema, c acaban sempr€ opiando por soluÇôcs de comprurlisso ou porsoluçôes arbitrárias Iáo nosso método pennjle resolver da mancira ,iJi. .iÍÍflc. .'.c prob crnu tL Jr'initr.;n do c"r rp4 uurqur n',u rr tendernos a filosofiâ con1oun carnpo de conhccimento determinâdo ou como umâ problemática deteÍminada, n1as exatamente como umprojeto a realizar E entendemos a História da Filosofia como a sucessáo dos episódios que marcam, ou a realizaçáo, ou o fracasso, ou o abandono' ou a modificâçáo desse mesmo projeto lsso quer alizer que, para que algo seia âssunto da Histó a da Fi_ losofia, evialentemenÍe eie náo precisa por si mcsmo ser uma doutrina fi]osófrca; pode atô ser o contrárjo. pode aié ser um obstáculo - âssim como na natrativa davida de qualquer pcrsonagem histórico ou fictício temmuita coisa que faz parÍe da História. mas que não é iniciativadele' é iniciativa alos seus advetsários. dos seus inimigos, dos que o invejam, alos que o desconhecem c assim por diant€. Mas tudo isso' embora de origem múltipla e heterogênea, às vezes faz parte dâ hisiódâ dele jus- tamente por efeito ale conttâste oü de contigüidade Entáo, sem perder em nadao senso dâs diiercnças individuâis eo daautonomia dasváÍias iniciativas filosóficas c antifrlosóficâs - ou extrafilosóficas, mas llgadas a História dâ Filosofia , sem perder a idéia desta vaÍiedade concreta, lãctual, histórica, conseguiremos scm muita dificuldade traçar uma Únidade na História da Filosofia. Note-sc bem quc eÍa unidade não é â de uma interpretaçáo que csia_ mos capiando no conjunto do movimento iisiórico, como Hegel acrcditou apreenaler, quer dizer, um movimento lineat e único. Não é isto. A unidade da nossa narrâijva ó dâda simplesmentc pela teicrência que os vários personagens váofazendo ao projeto originário. No fundo estáotodos se posicionando em fâce da mesma coisâ, porque se fot iotâlmente âlheia a essa coisa e náo tiver nenhuma Íeferência a cla. então certamente náo laz pafte da História da Filosofia, nem de maneira direta, nem de Á filosofia, como um projeto de conhecimento, colrlo umâ certa bLlsca ale conhecimento quc pode ser prosseguida âo longo dos tempos' iá aparece com Sócmtes, que esiá continuamente inaugurando cerras tl) invcstigaçoes que ele às vozes náo dá por conclüídas. EIe entáo deixê benr cliuo quc contâ com a possibilidade de que outras pessoas conlinuem inveÍigando aquilo e talvez cheguenr a rcsultados mclhores. Sócrates cnr nenhum momento expôe uma douirina acabada. Ele monta certos problemas, ou seja. monta certas investigaçóes filosóficas. Ele ensina a rrontar. é exalamente isso queclelãz nos seus confÍontos comamigos e discÍpulos:ele lhes sugereccrtos temâs filosóficos que eles tentam entáo investigârcom os inslrumentos que têm, e ele em seguidavai conigindo a mancira deles investigarem o problema até colocar isso numa linhâ quc pârece mais pâssível dc levar a resultados firmes. A busca de um oonhecimento firme. a €stratégia e a iática pata a buscado conhecimento l'irme sobre certos temas. esse aí certamentc é um dos componentcs do prcjcto filosófico, cujo conteúdo vou explicâr melhor. Muito bem, emboÍâ scia somente com SócÍates que o proieto filo_ sófico se cxpóe de uma maneim autoconsciente como se dissessc: 'A filosofia é isto aqui, e é isto aqui que nós vamos fazer" e, portânto, você náo encontre este proieto exposto de maneira autoconsciente clll nenhum dos pré_socráticos, existe uma sentença que é at{buída â um deles. que ó atribuída a Pitágoras, que seria a própria definiçáo da filosofia como "amor à sâbedotiâ". Nós não precisamos âdmitir que, ao lormular esia dcfiniçáo, Pitágoras tivesse já toda a consciência do projcto filosófico tal como veio a ser exposlo depois por Sócrates, Platáo e Àristótcles. Náo obstante, com consciência ou nâo de todo o seu conteúdo. o fato é que Pitágoras enunciou essa liase, e esta frase é absorvida alepois por Sócrates. Platáo e Arisióteles como uma espócie de rcsumo do scu projeto. A exposiçáo do proicto filosófico, do proieto socrático, iem quc começarpor umabreve ânálise destâ nesma definiçáo. tal como ela lbi compreendida na época, cspeciâlmente por Sócraies, Plaiáo e Aristó_ telcs. Ou seiâ, o estudo que nó§ vamos fazer da definição da filosofia 1l corno "ânrorà sabe.loria ' não vai enlbcar essa hasc no preci§o contexto histórico pilagórico. Náovanlos jnvestigar o qLre Pitágoras cntcndelr por esta hase rncsmo poque o estudo do pitagorisrr)o ó um dos enignlas hisióricos mais conplicados quc erisie (nAo se sâbc direito se ele eriis- tiu. se nâo existir, sc coisas que são atribuidas â ele sáo dc atribuiçâo hislórica rcalou apenàs poÍserrclhança. e eu náo q(cro entrar em todo este problcma). Adenrâis, cu iá deixei claÍo quc os pré-socÍáticos sâo apcnâs a pré hisiória da filosofia. A partir dc Nieizsche houvc uma ilnensa revâlorização dos pré_ socráticos, n1âs, por mais valiosos que losscm (» ensinanrentos que clcs nos legaranr, ó inegável que elês náo tinhan o proieto filosófico coüro urr projeto auloconscicnie. lsso só pârccc reâlnente conr Si)crâtcs. e pelo própÍio conteúdo dos diálogos socráiicos sc vcrá quc clc esiâva enunciando algo sli que cIa rotalnenie novo para o seu meio. Erltáo, a rigor, podemos dizer que â História da trilosoliâ .lo Ocidente começa corn Sócrâtes, emborâ tenha havido um vasto aproveitamentode clcmentos ânleriorcs. Nós vamos romper um polrco corn a ordem cÍonológicâ da expo- siçáo c vâmos dar a idéia do projeto socrático primeiro e só dcpois abordâreDos os pró'socráticos. Mas como é cste projelo qucdá o senso d€ Luida.le dc toda a narraiivâ quc varnos Íazel temos quc começar por clc. ^l:lenüis, enrborâ cssc projeio quando âparece com Sócratcs scia toiâlnenl€ novo, clc incopora a dcfiniqáo âtribuida a Pitágorâs, da filosolia como 'amor à sabedoria" ^ ânálise quc vou fazer nao interpreta cstâ liêse no senlido cm que ieria tido historicamente pam um Pitágorâs hisiórico impossível de dcscobrir e documentar, mas ela aborda o seniido prático que ela teria cm Sócrâles, Platáo c Àristóie les Vercmos con1o eles e lendcran esta liase, e o quc estavâ pam elcs subcntendido nesta dcfiniçâo conr a qual cnunciavanr rcsumidamenle o conteúdo do próprio proieto socrático. :l( ir lilosolia ó o -amor à sabedorià ', a priireim coisâ quc isto impli ! L , ,tllc u §abcdoria exista Isso qucr dizcr quc, sc Pitágorâs disse isso l!r,,J!)rirs rcredi1âvâ quc cxistissc umâ sabedorià e se SócÍates absoruc , rlr irirsc clc iâmbóm acrcditâ qu€ exisia unr sabedoria, c Platáo tam- l ,,. c ^risióteles tânrbérn... Ou scjâ, a sâbcdoria não é algo que elcs vao ///.?! rnns qúe d€ âlgum rnodo vâo erco,ihar. llntao existe a sabcdoria, , :r llll)riâ não cstá neles e tànlo nao está quc clcs não sc dizem ,r.rr txnladores dela. Iles náo sáo seüs invcntores. nen §equer seu! t!)rlird(ncs. Sãoapcnas aqueles que aâmanr. eporqueââmâm buscanr t r.r,rtrá'la, sabcndo que náo a plrssuirão complctamcnic. Porqlre se I lil,,sofia iá é .lefiridâ conro o "amor à sabcdoriâ", e nâo cirmLr à con vt r o do lilósolo cm sábio, se subentende qüe esrâ âtivitlâdc dc cefto ,r,trlo continua, pois â posse da sabedoriâ náo ó complcta. Tlrdo isso (\i.l prcssuposto e Lr queeiioLr dizcndo ó absolulamcnte coerenle corrl ,, rso que Sócrâtes, Plaião c Aristótcles làzen do lernro liÍãocxistc a sabedoriâ. e o hoüem âdescia. orâs. clc a deseia porque lclr llguma noticiactelâ e â nolícia qtlc tcrr da sabedo a é sulicienie par" (trc clc cnLenda que ela ó um objctivo desejável. A sabedoÍia existc, por rssirü dizcr, tora c acima dLr honem. lllâ reprcscnta um tipo de conheci Lrcnú, uln tipo de consciência quc náo cstá cm nós, rnas que de trlgum rnodo podenos alcançar. Sc cxistc ilorâ de nós, existe como? Náo vamos aproiundar esta qlestao àqli sâber ondc cstá a sabe ii(,riâ. ondc vâmos buscá l.t, onde elâ cxistc lilra do honem , m.rs na cxposiçrio do plàlonismo vamos voltâr a este assunto. Só para dar rma idéia vâ,nos lembmr qüc quando H€rtz descobriu a ligaÇão cntrc luz c clciricidade, no sécuLr xlx- eledisse o scguintcr "olha, essascoisas nao podem ser observadâs pclos scntidos, nós só as câplamos por ccrtas relaqóes raiefláticas. Medimos ulnas coisas aqüi, rrcdilros outras lá c vilnos quc ali tem un1â equação quc náoóvisivcl petos senliclos ela âié é âparenlemenie negâda pclos scntidos . no entanro, ela está Lá. ti -T- E está como algo que é mâis inteligente do que aquele que â dcscobriu".Eniáo, digânlos, esta relação entrc luz c clctricidâde seria um exenrplo de uú conteú do da sâbcdoria q ue já estava ali milênios ântes que Hertz â descobrissc (hojc enl diâ, todo mundo teln um conrplltâdor. c cstá lá esüito me\rheú.lem a ver conr cssc mesmo sujeito). Uma equaçào que mostra uina ünidadc cntrc ltnônlenos distintos denlro da naturcza é um cxcmplo de como pode existir uma sabedoria Iorâ do homcm. Outro exemplo é o seguirte: existe üor montc dc conhecimentos Drineralógicos registrados nos tratados de minerâlogia, mâs anles delcs estârcm nos tratados esiavam onde? NLrs minerais. Se não cstivcssern nos minerâis, náo leria sjdo possível püxá-los dc lá pam colocá-los sob lbnna verbal no livro. Entáo csta mineralogiâ dos nlinerâis. este conhe' cimenio mincralósico que está nos nineràis, é unl outro exemplo de como pode haver a sabedlrriâ loÍa de nós. llsses doisexemplos sáotirâdos danaturcza, mas isso náoquerdizer ó nela quc a sabcdoria está. A nalurezâ é uma instânciâ, um domÍnio quc cstá Íora de nós, eslá âlém de nós. e um dos nruiros nos quâis podemos buscar e colher algo dâ sâbcdoria. Entâo â sabedLrria é .4 If Íccnd da n,u. ullru umu (riJ(Jú Jo l-onr(r, .ur r^,rlro.rracàú cultural. como umâ criaqAo histórica. Elâ ó comprccndidâ de duâs naneiras. Primeiro, é unr coniünto dc conhccimenio Mas náo é só unr conjünto dc conhecimentos inertes que estejam àli rcgistrâdos dc mâneira morta. porque isso é iambérn a prescnça dc uma inte ligência. Colno disse HeÍtz, "êstâ cquação é mais inteligente do que aquele que a dcscobriu", iÍo é, ele mesnlo. tsto signil'icâ quc clc teve que ficâr Drais inieligenle parâ chegar ao grau de sutileza desla equaqao. Entáo a sabcdoria náo é somente un1 conteúdo da nrr ligcr. ia. L u Id ir tclip-n(i ,. \ rrcdidr q.,( vu.,e se oprô\'r1a desses conteÍrdos, você absorve algo destâ intcligôncia, ela de certâ maneira vlvilica-o... 1.t il]Jno: É por isso qüe ele Íalou "amor à sabedotia" e ao "busca r ebcrloia" ? (...) l Ntro ó só por isso. Un] dos mlrtivos é este: o indivíduo pcrccbc que csscs conteúdos dâ sabedoÍia são amáveis porquc nota neles Lüna inie lirarcia que é mclhor do que â suâ. Mas, por outro lado, pâm quc haja llrorâ cstâ sabedoria. nàobastâ só que elâ seja rnuito intcrcssante nos scus conhecimentos. É necessário que ela scia âmável E se Íosse Lrma .i)isa terrivel. qüer dizer. um mistório tcmível, que âbrindo â caixa preia voca urorrc? Então somente um idiota iria buscar ^ busca da sabedoria eÍa entcodida por Sócrates, Plâtio e Aris l(')tcles co o algo qre lhcs lâria bem, que seriâ bom para eles Então, .lc ccrio modo. o homem âma â sabedoriâ porque â sabcdoria an1â o homem. Ela é amávei porque é boa para clc, dc certo modo se olerece {] lhe dá alguma coisa. c isto náo lhe acrescenlâ só unr conhecinrento tcorólico, mas de algun modo inlensifica .t suâ mâncira dc ser E. ao usarem esu seniençade Pitágoras como definição dafilosofiâ. estavam ()s lrês admitindo quc a filosofia nâo é sonenie un1 conhecimenio a àdqririr, mas um tipo de conhecinenio que, à medida qüe a pessoa o adquir€, melhora a. Por quê? Porquc à mcdida que a pessoir âbsoNe os conteúdos dâsabcdoria. csscs de certo modo âcentralizanr eln toÍno de sua intcligôncia. de sua capacidâde de clrnheceÍ, e estâ capacidâdc dc co- nhecer é paÍa eles o principal clcmcnto constituiivo do ser humano. Se o sel humano sc dcfine e se dilêrencia de todos os demais por sua capacidâde de conhecer a realidade e a p6priâ sabedoria, que seria estê âspecto mâis inteligentc c supcrior da realidâde, então, quc à mcdida quc ele o conhece está realiz,rndo aquilo que ó principal nele, que é exatamente a sua capâcidade cle conhcccr? Que é. portaüio, aié u modo dc existência que se intensifica e se âpcrfciçoa à nledidâ que se reâiiza. Ora, isso qlrer dizer que. na sua busca da sabedoria, o filósolo é guiado pelo que clc vô dc amável l5 nela, cle accssível e dc amável. c por lsso mesmo elc é guiado por uma imagen do sábio. o que seria o sábio? Seria a sabcdoia personificada, qrer dizcr. a sâbedoria como ÍoÍma humana. que se sabe que náo se vai realizar perfeitamente. Mas é evidentc que. se existe a sabcdoria, exisie o sábio, porque asabedoriâ não é só conteúdo, elâ é inteligência também. Então cssa imagcmdo sábio (náo necessariamente dosábio humano, quc pelo menos seria sua pcrsonificaÇáo) seriaâ sabedoriacomo formâ humana, â sabedoria compreendida como formâ humana. lsio podc ser visto ou num contexto religioso ou num contexio mitológico. tantolã2, mas existe semprc csta imagem do sábio. Por exemplo, quàndo o filósolo Boécio, já na era cristá, século V, Vl, foi parar nâ p sáo, ele tem üma visáo da sabedoria pcrconilicada como uma rnulheÍ quc âpârece c vâi visiláJo na câdeia. c lhe ensinâ uma série dc coisas. Num contexto religioso, pode se pcrsonificar a sabedoriâ no próprio lcsus Cristo, como logos encamadoien1 outros lugâres, como o Buda, etc. Isto quer dizer que esla personificação dâ sabedoria é uma cspécie de imagem que guia os eslorços do lilósol'o, conro sc lbsse isso que e1e gostâriade ser "qüêndo crescesse". Qnerdizer, o sábio, emboEseiauma possibilidade qlleo homemnâovai realizar completamcnte, pelo menos nesta vida, é o tipo humano a que ele se dirige de algum modo. Os métodos para se chegar lá sáo de dois tipos: pdln€ho, os ir',es' ti|aliaos, qüe seÍáo desenvolvidos e enormemente âpcrlêiçoados âo longo do tempo, coneçando pelâ dialéiica socráiica. depois passando pclâ ]ógicâ dc Aristói€les, com todos os apedeiçoamenios lógicos da Escolásiica âté hoje, pela entrada cm cena do chanado mótodo cientifico nloderno, etc. Há um conjunto de métodos invesiigativos cuja história já ó por si só um âssunto imensamente dco E cxistem as disposiçôes práíicds, deordem psicológica e ótica, quer dizer à medida qlre o filósolb pratica esses nrétodos, à medida que elc âdquire o conheci ento, ele 16 J. rranslLrmla, porque antes ele erâ o sujeito quc náo sabia c agora é o sr rjcito q uc sabc. Platáo enunciará esta ilâse lãmosa: "Verdâde conhecidâ ( vcdadc obedecidâ". lsso quer dizer que a verdade que você adquire, , [r nâo é somente un elemento de curiosidâde naquelc momcnto, mas rirl griamcnto. A partir do momento em que você descobriu 1â1ou qual ioisâ, sabe que as coisâs sáo assim, enláo aquilo é uma baliza ou unr t,,,'luJereÍerên(iá que\ocêusora na \uo \rda\ qucrc i rcnrpôraraao ,linr'i.náíreniô dá s1rá .ondúiá ora, vê-se que aí há uma série de pólos: por un lado, há o sábio . ' unru ú utorru dele. o ÍtiosoÍo O Fln.oÍn c o.nici.n quc rao r 'a- l)io, rnas que se dirige ao sábio; o sábio é o sujeito que nâo é fi]ósolb, txnquc cle já é o conhecimento, já é a incorporaÇêo do conhecimento. srbe-se que eles de âlgum modo se buscam, como aquela mulhcr quc rrpresenla a sabedoria buscará o filósolo Boéciô na cadcia. Vendo que clc cstá ali isolado, triste, sofrendo, elavai buscá lo para consolá lo do llstaimâgemdeum homenr que büscaa sabedoriaporquc a sabedoria husca o hoore é centrâlparao projcto filosófico, e os três âcreditavên nisso piamente. E é evidente que a sabedoria busca o homem porque. sendo da própria nêtureza do homem o conhecer, ó normal que o pró- prio objeto do conhecimenio. quc é a sabcdoria, se volte para ele, pois â sabedoria seriâ tâmbém a própriâ eslrutura da realidade, a pÍóprialei que govema à re.rlidade. Se o conteúdo da sabedoriâ é a lei de govcrna toda rcâlidade. e se â rcalidâde dcssa cspécie de seres em particulâr. que é o ser humano, é conhecer, entáofâtalmente e logicamenle esse conteúdo busca o ho- n1en1 ianlo quanto o homem o busca, trânsformândo-se nele à medida que o conhccc, no scntido do lãmosoverso de Cânlôes: "'liônslorma se o âmâdornâ coisa amada". Quer dizer, aprogrcssivâ trânsformação do ülósolo em sábio, emborafique incompletâ porquc o suieito morre - e a t7 sabedoria sendo eiernâ só pode ser possuída integrâlmente num p]âno de eiernidade, embora essabusca não se complete, pelo menos nesta viala. é ela que orienta todo o eslorço do ser humano' fambénl ticabastante claro nesse projeto que. se a verdadeira nâturc_ za distintiva do ser humano é a sua capacidadc de conhecet é somente ncla que o ser humano se realiza. E frca clato que todas âsvidas que nao sào voltaalas para este objetivo, mas que de algum modo participam dele num nível maior ou meno! sáo como vidas frustradâs' vidas que náochcgaram a nlan ifestar plenamcnte Âcapacidade humana central' Isso é natural. acontece em todas as espécies animais' Ém nenhuma delas todos os membros realizam plenamenie suas potenciâlidades O exemplo mais característico são oslãmosos girinos: decinco milhóes ale girinos, dois ou três se trans[ormâm em sapos; os outros ficân] com proto-sapos, sapos possíveis.. Não dcixam de ser sâpos' E eles não cllegam â ser sapos, mâs náo deixam de scr sapos, já que náo são c'uirâ coisa. NAo ó poÍque o girino náo virou sapo que ele vira outra coisa' que ele vira âbacate. tomate, náo. Do mesmo modo, o núnero de sercs humanos quc realizâ eietivâmente a naturezâ central do ser bumanír qüe é a realizaçáo dessa capacidâde distintiva para ír conhecimento . esse númcro é nüito pequeno e os outros fican aquém Sáo formês de viila frustradas. Mas se náo chegam a realizar â sua humanidade' nem por isso deixam de serhuúanos. Náo são outracoisa' Écomo se fossen linhas de desenvolvimento que vào todas na mesma dircçáo e náováo mudar de direÇáo por causâ dissoi umas vao mais longe, Ôutra licam mais perto"' E mâisi o individuo que náo descôbriu ainda quc esta ó a linâlidade dâ sua existência, nem por isso ele deixa dc tender a ela intensamenie' Mesmo diantc do sujeitír mais blrro. brutal e inconscienre qüe enista, só se dirá que ele é humâno, píris üm sinâl disto vô-se nele' Alguma câpacidadc pelo menos polencial de compreenaler eie tcm. Se cle não chega a crercê_la, nunca se reconhece isto como umâ situaçáo teÍmindl, mas como unu imperfeição 18 Por exemplo, o sujeito é um retardado mental. Ele nâo vai poder chcgarâ ter conl você o nível dc comunicâçào âutoconsciente quevocô lcm com uma outra pessoa de um nível de consciência simiiar ao seu. Nlàs você reconhece que aquilo é uma imperfeiÇáo e náo a natureza (1clc. Deve lalar: 'Deu errado '. Mas nem por ter dâdo errado virou olrira roisâ. Você náo vai dizcr: "Não. esse aí é uln outro tipo dc coisa, esse rá() é gentc. é um outro negócio"... Náo, elc continua sendo gente. lllc parou no càpítulo 2, enquanto o outro chegou lá no capítulo 1.000. Houve uma imperlêiçào ou, con1o dirá Aristótcles, uma Drivâçáo. Elc foi privado, como se diz artificialmente. de um potencial .ujâ realizaçáo estâva na sua naiureza. Foi privado disso artilicialmen- lc... porque é de forâ, porque náo é e]e. Ele continua sendo humâno, no scntido de quc ele tende a isto. [^]unâ: , as disposiçóes genéticÍls, psicoLóqicas, Ldnbén? (...)) Náo. Vejaquevocê estálàlandodo sujeiio que náo quer a sâbedoria. q rando exisiem causas de orde psicológica ou moral, que sAo internas. l\'las note bem que não eslá entrc as capacidêdes do ser humâno optar loial ente pcla inconsciência. f,1e nAo con segue fâzcr isto. Podeâtéfazer a apologia da inconsciência, mas el€ náo vai conseguir realizar isio. No instânte mesmo em que €le cstiver enunciando, ele vai estar rcafir- mando a sua humânidade de novo. Clâro que â própria cspecificâçáo, o próprio esclarecimento do que é este carátcr distintivo do ser hunano, isso nâo aparece pronto em Sócraics, Platào e Áristóleles, mas üm tal csclârecimento atravcssa toda â História da Filosofia c é matéria de prcocupaçáo até hoje. [Aluno: Erl considero a süa colocaçdo sobre o enloque de gue o filósoÍo é..- Íiu üejo uma busca do iilósofo, a busca da sabedotitt- Q er dize\ não é uma Íhalidade d.e todos os seres l!) hunúnos- Como zlocê falou sao poücos os que estão despertos Nâo, â capacklade para o conhecincnto é o traqo distintivo do scr humano cm relâção a todos os denâis seres que existem Náo há outro traço disiintivo. Se exiíc êlgunm naturczn lro ser. eniáo essa nalllrcza busca se rcali zar Quer dizer, todo ser busca a reâlização daquilo que é natural nelc e esta busca é suâ própriâ natureza. Por cxemplo, nao cxistem leoes vegctariânos. Agora, existen lcôes incapazes de digerir came Você vai .tizcr: "Êsic leáo csiá clocnte". Ele náo viroü outra coisâ, ele não virou uma vaca. Dle pode ficar táo lnâl que só consiga digerir outras coisas. li possivel qlre o leào chcgue a cste ponto. mas vocô náo vai di zcr que clc virou oulrâ coisa. Náo. elc está privado dâ possibilidade de realizâr o qüc n€le é nâtural ncste momenio e l1lcsmo que pennaneça assim até moúer, é porque bá algo dc errado con elc não porqü€ cle nrurloü de nalureza. ELe não pasla a scr outrâ coisa' Eniáo, lnesmo que o homcn1 não reâlizc islo - c esta realizaçâo é altamente complexa _' mesmo que cle não cheguc sequcr aperceber que essa é suâ naturcza rlistirliva. nresmo que cle pense outra coisa a respciio de simesmo isto continuará scndo scu carátcr disiintivt) Note bem: pam lonnular estc projeto destâ maüeira, náo cra rbso lutamenic necessário que nem Sócrates, nclll Platáo, nem Àristótcles tivesscm plena clareza alestc pon(o. É claÍo que não tinhan, porque eles apenâs estavân enunciândo o comeqo da históriâ Mâs â cliscussáo do quc é estc caiátel distintivo, e do que é eía caPacidade dc conhccer' cla prcssegllc até hoic Na segünda nreiade dÔ século x)( criislem clescoberlas imporianies â esse rcspeito' A iÍrpcrleiçâo e aló a nebu_ losidacle ioicial .lo projcto náo impedcm quc ele sciâ eralamenic tnl conro cstai c1efinido. Agora. por excmplo, você pode neilar o proieto iá com a obieção: "Não, o conhecer náo ó próprio da natureza humana' 2l) nlit)ri() da naiureza humâna é làzer outru coisa". Você pode âté dizer sn). O primeiro que dissesse isso entraria na História da Filosofia como ,) suiciio que eslá se opondo àquele projeto em nome de tais ou quais razacs, c pode ser até que se chegasse a um ponio de esla pretensáLr iili,sól'ica ser totâlnente impusnada. lAnLno: (...) pot exenplo, biologicamenÍe podetia dizer que fiào sào, ttlc.. íLe al\ut,l tnodo é a reptuduçào, e não o conhecinenta?l Náo, porque â Íeproduçáo está presenie enl todas âs espécies âni' llais, cniáo não sc podc dizcr qu€ ó um caráterdislintivo do ser humâno. ()s sapos nào se reproduzem, as vâcas, etc.? Entâo não pode ser esie o Iosso carátcr disiintivo. Claro qlre se pode evidentenente tentar Drini rnizâr cssc carátcr distintivo e dizer que ele está suboÍdinado â âlguma outrâ atividade que o homem tem em comum com os animais. Nieizsche, por exenrpb, cheg a dizer isso, o que para minl é uma estupidez lbra do comuln. Ele diz quc a cssência do ser hu ano é a blrsca da conser vaçaro da espécie... E eu digo: mas isto ó uma bobagcrn, porque todas rs cspécies b!1sca u sua auloconservaçáo. Entâo porque teria quc scr a nossal' É â cssôncia dos lcócs. das tariârugâs, das minhocas, de todos nós coDro pârtícipes, todos nós. Se clc disscssc quc jsto é a essênciado ser vivente, tudo ben1l Mas dizer que é â essênciê do ser humâno não tcnr pó ncm cabcça. No cntânio, houve quem dissesse isso. Você estará subnetendo esta finalidadc dhtintiva, cspccificamenie humana, a u ma ouira nnalidade. que é de ordem animal, biológica. Você podcatólàzcr lsso, mas náo vai poder negar que esre é o caráter dislintivo. Baseado nessa ncgação, poderianos até lormularum oulro projcto: "Não, nosso negócio náo é conhecer é reproduzir noí'. Ou poderiamos alcançâr a imortalidadc bioló- glcâ. porexe plo, para não precisarmos nos Íeproduzir mais. Nós serianosa últinugeraçáo e durariamos para scmprc Todas cssas propôsias alternaiivas r\i\rd ', n J. (lr.nru {iu u p"ujrrL lilu.ufiüu, ,ru J upo.i\áo. 2t ÍAlüra: Etiste até prcietos en qLE co hecer se ía sÍot a enl omtlt, camo ,e da fia t iat nlstio A\rin. por proce\\o\ fii\ttcaç' oote se tua storfia en amat. (...) fui una co otaÇão de co hecer?) Nós acabamos de diz€r: prineiro' existe o "amor à sabcdoía"' Você ama a sabcaloria porque ale algum modo a sabedoria o ama Conlo é que você sabe quc elà o ama? Porque ela sc dirige à você porque é da sua naturezabuscá la. Ora, a sua natureza 1àz pafte da estrutura da reâlidade coúo um todo, a qual é â própÍia sabedoria' Entáo' é como se dissesse: "Foi a sabealoria que lez você desejála" ' Há ai evidentemente' umaÍelaçáo ale amor Maistârde surgiráde faio estadiscussáo, que diz: "olha. náo se trata da sâbedoria, trata-se do amor" Mas nós sempre poalemos dizer: "Dom, sim, mâs un1 amor a qoê? Amor ao amor?"'  discussáo desse ponto em pariiculat ocupará algun tempo na Hisióriâ da Filosofia. Âgora, desale logo eu tenho que dcclarar qual ó a minha posição em lace de tudo isso, para qüe nâo vá colocar os meus valores e as minhâs escothas só no final. Creio qüe o proicto lilosófico sobrcvive. está intciro, e que nada o derrubará nadâ Mais tenlativas qlre houve ao longo desses 2400 ânos náo é possível' Todas âs ouiras aiternativas iá lbram teniâalas. Aquilo que conservâ a suâ vâlidade in_ tegral, creio que todos os demais proietos, mesmo de ordem rcligiosa' só poden scr validados por ele. E acredito que ele é um componente essencial c que é â própriâ manifestaçáo essencial da natureza humana' Isso é o que aventamos Eu náo posso dar uma provâ iotâl disso' eu posso dar argumentos de ordem probabilística, provar que esta é' das alternalivas, a mais provável Mas eu tenho imprcssáo de que aprópria nârrativa da HistóÍia da Filosofia lhes mostrará isso' Entáo temos ümâ polaridade aíi há, por um lado' o sábio e por outto, o filósoio. O filósofo é aquele que náo é sábio, lnas quc tendc âo sábio: e o sábio é aquele que não é filósoio, mas que busca o filósoio' A pârtir dali vamos ter uma outra subdivisáo, uma olltra polaridade' ZZ (trc a a dos métodos investigativos, por um lado - que sáo os méiodos voltâdos para o objeto do conhecimento -, e, por outro, os métodos clicos, práticos, pedagógicos, eic., que sevoltam para o próprio sujeito (k, conhecimento, pâra o próprio filósolb. Então, por um lâdo, você ilvcstiga como se deve investigar, como se busca o conhecimento. e, tn)f outro lado, pergunta-se: "O .lue eu preciso ser na prática parâ eu scrcapâz deobicra sabedoria?". Alónl dessas duas polaridades entte stibio e lilósaÍo,entremélodos inaestiAt tiaos e métoilosptáticos exi'ste anra outra. que é a da aptoxifiação ot] atastafienlo em relaçâo âo pÍojcro filosófico. Formamos cntáo ai uma cruz de seis pontas, everemos que em toda nârrativâ dâ História da Filosofia, em cada momeito, exisic uma colocaçáo diferente dessa cruz. mas sempre iogando com os mesmos làtores. Isto nos l'ornece uma tipologia gerâl na qual se enquadram /odds as filosofias e lodas as correnles de pcnsamento que vamos cstudâr. Em cadaumadeias, háuma imagcm do sábio. Queó o sábio? o sábio é a inteligência imanente à realidade como um todo, â inteli gôncia qüe exisic nâ reâlidade. Ela náo está em nós; ao contrário, nó5 é que estamos nelai somos um dos seus elemcntos. En1áLr cada filosofiâ icrá umâ inagem do sábio e, portanto, uma concepçáo do qüc deve ser ofilósofo. Em razáo disso, elaterá uma imagemdequais são osmétodos investigativos, por isso terá rcpercussôes de ordcm psicológica, ética, pedagógica, etc. E ludo isto dando um posicionamento mais próximo ou mais distante do proieto filosófico originário. Ou seia, as filosofi⧠podenr ser catalogadâs tipologicamcnte em lunçáo desses seis lãtoÍes, conforme o posicionamento que se tem em cada uma delas. Daídecorrc por implicação, consciente ou inconsciente, implísita ou explícitâ, umâ diierente modulaçáo de cadâ um dos outros cinco latores. Em Aristóteles existe umatipologia das narrativas possiveis, que se rclcrc sobretudoa narrativas ficcionais: lendas, teatro. etc. E ele faz uma 2J calalogaçáo.lâs narrat;vas conlorlne o ê,rau de podcrd{) scu pers'magenr' Qllal ó o personagenr mâis potlcroso q uc cxistcl) É rnn rlcu§. ou scnideus, ulra criâlLlra divina. qu€ podc lüdo. Enlao. sc vocô conlà a hislória cle lúpiler, ou a lrist(.)ria.lc ]csu§ Cristo, oü a históÍiâ do Buda' vocô está lalarrdo de um dells. Pouco imporla sc teologicamentc ern üm deus au- tôntico ou irlventaclo:ê narrâtiva sc reiere aclc c()noâ u rdcus tintào â llistória será o quê? A sucessivâ manifcstaç,rô dc slra onipotôncia quc esiá cscondida, cle inioio A isso üm intérprctcl:le Aristótelcs o críiico cânadcnsc NorthÍop }iyc, c)enaÂi]na üanatita t íÍic't' Abâixo da narraliva milicâ cxiste o qLlc ele chânlrt dc nuüdtiaa lett .lãr'ld, qne já não terr conrc pcrsonâgcn unr dcus ou scmideÜs, mís Llnr scr hurnaro que, por tllrr moiivo qualquer, tcm uma ligâção inljr â com deus ou conr os dcuses. ou 0oÍr o que eíá pâra o lado de lá' Ele, dc âlilun' nrorlo. se comunlcu c rccebe uma âjüda lslo faz que, no scu conironio .onr o lrundo. êlcnáo Ienha a vjióÍiâ a ,rlÍ)ri qut cst,r âsscilurrdâ a um cleus o nmndo paru elc (Ícrccc rcsislência. .tilicllldâde, conlo Para quÀl qu€r outro scr hurnâno. só qrc cle vencc poryuc haL uma inlervcnçáo dc urn ldlor supra hunrano tbr crcmPlo. a hisiória de Mois'rs Sc Dcus losse alravcssar o NIar Vemrclho, isso náo sêria nenh rn problcma porqtre elc irr esiârla:rirâ\cssa.lo. Deu$ cstá do lâdo (le cá c iá está do lado de lá' ao ürcsmo terrpo. então náo scria problcfla âlguln Pam Nloisés isso iá cra um pmblcnra, rras ele o rcsolve por quê? Porqir€ Muve !llna irlêNcnçio de rm poder que era superior ao delc, nrâs que cm simpárico a clc' l§so sc th.n1â a»atiüa L?.t1d airi{L Aháixr) Llessc eristc um lerLciro lipo dc narrativa, enr quc o hcrói já nao ó assisrido por podcres.livino! ou angélicos, Inas às vezes conseguc ürrdâr o tlcstino porqlre é uma pcssoa de gran.le quali'hdc o! icnl qualjdâdc lisica (é nluiro li)rie), ou qualidade moral (é Inüito coraioso)' oü ó nllrilo nobre. No rninimo lem muilo dinheiro Tcm quc ser LIInâ pcssoâ espccial t r algurn molivo. Gerâhncnic, isio ó simbolizâdo ro 21 , r r,r. potcrcrnplo, pelolatodequesíoreis, prírcipcs, nobrcs, cornan L,rrs nrilitârcs, proictas, âlgo assim (..). lile iambém tem um podcr ,,r,is (lo que os outros, nâo por üma âssistônciâ cxplícita de poderes , ,\r !)s. rras por sua quitlidâde superior à normâI. A isio fryc chalra de )\'t]rtr it itotizra ?leaado, fianaliTra ünilaLita eleüada- ( ) (tuarlo lipo de narrativa ó o quc tcnr conro personagem um cle ,1's uDra pessoa qlre na(] é melhor neln pior quc os ouiros, quc teÍ) ,- trrlcrcs normâis de um ser h nrÂno. que enfrenta as situaçócs firr(lo a süa própria râzaro, sua invcntividadc, tudo dêniro dos l, Iiics n.rJDais da mediocridade irunüna. lsto sc chama gé,?e/.) trIi1(tito bditto. Os dois sào imitaiivos porque se baseian nâ rcâlidâclc rLrrana observável. SabeDlos. por cxcmpb, quc cxisicrlr pessoas que !ir() Iiüi1o nrais corajosas que outras. ou quc sc tornam corajosas cnr icrlos rromcnios, mas sâbcnros que, enr geral, ráo sonos assin. As t Lrrs coisês são reâis ncssc scntido, c, por isso. csscs dois gêneros sáo .lrr]lrâdos imitativos. lrinâlnlcntc, âo quinto tipo de na.r,rljva y\je charl.t da natrutiua ,1,ii.ll, âqucla na qlral o pcrsonagcm cstá ahaixo da situaçALr. l,lle nAo l.rr .âtâcidade pâÍa lidÂr corr a siiuaçâo. llcpctir(lo: na twnti\a m/l;lra o herói é um deus. portanto, ele ó o (l(n1o dâ situaçâo; nâ ndrdtiaa lendária, oltctói se sobrepóe à situaqáo .orn â ajuda de lãiorcs ou lirrças divinas; no tercciro tipo, drralnrd iltilatira eLeaatla, elc luta conr a siluêçao, podendo vcncer pois é rrra criatura nobrc c qualificâdâ, ou podendo ser derrolado, o que nâo (, dcsqualilicai no qu.Lrto lipo de narmtiva. ir?lrdriaa baixa. o srielta Lrs vczcs pcrdc c às vczcs gânha. poque iem sorte ou tem aza! conn) tr)do! nós; e no quinto tipo, tntratim iúnica, o süjeito está delirili- varnenle abilixo dâ situaçáo, nto comprecndc a situação, ou porque é nruito burro. ou docntc, ou muito poble, olr nruito joven ele tenl âlgo n ruenos, conlo. porexcmplo, cm O.Í,rocerso, dc Kâfkâ.r A caÍacteri§ tica I ntrr TGFKA. opn,.,so s,io I r,). (rix i;i;ià\, r00r é a narrativa irônica, porquc o sujcito náo enicnde lhufas do quc es1á Porqueeucileiisto aqui? Porque os modclos denarrativâs ficcionais sáo os modcLos dc vida possivcis. As naÍrativas que podemos invcntàr sÀouma cspécic de rcsunro dâs que podemos viver Isso quer dizer quc' hisnlricamente. nós ianrbóm eÍrconlrarenros esses circo enredos E se vâ os considerar âs lilosofias náo como estrutur⧠doutrinais prontas' mas conroaçõcs hümanasque sedesenvolvem no tcmpo_buscândo orr reâlizar ou nnpugnar oü substituir um projeto originário-, cada caPítulo' .rà.1â fillrsofiâ. a narrativa dos cslorÇos de cada filósofo para làzeÍ o que êlc quer fazer também esiá inclüida dentro dessâ tipologia' No que essesmodelos, esses iipos dc filosofia se disi jnguiráo conlorme eÍa escala? Em prinreiríssimo iugar, ienr-se âs filosofiâs que sâo direta ncnte Llmâ ej{pressáo ala sabcdoria' ou quc se eniend€m co otais Enlio' é evidcnie. tcm se aí doutrinas de tipo ou oraculâr ou proiético Deus talou pela bocadofilósofo. Dm segundo lLrgal iem-sedoutrinas que já náo l\Irnol Existe lelaçao entre amot à sabedoría e a lot a Deus?) A sabedoria é o próprio lleüs. Você pode châmá la de Dcu§ ou charná-la Sâbedoria, dá na nesma Quer dizcr, raciocinando teologica' rnenre \ occ dir â quí e Dcus. ma' nao preci'u 'eÍ a'sim' Du'qlrc \ occ e*li se alirjgindo à mesmâ coisa. Se o seu pcnsamento pessoâl lonar unra direçáo religiosa em uma orientação crista, ctc , vocé dirá' senâo você náo se lcnbrará de dizer isso mas náo vai fazer a minima difêrenÇa' porque é à mesma sâbedoria que vocô está se dirigindo' Eu também acho que náoten muiio sentidovocê dar Lrmâ intcrpretaçâo rctroaiiva_ mente ctistã âo pensamenio de Platào ou Aristóteles' Eles ccrtanrente tôm pontos rlc coniato, mas náo era isso qlre eles cslavanl buscando' eles ncm §abiam que existia cristianismo! lsso estava totalmente forâ ,1, ,riLrr.k) conscicntcs deles. Se hLruve âlguma coisa muito imporianie ,1,r, s(, vcio a ser revelada d€pois, airavés do cristianismo, esiá ccúo, ,,,,,). isso pode sermuito importanie. EpodeseÍquePlatãoc,Àristóteles , ,rrvirnr indo mais ou rnenos nessâ direção, mâs o fato é que eies náo .l)irrn o que iâm encontrar lá. Ilisloricamente falando, nós nào conhecernos ncnhum cxemptâr ,1,. lll)sdia que sciâ assin. n1âs enlender os quc a umâ possibilidade ,,qrca. quc sc ê filosolia lbsse â lrâi]scriçáo direia da sàbcdoriâ, tosse ,r, rx) rrna revelação, cla scria cxâtânen1e isso, seria a filosofiâ miiica r0s lcnnos do lryc. Sú se vocô a considcrar como lilosofia. Se cncarâdas como iil0sofia, r! douirinâs rcvcladas seriam isso. Mas c o que náo eslá nas Lscrituras c\,l:lâdas. mas que Deus sabc? Um pouquinho não podc apareccr âqui ,,u âli? Por exenrplo, quando Flertz descobrc sua cquaEâo, o que ele {bscobÍiLr scnão o conteúdo que Deus colocou lá? Quer dizeÍ que. sc li(u1,cssc unl sistemn lilosófico quc lbsse â próprià voz de Deus, â pró- t)ria SabedoÍia. elc corresponderià ao que nós charnamos de rrl/aliza.§ ,rilicas, mâs historicamente não há ncnhun exenplar. Quando nrâis 1àrdc chcgannos nâ Escolástica, em que a filosola se colocará como lxpressào da doutrina rcvelada, lerenros quâse isso, mâs ainda assiú ú imperfeito. porque nerhun lilósofo quc sc preze 1ãrá contusao entrc o quc clc cstá descobrindo pelo mótodo filosófico e o que Ioi Dcus quc rcveloujá porescrilo. Náoé possivelqueurn süicirc, cor{unda unra coisà dessas. Em segundo lugar, você terá o quc vamos chamar as liloso/ids lel,dárrrs. Sáo âqlrelas nas quais o filósofo teve uma âproximaçáo tão grande da sabedoria quc algo delâ apàrece já dircto na suâ filosofia e esle é exatamcnte o curso de Sócrates. Plâtáo e Àristi)ieles. Eles csrão Irurro pro\irnu. Jind, Je urna \r.audr."b.J,,riJ qrri c.nrn,,'cqui,\ ?'1 a estlvcssem tocanclo pclo nrenos elcs próprios sc eniendiam âssim' e os que o cercavam também. PlalAo. pírrexemplo, tinha plena consciênciâ de possuir em si ccrtos conhecinentos que e]€ nrcsmo náo conseguiria expiicar, muilo menos escrcver. Daí o tâmoso cnsinâmento orâl Ele dizr "lsto é una pale do nosso conhecimenlo, que náo é possivelvocê Ícgisirar poÍ cscrito' que só vai poder pâssar quâse que pclâ prcsença físicâ do filósolb" E dizia ele que essa é justamente a parte mais valiosâ quc o iaz ser um filósofo' Isto quer dizer que esie iipo de tilosofia. a que nós (iâmarenos lendária' tem um ceÍio laclo que pode)nos âlé chamâr iniciáiico' c seu ensiro ó Lrnrâ transmissao direta de âlgo que cstá parâ além clo quc se diz Êniáo' .ônscientemente. o filósolo que está nessa lãixa âdmitc quc há unrapârl€ alo qüe ele vai trânsmitirque não pode scrregistrâda porescrito, c que dc algum modo 5e transm itirá aos seus discípüloscomo rm iipodeimpregnâ çáo mistedosa, mas que de fato existe ("') Ài s' enlendeentáo o ensiro' o apÍcndizâdo da filosofia ürnro uma cxperiôf ia humana real' l\.l::nt): lsso aí ãa patLe let rclaçaio con a atle também?) Eunáo creio que aarie faciliteisso. Se o sujeito disscr "Não' eu nao .ou cjrpa/ dr. {DliLia I rr' e-'uu lacu rrrra ubra Jt rrlc" JiLÔ'S( vu'< iez r rniâ obrâ de arle, você cxpressou âquilo de algurn moLlo"' Mâs cstolr talando dealgo que nao pode ser exicriorizado mâicrialmcn te nem sob formâ de douiÍinâ, nem de alte, ncm de coisa ncnhllma' mâs que cstá no próprio Illósoto. que você ten que "pcgar" 'liretâmenle dele' |Alltna Na conriaê cia'?) Na conv ivôncia. 'Ibclos eles atlmitiâm que isto ex istia eóu râcoisâ rtr .rb!rro\n, Dra,:.. J,J-i rabcno\rlrr'45fr'sur\nn\rrons ni'\m âlgo nrais além do quc elas alizem e que às vezes o nrclhor nâo chcsou a ser dito e. no entanto. €stava 1á. lilLtno Plaííno se e tuituria beLL nisso?) Ccrlamente. Clarc. l\lüt1o: i as qual a diÍerc ça entuo dissa paru u etpetiência místictl? ^ ciperiência isiicacsiará colocadadenlro dc umâspecto discipli fir religioso explicito, mâs essà é unra diltrcnÇâmâis ou menos âcidcn' .. I .c.rrrrd"ria..\ii,.rn'J(rlô\ca\ô\ rJU\ 'Ln rgui lrzcr a distinção, mas cu crcio que. na medida c r quc ó possível 1âzê la, l (listinçáo sc tornará mâis clara co o dccorrü da próPria lrârrâtiva. \'1)cês nrncâ csqueçân o seguintc: sc começaDos a coniar a História dr Filosotiâ como a históriâ dc um projeto, enlao âprópriâ filosolirnao rpareceu prcntâ c o próprio proierc náo aparcceu pronto. porquc clc solreü nruiias rnodificaçóes ao lorgo do tempo. llntAo, evklcntcmcnte, l)odcmos lãzer. com relâçáo ao proieto orjginário hisioricamente consi dcrrdo, perguotâs que só se âplicam ao proieto depois de 2400 âros. llssâ pcrgunta: Ah. nrÀs e a mislicâ?. isto ntro é Lrm problcnlâ platô nico. nen1 socrático, é um problema que surge lnrito dcpois O projelo, na sua foinrtrlaçáo originá a, não levâvâ em contacssâs disiircóes. não iinha isto como unl problenra dclc. Nós lãzemos estâ pergunta depois. c cvidenteüente, ela náo pode ser respondidâ pclo proieto o ginário, porque só su€€ no dccorrer da nàrr;itiva. Entáo. cu digo: "llo . o co- rneÇodâfilosofiaénnriloenigmático.cvidentemente' Scocomcçonáo fossc enismárico, erÍáo os problenlas iá lirhânr vi|do iodos resolvidos, c nào haveria História da Filosoliâ nenhumâl Lrltáo, a filosofia surg. como urn projcto, Lrm desejo, umâ ambiçàt, hunân.r. Ii eviclenrc quc cla nâo é â únicâ mancirâ de reâ]izú essa am- biçtro. [xistcm outras maneiras âlt€rnativâs que às vezes sâo opostas, às vczcs sáo apârcnLaLiâs, às vczcs sáo conliguas, às vezcs sc misturân com ela e é iustâmcnte â hislória clisto quc nars estanros corrtando. Por isso rrcsmo o projelo nao podc cstar lodo explicitado iá no scu 29 pdinciro capitulo. Eeü cstou cnunciando essatipologiacomo unlâ espócie de índice do quc v.rmos contar nais iaÍde' Ênr seguida, existe um oúro tipo cle tilosofia que seriâ' seguiido a n omenclâiura. , flosoía initatiÜa eLeí)ada ' O klósoio iá ião tel mâis aquelâ proximidâcle ou aquete dcsejo Íltenso numâ sabedoria visia ou entrevisia cüno unr objeto de conquistâ próximo nlas' por suâ qualidâde, cle se aproxina dcla. Depois. tenos un tipo de filosofia que já náo tem lnais referôncia à sâbedoria, mas que é a discussáo de problcnüs nossos alc lodo dia. E temos üma lilosofia que é a reflexáo sobrc slra própria incapacidade, a rellexão da própriâ irnpotência cognitiva. Isso existiu em todâs as épocas, porém, historicamcnte' ao longo cle nossa narrativâ, vcremos que os rnodelos mais baixos de filosofia alcançaram u m certo presiígio nos últimos doG séculos' e tcn dem ale ccrto nrodo â dar o tom da época, e borâ os outÍos tipos nAo clesapareça r. Ou scja, náopodcmos dizer quc existc umâ linlúunilbrme quevai desd€ a filosoliamítica cdalendáriaâté airônica' nao Háépocâ e n quc tcrrru' lndr. iun.JJ. eouiJ enr qrrc pr\ uonrnJ u Inu' epo' à em que predomina outra. mas se nós virrnos náo a Hist(itiâ da Filosofia mas â Hisiória clâ cultüra e geral, isto é, do que as pcssoâs falan, verernos quc da prclêrência das éplrcâs às vezes existe um desiaque mâior parâ uma ou parâ outrâ, embora âs outras continll'm existindo' Esie, entáo. é o sentido que Sócrâtes, Platáo e Arisióteies viam na sentença dc Pitágoras e nâ autodefiniçào dc Piiágoras como "amigo da sabedoÍia'. 'âmênte da sâbcdotiâ". Quândo chegaÍ no últino grau' poderá havcrâreiciçio da sabedoria. poderá haver a negâçáo dc que cLâ existe, e poderí hâver a lula dc vida c morte contra ela' SeÍia a lorma tc nmaontútn-Úho I's(â"rrrrro' rrJladÚ' pore\errplo pur Flrcnne Soutiau. em um livro que s. chama I :Azrení de la philosoph ie'1 (o ll.ttúto da filosofia, o porvir clâ filosofia) É o último livro do Étienne Souriau' que lbi prolêssor aqui no Brtil. É lm bjtlslmo liv't E-i""bé" -i i.."í-sot'nr,rrl, r,r,-ird. // rÀilos'P'rit Paris oaLimàrl lqs2 30 livro clo Julián Marías, um dos últimos que eLe escrevcu. que se cirâma Ikzõn de Ia tilosolía.j Sâo livrus que iá trataln dâ ântifilosofia como Lirn clemento cultural existente Õo nosso meio. Clarlr que existiram an- liiilosolias êm outrâs épocas, mas dificilmente corn a amplitude e conr o prcstigio de qlre gozam hoie. Entaro, opdneiro componentedo proieto socrático é esse fato de que S(')crates assumcaautodeÍinição pitagóricade "anante da sabedo a", mas ((rn isio nós âinda náo delineamos totalmenie o projeto. que tem uma sóÍic de outrâs caracterÍsticâs. Para compreendêlas, temos quc entender rlue esteprojeto surge náodoar, nàoporque SócÍares cntendeu que sim, porqlre deu na câbeça dele dc fazer isto... Apârcccu em respostâ a uma situâçáo humaüa bem definida que podc ser descritâ pclos elemenlos Em píimciro lugar. temos a deconposiçào da rcliliao qrcEa tradicíotlal ra época de Platào. platao se queixâva de que, naquela ópoca, eles já náo cntendiam as narrativas aniigas, iá nâo eniendiam llomero. Homcro iá nao era fo6tc origináriada rcvelaçáo, foi um suicito que simplesmente registrou por escrito certos elemenios mÍticos que vinham de muito longe. Então, Platáo sequeixavade que esses esctitos iá tinhamperdido asignificaçáo, que âs pessoas náo conseguiam atualizá' los, apreender o sentido deles. Com a decomposiçáo da religião grega, surg€m vários fenômenos. Uln deles é a poesia líricâ, que hoje está reunida na chamaÁa Antologia Crega. A poesia lírica é de expressáo individual, em que existe uma teniaiiva, da pârte de certos individuos, de captar certas realidades que cstáo para além do sensível e dc algum modo registrá las por escrilo atrâvés da linguagem poética. Entâo surge aí a poesia lírica como ex- pressáo individual, o quc nâo era o caso da poesia antiga de llomero. Homero fazia aindâ umâ poesia pedagógica para uso da coletividade, cra um patrimônio da coletividâde. Qlrando surge a poesia lirica, isso rlúlián M^Ri^s.rüzó deld ÉL,so/i, Madd, ^lirnzâ f,diloria] 199, :ll quer dizer que esse senso da participaçáo coletiva num dcsiino mítico já haviâ dcsaparecido, já havia se deslêito. Pârece entào que as únicas possibilidâdes de reencontrar um sentido místico da exisiência estáo agora recolhidas à intiúridade dos individuos, quer dizet a colctividâde pcrdcu issodevista, mas alguns indivíduos podenemcertos momentos tercertas percepçóes deum sentidodâ existéncia que eles tentam entáo expor poeticaúente. [Àluno:.4 leogonia de Hesíodo se eficaiw efi quaL?) Na primeira: a Teogorla iambém é um pocma pcdagógico para uso dâcoleiividâdc. Falandodapocsialírica-Simônides,SaÍo...,ospoetâs expressam â súa experiência interior Náo esiáo lalando enr nome de ulna coleiividade. não falam parâ a coletividadc. Falam apcnas para o círculo deles. O se*u do íenômena rclere se a seitâs mâis ou menos esotéricas e mís- ticaque procuram tambénr em círculos pequenos recncontrâr algum tipo de visão ou de experiência do scntido da vida, mâs náo num nível válido coletivamenie; válido só pârâ eles, só pêra quem lizesse parie da seiia. O lerceiroeLeüento eÍa que eles já tinham alguns séculos de práiicâ da retórica, uma artc muito desenvolvida iá no tempo de Sócrates. ^ retórica criavâ os meios de expressáo verbal, de nodo que as pessoas pudessem dizeÍ o que pensavam - e dizendo que pcnsavam criavâm a possibilidâdc dc umâ intercomunicaçào. No entanto, a retó- Í ca \o sc prPocrpu\a rí"lqrenl( rum r c\pr(r.ru. e cum r e\pre.§-o per§uasiva. Ora, se náo há expressao e náo há exprcssáo persüasiva. cntáo náo há ncm mcsmo a possibilidade da discussâol Mas con1 todos os instrumentos literários e oratórios persuasivos ciados porséculos de práticâ dâ Íelórica, o que aconlecia? Acontecia que, havendo a decom- posiçào da unidade religiosa, mítica do povo, havia, ao mesmo tempo, os insirumentos lingaiísticos prontos para que nilhares de experiências rrlrviduais otl grupais independentes se expressassem e entrassem em ,,rrli1)nto umas com as outras. Se houvesse uma perdâ de unidâde t\so é lundamentaL do sentido da vida sem o concomitante desen volvirreniodos instrumentosexpressivos, entãoessaperdâseriavivida r|lcnas colno umâ desorientàçào e cegueirâ, e seria vividâ quase que i,l(r)nscientemente, náo sendo possível a discussáo pública em torno (lcl . É o que acontcce no Brasil hoje. ^ dilêrençâ entre nós e os gregos da época de Sócrates é essa. Náo L' (Jeti\dmenre. o. in§lrumenlos !erbJr\ de e\pres\xo: i. pe\\oa. Itio conscguem dizcro que estão vendo, o que esiáo sentindo. Quando t)rl)curâm se expressar de algum modo, náo tendo instrumcntos para (lizcr de faio o que estáo vivenciando, usam estercóiipos aprendidos e ncabam dizendo outrâ coisa. Entáo ráo é possível a discussão pública. N4 as na época de Sócrates havia a concomitância dcsscs dois fâtorcs, q ue .onvidavam de certo modo ao surgimentodo projeto filosófico, porque, tx)r um lado, havia umâ grande confusáo e desorientação, a perda do scntido de unidade, c, por outro iado, havia uma imensa capacidade vcrbâl pública. Entáo está tudo ârmado para que se possâ montar uma d iscussáo, porque cada unr está pensândo em um negócio completamente difcrente, e eles sào capazes dc dizer o quc csiáo pcnsando. ÍAlrno: O que se eúgia eru só o petÍeiÍo dofiínio do idioma?l Domínio do idioma? Veia, cssa exprcssão é um problema gra- ve, porque, às vezes, quando a gente làla "domínio do idioma", n gente pressupÕe que o idioma existe, e que ele está aí pronto, l'ora de nós, e que só nos resta adquiri-lo. Bom, às vezcs isto acontece, às vezes não. O idioma não tem que ser adquirido, tem que ser montado. Tenros que criar as maneiÍas de dizer Depois disso aquilo se incorpora de algum modo ao patrimônio escrito, ao patrimôrio coletivo, entâo pensamos "âdquirir" o domínio do I iclioma. Acoitcce que o idioma, em certos monrcntos, não tem meios de dizer certas coisas, alguém tem que inventar' Existem, por exemplo, esses lâmosos inveniÔrts de idionas cono Lutero, quc inventa a língua âlemá. A lílrguâ alemá até aquela épocâ sÓ servia pârâ lalar con cavalo Ele cdao idiomâ no qual s€ podcialar com gentci permite que suria umâ discussão em alemão' Mesmo âssim leva alguns séculos parâ que cstâ lÍrguê sejâ apdmorada' Tcnl gentc que diz que só se podc fillrsofar em alcmáo... lsso é uma bobageml Sc as pessoâs só pualessem filosofar em alemáo náo teria havido filosofia até o século xlx. porque a 1íngua alcmá só se tornâ câpaz de exprcssâo filosóIica a pariirdaí. Aió o séculoXVIII, Lejbniz escrcvia em lâiin efÍâncês, pois o alemâo nãotinhâ os truqucs necessários pâra dizcrcertas coisas Enláo' nào se iraiâ do don1tuio do idiomâ, itata-se dâ cxisléncia do idioma' O idioúapoalenão só estarpoüco desenvolvido. mâs també tcrse perdido. A línglraclecai As pessoas eram capaTcs de dizcr certas coisas e, na geração seguinte, nào sáo nais. Tudo aquilo qüe você náo é capaz o( J:lcÍ \ uce peruebc num k lân(( e ao -:lo ! ar cn,hor". O ou,'voca nio cliz você náofixa. Entáo, nesmo quevlrcêtenhâ percebido, náo adiântâ nada, porque você perdeu no instante seguinte' E âquilo náo podc se transformar cm Lrbjeto de discussão pública. l^úno: É pot issa (lue aqui o Brcsil a discutso jú está ( ")?l o que esiá acontecendo agora náo é perdâ de idio a,ósuadccom posiÇào As pessoas não consegucn diz€r, e como elas náo conseguem alizeÍ o que cstáo sentindo, o que estâo expeúnentândo, o que cstáo vendo.elasalizemoutrâscoisas,üsamesquemâsantigos,estereotipâdos' que só lhcs permitem dizer coisas pâdroniz.rdâs l\]|{lna: O se hot esltí {luercndo se rcleú lambéll1à possibilídade de eles terefi enco lrudo i Le ocülorcs? Na caso de Sóctales"') 34 Nâo, você não tenl intetlocutor Clâro, pâra você ter um interlo- cutor, é preciso que vocô scia câpaz de dizcr e o outro seja capaz de (ompreender. Mas sc você perde a capâcidade de dizcr, nâ geraçáo scguinte tanlbém já nào ten mâis quem compÍeenda. Um cxemplo: no Clübc Nâval, eu oüvi a conversa entre dois oiiciais supcriores, um dizcndo aooutrc qu(rdcvíamos mudâr o Hino Nacionâl, porque nao o cntendia. Prestcm atenção, ele náo dizia que náo com- preeldia e por isso tinha que se nrudâr. Não. tinha que rnudar o Hino Nâcionàl poquc cle náo o enlendia. Era um coroncl dizendo âquiLo par'âo outro, c o outro nãoâchando nada esiÍanho nisso. Mas. escuteni. o Hino Nacional é o qüc incopora todos csses valores de patriotismo c tal que ele está aí pârâ delendô-losl lsso quer dizcr qlre o sujeiio iá cntrou no intcligivel, no ineÍprcssável. Entáo pcrgunto:comoóquc ele. por excmplo, expressaria os valores pâtrióticos que pÍofissionalmeDte rcpresenta? Elc já nâo tem nais como expressálos. Pode expressar_sc. turr\e,rp,o.icàndobra\o. I urnJmr 'errâJ\ c\pr(t\r' u rra marcirí rudimentar evidenlemcnic. Então, de lâto, náo há nenhüffa discussáo pública no Brasil. Aq i, só é possívcl duas discussócs: a económica c a eleitoral Na discussáo cconômicâ, todo mündo sâbe que está ruim e ninguém sabc o porquêi na discussAo eleitoral, resolve se votando nesse e náo naquele. Esse é o tipo de discussâo n1êis elenentar possível. Qüando a discussáo pública baixou para esse nível - sc tudovirou ou umareclâmaçáo. porquen,ro se cstá ganhândo tânto dinireiro quanto sc queria, c,u llma simples concor Í( nJid c., i.ô'al . (. .l r rnrcligcricra humJnlr bdi\ou DaÍr 'ua cÍprc\'àu ü.ris simples, e parâ rcsgatâ! em ce{âs circunstâncias, a possibilidade dc umadiscussáo intcligente. conscicnte. isso dátrabalho. Por exelnplo, âquinóspodcmos lãzerisso. Hojcpodemos. Hoic eu creio qu e e possivel umadiscussáointeligcnte entr€ umâsquatroou cinco mil pessoas nesÍe pais. Quem lez isto? Foiesleqüevosfalâ. E1t ctiei estc contexlo, e lcvou"i trinlâ anos para se criar um contcxto social no qual fossc possível falar de ccrtâs coisas e as pessoas entenderem do que estáo l:iando. É inteiramente absurdo você achar que eiisia possibilidade de uma discussão inieligente no meio acadêmico. Náo há. No eio acadêmico, um suicito escreve c o outro náo entende o que ele esiá dizendo E cle mesmo no dia seguinte já náo entcnde mais. Ou, cntáo, podc às vezes sc pegarnuma tenninologia nruiio estrita que se refirâ à Lr cÍcul{r nuito deteminado de coisas, e ali naq uele pontnlho cles se entendcm Ma§ Llma discussão intcligente sobre assuntos de intercsse mais geral, isso simplcsmente nao é possível. l{luno: É cttmo no caso àos lnilitarcs, que licou ufia coisa cor- Sim, mas ali náo tem nem a expressáo corporativisia, o suieito náíl entcnde o Hino Nacional, que é o hino dâ própria coryoÍaÇáo dele Nenl esse cle eniendc. nen1 mais a corporâção é câpaz dc conversarl ( . ). Bom, mas essa é â situaçáo atuâ], náo cssa história que nós vamos conta! que é â história mais complicada. ELr disse que havia â deconrposiçáo dr rcligião grega, o surgimento da pocsiâlírica, o surgimenio dâs seitas e ô desenvolvimenlo da retóricâ. Sáo quatro fatores. Êxistc nm quinto fator que scrá decisivo, que é o altíssimo dcsenvolvimcnto que estavâ sendo alcançàdo pcla ciência geomótrica. A ciência geo étrica dava à culiurâ daópocâ a cericza de quc era possivcl obter um conhecinento certo. exâto e delnonstrável a rc.p('lo dc êlSurni, co sa cmburr e.)a coi.a lo*c poucu. purscrarn Jpenâs llgurâs geométdcas. Sócrates cntra em cena,ustamente ncstâ hora, c ele affisca apossibilidade de que aquiloquc se eíavâiazendí] em gconetria talvez se pudesse fazer em outros sctores do conhecimento. E se era possívcl lãzer isto, tâlvez lossc possível responder àquclas milhârcs de indagaçóes que esiavam srrgindo âccrca dâ decomposição dâ religiáo grega e da proliteraÇáo dos discursos retótico. Eniáo. o primeiro componente do proieto socrático é â absorçáo dâ dcfinição pitagórica compreendida talcomo cu lhes expliquci;o segurdo componentc é a âpostâ na possibilidade do conhecirnenio demonsiÍativo apodlctico cientí6co como resposta às questões culturâis do âmbicnte; o terceiro componente é quc, se há umâ situaçào na qual a unidade da consciência sociâl coletiva iá se desfcz, entáo a iniciativa iá náo está Irâis nas máos dâ sociedade e dos seus reprcscntântes oficiais, nas rras máos de indivíduos isolados que queirâm se apresentar para lenlar rr.n \croprublrrnd l-.oqu(rdr/erqucSo(rare. aopruDur."o".'urnir â idcntidâde de "amante dâ sabcdoria" e aoapostar nâ possibilidade da cx isiência de um conhecim€nio apodictico dcmonstrativo â respeito dos assunios de discllssão gerâl asslrme a identidade do individuo que sabe algo que os olrtros não sabem. E esse é üm componenie Íundamental. l|l\rno: Ele sabe ou acrc.dila? você falou que é uma aposla na possíbitida()e de explicat essa outr.t patLe do conhecifiento assi l cjmo a geomettiÍl 1 Se ele somente âposiasse nisso e náo descobrisse nada por esta li_ nha, ele teriaapenas sonhado com o projeto e náo teriâ leito nada pàra rcalizá lo. Mas Sócrates de fato 1êz algu a coisâ. Ainda que seia Lrm pouqllinho, quandocomeçaâ discussáo cle iásabe algumacoisaque os oütros nâo sâbem. Quando elediz "Só sei que nâda sei", istoócvidente mcnte uma iÍonia. "Só sei quc nada sei" porquê? "Porque cu sei muito mâis do qüe vocês. e vocês sáo táo ignorântes que não sabem nem qüc são ignorantes Eü pelo menosjápercebi n minha ignorâncja. . eniáoeu já dei um passo a mâis. Eu sci que nós todos somos ignorantes, vocês nno " Pelo menos. no mínimo isto ele sabe e os outms náo sêbem Sóoales nummcio onde náohámais nen h u m conhecinento reco- nhecido como válido, num mcio onde náo há mais autoridade dout nal ou intelectual, assume a responsabilidade de ser o suieito qüe sabe l7 l umacoisaque os outrosnáo sabem. Porquc ele âssume isso'? Porqueé elemesno qucmestá invesiigando. elc mesnro começou perguntando' Ille clescobriu elsas coisas por quê? Porquc ele loi atrás l\lrno: Que conníb içãL) tluc te\1ê o otáuLa de DelÍos ( --) conlo causo eÍicie te dessas descobetLas par Sócrotesl'l Eu náo salreria di,er Pode scr que tinhâ tido, lnas ai é nrais uma conjcctüra. Talvez scia intcrcssantc invcstigar isso' Mas cu §ei o scguinte: csses latores quc lalei, cles existem PodeD existir ortros' mas há no nrínimo esscs. Sern csses náo havcria por que começar a iivcstigaÇão filos(ifica. Claro que â gente vai pÍecisar rnais tárdc acrcscentar algLrns oulros tutorcs que crarn já cssas invcsligaçÔes parcelârcs teitas pelos filósofos pré-socráiicos' Mas notem bem' os filósolos pré socráticos âinda náo eslavan entrando no debâtc colclivo. clcs ão eslavam lentândo Íesolver questÔes de intcresse geral, mâs apenas certos Problcmas que eles mesDos iinham colo- cado. Sócratcs nio. cle vai discutir coisas que as pessoas da Íua qucriam saber: o que é â justiça. o que é o nrelhor llstado o que ó o trcm, o quc é o mal.. tiÍam qüestões clc interessc prático real Quando ^narimandro ou lales pergüotavam dc qlre tudo é com poslo. isto celtamente náo é üm debatc pÍrblico é LIma questão qüc unr cicntis(â. um hornem de ciências, colocou para ele lircsnlo, ou então um irvcstigâdor colocou se e tcntoü rcsporrdcr Por isso nlesmo, todas cssas irvcsiigaçarcs pré'socríiticâs, por valios⧠quc selâm nâo adqüirem a inporlânciâ de um Íenômcno de mulâçáo históricâ como o inventado por Sócrates. Sócrales coloca à disposiçào de todo mundo tl ma possibilida.lc cogniiivaque ninguén conhecia. ningüón1tinha pen sâdo nisso. L, ademais. dc lodas as teorias dos pré socráticos nenhLrma loi provada, errln apenâs uln vcrdadeiro 'âchisllro"' As filosofias pté-socráticas esláo ainda deniÍo dâ clave relóÍicâ ou até poatica. Pocle-sc interpre{á-los ou conlo poeias líricos que estão cxpre§§ando rrÍtâs iirprcssóes, ou como retóricos qlrc tôIn certas opiniócs eienlam scr pcnllasivos. Mas náo ó isso que Sócratcs está íaTendo Elediz:"Olha, cxisre um jeilo d€ locê obier uma ccrteza muito maior'. l']ra isso que nirguém lirha klóia. sobretudo, todomundo tinha;oPiniio, todo mundo iinhâio (tuc náotinlü é a via dacerteza. Só hâvia isso em gcometria, mas nâo se pocle. com basc na geometria. resolver o problema clo [stâdo dâ moÍal. da co duta. eic., realmcnte não. Alüno: (-.-) e a élica selundo a Seatnetría? llspitLaso escre?eu...l Mâis tarde Espinosavai fazer isso, ll1âs já nu'n contexlo cnonne cntc dilerentc. Mas você não pode esqucccr que Dspinosa surge nulna época cm que a geomctria tinhâ dado uuiros progrcssos, e dc novo s(rge a nres! a idéia: 'Vân)os nos modclar pcla geonrclria". O primeiro que tcvc â idéiâ foi Sócraies. Elc percebe quc a maneira rlc se conduzir uma discussão em rorno de algu ra coisa é decisiva Diya o sucesso ou o liacasso dessa discussão. Não o sucesso ou o liâcaslo em pcrsuâdir o ouiro, lnas em dcscobrir alguma coisa Elc cL)lneçâ a criticn do discurso retórico. O que é o discurso ret(irico'? l:la opiniâo. Êle coBrcça o examc critico da opinião l'insinâ que é possivel confrontar várias opiniÓes quc se contradizcm umas às oulrâs e articular â investigação, dc tal modo quc algurna coisa Lrm pouco melhor do que as váriâs opiniarcs emilidas âparece, e obtém imediatamenie o corrsenso .le todos. DescobÍc uma maneira de a discordância produzir unra concordância cm torno de algo que apârcce como evidenle paÍa todos. Ora, pclo simples fato dele ter lcito isso, elc nos per itc definir de uma vez por todas, certos con_ reúdos que penraoccerão inerentes ao próprio projelo filosófico ao longo dos tempos e as caracteríslicas poderào evidentcmenie ser I impugnadas por náo-fiIósol'os, por antifilósofos' por parafilósotos' por metafilósofos .. Então, em priúleiro lugar, â lilosoÍiâ tâl como Sócrates a entcnde é u ma invesiigaçAo feiia pelo indivÍduoc pelâ qualele consegue Lrm nível de ccúeza maior da que tem a coletividade intcira' ls§o quer dizer que' quanüo a (olcri! idade inrciÍa (tra nr inc(ac7u' clc <\ra rr'r puu'n mar' fraximo da cencza. É craro que cssa loi Lrmâ posição temível' Por quê? Qücm era Sócrâies? Hle náo cra um sâccrdote' nao eraum govemanie' nãoeÍâ unr rcprcsentante da âutoridade colctiva' Ele nào eraum reprc' sentanie clâ socicdadc, era âpenas um indivídrrÔ entre outros' A difcrença entre Sócratcs e os outros é â seguinte: "Eu sei e você náo sabe". Então, por um lado, se cu sei que 2 nrais 2 sáo 4' c você pen§a quc sáo 5,5 c o outro pensa que são 7 5' cu estou com âutoridade absoluta porque sou o único que sabe Por outro lado' não tcnho autoridadc alguma, pois você náo é obrigado a reconhecer que cu sei, a não scr que você mesnlo percorra todos os passos da invcstigaçáo que eu fiz c chegue à conclusáo' Bsia é' cvideniemcnte' umâ âutoridade paradoxíl: poÍ um lâdo, é umâ auloridade totâl' por- que ó certcza; por outro lado, nAo é auioridade aigurna' pois ela só poale se impor se o oütro a adquirir tafrbém A autoridadc universal e absoluta de qlrcm diz qüc "2 + 2 = 4" só pode ser aleita por ouiro que também saiba que "2 + 2 = 4" e que, portanto' seiâ el€ tambénr poÍtador dessa autoridade Om. âté cntáo nao sc conheciâ aidóiâ de nenhumaverdâde' a nào scr âquclaque eÍâ reconhecida por toda asociedade porquecnunciada por \crs _enrcsenranrcc qualitj(idosLnlín' cum su(râlesapakr c Lrna rÚi:a que modificâ náo o panorama dâ Grécia' m⧠o panorama universal' Surge L1m novo tipo de portador dâ verdade, que não é o reprcsentante da colctividade, nâo é o representantc da sociedade' mâs o individüo que sabe o qüe os outÍrs nâo sabem, e que não pode i rpor o que ele 40 srbc a náo ser a outÍo quc também saiba e que, porianto, seia detentor d Inesmissimâ autoridâde clele. &ala-se dc una novidade radicâi nâ hist(iÍia hümana. E essa Pos sibllidadc. un1ê vez enúlciadâ c assumida por Sócrâtes, que pagou eom a sua própriâ \,ida por isto, Íeâparcce gerâçao após gcraqâo. Essa polsil)ilidâdc é denons trada s u cessivamenle por novos c no\rosenovos lndividuos qlre aposia ncla c a realizân, às vczcs sendo punidos por .rn. a.'e,r.,e.dnrecomFn!rui,\ inrrlormca ni,nci :rqrrnn rrciu cm torno rcccba isio. No caso dc Sarcrates. é aié nâtural que o n1eio rcngisse com umâ ceriâ violôncia. porque isso crâ muiio esquisito. Notc-sebelnque â palavra zrelÍl4de tein basicânente três acepÇócs. ^ primeirâ ó â vcrdade cte um testcmunho eéu a vcrdade colocada no passado, isso é, eu doü tesicmllnho do que er vi. Diganos que esse a o sentido juridico da palâvraverdade Agora, cxiste um outro sentidol a verdade voltâda parâ o intunr um sujeiro proDretê c cumpre, entâo cle éconfiávcl. Se elediz a verdâdc com respeilo ao passado, ele deve ser corliávcl conl reLaçío ao fuiuro: se ele contou a coisa realnlenie como clc viu. eniáo o que elc prometeu muito provavehrente ele vai cumprí: Mâs Sócrâtcs cnira âli cont ?.idíia da aerdade leoúai.l7 -do suieito que diz quc 2 mais 2 são4. Esscócxatamenle o iipo dcvcrdade queaparecc nâ gcometria. O slljeito quc diz que "â soma dos quadraclos dos catcios dáo quadmdodâ hipoienusa" não cstá nen1 relatando um passâdo nem pronretcndo uma cois:r paÍa o futuro; ele está anLrnciando Lrm tipo dc vercladc que é supÍâtcmporal. E rós podclrlos cntender que, alé cssc rnoment{) ern quc pcrsonifica este novo tipo de vêrdade, Sócrâtes era l-\'ônrrc..Jo. su (rr,'o,,"., J', nrEiun(lrid rr "s n. propr.o gt,,,rt. iras cviderlemente nãotinhaln se d.tdo contâ dâ tremen cla i rportâ|cia do que eles tinham dcscoberio. Om, r vcrclâde que s€ âfirma como testemrnho c fidelidaLle, como confiâbilida.le, é o tipo da verdade que se pcrsonifica nurlra autoridade .11 coletiva, num glrvernante Eie é confiável porquc nós sâbemos sua hisiória, e o que elc pronlete ele cumpre. Averdade âté eniâo era com preendicla mâis como confiâbilidade: confiabilirládê nÔ testemunho e na fidelidade à promessa. Essa não é a verdade teoréticai é â verdade no scntido jurídico ou pÍofético. E se a noção de verdadc era âssim, a dc Íalsidade náo erâ a teorética, mâs a idéia de mentira ou dc fnlsa promessa.lsso quer dizcr que averdadc erâ a vcrdade da co unidade' que confiavâ enl certas pessoas porque conhecia o seu passado e con fiava no quc elas podiaÍr dizer no futuro. Já.r lalsidade crâ o suieito qrc rompia o pacto. O tipo de vcrdâde.lc que Sócrâtes estáÍalando escâpa complctânlentc a essa clave. E como ó que vocêvaiexplicar âverdadeteorética o2mais 2 sáo,l em termos de confiabilidade LrLl dc falsa pronessa'? Não se en- quadradc ieito ncnhum. lsso qucrdizer (existemestudos matâvilhosos do EricVoegelin sobrc isso) que, até ümcerto ponto da hisiória hunanâ, a idéia de vcralade cstâva identiÍlcada com a própria confiabilidade da coletividadc humanâ personificada em seu cheie ougovernante Aqüele que se opunha ao chefc ou governanie não era conliável, porianto, erâ mentiroso, é o caÍa que esiá fora do pâcto. E agoÍa Sócratcs descobre um tipo cle verdadc que náo alepende absolutamente da confiabilidade' ou sejâ. mesmo que o suieito iosse o maior salairário' ou nesmo quc iodos os geômetras fossem salalrários, a sc,ma do quadràdo dos catctos continua dando o quadrado da hipotenusa. Estâ vcrdade independe da sua vontade orl da suâ confiabitidade' ii uma verrlade quc você só tem que conhcceÍ, admitit e obedccer, porque agorâ qüe você já sabe qrc "2 + 2 = 4", náo pode mâis dizer qrc "2 + 2 = 5" e quc, sendo indepcndentc dâ slra voniade ou da suâ dccisáo, tambénr ó indepcndenie da confiabilidâdc do chefe Entáo Sócrates descobre umaverdade quc e§táacimado serhumanu, acinadâ coletividade humana, e que, embora esicia âcima de toda â colctividadc hurrranâ, aparcce em úi, sujeito. se rcvclâ â rrr sujeiio que nào tenr âutoridadc âlgunra. Eis o paradoxo. JAluno: No &r.\ú ddr rràietaaÇôes asÍrohgicas. aquílo ttào suscitaüa algumíipode cetleza no sentido de. . alén da aulotidade hu a a,do gL)aetnante, rccê tet (lelerninadas cerÍezas cosmoLógicas (...)?l À asirologia não tinha esse grau de confiabilidâcle. Ela só apârece na aritnética e na geomctria. lAlLrlo: Nãa te?e ninELtén que ?e iu un eclipse? (...)1 Tevc. E tcve oüirc qüe previu errado. À idéiâ da verdadc dcmonstÍaliva e âpodíciica aparece realnente co a geonetriâ. Nào haviâ ncnhuma ouira ciência suficicniemenie dcsenvolvida parà dar este modclo, e a únlca coisa que Sócratcs 1àz é extrapolar isto para outros domínios. E o mes o tipo de confia- bilidâde. coIn ccrtos limites, é claro. é possívcl âlcançar enr ouiros domínjos. Àconrccc quc a pariir do mLrmenio cm quc vocô fa7 isso, você é o porlador e o enunciador dc utr,â ve.dade que, enlborâ scja supcrior a toda a coletividêde, só aparccc para quen à percebe. Essa é a s;tuaÇâo parâdoxal do iilósoib, que faz quc, por um lado. ele te nha ê âutoridadc dc quem sâbe e, por outro, náo tcnha aütoÍidade alguma. pois esta só vale para qucm sabe tanbén e que. porianto, compalrilha da mesn1a autoridâdc. Dai surge tambén a novamodalidade dc cnsino, que éjustamente o diálogo, a conversaçào. Como é quc se iransmilià até entáo as vcrdadcs soc ialmenie admilidas? Por simplcs rcpctiçâo, por pregaçno. Mas â nova vcrdadc já náo pode ser lransnritida assin. porquc elâ nâda iem a ver conr â auto-imposição de unla autori.lade; tenr a vcr com a conquista de uma auilrridâde por âquele quc cstá recebendo o ensinLr. Quando o chclt lhc dá ümâ ordem. vocé náo se torna chcfc: vocô compreende a 4l I T oralem, obeclece. nâs nem por isso sc to ra chcfe Mas se cu ie hoo conhecinento filosólico e o trânsmito a você, e vocô o âbsorvc você é filósofo. Daí a nec€ssidadc do dir,rlogo, porque nào sc trata de um ensino mâgisicrial. no qual o indivicluo vai poder lhe dar umaverdâde prontâ. Náo âdianta dar uma verdade pronta, você nAo vai entendcr nâcla. Se nào lizer os passos diâléiicos ou lógicos necessários não vai eniender Se você fcz, entâo âgora você mesmo cornpreendeu lsto é que é a âLlioridâde paradoxal do filósofo, e Sócraies é o prineiro qüc a encârna com plena consciêncja. Mas csta situâção já havia sido ante cipâda no teatro grcg0 No teako grego. apârecem muiiâs siiuâções cn] queum determinildo indivíduo perccbe, para alón clas leis que a sua comunidadc admite ..rtas lcis não escritas dc ordcn1 divina, como é o caso dc An1ígona' q"c Jr\' ,lc runr n tso\.í1.rnr. Jr/cndo L\i'rcrn l' i' quc i\raÔ "Li nJ daq uelas que você representa". Mas com que aun )ridade €14 diz isto? Com â autoridncle de qucln percebeu E o outro vai âccitar a au toridade dela? Só se cle perceber tambón Do contrário, náo Como é que se lrânsmiic eniáo essa aütoridadc? íl pelâ discussáo' qüc exercc urnâ lunçáo agora slmilâr à da rerórci7. mas conr um lipo de rctórica dupla, que tem que ser conplementada pela participaçAo do ouiro lâdo' Ou seia' é uma dlrpla rêtóricâ. um discurso dlrDb. E é por isso quc chan],a di!1|ética'pot set umâ conlrontâçáo de clois discursos. lsso quer dizer que os dois lados de u la clispulâ rctóricâ são absoNidLrs na diáló1icâ' Issoqtlcrdizcrquc o ieâiro grego iá tinha Ôhscu ranente entrevisto a possibilidaclc de às vczes unl indivíclüo falar €l- nÔme dc ulna auloridndc que transccnale â aulorialâde dâ sociedatlc' nas qüe csta nâo é obrigadâ a âceirâr. Esla problcm,rlica sobre â artoridade inerente cla verclâde' mas qrc só apârêcc nu poriador que náo é sociaimcnte
Compartilhar